Sonhos 2 - Desafio do Destino - Valentina Fernandes

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DESAFIO DO DESTINO Nada mais era como antes... Série Sonhos – Livro 2

VALENTINA FERNANDES SANDRA SILVA

Copyright © 2016 Valentina Fernandes e Sandra Silva

Capa: Intuição Design – Annie Sabat Revisão e Copidesque: Carla Santos Diagramação digital: Carla Santos

Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte do conteúdo deste livro poderá ser utilizada ou reproduzida em qualquer meio ou forma, seja ele impresso, digital, áudio ou visual, sem a expressa autorização das autoras sob penas criminais e ações civis.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Sinopse

Advogado competente, Bruno Fernandes é dono de uma beleza selvagem, famoso por suas vitórias nos tribunais e cheio de sucesso com as mulheres, até conhecer a mais louca de todas. Rebelde por natureza, bailarina de dança contemporânea e com um coração de ouro, Marcela Lins é a mulher mais imprevisível que ele conheceu. Duas pessoas marcadas pelo sofrimento, que resolvem fugir do amor. Ele tinha certeza de que ela se renderia aos seus encantos. Ela acreditava que poderia domar aquele homem, porém nada aconteceu conforme esperavam. O destino une os dois e o desejo se torna incontrolável. Eles se envolvem em uma trama que pode se complicar além das expectativas. Ele tinha tudo planejado, ela não queria se comprometer, mas a vida tinha outros planos! Segundo volume da Série Sonhos. Nesta história você irá conhecer a trajetória de Bruno, com todos os seus dramas, aventuras e descobertas. Embarquem nesta viagem de muita emoção!

Ao meu marido, minha maior fonte de inspiração.

Dedico este livro a todas as vítimas de violência que passaram por minha vida profissional. A vocês todo o meu respeito e carinho.

Agradecimentos

Este é o momento do livro onde paramos para fazer uma retrospectiva de tudo o que aconteceu enquanto escrevíamos. Foram tantos momentos de alegrias, emoções e lágrimas. Quem acompanhou nossa trajetória desde o começo, sabe que escrever a história de Bruno e Marcela demandou muito de nós. Um casal intenso, totalmente diferente de tudo que já vimos. Podemos dizer que mesmo com todos os momentos de estresse, tudo valeu a pena. Gratidão para mim é uma das maiores virtudes do ser humano. E ser grata nos faz transcender ao mérito do sucesso, pois sabemos que não chegaríamos aqui se não tivéssemos contado com a ajuda de tantas pessoas especiais. Em primeiro lugar quero agradecer a Deus por colocar em minha trajetória terrena tantos amigos. Falar da minha família é algo que me emociona, pois sou abençoada por ter um marido, uma mãe, filhos, irmãos e cunhadas que me apoiam tanto. São, com certeza, pontos de luz em minha vida, me dando suporte para ousar e ir além. Falar da Sandra é como sentir uma brisa suave em uma tarde quente de verão. Este ser especial que, com certeza, sempre fez parte de minha existência, foi um reencontro de almas que se amam e se auxiliam na complexa labuta diária da evolução. Não posso me esquecer de deixar um grande abraço ao Adilson, ao Lu e ao pequeno grande Rafa. Preciso dizer que sou sim o quinto elemento desta família linda que amo. Neste espaço dedicado a demonstrar nossa gratidão por meio das palavras, quero deixar eternizado nas páginas deste livro o carinho especial que sinto por minha amiga e revisora, Carla Fernanda. Esta pessoa é um dos seres humanos mais sensíveis que já tive a honra de conviver e aprender. A ela dedico todo o meu amor e esperança de um mundo melhor, pois ela, com sua singularidade, nos leva a acreditar sempre que tudo é possível. Neste mundo literário, em que somos somente um grão de areia em um imenso oceano de letras e versos, precisamos sempre unir forças e receber apoio de pessoas comprometidas com a literatura nacional. Quero em nome da querida Malú Oréfice, do blog Quem Mexeu no meu Livro, da amiga Sofia Merkaut, do blog Colecionando Romances, da linda Aurilene Vieira, do blog Sempre Romântica, os primeiros a acreditarem em meu potencial, agradecer a todos os blogueiros que

evidenciam nosso trabalho com seriedade e competência. Em um país com tantos talentos e com tamanha diversidade, preciso citar alguns autores que em algum momento deste livro colaboraram com minha caminhada. A querida Veveta Miranda que foi uma das autoras que mais acreditaram no potencial da história, meu grande beijo. A amiga Aline Martins, a qual carinhosamente chamo de “gemela”, meu agradecimento pelas belíssimas resenhas dos meus livros, você é demais. A doce Rebbeca Cruz e Tamiris Oliveira um grande beijo por me ajudarem na campanha que colocou Vencendo a dor em primeiro lugar na votação do top lançamento de maio no blog Livros do Coração. A Janethe Fontes, minha querida amiga das letras, que sempre está pronta a tirar minhas dúvidas e a colaborar, toda minha gratidão. A linda autora Nahra Mestre pela amizade e por seu jeito espontâneo de descomplicar a vida, um grande beijo. Ao meu querido amigo Abraham Kirquin por tornar possível o meu sonho de ter um site só meu. A você, todo meu carinho. Um beijo enorme a Dammy Costa e a todos os autores do grupo Parceiros Viciados, um cantinho especial onde podemos trocar experiências e informações. Os grupos são nossos fiéis escudeiros na divulgação. Se eu fosse citar um por um, talvez precisasse de um livro inteiro para isto. Quero homenagear a todos pelo belíssimo trabalho. Porém, preciso registrar meu amor e gratidão ao grupo Viciados por Literatura Nacional e Wattpad por todo empenho em evidenciar o que há de melhor no mundo da escrita. Vocês são o que nos impulsiona a cada dia fazer melhor. Preciso fazer um agradecimento especial a minha primeira leitora de Ipatinga, cidade onde resido. Minha querida amiga Poliana Oliveira, menina linda, que além de ser um doce, ainda é minha divulgadora número um na cidade. Poly, te amo, linda. As minhas lindas administradoras, guerreiras incansáveis em me ajudar na difícil arte da divulgação: Aline Faria, Gisele Almeida, Laís Pereira, Kelli Vieira, Silvia Rivabene e Simone Piza, meu mais profundo agradecimento. Uma amizade que nasceu pela literatura e foi além. Amo vocês. Deixei para o fim, o agradecimento a pessoas que sempre estiveram em nossa vida, desde o começo de nossa caminhada. As escudeiras da Val. A vocês todo o meu amor, minhas Brunetes queridas. Vocês sempre estão me impulsionando e acreditando em mim. Desafio do destino é mais um trabalho concluído e o sentimento de missão cumprida assola meu coração. Em cada página deste livro coloquei todo o meu amor à escrita e aproveitei meu personagem para dar voz a tantas pessoas que sofrem violência em silêncio, nos segredos de família. Que nada, nem ninguém neste mundo, possa calar nossa voz. Que os livros possam nos levar para um mundo mágico, onde possamos vivenciar os sentimentos mais ocultos de nosso coração.

Sumário

Sinopse Agradecimentos Prólogo Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23

Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 29 Capítulo 30 Capítulo 31 Capítulo 32 Capítulo 33 Capítulo 34 Capítulo 35 Capítulo 36 Capítulo 37 Capítulo 38 Capítulo 39 Capítulo 40 Capítulo 41 Capítulo 42 Capítulo 43 Capítulo 44 Capítulo 45 Capítulo 46 Capítulo 47 Capítulo 48 Capítulo 49 Capítulo 50 Capítulo 51 Capítulo 52 Capítulo 53 Capítulo 54 Capítulo 55 Capítulo 56 Mensagem de Bruno Fernandes aos leitores

Obras Biografia

Prólogo

Meu nome é Bruno Fernandes, sou advogado e tenho vinte e oito anos. Em primeiro lugar, quero dizer que sou um homem como outro qualquer. Porém, se for para ser comparado a Pedro, fica difícil ser normal. Você deve estar pensando que não gosto do meu primo, engana-se, eu amo aquele cara! O único irmão que sempre tive. Ele é meu amigo, irmão, parceiro e também o cara mais correto que conheço! Porém, agora ele se apaixonou e vive atrás da sua bravinha. Tudo bem que a menina é uma gostosa e, acredite, ainda é lacrada, sonho de consumo de todo homem. Está bom, sei que foi meio machista, me desculpe. E não, não precisa pensar que ela me atrai. Em primeiro lugar, meu primo se apaixonou por ela, então ela sai de circuito para mim. E em segundo lugar, ela tem uma amiguinha gostosa, com maior cara de sacana e eu tenho certeza, ela é submissa, mesmo sem saber. Sem problemas, eu terei o maior prazer em fazê-la descobrir. Voltando a minha vida, nasci com um enorme peso nas costas: o de ser o filho perfeito. Eu deveria ter um irmão gêmeo, mas em função das decisões loucas que não entendemos do destino, meu irmão morreu no parto e quase levou mamãe junto com ele. Eu acho que desde desta época eu já era o mais esperto, afinal estou aqui. Está bom, vai, sei que peguei pesado, desculpe-me, hoje estou com o humor negro acirrado. Ser o sobrevivente de uma gestação de gêmeos não é fácil. Voltei para casa primeiro que mamãe, que ainda precisou de cuidados médicos. Foi minha tia Valquíria que cuidou de mim. Ela veio de Santa Catarina e passou dois meses em minha casa. Até os cinco anos, fui uma criança doente, precisando sempre de acompanhamento médico. Na verdade, sempre fantasiei meu irmão gêmeo e algumas vezes fiquei com muita raiva dele por ter me deixado sozinho para ser responsável por atender todas as expectativas do Senhor Augusto Fernandes, advogado famoso e de sucesso de Minas Gerais, professor do curso de Direito, renomado, um dos poucos que realmente tem o título de doutor, pois fez doutorado e ainda é cheio de premiações.

Não desmereço a luta do meu pai. Ele passou por momentos de dificuldade e precisou recomeçar. Mesmo com tudo conspirando contra, ele venceu. Às vezes, penso que herdei este meu lado controlador dele, pois depois que foi traído pelo sócio, não confiou seu trabalho a mais ninguém. Meu velho não delega funções, centraliza tudo e por isso trabalha feito um louco. Então, você pode imaginar como meu pai criou sonhos e idealizações a meu respeito, não é? Eu te garanto que não, vocês não podem imaginar o que é isto. Por quê? Simplesmente pelo fato de não serem filhos do famoso Dr. Augusto Fernandes. Eu sempre admirei meu pai. Desde pequeno eu queria ser poderoso como ele, aliás, só para saber, o poder sempre me atraiu, mas isto é outra história, depois eu conto. Voltando a mim e ao meu pai, ele era meu ídolo, quer dizer, apesar de vivermos brigando, ainda o admiro. Cresci sendo quase uma sombra dele, mamãe até sentia ciúmes, mas eu e ele éramos inseparáveis. Como não poderia ser diferente, escolhi o curso de Direito e passei no primeiro vestibular que fiz na Universidade Federal de Minas Gerais, fui aluno exemplar, sempre me dedicando muito. Assim que acabei o curso, meu pai me incentivou a fazer um mestrado nos Estados Unidos, segundo ele seria uma excelente experiência para meu currículo, palavra do Dr. Augusto. Minha viagem para o exterior foi um pouco assustadora, não queria ir, deixar papai e mamãe, mas ele insistiu e este foi seu maior erro. Nos Estados Unidos conheci o poder de outra forma e confesso que gostei e me transformei! Hoje sou o que sou! Quer saber quem sou eu? Eu sou um Dominador!

Capítulo 1

Descoberta do prazer

Bruno Eu estava no centro de Nova York, uma das maiores cidades do mundo. Tinha apenas vinte e três anos e acabara de chegar à cidade-luz. Não vou mentir e dizer que estava feliz, eu só estava aqui porque meu querido pai havia me obrigado. Conforme suas palavras: “Bruno, você precisa aperfeiçoar seu inglês, fazer cursos na área de Direito penal, uma chance de ouro que você não pode desperdiçar. Qualquer jovem queria estar no seu lugar, meu filho”. Ele só se esqueceu de uma coisa: eu não queria. Meu sonho era formar e ingressar no escritório com ele. Papai vivia dizendo que para realizar meu sonho eu precisaria de um diploma e passar na prova da Ordem dos Advogados do Brasil. Eu já tinha os dois, mas, como sempre, o Doutor Augusto decidiu por mim e mudou os meus planos. Por este motivo, estou aqui há apenas três dias. Ainda estou me adaptando a este lugar, pois, apesar de crescer e viver na capital mineira, isto aqui era outro nível de loucura. O mundo inteiro vivia aqui. Tudo acontecia neste lugar, eu estava me achando um verdadeiro caipira, porque era tudo muito rápido, ninguém parava para ver ninguém, a cidade fervilhava e eu estava bastante assustado. O trânsito era muito louco, pior que o de terceiro mundo. Eu só iria começar o mestrado dentro de vinte dias, mas quis vir antes para ir me ambientando com o lugar. Ainda bem que no mundo inteiro havia brasileiros e já havia encontrado com alguns. Como era bom encontrar pessoas da mesma nação em um país que não era seu.

Preciso te dizer que cheguei junto com meus pais, que vieram me instalar em minha nova casa. Mamãe não aceitou negociar com meu pai, ela disse que estava fora de cogitação eu me mudar sozinho, sem verificar se eu estava bem alojado. Nós estávamos em um apartamento de dois quartos em plena Time Square, era confortável e grande para eu morar só. Uma notícia que eu havia recebido de manhã tinha me deixado um pouco animado. Mamãe disse que dentro de dez dias, chegaria um filho de um amigo do meu pai, para morar comigo. Ele iria fazer mestrado também. Tudo bem que eu não conhecia o cara, mas ficar sozinho era muito ruim. Estava na torcida para que ele não fosse nenhum nerd chato. Não sei se te contei, mas chegamos neste lugar maravilhoso na véspera do Natal. Eu nunca tinha visto nada igual, era muita luz, a decoração mais linda que já vi e as lojas totalmente perfeitas, nada próximo ao Brasil. Meus pais iriam passar o Natal e Ano Novo comigo. Depois voltariam para Minas Gerais, pois o doutor Augusto não podia ficar muito tempo longe dos processos criminais no qual atuava. As festas foram muito agradáveis, tudo muito íntimo e pessoal, nada de grandes comemorações como era acostumado. Papai estava feliz por poder pagar esta experiência para mim. Você deve estar se perguntando: e mamãe? Bom, ela estava um pouco chorosa, pois nunca havia ficado longe do filhinho. Os dias passaram rápidos e chegou o dia de buscar o tal filho do amigo de papai. Eu estava com um pouco de receio do cara ser um chato ou um folgado e desculpe pelo que vou dizer, mas se ele fosse um doutorzinho intelectual assexuado, não ia dar certo. Eu sou louco demais para tanta disciplina. Chegamos ao aeroporto e ficamos próximo ao desembarque esperando o tal Lucas, meus pais o conheciam de uma viagem quando foram a São Paulo. Disseram-me que ele era gente boa. De repente, vi um cara alto como eu, de cabelo grande amarrado, com uma tatuagem tribal no braço, vindo em direção à mamãe e sorrindo. Ela o abraçou e eu logo descobri que este era, a partir de hoje, meu colega de apartamento, logo depois de mamãe esmagar o cara e dizer: — Nossa, Lucas, você já virou um homem e como cresceu. Está lindo, meu filho. Ele deu um sorriso para mamãe, cumprimentou meu pai que foi tratando logo de nos apresentar. À primeira impressão, Lucas me pareceu um cara tranquilo, seguro, dono de si. Segundo mamãe, eu ia gostar dele, que também tinha minha idade. Despedimos dos meus pais dois dias após a chegada de Lucas. Mamãe tinha razão, o cara era gente boa e algo me dizia que ele era dos meus, gostava de uma farra. Nosso programa predileto estava sendo explorar a cidade e apreciar as americanas que

eram bonitas e gostosas. Nós atraíamos olhares por onde passávamos. Estou falando sério, não estou sendo convencido, na verdade éramos dois homens altos, fortes e digamos que bem agradável aos olhos. Estávamos em um ritmo louco de estudo, mas badalávamos muito e pegávamos muitas mulheres. Naquele dia estava fazendo seis meses que estávamos naquela cidade, tínhamos corrido no Central Park e conversávamos descansando na grama, quando Lucas me perguntou se eu já tinha ido alguma vez a um clube de sexo. Eu já tinha pegado muita mulher, mas nunca tinha ido a um lugar assim e não fazia ideia de como era. Respondi que não, ele deu um sorriso sacana e disse que eu precisava conhecer um. Contou-me que há três anos tinha conhecido o mundo BDSM e que tinha descoberto o que lhe dava prazer. Contou-me ser um dominador nato e explicou-me um pouco como funcionava. Eu confesso que não conhecia nada daquilo, só havia ouvido falar algumas vezes e achava que era coisa de doido, mas ali com Lucas me explicando, me deu uma vontade louca de conhecer e entender este estilo de vida. Algo me dizia que eu ia gostar! Lucas me contou que era frequentador assíduo em um clube destes em São Paulo e que no momento ele era um dos mentores mais famosos do lugar. Explicou-me que ele ensinava a homens e mulheres a arte de dominar. Acho que minha cara assustada denunciou o que eu pensava porque ele começou a rir e disse: — Calma aí, cara. Não é o que você está pensando. Não curto homem e não sou bissexual. Meu caso é exatamente o contrário, sou louco por uma bela submissa e quanto mais inexperiente melhor, minha única exigência é que tenha mais de dezoito anos, fora isto, basta ser mulher e submissa a mim. “O que quero dizer, é que eu ensino a teoria e a visão do mundo BDSM a homens e mulheres porque, neste mundo, é necessário muito conhecimento, respeito, autocontrole e, principalmente, cuidado com sua submissa. Um dominador de verdade deve adorar a sua fêmea e focar nela, na verdade, é tudo para ela. Um homem que domina precisa ter controle sobre a mente, a alma e o corpo de sua mulher. Ela precisa confiar e saber que tudo é para o prazer dela. No fundo, quem acaba controlando tudo é ela.” Eu estava ouvindo Lucas falar e já estava encantado com o que ouvia. Eu precisava de mais, então eu pedi que ele continuasse: — Bruno, a arte de dominar não é simplesmente a de mandar, e sim fazer que ela tenha a

vontade de realizar. Você oferece para a sua dama um prazer tão grande, que ela te deseja, ela confia em você e se entrega, sem reservas, sem medos. Eu tenho o maior ódio destes homens que relacionam a dominação à violência. Dominar uma mulher não é simplesmente bater, isto é crime, homens assim precisam estar presos. A arte exige entrega, confiança e cuidado com o outro. Minhas submissas encontram em mim a liberdade para ser quem realmente são. Eu falo sempre com quem quer participar deste mundo, que uma das primeiras regras é não confundir controle com anulação do outro. Um bom dominador não pode ser egoísta, pensando somente no seu bel-prazer. — Cara, eu quero ir neste clube. Ouvindo você dizer tudo isto, acho que nasci para isto. Sempre senti uma necessidade louca de controle em tudo e gosto de ser o comandante da situação no sexo e levar minha mulher ao paraíso. Lucas sorriu e disse que tinha recebido um convite de um clube e que hoje iríamos ao famoso Lord’s. Falou, inclusive, que tinha dois convites VIPS por ter sido indicado por um clube famoso de São Paulo e estaria hoje dando um show nesta casa. Contou-me que o clube era reservado e somente sócio entrava. Outras pessoas só entravam se estivessem a convite de frequentadores. Continuamos um tempo ainda conversando sobre suas experiências, eu descobri que ele era conhecido como Sombrio, pois ele não era um Dom de muitas palavras, era sério e só se concentrava na sua submissa, sem gracejos ou demonstrações excêntricas, disse que ele preferia assim porque gostava. Eu não preciso te dizer que mal conseguia segurar minha ansiedade. Tínhamos combinado de sair por volta das vinte e duas horas. Escolhi para a noite uma calça e camisa preta, pois Lucas tinha me dito que era melhor que estivéssemos com trajes escuros. Além de uma roupa toda preta, ele estaria usando uma capa com capuz e máscara negra, segundo ele para manter o mistério do show. A adrenalina corria solta em minhas veias, eu estava sentindo uma emoção diferente. Coloquei alguns preservativos no meu bolso, porque, com certeza, eu não ia terminar esta noite sozinho, mesmo com Lucas dizendo que seria melhor eu tentar observar e aprender o máximo possível antes de tentar praticar. Entramos em um táxi e seguimos rumo ao tal clube. Lucas já se mantinha mais calado, segundo ele precisava se concentrar para a cena que faria no palco principal. Contou-me que não conhecia a submissa que atuaria hoje, mas me disse que era sua primeira vez em uma exibição desta, então, seria necessária muita dedicação, para poder extrair o melhor dela. Confesso que estava morrendo de curiosidade para ver este famoso show que meu amigo tanto falava. O clube Lord’s ficava em um local luxuoso, mas afastado do centro de Nova Iorque, sua

fachada era toda de vidro negro, com alguns pequenos detalhes em roxo. Embaixo do letreiro havia um aviso de clube privado. Tudo era muito luxuoso e ostentava pura luxúria e riqueza. Assim que nos aproximamos do recepcionista, ele pediu nossos convites e carteira de identidade, conferiu nossas credenciais em um computador, colocou uma pulseira verde em meu braço e uma dourada no de Lucas. Quando entramos, ele me explicou que o verde significava visitante novato e que o dourado era somente dos mestres VIPS. Ao entrarmos, eu fiquei assustado de ver tamanha organização e requinte. O lugar exibia muito bom gosto em sua decoração, era aconchegante e exalava mistério. Eu observei que havia muitas pessoas com a pulseira verde no braço, isto me deixou mais à vontade. Não tinha visto ninguém ainda de pulseira dourada, somente Lucas e percebi que todos que passavam o cumprimentavam com um aceno de cabeça e com respeito. Caramba, eu estava louco para entender o que isto significava. Sentamos em uma mesa que ficava localizada em frente ao palco, logo uma garçonete com um vestido tubinho preto, com um cinto vermelho e uma máscara preta e vermelha chegou até nós. Percebi que ela era linda e o adereço em seu rosto dava o toque final à sua beleza. Escolhemos duas doses de uísque para começar, eu precisava mesmo de uma bebida. No clube tinha gaiolas enormes, douradas, penduradas: em algumas havia mulheres exuberantes dançando; em outras dançavam sozinhas ou havia um casal em uma dança muito erótica. Havia algumas com um homem e duas mulheres que idolatravam o felizardo com cenas muito sexies. Vi outra com uma mulher e dois homens a enlouquecendo de prazer. Tudo isto, com todos vestidos com roupas pretas coladas, onde mostravam algumas partes do corpo. Você pode estar pensando que o ambiente lembrava uma orgia. Engana-se, era tudo muito glamoroso e erótico, sem ser vulgar. Eu já estava excitado e ofegante, era tudo louco demais. A música que dominava o ambiente era Ameno, muito propício ao momento. Lucas ficava calado vendo minha cara de fascínio, às vezes ele sorria, mas estava muito quieto. Me perguntou se eu queria conhecer o andar térreo, onde, segundo ele, estava as masmorras e corredores do prazer. Claro que eu quis, sem pensar. Descemos por um elevador todo vermelho e dourado, sério, o mais bonito que já vi. Chegamos a um ambiente mais escuro com iluminação roxa e em alguns lugares vermelha. Lucas me explicou que naquele corredor havia várias salas com vidros, de onde nós poderíamos ver o que acontecia lá dentro, mas quem estava no quarto não nos via. Meu coração estava quase na boca, eu acho que não respirava. Começamos a caminhar pelo corredor, observei que tinham vários casais, alguns de máscaras, outros não. Percebi que algumas mulheres estavam em delírio com o que viam, outras já pareciam mais envergonhadas. Os homens? Ah, estes estavam totalmente enlouquecidos com o que

presenciavam. Este clube era frequentado somente por heterossexuais, mas nada, se tratando de sexo, era proibido dentro das masmorras. O uso de substâncias ilícitas era totalmente proibido no clube, com ameaça do sócio ser expulso, caso fosse encontrado usando drogas. Assim que paramos em frente à primeira masmorra, eu quase enfartei. Dentro havia uma mulher linda, uma verdadeira deusa ruiva, totalmente amarrada em um objeto que parecia ser uma cruz. Ela usava uma coleira no pescoço incrustada de diamantes e tinha um ar de total entrega e submissão ao homem. Ele dava pequenos golpes de chicote em seu corpo e ela delirava de prazer. Logo depois ele colocou um grampo de mamilo em cada seio dela, enquanto enfiava dois dedos em seu sexo. Eu mal piscava, era impossível. Ele olhava para ela com um ar de controle e total dominação e ela se rendia a ele. Eu estava hipnotizado quando Lucas me arrastou para frente onde havia outro vidro, nesta hora eu pensei que ia à loucura. Um homem alto, de máscara preta, com uma morena gostosa de bunda virada para ele presa a um suporte de madeira, que mais parecia aquele cavalo de madeira da ginástica olímpica e ao lado dela, havia outra mulher loura amarrada a uma cama, totalmente aberta para ele. Porra! Era o sonho de todo homem: duas mulheres ao seu dispor. Ele dava golpes de palmatória na bunda da mulher que chorava de prazer, enquanto com a outra mão massageava sem dó a que estava deitada. As duas estavam loucas de prazer e eu quase molhando minha calça. Lucas me disse que precisávamos voltar ao salão, pois já estava quase na hora de sua apresentação. Eu não sei como aguentaria mais nada, pois já estava quase enfartando. Eu precisava loucamente de sexo, me sentia um touro preso naquele cubículo antes de entrar na arena. Meu amigo sorriu e disse que eu precisava assistir à apresentação dele e aprender o máximo possível, porque dominar uma mulher podia até parecer fácil, mas receber a sua alma e deixá-la livre para alçar voos, isto era para poucos. Eu estava ansioso demais para assistir o famoso show. Neste momento ouvi o anfitrião dando boas-vindas a todos no microfone e dizendo que aquele clube havia nascido do sonho de ser livre, de fantasiar, de jogar e ser feliz. Contou que era uma ocasião muito esperada por todos, pois estavam recebendo em sua casa um dos dominadores mais famosos e experientes do Brasil: Dom Sombrio, diretamente de São Paulo para Nova Iorque. Disse que aquele show era a tradicional prova de seleção para novas submissas do clube, pois, como todos sabiam, aquele era o único clube que contava com submissas dispostas a atender os desejos mais profundos de um dominador, mas que para isto, elas precisavam ser bem treinadas e passar pelo teste final.

Assim que Lucas subiu ao palco, com sua capa preta, máscara, cabelo amarrado e com um jeito totalmente seguro, a mulherada que assistia foi à loucura. Ele foi aplaudido e ovacionado por todos. Ele agradeceu e disse sobre a importância do cuidado na arte do BDSM, da confiança que a submissa precisa ter em seu dono, na importância de parar assim que a submissa falasse sua palavra de segurança e explicou o que faria hoje. Segundo ele, a prova consistia em não deixar a submissa gozar antes que ele mandasse. Eu fiquei imaginando se a mulher ia conseguir se submeter a ele e se controlar. Eu estava ansioso para ver isto. As luzes do palco escureceram e ficaram em um tom dourado e roxo. A música Recovery, de James Arthur, tomou conta do ambiente, quando uma mulher maravilhosa, branca como a neve, de cabelos negros longos, com rosto de boneca, vestida apenas com um roupão negro e um salto enorme entrou no palco. Eu não respirava, só acompanhava cada movimento que acontecia. Lucas estava sentado em um trono quando a mulher veio até ele e se ajoelhou em sua frente, com o rosto para o chão. Ele passou as mãos em seu cabelo, levantou seu queixo, deu um beijo selvagem em sua boca. Só o beijo já era como um ato sexual. Assim que ele parou de beijá-la, ela já estava corada. Meu amigo perguntou-lhe qual seria sua palavra de segurança, ela respondeu que seria teste. Ele, então, segurou sua mão, a levantou do chão e a levou a uma cama negra que estava no centro do palco. Em seguida, amarrou seus pulsos e tornozelos às argolas que estavam estrategicamente posicionadas nas cabeceiras, vendou seus olhos, começou a beijar, morder seus pés e foi subindo até seus seios, depois subiu e a chupou como se fosse um sorvete. A mulher se contorcia, ele então deu um tapa em seu sexo e disse que não podia gozar até sua ordem, senão seria castigada, ela concordou acenando com a cabeça. Ele saiu de perto dela, buscou um gelo, um castiçal com uma vela e ia passando o gelo por todo seu corpo e derramando a cera derretida, onde tinha passado o gelo. A mulher choramingava e pedia: Senhor, por favor, me deixe gozar? Cada vez que ela pedia, ele batia com uma palmatória em seu sexo e dizia que ele que mandava, que ela estava gostando e não podia gozar ainda. Quando pensei que ela não aguentaria mais, ele a desamarrou, a beijou com cuidado e a levou para uma cruz que estava no centro do palco. Novamente amarrou seus tornozelos e punhos, colocou um grampo em cada mamilo ligado por correntes, retirou a venda dos olhos dela e novamente a beijou, desta vez com cuidado e paixão. Ele a deixou ali, foi até uma mesa e buscou um chicote grande. Disse-lhe que seriam dez chicotadas porque pediu para deixá-la gozar e merecia um castigo. Ela aceitou na hora e pediu desculpas. Eu não sei como ela aguentou, mas vi que ele era perito no que fazia e que não a machucava, ela parecia gostar. Depois destes golpes,

ele retirou os grampos a chupou com vontade, a mulher dava sinais que não aguentaria mais. Ele parou, olhou em seus olhos e disse: — Linda, nesta noite eu vou ser o seu dono. Seu corpo será meu templo sagrado e minha meta te dar prazer. Aguente mais um pouco, você está indo muito bem e seu gozo é somente meu. Se conseguir, eu vou passar o resto desta noite cuidando de você na suíte privada. Lucas falou isto e a beijou com paixão. Ele então pegou um vibrador com uma bola dourada, a manipulou de todas as formas. A mulher respirou, tremeu, chorou, até que ele disse: — Goze, linda! Vou ser muito sincero, foi a cena mais impactante que vi. Aquela mulher nunca mais iria sair da minha cabeça. Meu amigo, que agora era meu ídolo, carregou-a e sumiu com ela para os fundos do clube. Eu que me achava o poderoso Bruno pegador, estava com a sensação de que precisava aprender muito. De uma coisa eu sabia: era isto que eu queria ser, aliás, eu tinha uma alma de dominador, eu só não sabia. E agora? Agora eu descobri o prazer e não tinha mais volta!

Capítulo 2

Desventuras em Nova Iorque

Bruno Eu fiquei por quase dois anos em Nova York. Eu e Lucas nos tornamos grandes amigos, ele me ensinou tudo para ser um grande dominador. Durante todo o tempo que permaneci naquela cidade, eu devo ter comparecido ao tal clube umas sete vezes. Como era um local privado e com muitas regras para proteção de seus frequentadores, não era possível estar sempre presente. Além disto, tinha a questão financeira e outra, que vou te contar depois, que dificultaram minhas idas ao clube. Eu era um mero estudante, vivendo com a mesada do pai. Precisava planejar muito bem meus gastos para não ir além do que podia gastar. Não queria despertar a curiosidade em meu pai, pois ele não era bobo e ia querer saber o que estávamos fazendo com tanto dinheiro. Os pais de Lucas não sonhavam com o que ele fazia, segundo ele nunca aceitariam. Não preciso te dizer que se o meu pai sonhasse que eu frequentava um lugar daquele ele me mataria. Não que fosse proibido ou errado aquele estilo de vida, a questão era que nossos pais eram de outras épocas e certamente não aprovariam. Lucas estava trabalhando como mentor algumas vezes, treinando as submissas que estariam à disposição de seus ricos sócios e frequentadores. Nas primeiras vezes que fui ao clube fiz questão de observar tudo. Eu queria aprender o máximo que podia. Confesso que foi muito difícil ver tanto sexo e não fazer, mas me sentia ainda inseguro de ir para alguma masmorra com uma mulher e machucá-la. Lucas falava tanto na minha cabeça que a dominação era uma arte, que eu ficava muito preocupado. De todas as sessões que

assisti naquele lugar, tinha uma que não servia para mim. Eu nunca ia querer dividir uma mulher com outro homem, mesmo sendo somente uma relação de submissão. Eu era possessivo e a ideia de estar com uma mulher e outro marmanjo não me atraía. Lembro como se fosse hoje o dia que fomos ao clube e resolvi, pela primeira vez, colocar a pulseira azul, que significava que eu era dominador iniciante e procurava por uma submissa. Aquele clube era tão organizado, que para ter acesso àquela pulseira, eu precisei apresentar exames não reagentes para doenças sexualmente transmissíveis, uma certidão negativa para antecedentes criminais e meu visto de estudante. Ainda paguei quase toda minha mesada por uma masmorra, a mais simples, pois era o que meu orçamento permitia. Aquela aventura me proporcionou um mês inteiro de macarrão instantâneo e outra coisa que vou te contar, porém, se você pensa que eu fui o dominador e arrasei, você está muito enganada. Eu poderia mentir aqui e contar a história que quisesse, mas quero que você conheça a versão verdadeira da minha vida. Minha estreia foi totalmente atípica. Eu estava muito nervoso porque meu lado macho alfa queria arrasar, mas estava inseguro, principalmente com medo de machucar uma mulher. Isto para mim estava fora de cogitação, era o meu limite rígido. Eu queria que fosse muito prazeroso para ela se entregar a mim, sem medos, me deixando dominar sua mente. Como eu disse antes, Lucas estava a convite do dono do clube, sendo mentor de alguns dominadores e submissas, estilo aula mesmo. Eu circulava pelo clube, vendo se alguém me interessava, precisava sentir a química antes de qualquer coisa. O quê? Vem me dizer que você não é assim? Não é somente beleza que me atrai, é algo mais, um olhar, um mistério. Claro que eu adoro uma mulher linda e gostosa, mas não é só isto, preciso de mais. Então, voltando ao clube, eu parei perto do bar tomando meu uísque, eu precisava de coragem, pensa que era fácil? Estava bebericando, quando vi uma ruiva linda, cheia de curvas, com lábios cheios, com um olhar submisso e curioso para mim. Eu fiz um sinal para que ela viesse onde eu estava. Ela veio desfilando, suave como uma brisa. Parou em minha frente, abaixou a cabeça e disse: — Senhor, eu estou à sua disposição. — Qual o seu nome, linda? — perguntei, levantando seu queixo. — Meu nome é Lady, meu amo. Eu segurei sua mão e a levei para minha primeira experiência na masmorra. Sinceramente, percebi que ia gostar de dominar uma mulher. As relações, digamos mais selvagens, me atraíam. Adorava ser o dono dos pensamentos de uma gostosa, mas também gostava que ela fosse ativa e

participativa, não gostava quando a mulher parecia uma boneca inflável. Lucas tinha me orientado que o mais importante era que fosse consensual e prazeroso para os dois. Que até mesmo quando punia, era para o prazer da submissa. Dom Sombrio gostava de dizer que o seu objetivo era seduzir, encantar e ser o melhor amante da vida de suas submissas, inclusive, ele não gostava das práticas mais pesadas ou que envolvia sangue, agulha, secreções humanas. Para mim, isto tudo estava fora de cogitação, eu tinha pavor de sangue, agulhas e qualquer coisa que envolvesse riscos a submissa. Meu lance mesmo era controlar o corpo, a mente e a alma da mulher. Eu queria ser o centro do seu mundo quando ela estivesse em um quarto comigo. Voltando a Lady, eu a levei para a masmorra, mas percebi que ela parecia um pouco temerosa. Resolvi conversar um pouco e este foi meu maior erro. Não sei se você percebeu, mas eu falo demais. Olhei para aquela gatinha assustada. — Qual sua idade, flor? O que uma gatinha assustada como você faz neste mundo? — Meu senhor, eu tenho vinte e um anos. Estou nesta vida há nove meses, mas neste clube somente três. — O que aconteceu? Você parece triste quando fala. — Fiquei curioso para saber mais e esta foi minha falha. — Cheguei aqui conduzida por um coiote, nome dado a pessoas que levavam imigrantes ilegais aos Estados Unidos por dinheiro. Vivi um pesadelo, pois ele me obrigou a trabalhar em um clube de prostituição, onde eu era muito maltratada por velhos ricos e cruéis. Fui resgatada pelo dono deste clube que me conheceu em uma esquina quando eu consegui fugir. Ele me encontrou chorando e perdida. — Lady, o dono deste clube tentou alguma coisa com você? — Não, ele foi um cavalheiro, denunciou os donos do prostíbulo e me convidou para ser garçonete no Lord’s. Eu gosto do que estou fazendo. Tem dois meses que estou fazendo uma experiência para ver se quero continuar como submissa ou garçonete. O dinheiro que recebo aqui é muito bom. Consigo mandar para minha família. Descobri que ela era do México e tinha entrado nos Estados Unidos de forma ilegal. Era incrível como eu atraía mulheres com tragédias para a minha vida, com tantas submissas desfilando pelo clube fui escolher logo aquela.

— Você não conseguiu emprego em nenhum lugar? — Não consegui por ser imigrante e estar ilegal no país. Agradeço por ter sido salva pelo proprietário deste lugar. O que ganho aqui ajuda minha família e ainda consigo estudar. Foi assim que conheci Mercedes, seu nome verdadeiro. Depois que ela me contou as dificuldades de sua vida, eu não tinha clima para chicotes e cordas. Eu fiquei olhando para aquela linda à minha frente e amarelei. Acredite, eu não sabia o que fazer após o relato de uma vida tão sofrida. Eu, em minha inexperiência com aquele mundo, acreditava que todas as mulheres que ali estavam eram muito vividas. Então, como sou todo atrapalhado e costumo agir por impulso, perguntei a Mercedes se ela podia sair dali comigo. Ela sorriu e disse que sim, pois eu era seu último cliente. Marcamos de nos encontrar dentro de meia hora na saída do clube. Eu estava na saída esperando a ruiva linda, quando a vi vindo em minha direção com uma calça jeans, uma blusinha preta e um tênis All Star. Ela usava uma mochila nas costas, tinha um ar inocente e parecia uma colegial. Saímos de mãos dadas rumo a uma lanchonete que ficava próxima a meu apartamento. Acabei descobrindo que ela era boa de papo e divertida. Confidenciou que tinha paixão por bonecas de porcelana e que sua maior tristeza foi ter perdido suas três bonecas na viagem. Ela parecia uma criança que perdia seu doce. Descobri que outra paixão de Mercedes era o carnaval do Rio de Janeiro, ela tinha planos de um dia assistir ao desfile das escolas de samba. Eu estava adorando conversar com ela. Na lanchonete tinha aquelas máquinas de música jukebox, eu perguntei se ela gostava. Ela sorriu com um lindo brilho no olhar e disse que adorava. Então entreguei a ela uma moeda e disse: — Vai lá, mexicana, me surpreenda! Coloque sua música favorita. Ela sorriu, correu toda feliz para a máquina e colocou uma música romântica que eu não me lembrava de quem era. E eu presenciei naquele momento o maior espetáculo da terra, a ruiva fechou os olhos e começou a dançar sozinha, com movimentos leves e sedutores. Eu fiquei totalmente alucinado, então me levantei da mesa e fui dançar com aquela mulher linda. Não parei somente em uma música, descobri que Mercedes amava o cantor Alan Jackson, dançamos I’ll Try e mais três melodias românticas dele. Eu não resisti, entre uma música e outra, beijei aquela latina gostosa e ela retribuiu o meu beijo. Foi a melhor dança da minha vida. Ficamos no maior amasso, a ruivinha era quente. Como ela me disse que morava no Bronx e já era muito tarde, aproveitei a oportunidade para convidá-la para dormir em minha casa. Claro que eu tinha segundas e terceiras intenções com a gostosa, eu não era tão santinho assim. A princípio,

ela ficou um pouco insegura, mas acabou aceitando. Saímos abraçados em uma noite fria, sorrindo de alguma besteira que agora não me lembro do que era. Eu ia mostrar a Mercedes meu quarto do prazer. Este era o jeito que Lucas chamava meu quarto, porque, segundo ele, meu quarto era mais frequentado que um banco em dia de pagamento. Juro que se eu pudesse ter apagado este dia da minha vida, eu apagaria. Bom, continuando minha história, eu cheguei à minha casa, fui logo me atracando aos beijos com aquela gostosa e a levando para meu quarto. Posso dizer que foi uma noite quente, sem cordas e chicotes, mas com muito prazer. Eu confesso que fiquei meio alucinado pela mulher, ela sabia exatamente o que queria e como queria. Parecia uma leoa me devorando, eu até fiquei assustado, pois de submissa ela não tinha nada. Mercedes foi insaciável, me deu um cansaço daqueles e eu vou contar um segredo: quase não dei conta da mexicana. Dormimos quase pela manhã, suados, cansados e eu todo arranhado. Acordei pela manhã e a gostosa não estava mais ao meu lado. Encontrei um bilhete dela agradecendo pela noite maravilhosa e por eu ser um homem bem melhor que os outros.

Lindo,

Obrigada pelos momentos que estive com você. Foi tudo maravilhoso. Você é um cavalheiro, o melhor homem que já esteve comigo. A gente se encontra por aí, tourão. Beijos da Mercedes.

