446 Os Espioes espionam os Espioes

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© 1989 – Antônio Vera Ramirez “Los Espias Espian a los Espias” Tradução de Luiz Osvaldo Cunha Ilustração de Benicio Digitalizado por Silvio Roberto Villar ® 540425

CAPÍTULO PRIMEIRO Férias interrompidas

Procedente de Tóquio, após sua última aventura na Sibéria1, a senhorita Brigitte Montfort, jornalista mundialmente famosa, acabava de chegar ao Aeroporto Internacional de San Francisco, onde, pouco depois, tomaria outro avião que a transportaria finalmente para casa, em New York. A senhorita Montfort, entretanto, teve a intuição de que as coisas iam complicar-se quando avistou os dois homens que, discretamente afastados dela, a observavam com uma insistência que superava à dos demais homens que a contemplavam, fascinados por sua beleza. Como se estivesse aborrecida com a espera, Brigitte ficou de pé e encaminhou-se para a banca mais próxima de revistas, aparentando a disposição de comprar qualquer coisa que a ajudasse durante aqueles minutos de espera. Conforme esperava, um dos dois sujeitos em questão aproximou-se também da banca de revistas, colocou-se ao lado dela como quem não quer nada e sussurrou: — Eu me chamo Johnny. Brigitte Montfort nem sequer olhou para ele ao perguntar: — E daí? — Meu companheiro e eu a estávamos esperando. Recebemos um aviso da Central informando que você chegaria, procedente de Tóquio. Queremos saber se seria comprometedor para você conversarmos um pouco. Temos algo que nos foi ordenado comunicar-lhe. — De que se trata? 1

Ver: SONHAR NA SIBÉRIA, volume 445.

— A frase que nos passaram foi: algo que estão tramando na África. — Na África — murmurou a divina Brigitte. — Em toda a África? — Não sabemos maiores detalhes. Olhe, se a estou comprometendo demais... Brigitte olhou para o agente da CIA que se mostrava tão preocupado pela segurança dela. De repente, soltou uma gargalhada. Comprou uma das revistas que estivera folheando e voltou-se para o espião convidando-o: — Venha sentar-se ao meu lado. Conversaremos como bons amigos. Venha você também, Johnny II — acrescentou, apontando o outro agente da CIA. — Mas não queremos comprometê-la. Alguém pode nos conhecer e perguntará o que está fazendo a senhorita Montfort com dois agentes da CIA. — Talvez perguntem... e, sem dúvida, logo encontrarão a resposta. Dirão que a senhorita Montfort tem amigos até na CIA. Vamos, não seja infantil. A esta altura não temo a mais ninguém. Voltou para a poltrona da sala de espera, junto à qual deixara sua única mala e a maletinha de viagem, e sentou-se. Pouco depois, um tanto indecisos, chegaram os dois agentes da CIA. Sentaram-se quase ao mesmo tempo diante da jornalista-espiã. — O que está acontecendo na África? — perguntou Brigitte, sem rodeios. Johnny I, o espião que fizera contato com a divina na banca de revistas, tirou do bolso um envelope e o entregou. Brigitte tirou de dentro dele quatro fotografias. Todas do mesmo homem, em diferentes ângulos.

Tratava-se de um sujeito de raça negra, de mais de um metro e oitenta, aparentando uns trinta e cinco anos, de feições agradáveis e olhos de expressão viva e direta, um pouco coléricos. Os cabelos eram crespos. Sua aparência era a de um atleta espetacular. Brigitte balançou a cabeça afirmativamente e olhou para seus queridos Johnnies, murmurando: — Quem é? — Chama-se Chanko London e é africano. Trabalha, há tempos, como agente da Organização para a Unidade Africana. É um homem... perigoso. De grande mobilidade e de muitos recursos. Realizou ações em toda a África e trabalha nisso há mais de dez anos. — Deve ter começado muito jovem, hem? Vamos ver... Isso de trabalhar para a OUA o que significa, realmente? Agente de quê e para quê? — Agente de espionagem e contraespionagem, naturalmente. — Ah, bem. Perfeito. Perguntei porque podia tratar-se de um agente... comercial ou cultural. Ou coisa parecida. Então é um dos nossos. Da nossa profissão. De acordo. A que se dedica o atraente senhor London, na África? — Não está na África. Veio para casa. Quero dizer, veio para os Estados Unidos. Está em Miami. Mais exatamente, no Ocean Hotel de Miami Beach, numa suíte de luxo. — E o que faz por lá? — Nada. Apanha sol durante o dia e ingere daiquiris à noite. — Se apanha tanto sol, acabará ficando moreno — disse Brigitte, num tom de piada. Os três riram. O olhar de Brigitte, porém, voltou-se para as fotografias do tal Chanko London.

— Então o homem é perigoso? O que quis insinuar com isso, Johnny? — perguntou a espiã internacional. — Que ele pode estar tramando algo de ruim? Algo prejudicial para os Estados Unidos? — Não. Não quis dizer isso. Talvez fosse preferível falar de outro modo. Chanko London é o melhor agente da Organização para a Unidade Africana. Se ela o mobilizou é porque se trata de algo realmente importante. — Não temos informações a respeito dele? — Bem, digamos que na Central ficariam surpresos se o senhor London fizesse algo... improcedente ou desonesto. Do que estão seguros em Langley é de que a OUA mobilizou novamente London é porque algo sério está acontecendo. É, claro, se o senhor London estivesse tomando daiquiris na Cidade do Cabo, por exemplo, talvez não fizéssemos caso do acontecimento. Mas veio para os Estados Unidos. Não gostaríamos que acontecesse alguma coisa aqui capaz de nos aborrecer. Ou que nos passasse despercebido. Que diabo! Queremos saber o que esse camarada veio fazer nos Estados Unidos! — Não terá vindo, simplesmente, de férias? Johnny I e Johnny II ficaram imóveis, olhando para a senhorita Montfort. Isto é, para a agente “Baby” da CIA. Olhando para a espiã mais perigosa, mais audaciosa, mais implacável... e encantadora do mundo. — Férias? — resmungou, finalmente, Johnny II. — Há muita gente que escolhe Miami para passar as férias. — Chanko London jamais saiu da África para trabalhar. Se estivesse gozando férias, não precisaria vir para Miami. Na África há lugares melhores que Miami.

— Oh, não — exclamou Brigitte, espantada. — Não digam isso! — Bem, há gosto para tudo... Brigitte tomou a examinar as fotografias do atleta negro chamado Chanko London, agente da Organização para a Unidade Africana. Bem, se a organização mobilizava seu melhor homem, qual seria o significado disso? Muito simples: estava acontecendo ou ia acontecer algo capaz de afetar precisamente
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