Gostei do bilhete, mas fiquei com um gosto de quero mais e ainda por cima sem saber aonde encontraria aquela mulher de novo. Quando cheguei à cozinha, Lucas estava fazendo um café. Ele foi logo me perguntando: — E aí, cara? Como foi sua estreia? — Contei a meu amigo tudo que tinha acontecido desde o início até hoje pela manhã. Lucas começou a gargalhar, não conseguia respirar. Eu mandei ele se ferrar e saí da cozinha puto de raiva. Ele foi atrás de mim no meu quarto e disse: — Cara, me desculpe, foi mais forte que eu. O seu erro, amigo, foi querer conversar. Discutir

relação é coisa para mulher. O máximo que você tinha que fazer era perguntar se ela queria uma palavra de segurança, se tinha algum limite rígido e pronto. — Porra, mas eu fiz exatamente isto. — Não, meu amigo, você discutiu a relação. Não é assim. Tem que ser na pressão. Você já vai agarrando a mulher, mostrando a ela quem dá as cartas, deixa que ela fale só o que perguntou e invada a boca dela com sua língua, sem deixar chances para respirar. É assim, inocente, a não ser que você queira uma namorada e lá, amigo, não é lugar para isto. — Lucas, na boa? Vá se ferrar, cara! Não estou a fim de papo. Ainda rindo, Lucas disse: — Claro que não, já conversou muito ontem. Eu fiz um gesto obsceno para ele, que saiu do meu quarto ainda gargalhando. Tomei um banho sentindo minhas costas arder pelas unhadas da gata, enquanto me lembrava da noite selvagem que tinha passado. Caramba, cinco preservativos em um final de noite e eu estava morto de cansado, mas o mestrado me esperava. Passei o dia como se meus olhos estivessem cheios de areia e eu atropelado por um Boeing. O problema que aquele avião tinha nome e sobrenome: Mercedes Delamares, além de lindas pernas, cabelos vermelhos como o fogo, cara de anjo, eu estava ferrado, pois a maldita não saía da minha cabeça. Naquele dia, eu precisava ler dois livros para o mestrado e ainda fazer o resumo dos mesmos. Resolvi não sair, me debrucei sobre cadernos e textos. Já era tarde da noite, quando comecei a ter dificuldades de concentração, então guardei tudo e fui dormir. Virei e revirei na cama, mas nada do sono aparecer. Levantei, fui à cozinha e percebi que Lucas não tinha chegado de suas noitadas ainda. Eu era um homem impulsivo, então fiz o que meu coração estava mandando, troquei de roupa e fui até o clube. Eu não ia entrar, só ficaria do lado de fora esperando por Mercedes. Eu precisava conversar com ela, ver se estava bem. Eu juro que tentei não ir, mas foi mais forte que eu. Fiquei até quase de manhã congelando do lado de fora e nada da mulher aparecer. Quando vi algumas meninas saindo fui até elas e perguntei por Lady, pois ela tinha me dito que ninguém sabia seu verdadeiro nome. Disseram-me que ela estava de folga e só trabalharia dentro de dois dias. Eu agradeci e saí magoado. Porra, se ela estava de folga, por que sumiu tão cedo? Pelo jeito,

eu não fui nada importante para ela. Meu Deus, você ouviu o que eu disse? Estava parecendo mulherzinha apaixonada. Que droga! Passamos dois dias estudando, correndo, e às vezes, Lucas me infernizava dizendo que eu estava apaixonado. Eu o mandava ir se ferrar e continuávamos colocando toda a matéria em dia. Eu estava louco para ir ao clube encontrar com minha ruiva. Para meu azar, Lucas não iria naquele mês, pois tinha acabado com os treinos. Sua nova turma seria somente dentro de dez dias e ele estava curtindo com uma advogada gostosa do mestrado. Como um homem enlouquecido, dois dias depois eu fui para a porta do clube de madrugada esperar pela saída de Lady. Estava lá congelando novamente quando ela saiu, linda, com uma minissaia preta e uma jaqueta de couro vermelha. Eu quase enfartei quando ela me viu e veio correndo ao meu encontro. Parou à minha frente, deu o maior sorriso do mundo e disse: — Você voltou, lindo? Não esperava ver você de novo. — Por que não, ruiva? Foi você que fugiu de mim. Sumiu nestes dois dias de folga. Eu estive aqui te procurando. — Não fugi, Bruno. Só pensei que você não ia querer me ver mais, afinal o que um cara rico e lindo como você iria querer com uma mexicana pobre como eu? — Eu não sou rico, linda. E qual o problema de você ser pobre e mexicana? — Não sei, mas aqui as pessoas têm muito preconceito com gente como eu. — Eu sou brasileiro, Mercedes. E o que eu vejo à minha frente é uma mulher linda, guerreira e que sacrifica sua vida pela família. Neste momento, eu vi que minha ruiva ficou com os olhos marejados e eu a abracei. Não sei o que me deu, mas eu queria cuidar daquela menina inocente, sofrida e com cara de anjo. Beijei seus cabelos e ela me beijou, emocionada. Parecia uma gatinha assustada. Saí com ela em direção à minha casa. Chegamos correndo e ofegantes, pois, acredite se quiser, mas apostamos uma corrida e ela ganhou de mim. Entramos em casa rindo e nos agarrando. Lucas deveria estar dormindo no apartamento da advogada, então transamos alucinadamente na sala. Nossa, realmente ela era uma leoa. Eu dominei um pouco a situação naquele dia, pois a amarrei à minha cama e a fiz implorar por mim. Depois de saciados, fomos para a cozinha, fizemos uns sanduíches e matamos nossa fome de comida. Ela queria saber da minha vida e eu contei a ela como era ser filho do doutor Augusto.

Minha pequena ruiva era muito curiosa e mostrei-lhe todo nosso apartamento. Ela ficou encantada com nosso equipamento de som, com o tamanho de nossa televisão e com minha câmera fotográfica. Sim, eu era apaixonado por fotos. Tinha uma Nikon profissional de última geração, presente do meu tio João Pedro, pai do meu primo que eu mais amo. Eu aproveitei a oportunidade e fiz algumas fotos dela com minha câmera. Claro que no dia da dança eu tinha feito algumas dela dançando no meu celular. Aproveitamos o resto da noite com mais rodadas de sexo e dormimos até quase meio-dia, pois no outro dia era sábado e eu não tinha aula. Novamente aquela perigosa me largou sozinho na cama. Desta vez com um bilhete um pouco melhor, pois tinha deixado o número do seu celular. Tomei um banho demorado e quando cheguei à cozinha, Lucas estava lá com uma mochila nas costas. Ele me cumprimentou com seu tradicional soco no braço e me perguntou: — Não me diga que passou a noite com a ruiva de novo? — E você? Não me diga que estava com a advogada gostosa de novo. — Bruno, eu estava com Helena, este é o nome da advogada gostosa. E cara, cuidado! Você não sabe nada desta mulher. — Claro que eu sei, ela já me contou toda sua história. Qual é, cara, deixa de ser preconceituoso! — Bruno, não é preconceito. Só quero que você tome cuidado, amigo. Já vi muita coisa acontecer com mulheres como esta cheia de dramas. — Fica tranquilo, amigo, estou alerta. Olha você aí todo apaixonado, o grande Dom Sombrio que dominava todas foi dominado? — Não, Bruno, eu não fui dominado. Digamos que eu e Helena estamos nos curtindo e, cara, você não sabe de nada, ela é a melhor submissa que já tive. — Como assim, cara? Vai me dizer que ela curte seus chicotes? — Ah, amigo! Vou ser cavalheiro e deixar sua imaginação descobrir do que ela gosta. Bom, eu só volto no domingo à noite. Vou passar o final de semana com a Helena. — Depois você diz que eu que estou apaixonado. Lucas só sorriu e disse: — Cara, me empresta seu computador? Eu esqueci o meu no armário da faculdade e preciso

editar algumas fotos para Helena. — Pega lá, cara, pode levar. Aproveita e deixa uma foto da sua advogada gostosa nua no meu descanso de tela. Lucas jogou uma maçã em mim e saiu rindo. Só gritou de longe: — Tchau, cara, e cuidado com as dramáticas, elas costumam morder. Antes que eu pudesse responder, ouvi a porta da cozinha bater. Eu sabia que as pessoas eram preconceituosas, mas eu não era. Meu pai nunca permitiu que eu maltratasse alguém ou me achasse melhor que qualquer pessoa. Eu aprendi com meu velho que todos nós éramos iguais e merecedores de um voto de confiança. Aproveitei que ia ficar sozinho e liguei para minha ruiva. Ela atendeu no segundo toque. Contei a ela a novidade e a convidei para passar o domingo comigo. Ela ficou muito feliz, aceitou na hora, disse que não estava se sentindo muito bem e que já tinha avisado ao dono do clube que não iria naquele dia. Eu logo fiquei preocupado, mas me acalmou dizendo que era só um pouco de dor de cabeça, que ia dormir um pouco e à noite viria à minha casa. Eu disse que fazia questão de buscá-la, mas não aceitou. Segundo ela, precisava passar no clube primeiro para entregar o celular da amiga que ficou em sua bolsa e que logo depois chegaria. Não consegui convencê-la de jeito nenhum, então acabei aceitando. Aproveitei a tarde livre para correr um pouco e depois comprei algumas coisas gostosas para a geladeira. Queria mimar a ruiva. Engraçado que se alguém me falasse que eu ia viver aquilo, ia dizer que estava doido, mas estava gostando da companhia dela e, claro, do sexo também. Eu tinha conversado com ela, pois não estava gostando da ideia dela voltar a frequentar a masmorra. Ela tinha me acalmado e inflado meu ego. Disse que desde o dia que nos conhecemos, ela não tinha voltado lá com ninguém, estava somente trabalhando de garçonete. Tinha me dito, toda envergonhada e corada, que depois de mim, estava sem coragem de ficar com outro. Eu gostei muito disto, meu lado macho alfa agradeceu. Lembro que Mercedes chegou ao meu apartamento por volta das vinte horas. Ela estava lindíssima com uma calça preta justa, uma blusa branca e uma jaqueta de couro negra como uma pantera. Usava um salto de deixar qualquer homem de joelhos em frente a ela. Porém, o que mais me encantava nela era o olhar de anjo. Mesmo com aquele corpo de mulherão, ela parecia uma menina indefesa precisando de colo. E eu estava ali, pronto para dar colo àquela deusa da perfeição.

Ela entrou no apartamento como uma leoa no cio, me empurrou no sofá, se agachou em minha frente e começou a tirar minha roupa. Eu já estava pronto para ela, a ruiva foi me beijando, me lambendo, me engolindo inteiro e me enlouquecendo. Eu já estava quase perdendo os sentidos, quando eu a virei de uma vez, a puxei para o meu colo, retirei toda sua roupa, coloquei ela de bruços em minhas pernas e dei uns dez tapas naquela bunda linda. Mercedes foi à loucura, gemia feito uma gata e pedia mais. Neste clima de loucuras, mordidas, puxões e muito fogo, nós entramos em combustão. Com os corações batendo descompassados e sem ar, ficamos abraçados no tapete da sala, esperando nossas respirações se acalmar. Assim que estávamos em condições de levantar sem desmaiar, eu fui ao banheiro levar o preservativo, enquanto Mercedes foi à cozinha. Quando voltei do banheiro, ela estava nua em pelo, ainda com os saltos e com duas taças de vinho nas mãos. Eu sorri e antes que pudesse pegar a taça, ela passou por mim desfilando com a maior cara de safada do mundo, rumo ao meu quarto do prazer. Entramos e ela me convidou para beber com ela na cama. Tomei todo o meu vinho de uma só vez, quando ela derramou a sua taça em seu corpo e me convidou a degustá-la. Eu já estava pronto de novo e meu mundo caiu.

Capítulo 3

Boa noite, tourão!

Bruno Acordei como se estivesse com uma chapa de quinhentos quilos em cima do meu corpo, tudo doía e girava, não conseguia abrir meus olhos e sentia uma dor enorme em minha garganta. Tentei abrir meus olhos e a pouca luz que apareceu quase me cegou. Fiquei tentando me concentrar e entender onde eu estava. Ouvi a voz de Lucas conversando com alguém no telefone dizendo que o médico informou que eu acordaria assim que o efeito da droga passasse. Droga? Que droga era esta? Eu nunca usei droga. Foi nesta hora que forcei a barra e disse: — Lucas, onde eu estou? — O ouvi dizendo que estava acordando e depois ligaria. — Cara, pelo amor de Deus? Como você está, meu irmão? Você quer me matar do coração? — Lucas, o que aconteceu? Minha cabeça dói. Cadê a Mercedes? — Bruno, você caiu amigo no golpe do Boa Noite Cinderela. Eu cheguei domingo à noite e você estava nu no quarto, somente com um lençol em cima de você e a casa quase toda limpa. Você estava muito pálido e com o batimento cardíaco muito fraco. Eu chamei os paramédicos e, cara, você não tem noção da loucura que foi. Os médicos disseram que se eu demorasse mais algumas horas você não escapava. Eu não queria acreditar no que estava ouvindo, era demais. Senti um ódio crescendo dentro de mim, um sentimento de vingança e uma vergonha enorme de ter sido tão burro. Eu fiquei um tempo em silêncio até digerir aquela informação e fiz a pergunta que mais me doeu:

— Lucas, foi tudo planejado por Mercedes? O que ela roubou? Não me esconda nada. — Bruno, deixa isto para depois, cara. — Não, Lucas, não tem depois. Preciso saber agora. — Bruno, infelizmente, amigo, sim foi ela que planejou tudo. A polícia já está com a filmagem do nosso prédio. Sabemos que ela tinha dois comparsas. Foi tudo muito bem planejado, amigo. Na madrugada, eles atraíram a atenção do porteiro para a garagem, deram um golpe em sua cabeça, ele desmaiou e os bandidos o amarraram. Então, livremente eles pararam um pequeno caminhão baú em frente ao prédio e levaram três televisões, equipamento de som, micro-ondas, filmadora, sua máquina fotográfica, seu celular, todo o dinheiro de sua carteira, cartões e cheques, tudo da geladeira, nossas roupas, nossos tênis e sua moto. Só salvou geladeira, fogão, sofá e as camas. Ah! Por sorte, nossos notebooks não estavam no apartamento. Eu já comprei algumas roupas para nós e trouxe algumas para você, que chegou aqui do jeito que veio ao mundo. Não podia acreditar no que estava ouvindo. Quer dizer que eu tinha sido o otário da vez? Que a pobre moça mexicana perdida e sofrida era uma bandida? E o babaca aqui e espertão totalmente envolvido? Estava sofrendo agora outra dor, que era a da vergonha e do orgulho ferido, quando fiz a pior pergunta: — Lucas, cara, pelo amor de Deus, me diga que meu pai não está sabendo disto? — Bruno, infelizmente o policial exigiu que eu ligasse para o seu pai. Segundo ele somente o proprietário do apartamento poderia liberar para arrombar a porta, pois não tinha nada provando que você estava lá dentro. E, antes que você pergunte, eu não sei o que eles fizeram porque minha chave não funcionou na fechadura de jeito nenhum. — Porra! Que merda, cara! E o que o doutor Augusto disse? — O que ele disse? Cara, ele enlouqueceu, porque, a princípio, você parecia morto, era quase impossível sentir seu pulso. Neste exato momento, ele está em um avião junto com sua mãe vindo para cá. Sinceramente, depois daquela notícia, acho que preferia ter morrido mesmo. Caramba, como ia enfrentar a fúria do meu pai. Depois que passasse o susto e o alívio de me ver bem, ele ia me colocar no banco dos réus. Eu precisava urgente arrumar uma história melhor para aquela maldita mulher. Como ia dizer para o meu pai, que seu filhinho querido tinha colocado uma prostituta dentro de casa? Resumindo: estava ferrado!

Antes que pudesse me recuperar do choque, fui agraciado com a visita de dois policiais e um delegado. Não me faltava mais nada. Será que nenhum médico poderia dizer aos homens da lei que eu ainda não estava em condições de falar? Pelo jeito, não estava com muita sorte, pois antes de reclamar o policial foi dizendo: — Senhor Bruno Fernandes, o médico nos disse que assim que acordasse poderíamos conversar com você. E, pelo que estamos vendo, o senhor já acordou. — Eu dei um sorriso amarelo e ele começou o interrogatório. — Senhor, queremos que nos conte desde o começo como conheceu esta mulher. Todos os detalhes são importantes, não deixe de falar nada. Meu Deus, como eu ia contar aquilo ao policial? Olhei para ele e disse: — Policial, com todo o respeito, ninguém tem mais interesse em prender esta mulher que eu. Entretanto, eu vou usar o meu direito de não falar nada neste momento. Estou com muita dor de cabeça, de garganta e sem condições de coordenar os meus pensamentos agora. Ele não me olhou com uma cara muito feliz, mas acabou concordado e deixando comigo o número do telefone para que eu ligasse assim que me sentisse melhor. Antes de sair do quarto, olhou para mim e perguntou: — Se o senhor tiver alguma foto dela será muito importante para as investigações. Temos quase certeza de que o senhor não é o primeiro e não será o último se não prendermos o grupo antes. — Eu já ia negar quando Lucas disse: — Cara, tem as fotos dela dançando que você salvou em seu notebook, por sorte ele está comigo. Confirmei a informação de Lucas e ele foi junto com os policiais para entregar as fotos. Fechei os meus olhos em desespero, minha vontade era de gritar. Não cansava de me amaldiçoar por ter sido tão babaca. Lembrei-me de Lucas dizendo para tomar cuidado com as sofredoras, pois elas costumavam morder. E a teoria furada do meu pai que todos mereciam um voto de confiança? A culpa era dele por me criar tão cheio de valores, sem preconceito, sem julgar ninguém. Olha que merda eu virei? Fui me apaixonar pela primeira mulher que chorou seu sofrimento em minha frente. Que ódio! Não conseguia acreditar que tinha acontecido comigo. Estava alucinado de raiva quando o médico entrou em meu quarto. Ele sorriu e perguntou como eu estava: — Estou louco para matar alguém. Doutor, eu estou com ódio de ter sido tão burro! — Meu filho, você não é burro. Acontece todos os dias. Infelizmente, garoto, não será o

primeiro e tampouco o último a passar por isto. No seu caso, o que nos assustou foi a quantidade de droga em seu organismo. A dose que te deram é similar à usada para sedar elefantes. Você deu muita sorte, rapaz, por ser novo, ter saúde e por seu amigo ter chegado a tempo, caso contrário não teria se salvado. Fizemos uma lavagem estomacal e demos um remédio para neutralizar o efeito da droga em seu organismo. Você vai passar esta noite aqui e se continuar evoluindo, te libero amanhã cedo. Agradeci ao médico por suas informações, segundo ele minha cabeça ainda iria me incomodar por uns três dias e a dor de garganta logo passaria. Ele saiu do quarto e fiquei remoendo minha raiva. Eu estava muito chateado, não queria falar com ninguém. A única pessoa que aceitei atender foi Pedro. Contei ao meu primo tudo que aconteceu, desde o primeiro dia que fui ao clube Lord’s, ele ficou assustado com minha história, mas uma das melhores qualidades de Pedro era ter solução para tudo. Ele sugeriu que antes de falar com a polícia que eu conversasse com o dono do clube para saber alguma notícia, disse também que eu não precisava falar com meu pai sobre o que realmente era o clube, eu podia dizer a ele que conheci a moça em uma boate. Não ia melhorar muito minha situação, mas com certeza ia evitar causar um enfarte em doutor Augusto. Pedro ainda me disse que se as coisas começassem a piorar muito, fingir passar mal resolvia. Caímos na gargalhada, no fim ele conseguiu me distrair um pouco. Despediu-se de mim, garantindo que se precisasse ele conversaria com meu pai para que ele não me matasse. Papai ouvia muito o meu primo, ele tinha o dom de acalmá-lo. Como eu era exatamente como ele, a gente batia de frente de vez em quando. Lucas ficou no hospital comigo. Disse que a polícia já tinha virado e revirado o apartamento em busca de provas mexendo até no lixo do banheiro. Contou que naquela noite liberaram o apartamento e que Helena tinha arrumado a bagunça, trocado as roupas de cama e abastecido nossa geladeira. Eu estava transtornado de ódio. Vendo minha situação, meu amigo disse: — Bruno, deixa para lá, cara. Graças a Deus, você está vivo. O prejuízo foi só material, a gente recupera tudo de novo. Ficar com este ódio todo não vai resolver nada. A polícia vai prender este bando, fica tranquilo. — Lucas, não é pelo financeiro. A minha raiva é da minha burrice. Como eu pude ser tão babaca? — Olha, não adianta eu te falar o que você já ouviu várias vezes. O que posso te dizer, cara,

é que nesta vida tudo serve para alguma coisa. Preciso me desculpar. Fui eu que te meti nesta. — Pode parar aí, Lucas. Você não tem culpa de nada, inclusive me alertou sobre a golpista. Eu que estava cego pela beleza e fui o maior idiota do ano. Ai, quer saber, vou dormir, estou cansado. Tem certeza de que não quer ir dormir em casa? Eu estou bem. — Claro que não, Bruno. Somos parceiros. Eu vou me arrumar por aqui mesmo. Boa noite. Demorei um pouco a dormir tentando pensar como não percebi nada. Então, as coisas começaram a clarear, ela nunca me deixou ir à sua casa, vivia de folga, ninguém sabia seu verdadeiro nome, a curiosidade em conhecer tudo em minha casa. A triste história de menina sofrida, de coiote, de imigração, família passando fome, tudo milimetricamente pensado para que eu me envolvesse. Ela deve ter percebido que eu era um bobo. Isto mesmo, idiota demais, bonzinho em excesso, enfim, tudo muito facilitado para ela aplicar seu golpe. De uma coisa eu tinha certeza: o Bruno sensível, cavalheiro, homem de bom coração, tinha acabado, morrido naquela noite. Prometi que nunca mais seria usado e enganado por ninguém. Foi com esta promessa que adormeci. Acordei com dona Luiza chorando em cima de mim e meu pai brigando com ela. Ela soluçava e dizia: — Meu filhinho, o que aconteceu com você, meu menino? Você quer matar sua mãe? Eu já disse para o seu pai, você vai voltar comigo. — Calma, Luiza. Já conversamos com o médico. Ele vai ficar bem. E vai voltar nada, vai terminar o curso primeiro. E para com este escândalo. Deixa o Bruno falar. — Papai, mamãe, calma. E, por favor, falem baixo, minha cabeça ainda dói e, além disto, estamos em um hospital. — Meu filho, como isto aconteceu? — Antes que eu pudesse responder meu pai disse: — Ora, Luiza, nosso filho foi dopado por uma vagabunda que roubou tudo que eles tinham. Se ele me escutasse e não levasse mulher desconhecida para casa, nada disto teria acontecido. — Augusto, não é hora de brigar com o menino. Você não vê que ele não está bem? — Claro que está bem. Olha aí, como você diz sempre, forte como um tourinho. Fiquei calado ouvindo os dois. Era sempre assim, mamãe achando criança e papai achando que eu era adulto. Fui salvo pelo médico que entrou no quarto e disse sobre o meu quadro aos meus pais. O que amenizou a raiva do meu velho foi ouvir que escapei por pouco, que cheguei ao

hospital com a pressão arterial tão baixa que eles ficaram a postos esperando por uma parada cardíaca. Foi aí que vi pela primeira vez meu pai ficar com os olhos marejados e mamãe, que já estava chorando, chorar ainda mais. Depois de me examinar, recebi alta. Meu pai me abraçou e falou baixinho no meu ouvido que ele me amava demais, para eu não dar mais sustos assim nele. Fomos todos para a casa no carro de Lucas, ele estava bem calado, acho que estava preocupado do meu pai descobrir a verdade sobre o clube. Quando cheguei ao apartamento, me deu uma sensação muito ruim, precisei segurar na porta e respirar fundo. Helena já tinha arrumado a bagunça, o único sinal do roubo era a falta da televisão, do equipamento de som, do microondas e das nossas roupas. Assim que estávamos instalados, papai saiu e comprou uma televisão, pois, segundo ele, era importante para ouvir as notícias. Quando ele chegou, deu a Lucas dinheiro para comprar roupas, meu amigo não queria aceitar de jeito nenhum, mas meu pai insistiu. Como não podia adiar mais minha conversa com meu pai, eu o chamei ao meu quarto e contei como tudo tinha acontecido. Claro, omiti algumas coisas. Ele ouviu o tempo todo em silêncio. Quando terminei, ele disse: — Meu filho, é complicado quando conhecemos uma mulher em um lugar destes. Não que eu esteja dizendo que todas são bandidas. Existem mulheres boas, que, infelizmente, estão nesta vida por sobrevivência. O que tenho para te dizer, filho, é que precisamos ser mais atentos aos sinais. Tenho certeza de que você mesmo já identificou todos eles. Você é inteligente demais, não preciso te falar. Pensei muito no avião vindo para cá, se deixava você continuar aqui ou não. Claro que sua mãe me infernizou para te levar embora, mas eu quero ouvir a sua opinião antes de dizer a minha. Não vou mentir, queria te dar uma surra, mas ouvir aquele médico dizendo que você quase não resistiu foi demais para mim. Filho, você é jovem, bonito e inteligente. Da próxima vez que se envolver com alguém, tenha mais cuidado. Meu pai me emocionou, mas antes que eu respondesse, ele sorriu, coçou a cabeça e continuou: — Meu Deus, vocês jovens pensam que são imortais e quase matam os pais do coração. Esta semana, precisei ir a uma delegacia ajudar a amiga da vizinha, pois sua filha de dezoito anos tinha se envolvido em uma corrida de carros. Eu a livrei da prisão, mas queria que você visse a cara dela, quando eu disse que teria que fazer serviço voluntário por seis meses como faxineira em uma academia, como pena alternativa. Bruno, meu filho, lembre-se de uma coisa sempre: vocês jovens não são imortais. Prometa se cuidar, filho. Eu precisei respirar muito fundo para falar alguma coisa com meu pai:

— Papai, o senhor tem razão, eu já identifiquei todos os sinais e adivinhe? Eles eram claros, eu que não quis ver. Estou envergonhado e peço desculpas pelo transtorno. Eu também pensei muito e cheguei à conclusão de que ir embora é perder uma grande oportunidade que poucos podem ter. Pode confiar em mim, eu vou ser mais esperto. Esta experiência me fez amadurecer alguns anos. — Este é meu filho, eu não esperava outra coisa de você. Parabéns, você tomou a melhor decisão. Quando eu e meu pai nos abraçamos, ouvimos um grito na sala e Lucas me chamando. Saímos correndo para ver o que era. Eu não estava preparado para o que vi na televisão. A raiva, a emoção, o susto me fizeram sentar sem ar no sofá. Na tela da televisão estava Mercedes e dois homens sendo presos em um apartamento no Bronx. Ela não era mexicana, não se chamava Mercedes e não era tampouco sofredora. Ela se chamava Tracy, tinha vinte e cinco anos, um dos homens era seu irmão e o outro seu namorado. Na reportagem dizia que em seu apartamento foram encontrados muitos eletrodomésticos, celulares, aparelhos de som, máquinas fotográficas, dinheiro, roupas e drogas. Eu estava com tanto nojo, que fui ao banheiro e vomitei muito. Mamãe correu para me socorrer e cuidou de mim com todo carinho. Eu estava me sentindo acuado, com vontade de extravasar minha raiva, mas ainda estava com dor de cabeça e o médico tinha me colocado de repouso por três dias. Tudo que fora roubado foi recuperado, os policiais compareceram em nosso apartamento para que eu assinasse a declaração de reconhecimento da bandida. Várias vítimas dos três os reconheceram e eles foram presos. Meu pai e Lucas compareceram à delegacia para os trâmites legais. Eu estava em casa quietinho sendo mimado por mamãe, mas ainda encontrei uma maldita surpresa presa em um livro de Direito que estava em meu quarto. Quando eu abri o livro para dar uma estudada, caiu um bilhete da bandida no chão. O papel dizia:

Meu lindo,

Se posso te dar um conselho seria: não seja tão bonzinho, não se abale tanto com lágrimas de lindas mulheres e, por fim, observe se o que você vê é o que realmente é. Você é muito gostoso, mas precisa aprender identificar uma submissa, bebê. Eu não tenho um só fio de cabelo submisso em mim, pelo contrário, adoro deixar homens lindos e fortes aos meus pés. Enfim, infelizmente, você era o alvo certo na hora e no lugar errado. Ah! Adorei ter enganado o babaca bonzinho, dono do poderoso

Lord’s. Como é fácil enganar vocês homens, basta chorar! Desculpa pelo remedinho que precisei te dar. E um último conselho: cuidado com vinho, ele pode te apagar! Obrigada pelas ótimas trepadas, você é bom de pegada!

De sua eterna Mercedes Delamares!

Eu li e reli umas dez vezes o maldito bilhete. Que ódio daquela mulher! Ela acabou comigo. Eu amassei o papel e joguei no lixo. Depois de muito socar o ar, a cama e a parede, eu fui à lixeira, peguei o papel de novo e resolvi guardar. Daquele dia em diante aquele seria meu lembrete quando eu pensasse em me envolver com alguém. Eu estaria somente curtindo a vida com tudo que ela pudesse me oferecer e minha regra, a partir daquela maldita experiência, seria nunca mais repetir uma transa: seria uma vez e nada mais. Meus pais ficaram uma semana conosco. Na partida, mamãe chorou sem parar e me fez prometer um milhão de vezes que iria me cuidar. Eu prometi a ela ter cuidado com todas as pessoas que aparecesse em minha vida. Eu e Lucas deixamos o aeroporto e fomos direto para a delegacia. Eu já tinha pedido a meu amigo, no dia da prisão deles, que conseguisse a permissão do delegado para me deixar falar com Mercedes, aliás, com Tracy, antes dela ser transferida para o presídio feminino de segurança máxima. Obriguei meu amigo a manter segredo dos meus pais. Lucas tinha conseguido o nosso encontro para aquele dia, ainda bem que deu tempo de deixar meus pais no aeroporto primeiro. Sei que parece maluquice, mas eu precisava daquilo para encerrar aquele episódio da minha vida. Fui levado a uma sala pequena, com uma mesa e duas cadeiras, uma de frente para a outra. Eu cheguei primeiro que ela e fiquei sentado esperando. Meu ódio era tão grande que chegava a tremer. O policial a trouxe algemada e com um macacão vermelho, assim que ela me viu abriu um sorriso, porém, desta vez, um sorriso sacana e debochado. Sentou à minha frente e disse: — Ora, ora, veja o que temos aqui. O lindo garanhão advogado Bruno dominador. Estou certa? A que devo a honra da sua visita? Eu a olhei com muito ódio e disse: — Eu só queria olhar nos seus olhos e dizer que tenho pena de você. Uma mulher bonita, que poderia ter um grande futuro e arruinou sua vida.

Ela deu uma gargalhada e respondeu: — Ah, Bruno, quem é você para ter pena de mim? Acorda, garoto! Você precisava ver sua cara quando chorei contando minha vida sofrida. Ah, lindo, eu que deveria ter pena de você, o filhinho mimadinho do advogado rico do Brasil, que precisa ir a um clube de prostituição de luxo para realizar seus desejos doentios de bater em uma mulher. Eu tenho nojo de cada homem que se atreve a bater em uma mulher e por isto eu tinha o prazer em deixar idiotas como você, louco, depois derrubá-los facilmente com uma taça de vinho e roubar tudo. Só deu errado desta vez porque um maldito vizinho seu viu o caminhão saindo e ligou para a polícia. — Tracy, é este seu nome, não é? Eu só quis vir aqui para olhar na sua cara e agradecer por ter me mostrado como é a vida. Como as pessoas são cruéis e, principalmente, como as mulheres podem ser perigosas. Como você mesmo disse, eu sou um advogado mimado e rico, pois é. Continuarei com a minha vida, vou ser muito feliz, vou ter muito dinheiro e tudo o que ele pode me dar. Já a senhorita vai apodrecer na cadeia, perder toda sua beleza, que é a única coisa que tem e não vai sobrar nada. Só uma mulher oca, sem amor, sem carinho, sem família e sem nada. Eu já te disse tudo que queria. Só queria olhá-la uma única vez e dizer que foi um desprazer te conhecer. Seja feliz em sua nova casa, Mercedes. Ela me olhou com ódio, mas antes que pudesse me responder, virei as costas e saí. De fora da sala ainda ouvi seus gritos me chamando de babaca, mimado e riquinho infeliz. Uma coisa eu precisava concordar com ela: fui mesmo um babaca, mas graças a ela nunca mais seria. Achava lindo o amor dos meus pais, dos meus tios, mas aprendi naquela experiência que se envolver com alguém era se tornar refém, preso, era perder a segurança. E isto me assustou muito. Dali em diante, eu seria um bicho solto, uma porra de um touro bravo, ninguém nunca mais ia me prender. Foi por isto que te disse que, se eu pudesse voltar atrás, nunca teria ido aquele clube naquele dia. Foi aí que mudei e me tornei quem sou: um frio e calculista dono de si.

Capítulo 4

Encerrando ciclos

Bruno Depois daquele dia que me marcou para sempre, eu passei um tempo remoendo o meu ódio, mal conversava com Lucas e ele respeitava meu espaço. Corria feito um louco, quase até a exaustão. Passei um mês nesta mesma rotina, estudo, corrida e mais estudo. Até um dia que um professor perguntou por que eu estava tão mudado, mal conversava e me envolvia nos debates da aula. Não sei o que me deu, mas contei tudo a ele, acho que estava precisando colocar a raiva para fora. Quando acabei meu relato, ele me disse o mesmo que todos diziam: que eu não fui o culpado, que muitos caíam nesta armadilha e que eu precisava continuar minha vida. Falei a ele que eu sentia um ódio que me corroía por dentro. Ele perguntou se eu já havia pensado em praticar um esporte para exorcizar minha raiva. Disse a ele que corria todos os dias, quando ele falou: — Bruno, eu quero sugerir que você faça uma arte marcial originária da Tailândia, boxe tailandês ou Muay Thai. Eu pratico e me faz muito bem. É uma luta que combina o uso de punhos, cotovelos, joelhos, canelas e pés. Além disto, melhora sua condição física e libera adrenalina. Se quiser, eu te levo lá hoje para conhecer. — Será, professor? O máximo de luta que já participei até hoje foram as intermináveis brigas no ensino médio. Eu era terrível.

— Não, Bruno, eu estou falando de arte marcial, com técnica. Não de briga. Eu acabei aceitando o convite do professor e realmente foi na luta que eu consegui passar por tudo aquilo. Eu entrei para a academia e lutava todos os dias, depois corria por quase duas horas. Foi a forma que encontrei para conseguir continuar com minha vida. Lucas conversava muito comigo, dizia que eu precisava esquecer aquilo e tocar minha vida em frente. Eu queria muito ir ao clube, mas meu amigo disse que só me levaria no dia que ele estivesse convicto de que eu não iria descontar minha raiva em uma submissa. Ele fez questão de me alertar que neste mundo não se deve descontar nada no outro, principalmente ódio, raiva e frustração. Claro, eu fiquei puto por ele não querer me levar, mas era exatamente assim que eu estava: insano. Entendi os motivos dele para me deixar de fora naquele momento. O tempo foi passando, eu já estava viciado em Muay Thai e vou te dizer, praticar aquela arte marcial fez muito bem para meu corpo, que ficou totalmente definido. Além de fazer muito bem à minha mente, aprendi a controlar minhas emoções. Eu continuava minha vida estudando, às vezes aparecia alguma mulher, mas eu só ficava com aquelas que aceitavam minha condição, uma vez e nada mais. Meu inglês já estava perfeito e eu contava os dias para voltar ao Brasil. Eu já estava cansado daquele país. Faltando dez dias para voltarmos, Lucas me disse que me levaria ao Lord’s. Fomos eu, ele e Helena. Seria naquele dia, eu estava pronto. Chegamos ao clube por volta das vinte e três horas, eu estava vestido todo de preto e com uma capa de capuz. Lucas sumiu com Helena, segundo ele iria apresentar o clube a ela. Naquele dia eu não queria conversa, sorrisos e nada do tipo, só queria foder o corpo e a cabeça de alguém. Entrei no clube, circulei entre as pessoas sem fazer contato visual direto com nenhuma mulher. Sentei no bar, pedi um uísque com gelo e observei o movimento. Lembro-me do momento em que eu vi uma morena linda, de cabelos longos, corpo perfeito, com um vestido curto preto colado no corpo. Deixei o copo no bar, levantei e fui direto a ela. Segurei seu braço, disse em seu ouvido que naquela noite ela seria minha. Ela sorriu e disse que seria totalmente minha. Saí a levando comigo em direção à masmorra que tinha reservado. Caminhei pelos corredores com passos precisos, sempre a levando junto ao meu corpo. Quando chegamos ao meu lugar reservado, entrei, tranquei a porta, a empurrei até a parede, amassando seu corpo junto ao meu, disse em seu ouvido: — Se você quiser uma palavra de segurança diga agora, porque depois só quero seus gemidos. Ofegante, ela me respondeu:

— Estou à sua disposição, sem palavras de segurança. Eu quero tudo que quiser me dar. Eu a devorei. Beijei sua boca até quase arrancar sangue. Eu não queria conversas, somente nossos corpos iriam conversar, entre toques, sensações, respirações e gemidos. Era só disto que eu precisava. Eu retirei sua roupa, deixei com o salto e a levei para a cruz, amarrei seus pulsos e tornozelos, levantei seu queixo, fiz com que ela olhasse para mim e disse: — Quero você olhando para mim. O tempo todo. Eu, somente eu, existo neste momento para você. Quero ver suas emoções, medo e desejo em seu olhar. Não feche seus olhos. Quero você conectada comigo, o tempo todo. Entendeu? — Sim, meu Senhor! Assim que ela respondeu, eu comecei a devorá-la. Eu a beijava, a mordia, a lambia e entre os intervalos, eu a olhava como uma fera pronta para o bote. Depois usei o chicote nela da forma que sabia que só traria mais sensibilidade à sua pele. Eu intercalava com beijos, alisava as partes vermelhas onde o chicote tinha batido e ia sempre alertando para que olhasse em meus olhos. Eu queria dominar aquela mulher para que ela não pensasse em mais nada, somente no prazer que eu podia proporcionar. Peguei um copo com uísque e gelo, andei como um predador perto dela, coloquei um gelo em minha boca e fui passando em seu corpo, que estava quente pelos golpes. Ela gemia e quando ameaçava fechar os olhos, eu levantava seu queixo e fazia com que ela segurasse o olhar. Por meio da visão, eu queria intensificar a experiência sensorial para ela. Estava me sentindo dono do mundo naquele momento, era uma sensação muito boa de controle, de ter uma pessoa inteiramente entregue a você e um desejo enorme de fazer com que ela aproveitasse muito tudo que podia oferecer. Aquela noite ficou marcada em minha vida como a noite da libertação. Eu precisava voltar ao clube onde eu fui enganado e quase assassinado para fechar um ciclo da minha história. A noite foi louca, eu literalmente fritei os neurônios da mulher, eu a fiz gozar em todas as posições possíveis. Quando terminamos, ela me perguntou se me veria de novo e a minha resposta foi: — Linda, comigo é uma noite e nenhuma mais. Adeus! Foi assim que encerrei minha jornada em Nova Iorque. Lucas voltou para São Paulo junto com sua Helena, isto mesmo. O dominador se rendeu a advogada gostosa, estavam juntos sem se separar há quase um ano e meio. Ela também morava na capital paulista e, pelo jeito, aquilo terminaria em casamento. Ele dizia que ela era a submissa de sua cama e a dominadora do seu

coração. Quem diria que o perigoso Dom Sombrio seria laçado tão rapidamente em terras americanas. Se você me perguntar se o saldo daquela experiência foi positivo, eu te respondo que sim. Eu amadureci uns dez anos. Eu adquiri um corpo de dar inveja, estava falando inglês fluentemente e com um mestrado em uma famosa universidade americana. Outra conquista foi a luta, eu agora era um assíduo lutador de Muay Thai. Estava pronto para enfrentar a vida e para correr atrás do meu sonho de ser promotor. Esta seria uma batalha a ser vencida porque tinha certeza de que precisaria enfrentar meu pai. Ele já havia programado todo meu futuro. Eu seria o sucessor em seu grande escritório de advocacia. Ele só se esqueceu de uma coisa: ele não perguntou se eu queria aquela vida para mim. E não, eu não queria mais. Então, sim. Tudo valeu a pena. E que venha o Brasil, mais precisamente minha linda Minas Gerais. O touro bravo está voltando, me aguardem!

Capítulo 5

Em algum lugar de Belo Horizonte

Marcela Acordei assustada com os gritos na sala. O que estava acontecendo? Levantei espantada. Minha melhor amiga estava em meus braços. Estou falando de minha boneca de pano Lili que me escuta sempre, me aquece e me ajuda a dormir à noite quando o medo aparece. Eu fui até a porta do meu quarto, abri só um pouquinho, foi quando vi papai gritando com a mamãe. Eu o ouvia dizer: — Você não entende, Laura? Eu estou desempregado. DE-SEM-PRE-GA-DO. Entendeu? Eu não sei fazer mais nada além de montar carros. — Marcelo, como nós vamos viver? Nós temos uma criança de onze anos. Você precisa parar de beber. Eu faço tudo que posso, mas não consigo manter uma família com bolos e doces para festa. Eu preciso daquele homem guerreiro que não tinha medo de nada. Preciso do homem com quem me casei. — Acorda, mulher? Aquele homem morreu quando foi demitido injustamente. — Ah, PARA COM ISTO! Pelo amor de Deus, foram mais de cem demissões. Não foi só você. — Quer saber? Você me cansa com esta falação na minha cabeça. E você? Cadê a mulher linda com quem me casei? Virou esta gorda horrorosa, descuidada, não vejo também aquela linda jovem cheia de energia que me apaixonei. Vai usar a desculpa da gravidez? Marcela já tem onze anos.

Nesta hora eu fiquei muito triste. Mamãe era linda. E papai a chamou de feia? E falou que era por causa de mim? Não entendi o que eu fiz. Mamãe começou a chorar e falou: — Você é muito cruel. Eu te odeio. Eu não descanso, mal durmo e vivo na cozinha no meio de encomendas para colocar comida à mesa, pois você esqueceu que tem família. — CALE A BOCA. AGORA. Quer saber, vou para a rua, lá eu tenho paz. Eu fiquei apavorada de ver papai empurrando mamãe. Eu corri para ela, dei um empurrão nele. Ele levantou a mão para me bater, mas mamãe gritou que se ele encostasse a mão em mim chamaria a polícia. Ele saiu, bateu a porta e minha mãezinha ficou chorando abraçada comigo. Depois de muitas lágrimas, ela sentou, colocou-me em seu colo no sofá e disse: — Meu bebê, não fique assustada. O papai está cansado e um pouco doente. Gente grande briga assim mesmo, você não é culpada. — Mamãe, papai falou que você é feia. É mentira, mamãe. Você é linda! — Oh, minha flor. Você é um presente na vida da mamãe. Não pense mais nisto, linda. Vamos lá no seu quarto que mamãe vai cantar aquela música que você gosta para dormir, como é a música mesmo? — Oba! É assim, mamãe:

Encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora E conta logo a tua mágoa toda para mim

Quem chora no meu ombro, eu juro que não vai embora, Que não vai embora Que não vai embora...

— Hum! Verdade, pequena, é esta mesmo. Mamãe vai cantar até você dormir.

Acordei assustada e suada. Era sempre o mesmo sonho. E pior que não era ilusão da minha

cabeça, eu sempre sonhava com esta lembrança, o dia que descobri que meu mundo não era corde-rosa como eu achava. Sou filha de pais separados. Minha infância, como de tantas crianças, foi marcada por brigas, gritos, lágrimas de mamãe e saídas noturnas do meu pai. Eu era nova demais quando tudo começou, tinha só onze anos, não entendia muito bem, mas lembrava de que papai começou a beber muito depois que foi demitido. Mamãe me dizia que ele estava doente, pois não soube como enfrentar a demissão em massa que aconteceu na montadora de carros em que trabalhava. Depois desta fatalidade, meu herói vivia pelos cantos da casa reclamando; naquela época estávamos vivendo uma recessão no mercado de carros e minha casa não era a única a ter um desempregado. Eu não entendia o que estava acontecendo com meu pai, ele era meu melhor amigo e brincava comigo, de repente tinha se transformado em alguém triste e desanimado. Nesta época, mamãe trabalhava como louca entre os afazeres de casa, minha educação e fazendo doces e bolos para festa. A maior lembrança que eu tenho era este sonho recorrente. Lembro também de minha mãe chorando dizendo ao meu pai que o amava, que ele tivesse calma que tudo daria certo. Aquele homem que estava se transformando em um monstro para mim, gritava com ela e dizia que não tinha casado com uma mulher gorda e acabada pela gravidez. Aquela fala nunca saía da minha cabeça, eu tinha a sensação de que eu era a culpada, pois a criança da referida gravidez era eu. Em vez de enfrentar a crise e ir à luta, papai se entregou ao vício da bebida. Daí em diante tudo virou um caos na minha vida. Quando ele bebia, ficava agressivo e mamãe tinha medo de que me batesse, então ela me mantinha presa no quarto enquanto papai não deitasse. Lembro-me de que me escondia dentro do guarda-roupa com minha boneca Lili e chorava. Bom, esta loucura durou por uns quatro anos, até a minha adolescência. Até o dia em que mamãe ameaçou denunciar meu pai se ele não fosse embora e não desse a ela o divórcio. Depois de algumas ameaças, meu velho acabou aceitando ir embora, mas antes me prometeu entre lágrimas, que iria se tratar, daria a volta por cima e um dia me recompensaria por todo o sofrimento. Naquele dia, chorei até dormir. Por um lado, eu estava aliviada de ficar livre de tantas brigas, mas vivia um sentimento antagônico de não conseguir viver sem papai. Assim que ele foi embora, eu me fechei mais ainda. Mamãe era meu orgulho, batalhava de sol a sol, não descansava nunca. Porém, eu estava em um período complicado da minha vida, estava na adolescência e para exorcizar minha raiva, eu aprontava. E aprontava muito, não pense que era coisinha boba de adolescente. Eu bebia escondido, matava aulas, entrava em brigas na escola,

cheguei a quase ser expulsa quando quase causei o início de um incêndio no laboratório de química, enfim, dava muito trabalho a mamãe. Ela sempre conversava comigo, cheia de amor e eu me arrependia de ter aprontado, mas bastava passar o susto e lá estava eu arrumando confusão de novo. O auge da irresponsabilidade aconteceu em uma noite que participei de uma corrida de carro com os meninos, nesta época Valentina, minha amiga, tinha perdido seu pai em um acidente e não estava em condições de viver me livrando de encrencas. O problema era que eu já tinha dezoito anos, então acabei em uma delegacia. A minha sorte foi que a mãe da minha amiga era vizinha de um advogado famoso chamado Augusto Fernandes, que me livrou da prisão e de ser fichada. Não pense que foi tão fácil assim. Naquela época, o doutor Augusto acertou com o delegado que eu ia fazer serviço comunitário como pena alternativa por seis meses: eu teria que fazer a limpeza de uma academia de dança que atendia crianças carentes. Eu me lembro de que fiquei morrendo de raiva daquele homem arrogante. Quem ele pensava que era? Eu fazer faxina? Eu não ia aceitar, mas o delegado disse que era aquilo ou a cela, então não tinha opção, fui obrigada a aceitar. Foi aí que a dança entrou em meu mundo. Eu limpava toda a academia e ficava assistindo o ensaio das meninas, até um dia que a professora me convidou para dançar. Eu me apaixonei pela dança contemporânea e entrei de cabeça naquela atividade. Resolvi naquele dia que iria colocar toda minha raiva para fora nos ensaios e foi assim que a dança nasceu em minha vida. Hoje estou com vinte anos, sou universitária e amo dançar. Sou bailarina de dança contemporânea da academia que há dois anos conheci com muita raiva em função da tal pena alternativa. Ajudo a professora com as aulas de dança para crianças. Não precisa pensar que sou uma santa. Tudo bem, eu não sou mais tão irresponsável, porém adoro uma festa e tenho um fraco. Eu não consigo ser desafiada. Basta alguém dizer: “Duvido que você tenha coragem” e lá vou eu provar que sou corajosa. Foi em uma desta que perdi minha virgindade. Isto mesmo, acredite se quiser, deixei de ser virgem em uma aposta. Estávamos na universidade, para ser mais precisa, no restaurante do Centro de Engenharia, meu lugar favorito, quando Alice, uma amiga maluca como eu, contou que tinha uma menina fazendo o maior sucesso na internet por ter dançado em cima de uma mesa em uma lanchonete. Eu comecei a rir e disse que o povo era muito besta. Falei com ela que se quisesse ficar famosinha, bastava dançar de lingerie ali, da mesma forma. Ela disse que era fichinha. Então eu fiz a maior besteira, duvidei. Foi aí que ela disse:

— Marcela, eu sou corajosa e posso dançar de lingerie em qualquer lugar. — Ah, Alice! Duvido que você tenha coragem. — Claro que eu tenho, amiga. Eu não sou como você que fica aí dando uma de corajosa e ainda é virgem com dezenove anos. — Nada a ver, Alice. Eu sou muito corajosa sim. — Então prova. — Claro que provo. Quer que eu faça o que, sua babaca? — Vamos fazer assim, eu danço de lingerie no meio do restaurante do Centro de Engenharia e você vai dar para o primeiro cara que aparecer. Eu te desafio, corajosa. Pelo amor de Deus! Eu tinha me ferrado, mas de jeito nenhum que eu ia perder o desafio. Eu era corajosa e não ia amarelar. Estufei o peito, olhei para ela e disse: — Estou dentro. Você começa e o primeiro que aparecer vai ser ele. A maluca pediu que eu colocasse uma música dançante no celular. Eu escolhi um som que amávamos dos anos oitenta, Dancing Queen, do Abba. Alice retirou seu vestido, ela estava com uma calcinha amarela e um top amarelo, fechou os olhos e deu seu show em cima da mesa. Eu filmava tudo com o celular, os meninos que estavam no restaurante foram à loucura. Ela sensualizava, olhou para mim e cantamos juntas:

You can dance You can jive Having the time of your life (Você pode dançar, você pode se esbaldar Aproveitar o melhor momento de sua vida)

Adorávamos esta música, sempre a ouvíamos no último volume e dançávamos como loucas. Eu e Alice estávamos na maior diversão, quando a porta do restaurante abriu. Eu perdi a respiração quando o Eduardo, o cara mais gostoso da engenharia civil, adentrou o restaurante. Alice caiu na

gargalhada e piscou para mim. Era ele. Ali mesmo precisava começar a traçar um plano para perder minha virgindade. Eu estava em transe admirando o gostoso do Edu, quando o coordenador da engenharia entrou e acabou com a festa. Foi horrível, ele mandou minha amiga descer e se vestir, a galera vaiou o professor e ele nos levou para sua sala. Tomamos uma suspensão de uma semana e quase fomos expulsas da universidade. Ainda faltava perder a virgindade. Alice descobriu que no final de semana iria acontecer uma festa na engenharia, era as famosas festas chamadas Abre Bodes, quando acontecia a abertura oficial do período. Minha amiga disse que naquela festa ia me jogar na mão de Eduardo e eu que fizesse o resto. Eu passei o restante da semana fugindo de Valentina, pois se ela soubesse o que eu estava aprontando com a maluca da Alice ia me matar. Ela era minha censura, meu verdadeiro superego. Eu costumava brincar que eu era puro Id. Tínhamos aprendido isto na matéria de Psicologia e fizemos esta associação. A noite da festa estava linda, céu estrelado e um clima delicioso. Eu coloquei meu vestido pronto para matar, um tubinho preto, de decotão nas costas e curto, muito curto. Alice também estava linda de minissaia e blusinha de alcinha. Não vamos ser modestas, nós estávamos lindas. Ela era uma mulata linda, de cabelão; e eu loira, de olhos verdes. Fazíamos um estrago com os meninos na noite. Preciso te dizer que a Alice era simpática, amiga de todos os homens e totalmente sem filtro. Assim que viu o Eduardo chegando, ela saiu me arrastando até ele e disse: — Bonitão, algo me diz que você gosta de loiras e minha amiga gostou de você. Eu fiquei roxa de vergonha, mas o Eduardo abriu um sorrisão, foi logo se apresentando, me abraçando e dando três beijinhos quase na boca. Colocou a mão no meu ombro e saiu me puxando para dançar com ele. Juro que fui meio que no susto, não esperava que fosse tão rápido. Eduardo era o mais bonito, o mais musculoso, o mais popular e o mais babaca de todos. Ele se achava, porém eu estava deslumbrada com a beleza e não via mais nada além disto. Foi aí o meu erro. Conversamos muito pouco, aliás, quase nada, e ele já foi me agarrando. O homem beijava divinamente bem, dizia algumas coisas românticas em meu ouvido e deu o golpe final quando disse: — Linda, eu já tinha te visto, inclusive busquei algumas informações a seu respeito. Você acertou diretamente meu coração, estou apaixonado. Preciso te falar mais alguma coisa? Tenho certeza de que não. Eu fiquei deslumbrada e com os quatro pneus arriados. Bastou esta declaração barata para eu ir com ele para o carro. Ele tinha

uma caminhonete de cabine dupla preta, linda. Entramos, ele colocou uma música romântica de Adele, mexeu em meus cabelos e me beijou demoradamente. Eu estava tão nervosa, que mal o percebi baixando o banco do carro. Quando dei por mim, ele já estava deitado sobre mim com as mãos em todos os lugares do meu corpo. Quase voltei atrás, mas não deu. Eu já estava louca de tesão e ele era muito bom com as mãos. Eu o sentia duro como uma rocha, a respiração dele estava tão acelerada como a minha. Eduardo prendeu meus braços com uma mão e com a outra foi explorando minha calcinha. Não vou mentir, eu ainda tentei pará-lo contando que era virgem, mas ele ficou mais louco ainda. Disse em meu ouvido que era o cara mais feliz do mundo e que eu não ia me arrepender que ele ia ser bonzinho. Ele continuou me engolindo, sem me dar tempo direito de sentir ou pensar alguma coisa. Ele me soltou, rasgou uma camisinha que colocou em tempo recorde e, antes mesmo de me preparar, ele já estava dentro de mim. Uau, eu senti uma dor de rasgar. Ele entrava e saía de mim como um louco, sem se preocupar se eu gostava ou não. Eu sentia dor, raiva e medo. Na mesma rapidez que tudo aconteceu, acabou. Ele saiu de mim sem nenhum cuidado, retirou a camisinha e jogou para fora do carro. Deitou em seu banco, acendeu um cigarro e ficou ali fumando. Eu não sabia que ele fumava, eu odiava cigarro e ainda fui obrigada a ficar lá. Resumindo: minha primeira vez foi HORRÍVEL, mas, acredite, fui tão idiota, que depois de vestir a minha roupa e ele a dele, voltamos para a festa. Ele foi todo carinhoso e apaixonado, que eu esqueci muito rápido que não tinha gostado. Ficamos juntos no restante da noite, até ele me deixar em casa. E depois? Bom, depois ele sumiu. Vivia fugindo de mim e nunca atendia meus telefonemas, até a idiota aqui cansar. Foi assim que perdi minha virgindade. Uma perfeita tragédia. O restante do semestre foi um desastre. Minha amiga Valentina ficou tão brava comigo e com a Alice, que chegou a ficar uma semana sem falar comigo. Eu quase enlouqueci sem ela. E para Alice foi final de aventura, pois ela morava sozinha em Belo Horizonte e depois da nossa festinha no restaurante, seu pai descobriu tudo e, assim que terminou aquele período, a levou embora para sua cidade. Ela iria terminar seu curso em uma universidade particular de Poços de Caldas. Minha amiga desesperou, chorou, mas seu pai não negociou. Aquele foi um semestre para esquecer em minha vida. Atualmente, estou dividida entre a universidade, a dança e em ajudar mamãe em sua loja especializada em doces e bolos para festa. Graças a Deus e a sua garra estamos crescendo no mundo do comércio e dos cursos de culinária. Ensinamos muitas pessoas a crescer por meio da

magia dos doces. Dona Laura era linda, parecíamos irmãs, mas ela nunca se esqueceu de papai, seu grande amor, não se envolveu com ninguém. Dizia para mim que sua vida se resumia a cuidar de mim e da sua loja Feitiço do Sabor. Não posso deixar de te contar que sou meio complicada nos relacionamentos. Não acredito no amor, como diz minha amiga, tenho dedo podre para homens. O maior problema de tudo isto é que quero ser livre, mas vivo me enrolando, acho que tenho o coração grande demais e, apesar do medo de me envolver, acabo me complicando sempre. Não pense que isto me impede de abraçar e beijar todos os lindos que quero e se rolar mais que isto, nada que um preservativo não resolva. Oras, sou uma mulher moderna e como te contei, deixei de ser virgem em uma aposta. Como diz mamãe: “Coisas de Marcela”. Esta é minha vida louca. Com vinte anos, sou uma eterna sobrevivente buscando vencer meus fantasmas e meus medos. Acho que você vai dar algumas risadas com minhas maluquices, mas posso te garantir uma coisa: apesar de meus erros e tropeços, sou totalmente do bem.

Capítulo 6

Minas Gerais, aqui estou eu!

Bruno Posso dizer que há dois anos eu era um menino saindo de casa, inseguro por deixar seus pais, seus amigos e sua cidade. Hoje, eu volto um homem, seguro de si, cidadão do mundo, destemido e pronto para enfrentar qualquer desafio. Não existe mais nada do antigo Bruno em meu coração, a não ser o amor por minha profissão: a sede de justiça e a intolerância com qualquer situação que viole direitos de crianças e adolescentes. Eu me transformei em uma máquina inabalável para lágrimas de mulher. Elas não me comovem mais. Não avisei meus pais sobre minha volta. Eu queria surpreendê-los, fazer uma surpresa. Eu ainda não conhecia minha casa nova. Papai conseguiu depois de quase vinte e cinco anos de trabalho comprar a tão sonhada cobertura. Mamãe tinha me contado no telefone, feliz como uma criança, que era um tríplex. O primeiro andar tinha uma sala de visita, uma sala de jantar, uma cozinha muito bem equipada, um escritório para o papai, uma sala de televisão e jogos. Disse que no segundo andar, havia seis quartos, todos com banheiro e dois tinha banheira. Adorei, um seria o meu. Agora, o terceiro andar era o maior sonho de papai, uma área de churrasco, um salão de festa, uma piscina, uma academia e uma varanda com uma vista maravilhosa da Lagoa da Pampulha. Eu fiquei muito feliz, eles mereciam. Cheguei ao início da noite no endereço que mamãe me passou pelo telefone. O condomínio era muito bonito, com poucos moradores. Eu tinha muitas malas, não dava para subir com todas de

uma vez. O porteiro se ofereceu para ajudar e subiu com a bagagem por um elevador. Eu fui pelo outro com duas malas, pois não cabíamos nós dois no mesmo elevador. Subi junto com uma menina linda, parecia ter uns vinte e um anos. Proibida para mim, pois parecia santinha demais e ainda vizinha. Falei um boa-noite, que ela respondeu educadamente. Percebi que ela parou no sexto andar, a cobertura era acima do apartamento dela. Pelo menos, a vizinhança já era agradável. Assim que a porta do elevador se abriu, um furacão quase me derrubou. Dona Luiza já estava esperando a porta abrir e se jogou em meus braços chorando feito um bebê. Papai estava atrás dela e deu um sorriso maravilhoso quando me viu. Confesso que fiquei emocionado em ver meus pais, em estar em minha casa. Como senti falta deles. Doutor Augusto me mostrou cada canto de sua nova aquisição. Realmente de muito bom gosto. Como era bonito ver uma pessoa realizar seu sonho somente com o fruto do seu trabalho, sem passar por cima de ninguém, sem precisar se corromper. Meu pai era o cara, meu ídolo. Retornei ao lar em uma sexta-feira, como eu ainda estava um pouco atordoado em função da viagem e precisava descansar um pouco, combinei com papai que no início da semana estaria no escritório. Doutor Augusto parecia uma criança quando queria me mostrar algo. Ele estava louco para que eu visse minha nova sala, então no domingo fui com ele ao edifício onde ficava o grande Escritório Fernandes & Associados que ocupava um andar inteiro do prédio. Meu pai tinha muito bom gosto, a decoração era luxuosa e austera. Esta era uma das maiores características dele, que era rigoroso consigo e com tudo que fazia, disciplina era o seu nome. Eu não posso te dizer que não herdei nada dele, eu sou bastante rigoroso com minhas defesas, com meus processos, porém tenho um pequeno problema de disciplina, ou digamos sou um pouco genioso demais. Minha sala realmente era linda, papai não economizou. Como ele dizia sempre, desde que eu era criança, a sala do herdeiro seria a mais linda e ele caprichou. Os móveis demonstravam seriedade, poder, o preto e o branco contrastavam com a parede de vidro que tinha uma vista gloriosa. Era possível ver toda a Avenida Afonso Penna. Em uma estante havia todos os principais livros de Direito, porta-retratos com uma foto da nossa família e algumas esculturas em pedra sabão de alguns artistas renomados de Ouro Preto. Eu gostei muito de tudo e estava louco para começar a atuar. O Direito estava em meu sangue desde criança, eu adorava ouvir papai contando sobre seus processos, sobre os grandes júris e toda a loucura que envolvia grandes julgamentos. Depois de conhecer minha sala, saímos e paramos em uma cafeteria que era nossa predileta,

para conversarmos um pouco sobre os casos que seriam acompanhados por mim. O dia estava típico de uma tarde mineira, com ventos denunciando que chuvas fortes apareceriam no final do dia. No café, papai me falou de um caso complicado que ele aceitou por ser de um amigo, segundo ele a mulher era herdeira de uma das famílias mais tradicionais e ricas de Minas Gerais. O casamento com um pobre homem acabou e ele queria uma grande quantia de pensão, além de disputar a guarda do filho. Papai contou que o marido acusava a mulher de adultério e ela o acusava de maus-tratos à criança de apenas dois anos e seis meses. Este seria meu primeiro caso, fiquei empolgado, pois queria ser promotor da vara da infância. Meu pai ainda não sonhava com este meu desejo e ficaria assim por um tempo. Algo me dizia que ele não ficaria feliz de seu único filho não seguir seus passos. Ainda me alertou que eu teria que enfrentar uma defensora pública, casca dura. Segundo ele, a doutora Aline era linda, com uma cara de anjo, mas controladora e durona como uma rocha. Ouvir dizer que ela tinha uma cara de anjo, me trouxe péssimas lembranças. A última mulher que conheci com cara de anjo era uma maldita criminosa, porém saber que ela gostava de controle aguçou meu lado dominador, será que ela era controladora na cama também? Eu ia tentar descobrir, ah ia. Minha primeira semana de trabalho foi bastante movimentada. Meu pai fez uma reunião para me apresentar oficialmente aos advogados e a alguns associados. Nossa firma tinha quase cinquenta pessoas entre estagiários, advogados, contadores, administrativos e auxiliares. Eu já era conhecido de quase todos, pois durante a faculdade eu fiz estágio com alguns advogados que trabalhavam com meu pai. A maioria das pessoas estava com idades entre trinta e quarenta anos. Os mais jovens eram os estagiários. Tinha umas mulheres lindas, mas eu tinha uma regra inegociável de não me envolver com ninguém no escritório. Eu iria participar de minha primeira reunião com um juiz. A defensora e eu fomos convocados antes de começarmos as audiências com a herdeira, minha cliente por sinal. Coloquei meu melhor terno e fui para a tal reunião. Cheguei alguns minutos antes do horário com intenção de chegar primeiro, mas não consegui. A famosa defensora pública, doutora Aline, já estava lá. Eu não estava preparado para a mulher, linda, quase da minha altura, com um cabelão preto, olhão azul, realmente com cara de anjo, mas com um ar de deboche horrível. Ela me mediu dos pés à cabeça e disse: — Então, você é o jovem advogado recém-formado e que estava no exterior gastando o dinheiro do papai? — Não gostei dela de cara. Bela e perigosa, mas eu podia jogar este jogo.

— Eu mesmo, nobre colega, mas, pelo que posso perceber, não sou somente eu o jovem aqui. E será um grande prazer ganhar a primeira causa de uma linda defensora. — Meu “colega”, você só se esqueceu de que enquanto você passeava em Nova Iorque eu já estava trabalhando há muito tempo. Não são todos que têm o dinheiro que você tem, querido. — Realmente. Você só errou em uma coisa, bonita, eu não estava passeando, eu estava estudando exatamente para ganhar de pessoas como você em um tribunal. Nesta hora, a mulher ficou vermelha, chegou a tremer o nariz, mas quando pensou em responder fomos chamados pela secretária do juiz. Entramos na sala comigo dando passagem a ela. Eu disse: — As damas primeiro. Ela passou por mim como um furacão, quase me derrubou. O juiz era um senhor de uns sessenta anos e com cara de poucos amigos. Ele fez um sinal para que sentássemos à sua frente, nos saudou e disse: — O motivo de chamar os senhores para esta reunião foi para conversarmos a respeito da audiência que envolve a filha do Senhor Agnelli. Como sabem, a mídia já está como abelha no açucareiro querendo informações e escândalos. Eu espero que vocês não tornem minha audiência um circo. Vejo que são jovens e já se conheceram, não é? — Meritíssimo, o senhor já me conhece de outras audiências. Quanto a mim, posso garantir total discrição. Já quanto ao inexperiente advogado da Senhora Agnelli, não sei dizer. — Senhora Defensora, não é de bom tom falar pelos outros, não acha? Aline ficou vermelha como um tomate. Eu gostei. A mulher era mesmo uma onça. Ia ser muito divertido vê-la em ação no tribunal. Eu olhei para ela muito sério e disse ao juiz: — Meritíssimo Doutor Vilaça, eu tenho total consciência do que este julgamento significa. Minha cliente e tampouco eu queremos que este processo se transforme em uma arena para a mídia. Quanto a minha inexperiência, eu garanto ao senhor que quase nasci dentro de um salão do júri e jamais faria do seu tribunal um circo. — Eu tenho certeza disto, Doutor Bruno Fernandes. Até por que seu pai é um dos melhores advogados do Brasil e um velho amigo meu. Ele não deixaria que seu filho entrasse para o meu tribunal se não estivesse à minha altura. Bom, doutora Aline e doutor Bruno, este era o assunto

desta reunião. Estão avisados, não me decepcionem. Estão dispensados. Saímos da sala em silêncio. Quando chegamos ao elevador, eu estendi a mão para ela e disse: — Doutora Aline foi um prazer te conhecer. Ela ficou me olhando, decidindo se me daria à mão ou não. Até que desistiu da guerra de olhares e apertou minha mão. Entramos no elevador em silêncio total, fomos assim até o primeiro andar. Na saída do prédio, ela acenou a cabeça para mim e sumiu. Que mulher brava, viu? Eu tinha uma reunião naquele dia com a famosa herdeira, eu ainda não a conhecia. Depois da estranha reunião com o juiz, eu fui almoçar em casa com mamãe. Meu pai tinha viajado para São Paulo e dona Luiza odiava almoçar sozinha. Contei para minha mãe sobre a reunião com a defensora pública preconceituosa que não gostou de mim só por eu ser filho de rico. Mal sabia ela o quanto meu pai trabalhou para conquistar todo seu patrimônio. Minha mãe ouviu toda história, segurou minha mão e disse: — Meu filho, você precisa sempre mostrar às pessoas que não se esconde atrás do nome do seu pai. Trilhe o seu caminho, da sua maneira. Não deixe seu pai te dar a receita pronta, ele vai tentar. Este é o jeito dele, mas não é por não acreditar em sua capacidade, é por te amar demais. Eu estou te falando isto porque sempre tive muito medo de quando você viesse para trabalhar com seu pai. Vocês dois são muito parecidos e isto pode gerar conflitos. Promete para sua mãe sempre ter calma e sabedoria para agir com seu pai. — Minha mãe tinha tanto amor e, ao mesmo tempo, angústia no olhar, que eu precisava acalmá-la. — Mamãe, eu prometo. Fique tranquila, eu conheço o meu pai. Nós não iremos brigar porque ele sempre foi meu exemplo de profissional. Tudo vai dar certo. — Ah, filho, como eu queria acreditar nisto e me acalmar. Porém, eu conheço seu pai e conheço você, meu tourinho bravo. Por isto, eu quero que saiba que sempre estarei aqui para você. Só gritar: Mamãe! Abracei minha mãe e dei um beijo em sua testa. Eu não entendia por que esta preocupação dela, mas tinha medo. Dona Luiza tinha um sexto sentido próprio das mães, mas parecia que o dela era mais aguçado. Eu nunca tinha visto igual. Voltei para o trabalho com as suas palavras em minha mente. Eu teria a primeira reunião com a famosa herdeira do império Agnelli. Eles eram donos de uma grande rede hoteleira, inclusive com filiais em outros países. Eu estava em minha sala estudando os autos do processo, quando minha secretária avisou que minha cliente havia chegado.

Eu pedi que ela entrasse. Eu fui até a porta recebê-la e assim que a porta se abriu, entrou em minha sala uma mulher com um corpo escultural, do tipo das rainhas de escolas de samba do Rio de Janeiro e com um enorme letreiro na testa piscando: Atenção! Perigo! Ela estava muito bem-vestida, cheia de joias, com uma sandália daquelas de deixar qualquer homem aos seus pés. Eu percebi que ela também gostou do que viu. Segurou minha mão por um tempo além do necessário. Perguntei se ela queria água, café ou um suco e a sua resposta foi champanhe. Pedi a minha secretária que trouxesse a ela um copo com água e disse que não bebíamos champanhe no horário de trabalho. Ela sorriu sedutoramente e me disse que poderia beber, pois não estava trabalhando. Eu a olhei muito sério, para que ela percebesse que não era brincadeira, e disse que eu estava. Eu podia até estar enganado, mas aquela mulher não me inspirou confiança. Ela contou com lágrimas, que pareciam falsas, que conheceu o marido em um dos hotéis da família. Disse que ele era host no restaurante do hotel e que hoje, após a separação, ele trabalhava em um restaurante de luxo da Savassi. Falou que namoraram por dois anos até se casarem. Contou que, após o casamento, ela queria que ele gerenciasse um dos hotéis de seu pai, que não ficava bem ele ser um simples host, porém, ele não aceitou por ainda estar cursando administração com ênfase em hotelaria. Nesta hora ela começou a chorar, fazendo caras e bocas. Eu ofereci um lenço de papel e fiquei sentado calmamente esperando-a se acalmar, se é que estava mesmo nervosa. Parecia tudo muito ensaiado. Assim que se acalmou, olhou para mim e contou que engravidou com a esperança de que o marido aceitasse ser gerente do hotel. Entretanto, ele continuou batendo o pé que queria terminar os estudos. Disse que assim que o bebê nasceu, só pensava no filho, sempre a deixando sozinha. Enfatizou várias vezes que o marido só pensava em trabalhar e eu ainda estava tentando entender onde estava o problema em trabalhar. Ela então olhou para mim e disse baixinho: — Olha, doutor Bruno, vou ser muito honesta, eu não queria trair meu marido, mas ele não me dava atenção, eu sou uma mulher jovem, bonita, tenho minhas necessidades e, por isto, acabei caindo em tentação e tendo um caso com meu personal. Meu marido nos encontrou no ato, foi horrível, sabe. Ele me xingou muito e disse que iria me desmascarar diante da imprensa. Agora quer uma pensão milionária e a guarda do nosso filho. — Senhora Ane Agnelli, o que eu preciso saber neste momento é como é realmente a relação da senhora com seu filho e como é a do pai. A defesa dele vai tentar encontrar provas que a

desabone como mãe. Então vou te perguntar: tem algo que possa comprometer a senhora como mãe? Ela olhou para mim ressentida, mas tudo era muito teatral. Começou a chorar e disse que estava muito nervosa. Que não conseguia imaginar perder seu bebê, que era sua vida. Segundo ela, Arthurzinho era uma criança muito amada, tinha quatro anos e adorava brincar. Eu olhei para ela e perguntei: — Qual é a brincadeira que seu filho mais gosta? — Percebi que ela assustou, chorou mais um pouco e fiquei em silêncio aguardando. Algo me dizia que ela mal sabia a comida preferida do filho. Ela fungou e respondeu: — Doutor Bruno, ele é um menininho. De que o senhor acha que ele gosta de brincar? — Não sei. Estou esperando a senhora me dizer. Ela ficou me olhando com ar sedutor, enquanto eu a olhava friamente, até me dizer: — Ele gosta muito de brincar com a babá. Você sabe, criança pequena, cheio de energia e adora correr. Enquanto aquela mulher falava sem parar, eu estava com vontade de matar meu pai por aceitar um caso destes. Estava claro que ali havia uma mulher fútil, que nunca trabalhou e condenou o marido porque queria estudar e crescer na vida por seus méritos. A única coisa que anotei durante seu discurso pouco convincente foi o local onde seu ex-marido trabalhava. Eu iria almoçar lá, ainda naquela semana, para observá-lo de longe. Assim que ela foi embora, eu fui à sala do Rubens para conversarmos um pouco. Ele era um dos advogados mais antigos da empresa e precisava da opinião dele. Se o que estivesse imaginando se comprovasse, eu estava perdido com a defensora pública. Minha cliente iria ser devorada, eu precisava pensar rápido. Vou ser sincero, eu não aceitaria nunca um caso destes, mas, como papai se comprometeu com o amigo, sobrou para mim.

***

Naquela noite eu precisava sair, estava precisando distrair um pouco e, quem sabe, alguma

coisa mais. Disse à mamãe que não tinha hora para voltar, ela me deu tantas recomendações, acho que ainda não entendeu que eu cresci. Resolvi ir a um pub que gostava muito, era aconchegante, eu era amigo do barman, que sempre me dava as dicas de ótimas gostosas para terminar a noite. Coloquei uma calça jeans, uma camisa branca leve, pois a noite estava quente e saí em busca de emoções. Para um dia de semana, o lugar estava bem frequentado, muita gente bonita. Eu sentei próximo ao meu amigo barman, ainda não havia me encontrado com ele desde que cheguei, tínhamos muito papo para colocar em dia. Entre um drinque e outro, me mostrou uma japonesinha linda que, segundo ele, gostava de um sexo pesado, esta informação logo me agradou. Começamos um jogo de sedução, ela me olhava com cara de fome e eu mantinha o mistério. Ela veio como uma presa atraída por sua víbora e sentou ao meu lado. Acenei e fiz um gesto com meu copo, ela sorriu e passou a língua na borda do seu copo. Pelo jeito, minha noite seria quente. Ela se aproximou e perguntou se poderia me acompanhar. A gostosa começou um papo sobre drinques, aperitivos, sobre o talento do meu amigo no bar, sobre tanta coisa, que eu já estava tonto. Só tinha uma maneira de calar a mulher, avancei até ela e beijei seus lábios vorazmente, sem chance para recuo. Depois de mostrar tudo que queria somente em um beijo, eu cheguei ao ouvido dela e disse: — Linda, comigo é só prazer, mas somente em uma noite, sem algo mais. Você aceita? — Ela mordeu meu pescoço e disse que estava pronta para qualquer coisa comigo. Eu olhei para ela muito sério e disse: — Antes preciso saber se você está disposta a se submeter a meus desejos. Eu posso te garantir que será tudo para você. Nesta noite eu sou o seu único dono, você vai descobrir o prazer mais doloroso de sua vida, mas vai querer mais e, enquanto esta noite durar, você terá. Os anseios de seus mais loucos desejos serão atendidos. Eu não sou como os outros, minha querida, eu gosto de controlar e de fazer à minha maneira. Você tem uma única chance de desistir, se sair daqui comigo será do meu jeito. É pegar ou largar. — Como eu disse, delicioso, estou pronta para qualquer coisa contigo. Paguei a conta, saí levando a pequena comigo. Entrei em um motel que conhecia muito bem e gostava. Cheguei à garagem, peguei uma mochila que estava no meu carro, onde tinha minhas cordas e um chicote novo que havia mandado fazer sob medida. Retirei a gostosa do carro e ainda na garagem, a empurrei no capô do carro de costas para mim, me debrucei sobre ela, mordi seu pescoço, segurei seus cabelos puxando a cabeça dela para trás, beijei sua boca, alisei sua linda bunda e dei um tapa em cada lado. Ela gemeu e rebolou para mim. A gata era safada, do jeito que eu gostava.

Segurei seus braços para trás, amarrei os pulsos juntos e fui a levando para dentro da suíte. Deixei a iluminação do quarto na penumbra, retirei a pequena saia dela junto com a calcinha e a coloquei na cama de bruços. Não sei se você sabe, mas adoro uma mulher nua de salto, então a deixei com as sandálias e com a blusinha que vestia. Comecei a torturá-la com minha língua e dentes desde o tornozelo até sua magnifica bunda. Ela se contorcia embaixo de mim e eu dizia: — Quietinha, eu ainda não deixei você gemer. Eu sei o que é bom para você. Hoje irei dominar seus pensamentos, sua alma. Se entregue a mim, eu protegerei você. Escolha sua palavra agora. Se for demais para você basta dizer a palavra. Ela me olhou em delírio e disse: — Luxúria, um dos sete pecados capitais. Eu avancei sobre ela, engoli seus lábios, invadi sua boca, enquanto os rastros de minha mão iam incendiando seu corpo. Desamarrei por um instante seus pulsos, para retirar sua blusa, porque naquele momento a minha vontade era de rasgá-la, mas não poderia levá-la embora daquele jeito depois. Coloquei-a deitada na cama de barriga para cima e amarrei seus pulsos e tornozelos na cabeceira. Fiquei observando aquela mulher em silêncio, toda aberta e pronta para mim, à mercê dos nossos desejos mais insanos. A ansiedade dela aumentava a cada minuto que passava comigo só olhando. Aproveitei para ficar nu e meu amigão já estava pronto para a batalha. A mulher era boa no olhar, ela me devorava com os olhos. Eu peguei meu novo chicote e comecei a dar pequenos golpes em seus seios, em sua barriga e em seu lindo monte de Vênus. Ela se contorcia e gemia, eu ainda não permitia gozar. Levava ela ao extremo e diminuía os golpes, a alisava, lambia e começava de novo a enlouquecê-la, dizendo que ela só gozaria quando eu deixasse. Quando sua pele estava quente, eu peguei alguns gelos e fui explorando cada centímetro do seu corpo. Ela chorava e me pedia mais. Depois de quase enlouquecer aquela mulher, depois de fazê-la implorar pelo meu pau, pedindo para ser fodida com força por mim. Eu coloquei uma camisinha e fui lentamente penetrando seu corpo, em movimentos calmos de vai e vem, porque quem ditava como ia ser era eu. Claro que iria fodê-la forte e duro, muito duro, porque era desta forma que eu gostava e não porque ela estava implorando. Afinal, ninguém domava esse touro aqui, o prazer era nosso, mas a forma de como iríamos alcançá-lo era eu que ditava. A noite teve um saldo positivo, eu a levei ao limite umas três vezes, até estarmos cansados e saciados. Ela queria dormir comigo, mas esta opção estava riscada da minha vida. Nunca mais

nenhuma mulher iria amanhecer ao meu lado. Eu a deixei em casa e, como todas as outras, ela queria trocar telefones, marcar outro encontro e mais, como sempre. Eu simplesmente beijei sua testa, abri a porta do carro, a ajudei a sair, dei um beijo de despedida e disse: — Princesa, como eu disse desde o começo, comigo é assim, uma vez e nada mais. Virei as costas, entrei no meu carro e esperei ela entrar. Assim que a vi entrando no seu prédio, virei a chave e voltei para minha vida livre e solitária por opção. Coloquei a música que era o lema da minha vida, Snuff, de Slipknot. A letra me definia, pois meu sorriso foi tomado há muito tempo. Era assim que eu queria, sem coração, sem paixão e sem uma segunda vez. Este era eu, o Bruno, dono de minha vida!

Capítulo 7

Os problemas só estão começando

Bruno Não conseguia tirar da minha cabeça a ideia fixa de ir almoçar no restaurante aonde trabalhava o ex-marido da minha cliente, algo me dizia que havia uma peça fora daquele quebra-cabeça. Cheguei ao estabelecimento por volta das treze horas, o lugar era luxuoso e bem frequentado. Logo ao entrar me deparei com Marcos, o pai e marido negligente, conforme disse minha cliente. Ele era um homem jovem, na casa dos trinta anos e bem-apessoado. O máximo que posso dizer é que o cara era boa-pinta. Ele me recebeu cordialmente e me levou até o local da minha reserva. Eu havia convidado o Leonardo para almoçar comigo. Ele era um advogado do escritório que me recebeu muito bem assim que cheguei ao Brasil. Eu pedi que ele levasse sua esposa e seu filhinho de três anos. A minha intenção era observar como o host reagiria ao receber uma criança com idade próxima de seu filho. Como eu estava ansioso, cheguei um pouco antes. Pedi uma limonada suíça enquanto aguardava. Não demorou muito para a chegada do meu cúmplice, sim eu havia contado a história para ele, para me ajudar com suas observações. O filho do Leo era uma criança muito bonita e sorridente, sua esposa também era uma bela mulher. Meu amigo era apaixonado pela família. Eu achava bonito o amor dele pela esposa e pelo filho, mas não sentia nenhum desejo de ter o mesmo. O almoço aconteceu de forma agradável, a esposa dele era professora de Antropologia e contava de algumas proezas de seus alunos para conseguir colar em provas. Eu observava Marcos

de longe, ele não parava um minuto, parecia ser um funcionário dedicado e que se relacionava bem com os colegas. Eu já estava achando que não ia conseguir nenhum avanço no restaurante, quando Leozinho Júnior derramou seu copo de suco. Na mesma hora, o host se aproximou da mesa e com todo cuidado cuidou de ajudar a criança e a esposa do meu amigo. Eu confesso que fiquei espantado de ver como ele tinha jeito com criança e como o menino sorriu para ele. Como meu amigo sabia do caso, ele jogou a isca: — Obrigado pela ajuda. Você tem muito jeito com criança. Deve ser pai, não é? Marcos olhou para meu amigo e visivelmente emocionado respondeu: — Sou sim. Sou pai de um menino lindo de dois anos e seis meses. Seu nome é Arthurzinho. Meu amigo continuou o provocando para falar mais. — O meu tem três anos. Nossa, esta idade é fogo, não é? Chegamos cansados do trabalho e eles querem brincar, tem muita energia. Deve ser cansativo para você trabalhar em pé o dia todo e ainda correr e brincar à noite. Eu prendi a respiração nesta hora, quando ele disse: — Eu bem que gostaria de chegar a minha casa à noite e brincar com meu menino, mas estou em um momento complicado da minha vida. Estou em um processo de separação e minha ex-mulher quer a guarda do meu filho. A esposa de Arthur foi divina nesta hora. Ela olhou para ele e disse: — Poxa, que chato, mas lugar de criança é com a mãe, não acha? — Seria se ela fosse uma boa mãe. Minha ex-mulher nunca ligou para nosso filho. Desde bebê, quem sempre cuidou dele foi eu e a babá. Ela só pensa em malhar, comprar roupas, joias, enfim gastar o dinheiro do pai. Ah, me desculpe. Por favor, me desculpe. Eu não deveria estar falando sobre isto com vocês, nossos clientes. Eu realmente peço perdão. A esposa do meu amigo disse prontamente: — O que é isto? Não precisa se desculpar. Nós que puxamos assunto. — Eu agradeço, mas preciso voltar ao trabalho. Vou mandar outro suco para seu lindo filho, por conta da casa. Assim que ele saiu, Leo olhou para mim e entendi o que ele queria me falar. Algo estava

mesmo errado naquela história da minha cliente. Meu faro profissional era bastante aguçado. A esposa do meu amigo saiu com Juninho para trocar sua roupa que havia molhado com o suco, enquanto nós ficamos perdidos em nossos pensamentos. Eu fui o primeiro a falar: — Leo, você está pensando a mesma coisa que eu? — Estou sim, Bruno. Ele não me pareceu um oportunista que maltrata criancinhas. E outra, se ele quisesse se dar bem, bastava aceitar os delírios da esposa e comandar um dos hotéis do sogro. — Porra, eu não sei o que meu pai tinha na cabeça quando aceitou um caso deste. Direito de família é uma área que nunca gostei por envolver muitos segredos familiares, dramas e quase sempre ter criança na jogada. Eu não vou conseguir defender uma mulher daquelas. Leo, o que eu faço, cara? — Olha, amigo, seu pai tem como lema, que causa nossa tem que ser causa ganha. Pelo que conheço dele, ele não vai permitir você sair do caso. O que te recomendo é tentar um acordo com sua cliente. — Não vai ser fácil, viu? Ela parece ser aquelas mulheres mimadas, que nunca recebeu um não na vida. Vou continuar minha investigação paralela. Quando a esposa de Leo voltou à mesa, contei a ela sobre a filha do Senhor Agnelli e sobre Marcos. Falei de minha entrevista com o juiz, com a minha cliente e pedi sua opinião. Ela me disse que achava difícil aquele homem estar mentindo, até mesmo porque não nos conhecia. Ela falou ainda que viu tristeza em seu olhar ao falar do filho. Eu estava com a mesma impressão. Conversamos mais um pouco e pedimos a conta. Aquele almoço tinha saído melhor que minhas expectativas. Passei o restante do dia envolvido em pesquisas na internet sobre Ane Agnelli, o que vi não me agradou. Ela estava em vários sites de fofocas, em alguns em atitudes suspeitas envolvendo festas, orgias e bebedeiras. Uma das reportagens dizia: Herdeira do Grupo Agnelli grávida, será que agora ela se acalma? Cada site que eu abria piorava a situação. Achei algumas reportagens sobre o casamento, onde alguns jornalistas comparavam o casal a princesa e o plebeu. Meu Deus, onde aquele homem foi se meter? Cada vez mais eu estava certo em minha decisão de nunca me envolver com mulher nenhuma, era muito arriscado encontrar uma louca para ferrar com sua vida.

***

Eu precisava correr para gastar energia. Depois da minha corrida, eu iria lutar. Eu odiava injustiça e estava me sentindo encurralado por ter que defender aquela dondoca. Estava decepcionado também com meu pai por me dar este presente como meu primeiro caso. Eu estava correndo feito um louco desvairado pela Lagoa da Pampulha, quando vi minha vizinha gostosinha correndo com um fone no ouvido. Ela passou por mim cantando e não me viu. Pena que era minha vizinha e tinha cara de santinha, pois, como já disse, vizinha era chave de cadeia, limite rígido para mim. Lutei por quase duas horas, como um touro quando estava com a corda amarrada em suas bolas no rodeio, eu estava muito puto da vida. Cheguei à minha casa, suado, cansado, louco por um banho. Porém, meu pai estava na sala e me perguntou como estavam as coisas no escritório. Eu confesso que não deveria ter conversado com meu pai naquela hora, mas fiz a burrada de responder: — Tudo bem, papai. A única coisa que não vai nada bem é o meu caso. A minha cliente, a Senhora Ane Agnelli, é problema na certa. — Por que, meu filho? Meu amigo e pai dela me garantiu que o ex-marido está querendo se aproveitar da separação para ficar bem financeiramente. — Esta é a versão da filhinha dele, não é, papai? Não corresponde à realidade. — Como assim, Bruno? Pelo que eu sei, você é o advogado de defesa dela e não de acusação. — Infelizmente. Porém, papai, não tem uma única veia de vítima naquela mulher. O senhor precisa conhecê-la antes. — Bruno, não me decepcione, meu filho. Falei para meu amigo que você era o melhor. — E sou, papai, mas não em causas familiares de guarda e, principalmente, quando envolve uma criança que mal conhece a mãe. — Meu filho, no Direito o nosso cliente está certo sempre. — Eu sei disto, papai, mas para isto o cliente precisa ter o mínimo de defesa. O que ela não tem. Vou propor um acordo. Não vou deixar este caso ir para o tribunal. Eu não vou dar munição para aquela defensora me engolir. — Bruno, o pai dela não aceita acordo.

— Papai, então pode arrumar outro advogado para ela. — Você está louco? Esta hipótese está fora de cogitação. — Então, convença seu amigo a aceitar o acordo. Vou tomar banho, esfriar a cabeça. Falei isto e virei as costas para o meu pai. Deu tempo ainda de ouvir seus gritos para que eu voltasse para terminar aquela conversa. Eu respondi do segundo andar que já tinha terminado. Durante o banho lembrei-me da conversa de mamãe comigo durante aquele almoço. Que droga, em meu primeiro caso e já estava brigando com meu pai. Eu precisava exercer o Direito por cinco anos antes de tentar a prova para promotoria, então precisava ir com calma. Parece que minha mãe tinha razão, não ia ser tão fácil assim trabalhar com meu pai.

***

No outro dia logo cedo, resolvi fazer uma visita à minha cliente sem marcar. Eu queria o fator surpresa e havia dito a ela que passaria em sua casa naquela semana para conhecer seu filho. Assim que cheguei à entrada do portão, me identifiquei e fui conduzido ao interior da mansão por um segurança. Em frente à casa, havia uma belíssima fonte com várias flores exóticas em volta. Tudo muito bonito. Fui recebido por minha cliente que estava com uma roupa de academia com muito pouco pano. Ela me convidou a conhecer sua casa, que era um verdadeiro palácio. O tempo todo ela dizia que era confortável e muito melhor para o desenvolvimento de uma criança. Eu não via nenhum vestígio de algo que pudesse mostrar a presença de uma criança ali. Eram muitos quadros, obras de artes, enfim, uma decoração riquíssima e de artistas famosos. Depois de conhecer tudo, perguntei a ela pelo filho. Ela me levou a um quarto que mais parecia um parque de diversão, de tão grande que era: tinha três ambientes, cabia uma família de quatro pessoas ali. A impressão era de que aquele lugar era o mundo da criança e que a casa era proibida para ela. Apesar de o quarto ser maravilhoso, estava tudo arrumado demais e o pequeno não estava ali. Ela me levou então ao lado da casa, aonde existia um parquinho e uma piscina cercada por uma proteção. Foi naquele lugar que vi uma criança brincando na areia com uma babá de uns trinta anos. O menino era muito bonito, uma mistura dos pais. Ele não manifestou nenhuma reação com a chegada da mãe, que forçou a barra pedindo um abraço. Ele saiu visivelmente aborrecido do brinquedo e abraçou a mãe sujo de areia, no que ela fez uma cara de irritação por ficar com areia no corpo. Eu fui até o lugar que ele estava brincando, me agachei e

conversei com ele: — Oi, Arthurzinho. Você é um menino muito bonito. — Bigado. Você é quem? Coleguinha da mamãe? — Sim, eu sou coleguinha de sua mamãe. — Mamãe tem muitos coleguinhas. Papai fica tiste. — O que é isto, Arthurzinho? Mamãe não tem muitos amigos. Seu pai que coloca estas coisas na sua cabeça. — Não, mamãe, eu sabe. Eu vi seus coleguinhas. Antes que a megera falasse algo, eu disse: — Seus carrinhos são muito bonitos. — Você tem carrinhos? Me mostra. — Mostro sim, lindo. Um dia, eu vou trazer minha coleção para você ver e brincar com seus amiguinhos. — Hum, eu não tenho muitos miguinhos. Só a Nina que binca comigo. Papai também bincava, mas mamãe mandou ele bora. — Menino! Isto é coisa de adulto. Nina leve o Arthurzinho para um banho, ele está cheio de areia. Vamos entrar, doutor Bruno? Eu respirei fundo para me controlar e fui seguindo a pessoa mais desprezível que tive o desprazer de conhecer. Ela me levou ao escritório de seu pai, que era muito luxuoso, contendo uma parede inteira de livros dos clássicos aos mais modernos da atualidade. Ela sentou de forma sedutora e falou: — Champanhe, doutor Bruno? — Água, Senhora Agnelli. — Nossa! Você é sempre tão sério assim? Posso te chamar de você, não é? Afinal, é muito jovem. E não precisa me chamar de senhora, eu também sou jovem, Bruno. Cara, eu precisei respirar muito fundo antes de falar:

— Sim, sou sempre sério. E não. Não pode me chamar de você, nossa relação é profissional. O mesmo para a senhora, não vou te chamar de você. É minha cliente. — Uau! Quanta seriedade e braveza. Gosto disto “Doutor Bruno”. Fingi que não percebi o deboche e as segundas intenções em sua fala e fui logo ao assunto que me levou ali: — Senhora Ane Agnelli, eu estou aqui para te propor um acordo. Pelo que andei pesquisando, a senhora não é um exemplo de mãe e seu ex-marido não é o monstro que me falou. Outra coisa que preciso deixar claro aqui, é que estamos falando da vida de uma criança e a senhora proibir seu filho de conviver com o pai, não é o melhor para ele. — Doutor Bruno, não estou entendendo o senhor. É meu advogado de defesa ou de acusação? — Sou seu advogado de defesa e por isto mesmo te digo. O melhor para todos os envolvidos é um acordo e a guarda compartilhada. — Sem chance, doutor Bruno. Não vou fazer acordo e muito menos negociar. Quero acabar com aquele idiota. Vou tirar o que ele mais ama — ela acabou de falar e ficou branca como papel. Aproveitei seu deslize e falei: — Este é o problema, senhora. Não estamos falando de vingança pessoal de uma mulher mimada que quer acabar com o ex-marido porque ele quer trabalhar e ama seu filho. Estamos falando de uma criança. Entendeu? Não é de vaidades e egos, é da saúde psicológica de uma criança, que inclusive já expressou em tão pouca idade que está sofrendo a falta do pai. — Doutor Bruno, encerramos aqui. Vou avisar meu pai para que contrate outro escritório de advocacia. Ele insistiu em seu pai por ser seu amigo, mas vou dizer ao papai que o senhor é um péssimo advogado e vou cuidar para que não receba nenhum cliente por muito tempo. — Fique à vontade, Senhora Ane Agnelli. Só preciso te informar, que gravei nossa conversa desde que entrei aqui e terei o prazer em mostrá-la ao juiz. Passar bem. Eu levantei, ela me encarou com ódio mortal, dei um leve aceno de cabeça e me retirei. Só ouvi os gritos da maluca e um barulho de vidro quebrando. Saí com a sensação de ter ganhado na loteria. Quem aquela mulher pensava que era? Para mim era questão de honra, eu poderia trabalhar em qualquer caso, desde que não ferisse minhas crenças e meus valores. Agora era hora

de enfrentar outra fera: o doutor Augusto Fernandes. Mal entrei em minha sala, a minha secretária veio atrás de mim e disse que meu pai não estava com uma cara muito boa. Falou que ele havia deixado um recado com ela, para que eu o procurasse assim que chegasse. Era agora que eu ia ter minha primeira briga feia com meu pai, mas não estava arrependido. Faria tudo de novo. A secretária de papai anunciou minha presença e ele pediu que entrasse. Eu entrei sério, sem falar nada e sentei à sua frente. Ficamos nos encarando por um tempo grande demais para qualquer pessoa, menos para mim. Estávamos travando um duelo de gigantes. Depois que percebeu que eu não ia recuar falou: — Não sei o que você fez, mas recebi uma ligação do meu amigo pedindo desculpas e dizendo que a filha preferiu ser representada por um advogado amigo dela que é especialista em causas de guarda. Bruno, o que você fez? — Desmascarei a mentirosa, pai. Eu não ia representar uma mulher desprezível e péssima mãe. — Você não é o juiz, Bruno. Como acha que vai repercutir na mídia que o poderoso magnata retirou seu caso de nossa firma? Você acha que cheguei aqui escolhendo casos, meu filho? — Papai, não deveria se preocupar com a mídia, pois ela vai ser desmascarada. Ela é uma mulher mimada, cheia de escândalos na própria mídia. E eu vou logo avisando, não vou aceitar qualquer caso. — Quem você pensa que é, rapazinho? Acabou de se formar, não tem experiência nenhuma em nada. E já quer escolher casos? Acorda para a vida, meu filho. — Papai, eu não acabei de me formar. O senhor pode até não aceitar, mas eu acompanhei os maiores casos de contravenções penais nos Estados Unidos, atuei como auxiliar de um dos maiores advogados de Nova York, que por sinal foi meu orientador de mestrado. E não sou especialista em Direito de Família e sim em Direito Penal. O senhor deveria me dar algum crédito, antes de me desmerecer. — Está bom, grande advogado. Já que o senhor tem tanta experiência assim, vou te passar o caso das construtoras que não cumpriram o contrato com a rede de shoppings mais famosos de Minas Gerais e ainda há denúncia de desvio de verba para paraísos fiscais. A causa é sua. Quero ver sua competência neste caso, que representa muito dinheiro para esta firma. Vamos lá, me prove que eu estou enganado.

Fiquei olhando para o meu pai, enquanto controlava minha excitação, levantei e falei: — O senhor não irá se arrepender. Eu vou te provar que não sou mais um menino. Agora preciso ir, obrigado. Apertei a mão de papai e saí sem falar mais nada. Fui para minha sala ofegante e cheio de ânimo, afinal adorava desafios. Porém, antes de me envolver em tudo daquele caso, eu tinha a intenção de procurar uma perigosa e brava defensora.

***

Cheguei à defensoria pública no final da tarde, conforme ela havia marcado comigo no telefone. Entrei e esperei ela terminar de conversar com seu último cliente e, para meu espanto, era nada mais nada menos que Marcos. Quando ele saiu, me cumprimentou, mas mais por educação, pois percebi que não me reconheceu. Assim que entrei, ela sorriu debochadamente e me disse: — Nobre colega, a que devo a honra de sua visita à minha humilde sala? Ah, já sei, fiquei sabendo que foi dispensado do caso. Veio se despedir? — Doutora Aline, vamos recomeçar? Eu não estou aqui para brigar e sim por outro motivo muito sério. Ela ficou me olhando por um tempo, provavelmente decidindo se acreditava ou não, até falar: — Desculpe-me, doutor Bruno, eu estou sendo infantil com você. É que, às vezes, coloco minha raiva para fora. Traumas do passado. Perdoe-me. — Acredite, doutora Aline, traumas do passado todos nós temos. Um dia te conto o meu, mas estou aqui para contar algumas coisas sobre seu cliente. Antes disto, por que você foi designada para este caso, se ele tem um bom emprego? — Na verdade, quando eu fui designada a este caso, ele estava desempregado e todas as portas estavam fechadas para ele. Adivinhe por quê? O sogro havia cuidado disto. Como odeio injustiça, eu pedi ajuda a meu amigo que é dono daquele restaurante, que tenho quase certeza de que o senhor já conhece. Não é, doutor Bruno? — Doutora Aline, vamos sair para tomar algo e conversarmos? E vamos deixar o doutor e senhor para lá, o que acha? Estou aqui na qualidade de amigo e não de seu oponente.

— Tudo bem, Bruno. Vou te dar um crédito, mas não brinque comigo. Eu só pareço inofensiva, não duvide da minha competência para acabar com você. Caramba, que mulher brava. Eu sorri e disse a ela: — Vamos lá, brava. Eu não vou ser louco de colocar minha cabeça a prêmio com você. O que eu quero é ajudar seu cliente e você vai entender por quê. Convidei Aline para ir a uma pizzaria e ela aceitou. Eu estava com muita fome, não tinha almoçado naquele dia, pois fiquei a tarde toda lendo sobre meu novo caso. Fiquei feliz que ela aceitou. Ainda brinquei com ela sobre uma mulher aceitar comer pizza e ela me surpreendeu dizendo que perderia todas as calorias da massa em sua aula de karatê. Uau, esta mulher era uma caixa de surpresas, algo me dizia que seríamos grandes amigos e, às vezes, oponentes. Contei a Aline tudo que aconteceu desde o primeiro dia que entrevistei a senhora Ane Agnelli, até o dia que ela simpaticamente, depois de ameaçada, me dispensou. Mostrei a ela a gravação com a conversa da criança e com ela dizendo que retiraria do ex-marido tudo o que ele mais amava. Aline me perguntou por que resolvi ajudá-la e eu disse que não aguentava ver uma criança sendo vítima das maluquices dos adultos. A noite foi agradável, ela me contou o motivo da sua raiva com rapazes ricos, um riquinho mimado tinha destruído seu coração. Acredite se quiser, mas eu contei a ela sobre minha infeliz história com Mercedes. Eu sentia que ainda me ressentia falando daquela bandida. O mais engraçado era que Aline falava como eu, que ela agora controlava sua vida, que ninguém nunca mais iria invadir sua alma e nenhum homem a machucaria novamente, pois antes ela o atropelaria. Ali estava uma mulher marcada como eu. A levei em casa, mas antes prometi que era questão de honra ajudá-la a ganhar aquele caso. Na volta coloquei minha música Snuff, no último volume e fui rumo ao estúdio de tatuagem do meu amigo, eu estava decidido. Eu precisava finalizar de vez aquela maldita história em minha vida. Desde minha desastrosa experiência com Mercedes, eu queria fazer uma tatuagem com uma mulher nua e um coração sangrando, enrolado e apertado, para que nunca pudesse me esquecer do estrago que uma mulher pode fazer na vida de um homem. Eu ainda me pegava com ódio lendo e relendo o bilhete da desgraçada. Então estava decidido, eu ia marcar minha pele e rasgar o maldito papel. Eu não era mais aquele homem sentimental, como a minha música dizia: se alguma mulher resolver me amar, o melhor para ela será me deixar ir para longe, antes que eu saiba, pois meu coração está escuro, eu não me importo mais.

Capítulo 8

A ninfa

Bruno Eu vou ser muito sincero, viu?! Eu sofri muito para fazer tal tatuagem. O pior foi que precisei ser muito macho para terminá-la. Meu martírio durou quase quinze dias. Eu queria saber quem foi o louco que inventou que não doía fazer tatuagem no braço. Porra, eu quase desisti, mas era meu lado macho que estava em jogo e meu amigo tatuador ficava me irritando dizendo que eu era mole como uma mulherzinha. Eu o convidei para uma luta de Muay Thai comigo, claro que ele não quis. O resultado final foi lindo, eu gostei muito da minha Ninfa, este era o nome da mulher da minha tattoo. Esta seria a única mulher a ficar comigo para sempre. Não preciso dizer que aconteceu a Terceira Guerra Mundial na minha casa quando meu pai viu a tatuagem, não é? Fez todo um discurso preconceituoso de que marcar o corpo era coisa de bandido, que eu era um advogado sério e que uma tatuagem não combinava comigo. Preferi ouvir calado, pois estava ficando cansado dos sermões do meu pai. Um dia era porque cheguei tarde demais em casa, no outro era por ter bebido um pouco mais, ou então ele não concordava com a linha de defesa que eu havia escolhido. Sinceramente, eu estava perdendo a paciência com ele. Sempre ouvia calado por causa de mamãe, mas meu limite estava acabando. Eu sempre ligava para o meu primo que morava em Florianópolis, ele estava acabando o curso de Direito. Pedro era como um irmão, enfim, melhor amigo. Na época da bandida em Nova Iorque, só não enlouqueci, porque ele ficava horas no telefone comigo. Ele tinha o dom de me acalmar, eu reclamava do meu pai e ele me falava como agir. Eu tinha convidado ele para que,

quando terminasse a faculdade, viesse trabalhar conosco, mas Pedro ainda precisava cuidar do meu tio, que tinha sofrido um AVC e estava quase recuperado. Esqueci-me de contar, que Aline conseguiu ganhar o processo de guarda. Os Agnelli tentaram recorrer, mas o juiz não aceitou. Marcos ficou com a guarda de Arthurzinho, com uma pensão muito boa e o juiz ainda estabeleceu como seriam as visitas da mãe. Eu ajudei Aline descobrir provas contra Ane Agnelli e confesso que foi mais fácil que tirar doce de criança. Comemoramos muito naquele dia, saímos juntos com Marcos que estava radiante de tanta felicidade. Ele era um excelente pai. O doutor Augusto descobriu por meio do seu amigo, que eu tinha ajudado no caso. Foi uma briga daquelas em minha casa. Acho que foi a primeira vez que não consegui ficar calado. O mais triste disto tudo era que minha mãe sofria muito por ficar entre nós dois. Outro momento complicado da minha vida foi o processo contra as construtoras. Havia muito dinheiro envolvido, muita gente importante acima de qualquer suspeita. Meu amigo Leo entrou comigo nas investigações e coleta de provas. O difícil era conviver com meu pai que o tempo todo me infernizava. Ele vigiava todos os meus passos, contestava minhas decisões, era como se eu ainda fosse o menino que precisava dele para tudo. Eu só consegui ter paz para conduzir o caso, quando ameacei sair da firma, me mudar para Florianópolis e trabalhar com meu primo. Minha mãe também me ajudou, chamando a atenção do teimoso doutor Augusto e o colocando em seu lugar. Mamãe era a única que conseguia dobrar meu velho. Ele era durão, mas não se atrevia a enfrentar dona Luiza quando ela ficava brava. O processo contra as construtoras durou por quase um ano, foi tenso e inclusive perigoso, pois cheguei a receber algumas ameaças anônimas. Mamãe quase ficou doida de medo. Eu precisei fazer um curso de tiro, inclusive solicitei uma licença para porte de arma e por insistência do meu pai contratei um segurança. Passava horas estudando os autos do processo e fazendo muitos contatos. Contratei um investigador famoso no meio do Direito para buscar provas e qualquer coisa que pudesse me ajudar. Eu iria enfrentar um grupo de advogados famosos de São Paulo, mas não me intimidei por nenhum momento. Eu era preparado para aquela tarefa e esperei uma vida inteira para poder fazer o que mais amava. Depois de muitos depoimentos carregados de revelações perigosas, de muitas testemunhas entrando para o programa de proteção, de muita especulação da mídia e intermináveis reuniões com o juiz, o julgamento chegou ao fim. Durante todo o tempo, eu vivia nas páginas dos jornais. Minha vida tinha virado uma loucura. Minha amiga Aline tinha sido muito importante durante todo o tempo, pois sempre discutia com ela a linha da minha acusação e ela contribuía muito comigo. Como eu disse antes, viramos grandes amigos. Sim, somente amigos, sem nenhum interesse sexual.

Eu precisava viajar muitas vezes a São Paulo, algumas vezes consegui passar alguns momentos com Lucas e Helena, mas era tudo muito rápido. Eu estava tão envolvido pelo trabalho, que minhas aventuras sexuais se resumiam a ir ao pub do meu amigo umas duas vezes por semana e quando aparecia alguma mulher que me atraía eu passava alguns momentos quentes com ela e só. Tentava praticar Muay Thai quase todos os dias, mas algumas semanas conseguia ir somente três vezes. Sempre chegava à minha casa tarde, pois acabava estendendo minha jornada de trabalho noite afora. Ao final, tudo valeu a pena, recebi a recompensa da vitória. Ganhei a causa e uma grande popularidade na mídia. Alguns jornalistas estamparam em suas matérias minha foto, com o título: Filho de Doutor Augusto Fernandes segue o caminho do pai. Outros diziam: Advogado derruba quadrilha em seu primeiro caso. Meu pai ficou muito orgulhoso e comemoramos muito, pois recebemos um valor astronômico pelo sucesso. Com minha parte, eu consegui realizar um sonho, comprei um flat. Assim eu teria um lugar para fugir quando o clima estivesse pesado demais em minha casa. Meu pai guardou toda a parte dele, pois seu projeto era comprar o andar de baixo do nosso para ampliar os negócios. Naquela mesma semana em que eu ainda estava comemorando e dando muitas entrevistas, recebi uma ligação do meu amigo Lucas, me convidando para conhecer o clube que ele frequentava em São Paulo. Desde que tinha voltado do exterior, eu ainda não tinha voltado a nenhum clube, pois não queria correr o risco de ser reconhecido em Belo Horizonte. Meu amigo me disse que Dom Sombrio iria fazer uma apresentação com sua Lady Afrodite, que era ninguém mais que Helena, sua noiva. Isto mesmo, a advogada gostosa tinha amarrado meu amigo. Avisei minha mãe que iria passar o final de semana em São Paulo, para fazer uma visita a Lucas. Eu estava precisando mesmo de um pouco de ação. Meu voo chegou atrasado e o desembarque foi tumultuado, pois uma passageira deu à luz em pleno ar. Foi uma coisa louca. A sorte que tinha um médico no avião, mas, acredite se quiser, eu precisei ajudar no parto, pois ninguém tinha coragem. Foi o momento mais surreal e louco da minha vida. A mulher segurou em seus braços uma menininha com cabelo de fogo. Acredita? Parecia que tudo conspirava contra mim no mundo. Quando eu vi a ruivinha nascendo, lembrei com ódio da maldita Mercedes e, mais uma vez, me recriminei por lembrar-me dela em uma hora tão abençoada. Graças a Deus e ao médico mãe e bebê ficaram bem e foram encaminhadas ao hospital assim que o avião pousou. Assim que saí da área de desembarque vi meu amigo e sua noiva me esperando. Eu estava com saudades demais daquele cara, ele era um grande amigo. No caminho para sua casa, eles

foram me contando as novidades e uma delas era que os dois casariam dentro de seis meses. O amor tinha laçado mesmo o cara em terras americanas. Eu contei aos meus amigos sobre o sucesso no meu último caso e o assédio da mídia. Helena me perguntou se eu continuava com meu projeto Uma Noite e Nada Mais e eu respondi a ela que não era um projeto e sim uma filosofia de vida que estava dando certo para mim. Como sempre, ela ficou rindo de mim e disse: — Ai, amigo, ainda vou assistir de camarote o dia que uma mulher vai derrubar sua muralha e aí quero ver o que vai fazer. — Helena, minha cara amiga! Sinto te informar, mas você não terá este prazer. — Ahhhh, Bruno, Bruno! Tenho certeza de que terei e tenho medo de você fazer merda, amigo. Vou te dizer pela milésima vez: não são todas as mulheres bandidas como a bruxa americana. — Helena, vamos mudar de assunto. Fala uma coisa: você vai ficar do jeito que veio ao mundo com meu amigo no palco? Uau! Estou sonhando com a cena. Lucas, que até agora só estava rindo no volante, disse rapidamente: — Sem chance, amigo. Você não vai ver minha mulher pelada. Vamos fazer somente um número sensual simulando dominação e submissão. Você acreditou mesmo que ia ver minha mulher? — Poxa, viajei até aqui só para apreciar a paisagem? — falei, rindo. Lucas me respondeu delicadamente com um gesto obsceno e continuou dirigindo pelo trânsito louco de São Paulo. Eles foram me contando sobre o clube, como funcionava, sobre a privacidade e sigilo. Lucas me falou da música que escolheram e disseram que neste clube não aconteciam ainda apresentações como em Nova Iorque. Ele me explicou que não havia submissas contratadas, mas que os frequentadores usavam pulseiras verdes para os dominadores livres e coleiras verdes para as submissas que queriam uma noite quente. Os comprometidos usavam pulseiras e coleiras vermelhas. Lucas falou que só entravam sócios ou convidados, que os sócios assinavam contratos de fidelidade e sigilo e cada sócio era responsável por seus convidados. Eu perguntei a Lucas se já havia acontecido algum caso de quebra de sigilo no clube e o mesmo me acalmou dizendo que não. Eu me preocupava muito com a privacidade, principalmente por causa do meu pai. Nós precisávamos de cuidado com a mídia sensacionalista. Meu pai já tinha me alertado sobre a rejeição de alguns juízes por escândalos envolvendo advogados. Na noite de minha chegada, não saímos. Ficamos no apartamento de Lucas, ele não morava mais com seus pais, pois ele e Helena já estavam morando juntos. Jogamos conversa fora, comemos

alguns petiscos e bebemos um bom vinho. Eles me contaram de seus últimos casos e eu contei o drama que vivi na época do processo quando fui ameaçado. Dormimos tarde da noite. Eu estava bastante cansado e dormi como pedra. Acordei cedo e aproveitei para passar pela academia do condomínio. Corri na esteira, fiz musculação e nadei um pouco. Eu estava precisando gastar energia para me livrar do estresse dos últimos dias. Durante o dia passeamos por algumas galerias de arte de São Paulo, almoçamos em um restaurante charmoso e voltamos no finalzinho da tarde para descansarmos um pouco antes de nossa noite. A noite estava linda, com céu estrelado e uma lua maravilhosa, chegamos ao clube por volta de vinte e três horas. O clube ficava no Morumbi e seu nome era em homenagem a deusa do prazer na mitologia grega, Hedonê, filha de Eros e Psiquê, representada pela figura de uma mulher com asa de borboletas. Eu gostei muito da criatividade, pois era fã da mitologia grega. Aquela noite seria especial, pois era comemoração dos cinco anos do clube e todos deveriam estar trajados de preto e vermelho, além do uso de máscaras que era obrigatório. Como o nome de todos convidados estavam em uma lista confirmada anteriormente pelos sócios, bastava a entrega do documento para conferência na entrada. Eu estava todo de preto, com uma gravata vermelho sangue, uma capa negra com forro dourado e uma máscara escura como as asas de um corvo, que só deixava minha boca à mostra. Eu queria mesmo uma noite de mistério e prazer. Como esperado, o clube era decorado com extremo luxo, mesmo com tantas capas e máscaras, era possível perceber que os frequentadores eram pessoas bonitas e bem-sucedidas. Nós nos sentamos próximo ao palco, Lucas já estava em seu personagem de Dom Sombrio e Helena estava linda, com uma roupa toda vermelha e colada no corpo, com uma coleira incrustada de rubi com o nome de Dom Sombrio. Ela iria trocar de roupa para sua apresentação, que seria o ápice da noite. Conversamos, bebi um pouco, eu observava tudo. Helena e Lucas se ausentaram para os preparativos do momento mais esperado da noite. Percebi que havia algumas mulheres lindas com a coleira verde, mas uma com pulseira verde despertou minha curiosidade. Ela me lembrava de alguém conhecida, mas quem? Quando eu pensei em ir atrás da dominadora, as luzes do palco se acenderam e o apresentador deu as boas-vindas a todos os sócios e convidados. Com muito mistério, ele disse: — Senhoras e senhores, a arte da dominação envolve cumplicidade, entrega total, confiança no outro e, acima de tudo, desejo. Muitos que não conhecem, criticam e confundem com violência ou

humilhação. Nunca podemos esquecer-nos dos pilares do BDSM, importante para todos praticantes: SSC (São, Seguro e Consensual). Nós, adultos e adeptos desta forma de entrega e sublimação da alma, sabemos que tudo envolve desejo, purificação e paixão. Nesta noite, com grande prazer, apresentamos um espetáculo coreografado em uma belíssima performance, representando dominação, submissão e luxúria. Neste momento, o clube ficou todo escuro e a música I Surrender, de Celine Dion, encheu todo o ambiente. As luzes do palco foram acendendo, era uma iluminação vermelha com dourado, uma coisa linda. No centro do palco, Dom Sombrio sentado em um trono como um rei, de repente um foco de luz apareceu no meio da plateia e Helena ou Afrodite veio andando como uma pluma, envolta em uma capa negra e uma máscara vermelha lindíssima. Ela subiu ao palco, retirou sua capa, estava vestida com um vestido transparente vermelho esvoaçante e por baixo vestia apenas uma minúscula calcinha e na frente o vestido era todo bordado de forma que não era possível ver seus seios. Assim que ela jogou a peça para o lado, as luzes se apagaram e somente Helena ficou iluminada por um foco de luz. Ela deu um show, como se procurasse algo, ou estivesse perdida. Ela rodava, agachava como se sofresse, levantava os braços ao alto como se suplicasse por alguém. No fundo do palco, a equipe técnica de iluminação reproduziu um oceano revolto em uma tempestade. Aproximadamente no meio da música, ela correu em volta do palco como uma lebre em fuga e caiu ao meio como se estivesse em desespero, em profunda solidão. Neste momento, a luz acendeu, Lucas foi até ela como um predador em busca de sua presa, a levantou do chão somente com uma mão em seu pescoço, rodou em volta dela como se estivesse apreciando a caça e a levantou em seu colo. Desta momento em diante, os dois deram um espetáculo de conexão de corpos, era como se os dois estivessem em pleno ato sexual. O único som que se ouvia: o da música. A sensação era de que todos estavam como eu, sem respirar. Lucas conseguia mostrar seu total domínio sobre Helena e ela? Nossa! Ela era um show à parte. Ela dançava com sensualidade, com leveza e hipnotizada pelo olhar do seu homem. Confesso que senti algo estranho, uma sensação de vazio, não sabia explicar. Foi forte demais. Nunca imaginei que os dois pudessem dançar tão bem, havia nascido um para o outro. Eu dei uma rápida olhada para as pessoas e todos estavam em delírio com a apresentação. No final, eles foram ovacionados, receberam aplausos por quase três minutos. Eu não esperava ver um espetáculo tão intenso, acho que passei os cinco minutos da música sem respirar. Percebi que eu

estava ofegante. Eles agradeceram o público e sumiram para o interior do clube. Eu não preciso dizer que estava com a adrenalina a mil, precisava achar uma submissa. Porém, quando me recuperei da emoção, vi a dominadora próxima ao bar. Eu estava encucado, sabia que conhecia aquela mulher e queria descobrir quem era. Fui em sua direção, ela estava sentada no balcão do bar, eu cheguei atrás dela e a cumprimentei. Ela virou e quando ia sorrir para mim, eu não acreditei: — Você aqui? Não posso acreditar.

Capítulo 9

Surpresa

Bruno Eu nunca imaginaria me encontrar com ela. Sabia que era brava, toda chegadinha a controlar tudo e todos, tinha uma veia mandona e não queria compromissos como eu. Porém, não esperava vê-la. Eu olhei para ela espantado e disse: — Você aqui? Não posso acreditar. A princípio ela me olhou espantada, mas rapidamente deu um sorriso soberano e respondeu como uma tigresa: — Sim, sou eu, querido Bruno. Ou devo te chamar de Dom Danger Bull? — Pode me chamar de Bruno, para você sempre será Bruno, minha amiga. E você, Aline, como devo te chamar? Ela fez um brinde com seu copo no meu e disse: — Para você também sempre Aline, meu amigo — ela disse isto e me abraçou. Ainda estava em estado de choque em ter encontrado minha amiga naquele lugar. Ela me contou que há quase um ano se tornou sócia do clube, onde, inclusive, desembolsava uma pequena fortuna todo mês. Acho que percebeu que eu ainda continuava espantado porque disse: — O que foi, Bruno? Eu não acredito que você é tão machista que não consiga imaginar uma mulher aqui e ainda por cima dominadora. Eu não estou assustada de te ver aqui.

— Não, Aline, claro que não é isto, mas é que você nunca me disse que gostava deste estilo de vida. Ah, sei lá, acho que foi isto. — Bruno, vou te perdoar por te conhecer e saber que você não é preconceituoso. As mulheres hoje estão modernas e emancipadas. Eu não quero compromissos fora deste lugar. Digamos que aqui eu tenho alguns parceiros que gosto de estar junto, mas só enquanto estiver dentro do clube. Lá fora a vida continua como tem que ser, cada um na sua — ela falou isto, fechou minha boca com sua mão, quando só então percebi que estava aberta e completou: — Bonitão, eu preciso agora cuidar de certo submisso que está me aguardando. Aproveita a noite. Antes mesmo de ter tempo de resposta, ela levantou, passou por mim com uma roupa preta grudada em seu corpo, com uma máscara vermelha e foi em direção a um homem com coleira. Quando ela chegou próxima a ele, o mesmo abaixou a cabeça e saiu puxando-o pela coleira. Eu confesso que estava ainda atordoado com a surpresa. Outra coisa que percebi: naquele clube também tinha muitos homens dispostos a se submeter às mulheres dominadoras, isto realmente não era para mim. Eu estava perdido em pensamentos, quando uma loura linda, vestida com um macacão cheio de correntes pelo corpo, chegou em mim e perguntou se podia me servir naquela noite. Eu olhei para ela, virei o resto do uísque que estava em meu copo e saí a levando pela corrente. As suítes naquele clube eram temáticas e as masmorras eram reservadas com muito tempo de antecedência. O quarto vermelho da dor, como o do livro Cinquenta Tons de Cinza, precisava de reservas com pelo menos um ano de antecedência. Como eu viajei para São Paulo de última hora, eu não tinha muitas opções de reserva. Escolhi uma suíte com nome de O Quarto Secreto do Rei, que era muito diferente. A cama era preta suspensa por correntes, com suporte para cordas e algemas em suas laterais, a parede era toda de tijolos similares a barro e nela havia cordas rústicas em uma cruz. Em um canto estava uma mesa com palmatórias, chicotes, pinças para mamilos e vendas, tudo embalado e descartável. O ambiente era iluminado por velas. Era incrível o poder que o fogo exercia sobre a humanidade, acho que era herança dos nossos ancestrais. Toda decoração tornava o quarto sinistro e muito excitante. Apreciei todos os detalhes da suíte mantendo o mistério, sempre segurando as correntes da submissa. Sentei no trono como um rei, puxei a mulher para o meu colo, levantei seu cabelo e falei em seu ouvido: — Linda, preciso que me fale o que gosta, sua palavra de segurança e o que está proibido

para você. — Senhor, meu limite rígido é sangue, secreções humanas, estrangulamentos. Estou aqui para te servir e minha palavra de segurança é Salve a Rainha. Precisava extravasar toda aquela adrenalina do meu corpo, mas seria de forma calma, lenta, faria aquela morena gostosa implorar para gozar. Comecei a beijá-la enquanto minhas mãos retiravam as correntes e a despia lentamente no meu colo. Os beijos antes calmos, já eram cheios de desejo, puro tesão e eram correspondidos na mesma fome, ela gemia e se contorcia no meu colo. De repente, sem ela esperar, me levantei e levei-a até a parede, amarrei suas mãos e seus tornozelos nas cordas totalmente exposta ao meu prazer. Peguei a venda e coloquei em seus olhos porque naquela noite ela só sentiria prazer não iria ver nada, e só depois fui tirando minha roupa. Fiquei rodeando ela, como se fosse uma presa, os seus sentidos estavam aguçados, sua respiração entrecortada, a ânsia de saber onde eu estava e como seria tocada fazia o clima esquentar. Cheguei perto de seu ouvido e sussurrei que primeiro a faria gozar sem ser penetrada e que ela iria implorar pelo meu pau nesta noite. Dei um beijo em sua boca e começamos a brincadeira. Fui beijando sua boca, seu pescoço, seus seios, seu ventre até chegar à sua vagina, muito lentamente, era lindo vê-la se arrepiando toda. Aquele era o melhor sabor do mundo, o sabor do pecado, do desejo no corpo de uma mulher. Eu lambia e chupava me fartando dela, adorava ver uma mulher se retorcendo em meus braços, mordendo os lábios. Eu comecei a dar pequenas mordidas entre suas coxas, alternando com tapas em seu sexo. Sua pele branca começava a ficar rosada, quente e muito sensível a mim. Eu passava minha barba por suas fendas, fui penetrando meus dedos nela com calma, estimulando em um movimento lento e quase doloroso de vai e vem, no auge do prazer e do desespero: — Peça, gostosa, o que você quer? — Por favor! Senhor, me faça gozar. Eu enlouqueci, chupei a mulher com vontade, mordi seus seios, aumentei os movimentos com minhas mãos em sua vagina, até que ela gritou, se contorceu, gemeu. Quando eu desamarrei seus tornozelos, coloquei meu preservativo e entrei nela com força total. Estava com uma vontade tremenda de segurar o máximo possível, ela já havia ido ao espaço umas duas vezes, quando eu desamarrei seus pulsos, coloquei-a de quatro e continuei com toda minha fúria. Batia em sua bunda, a penetrava com vontade, ela gemia e pedia mais. A mulher era perfeita, receptiva e

respondia à altura minhas estimulações. Nossa noite durou até quase amanhecer. Eu estava de bem com a vida, então, além de muito sexo, conversamos um pouco. Descobri que ela tinha trinta e cinco anos, morava em São Paulo, era uma empresária do ramo de roupas e sapatos, viúva há cinco anos e decidida a curtir a vida da forma que quisesse. Disse que nunca imaginou que fosse possível receber tanto prazer sendo submissa. Ela me contou, emocionada, que amava muito o marido, que morreu de um ataque fulminante do coração com apenas trinta e dois anos. Era a primeira vez que uma mulher não quis telefone ou marcar um reencontro e eu gostei disto. Com Isadora, a coisa era diferente, ela era decidida, sabia o que queria e não estava desesperada à procura de amor. Encerramos nossa noite no bar do clube como velhos amigos. Voltei para o apartamento de Lucas de táxi, eu tinha ficado com uma chave da porta, pois sabíamos que a noite seria quente e assim ficaríamos despreocupados um com o outro. Percebi que estava sozinho em casa, mas antes de tomar um banho e dormir, preparei uma dose de uísque com gelo e sentei um pouco na sala para relaxar e me lembrar das loucuras da noite. Aquela viagem foi positiva para mim, adorei a experiência no clube. Com certeza, eu iria voltar. Pela manhã, aliás, quase à tarde acordamos felizes e cansados por tudo. Eu fiz um interrogatório a meus amigos sobre a dança da noite passada. Eles me disseram que praticavam juntos Zouk, que era uma dança muito sensual e cheia de energia. Eu fiquei sacaneando Lucas que aquilo não era coisa de homem, mas eles colocaram alguns vídeos dos dois dançando para eu ver e fiquei sem reação diante da intensidade da dança. Realmente, os dois eram muito bons juntos. Infelizmente, eu precisava voltar para Minas Gerais rápido demais. À tarde, meus amigos me levaram ao aeroporto e nos despedimos com a promessa dos dois me visitarem em Belo Horizonte.

***

Minha semana foi corrida, eu já estava cansado do assédio da imprensa. Comecei a fugir dos repórteres e estava louco para que eles achassem uma nova atração para me esquecer. Eu não estava muito satisfeito, pois meu pai tinha dito que me deixaria com casos menores por um tempo, para minha segurança. Deixei claro a ele que não aceitaria nenhum caso que envolvesse Direito de família. Nosso escritório não era especializado em família e sim em crimes hediondos, corrupção e crimes contra o sistema financeiro. Entretanto, meu mundo mudou totalmente na sexta-feira, mais precisamente às treze horas.

Eu estava em minha sala pensando em tirar uns dias de férias, afinal já estava trabalhando direto há um ano e dois meses, aquele tinha sido um ano tumultuado, quando minha secretária entrou em minha sala e disse que tinha uma adolescente chorando e querendo falar comigo. Juro para você, minha cabeça deu uma volta de trezentos e sessenta graus em minha vida tentando me lembrar de alguma mulher que pudesse ter me enganado se passando por maior de idade, mas não me lembrei de ninguém. Pedi a Luana que trouxesse a adolescente e que logo depois nos servisse uma água e um suco de laranja. A menina que entrou em minha sala deveria ter uns treze, no máximo catorze anos. Estava de uniforme escolar, com uma mochila nas costas e o rosto vermelho de tanto chorar. Eu pedi que ela sentasse e esperei até que se acalmasse um pouco. Luana trouxe a água e o suco. Eu pedi à menina que tomasse um pouco de água para se acalmar. Ela tomou e continuou chorando. Eu levantei de minha mesa, sentei ao seu lado e disse: — Tente se acalmar e me conta o que aconteceu. Eu prometo tentar te ajudar. Ela olhou para mim com lindos olhos verdes vermelhos pelas lágrimas e disse: — Doutor Bruno, eu estou matando aula, não vai demorar muito e a escola irá ligar para meu pai dizendo que não estou lá. Eu fugi sem que o porteiro percebesse e corri até aqui. Peguei o endereço deste escritório há quase nove meses, mas só hoje tomei coragem de vir aqui porque eu preciso proteger minha irmãzinha. Em seguida, começou chorar compulsivamente de novo. Eu não estava gostando daquilo, algo me dizia que não ia gostar da história que aquela menina tão nova iria me contar. Meus pelos da nuca já estavam arrepiados e, quando isto acontecia, era sinal de problemas. Mudei a abordagem para ver se tinha mais sucesso. Tentei segurar sua mão, mas ela assustou e puxou rapidamente as mãos, cruzando os braços e ficou balançando. Dei um tempo a ela e, com a voz mais calma e serena que consegui, perguntei: — Vamos com calma, está bom? Como é seu nome? Não é justo, você sabe o meu e eu não sei o seu. Ela fungou e me respondeu: — Meu nome é Maria Clara, mas todos me chamam de Clarinha. Pode me chamar assim também. — Tudo bem, Clarinha. Quantos anos você e sua irmãzinha têm?

— Eu tenho treze anos e minha irmã tem oito. Somos nós duas, não temos mais irmãos. — Muito bem, Clarinha, agora me diz: como me descobriu? Ela sorriu entre lágrimas e, envergonhada, disse: — Eu vi você quando aquela dondoca perdeu a guarda do filho, te achei com cara de bonzinho. Agora eu voltei a te ver em todos os jornais e não sei por que eu achava que podia pedir ajuda. Eu, com cara de bonzinho? Que ironia do destino. Eu sorri para ela e falei: — E você acertou, Clarinha, eu não gosto de ver meninas chorando. Agora que está mais calma, você consegue me contar o que está acontecendo? Ela encolheu um pouco, suspirou e sem me olhar começou a falar: — Sabe, doutor Bruno, eu não aguento mais a minha vida. Estava pensando em me matar, mas não posso. Desde que eu tinha oito anos, meu pai vem abusando de mim. Quando tudo começou, eu não entendia, achava estranho o modo que ele me alisava no banho, me deixava desconfortável, mas ele dizia que era para eu ficar limpinha. Depois ele me colocava na cama e ficava me alisando nos seios. Eu tentava retirar a sua mão, mas ele dizia que eu era sua menininha. Com o tempo as coisas pioraram, ele começou a me alisar e a se tocar. Eu tinha medo de mamãe descobrir, pois ele sempre dizia que eu era uma menina boazinha e se contasse para mamãe ela ficaria triste. Algumas vezes ele dizia que se eu contasse, ninguém ia acreditar em mim, pois ele era um ótimo pai e muito respeitado na igreja. “Minha mãe é médica obstetra e quase sempre tem plantões. Eu e minha irmã ficamos com ele à noite. Papai convenceu mamãe, que era melhor ele cuidar da gente, levar à escola, ao balé, fazer dever de casa, do que trabalhar e deixar a gente com estranhos. Maria trabalha na minha casa durante o dia. O meu drama acontece sempre quando mamãe está no plantão.” “Estes últimos meses foram horríveis, papai me estuprou, disse que toda menina precisa aprender com o pai. Ele sempre usa preservativo, disse que não tem como eu provar. Doutor Bruno, eu tenho nojo de mim, eu me sinto suja. Sei que de alguma forma eu sou culpada, devo ter provocado papai com meus shorts curtos. Eu ia me matar hoje, mas vi meu pai dando banho em minha irmã e fazendo como fazia comigo. O senhor não entende. Eu não posso me matar e deixar aquele monstro destruir minha irmãzinha como fez comigo. Ajuda a gente, por favor!” Eu não sabia o que fazer. Aquela criança contando aquela história suja de um monstro

pervertido me deixou louco. Eu precisava tomar muito cuidado com o que falaria para aquela menina. Ela era uma bomba-relógio. Uma coisa eu tinha certeza: para casa ela não voltaria. Com muita calma, eu olhei para ela e disse: — Clarinha, você veio ao lugar certo. Eu vou te ajudar, mas antes precisa me prometer que esta ideia de se matar está fora de cogitação. Vamos resolver juntos e eu prometo proteger você. Outra coisa que preciso te explicar, linda, você não é culpada de nada, seu pai é doente. Como eu ia dizer para aquela menina que o pai dela era um maldito pervertido, que desgraçou a vida da própria filha? Eu precisava ir por esta linha de que aquele bastardo era doente, para tentar amenizar a dor daquela vítima. Eu precisava pensar rápido. Claro que precisaríamos de uma investigação, mas eu precisava afastar as meninas de casa e iria fazer isto naquele dia. Eu não ia deixar que elas voltassem para casa antes de ter tudo esclarecido. Ela continuava chorando encolhida na cadeira, quando eu perguntei: — Clarinha, eu posso segurar sua mão? — Ela me olhou e estendeu a mão. Eu olhei dentro dos seus olhos e disse: — Fique calma, eu estou aqui e vou te ajudar. Preciso saber, onde sua irmãzinha está agora? — Julinha está na escola. Estudamos à tarde. — Tudo bem. Agora me escute: você irá ficar com Luana, enquanto eu faço algumas ligações. Quero que me prometa que ficará quietinha, ela é minha secretária e de inteira confiança. Vou pedir para providenciar um lanche para você e vocês vão assistir a um filme. Aqui tem uma sala enorme com vários, é só escolher. Ela apertou minha mão e disse: — Obrigada, doutor Bruno. Eu confio em você. Salve minha irmã. — Eu vou salvar vocês duas, Clarinha. Acredite em mim, você ainda vai ser muito feliz. Eu prometo. Ela me deu um sorriso carregado de dúvidas, como se não houvesse mais esperança para ela. Naquela hora eu podia matar um homem daqueles. Eu chamei minha secretária à minha sala e pedi que cuidasse de Clarinha. Assim que as duas saíram, eu desabei em minha cadeira. Meu Deus, como alguém podia fazer aquilo com a própria filha? Peguei o telefone em minha mesa e chamei Leo urgente à minha sala. Ele chegou assustado e me perguntando o que tinha acontecido. Contei a ele tudo que tinha acontecido desde a chegada de Clarinha. Ele também ficou revoltado. O

primeiro passo que tomamos foi fazer contato com a promotora doutora Luciane da vara da infância. Leo me lembrou de que ela era amiga da sua esposa e muito atuante nestas causas. O universo estava conspirando a nosso favor, ela estava na Promotoria e prontamente nos atendeu. Contei tudo por telefone mesmo, precisaríamos ser rápidos. Ela pediu meia hora para tomar algumas providências e entraria em contato. Foram os mais longos trinta minutos da minha vida. Aproveitamos para contar ao meu pai o que estava acontecendo e ele foi primordial na resolução do caso, pois entrou em contato com o seu amigo juiz Vilaça que prontamente expediu uma ordem judicial para que buscássemos a irmã de Clara na escola. A Doutora Luciana me ligou dizendo que o juiz já havia feito contato com ela e que a psicóloga forense estava pronta para ouvir Clarinha e sua irmã. Precisamos organizar com cuidado a retirada de Julinha da escola para que não fosse traumático demais para a criança. Eu, Leo e Clarinha, saímos em direção à escola com o mandato judicial em mãos. O colégio era particular e situado em uma área nobre de Belo Horizonte. Fomos direto à sala da diretora e não foi muito fácil conseguir a liberação da criança. Eu precisei ameaçar chamar força policial, mas Leo ligou para o celular da promotora e pediu que conversasse com a diretora. A conversa deve ter sido bastante assustadora, pois a diretora ficou branca e prontamente atendeu o mandato judicial, inclusive afirmando não falar com o pai das meninas antes da justiça. Fiquei bastante abalado quando vi Julinha. A menina era um anjo, muito novinha, com cabelos loiros cheios de cachos e olhos verdes como os de Clarinha. Ela veio segurando uma boneca de pano e ficou toda feliz quando viu a irmã. Clarinha disse a ela que éramos amigos e íamos dar uma volta em um lugar muito legal. Tínhamos decidido com a promotora, que ela e a psicóloga forense iriam para nossa firma conversar com as irmãs. Combinei com Luana para que comprasse uns doces, sanduíches e sucos para as meninas. Quando chegamos, a promotora e a psicóloga já estavam lá. Minha sala estava colorida com os brinquedos e uma família de bonecos que a psicóloga tinha colocado estrategicamente em um sofá. Eu apresentei minhas amigas à menina que a princípio ficou meio desconfiada, mas como toda criança se distraiu com os brinquedos e os doces. Assim que ela distraiu, a doutora Luciana falou com ela que iria conversar um pouco com Clarinha e já voltava. Eu disse a Julinha que iria comprar sorvetes, ela sorriu animada e me pediu de morango. Saí da minha sala com um nó na garganta. A psicóloga ficou por mais de uma hora na sala com Julinha e a promotora conversou com Clarinha por quase quarenta minutos, eu fiquei junto para registrar todo o depoimento da menina.

Foi horrível ouvir a riqueza de detalhes que ela contou a promotora. Eu havia me sentado um pouco afastado dela com meu notebook, para que ela pudesse falar à vontade. Foi revoltante e em alguns momentos eu cheguei a sentir náuseas do crime hediondo cometido por um sujeito que se intitulava pai. Depois que as duas crianças acabaram seus depoimentos, Luana saiu com elas para lanchar na cozinha que tinha em nosso andar. Eu, meu pai, Leo, a psicóloga e a promotora nos reunimos para decidirmos as próximas providências. A psicóloga relatou que a criança realmente estava sendo abusada, pois demonstrou com a família de bonecos como aconteciam os banhos com o pai, inclusive chegando a colocar a bonequinha que representava uma criança com a boca nos órgãos genitais do boneco que representava o pai dizendo para a psicóloga que assim era amor. Que o papai ensinou. Eu estava me sentindo um touro preso, tamanha minha indignação. Sei que no Direito todos tinham direito à defesa, mas um homem deste não merecia. A parte mais difícil de tudo foi contar para a mãe o que estava acontecendo. A doutora Maria Elisa estava no hospital, quando um oficial de justiça pediu que ela o acompanhasse até nosso escritório. Prontamente, ela atendeu ao pedido sem saber direito do que se tratava, quando chegou à minha sala e a promotora contou a ela tudo o que estava acontecendo, a mulher desmoronou. Enquanto ouvia a história, ela ia se tornando o verdadeiro retrato da dor, as lágrimas iam descendo e quando ouviu o relato da psicóloga chegou a ter uma queda de pressão e quase desmaiou. Eu assistia a tudo penalizado, pois ali estava uma mãe que trabalhava tranquila achando que as filhas estavam seguras com o marido. A médica chorava e dizia sem parar: — Meu Deus, como eu não percebi nada? Por que Clarinha não me contou? Com muito cuidado e carinho, a promotora consolava a mãe e dizia que nestes casos a vítima quase sempre se sentia culpada. A doutora Luciana fez questão de dizer muitas vezes, que era comum também o agressor se passar por uma pessoa normal acima de qualquer suspeita. Aquela situação precisava ser cuidada com muito tato, por se tratar de crianças com cicatrizes profundas e também por ser uma família que precisaria de acompanhamento psicológico por muito tempo. A única coisa que consegui falar foi sobre a forma incisiva que Clarinha afirmou que queria morrer, para que a mãe se atentasse a ela. O encontro da mãe com Clarinha foi algo triste de ver. A menina entrou na sala acuada, com vergonha da mãe, como se ela fosse culpada. A médica levantou e abraçou a filha em prantos, foi a levando em direção ao sofá e a sentou em seu colo. Clarinha começou a chorar e a mãe a embalava chorando junto, dizendo sem parar: “Me perdoa, filha, eu vou cuidar de você”. Todos nós

ficamos emocionados com a cena, meu pai chegou a sair da sala. Eu jurei naquele momento que iria ser promotor e ia atuar nesta causa de violência sexual e maus-tratos a criança e adolescente, eu viveria todos os meus dias para acabar com aquele crime hediondo. Aguardamos até que mãe e filha se acalmassem para que Julinha pudesse entrar. A psicóloga tinha orientado as duas a não chorar em frente à criança, pois para ela ainda era algo confuso e não entendia muito bem o que estava acontecendo. Quando a criança entrou, acho que foi mais difícil ainda porque ela viu a mãe, abriu o maior sorriso do mundo e disse: — Mamãe, você conheceu meus amigos? Que legal. Eu gostei daqui, a tia Luana me deixou comer doce antes do jantar. Tinha brigadeiro e jujuba. Mamãe, você não fica brava, não é? A mãe deu um sorriso sofrido e disse: — Não, meu amor, a mamãe não fica brava. Acho que vou pedir a tia Luana um doce também. A menina veio correndo e pulou no colo da mãe. Nesta hora eu precisei engolir seco, pois minha garganta estava pegando fogo. Eu estava com uma vontade louca de gritar. Naquela mesma tarde, a promotora expediu um mandato de prisão ao pai das crianças. Nós tentamos de tudo para que a mídia ficasse de fora, mas infelizmente eles pareciam abelhas no mel e sempre conseguiam a informação. O caso explodiu na imprensa e, mais uma vez, lá estava eu. Por ordem do juiz, a imprensa não pôde divulgar fotos e tampouco o nome dos membros da família. No mesmo dia, o maldito foi preso e colocado em uma cela isolada, pois os presos têm sua lei da cadeia e estuprador de crianças não tem vez. Infelizmente, a justiça precisa proteger a todos. Sei que sou advogado e não fica bem falando isto, mas naquele momento meu ódio era grande demais. Conseguimos sair do escritório naquele dia tarde da noite. A doutora Maria Elisa preferiu ir para um hotel com as filhas. Disse que ia pedir uma licença do hospital e viajar com as meninas. Falou que iria mudar de Belo Horizonte para Joinville, morar perto de seus pais. Ela estava se sentindo muito culpada e por isto falava o tempo todo em trabalhar menos. Eu fiquei muito chateado de ver o sofrimento e a culpa estampada no rosto daquela mãe de família. Não vou me esquecer da frase que ela disse quando nos despedimos, ela me olhou e falou: — Doutor Bruno, como eu pude ser tão cega e amar um homem que foi o algoz de minhas filhas, meus maiores tesouros? Não vou me perdoar nunca. Obrigada por salvá-las, nós nunca

vamos esquecer o senhor. Eu a abracei e disse: — Doutora Maria Elisa, não se machuque tanto. Cuide de você e de suas filhas. Recomecem com a certeza de que vocês foram as vítimas. E não precisa me agradecer, eu sempre estarei aqui. Dei um beijo na testa de Julinha que estava no colo da mãe e com uma vasilha cheia de doces na mão. Olhei para Clarinha que estava com uma carinha aliviada, me olhando, e dei um forte abraço nela. Ela agradeceu e eu entreguei meu cartão para ela. Disse que sempre que quisesse conversar podia me ligar. Ela deu um sorriso lindo e guardou o cartão. As três saíram acompanhadas pelos seguranças do escritório e se foram para sempre. Voltei para casa e nadei por quase uma hora, precisava esvaziar a cabeça. Eu não tinha condições de sair. Depois de nadar muito, subi para a cobertura e corri uma hora na esteira. Eu estava muito agitado. Depois tomei um banho de banheira, bebi duas taças de vinho e dormi com uma sensação boa de dever cumprido, mas também com uma vontade louca de me envolver nestas causas. Ainda faltavam três anos e meio para tentar a promotoria, mas eu não ia desistir, mesmo sabendo que enfrentaria uma guerra com papai. Porém, era minha vida, meu sonho e eu ia em busca dele com todo meu coração.

Capítulo 10

Bruno, se prepare! O maior problema vem aí!

Bruno

Havia passado seis meses do dia que conheci Clarinha. Eu tinha recebido uma carta cheia de florzinhas e corações desenhados com uma poesia me agradecendo e com foto das duas. Eu não vou mentir, fiquei emocionado com o carinho das meninas. Como a mãe delas falou, estavam morando agora em Joinville, perto dos avós. O pai delas continuava preso, mesmo com todos os pedidos do advogado para que ele ficasse em uma clínica de saúde mental. Minha vida estava em plena ebulição, pois eu comecei a receber várias denúncias anônimas de abusos e violências contra crianças e adolescentes. Eu encaminhava todas ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público. Em algumas eu acabava me envolvendo mais. Minha amiga Aline sempre me ajudava e trocava ideias. Ela estava estudando como louca para a prova da Promotoria. Minha relação com o meu pai não estava nada fácil. Ainda me lembro com tristeza de nossa briga. Aconteceu no domingo após o acontecimento com as meninas. Estávamos todos na sala de casa conversando, quando meu pai disse: — Meu filho, foi muito bonito o que você fez pelas meninas, mas precisamos tomar cuidado para não perdermos o foco de nosso trabalho. Crianças abusadas sempre vão existir. Eu não podia acreditar que estava ouvindo aquilo. Respirei fundo e falei: — Pai, eu não posso acreditar que está falando isto. O senhor mesmo viu, presenciou tudo e,

aliás, nos ajudou muito. Eu nunca vou fechar os olhos para isto. — Filho, não seja radical. Estou dizendo que para isto existe o Ministério Público, o Conselho Tutelar, as delegacias ou até mesmo as escolas. — Pai, é muito difícil ter acesso a estes órgãos. E toda criança que chegar até mim, eu vou tomar providência. — Bruno, você foi maravilhoso no processo com as construtoras e precisa se concentrar em outros, meu filho. Temos agora um processo grande contra sonegação de impostos. Deixa estas causas humanistas para quem gosta delas. — Pai, eu gosto destas causas humanistas. O senhor não entende? — Não, Bruno, eu não entendo. — Pai, é melhor o senhor se conformar. Eu vou ser promotor um dia. — O quê? Não vai mesmo. Não foi para isto que investi em você. Trabalhei a minha vida inteira para deixar tudo para você. É sua herança. — Investiu em mim? Pai, é a minha vida, não pode decidir por mim. Antes que ele continuasse, minha mãe apareceu e falou: — Augusto, pelo amor de Deus! Deixa o Bruno em paz. Ele já é um homem, meu amor, está com vinte e sete anos, não vamos conversar sobre isto agora. — Não, Luiza, vamos conversar agora sim. Não estou gostando desta história de Promotoria. — Papai, é a minha vida. O senhor gostando ou não. Dá licença, eu preciso sair agora. Levantei e saí rápido, não dei tempo dele falar mais nada, aquela conversa me deixou muito irritado. Peguei a chave do carro, saí de casa sem olhar para trás. No elevador, liguei para minha amiga Aline e marcamos de nos encontrar no Shopping Jardins. Eu precisava conversar um pouco. Encontrei-a na praça de alimentação. Minha cara estava péssima, então minha amiga foi logo dizendo: — Uau! O que aconteceu, amigo? Sua cara está péssima. — O mesmo de sempre, Aline. Eu e meu pai não conseguimos nos acertar. Eu disse hoje que quero ser promotor e ele enlouqueceu. Disse que investiu em mim e que eu tenho que cuidar da minha herança. Tudo isto, porque ele veio me dizer que não devo me envolver com crimes sexuais

contra crianças. — Bruno, Bruno. Para que foi falar com seu pai sobre isto agora, amigo? Ainda faltam três anos atuando no Direito para poder fazer a prova. Para que sofrer por antecedência? — Eu sei, Aline, não ia falar nada agora, mas eu perdi a cabeça. Foi isto. Meu pai me deixa louco. — Bruno, é difícil para os pais entender que os filhos crescem. E você, amigo, é filho único, tem um histórico complicado de vida na infância. Seus pais viveram a vida inteira preparando tudo para você. Agradeça, isto é para poucos. — Aline, é claro que agradeço e sei disto, mas é uma carga muito grande. Olha, vamos mudar de assunto. Estou aqui para distrair e você me contar como conheceu o mundo do BDSM. — Este é o Bruno que conheço. E estava estranhando que não tinha me perguntado ainda. Eu dei um sorriso e pedi que falasse. Ela respirou e começou seu relato: — Bruno, há três anos, quando eu fui traída e humilhada, você já conhece esta história, eu fiquei um tempo com muita raiva. Eu já era formada há dois anos e estava cursando uma pósgraduação em sociologia do crime. Comecei a me aprofundar nos livros de Freud e ler muito sobre sexualidade. Neste tempo, digamos que eu estava me vingando de todos os homens do mundo, então eu saía com alguns carinhas e era sempre do meu jeito. Eu dava as ordens, o nome que queria e nunca deixava pistas. Em dois mil e onze eu assisti um filme chamado Um método perigoso e ele mexeu muito comigo, eu senti prazer em ver uma pessoa dominando a outra. Neste mesmo ano, eu, como todas as mulheres do mundo, nos rendemos ao Christian Grey, em Cinquenta Tons, porém, enquanto elas queriam ser a Anastasia, eu queria ser a Helena, eu queria dominar. Foi daí que comecei a estudar tudo sobre a tríade BDSM e aprendi algumas coisas. Eu estava de boca aberta ouvindo tudo. Ela tomou seu suco e continuou: — Bruno, dominar alguém é uma arte. Eu não sei se você entende bem isto, se estudou sobre o assunto ou se somente decidiu sair controlando todo mundo. Posso te dizer que o bom dominador está focado em seu parceiro, é tudo para ele. Nós somos serenos, observadores, conhecemos nosso submisso apenas por um gesto seu ou por seu olhar. Nós não mentimos, não fazemos alarde, somos misteriosos e conhecemos a alma de nosso alvo. Não é só provocar a dor, é extrair o prazer ao seu limite, é descobrir os desejos mais inconscientes de nosso dominado. É castigar com objetivo de libertação, de conduzir nosso submisso à entrega total, sem censuras, sem receios, desnudando sua

essência para que possamos levá-lo aos mais altos voos. Bruno, atualmente, eu estou com um submisso que serve somente a mim. Eu vou a São Paulo quase todos os finais de semana, nós nos entendemos apenas com o olhar. Por enquanto funciona bem para mim, somente dentro do clube, mas não temos outros aqui fora. É um trato nosso. Às vezes, a gente faz algumas seções por webcam, mas é só sexo, Bruno. Ele sabe disto e sabe também que se ele conhecer alguém basta me avisar. É isto, meu amigo. Aquele dia começou muito mal, mas terminou com um papo muito interessante com minha única amiga mulher, que eu não queria na minha cama. Voltando aos dias de hoje, como eu disse antes, as coisas andavam muito complicadas. Há seis meses eu estava sendo advogado voluntário de uma organização não governamental chamada Algodão Doce que cuidava de crianças em situação de risco. Eram crianças que sofreram violência sexual ou doméstica por parte dos pais. Algumas estavam esperando por adoção, outras aguardavam o andamento do processo. Era muito sofrido. Eu conheci o pessoal da instituição uma semana depois de Clarinha e da briga com meu pai. Eles faziam um trabalho lindo, me convidaram para conhecer. Eu fui laçado pelas crianças. Porra, foi muito para meu lado macho alfa aqueles pequenos todos me abraçando e me chamando de tio. Eu dedicava seis horas por semana àquele lugar, meu pai enlouqueceu quando descobriu e queria me obrigar a parar o serviço. Foi outra briga, pois não me atrapalhava em nada ser voluntário. Muitas vezes, eu ia ao sábado ou depois do expediente, papai queria mesmo era me afastar de meu objetivo. Estava cada vez mais difícil conviver com ele, eu não reconhecia meu amigo, meu velho nele. Ele não concordava com nada que eu fazia, andava sempre no telefone conversando com meu tio João Pedro e reclamando de mim. Um dia, eu estava na sala com mamãe quando ouvi o meu pai conversando com titio e convidando meu primo para passar um tempo trabalhando conosco. Ele dizia que talvez assim Pedro colocasse juízo em minha cabeça. Eu vou ser sincero, eu estava pedindo a Deus que meu primo aceitasse, quem sabe assim meu pai esquecia-se de mim um pouco. Ele desligou o telefone, veio para a sala e disse: — Acho que seu primo Pedro virá morar conosco. Eu o convidei, será uma boa experiência para ele que se formou há um ano. Falei com seu tio que abriu processo para mestrado na universidade federal, quem sabe ele não anima? Mamãe olhou para meu pai e disse:

— Augusto, será mesmo muito bom ter a presença de meu sobrinho aqui. Ele é um menino doce e muito responsável, além de ser o melhor amigo do nosso filho. Só quero te pedir uma coisa: deixa o menino seguir o caminho dele, pare com esta mania de resolver a vida de todo mundo. — Ah não, Luiza, já vem você defendendo seu filho. É sempre assim. Eu sou o errado da casa. — Ah, meu velho. Deixa de ser ranzinza e vamos à cozinha me ajudar, vem, preciso de você. Hoje foi folga da Bete e preciso de você, meu amor. Eu fiquei calado vendo minha mãe abraçar meu pai, levando ele para a cozinha resmungando. Era engraçado como mamãe conseguia dobrá-lo. Fui para o meu quarto ligar para meu primo, ver se ele ia aceitar o convite e salvar minha vida com doutor Augusto. A conversa com Pedro foi ótima. Ele estava empolgado em morar em Minas, inclusive já tinha se inscrito para o processo seletivo para o mestrado. Contou que seu pai insistiu para que ele viesse, pois já estava bem e, além disto, seria uma grande experiência para ele. Meu tio era desembargador, após sua doença, preferiu entrar com o processo de aposentadoria e viver para a família. Engraçado como a proximidade da morte faz as pessoas repensarem seu modo de vida, eu sempre via experiências assim com vítimas de acidentes graves. Chegamos a representar algumas delas contra empresas que não queriam pagar indenizações. Meu primo me avisou que dentro de um mês ele estaria desembarcando em Minas para abalar as estruturas da cidade. Pedro era um galinha. Ele e seu amigo Caio não perdoavam ninguém, até meu tio adoecer e o menino mudar totalmente de vida. Largou tudo para cuidar do pai, deixou farra, mulheres e amigos para ser cuidador vinte e quatro horas do meu tio. Eu tinha orgulho dele, não sei se conseguiria fazer o mesmo. Nunca vi um mês demorar tanto para passar, meus dias estavam muito cansativos, pois, para evitar problemas maiores com meu pai, passei a ajudar o pessoal da instituição no sábado pela manhã. Nas noites, durante a semana, eu praticava minha luta, corria, nadava e, às vezes, saía para uma noite de sexo. Nos sábados pela manhã eu saía com destino ao meu trabalho voluntário. Eu não conhecia meus vizinhos, pois era visita em minha casa. Quem ganhava com o trabalho voluntário, era eu. Além do amor das crianças, eu conseguia fazer com que as adoções acontecessem com mais rapidez e que os processos de guarda saíssem mais rápido. Eu contava com o apoio da promotora e do juiz, amigo de papai. Quando meu pai descobria alguma coisa, ele reclamava e eu dizia que não estava comprometendo em nada meus casos na firma. Eu ganhava experiência nas duas áreas, não sei se era sorte ou audácia mesmo, pois tinha quase cem

por cento de vitórias nos tribunais. Meu pai morria de orgulho, mas, ao mesmo tempo, entrava em pânico quando percebia minha dedicação às causas humanistas como ele dizia. Enfim, o dia mais esperado aconteceu em um dia chuvoso. O voo do meu primo chegaria ao aeroporto de Confins no final da tarde, mas por causa das fortes chuvas que caíam nas terras mineiras, atrasou muito. Depois de muito esperar, eu vi meu primo no portão de desembarque, com o maior sorrisão do mundo. Nós nos abraçamos como dois homens apaixonados. Estranho, não é? Mas sou obrigado a confessar: eu amava aquele cara e estava com muita saudade dele. Preciso te contar também que faríamos um estrago com a mulherada, pois tínhamos um tipo privilegiado. Pedro estava empolgadíssimo em tentar o mestrado, em começar a trabalhar conosco e, segundo ele, conhecer as mineiras. Contou também que estava muito feliz, pois seu pai tinha lhe dado de presente dinheiro para comprar um carro e junto com as economias dele, dava para comprar seu carro dos sonhos, um Fusion preto. Minha mãe preparou um jantar para receber meu primo, a noite foi agradável e, graças a Deus, papai estava calmo. Colocamos Pedro por dentro de nossos últimos casos, das frentes de trabalho no qual estávamos envolvidos e também dos riscos que envolvia nossas ações. Papai já adiantou que meu primo deveria também fazer um curso de tiro e solicitar porte de arma. Pedro fingiu que concordou, mas depois me disse que não iria usar uma arma. Eu fiquei rindo, pois ele era mais inteligente que eu. Concordou com papai, mas não iria fazer o que ele mandou. Eu precisava aprender. Naquela semana, eu e Pedro fomos liberados do trabalho para resolvermos a questão do mestrado e a aquisição do seu carro. Ele quase me enlouqueceu para achar o tal veículo, pois queria um Fusion preto, não tinha dinheiro para um zero, mas dava para comprar um carro com dois anos de uso. O problema era que só servia preto. Depois de muito procurar, achamos o tal carro. Acertamos o seguro total e a documentação. Acordamos cedo no sábado, pois ele queria alisar e lustrar seu carro, parecia uma criança. Ele desceu primeiro que eu, quando cheguei à garagem ele estava ouvindo Maluco Beleza, de Raul Seixas, na maior altura. Quando cheguei perto dele, vi que estava com cara de bobo. Eu perguntei: — O que foi, cara? Viu passarinho verde? — Não, eu vi uma guria linda e marrenta aqui. Primeiro eu desci com ela no elevador, dei um bom-dia e ela mal me respondeu. Agora há pouco estava aqui cantando e ela me olhou com raiva,

eu achei engraçado. — Por acaso, é uma baixinha cheia de curvas? — Esta mesmo. Você conhece? — Não, cara. Sei que é a vizinha do sexto andar, mas você me conhece, vizinha é proibida para mim. Mal paro em casa. Não quero problemas com mulher que sabe onde eu moro. — Ainda bem que eu não tenho a mesma regra que você, cara. Eu deixei Pedro alisando seu carro e saí em direção à piscina. Ele ficou rindo e continuou lavando seu carro. Eu podia até estar enganado, mas meu primo ia se enrolar. Naquele dia, à tarde, fizemos um churrasco na cobertura para o povo do escritório conhecê-lo. Como nós não íamos sair à noite, bebemos todas. Acordei no outro dia com uma puta ressaca e descobri que havia exagerado na bebida, pois meu primo estava ótimo e rindo da minha cara. Ele me contou que já tinha nadado e foi ao carro buscar o celular e viu a marrenta com uma amiga, segundo ele muito linda também. Porra, eu mal tinha visto a vizinha, imagina a amiga gata? Naquela semana trabalhamos feito loucos. Eu estava tendo problemas no caso de uma família que estava processando um grande hospital por erro médico que causou a morte de uma criança. Eu estava ficando louco com o corporativismo dos médicos. Pedro precisou se ausentar algumas vezes para resolver questões do mestrado, mas continuava vendo a vizinha pelos cantos do prédio e provocando a mulher. Ele me contava que ela ficava vermelha de raiva quando ele sorria. Eu, para ser sincero, estava achando a mulher louca, mas, afinal, qual mulher não é louca? Ah, desculpe, vai, mas vocês são muito complicadas. Na sexta-feira, nós saímos para a noite. Eu levei Pedro ao pub, mas antes avisei que não marcava encontros, não estabelecia vínculos e não repetia a mulher, nunca. Pedro ficou rindo, dizendo que eu era covarde e tinha medo de mulher. Dei um soco no braço dele e mandei ir delicadamente para aquele lugar. Ficamos no bar conversando com meu amigo e as mulheres começaram a aparecer como formiga no açúcar. Meu primo parecia um Don Juan, sorria e conversava com todas, eu fazia o estilo mal. Não preciso dizer que elas queriam desvendar o motivo do meu silêncio, mas eu estava focado em uma negra linda que estava mais ao fundo do pub, me olhando timidamente. Era aquela que eu queria naquela noite. Depois de muito jogo de sedução e poder, avisei meu primo que não me esperasse para ir embora. Nós tínhamos saído cada um no seu carro, eu tinha uma caminhonete Hilux branca, que eu carinhosamente chamava de minha branquinha. Meu primo estava passando sua lábia em uma

ruiva, eu odiava ruivas, mas ele estava bem animadinho com ela. Eu andei em direção à minha linda deusa de ébano como um predador. Prendi seu olhar ao meu, cheguei perto dela e disse: — Posso descobrir seus pensamentos? — Ela apenas sorriu, então eu disse: — Você está esperando meu convite para sair daqui. Acertei? — Se eu disser que sim, o que ganho com isto? — Hoje eu quero você, minha deusa. Não aceito sua recusa. Quero você suada e ofegante em minha cama. Descobrirei seus segredos e desejos, fazendo você gozar e implorar por mais. — Você é sempre tão direto assim? — Sempre. Comigo não existe meias palavras. É simples: ou você quer ou não. Se não aceitar eu vou lamentar, mas se quiser ser minha esta noite, não irá se arrepender. — E se eu quiser mais de uma noite? — Sinto muito, linda, você não terá. Comigo é assim, eu serei seu por esta noite apenas. Este era o momento fatal, ou sairia dali com aquela delícia ou ia embora para casa com um fodido de um tesão reprimido. Ainda de pé, eu estendi a mão para ela, que pensou, pensou e aceitou. A noite seria quente! Fomos para o meu motel preferido, durante o percurso eu ia alisando aquelas belas coxas grossas, avançando por debaixo da minissaia que ela usava. Naquela noite eu não ia usar chicotes, vendas, muito menos palavra de segurança. Seria uma noite selvagem, seguindo somente nossos desejos. Quando chegamos à suíte, antes de abrir a porta, eu a empurrei de frente para a porta e amassei aquela bunda linda, mordi seu pescoço e falei em seu ouvido que eu gostava da coisa muito quente, ela gemeu e disse que gostava fervendo. Dei um tapa com vontade em sua bunda dura e ela rebolou para mim, foi o sinal para mais alguns tapas. Entramos na suíte, enroscados um ao outro, eu a abraçava, mordia, arranquei sua saia, sua blusinha, ela estava com um delicioso fio dental branco que realçava sua cor maravilhosa. Eu lambi aquela mulher toda, mordi seus seios, a chupei com vontade, ela delirava, gozava e pedia mais. Eu fui à loucura quando ela me pediu para comer sua bunda. Eu coloquei um preservativo, coloquei a mulher de quatro e a penetrei devagar para que ela acostumasse, mas ela rebolava desenfreadamente, então eu entrei nela com toda a força que meu desejo pedia. Foi alucinante, a mulher era quente e insaciável, transamos umas quatro vezes. Eu a deixei em casa quase de manhã, ela estava feliz e realizada. Eu dei um

beijo voraz em sua boca e disse: — Durma com os anjos, minha deusa. Esperei ela entrar, coloquei minha música destes momentos e saí em direção à minha casa. Era mais uma noite de sexo quente, maravilhoso, de uma boa companhia e de liberdade. Sem amarras, sem promessas, somente uma noite e nada mais.

***

Já fazia um mês que meu primo havia chegado, o trabalho parecia aumentar a cada dia, meu pai ainda estava sob o efeito de Pedro e me dando paz. Ele e a vizinha continuavam naquele jogo de gato e rato. Eu já tinha visto a tal amiga gata, que realmente era muito linda, mas amiga da vizinha, sem chance. Tudo aconteceu rápido demais, eu e Pedro estávamos descendo para mais uma sexta-feira de trabalho, quando ele parou perto das duas que estavam embaixo do prédio e disse: — Então, estava pensando senão deveríamos sair os quatro juntos para uma pizza, o que acha, guria? A menina ficou muda, com cara de boba, quando a amiga gostosa respondeu: — Claro que aceitamos, não é, Valentina? A menina que agora eu sabia o nome continuou muda e meu primo arrematou: — Acho que sua amiga concorda, não é, linda? Então fica assim, eu e meu primo viremos buscar vocês, às vinte horas. Até mais tarde, guria. Porra, meu primo era foda. Como ele marca encontro assim com a vizinha e a amiga? Eu sentia cheiro de problemas aí. Era perto demais da minha casa e isto não ia prestar. Entramos no carro e eu disse: — Porra, Pedro, logo a vizinha, cara? — Qual é, Bruno? Esta regra de vizinha é limite rígido é sua não minha. Desde que cheguei, esta mulher me olha com cara de raiva, eu quero descobrir qual o problema dela. E você, basta segurar sua calça fechada e só conversar com a loura gostosa.

— É claro que eu vou só conversar, mas ela tem um carinha de sacana que é uma delícia. Aposto que seria uma ótima submissa, mas esquece. Minha filosofia de vida não permite. Ela sabe meu endereço, quem sou eu, limite rígido, só mesmo um bom papo. Meu primo ficou rindo e eu estava sentindo os pelos da minha nuca arrepiar. Isto não era bom sinal. Que merda, viu? Ah, vamos lá, é só uma pizza inofensiva e nada mais.

Capítulo 11

O grande encontro

Bruno Meu primo me infernizou o dia inteiro, me sacaneando que eu estava com medo de uma simples pizza com a vizinha e a loira gostosa. Claro que não era medo, mas era perto demais de casa e eu preferia não misturar vizinhança com prazer. Depois de um dia de trabalho cansativo, nos arrumamos para a noite que Pedro inventou. Meu primo parecia um adolescente no primeiro encontro e eu fiquei o provocando, até ele me dar um soco no braço. Descemos e chamamos as meninas por interfone. Pedro me convenceu a irmos os quatro em seu carro. Meu primo ficou deslumbrado quando viu a moreninha dele com uma sainha preta curta e uma blusinha. A amiga gostosa não deixou a desejar, a mulher era uma deusa, loira, com um corpo com tudo no lugar, pernas longas que faziam meu amigão saltar, tudo isto dentro de um minúsculo vestido preto. Porra, eu tentei me concentrar para não começar a imaginar demais, pois não podia ficar com ela de jeito nenhum. No máximo seríamos amigos. A minha vizinha era tímida, já a loira parecia não ter nenhuma veia de timidez. Ela me deu um sorrisão e falou: — Prazer! Sou Marcela, a melhor amiga da Valentina. E vocês? Tem nomes? Eu dei um sorriso a ela e respondi: — Claro que sim. Eu sou Bruno Fernandes, o mais bonito dos primos, e este aqui é Pedro Fernandes, o mais feio. Meu primo jogou seu charme fazendo cara de cachorro abandonado e entramos em seu

carro. Eu e a loira sentamos atrás e meu primo romântico e apaixonado colocou Pink Floyd para tocar. Nós fomos conversando atrás sobre vários assuntos ao mesmo tempo. Escolhemos uma pizzaria que ficava próxima à Pampulha, um lugar muito bonito e com excelentes pizzas. Assim que chegamos, Pedro foi logo escolhendo uma mesa aconchegante, mais afastada. Era a sua cara, sempre previsível. Eu estava começando a ficar preocupado com a enrascada que ele havia me metido. Não deveria ter aceitado, mas ali estava eu sentado com eles e vendo meu primo babar e secar a gostosa. Ele estava se derretendo para ela, eu estava ficando meio sem jeito com a loira, então resolvi usar meu humor ácido: — Pedro ataca de Don Juan de Marco, este é meu primo, o cara. Pedro me deu um soco no braço e disse que não tinha medo de tourinho bravo. As meninas começaram a rir e o ambiente acabou descontraindo para mim. Fui obrigado a contar que minha mãe me chamava assim quando era criança. Pedro deu a ficha completa: falou dele, sua idade, o que fazia e eu acabei falando também um pouco, mas muito pouco mesmo de mim. Só falei do escritório e do trabalho. Não era como meu primo que falou quase sua vida inteira para a mulher. Ele estava deslumbrado com o mistério da menina, eu via em seu olhar hipnotizado. Eu estava ficando desconfortável com aquele clima de romance, quando o infeliz pegou a mão dela e sumiu para a área externa da pizzaria. Eu não sei o que estava acontecendo comigo, mas fiquei sem ação e sem assunto olhando para a Marcela. Ela ficou me olhando e, de repente, começou a rir. Qual era a daquela mulher? Ela era louca? Eu ia perguntar, mas ela foi mais rápida: — Bonitão você precisava ver sua cara de desespero. Hilária. Fica calmo, lindo, eu não mordo e não estou à caça, pode ficar tranquilo. Já saquei que seu primo está revirando um quarteirão pela minha amiga e que também te colocou nesta. Porra, a mulher era direta, eu precisava reagir: — Não me leve a mal, Marcela. Eu não estou desesperado, só estou cansado, trabalhei demais esta semana. — Que merda é esta que falei? Tentei melhorar dizendo: — Me fale de você, o que gosta de fazer? — Gosto de fazer muitas coisas, mas o que mais amo é dançar. Sou bailarina de dança contemporânea. Faço universidade de Marketing e gosto de curtir a vida perigosamente — ela falou isto e piscou para mim. Ahhh, gostosa, dois podem jogar este jogo. — Você não tem cara de quem conhece o perigo, linda. Eu posso te dizer isto por experiência própria.

— Posso te garantir que conheço, bonitão. Viver a vida perigosamente é minha especialidade. Basta você conversar meia hora com minha mãe e ela te conta todas as minhas loucuras. — Eu prefiro ouvir de você, Nyx. Sim, apelido perfeito para você. — Como eu já disse antes, eu adoro a história dos deuses na mitologia grega e Nyx era filha do Caos, a personificação da escuridão, da noite, e não sei por que, lembrei-me dela. Marcela deu um sorriso desafiador e disse: — Obrigada pelo apelido, me deixa envaidecida saber que se lembrou da deusa da escuridão, que ora simboliza a beleza da noite, ora simboliza a crueldade da escuridão. Agora quanto a você, não sei se te chamo de Poseidon, Zeus ou Dionísio? Apesar de achar que Dionísio é perfeito para você. O deus do prazer, das orgias e do poder embriagador do vinho. Eu fiquei pasmo. A mulher era uma caixinha de surpresas, será que tinha alguma coisa que não soubesse. Fiz um brinde a ela. — Uau! Não imaginava conhecer uma mulher que gostasse da mitologia grega como eu. — Eu amo fábulas de deuses da mitologia grega. Desde criança era atraída pelo poder destes seres mágicos. Era meu passatempo favorito, quando estava dentro do meu guarda-roupa querendo fugir do mundo. — E por que uma menininha queria fugir do mundo? Ela me olhou com dor no olhar, mas mentiu descaradamente: — Porque esta sempre foi minha natureza, fugir das coisas que o mundo te obriga a conviver. Pensei em insistir, mas preferi não forçar a barra, a gente mal se conhecia. — Marcela, me fala da sua dança. Quando começou a dançar? Ela deu um sorriso diabólico e disse: — Em um pega, ou melhor, uma corrida de carros na Avenida Afonso Penna, aos dezoito anos. Ela me disse isto com a maior cara de levada e ficou sorrindo com seus lábios na borda do copo. Este singelo movimento de levar o copo à boca acordou meu tourão com toda força. Eu precisei mudar de posição na cadeira, pois a minha calça começou a me incomodar. Eu não estava gostando desta reação dele. Eu não acredito que esta maluca estava colocando a vida em risco em um racha. E o que isto tinha a ver com sua dança?

— Como assim? Em uma corrida de carros? — Bruno, digamos que eu era uma garota rebelde. Quer dizer, às vezes, ainda sou. Bom, eu tinha dezoito anos e estava em um momento aventura. Meus amigos loucos de pedra como eu me desafiaram para uma corrida de madrugada na avenida. Claro que eu não ia aceitar ser desafiada por meninos babões e lá fui eu para a corrida. A noite seria perfeita, se não fôssemos todos presos. A polícia apareceu e nos levou. Eu me ferrei mais que os meninos, pois para meu azar eu era a única maior de idade. O delegado me deixou ligar para minha mãe antes de me prender e ela pediu ajuda a um advogado, amigo da mãe de Valentina. O advogado era um pé no saco, me livrou da cadeia, mas me obrigou a uma pena alternativa. Mandou-me ser faxineira em uma escola de dança. Claro, a princípio eu não aceitei, mas ele foi durão e disse que ou eu fazia a limpeza por seis meses ou ia me prender. Foi assim que conheci a dança e nunca mais saí de lá. Estou há quase quatro anos na mesma academia. Entendeu? Eu não podia acreditar, ela era a menina que meu pai falou quando eu estava no hospital em Nova Iorque, comecei a rir e ela disse: — Você está rindo de quê? Posso saber? — E se eu te contar, Loira Rebelde, que o advogado “pé no saco” é meu pai? O próprio doutor Augusto Fernandes. — O quê? Claro! Como eu não liguei o seu sobrenome àquele advogado durão? Eu senti ódio dele por muito tempo, até me apaixonar pela dança e ficar grata a ele. Meu Deus, que mundo pequeno! — Meu pai me contou indignado seu pequeno ato de irresponsabilidade na época, me fazendo jurar que não faria isto. Eu lembro que disse a ele que esta aventura era para os fracos, que se eu quisesse uma aventura iria pular de paraquedas — eu disse isto e caí na risada, ela me deu um tapa na mão e disse: — Para os fracos? Quero ver você ser forte e me derrubar na tequila. Eu te desafio, tourão. O que aquela diaba estava me desafiando? Antes mesmo de pensar respondi: — Desafio aceito, senhorita Rebelde. Amanhã, vamos a uma boate que tem a melhor tequila de Belo Horizonte. — Sem problemas, tourão, vou fazer você virar um gatinho de tão bêbado que vai ficar.

Antes que eu pudesse responder, meu primo chegou de mãos dadas com a vizinha. Caramba, ele era mesmo rápido no gatilho. Eu olhei para os dois no maior clima e disse: — Nossa! Você é rápido, primo, não dorme em serviço. Com esta cara de bom menino, não perde tempo. E depois mamãe fala que eu deveria ser tranquilo como você. Ai, ai, dona Luiza não sabe de nada. Rindo, Pedro respondeu: — Vá se ferrar, Bruno, não enche meu saco. As meninas ficaram rindo de nossa troca de insultos amorosos e terminamos a noite com um papo agradável. Pedro contando das belezas de Florianópolis e nós três tentando disputar com as belezas de Minas Gerais. Depois de deixarmos as meninas em casa, nós fomos para o terceiro andar da cobertura tomar um uísque e conversar. Eu estava começando a me arrepender da merda que tinha feito. Como agi no impulso e aceitei ir a uma boate com a mulher? Que merda, isto não ia prestar. Eu estava preocupado com minha filosofia de vida, uma vez e nada mais. Porém, eu não tinha ido para a cama com a diaba deusa da escuridão e tampouco estava nos meus planos levá-la lugar nenhum. Estávamos sentados, perdidos em pensamento, quando Pedro me disse: — Bruno, eu vou te contar uma coisa e você vai me achar louco. — O que, Pedro? Vai falar que está caído pela morena? Se for isto, não perca seu tempo, eu já percebi. — Porra, primo, está tão na cara assim? — Pedro você passou a noite toda seduzindo a mulher, com olhar de bobo apaixonado e ainda voltaram de mãos dadas. Ah, primo, pelo amor de Deus, mulherzinha demais para mim. — Bruno vai se foder cara. Não vou mentir, a mulher mexeu comigo desde o começo, quando me olhava com cara de ódio. Eu queria desafiá-la, deixá-la mais nervosa ainda e ela ficava linda nervosinha. A pequena é brava e quente. — Ah, isto é verdade, a moreninha é deliciosa. — Pedro me deu um empurrão que eu quase caí da cadeira. — Porra, está doido, quase me derrubou. Pode deixar, não falo mais da morena gostosa. Fiquei rindo e ele disse:

— E a loira? Tem cara de perigosa, viu? Você não deu o bote? — Claro que não. Já te disse que não me meto com mulher da vizinhança. E ela, pelo jeito, vive aqui com Valentina. Já cometi a burrada de aceitar uma aposta maluca. Ela me desafiou na tequila, disse que me derruba e você me conhece, ninguém me desafia assim. Então, amanhã vou levar a maluca para a boate, dançar, beber e só. Entendeu? Só isto e mais nada. Pedro começou a rir. — Para de besteira, cara. De onde tirou isto? Já te falei um milhão de vezes, esquece o que aconteceu, não são todas as mulheres, que são bandidas como a Mercedes. Eu fiquei com ódio de ouvir o nome dela, levantei com raiva da cadeira e disse: — Pedro, eu te amo, cara, como um irmão. Vou te pedir um favor, esquece esta filha da puta, não fala mais o nome dela. E eu te proíbo de contar esta história para a Valentina. Este é o meu passado que está enterrado. Você e ninguém tem o direito de desenterrar. Só eu sei o que vivi. Agora vou dormir, porque este papo já deu. Boa noite. Desci para o meu quarto com muita raiva. Como as pessoas insistiam em falar daquela mulher. Era difícil entender que eu não queria me envolver com ninguém? Estava bom assim para mim, eu consegui dar a volta por cima com a minha filosofia de vida e ia continuar assim. Arrependi mortalmente de cair na aposta daquela maluca, ela me enrolou direitinho. Não tinha problema, eu iria encarar a noite como uma farra entre amigos, afinal íamos sair para beber e nada mais. Tomei um banho morno para acalmar os nervos e fui dormir.

Eu estava sozinho, desesperado e preso em uma névoa. Ouvia uma música linda, Everything, de Lifehouse, tocando, eu estava perdido e indo em direção a uma luz fraca que estava distante. Eu conseguia ver a silhueta de uma mulher linda dançando. Ela estava com um vestido branco esvoaçante, cabelos longos loiros, ela me atraía como um imã. Seu corpo era leve e ela dançava flutuando, sem encostar os pés no chão. Eu tentava me aproximar, mas eu estava envolvido por uma névoa escura, densa, e a luz emanava dela. Sentia que eu precisava da sua luz para respirar, mas sentia dores pelo corpo, eu estava acorrentado e sedento pela libertação. Com toda a força que tinha em meu corpo, consegui me soltar das amarras e correr em sua direção. Quanto mais eu corria, mais ela se afastava. Em meu desespero e medo, estendi minhas mãos a ela e implorei que me salvasse da escuridão. Ela veio dançando, flutuando até onde eu estava, cada vez que se aproximava meu coração disparava, não conseguia ver seu rosto, mas ela era forte e me dava esperança. Quando estava chegando, eu

comecei lembrar-me dela de algum lugar e assim que estendeu a mão, ouvi a risada mais maquiavélica do mundo e era ela: Mercedes! Acordei assustado com minha mãe me sacudindo. Meu primo também estava no quarto com cara de sono e espanto. Sem entender nada, ouvi mamãe dizendo: — Meu filho, acorda. Você está tendo um pesadelo. Bruno, sou eu, sua mãe. Olhei para ela meio em estado de choque. Quando me lembrei do sonho, da sensação, senti que meu corpo ainda doía e estava pesado. Meu coração estava quase saindo pela boca, tentei me controlar e falei: — Desculpe, mamãe, acho que era mesmo um pesadelo. — Estava sonhando com o que, meu filho? Parecia desesperado e se batia. — Não sei, mamãe, não faço a menor ideia. Não me lembro de nada. Só de uma sensação ruim — menti. Pedro me olhava meio desconfiado, mas eu não encarei meu primo. — Mamãe e Pedro, vão dormir. Desculpe por ter acordado vocês. Minha mãe me beijou e meu primo disse que se precisasse era só chamar. Assim que eles saíram do meu quarto, levantei com um sentimento de ódio que não cabia dentro do meu coração, era demais para mim. Fui para a pequena academia que tínhamos em casa e corri por umas duas horas na esteira. Eu levei meu corpo ao limite máximo; depois, como uma fera enjaulada, eu soquei o saco de luta até arrancar sangue da minha mão. Quando não aguentava mais, caí de joelhos no chão e sufoquei um grito que queria sair da minha alma quebrada. Só eu conhecia o que ia ao meu coração totalmente quebrado para o amor. Voltei para meu quarto, com uma garrafa de uísque. Eu precisava anestesiar minha alma, meu corpo e meu coração aflito. Eu não conseguia entender por que aquela mulher conseguia me assombrar assim. Coloquei um fone de ouvido no último volume com minha música Snuff programada para repetir e bebi toda a garrafa até desmaiar. Acordei naquele sábado, às quinze horas, com uma dor de cabeça daquelas e com a mão arrebentada, com sangue seco. Tomei um banho, cuidei do ferimento e tomei um remédio. Eu tinha dado meu telefone para a loira e tinha uma mensagem dela no meu celular dizendo que a aposta estava de pé. Disse que se eu a derrubasse aceitava pular de paraquedas comigo, mas se ela ganhasse eu teria que fazer rapel com ela. A mulher realmente gostava de uma aventura, pensei em ligar e desmarcar, dizendo que estava passando mal. Porém, meu lado macho alfa não me

deixava ser tão covarde assim. Eu prometi para mim mesmo que não seria nada de mais. Marcela seria apenas uma amiga, assim como Aline. Uma amiga e nada mais.

Capítulo 12

Que homem!

Marcela

Quando aqueles dois homens lindos nos chamaram para sair, se eu não pulasse na frente e aceitasse, minha amiga ia negar. Tenho certeza de que ela não teria coragem de sair com aquele Deus do Olimpo, mas eu nunca ia deixar passar uma oportunidade daquela, até porque eu sabia que a maluca estava apaixonada por aquele delicioso, só não sabia ainda. Valentina já tinha me falado do primo gostoso, mas não foi honesta com a beleza dele, aquele homem não era simplesmente gostoso, era nitroglicerina pura, pronto para fazer o maior estrago com qualquer mulher. Saímos os quatro juntos para uma pizzaria. Quando minha amiga sumiu com o bonitão para a área externa, eu fiquei sozinha com ele. No começo foi muito engraçado, o delicioso ficou com uma expressão de pavor, parecia que eu ia pular nele a qualquer momento. Conversamos muito e o papo aconteceu fácil, Bruno era engraçado e cheio de mistério. Uma hora estava descontraído e, ao mesmo tempo, se fechava. Outro momento ímpar foi quando me chamou pelo nome da deusa da escuridão, Nyx. Ele pensou que eu não sabia o que era. Foi uma delícia mostrar-lhe que loira não era burra, que isto era coisa de gente preconceituosa e invejosa. Adorei desafiá-lo na tequila, ele estava se achando muito foda. Precisava mostrar que eu não era uma donzela indefesa à procura desesperada de um herói para me salvar. Apesar de que a gente podia negociar uma boa noite de sexo, porque ele realmente valeria a pena. Quando minha

amiga voltou para a mesa, conversamos sobre várias coisas, mas o que mais nos divertiu foi falar dos pontos turísticos de nossa cidade. No caminho de volta, o clima do carro era de silêncio, estávamos envolvidos na música I don’t want to miss a thing, de Aerosmith, e perdidos em nossos pensamentos. Eu ia dormir na casa da Valentina. Assim que entramos em seu quarto fui logo perguntando: — Desembucha, dona Valentina. E aquele papinho de ele me irrita, arrogante e blá-blá-blá. Mudou de ideia? — Pode parar, Marcela. Não quero falar sobre isto. — Ah, mas você vai falar, nem que eu precise te torturar, mocinha. Valentina me contou sua aventura com o gostosão, eu estava segurando o riso, pois estava louca para provocá-la. Com uma carinha romântica, olhinhos apaixonados, ela disse: — Olha, amiga, sinceramente não sei se consigo explicar. Só sei que ele me mostrou a lua e quando me assustei já estava me beijando. E aí aconteceu, eu pirei. Marcela, ele beija tão bem... e ele é todo gostoso, lindo e fala manso. Estou perdida. Eu comecei a rir feito uma louca. Ela pulou em cima de mim batendo de leve até eu pedir arrego. Perdemos o fôlego de tanto rir. Até que eu disse: — Valentina, não me bate, mas eu já tinha cantado esta pedra para você. Este papo de raiva e tudo mais era outra coisa. Calma, não me bate. Amiga, viva o momento e aproveita aquele gato. Eu vou dançar com o Bruno amanhã, vamos a uma boate lá na Savassi. Eu o desafiei na tequila. Quer ir com a gente? — Amanhã vou jantar com Pedro, depois quem sabe nos encontramos. — Você não me contou esta parte do jantar. Como assim? Não ia me contar? — Tá, Marcela, eu e o Pedro vamos jantar amanhã. Satisfeita? Agora vamos dormir, estou cansada. Deitei e fiquei rindo sozinha da minha amiga. Fiquei quietinha na cama, pensando no tourinho bravo da mamãe, mas que para mim era um tourão perigoso. Eu tinha certeza de que eu ia derrubá-lo na tequila, não sei como, mas já consegui derrubar muito homem dez vezes maior que eu. Estava perdida em pensamentos, quando vi minha amiga revirando na cama pela milésima vez. Eu me sentei e perguntei a ela o que estava acontecendo. Ela acendeu a luz do abajur, me olhou

desanimada e disse: — Marcela, eu estou com medo. Estou sentindo uma angústia aqui no meu peito e acho que tem a ver com o Pedro. Será que estou ficando louca, amiga? — Valentina, não está louca não, minha irmã. Eu acho que este sentimento tem a ver com a morte precoce do seu pai. Ele morreu muito novo, com apenas quarenta e quatro anos, vocês eram muito novos e você acompanhou todo o sofrimento da sua mãe. Então, minha teoria é de que você tem medo de amar alguém e perder. Fica tranquila, não pira não. Eu sempre achei que você deveria procurar uma psicóloga e fazer uma terapia. — Eu prometo que vou pensar nisto. Vamos dormir agora, por favor. E obrigada, minha amiga. Depois de alguns minutos percebi que ela conseguiu dormir. Eu virei para o canto e adormeci pensando no homem quente da noite. Eu estava perdida em uma praia deserta. Ao longe várias gaivotas voavam sobre as águas, próximas a um despenhadeiro. Algo despertou minha curiosidade, pois em cima da pedra eu vi um homem com uma aparência triste, muito próximo à beirada. Eu comecei a correr em direção a ele, porque eu tinha certeza de que ele ia pular. Quanto mais eu corria, mais longe ficava. Eu estava desesperada, querendo salvar aquele homem. Quando me aproximei gritei o mais alto que podia para ele olhar para mim. Assim que me olhou, levei o maior susto, ele não tinha rosto. Acordei assustada, com o coração disparado. Ao meu lado, Valentina dormia como um anjo. Eu olhei no relógio e vi que ainda era de madrugada, eu mal havia dormido. Levantei em silêncio e fui à cozinha tomar um copo de água. Na volta fiquei na sacada do apartamento, ouvindo Dust in the Wind em meu fone, vendo a noite e tentando decifrar meu sonho. Nunca tinha sonhado algo tão estranho e perturbador. Depois de acalmar meu coração, voltei para a cama e dormi o resto da noite, sem sonhos.

Pela manhã fui para minha casa, precisava ajudar mamãe, pois sábado era dia de entregar encomendas e o movimento era grande. Conseguimos fechar a loja quase às quinze horas. Eu sabia que minha amiga tinha ido a um salão próximo a minha casa, então fui para lá me encontrar com ela e fazer uma escova em meu cabelo. O final de tarde foi maravilhoso. Fiz muita bagunça com a mulherada, falei muito putaria e rimos muito. Saímos lindas do salão e prontas para arrasar na noite. Antes de ir para minha casa, eu dei uns conselhos para Valentina não ser tão amarrada e

se soltar com o catarinense de voz de mel. Nossa! Só a voz do homem já causava um orgasmo. Minha noite prometia, eu estava muito mal-intencionada. Não passou pela sua cabeça nem mesmo uma vez que eu iria mesmo só beber tequilas, não é? Claro, com toda certeza do mundo, que eu ia me aproveitar daquele belo exemplar. Um touro puro sangue, garanhão, próprio para a reprodução. Uau! Só de pensar sentia meu centro reagir. A noite ia ser quente, pode apostar.

***

Eu estava pronta e um pouco ansiosa. Coloquei um vestido para matar, tinha um tecido fino, com um brilho discreto de cor vermelho sangue. Ele deixava meu corpo perfeito, era curto e valorizava minhas pernas. Nas costas ele tinha um decote que ia até quase o meu cofrinho. Sentiame poderosa, cheia de vontade de uma boa pegada, aquele touro que me esperasse. Estava em devaneios dando os últimos retoques em minha maquiagem, quando ouvi meu interfone tocar. Meu coração quase saiu pela boca, coloquei mais um pouco de perfume e desci. Meu Deus! Eu ia direto para o Paraíso. O homem estava um verdadeiro deus do prazer, da luxúria e do pecado. Vestido todo de preto, com uma camisa de tecido fino, que cobria perfeitamente seu abdômen trabalhado e com o cabelo totalmente rebelde que dava a ele um ar de bad boy. Com certeza, eu terminaria esta noite na cama daquele touro, ele cairia no meu laço, na minha arena. Dei o melhor sorriso sedutor para ele, que me conduziu a parte de trás do carro. Como íamos beber todas, ele decidiu que seria melhor optar pelo táxi. Assim que sentamos, ele olhou para mim, deu um sorriso lindo e disse: — Vamos lá, menina rebelde, quero ver seu poder para me derrubar na tequila. A noite nos espera.

Capítulo 13

Tequilas

Bruno

Resolvi buscar a menina rebelde de táxi, pois íamos beber todas e era melhor não arriscar. Você pode me achar um louco ou um babaca, mas te garanto que sou responsável com minha vida e com a dos outros. Toquei o interfone e esperei a loira descer. Quando ela desceu eu precisei controlar meu amigo, ele queria entrar em modo de combate, mas eu não podia deixar. Porra, a mulher estava uma delícia, mas precisava lembrar-me de que ela era amiga da vizinha e significava perigo. Ajudei-a entrar no carro, dei um sorriso sacana e disse: — Vamos lá, menina rebelde, quero ver seu poder para me derrubar na tequila. A noite nos espera. Levei a menina à boate que eu mais amava na Savassi. Eu tinha uma área VIP que fazia questão de manter como mensalista, adorava este pequeno conforto. Quando viu o tamanho da fila, ela ficou desanimada, adorei ver sua expressão. Cheguei pertinho do ouvido dela e falei: — Fica calma, rebelde, você está com Bruno Fernandes. Segurei sua mão e saí puxando no meio da multidão. Aproximei-me do meu amigo Montanha, o segurança, que liberou a entrada. O som estava alucinante, tocava Don’t You Worry Child, de John Martin. Ela subiu dançando e rebolando na minha frente, eu juro que tentei não olhar para a sua bunda, mas falhei consideravelmente.

Minha mesa ficava estrategicamente posicionada em um canto confortável e favorável ao ataque, mas naquele dia eu não ia atacar ninguém. Sentamos e fui logo dizendo: — Vamos começar em uma melhor de três, menina rebelde? Quero ver seu poder na tequila. — Estou dentro, tourão. Vou te deixar miando como um gatinho. Pedi ao garçom que nos trouxesse duas tequilas e alguns tira-gostos. Os olhos da loira brilhavam, ela tinha um sorriso inocente de criança e um olhar sedutor de mulher. Perigo puro, eu precisava ficar atento e segurar os anseios do meu amigo que ficava entre as minhas pernas, pois ele estava doido para dominar a situação. Para tentar distrair um pouco, perguntei a ela sobre o negócio de sua mãe. Ela deu um sorriso lindo e disse: — Minha mãe é uma bruxa do sabor. Tem mãos de fada, faz receitas mágicas e misteriosas das feiticeiras. Ela me criou com seus doces, bolos e quitutes. Nós temos uma delicatessen, Feitiço do Sabor. Hoje minha mãe é famosa e cheia de clientes fiéis. Ela dá cursos também de bolos confeitados e doces para festa. Dona Laura trabalha muito. — De repente, Marcela deu um grito: — BRUNO, EU AMO ESTA MÚSICA! VAMOS DANÇAR, TOURÃO. Antes mesmo de pensar fui arrastado por uma loira enlouquecida por Rihanna, We Found Love, dançando como uma deusa à minha frente e me levando para o meio da pista. A mulher dançava como uma pluma, linda e radiante. Ela bailava, cantava, pulava e me abraçava. Sua dança era muito quente e uns babacas estavam babando nela toda sensual. Qual era a deles? A mulher estava acompanhada. Não pensei duas vezes e passei os braços em volta de sua cintura. E pensar que só havíamos tomado uma tequila. Depois que ela dançou umas quatro músicas, saiu me puxando para a mesa. A mulher era um verdadeiro terremoto, não cansava, tomava as decisões e antes mesmo que eu pudesse pensar, já estava me levando. Se meu objetivo fosse outro eu nunca ia deixar ela me arrastar assim, mas ali éramos dois amigos curtindo a noite. Só isto e mais nada, que fique muito claro para você. Não adianta revirar os olhos, era isto mesmo, amigos. Como dois caras curtindo a noite alucinadamente. Sentamos à mesa e tomamos mais dois shots. A loira estava com a bochecha vermelha e com um brilho no olhar. Ela chupou o limão e meu amigão deu um salto. Porra, ele não queria me ajudar. A maldita passou a língua nos lábios e lambeu os dedos que estavam sujos com limão. Olhou para mim e disse: — Fico imaginando como você deve ser gostoso em uma audiência. — Eu sorri e ela continuou: — Imagino o juiz todo-poderoso sentado em sua cadeira cheia de classe e você de terno preto,

com cara de mau e acabando com o pobre coitado do réu. Nossa! Excitante. — Minha menina rebelde, eu posso garantir que não tem este glamour todo e que o réu não tem nada de pobrezinho. Mesmo com meu pai não gostando muito, eu escolho minhas brigas. Não aceito ser advogado de qualquer caso, principalmente se for contra o que acredito. Ela me deu um sorriso de molhar a cueca e disse: — E em que você acredita, tourão? — Não gosto de injustiça, loira. De nenhum tipo. Ela olhou para mim com cara desafiadora e disse: — Não conheço nenhum advogado justo, Bruno. Alguém sempre será injustiçado nos tribunais. — Marcela, nos casos em que eu estiver não. Eu abomino injustiça e me dou ao luxo de escolher meus clientes. Meu primo também é assim. Papai já desistiu de nos colocar em casos que alguém possa ser, digamos, não tão correto. Nós não aceitamos. — Uau! Dois homens poderosos. Eu gosto disto. De homens decididos que não aceitam ser marionetes de ninguém. Se bem que seu primo parece bonzinho. — Meu primo é romântico, mas não se iluda, ele é um leão nos tribunais. Às vezes chego a pensar que é mais bravo que eu. Só está derrubado por sua amiga baixinha. Ela deu uma gargalhada linda e falou: — Vamos ligar para eles? Valentina vai me matar quando ouvir o toque do seu celular — ela disse isto e foi logo ligando para a amiga: — Feiticeira, saia logo daí e venha dançar com a gente. Estamos na boate, aqui na Savassi. Não briga comigo e vem logo, senão ligo de novo. Ela não deixou a amiga responder e desligou o celular. Meu Deus, que mulher impossível de mandona e tem um péssimo hábito de não deixar a pessoa reagir. Estávamos quase na sexta rodada, quando o garçom trouxe mais. Olhei para ela e disse: — Você é sempre assim, menina rebelde? — Assim como? Ah, já sei. Linda, engraçada, esperta e mais forte que você na tequila? — Ah, Marcela, você não sabe com quem está brincando.

— Estou doida para descobrir, tourão, mas, pelo que vejo, você está mais para gatinho. — Mulher, mulher, não mexe com aquilo que você não conhece. — Não tenho medo de você, Bruno, mas já o contrário... Olhei desafiador para ela e disse: — O contrário o que, Marcela? — Eu amedronto você, tourão. Esta mulher só pode estar louca. Como assim, ela me amedronta? Ela é uma maldita infeliz e quer mesmo me desafiar. Falou isto e ficou brincando com a língua na borda do copo. Eu vou mostrar a ela quem tem medo. Eu mando, eu posso e eu consigo. Chega de brincadeiras. Arranquei o copo da mão dela e fui para cima. Devorei sua boca de modo selvagem, eu estava na maior adrenalina, controlando meu desejo, mas a diaba me desafiou. E dizer que eu estava com medo? Foi a gota d’água. Porém, não estava preparado para o seu beijo. Ela veio com fome em cima de mim. E beijava bem demais, uma delícia. Primeiro ela respondeu a meu ataque como uma verdadeira combatente, ao mesmo tempo que minha língua invadia sua boca e nossos corpos se atracavam, minhas mãos iam trabalhando em suas curvas. Entretanto, não ia deixar que a maldita controlasse mais nada, agora o comando era meu. Segurei seus braços para trás e fui mordendo e lambendo seu pescoço, mostrando de quem era o controle. Ela foi amolecendo e desmanchando em meus braços. Meu amigão animadíssimo estava em ponto de bala e feliz da vida com a gostosa. Eu bloqueei minha mente, não queria pensar em nada, só curtir o momento. Depois de muito amasso, paramos para respirar e a menina rebelde me olhou com as pupilas dilatadas, com os olhos brilhando e disse: — Uau, tourão! Sem palavras. — Melhor não falar mesmo. Cadê a menina rebelde que ia me derrubar? Vamos a mais tequila. Fomos ao bar e a maluca pediu ao garçom para colocar doze doses divididas em duas fileiras de seis. Ela disse que beberia primeiro e que depois eu iria beber de uma forma diferente. Sinceramente, a mulher era louca de pedra, mas eu podia ser muito mais. Marcela bebia um copo e me beijava. Cada copo era um tipo de beijo diferente. O primeiro foi longo, o segundo de quase

arrancar a língua, o terceiro doce e calmo, o quarto com pequenas mordidas, o quinto com lambida no pescoço e o sexto selvagem. Na minha vez, ela me surpreendeu. O primeiro copo, ela colocou sal no pulso; e eu bebi e chupei seu pulso. O segundo, ela colocou sal no ombro; eu bebi e lambi demoradamente seu ombro. Aquilo estava ficando quente. O terceiro, ela colocou sal na base do pescoço; eu bebi e chupei lentamente todo o tempero. No quarto, a bandida colocou o sal na coxa; eu bebi e lambi sua perna roliça. Meu pau estava quase estourando minha calça. No quinto copo, ela colocou sal em seu joelho; eu bebi e mordi. Enfim, no sexto copo, ela colocou sal no seu decote, muito próximo ao seu seio. Ela estava mesmo a fim de me enlouquecer. Eu bebi e lambi sua pele com vontade. Saímos quentes do bar e fomos para um canto escuro da área VIP. Empurrei-a para a parede, pressionei meu pau duro para que ela sentisse meu medo. Segurei seus braços acima da cabeça e mordi seu pescoço, seu ombro até que ela gemesse de dor. Depois mordi seus lábios carnudos, invadi sua boca com desejo e muito tesão. Fui descendo minha mão em sua perna e subindo até chegar a sua calcinha. Fui passando meu dedo devagar por sua boceta, que já estava molhadinha para mim. Ela não ia gozar naquela hora, seria seu castigo por me achar medroso. Ela estava contorcendo e eu fazia movimentos circulares, lentos e rápidos e quando percebi que ela estava no limite disse: — Gostosa, a pista nos espera. Vamos dançar! Foi impagável a cara da menina rebelde. Não dei tempo de pensar, de respirar e se recompor. Ela estava ofegante, excitada e corada. Demos um show à parte na pista, porque aquilo mais parecia uma foda do que uma dança; todos olhavam, mas eu e ela estávamos em um momento único. Sem importar com o mundo. Voltamos à mesa depois de dançar umas três músicas. No caminho vimos Pedro e Valentina no maior amasso na mesma parede. Não perdi tempo e fui até o meu primo gritando: — Jesus, vocês deveriam ir para um motel. Ou vão ser presos por atentado ao pudor. Já vejo a manchete: Renomado advogado preso por atentado ao pudor. Meu primo me deu um soco no braço e respondeu: — Tenho uma manchete melhor: O famoso advogado Bruno Fernandes, filho do poderoso Dr. Augusto Fernandes, é encontrado morto por irritar seu primo. As meninas deram gargalhadas de nosso modo singelo de conversar e se amar, só na pancada, coisas que só homem entende. Sentamos juntos e pedimos mais uma rodada de tequila,

mas a baixinha do meu primo era um estresse só. Ela olhou para mim com cara de mau e disse: — Bruno, vocês estão bebendo? Você está dirigindo, pelo amor de Deus, que irresponsabilidade é esta? Minha amiga não volta com você. — Eita, mulher brava! Eu que já estava meio alto, olhei para ela e disse: — Calma, senhorita Valentina bravinha, nós somos inteligentes, viemos de táxi. E, como meu primo não pensa em nada, eu já resolvi tudo. Pedi ao meu amigo, dono da boate, para guardar o carro dele aqui. Amanhã buscamos. Ela ainda continuou resmungando e meu primo perguntou se queria beber. Antes mesmo da resposta de Valentina, a minha menina rebelde respondeu: — Claro que ela quer, não é, amiga? Deixa de ser careta! Vocês dois são muito certinhos. Espera aí, eu disse minha menina rebelde? Deus, eu devo estar bêbado. Não tem outra explicação, pois ninguém era minha e tampouco iria ser. Minha filosofia de vida lembra: uma noite e nada mais. Deleta o que eu disse. Enquanto eu estava remoendo minhas ideias, o garçom chegou com as tequilas e a loira maluca virou o copo de uma vez e me deu um beijo selvagem com gosto de quero sexo. Como você pode imaginar, eu não sou de ferro e sou incapaz de deixar uma mulher linda sem seus desejos atendidos. Dávamos um show à parte e, para ser sincero, já estávamos muito bêbados, mas ainda de pé. Resolvi que já era hora de explorar cada canto daquela deusa Nyx, levantei-me quase derrubando a mesa e gritei para meu primo que estava quase dentro da moreninha: — Pedro! Vamos, seu marcha lenta, fechar a conta. Já pedi o táxi. Paguei a conta e saímos os quatro para a área externa da boate para esperar pelo meu amigo taxista dos velhos tempos. Ele era o que mais tinha presenciado meus porres. Enquanto beijava a loira, tive a melhor ideia da noite. — Vamos terminar a noite em um motel? A pequena rebelde começou a rir como uma louca e gritou: — Oba! Hoje a Valentina perde a famosa virgindade. Bom, minhas amigas, não preciso dizer que o silêncio que se fez em frente à boate foi digno de um funeral. O clima pesou. A baixinha olhou para a amiga como uma onça na hora do bote, atravessou a rua correndo, parou um táxi que vinha em direção oposta e entrou, sem dar tempo

ao meu primo de ir com ela. Marcela colocou a mão na cabeça e disse: — Meu Deus! Acho que fiz uma merda. Pedro, acorda! Entra em seu carro e vai atrás dela. Ela é maluca quando está com raiva. Meu primo saiu como um louco. Correu até o manobrista, pediu seu carro e saiu como um maluco pelas ruas de Belo Horizonte. Está se perguntando o que eu fiz? Abracei a loira e beijei como se não houvesse amanhã. E, aliás, não teria mesmo. Assim que meu amigo taxista chegou, entramos no carro e fomos rumo a nossa noite de sexo quente e selvagem!

***

Marcela

Depois da merda feita, não havia mais nada a fazer. O melhor era curtir o momento e pensar no estrago no outro dia. No banco de trás do táxi, o clima estava quente. Eu e o tourão estávamos ligados em duzentos e vinte, prontos para muito prazer. Apesar da bebida que circulava em meu sangue, eu estava bastante lúcida para saber o que queria. E o que eu mais queria naquele momento era montar naquele touro bravo e mostrar a ele quem tinha ganhado o desafio. Quando o táxi deixou a gente na suíte, Bruno disse ao motorista que ligaria para ele dentro de umas quatro horas. Esqueci minha bolsa de propósito no carro e assim que saímos, disse a ele para esperar, pois precisava pegar minha bolsa que havia esquecido no banco de trás. Antes de o motorista sair, corri e pedi que esperasse. Cheguei a cabeça na janela do carro e falei: — Tio, espera, eu esqueci minha bolsa. Ah, nós mudamos de ideia. Vamos dormir aqui, assim que acordar eu ligo para o senhor vir nos buscar. O taxista concordou e despediu. Eu voltei caminhando para meu perigoso, como uma águia, pronta para sua presa. Seus olhos ardiam em chamas ao me ver indo em sua direção. Abri a porta da suíte e entrei rebolando e o provocando descaradamente. Fechei a porta e disse: — Delicioso, sente na cama e assista o seu show. Tenho uma condição. Você só poderá assistir, pelo menos por enquanto.

— Rebelde, eu não sou acostumado a receber ordens. — Eu não estou te dando ordens, tourão. Só quero te levar ao paraíso, mas para isto quero você sem roupas. Por favor, me dê este presente. Deixa-me tirar sua roupa. Garanto que você não vai se arrepender. Fiz este pedido, passando a mão pelo meu corpo sedutoramente. Ele estava mais bêbado que eu para negar qualquer coisa, suas pupilas estavam dilatadas e estava facinho demais. Coitado, não sabia que eu era quase imune a tequila, já tinha derrubado muitos garanhões. Liguei o som do quarto em um canal de músicas, daquelas melosas de motel, estava tocando Iris, de Goo Goo Dolls, e era o universo conspirando a meu favor, pois já havia dançado um solo daquela música. Quase perdi a respiração com aquele homem sem roupas, ele era a perfeição, mas eu estava firme em meu propósito de fazer uma verdadeira performance de Demi Moore, no filme Striptease. Empurrei aquele deus do Olimpo para a cama e comecei a dançar sedutoramente. Para concentrar, comecei lentamente com olhos fechados, balançando de um lado para o outro e com as mãos passando pelo meu corpo. Assim que estava totalmente concentrada, abri meus olhos e prendi o olhar dele ao meu. Deslizei meu vestido lentamente pelo corpo. Por baixo eu usava somente uma calcinha vermelha de renda. Continuei minha dança com minha pequena peça e meu salto altíssimo. No meio da música puxei uma cadeira e realizei uma dança sexual. O homem só faltava babar, eu dançava de forma sexy e ele começou a massagear seu lindo membro, enorme e pronto para mim. Eu estava fazendo força para conseguir chegar ao final da música, porque minha vontade era senti-lo dentro de mim naquela hora. Quando eu percebi que a música estava terminando, tirei minha calcinha e fui andando lentamente na direção da cama. Ele mal piscava. O desejo puro e selvagem ardia entre nós. Eu não conseguia desviar o olhar, fui atraída para ele, meu algoz. A música terminou e, em seguida, começou a tocar Wherever You Will Go, de The Calling. Aquela música sempre mexeu comigo, aliás, era perfeita para o momento. Eu fui subindo lentamente em suas pernas, ele estava com os cotovelos na cama, de barriga para cima, me olhando. Eu precisava senti-lo dentro de mim. Como ele não deu sinal de me parar, eu montei em seu membro e comecei a rebolar devagarzinho, olhando para aquela perfeição, sentindo meu centro vibrar. Havia um magnetismo entre nós difícil de explicar, mas que tinha uma perfeita conexão. Aumentei meus movimentos, Bruno segurou minha cintura e começou a me movimentar com força, entrando profundamente em mim. Não ia durar muito, estava prestes a perder os sentidos, tamanha sintonia em nossos movimentos. Naquele momento era somente eu e ele, muito desejo e um êxtase que paralisava, nunca tinha

sentido aquilo antes. Não queria pensar em nada naquela hora, só curtir o momento. O orgasmo veio de modo avassalador, deixando nossos corpos suados, conectados e colados um em cima do outro. Ele me pegou no colo e me levou para a banheira, transamos de novo nas águas mornas da jacuzzi, depois fomos para a cama e nos pegamos lentamente. Um sexo muito baunilha que não combinava em nada comigo e com ele, mas que foi perfeito. Saciados, levados pelo álcool, e cansados dormimos abraçados. Incrível como dormi bem, geralmente tinha um sono agitado e interrompido por sonhos ou pesadelos esquisitos. Naquela noite tive um sono leve e recompensador.

Capítulo 14

O despertar

Bruno

Acordei com um pouco de dor de cabeça e senti uma perna em cima das minhas. Olhei para o lado e havia uma deusa dormindo, como um anjo perigoso e fatal. Que merda, o que eu estava fazendo ali ainda? Fechei os olhos e a noite passada veio inteira em minha cabeça. Porra, a tequila ou a mulher me enfeitiçou. Como eu fui dormir com ela? Caramba! Se não estiver enganado, não usamos camisinha. Meu Deus, eu nunca dei um vacilo destes. Isto ia contra minha filosofia de vida, eu não dormia com as mulheres, eu não fazia sexo sem preservativo e eu não as deixava tomar as rédeas. O que esta mulher tinha feito comigo? Estava neste sofrimento, quando senti que ela se mexia ao meu lado. Olhei para ela e fui desarmado. — Bom dia, tourão. Dormiu bem? Ela me deu o sorriso mais provocante do mundo e me beijou. Não tive alternativa a não ser corresponder ao beijo. Antes mesmo de pensar, ela estava com meu amigão em sua boca e uau! Perfeita! Uma boquinha doce e provocadora como o inferno. Se eu não tomasse uma atitude logo, esta mulher seria minha perdição. Antes que terminasse seu propósito, eu a puxei bruscamente, a virei de bruços na cama, prendi seus braços e falei em seu ouvido: — Rebelde, hoje será do meu jeito. Eu não sou um homem de amores, de continuações, de abraços, de dormir junto. Só acordamos aqui pela tequila. Não irá se repetir. Preciso te perguntar uma coisa: Você tem o hábito de transar sem preservativos, menina rebelde?

— Nunca, tourão, até ontem. E para seu governo, não sou como estas menininhas que imploram pelo seu pau. Não quero amores, flores e muito menos repetir nada. Ontem eu queria te domar, touro perigoso, só para você ver que não pode comigo. Eu dei um tapa na bunda dela e disse: — Mulher, não brinca comigo, você não sabe com quem está brincando. Vou te foder com força agora para ver quem manda. — Tourão, eu adoro forte. Você não me assusta, pelo contrário me faz querer duro e potente. Que mulher infernal! Continuei com seus braços presos para trás, mordi seu ombro com força, bati em sua bunda e a penetrei com força. A maldita estava molhada para mim, gemia e rebolava em meu amigão. Eu estava em um misto de raiva e de tesão. Alucinado com aquela mulher que me provocava ao extremo eu a fiz gemer e enlouquecer embaixo de mim. Foi a experiência mais louca da minha vida. Meu orgasmo foi avassalador, eu juro que tentei me controlar, mas o infeliz no meio das minhas pernas tinha vida própria e não queria colaborar. Foi intenso, surreal. Caímos um ao lado do outro, ofegantes e suados. Ela foi a primeira a levantar, pegar suas roupas e ir para o banho. Fiquei na cama repassando tudo que aconteceu desde a hora que busquei Marcela. Não estava satisfeito como as coisas tinham acontecido. Está bom, não vou negar que o sexo foi esplêndido, mas não gostei da forma que aconteceu. Ela saiu do banheiro enrolada em uma toalha e disse: — Bruno, neste desafio deu empate. Foi uma noite e uma manhã maravilhosa, mas agora acabou. Sem neuras, fica tranquilo, sou uma mulher resolvida e não me arrependo de nada. Sou dona do meu corpo e das minhas decisões. Agora, enquanto você toma um banho, vou pedir um café da manhã para nós e depois vamos embora. Confesso que fiquei meio sem ação. Não esperava isto, mas, enfim, era o melhor a acontecer. Entrei no banheiro e tomei um banho de lavar a alma. Preferi não pensar em mais nada. Saí do banheiro e o café da manhã estava servido. Ela soube pedir, estava tudo muito gostoso. Conversamos amenidades, falamos de música, de bares legais na capital e do tempo. Acredite se quiser, falamos de condições climáticas. Assim que acabamos, fomos avisados pelo telefonista que o taxista havia chegado. Você pode acreditar que ela queria dividir a conta comigo? Fiquei muito bravo e não aceitei. Depois de muita discussão, ela acabou aceitando que a conta era minha. Aquela mulher fugia de todos os padrões possíveis para um homem. Era problema para mais de metro, ainda bem que estávamos encerrando ali.

Deixei a loira em casa sem grandes despedidas. Limitei a fazer um pequeno carinho em seu cabelo e só. Ela sorriu, me deu uma piscadinha sacana e saiu do carro sem olhar para trás. Ali estava uma mulher resolvida. Fui para a minha casa com um sentimento estranho, não sei explicar muito bem o que era, mas estava incomodado. Não que a noite tivesse sido ruim, longe disto. Pelo contrário, a sensação era de que eu estive com um furacão daqueles que reviram todas as suas coisas de cabeça para baixo. Tomei um banho e chamei meu primo para nadar, mas, pelo jeito, ele tinha sido laçado de vez. Recusou dizendo que ia para a Lagoa da Pampulha caminhar com a bravinha. Não conseguia entender como um homem conseguia se amarrar tão depressa a uma mulher, mas meu primo era outro após a doença do seu pai. Todo certinho, romântico e apaixonado. Como eu estava sozinho, resolvi nadar um pouco. Dei muitas braçadas, até quase perder as forças. Estava me sentindo preso dentro de casa. Não vou mentir. Algumas vezes a maldita vinha à minha cabeça. Não sei o que deu em mim para deixar uma mulher me levar daquele jeito. Será que era o efeito tequila? Refleti muito e percebi que desde o começo da noite, ela dava as cartas. Onde estava o meu juízo? Subi para a cobertura com muita raiva de mim. Porra, a mulher me desafiou, me esnobou e ainda me disse que não era uma louca atrás do meu pau. Fui para a academia e corri na esteira, levantei alguns pesos e depois acabei trancado no meu quarto. Não estava muito bom para as implicâncias do meu pai. Porém, como ele não se contentava em me deixar em paz, veio ao meu quarto com o mesmo discurso de sempre. Eu estava cochilando quando meu velho entrou e disse: — Você chegou de manhã de novo, Bruno? E seu quarto está com cheiro de quem bebeu a noite toda! — Papai, pelo amor de Deus, estamos em um final de semana. Qual o problema? — O problema é que você não cresce. É irresponsável. Eu com sua idade já era pai e lutava para manter uma casa. — Papai, eu tenho orgulho do senhor, mas coloca uma coisa em sua cabeça. Eu não sou você. Não vou me casar e vou continuar curtindo a vida. — Por que você não é responsável como seu primo? — O senhor está sendo muito injusto comigo. Consegui ter um aproveitamento de quase cem por cento nos tribunais, não deixo nada sem fazer. Qual é o seu problema comigo? — Eu não tenho nenhum problema com você. A questão é: você adora me desrespeitar.

Primeiro colocou uma vagabunda em seu apartamento em Nova Iorque, depois recusou o caso da filha do meu amigo e ajudou a defensora pública, agora ajudou um abrigo de crianças e se envolveu nestas causas humanistas. Este não é o foco do nosso negócio, Bruno. Quando vai entender? — Ah então este é o problema. Eu não penso como o senhor. Quer saber? Não penso mesmo, doutor Augusto Fernandes. O seu problema é que o senhor sempre está certo. Está acostumado a ter todos aos seus pés, pois saiba que comigo não será assim. Não sou sua marionete. Tenho minhas vontades, meus sonhos e não sou mais uma criança. O senhor gostando ou não. E, por favor, passe o meu caso das empreiteiras para o meu responsável primo. Não vou assumir mais este caso. Sou bêbado demais para isto. E, por favor, saia do meu quarto. — O quê? Você está me mandando sair do seu quarto? Preste atenção, rapaz, este apartamento é meu. — Fique à vontade então, papai. Saio eu. Antes que meu pai pudesse continuar com seu discurso absurdo e eu lhe faltasse ainda mais com respeito, levantei e saí como um louco batendo a porta. Peguei a chave do meu carro e minha carteira que estava na sala e sumi diante da minha mãe que estava chegando da padaria. Passei por ela resmungando, dei um beijo em sua testa e disse que não dormiria em casa. Desde que comprei o flat, não tinha dormido lá ainda, precisava dar um tempo do meu pai. Na segunda-feira eu teria um dia cheio de audiências, não ia ao escritório. Dirigindo em direção ao meu apartamento, fui remoendo nossa briga e me arrependi de ter falado com ele para passar o caso de corrupção das empreiteiras de Brasília para Pedro. Além da minha experiência nestes casos, eu ia aproveitar para conhecer um clube na capital. Todos faziam uma ideia muito errada de mim. Confesso que adorava uma boa farra, gostava de aproveitar a vida com a mulherada e bebia consideravelmente, mas tinha minhas economias e nunca saía com meu carro se fosse beber. Grande responsável por minha fama, claro, era o doutor Augusto. Não me importava muito com isto, eu sempre dizia a mamãe: “Falem bem, falem mal, mas falem de mim”. Definitivamente, meu final de semana não tinha sido muito simples. Pedro era o culpado. Quem mandou inventar a tal pizzaria? Eu não queria ir desde o começo, estava pressentindo problemas. Quem mandou aceitar o desafio daquela maluca? Ah, o melhor a fazer era assistir um bom filme e dormir cedo.

***

Marcela Saí daquele táxi sem olhar para trás. Precisava mostrar para aquele touro que eu não ia fazer drama, chorar ou implorar por uma nova noite de sexo. Uau! E que sexo. Minhas pernas estavam bambas da noite surreal que passamos. Quando saí com ele, nunca imaginaria ter coragem para agir como fiz, mas a tequila ajudou na coragem. Porém, o que me impulsionou mesmo para domar aquele touro bravo, foi ver que ele se achava controlador demais. Aquele seu ar superior de dono da situação provocou a fera indomável que havia em mim. Sempre me esforço para mantê-la adormecida, mas aquele homem mexeu com meu centro de energia e me deu uma vontade louca de ser a dona da noite. Percebi de manhã que ele estava bastante desconfortável com a noite passada. Quando tentei um delicioso oral, ele se desesperou e tomou conta da situação. Resolvi deixar que exercesse seu controle, percebi que necessitava daquilo, mas fiz questão de mostrar o que eu queria. Tudo do meu jeito: forte e duro. Depois do babaca do Eduardo, eu fiz uma promessa de nunca mais fazer o que não queria. Entrei em casa com uma dorzinha daquelas gostosas que te trazem boas lembranças. Mamãe estava na cozinha e me olhou com uma cara de inquisição. Infelizmente precisei mentir, pois minha mãe já havia me alertado várias vezes sobre minhas aventuras sexuais. Sempre dizia a ela para relaxar, pois a camisinha era minha velha amiga. Pior que, desta vez, mal me lembrei da danada. Nunca dei uma mancada destas. Vou precisar procurar o serviço de saúde e fazer alguns exames para doenças sexualmente transmissíveis. Se minha mãe sonhasse com uma coisa destas, ela me mataria. Ah, Marcela, você não aprende! Além deste, eu tinha um problema maior que era minha linda amiga bravinha. Ela devia estar uma fera comigo e com razão, não é? Peguei pesado. O problema entre nós é o seguinte: amo aquela menina, a irmã que nunca tive, mas somos o sol e a lua, muito diferentes. Valentina é a razão e eu sou a paixão em pessoa. Ela é sensata e ponderada; eu sou puro impulso e explosão. Ela acredita no príncipe no cavalo branco; e eu, bom eu acredito em um plebeu sentado em um burro preto; portanto, com tantas diferenças, éramos irmãs de alma. Uma completava a outra. E eu precisava enfrentar a fera.

***

Não foi fácil convencer a baixinha me perdoar. Precisei usar todo meu drama. Depois de muito insistir, ela concordou em me desculpar, mas jogou sujo. Impôs uma condição muito cruel. Veio com um discurso todo moralista que eu estava bebendo muito e que só me perdoaria se eu prometesse trinta dias sem uma gota de álcool. Como eu falei antes, minha irmã era muito careta. E ainda estava namorando o primo caretão do tourão. Tudo bem que o homem era lindo, de parar o trânsito, mas certinho demais para mim. Eu tinha passado a manhã e uma parte da tarde da segunda-feira na universidade, resolvi passar no shopping para pagar uma conta e tomar um sorvete. Estava na fila do banco, quando um homem maravilhoso, alto, lindo de terno preto, entrou no banco. Ele veio em minha direção na fila e adivinha? O próprio doutor Bruno Fernandes em modus operandi. Sorri para ele e perguntei: — Por acaso, você é um perseguidor? — Posso te garantir que não, rebelde. Hoje estou em meio a audiências e precisava entregar um malote aqui no banco. — Que tal tomar um suco com sua amiga aqui? Já vou logo avisando, eu convido, eu pago. — Está bem, senhorita encrenca. Eu aceito que você me pague um suco. Saímos rindo do banco e sentamos na praça de alimentação para refrescar um pouco. Ele estava me contando de suas audiências, quando fomos atacados por um verdadeiro pitbull chamado Valentina. Ela parou ao lado de nossa mesa e com toda sua “delicadeza” foi logo dizendo: — Bruno, Marcela, que surpresa! Vocês aqui? Segunda-feira, dezesseis horas, você não deveria estar no escritório trabalhando, Bruno? — Uau, não sabia que tenho duas mamães. Venha aqui, prima linda, me dá um abraço. Meu Jesus, o homem não sabia com quem ele estava mexendo. Quando a minha amiga resolvia ser ácida ninguém aguentava. Ele tentou abraçá-la, mas claro que ela não deixou. Ele a soltou e disse: — Caramba, Valentina, você é sempre tão brava assim? Coitado do meu primo. — Não, Bruno, eu não sou tão brava assim. Só fico irada quando meu namorado precisa

viajar dez dias para trabalhar e você fica passeando pelo shopping. — Meu Deus, meu primo não perdeu tempo, hein? Namorados, já? Vocês são dois caretas mesmo. — Bom, a diferença, Bruno, é que seu primo não é um moleque como você! Precisei intervir porque se eu continuasse calada, aquilo não ia prestar. Segurei a mão da minha amiga e falei: — Ei, vocês dois, vamos parar por aqui, antes que isto acabe em briga. Valentina, eu e Bruno nos encontramos por acaso no banco, ele estava resolvendo algumas questões do escritório. Eu que o convidei para um suco, foi só isto. — Vi que minha amiga ficou vermelha como um tomate. Toda sem graça ela disse: — Bruno, me desculpe. Estou muito nervosa por causa de um seminário que tenho que apresentar hoje. Foi mal. Agora preciso ir. Tchau para vocês. Da mesma maneira que chegou, minha amiga saiu. Uma mulher em fúria. Minha irmã devia estar em plena TPM, pois ela não era tão azeda assim. Bruno estava muito sério. Não parecia em nada com o homem descontraído da noite passada. Ele bebeu um pouco do seu suco, ficou olhando um tempo para o copo. Preferi ficar calada respeitando seu silêncio e também porque, pela primeira vez na vida, não sabia o que dizer. Depois de um tempo insuportável para mim, ele me olhou e perguntou: — Sua amiga é sempre assim? Intempestiva? — Geralmente não. Valentina é mais séria que eu, mas tranquila. Acho que está com raiva por seu primo ter viajado quando eles estão em um início de namoro cheio de corações e florzinhas. — Na verdade, não foi legal o que fiz, pedi a meu pai que mandasse meu primo em meu lugar na viagem. Eu não queria perder as audiências de hoje. Não esperava esta resposta dele. Não sei por qual motivo, porém não acreditei muito naquela história, mas não quis pressioná-lo. Olhei para ele e disse: — Bruno, fica tranquilo. Valentina não morde, daqui a pouco ela já esquece. Não sei o que deu nele. Ficou com o olhar perdido me olhando e, de repente, levantou, disse que precisava ir embora, pois ainda tinha um compromisso que não podia atrasar. Deu um beijo em meu rosto e sumiu. Não me deu tempo de falar nada, nem mesmo um tchau. Preciso tomar cuidado

com este homem. Ele pode ser perigoso para meu coração malandro.

***

Bruno Meu dia não estava nada bom. As audiências tinham sido cansativas e pouco resolutivas. Em um dos casos que eu estava certo de que terminaríamos com vitória, mas surgiu uma nova prova, o que acabou adiando a sentença final. Para piorar, precisava entregar um malote no banco, porque não queria ir ao escritório pedir ao boy e ver meu pai. Aproveitei para passar no shopping, precisava comprar um presente para a Aline, que estava fazendo aniversário. Estava andando pelo corredor, procurando uma loja que eu sabia ser a favorita da minha amiga, quando lembrei que tinha uma pequena agência no primeiro piso. Assim que entrei no banco, vi uma belíssima loira com uma minissaia jeans e uma blusinha preta soltinha, balançando ao som da música que provavelmente ouvia no fone que estava em seu ouvido. Aproximei dela na fila, quando ela virou sorrindo para mim. Meu coração deu um salto no peito. Não esperava ver a diaba ali, leve e linda com aquele sorriso radiante. Como sempre, falante e sem me dar tempo de pensar, ela foi logo me convidando para um suco. Não tinha como negar, afinal que mal fazia tomar um inocente refresco com aquela rebelde. Fomos em direção à praça de alimentação para o tal suco. Estávamos em um papo agradável, quando a louca da amiga dela chegou como um terremoto, brigando comigo por estar, segundo ela, à toa em plena tarde enquanto o namorado, meu primo, precisou viajar. Confesso que fiquei um pouco mal em função da minha infantilidade, prejudiquei meu primo por causa da minha briga com papai. Enquanto a mulher me metralhava, Marcela saiu em minha defesa e Valentina se desculpou saindo em seguida. Não sei o que aconteceu, mas algo no jeito dela me paralisou. Fiquei olhando para ela em silêncio e pensando por que eu não conseguia reagir? Então, antes que a coisa piorasse, eu despedi e sumi. Era melhor assim, eu não estava em meu juízo perfeito.

Capítulo 15

Coincidências

Bruno

Hoje estava fazendo três dias que meu primo tinha viajado. As coisas não estavam muito boas para o meu lado. Tinha perdido um caso importante e meu pai queria me matar. Claro que não dei o braço a torcer, acabamos em uma briga feia. Mamãe ficou nervosa como nunca havia visto antes. Ela gritou comigo e com papai, dizendo que estava cansada de nós dois. Ameaçou sair de casa e sumir se continuássemos brigando, então o clima estava meio estranho. Para não provocar dona Luiza, que era pior que um cão treinado para ataque da polícia quando estava brava, eu e o doutor Augusto conversávamos o estritamente necessário. Infelizmente, neste caso meu pai tinha razão. Não ia demonstrar para ele que eu tinha tomado a linha errada de defesa, mas a verdade era que eu não conseguia me concentrar. Pensava na diaba vinte e quatro horas. Aquela mulher tinha entrado no meu sistema e eu não conseguia me livrar dela. Coloquei na minha cabeça que isto só estava acontecendo porque estava bêbado demais e deixei que ela controlasse tudo. Portanto, para esquecer a maldita, precisaria transar com ela comigo no controle. Este pensamento diminuiu minha agonia. Queria retirar logo a loira do meu sistema, fui à academia e assisti ao seu ensaio de dança no fundo das cadeiras da plateia. Ela dançava como se flutuasse no ar, parecia a mulher do meu sonho. Assim que as meninas terminaram e deixaram o palco, fui andando em direção a Marcela e a professora. Elas estavam conversando e não perceberam minha presença. Então, eu aplaudi e disse que estavam lindas dançando.

O olho da mulher brilhou como o sol quando me viu. E aquele olhar poderia ser minha perdição, mas eu estava seguro que não seria mais. A gostosa me apresentou a professora, que, por sinal, também era linda. Cumprimentou-me e pediu desculpas por precisar sair. Marcela aproveitou para dizer que iria passar mais uma vez a música e que fecharia a escola. Assim que a instrutora saiu, a loira trancou a porta. Ela voltou ao palco, colocou uma cadeira para que eu sentasse na lateral do palco. Sorriu de forma sedutora e disse: — Bonitão, eu preciso ensaiar uma música e você será meu jurado. Preste atenção, pois preciso de uma avaliação crítica da minha apresentação. Ela foi rebolando provocante para o equipamento de som e colocou a música Maniac, do filme Flashdance. Marcela estava com um short preto justo, muito justo, e um top branco. Totalmente comestível. Assim que a música encheu o ambiente, ela começou seu show. Porra, meu amigo deu um salto em minhas calças. A encrenca estava armada. A mulher era muito gostosa dançando. De olhos fechados, ela se agitava e dava piruetas ao som da música, uma verdadeira perfeição. Em alguns momentos da coreografia ela fazia uns movimentos que quase me faziam gozar. Eu já tinha jogado minha gravata longe e aberto os últimos botões da minha camisa. Ela abriu os olhos e continuou a coreografia me devorando com seu olhar de Nyx. Precisei fazer muita força para manter meu objetivo, mas eu estava muito decidido. Seria do meu jeito e seria a última vez. Antes que a música terminasse, levantei como um predador. Peguei a gravata do chão e fui em sua direção. Ela mexia o corpo com o firme propósito de me enlouquecer. Lacei a rebelde pela cintura, encostando suas costas em meu corpo e dançando no mesmo movimento da música. Sem ela ter tempo de pensar, amarrei seus pulsos para trás com a gravata. Empurrei seu cabelo suado para o lado e fui lambendo seu pescoço até a base de seu decote. Seus seios já estavam arrepiados e prontos para mim. Ainda sem retirar sua roupa, aproveitei e os mordi com força, enquanto ela gemeu e arfou em meus braços. Sentei na cadeira e coloquei sua bunda linda em cima do meu amigo, do jeito que ela ficava com os braços presos para trás e em cima de mim. Fiz uma verdadeira excursão pelo seu corpo, sua pele estava quente pela dança e pela excitação. Enfiei minha mão em seu pequeno short e fui devagar, mas muito devagar, passando os dedos nas laterais de sua calcinha. Ela gemia loucamente enquanto eu acelerava e diminuía o ritmo. Ela pediu que eu não parasse, disse que me queria duro, então eu disse em seu ouvido: — Quietinha, hoje será do meu jeito, gostosa. Se gemer alto, eu paro. Irá controlar o ritmo da minha mão, mas já adianto, se você usar esta boquinha esperta para me provocar te deixarei na

mão. Como era de se esperar, ela me xingou e eu retirei a mão do seu short. Mordi seu pescoço e apertei o bico do seu seio até ela se contorcer. Ela estava ofegante e eu conseguia sentir seu coração disparado em meu peito. Coloquei novamente a mão dentro do seu short sentindo sua calcinha molhada. Comecei a fazer movimentos lentos em seu clitóris, ela miava como uma gata selvagem. Enfiei dois dedos dentro dela, em movimentos de vai e vem e falei em seu ouvido: — Você é muito gostosa, mas cumpro minha promessa. Quero você quietinha, gozando só quando eu mandar. Entendeu? Antes que me respondesse com sua boca nervosa, engoli sua língua em um beijo selvagem, enquanto meus dedos trabalhavam em seu ponto G. Ela mal conseguia respirar e quando eu percebia que ia se perder, eu diminuía o movimento. Eu estava com muita raiva daquela mulher e por isto a punia. A maldita tentava falar, mas eu não deixava. Estava decidido a enlouquecer aquela maldita. Levantei da cadeira e sentei Marcela com os braços presos atrás do encosto. Puxei seu short e sua calcinha para baixo, desci minha boca a sua coxa e fui lambendo até o paraíso. Precisava chupar aquela mulher até ela morrer em minha boca. Lambia, chupava, dava pequenas mordidas, enquanto ela gemia loucamente. Quando ela estava quase explodindo de prazer eu parei, me levantei na frente e disse: — Hoje você vai assistir eu tirar a roupa e gozar para você, rebelde, sem me tocar. Só vai me ter se implorar. — Tourão, pode desistir. Nunca vou implorar por você e por homem nenhum. — Marcela, você vai implorar. Pode ter certeza disto. Ela deu um sorriso desafiador. Tirei toda minha roupa, me masturbava com uma mão, enquanto com a outra eu a enlouquecia, sempre com movimentos lentos e rápidos. A loira estava perdendo o juízo com minha tortura. Sabia exatamente o que estava fazendo. Marcela tentava resistir, então resolvi que já era hora de fazê-la implorar. Levantei seu top, comecei a apertar e acariciar o bico do seu peito; com a boca eu mordia o outro e dois dedos estavam em seu ponto G. Quando ela estava quase gozando, eu ameacei parar e ela gritou: — Porra, me fode, filho da puta! Foi o pedido menos romântico do mundo, mas eu gostei. Como eu disse, ela iria implorar e eu não podia negar um pedido original como aquele. Transamos loucamente até não conseguirmos

respirar mais. Foi intenso, quente e finalizador. Assim que recuperamos o fôlego, ela olhou para mim e falou: — O que você veio fazer aqui, Bruno? — Não esperava esta pergunta. Pensei um pouco antes de falar e respondi: — Precisava provar algo para mim mesmo. — E conseguiu, Bruno? — Consegui, Marcela. Isto não vai acontecer mais. Já errei com você duas vezes, mas não vou errar mais. — Errou por que, tourão? Somos adultos, não quero casar com você, muito menos namorar. Então, desencana. — Marcela, eu não transo com mulheres do meu meio de convivência. Eu não tenho encontros e não gosto de repetir nada com ninguém, portanto, não acontecerá mais. — Ninguém está te cobrando nada, Bruno. Mais uma vez não usamos preservativo. Muito irresponsável de minha parte. Tomo remédio, mas sou contra sexo sem camisinha. — Fica tranquila quanto a isto, Marcela, você pode não acreditar, mas não transo sem camisinha. Você está me fazendo quebrar muitas regras e eu não gosto disto. — Olha, cansei deste papo. Vou me arrumar para ir embora. Você me dá uma carona? — Claro que sim. — Fique à vontade, vou ao vestiário me trocar e pegar minhas coisas. Vesti a calça do meu terno e a camisa. Não tinha condições de colocar o paletó ou a gravata. Estava agitado demais para me sentir preso dentro de um terno. Fiquei esperando Marcela sair. Ela demorou a aparecer e eu aproveitei o tempo para ler meus e-mails no celular. A verdade era que eu precisava ocupar minha mente que estava a fim de me ferrar. Depois de quase meia hora, ela apareceu de banho tomado, com uma calça jeans cuja venda deveria ser proibida. Ela estava muito gostosa, com uma camiseta branca e uma jaqueta jeans curta. Sempre com um salto feito exclusivamente para retirar a sanidade mental de qualquer homem. Meu amigão reagiu à imagem dela, mas tentei não pensar. No caminho de volta, o silêncio era doentio dentro do carro. Ela estava perdida em

pensamentos com a cabeça encostada no vidro da janela e eu somente dirigia. Tentava manter a mente em branco, sem pensamentos. Estava tocando Bed Of Roses, de Bon Jovi, engraçado que a música dizia que “uma loira estava me dando dor de cabeça”. Porra, não! Sem chance, ninguém mais me daria dor de cabeça. Desta vez, eu ia conseguir, acabou. Uma noite e nada mais!

***

Marcela Entrei no meu prédio com muita raiva. Conversava comigo mesma sozinha dentro do elevador. Qual era daquele homem? Ele pensa que pode ir aparecendo assim e fazendo o que quer? E que merda é esta, Marcela? Por que você deixou? Por que você implorou, sua burra? Marcela, você não aprende? Pelo amor de Deus! Você deve gostar de sofrer, sua idiota. Fui obrigada a parar meu diálogo, pois o elevador parou no meu andar. Entrei em casa pedindo a Deus para estar sozinha e fui atendida. Tinha um bilhete de mamãe na geladeira dizendo que tinha ido ao cinema com suas alunas. Não posso mentir para você. Nunca fui santa. Hoje tinha quatro dias que tinha saído com o tourão, mas na segunda, depois que ele me deixou sozinha no shopping, encontrei com um amigo da universidade que vivia dando em cima de mim e ele me convidou para o cinema. Não sou de ferro, acabei ficando com o gatinho. Na verdade, eu queria parar de pensar em um tourinho bravo da mamãe, mas não deu muito certo. No outro dia, eu dei uns amassos em um ex-amigo de benefícios e nada de conseguir parar de pensar no infeliz. Quando eu estava tranquila e serena em minha aula de dança, o maldito aparece para me infernizar e ainda repetimos o melhor sexo do mundo. O meu ódio foi ter pedido para me fazer gozar. Que raiva! Era melhor eu ter ficado somente com meu vibrador. O que aquele homem estava fazendo com minha vida? Estava em paz e feliz com meu jeito leve, livre e solto de ser, quando fui atropelada por um Boeing. Homem arrogante, viu? Ele precisava ir lá à academia hoje e me fazer implorar, somente para que seu ego não ficasse manchado? Acho que nenhuma mulher nunca controlou a noite com aquele maldito gostoso e ele não aceitou ser dominado por mim, mas a verdade era que sim, eu tinha dado as cartas naquela noite.

***

Bruno Acordei assustado, o sonho, aliás, o pesadelo, agora era recorrente, mas com um complicador: às vezes, a mulher que dançava tinha o rosto de Mercedes, mas na grande maioria tinha o rosto de Marcela. Aquilo estava me deixando puto da vida. Descontava todo meu descontentamento nas lutas e na esteira. Lutava e corria feito um louco. Estava trocando de roupas, quando vi que meu celular vibrava. Era uma ligação do abrigo, assim que atendi percebi que a diretora estava desesperada. Ela me disse que o juiz tinha expedido um mandato judicial para que separasse dois irmãos em um processo de adoção. Segundo Ana, separar os dois era um crime, uma vez que eles eram muito unidos. Disse a ela que passaria na instituição ainda pela manhã. Meu dia começou quente, pois nossa firma tinha sido contratada para defender um pai que havia matado um rapaz de vinte e três anos, que segundo ele havia estuprado sua filha de dezenove. Porém, como tudo vem com uma carga de emoção a mais, o pai em questão era um famoso deputado federal e o rapaz assassinado, o filho de um prefeito de uma cidade paulista. Como vocês podem ver, nada é fácil no meu mundo. O político exigia que o caso fosse meu, pois, segundo ele, admirava minha agressividade nos tribunais. Não vou mentir, gostei de me envolver nesta defesa complexa, pois eu precisava ocupar minha mente. A reunião terminou quase meio-dia e eu fui direto para o abrigo. Assim que entrei na instituição, me deparei com os irmãos Carlinhos e Clebinho brincando com um quebra-cabeça. Apesar da triste história de vida, os meninos viviam sorrindo e alegrando a todos. Eles chegaram naquele lugar, ainda pequeninos, um com dez meses e o outro com dois anos. Foram abandonados sozinhos em casa depois que a mãe surtou após presenciar o assassinato de seu marido. O homem era trabalhador, excelente marido, pai zeloso e amoroso. Infelizmente, foi vítima de um engano, ao ser confundido com seu irmão que era envolvido com tráfico de drogas. Foi morto na porta de casa quando chegava do trabalho. A mãe das crianças estava na janela quando presenciou tudo. Desde o dia daquela fatalidade, ela não era mais a mesma. Sempre saía às ruas sem rumo procurando pelo marido. Eles não tinham ninguém da família além do irmão bandido, pois Suzana era filha única e seus pais morreram cedo vítimas de um desmoronamento na favela em que moravam. Antônio, pai das

crianças, nunca conheceu seu pai e sua mãe morreu vítima de uma pneumonia. Então as crianças não tinham ninguém, por isto estavam na instituição. Foi tentado de tudo para recuperar a saúde mental de Suzana, mas ela não foi forte o bastante para lutar. Encontraram-na morta no túmulo do marido, provavelmente suicidou-se. As crianças que vivem em instituições de acolhimento, geralmente não têm histórias bonitas para contar. Algumas conseguem um final feliz quando encontram uma família disposta a adotá-las, mas nem sempre é assim. Infelizmente, existe o preconceito racial que dificulta a adoção de uma criança, bem como a idade. A maioria das pessoas escolhem as crianças como se fosse uma vitrine: querem bebês, brancos e bonitos. Isso me revolta, pois toda criança é linda, em sua inocência e alegria, são como anjos que estão na terra para nos alegrar. Este era o caso dos meninos, eles tinham seis e oito anos, eram negros e já estavam liberados pela justiça para adoção há dois anos. Como eram muito unidos, havia a recomendação da equipe psicossocial para que eles não fossem separados no processo de adoção. O parecer da psicóloga deixava claro que eles mantinham um elo de proteção um com outro. O problema era que nem sempre as equipes técnicas das instituições falavam a mesma língua. Geralmente, havia uma discordância entre a equipe forense, que não tinha convivência com os meninos. A diretora e as técnicas me explicaram que o juiz havia solicitado a equipe forense que investigassem o cadastro nacional de adoção para a possibilidade de adoção separada dos meninos. Fiquei muito tocado com aquilo, por conhecer muito as crianças e saber que isso seria uma tragédia monstruosa. Prometi as meninas que iria pedir uma reunião com o juiz para tentar fazer com que o mesmo voltasse atrás em sua decisão, sei que não seria uma tarefa fácil, mas não ia desistir. Depois do almoço, fui direto para o escritório adiantar algumas coisas e começar a estudar meu novo caso. Pedi a minha secretária para marcar a reunião com o juiz o mais rápido que ele pudesse me atender. No final daquele dia precisava extravasar, saí do trabalho direto para o Muay Thai, eu tinha uma mochila no carro com tudo que precisava. Estava com tanta raiva das injustiças da vida, que naquele dia os meus companheiros de luta ficaram com medo de mim. Meu descontrole era tamanho, que meu professor não deixou que eu continuasse com os combates e me colocou para socar um saco de areia. Fui direto para o meu flat, tomei um banho demorado, avisei mamãe que não dormiria em casa, não saía de casa exclusivamente porque dona Luiza tinha pedido muito. Deixei meu carro na garagem, chamei meu taxista de confiança e fui direto para o pub do meu amigo barman,

precisava beber naquela noite. Marcelo fazia o melhor drinque de Belo Horizonte, gostava muito de ir lá, me sentia em casa, pois eu e ele éramos amigos de longa data. Ele fez faculdade de Direito comigo, mas nunca atuou na área. Terminou o curso por exigência do pai. O que ele gostava mesmo era da noite, então assim que foi convidado a ser sócio do pub, aceitou. Fez questão de continuar como barman, segundo ele adorava criar novos sabores e nomeá-los com nomes dos amigos. Meu drinque era o El Toro, todos os meus amigos me sacaneavam com o apelido que mamãe havia me dado ainda criança. Conversamos muito naquela noite, como era meio de semana, o lugar não estava muito cheio, o que permitiu colocarmos o papo em dia. Marcelo me contou que estava saindo com uma mulher mais velha e que estava curtindo. Fiquei zoando ele com a música Panela Velha, de Sérgio Reis. Contei a ele sobre o meu novo caso e ele disse que quanto mais me ouvia, mais gostava de sua vida. Não contei a ele da rebelde, porque ela era só mais uma na minha vida. Convidei meu amigo para uma partida de sinuca, tinha muito tempo que não jogava. Ele deixou o bar aos cuidados de outro barman e fomos ao jogo. Estávamos começando uma segunda partida, quando uma morena linda de cabelos cor de mel, aproximou da mesa perguntando se podia jogar conosco. Não precisava perguntar, não é? Claro que podia! Assim o jogo ficaria bem melhor. Ela era muito gostosa e boa no taco. Meu amigão entre as pernas estava adorando sua bunda arrebitada na hora do lance. Não saí à procura de nada, mas ela estava ali toda oferecida, eu não tinha nada para fazer, então nada melhor que juntar o útil ao agradável. Talvez sexo melhorasse minha raiva por causa do juiz. Marcelo percebeu minhas intenções e finalizou sua participação dizendo que precisava retornar ao bar. Eu e a gostosa continuamos o jogo de sedução, todas as vezes que ela passava por mim, dava uma piscada e um sorriso daqueles: me fode. Todo homem conhece este sorriso, significa que se você estiver a fim a noite é sua. Como diz meu amigo Eduardo Costa: “Os dez mandamentos do amor para conquistar uma mulher, tem que ter carinho, tem que ter jeitinho, tem que dar aquilo que ela quer”. E nisso eu sou profissional, por uma noite ela terá tudo que quiser. A morena estava com uma calça jeans que levava qualquer um ao pecado e, para completar, estava com uma blusinha vermelha que deixava à mostra sua linda barriga. Já estava imaginando minha língua passeando por ali. O jogo estava quente, até que não aguentei mais e falei no ouvido da delícia: — A noite é sua, basta você acertar a bola verde. Vamos lá! Quero ver se você é mesmo boa jogadora.

A gata empinou a bunda para mim, deu um sorriso sacana, se preparou para o lance. Claro que se ela errasse não desistiria da noite, pois já estava ganha. Porém, um pouco de tensão só iria aumentar o prazer da coisa. Ela alisou o taco como se estivesse alisando meu membro. Porra, meu amigão já estava em ponto de bala. Aquela era uma mulher que sabia o que queria, mas o que era desconhecido para ela, era que iria acontecer do meu jeito. Como eu disse antes, não saí com intenção de achar ninguém, mas já que havia aparecido, eu iria usar meu chicote. A menina acertou a bola verde e deu um sorriso triunfal para mim. Aproximou-se do meu ouvido e disse: — Quero meu prêmio, gostoso. — O prêmio será seu, linda. Você aceita minhas regras? — Depende, moreno. Quais são elas? — Uma noite e nada mais. O resto você irá descobrir se for comigo. Posso garantir que será somente para o seu prazer. Tudo para você nesta noite. Sua expressão era de ansiedade, eu podia ver uma veia saltando em seu pescoço, então ela abriu um sorriso e disse: — Uma noite e nada mais é tudo que preciso neste momento, lindo. Enlacei a gostosa pela cintura e comecei o aquecimento com um beijo de acabar com todo o ar do pulmão. Depois fui até o bar com a delícia para um drinque, porque eu precisava ligar para meu amigo taxista. Bebemos uma coisa rosa que meu amigo tinha nomeado de Erotic, que era gostoso e bastante alcoólico. A bochecha da morena ficou rosada em segundos. Acertei a conta e saí, pois havia recebido uma mensagem em meu celular que o táxi já estava esperando. Mais uma noite selvagem me esperava, desta vez seria um sexo à minha maneira: quente, duro e selvagem.

Capítulo 16

Descoberta

Bruno

A semana estava bastante complicada, muito assédio da imprensa. Estávamos precisando montar quase uma estratégia de guerra para despistarmos todos os repórteres. Graças a Deus era sexta-feira, o dia nacional da felicidade, mas antes de relaxar eu precisaria passar pela reunião com o juiz. O horário com o Meritíssimo foi marcado para o final da tarde. No almoço não quis sair do escritório. Minha secretária trouxe um sanduíche e um suco para mim. Estava lanchando e relembrando a noite com a morena do bar. Foi quente, excitante, selvagem, mas, às vezes, meu inconsciente me traía e a imagem da diaba loira aparecia. Durante todo o tempo, precisei de muita força para me concentrar somente na morena. Que, aliás, era muito gostosa. No final, valeu a pena. Precisei sair às escondidas do escritório. Meu pai não podia sonhar que eu iria tentar intervir em uma decisão judicial, ainda mais porque era para um processo de adoção da instituição de acolhimento. Saí às pressas, por volta das dezesseis horas, sabia que neste horário meu pai estava em uma reunião. Era ridículo que eu, um homem de vinte e oito anos, precisasse fugir do pai, mas infelizmente precisava ser assim. Cheguei ao gabinete do juiz meia hora antes da reunião. Minha ansiedade estava quase me matando, pois enfrentar juízes não era uma coisa muito fácil. Se fosse uma de minhas causas do escritório eu não ficaria tão nervoso, mas se tratava de duas crianças e isto mexia comigo.

Na hora marcada, a secretária solicitou a minha entrada. Respirei fundo e entrei decidido a não sair dali sem conseguir meu objetivo. O juiz me cumprimentou e perguntou qual era o assunto da reunião solicitada. Expliquei tudo a ele, começando com a história de como tinha chegado à instituição. Falei dos meninos, da fatalidade com a família, do elo dos irmãos até chegar ao momento mais difícil: dizer a um juiz que não concordava com a sua decisão. Com muito cuidado e escolhendo as palavras eu disse: — Meritíssimo, com todo o respeito, estou aqui para solicitar ao senhor que reveja sua decisão em separar os meninos no processo de adoção. O juiz me olhou com cara de poucos amigos e falou: — Doutor Bruno, eu acredito que o senhor sabe como é difícil adoção tardia no Brasil, não é? — Claro que sei, Meritíssimo, porém, no caso destas crianças, a separação será uma nova perda para os dois. — E o senhor está insinuando que minha decisão está errada? Bastante corajoso de sua parte, não acha? — Meritíssimo, com todo respeito, eu não estou dizendo que o senhor está errado. Só estou pedindo que reconsidere sua decisão. — Doutor, um mês e nem mais um dia. Este será o prazo que darei a instituição e a equipe forense para que encontre uma família disposta a adotar os dois meninos. Caso contrário, o senhor já conhece a minha decisão. — Obrigado, Meritíssimo. Estaremos trabalhando vinte e quatro horas por dia para que possamos encontrar um lar para estas crianças. — Não agradeça a mim. Só estou fazendo isso em respeito a seu pai, que é um grande amigo. Mande lembranças minhas a ele. O juiz levantou-se e estendeu a mão para mim. Era o sinal para eu sumir de sua frente. Apertei sua mão e saí. Meu coração estava na boca. Eu não sabia se ria ou chorava. Era quase impossível conseguir uma família em um mês, mas nós iríamos dar um jeito. Em compensação, eu estava ferrado. Deu vontade de chorar, porque, com certeza, meu pai ia saber. Ele tinha uma confraria formada por advogados, promotores e juízes mais velhos, que se encontravam semanalmente para degustar vinhos e queijos. Resumindo: eu estava fodido, era questão de dias para outra briga.

Saí do prédio com a adrenalina a mil. Juro! Pensei que seria preso a qualquer momento, mas no final saí ileso. Fui direto para a academia lutar. Encontrei um amigo meu que era o mais foda de todos no Muay Thai e foi com ele que escolhi para treinar. Foram muitas pancadas, mas ótimas para lavar a alma. Precisava mesmo enfrentar um adversário difícil, para que minha cabeça focasse no que eu estava fazendo. Depois de quase uma hora de treino, tomei uma ducha gelada e fui para casa. Minha mãe tinha feito questão que eu jantasse com eles. Estava tudo arranjado em minha cabeça. Jantaria e depois a noite era uma criança.

***

Marcela Minha semana foi movimentada. Depois daquele dia que o tourão invadiu meu palco, não nos vimos mais. Enfiei a cabeça nos estudos e nos ensaios com meus pequenos. Eu era professora de dança da turma de cinco a seis anos. As crianças faziam parte de um projeto social que atendia pequenos de cinco a dez anos. Meus anjinhos estavam felizes, pois eu havia conseguido roupas de dança para todos por meio de uma campanha na universidade. Fiquei emocionada de ver as meninas com malhas cor-de-rosa, parecendo bonecas e os meninos com azul-claro. Nós estávamos ensaiando a música Alegria, pois no final do ano apresentaríamos o espetáculo: O Circo. Trabalhar com estas crianças era um presente de Deus em minha vida. Estes pequenos pontos de luz estavam ali porque já haviam sofrido maus-tratos e foram encaminhados pela justiça como parte do processo de recuperação da violência. As famílias eram acompanhadas pelas equipes da assistência social e a grande maioria era formada por mulheres atendidas pela Lei Maria da Penha. A minha professora devia confiar muito em mim, pois fiquei com a turma das crianças e das mães. Atendia cinquenta e dois anjos e trinta e quatro mães. Algumas delas tinham dois filhos na turma. Cada momento, cada sorriso e cada brincadeira era um sopro em minha alma. Nunca tinha tristeza perto deles. Durante uma hora e meia de aula, era só alegria. E por este motivo escolhi a música. Eu acreditava que aquela música tinha o poder de ir curando aos pouquinhos os arranhões de nosso coração. Às vezes, não conseguia controlar a emoção e ensaiava o tempo todo com os olhos marejados e em alguns momentos uma lágrima insistia em cair. Nunca me esqueço de um dia

que um pequeno viu, parou o ensaio, foi correndo me abraçou e disse: — Tia Marcela, não fica triste. Você é o nosso sol e precisamos dos seus raios para aquecer nosso coração. — E com o dedinho limpou meu rosto e me beijou. Nesta hora, todos já estavam ao meu lado. Eu sorri para eles e disse: — Pequenos, a tia está emocionada com a beleza que é vocês dançando. Não é tristeza não. É que o coração da tia está tão cheio de alegria que ele, às vezes, transborda. Um deles me olhou e falou: — Tia, minha mãe diz que as nossas lágrimas são emprestadas pelo Papai do Céu para nosso coração não adoecer com as tristezas da vida. Acho que ela não sabe que também pode ser de alegria. Precisei fazer uma força sobrenatural para não chorar em frente aquele pequeno tão marcado pela vida. Passei a mão em sua cabecinha e disse: — Meu amor, vamos fazer assim: vocês vão ensaiar muito, para fazer uma apresentação bem bonita. Tenho certeza de que as mamães vão entender que o coração também transborda de alegria. Agora acabou o descanso, todos para os seus lugares e vamos voltar ao trabalho. — Meus anjinhos voltaram correndo para suas marcações, todos cheios de energia para o ensaio. A correria daquela semana e a alta carga de emoção que foi o ensaio com as crianças me destruíram para a sexta à noite. Minha amiga Valentina tinha aula a noite e não queria sair, pois seu namorado iria chegar no sábado à tarde. Aproveitei minha noite para ficar quietinha em casa com mamãe. Estava precisando de colo, porque um maldito tourão insistia em marcar território em meu pensamento. Tentava bravamente não pensar naquele gostoso, mas estava falhando. Tomei banho, coloquei um pijama fresquinho e convidei mamãe para uma noite de cinema na sala. Escolhemos o filme Diário de uma Paixão, era nosso filme favorito e sempre que eu precisava de colo a gente assistia a história de Noah e Allie. O ritual era o mesmo: pipoca, filme e sofá. Eu deitava com a cabeça no colo de mamãe e ela mexia em meus cabelos. Estava concentrada no filme, quando mamãe me disse: — Minha filha, eu te conheço. O que está acontecendo? Todas as vezes que você me convida para ver este filme tem algo errado com você. Não sabia muito bem como contar a mamãe, então falei:

— Dona Laura, a senhora me conhece mesmo, não é? — Ela sorriu e eu continuei: — Mãe, eu saí com o primo do namorado da Valentina algumas vezes, a gente acabou ficando, mas ele tem pavor de compromisso, de repetições e de tudo que lembre um relacionamento. Ele é um cara legal, lindo, advogado dos bons, mas louco. Não sei se me entende. — Minha filha, eu sou profissional em homens loucos. Você lembra-se do seu pai, não é? Marcela, cuidado, minha filha. Você me puxou no quesito homens, então redobre a atenção. — Mamãe, você só namorou o meu pai, noivou e casou. Nunca mais ficou com ninguém, então como eu te puxei neste quesito? Eu já fiquei com muitos homens, mamãe. Deus me livre ser quase uma freira como a senhora. — Minha filha, eu estou dizendo que os homens impossíveis são os seus preferidos. Como era comigo. O seu pai era um namorador, adorava a noite e fugia dos compromissos, até o dia que eu apareci em sua vida e o coloquei nos eixos. Infelizmente, o desemprego e a bebida acabaram com o homem, deixando apenas o monstro — minha mãe disse isso com uma tristeza no olhar, ela não me enganava, ainda amava meu pai. Segurei sua mão e disse: — Mamãe, por que você não atende os telefonemas do meu pai? — Como você sabe disto, menina? — Caramba, que merda. Eu e meu bocão. — Ai, Jesus, falei demais. Mamãe, desculpe-me, mas vi uma carta do meu pai no seu quarto e acabei lendo. Sei que foi errado, mas a curiosidade falou mais alto. — Não acredito que leu minha carta, Marcela. — Mamãe, desculpa. Foi sem querer. Fui buscar minha blusa que deixei em seu quarto e vi a carta. Ele dizia que mora em Portugal, que conseguiu se reerguer na vida em uma vinícola e que só nos procurou agora porque recuperou tudo que havia perdido. Mãe, o papai disse que está muito bem financeiramente e pediu uma chance para conversar. A senhora não vai dar esta chance? Dona Laura começou a chorar e falou entre lágrimas: — Minha filha, eu sofri demais quando seu pai foi embora. Você lembra, não é? Agora não basta chegar, dizer que está arrependido e quer conversar. As coisas não funcionam assim, Marcela. Ele é seu pai e eu ia te contar. É um direito dele e seu se acertar, mas eu não faço parte deste pacote, filha.

Abracei minha linda, que chorou copiosamente em meus braços. Ela ainda amava meu pai, eu podia sentir. Enxuguei suas lágrimas e disse: — Mamãe, você sempre foi e será minha melhor amiga. Em todas as maluquices que aprontei, e provavelmente ainda vou aprontar, a senhora sempre ficou ao meu lado. Você é linda, jovem e precisa continuar com sua vida. Dê tempo ao seu coração, mas fugir não vai resolver. Um dia vai precisar conversar com ele. Mesmo que seja para terminar efetivamente o que ainda está aberto. Você precisa continuar com sua vida, dona Laura. — Eu sei, minha filha, mas não quero mais falar nisso. Vamos assistir ao filme, comer pipoca e chorar no final, como sempre. Terminamos nossa terapia com chá de camomila e torrada. Depois como de costume, nos dias tristes, dormíamos juntas.

***

Bruno Meu primo iria chegar de Brasília no sábado. Mamãe fez questão que eu jantasse com eles em plena sexta-feira à noite. Tudo correu de forma tranquila. Provavelmente meu pai ainda não tinha se encontrado com o amigo juiz. Depois do jantar, estávamos conversando na sala, quando meu pai me entregou dois convites de camarote para um espetáculo musical que aconteceria no sábado à noite. Pediu que eu comparecesse ao evento para representar a firma. Disse que ele e mamãe tinham uma festa de cinquenta anos de casados de um desembargador e não poderiam estar presentes. Confesso que pensei em reclamar, mas um pensamento veio à minha cabeça e simplesmente concordei. Conversamos sobre os nossos casos e depois eu me despedi, pois tinha sido convidado para uma noite de sinuca com os caras na casa do Leo. Os convites me incomodaram a noite toda. Era uma loucura o que estava pensando em fazer, mas o destino estava agindo contra mim. Primeiro liguei para Aline ser minha acompanhante, mas ela já tinha outro compromisso. Pensei em convidar minha secretária para me acompanhar, afinal era um evento de trabalho, mas logo desisti, pois tinha medo dela misturar as coisas. Foi então que a diaba loira veio ao meu pensamento. Ela amava dança e ia gostar de assistir O Fantasma da

Ópera. Não tinha nenhum problema sairmos como amigos, não é? Deixei a decisão para o outro dia, depois de uma boa noite de sono. No sábado pela manhã, fui para o abrigo, para começarmos a busca por possíveis candidatos à adoção dos meninos. Contei para as técnicas sobre minha reunião com o juiz e todas se comprometeram a dedicar vinte quatro horas para que pudéssemos conseguir manter os irmãos juntos. Saí de lá no meio da tarde e fui lavar meu carro, mas antes fiz a ligação que estava me matando. — Marcela, sou eu, Bruno! Você está bem? — Oi, Bruno. Estou bem e você? — Ótimo! Loira, estou ligando para ver se você quer ir a uma ópera comigo? Preciso ir representando papai e acho que você vai gostar. Será O Fantasma da Ópera. — Uau, Bruno, claro que quero. Sou louca para assistir este espetáculo. — Combinado então. Eu te pego, às vinte e uma horas. — Eu estarei em seu prédio, na casa de Valentina. Neste horário estarei pronta. — Marcela, como amigos está bem? Sem ressentimentos. Pode ser assim? — Claro que sim, tourão. Amigos. Desencana, já disse. Beijos. Que mulher infernal. Sempre dando a última palavra. Acho que fiz merda em convidá-la, mas agora já estava feito.

***

Marcela Nunca imaginei que aquele touro bravo iria me ligar e ainda me fazer um convite para sair, não combinava nem um pouco com ele, mas estava empolgadíssima para assistir o espetáculo. Passei o sábado à tarde com minha amiga, que tinha marcado o dia e a hora para perder a virgindade. Coisas de Valentina, tudo programado. Ela estava em tempo de enlouquecer de tão nervosa. Minha missão além de deixá-la linda era acalmá-la. Depois de conversarmos muito,

ouvirmos música e fazermos a produção, estávamos prontas para a noite. Bruno havia me mandado uma mensagem que o traje era social; como era um evento no Palácio das Artes caprichei no visual. Coloquei um vestido longo de cor ônix, com pequenos pontos de brilhos, um salto prateado e o cabelo solto com cachos nas pontas. Fiz uma maquiagem bonita, finalizei com poucos acessórios e uma bolsa de mão. No horário marcado, descemos para a nossa noite. Valentina mal conseguia respirar de tão nervosa. Quando vi Bruno, precisei usar de todo meu autocontrole para não desmaiar. Ele estava com um smoking preto que era a verdadeira definição do pecado. Impossível ser amiga daquele homem, eu precisava de mais, muito mais. Ele mediu meu corpo inteiro com seu olhar predador e posso garantir que não foi um sentimento de amizade que passou por sua cabeça. Ele me cumprimentou com um beijo na mão e uma piscadinha de olhos assassina. Entramos em seu carro e fomos ao teatro. Dentro do carro, ele me contou sua semana e o caso dos irmãos que estava acompanhando, eu precisei me controlar para não borrar a maquiagem. No local do evento, tinha muita gente bonita e bem-vestida. Bruno cumprimentou muitas pessoas e sempre me apresentava como uma amiga da família. Fazer o que, não é? A ópera foi a coisa mais linda do mundo. Eu nunca tinha visto uma peça de tamanha magnitude. Foi impossível manter as lágrimas em meus olhos. Bruno me deu um lencinho que estava em seu bolso e nele tinha seu perfume. Meu coração reagiu na hora, descompassado por toda carga emocional. No final aplaudimos de pé. Eu estava muito feliz e grata pelo convite. Saímos de lá com destino a um pub chiquérrimo que havia sido inaugurado há duas semanas. No caminho, Bruno estava mais calado que de costume e eu estava tão extasiada com o que tinha acabado de assistir, que queria ficar quietinha relembrando de tudo. Ao chegarmos fomos recebidos por uma mulher muito bonita, que se derretia de amabilidades para Bruno. Sentamos em uma mesa que ficava localizada mais ao canto, muito confortável e aconchegante. Bruno pediu vinho e uma tábua de frios. Depois olhou para mim e me perguntou: — Gostou do espetáculo, Marcela? — Gostei? Eu amei, Bruno. Nossa, eu nunca tinha visto algo assim. — Me fale o que sentiu assistindo aquela ópera. Quero ouvir a percepção de uma pessoa ligada à arte como você. — Bruno, a arte transcende a alma. É algo que mexe com as nossas emoções. Quando estou

dançando, eu me sinto livre, em paz comigo mesma. Aquele espetáculo é feito por pessoas que tem sensibilidade em sua raiz, que amam o que fazem e usam de um dom para alegrar as pessoas. Eu explico aquela beleza como a forma mais sublime e pura do amor. É isto. — Nossa, loira, eu nunca imaginei ouvir isto de alguém como você. — Alguém como eu? Não entendi. — Marcela, você me pareceu a pessoa mais romântica do mundo quando falava. Seus olhos brilharam. E romantismo não combina com alguém que se diz rebelde como você. — Bruno, ninguém é uma coisa só. Nós somos o que o momento pede. E eu não disse que ainda sou rebelde. Eu fui, no passado, entendeu? Hoje sou livre, só não quero amarras. E você, Bruno, quem é você? — Eu sou um homem prático, Marcela, simples assim. Não gosto de complicar as coisas, sou o que quero ser e da maneira que me sinto bem. Sou como um touro, indomável, destemido e aventureiro. Se eu quero, eu posso e eu faço. Este sou eu. — O que mais, Bruno? Além de toda esta imagem que você faz questão de passar, quero que me fale do Bruno advogado. Nesta hora Bruno ficou me olhando e, de repente, começou a contar desde quando era criança e sonhava em ser um bom advogado como o pai. Falou de todos os filmes que assistia de julgamentos, da faculdade, do mestrado nos Estados Unidos e de sua paixão pelas causas sociais. Contou-me do seu primeiro caso que ele abandonou, por se tratar de uma péssima mãe; falou das irmãs que o procuraram pedindo socorro; do seu trabalho no abrigo; dos irmãos que o juiz queria separar; da paixão pelos Direitos Humanos e do seu desejo de ser promotor um dia. Eu fiquei encantada de ver o trabalho que ele fazia, da sensibilidade daquele homem que não percebia como ele era bom. Olhei para ele e disse: — Bruno, você é o melhor. Como você é justo. Ama o que faz e acredita que pode fazer a diferença. Porém, sinto que tem a necessidade de mostrar ser o que não é. Por quê? — Marcela, eu não tenho necessidade de nada. Eu sou o que você vê. Não sou um cara de amores, de coração mole, sou bicho solto. Não quero que seja diferente. — Bruno, eu posso fazer uma última pergunta? — Pode, loira. Até porque eu sei que, mesmo não deixando, você vai perguntar. Então, fala

logo. — Por que uma noite e nada mais? — Porque é assim, Marcela. Minha filosofia de vida. Sem romances, sem fazer amor, só sexo e nada mais. — Bruno, nas duas vezes que ficamos juntos, você foi romântico. — Marcela, você não me conhece. Nesta hora Bruno viu duas crianças nas mesas do lado de fora vendendo flores e me pediu licença. Fiquei observando aquela oitava maravilha do mundo. Ele foi até as crianças, conversou com elas, comprou duas rosas e vi que ele foi em direção ao que parecia a mãe das crianças. Fiquei esperando meio sem entender até que ele voltou. — Desculpe, Marcela, mas não consigo ver crianças nas noites correndo riscos, sendo exploradas. Fui até a mãe das meninas e conversei um pouco com ela. Pedi que me procurasse no escritório. Vou ver se posso ajudar de alguma maneira. — Fiquei olhando aquele homem sem acreditar no que tinha ouvido. Ele era o ser mais antagônico que alguém poderia ser. Agradeci pela flor. — Bruno, juro que você não é deste mundo. Você é especial. — Sou nada, pergunte para o doutor Augusto para você ver. Ele não acha — ele me disse isto com uma expressão de tristeza no ar. E continuou: — Meu pai sempre foi meu ídolo, desde sempre, mas não sei o que aconteceu. Nós só brigamos. Ele não consegue entender que eu sou um homem agora, que tenho meus sonhos. Ele quer que eu seja uma réplica dele, entendeu? — Bruno, às vezes os pais são assim, o melhor a fazer é não brigar. — Impossível, Marcela. — Neste momento os risos da mesa ao lado chamaram nossa atenção, parecia ser a despedida de solteiro de uma menina que ganhou um kit da trilogia Cinquenta Tons de Cinza. Com algemas, chicotinho, vendas e os livros. Eu comecei a rir e Bruno, sério, me olhou e perguntou: — O que acha do BDSM, Marcela? — Não sei, Bruno. Eu li os livros, dei umas pesquisadas. Sei que a trilogia despertou nas mulheres a curiosidade sobre o tema, apesar de que o livro não expressa bem a ideologia do BDSM. Eu li algumas coisas interessantes, Bruno, mas não acho que ser amarrada e açoitada por

alguém é uma coisa que me atraia, até porque não tenho uma veia submissa em mim. Acho que sou mais para dominadora a submissa. Posso estar enganada, mas acho que é meio doido gostar de apanhar. Bruno segurou minha mão e disse: — Você quer experimentar, Marcela? Senti minha barriga gelar, os pelos do braço arrepiar e a calcinha molhar. Pensei um pouco e, antes de perder a coragem, disse: — Sim, tourão, eu quero experimentar só se for com você. Bruno ficou no modo homem sério, me deu o maior tesão. Ele explicou como funcionavam as coisas no mundo BDSM, disse que conheceu este mundo quando morava nos Estados Unidos, por meio do amigo que morava com ele. E mais, que adorou o poder de dominar uma mulher; que descobriu que ele era um dominador nato e que naquele país as coisas eram mais liberais; foi assim que aprendeu toda a arte da dominação. Aquela conversa estava me deixando louca de desejo, mas, ao mesmo tempo, com medo de ser amarrada. Ele me contou que, às vezes, frequentava um clube de sexo em São Paulo e que preferia não participar destes clubes ou festas em Belo Horizonte por receio de encontrar algum conhecido do seu pai. — Marcela, eu não farei nada que você não queira. O BDSM tem como princípio ser consensual, não é violência contra a mulher como muitos idiotas dizem. É tudo para seu prazer, para você e por você. Eu sou o dominador, mas você será a única que eu quero agradar nesta noite. Nós usamos uma palavra de segurança, basta você me dizer e eu vou parar na hora. Digame, loira, qual será sua palavra? Olhei para ele, que era puro desejo, e respondi sem pensar: — Perigo. Esta é minha palavra. Ele sorriu, pediu a conta e saiu me levando como uma boneca de pano em suas mãos. Minhas pernas tremiam tanto, que eu mal conseguia andar. Assim que chegamos ao carro, ele devorou minha boca. Um beijo de posse, de poder, de luxúria. Depois segurou meus cabelos para trás, trouxe meu rosto até ele e disse: — Esta noite será sua. Você irá conhecer o verdadeiro Bruno! Sem romances, sem flores, somente desejo, dor e prazer. Este sou eu, Marcela, um dominador!

Capítulo 17

Perigo

Bruno

Segurei a mão de Marcela e saí do pub levando-a para o carro. Não podia pensar muito na loucura que ia fazer, mas não considerava a hipótese de voltar atrás em minhas decisões, preferia pensar depois. Entramos no carro em silêncio, assim que virei a chave, U2 tomou conta do ambiente. A madrugada estava calma, mas dentro do carro o clima estava tenso. A loira estava perdida em pensamentos, daria tudo para saber o que estava passando na cabeça dela. Um pouco antes de chegarmos ao motel, coloquei a mão na perna dela e disse: — Marcela, não pense muito. Eu prometo! Você vai gostar. — Só estou ansiosa, Bruno. — Não fique. Será tudo para você. Ela sorriu e segurou minha mão. Eu fiquei muito tocado com aquilo. Que merda, é só sexo, Bruno. Precisava mostrar a ela quem eu era, da forma mais crua, sem subterfúgios. Chegamos ao motel e eu retirei a mão com o pretexto de mudar a marcha, aquele pequeno gesto estava tirando minha concentração. Escolhi uma suíte BDSM que eu conhecia muito bem. Parecia uma masmorra e a loira ia ficar linda, nua, contrastando com a decoração toda preta. Assim que chegamos à porta da suíte, olhei sério para ela e disse: — Marcela, quando passarmos desta porta, eu quero sua rendição, sua obediência. Eu não

vou pedir, eu vou exigir. — A infeliz teve uma crise de riso, eu não podia acreditar naquilo. Segurei seus cabelos, trouxe seu rosto bem perto do meu rosto e falei em seu ouvido: — Uma atitude desta dentro deste quarto, rebelde, e você ficará uma semana sem conseguir sentar. Percebi que ela estava nervosa, mas eu precisava domar aquela encrenca. Não ia deixar que ela pensasse muito, porque, assim que fechei a porta, eu a beijei intensamente e fui levando-a em direção à cruz, não podia dar muito tempo para ela raciocinar. Ainda com os lábios colados nos seus, fui descendo o zíper do seu vestido que caiu aos seus pés. Ela estava somente com uma calcinha minúscula, eu prendi seus pulsos e tornozelos, vendei seus olhos e rasguei o pequeno tecido que ela usava. Cheguei a seu ouvido e falei: — Qual é sua palavra, loira? Repita para mim. Ofegante, ela disse: — Perigo. — Agora eu vou te castigar, menina do mal. Você foi muito rebelde. Nesta noite você será minha, para o que eu quiser. Você vai descobrir realmente quem eu sou. Lembre-se, se for muito para você, basta dizer sua palavra. Eu paro na hora. — Não vou usar minha palavra, tourão. Porra, eu estava ferrado. A mulher era infernal, adorava me desafiar e estava uma deusa naquela cruz, nua e linda. Sua respiração estava ofegante, minha vontade era pegar pesado, mas eu precisava me conter, afinal ela tinha confiado em mim. Eu queria que sua primeira experiência fosse totalmente prazerosa e inesquecível. Para aumentar o suspense, fui devagar até o equipamento de som e acionei meu pen drive que tinha músicas próprias para este momento. Ameno da banda Era aumentou o clima de mistério, me despi lentamente, retirei um pequeno chicote e uma venda de uma embalagem lacrada. Passei o chicote em sua barriga tão devagar que eu podia sentir sua agonia, fui subindo até seus seios, dei um leve golpe em cada bico e depois em sua barriga. Ela gemia, acendendo ainda mais minha vontade de possuí-la. Aumentei um pouco a força, ela se contorceu e disse meu nome de forma rouca e sexy. Dei um golpe em seu sexo e disse em seu ouvido: — Senhor. Repita, loira. Senhor. — Não vou te chamar de senhor, Bruno.

Eu ia ter que endurecer. Dei outro golpe em sua boceta, ela contorceu. Mantive o chicote entre suas pernas. Falei duro com ela: — Senhor, aqui eu sou o seu senhor. Eu posso ser muito mau. Não brinque comigo, Marcela. — Não estou brincando. Não tenho medo de você, quero você mau, tourão. — Eu posso ser persuasivo, Marcela. Você pode se arrepender. Existe muitas formas de fazer uma mulher mudar de ideia e acredite: eu conheço todas.

***

Marcela

Puta que pariu, Bruno ia me matar. Ele no modo dominador era uma delícia, meu sonho de consumo, mas eu não ia me submeter a ele. Chamar de senhor estava totalmente fora de cogitação. Queria ver do que ele era capaz, mas não estava em meus planos ser uma donzela implorando sexo para o seu senhor. Ele me amarrou naquela cruz parecendo de tortura, mas eu não podia negar que estava morrendo de tesão. Os golpes do seu chicote estavam me deixando encharcada, mas aquela história de que conhecia todas as formas de dobrar uma mulher era demais para mim. A voz dele estava rouca, eu estava louca para poder vê-lo, mas entrei no jogo. Gemi pelo seu nome, com a voz mais sexy que conseguia e disse: — Tourão, mostre-me do que você que é capaz. Assim que terminei de falar, senti sua boca em cheio em meu seio, me chupava, mordia, enquanto com uma mão apertava meu outro mamilo e com a outra dava pequenos golpes com o chicote em minha coxa. Estava difícil manter a respiração, porque eu me contorcia, gemia, tentava respirar, mas senti sua mão apertando levemente o meu pescoço e ele disse: — Quietinha! Não deixei você gemer. Eu estava pronta para uma resposta malcriada, quando senti um golpe em cheio no meu clitóris, pensei que fosse desmaiar de prazer, doía, queimava, mas queria mais. Senti vários golpes, enquanto ele me engolia com beijos selvagens. Era tudo tão intenso, ele me levou ao delírio e quando eu estava pronta para o orgasmo mais intenso da minha vida, ele parou e saiu de perto

de mim. A sensação de vazio foi horrível, eu estava incendiando, queria ele no meu corpo, dentro de mim. Sem nenhum controle de minhas emoções gemia o nome dele, sentia lágrimas de euforia e frustração descendo de meu rosto. Pedi que o infeliz voltasse e senti-o passando a ponta do chicote lentamente em mim, entrando em mim, mas muito pouco para o que meu corpo ansiava. Chamei por ele novamente, quando disse rouco: — Estou aqui, basta me chamar da forma correta. Juro que se eu estivesse em meu juízo perfeito tinha mandado ele para aquele lugar, mas neste momento quem mandava em mim era o desejo e sem nenhum receio eu o chamei, mesmo sabendo que me arrependeria depois. Tentei puxar o ar no meu pulmão e disse: — Senhor, por favor. Eu preciso do senhor. — Marcela, você me terá. Neste momento sou eu, você e as sensações. Nada mais no universo importa, tudo se resume a dar prazer a você. Senti mais um golpe em seco em meu seio, depois na barriga, nas minhas coxas entre as pernas, depois o golpe final no meu centro. Foi o maior orgasmo da minha vida. Eu estava contida, queria unir minhas pernas, me aliviar, mas era impossível. Ele me beijou com tanta força que senti minha boca queimar. Eu estava alucinada. Naquele momento eu era uma gelatina, sem forças. Meu corpo ansiava pelo dele dentro de mim, do seu calor. Lágrimas descontroladas desciam do meu rosto. Senti-o me apoiando, retirando as contenções dos meus pulsos e tornozelos e me levando para a cama.

***

Bruno A melhor sensação do mundo para um homem: fazer uma mulher gozar. Para um dominador, conseguir fazer uma mulher se submeter. E naquele momento eu era a porra de um dominador, louco para extrair tudo daquela mulher. Levei-a para a cama, coloquei-a de quatro e entrei nela, duro, selvagem. Entrava, saía e batia em sua bunda deliciosa. Ela contorcia e pedia mais. Ela era quente, linda e estava entregue a mim. Depois de muitos orgasmos, levei a loira para a banheira. Precisava cuidar dela, afinal eu tinha pegado pesado, principalmente para ela que nunca tinha

vivido nada assim. Durante o banho, conversamos um pouco sobre minhas experiências no BDSM. Marcela, que era tão desbocada, estava calada, com a pupila dilatada, as bochechas vermelhas e perdida em pensamentos. Eu sabia que era uma experiência intensa, então terminei o banho com um beijo selvagem, com uma rodada de sexo um pouco mais calmo, mas comigo dando as cartas. Nunca seria do jeito dela, aliás, que merda eu tinha feito? Por que eu estava ali com ela? Ela continuava me fazendo quebrar as regras, me deixando com muita raiva de ter agido somente com a cabeça de baixo. Saímos do banho, vestimos nossas roupas em silêncio, eu paguei a suíte e a levei para casa. No carro, eu não tinha condições de conversar. Estava revoltado com minha ideia maluca de chamar Marcela para o teatro e ainda terminar com uma noite de BDSM. Porra, eu só podia estar louco!

***

Marcela Meu Deus, aquela noite foi um turbilhão de emoções. Bruno parecia louco, no banho foi todo romântico, ainda teve mais uma rodada de sexo e, de repente, a transformação. Ficou no modo mudo, estranho, veio até minha casa sem falar nada e se despediu com um beijo na testa e só. Subi para meu apartamento com uma sensação estranha, tudo havia sido muito intenso, me sentia confusa com minhas emoções misturadas. Meu Deus, o que eu e Bruno estávamos fazendo? Isto não ia prestar. Estava começando a prever problemas. Marcela, por que você não aprende? Tomei um banho quente, fui à cozinha tomei um chá de camomila e fui para a cama. O sono não vinha de jeito nenhum. Fiquei pensando em minha noite e cada vez que revia o que se passou, sentia calafrios pelo meu corpo. Era como se ele ainda estivesse impregnado em meu sistema. Eu precisava parar com aquilo, estava entrando em um terreno muito perigoso. Bruno não era como Eduardo, ele era um homem com uma alma escura, intenso, mas com um coração de ouro em sua vida profissional. Eram dois extremos, eu não conseguia decifrá-lo. O melhor a fazer para manter minha segurança e sanidade mental era me afastar dele. Estava decidido, não me aproximaria mais daquele perigo ambulante. Encerrado para mim, foi bom enquanto durou.

***

Bruno Depois do maldito teatro, eu resolvi não ver mais a loira. Aquilo estava saindo de controle. Precisava me concentrar no meu caso que estava me deixando louco, com tanta mídia envolvida, era um grande jogo de poder. Ainda tinha a questão das crianças que estava me deixando desesperado. Estávamos correndo contra o tempo, pois o prazo dado pelo juiz estava se esgotando. Ninguém queria adotar crianças mais velhas, negras e irmãos. Eu estava deixando a equipe forense maluca, quase todos os dias ligava para as meninas. Eu já estava pensando em saídas extremas, mas se nada desse certo eu ia tentar. No meio da semana eu tinha recebido a ligação de Aline, ela estava muito feliz, pois tinha conseguido passar na prova da Promotoria. Minha amiga era uma guerreira e merecia muito ter conquistado seu objetivo. Precisava conversar com alguém, caso contrário eu iria enlouquecer, já havia passado quase uma semana que eu tinha visto Marcela, tinha alguma coisa me incomodando naquilo tudo, eu não sabia muito bem o que era. Convidei minha amiga para jantar comigo, pois assim poderíamos comemorar sua vitória e ainda podia falar com ela abertamente. Ela era quase um homem, podia falar de tudo com ela, com a diferença que era muito atraente aos olhos. Busquei Aline em sua casa, ela apareceu toda linda e sorridente. Eu não entendia como conseguia ser amigo de uma mulher gostosa daquelas, mas acho que o fato dela conhecer meu outro lado ajudava a manter as coisas somente no nível da amizade. Até porque ela era a dominadora e eu nunca seria submisso de ninguém. Tinha reservado uma mesa em um restaurante badalado da Savassi, iríamos comemorar o sucesso dela. O local era muito refinado, brinquei com ela que era o primeiro jantar de muitos de uma famosa promotora. Eu sabia que ela iria brilhar na carreira. Já tinha grandes causas em seu currículo. Começamos a noite com vinho e tábua de frios de entrada. Conversamos algumas amenidades, até que ela segurou minha mão e disse: — Bruno, para de me enrolar. Quem é ela? Porra, estava tão na cara assim que queria falar de mulher? Respirei fundo e respondi:

— Ela é o problema, Aline. Tipo encrenca, chave de cadeia, a maior furada. Ela é destas. — Aline começou a rir e eu falei puto: — Porra, se for começar sacanear, eu vou parar a conversa por aqui. — Uau, amigo, está sério assim? Meu Deus, a mulher domou o touro. — Claro que não. Está louca? A merda toda foi porque não segurei meu pau na calça e quebrei minha regra. Tudo culpa do babaca do meu primo que inventou de namorar a vizinha, que é amiga da mulher. Minha amiga tomou seu vinho, ficou me observando e disse: — Só me responde uma coisa: esta mulher está no seu pé, Bruno? — Não, ela é resolvida e sabe que comigo não existe mais que sexo. — Então aí está o problema, ela mexeu com você e não te dá moral. — Que merda, Aline. Não foi para isto que te chamei aqui. Não estou apaixonado, nada disto, mas é que em nossa última noite mostrei a ela quem eu era. E isto está ferrando com meu juízo. — Não. Você está me dizendo que teve uma noite de dominação com uma mulher do seu círculo social? Agora você comprovou que enlouqueceu de vez. Bruno, me conte esta história deste o começo, para ver se consigo entender. Contei a Aline tudo que tinha acontecido comigo e Marcela desde o começo, com todos os detalhes. Minha amiga ouviu em silêncio, sem me interromper. Acho que ela sabia que se me interrompesse eu não terminaria de contar. Expliquei que gostava de conversar com ela, mas era só. Falei da minha frustração de sempre acabar na cama com a loira. Deixei claro que não estava nos meus planos me envolver com ninguém, que eu não confiava mais em mulheres e que queria viver minha vida livre para fazer o que bem entendesse. — Bruno, por que vocês, homens, as vezes são tão burros? Amigo, vai curtir a vida. Não fica tão preocupado com este lance de quantidade de vezes. O seu problema é que você cismou com esta regra maluca que inventou de uma noite e nada mais, e fica se torturando. Porra, tourão, vai viver. Faça como eu que tenho meu lindo submisso à minha disposição. Sei que não é amor, não vamos nos casar, mas eu curto sexo com ele e só. Sexo, Bruno, é só isto. Fica claro para mim que rola a química entre vocês, então pare de frescura e vai foder duro e selvagem com a mulher. Meu amigo, você está parecendo mulherzinha, para com tanta lamúria e vai ser feliz. — Fiquei olhando

para Aline e me deu uma crise de riso. Cara, ela parecia um homem falando. Ela ficou me olhando e disse: — Porra, seu babaca, qual a graça? — Aline, você é tão linda, delicada, mas tão macho falando. Cara, parece que eu estou conversando com um barbado e não com uma linda mulher. — Bruno, você esqueceu-se de uma coisa, amigo, não sou estas submissas suas que ficam gemendo: senhor, por favor, senhor. Eu sou mais eu amigo. Independente, livre, dona do meu nariz e do meu corpo. Faço o que quero na hora que quero e com quem eu quero. Esta é a diferença. Enchi nossas taças de vinhos e disse: — Um brinde a nós, donos de nossas vidas e dominantes. Aline brindou comigo, bebeu sua taça e disse: — Curta a vida meu amigo e se for a loira que é a bola da vez, vai fundo!

Capítulo 18

Perdida em pensamentos

Marcela

Desde aquele maldito dia, só tinha notícias de Bruno pelo jornal. Era melhor assim, apesar de que eu lia tudo que saía. Em uma das matérias tinha uma foto dele na audiência, com seu terno preto e cara de mau. Uau, por que ele era tão lindo, meu Deus? Voltando ao caso, o cliente que ele representava era um figurão do mundo político que vivia cercado pelos jornais. Eu achava que o homem estava aproveitando aquele circo todo para se promover, pois fazia questão de falar com os repórteres. O único assunto dos meios de comunicação naquela semana era o assassinato do filho do prefeito pelo deputado. Havia um grande debate na mídia acerca da mulher vítima de violência sexual e, infelizmente, alguns acusavam a vítima, chamando a menina de alpinista social. Como sempre, a mulher não era vista na posição de vítima e sim como causadora do assédio masculino. Estava cansada de ficar lendo aquelas porcarias no jornal e sonhando em colocar a mão no advogado de novo. Fui para a academia dançar. Esta era a melhor forma de extravasar minha frustração. Aproveitaria para ensaiar as coreografias que estava montando para a apresentação das crianças. Dançava perdida em pensamentos, quando vi duas mulheres entrando na academia, cada uma de mãos dadas com duas crianças. Pausei o som e fui em direção a elas. Elas sorriram e me disseram: — Boa tarde, você é a Marcela? — Eu as cumprimentei e confirmei. Então uma delas falou:

— Quem nos falou de você e do seu trabalho com as crianças foi o doutor Bruno. Ele nos disse que você faz um trabalho maravilhoso. Perguntamos a ele seu endereço e aqui estamos para conversar com você. Será que tem um minuto para nós? Eu convidei as meninas para a secretaria onde podíamos dançar melhor. Peguei alguns livrinhos de história que eu tinha na academia e dei para as crianças, enquanto a gente conversava. Assim que estávamos acomodadas, olhei para as meninas e disse: — Em que posso ajudá-las? — Estava curiosa para saber o que Bruno tinha dito e o que elas queriam. — Marcela, nós trabalhamos no abrigo que o doutor Bruno é voluntário e ele nos disse do projeto social que acontece aqui na academia. Disse também que você é a professora das crianças de cinco a oito anos. O que queremos saber é se tem a possibilidade de nossas crianças participarem. Temos seis crianças nesta idade. O que acha? Eu estava espantada de Bruno falar de mim no abrigo e curiosa para saber como ele era com as crianças. Então no impulso perguntei: — Como o Bruno é com as crianças? Ele tem contato com elas ou só cuida de partes que envolvem a justiça? — Nossa, o doutor Bruno é apaixonado pelas crianças. Ele começou para ajudar a intermediar os processos junto ao judiciário, mas no primeiro dia já quis conhecer nossos anjos. Ele encantou a todos quando no primeiro dia, retirou o paletó do terno e sentou no chão para brincar de carrinho com os meninos. Olha, Marcela, vou ser sincera com você, nunca vi uma pessoa chegar a instituição e ganhar abraços e beijos das crianças no primeiro dia. Com ele foi assim. Ele é um homem abençoado. Agradecemos a Deus por ele todos os dias. Eu fiquei emocionada ao ouvir aquilo, então tentando disfarçar a emoção respondi: — Claro que suas crianças podem participar, será um prazer recebê-las. Acertamos os detalhes dos horários e dia das aulas. Na saída, as meninas contaram para as crianças que começariam as aulas e elas vieram correndo me abraçar e beijar. Meu coração bateu descompassado, amava os pequeninos e aquele não era um trabalho e sim uma missão.

***

Bruno Depois da minha conversa com Aline, relaxei um pouco porque ela tinha razão. Precisei me concentrar no meu caso, que estava me deixando de cabelos brancos. Naquela semana eu iria ouvir o depoimento da filha do deputado. Confesso que ler em alguns jornais que a menina era uma alpinista social e que não era vítima, estava me deixando com muita raiva. Extremo absurdo e tamanha crueldade com uma mulher que foi violentada friamente. Nestes momentos eu me envergonhava de ser homem, pois para mim era inadmissível violar uma mulher. Não concordava em dizer que estes criminosos eram homens, para mim eram monstros. Ao mesmo tempo que trabalhava em minha defesa eu acompanhava de perto a tentativa desesperada de conseguirmos um casal para adotar os meus meninos. O tempo estava voando e nada de aparecer pessoas com o perfil para aquela adoção. Fui dormir tarde da noite verificando dados, pensando em testemunhas e tudo que pudesse me ajudar a inocentar o pai da menina. Eu ia trabalhar na linha de legítima defesa da honra, mesmo que no nosso atual Código Penal, no seu artigo 28, constasse: “Não excluem a imputabilidade penal: I - a emoção ou a paixão”, eu não tinha alternativa. Precisaria provar para o júri que o pai agiu na defesa da honra de sua filha. Se não conseguisse a absolvição do meu cliente, pelo menos precisava atenuar a pena.

***

Cheguei cedo ao trabalho, pois havia marcado para ouvir a filha do deputado às sete horas, para que a mídia não percebesse. Tínhamos plantado uma nota falsa que ela estaria em Belo Horizonte no final da semana, quando na verdade ainda era terça-feira. Verônica e sua mãe chegaram ao meu escritório na hora marcada. Uma menina de dezenove anos, muito bonita, mas com jeito de quinze anos. Ela demonstrava estar bastante ansiosa e desconfortável com a situação. Eu ia precisar pedir a mãe que nos deixasse sozinhos, apesar de saber que as mães não apreciavam muito este momento. Minha experiência mostrava que depoimento de maiores de idade precisava ser sem a interferência de ninguém. Expliquei as duas a linha que pensava em seguir para a defesa do pai de Verônica e com cautela pedi a mãe da menina para nos deixar sozinhos. A princípio ela não gostou muito, mas acabou entendendo. Assim que ficamos a sós, tentei acalmá-la dizendo que não precisava ficar ansiosa ou nervosa,

pois eu estava ali para ajudá-la. Ela deu um sorriso tímido e disse na lata: — Doutor Bruno, não deixa prender o meu pai. Ele é bom, mas perdeu a cabeça quando me viu machucada. — Como sempre, não seria fácil ouvir o relato de mais uma vítima, mas eu ia tentar conseguir o máximo de informação possível, para que ela não precisasse se revitimizar tantas vezes, pois teria que depor no tribunal. — Verônica, eu vou fazer tudo que for possível para isto, mas preciso de sua ajuda. — Eu vou ajudar. Não quero ver meu pai preso. Olhei muito sério para ela e falei: — Você consegue entender que precisa me contar tudo que aconteceu? Sem omitir nada? E, principalmente, falar somente a verdade. Entende? — Sim, eu entendo e vou falar tudo, sem mentiras e sem omissões. — Verônica, como você conheceu Maurício? — Eu me mudei para o Rio de Janeiro ano passado, quando iniciei o curso de medicina. Ele era aluno veterano, estava no oitavo período e participou com os amigos do ritual do trote aos calouros. Eu era uma delas. Não vou mentir, eu o achei um homem bonito, mas eu era bobinha demais para ele. Era uma menina saída do interior de Goiás para uma cidade grande como aquela e iniciando em um mundo muito novo para mim. Tudo ocorria conforme o esperado, eu estudava e voltava para meu apartamento. Meu pai havia alugado um apartamento para eu morar. Ele tinha pedido que minha tia, irmã dele, morasse comigo. Ela não tinha filhos, não era casada e era como uma mãe para mim. Desde novinha eu era apaixonada por ela. — Nesta hora ela ficou parada olhando para o nada. Perguntei se ela aceitaria um suco ou água. Ela me pediu água. Levantei e pedi a minha secretária por telefone. A menina ainda ficou um tempo em silêncio até que voltou a contar. Ela disse que depois do trote, encontrou com ele na biblioteca da faculdade. Falou que ele puxou assunto dizendo que se lembrava dela do dia dos calouros. Perguntou se estava gostando do curso, se estava com alguma dificuldade e a convidou para uma festa. Verônica agradeceu o convite dizendo que não conhecia ninguém na cidade, mas Maurício insistiu alegando que seria bom para ela conhecer as pessoas. A menina acabou aceitando o convite. Contou que no dia da festa, ele a buscou em seu apartamento e prometeu a tia que voltariam antes de uma da madrugada. Com expressão triste, ela contou que naquele dia ele foi muito educado e foi um excelente amigo. Chegou a oferecer bebida para ela,

que negou dizendo não gostar de beber. Como prometido ele a deixou em casa na hora combinada. Ela olhou para mim um pouco envergonhada e disse que era virgem, que sonhava com o príncipe encantado, em ser cortejada e amada, mas, infelizmente, para ela aquilo havia acabado porque Maurício tinha destruído seus sonhos. Disse que ele estava sempre rodeando ela pela faculdade, sendo atencioso e amigo. Confidenciou que estava gostando de ser paquerada por um homem tão bonito e desejada por todas, mas que não imaginava o que aconteceria. Falou que chegou a ir ao cinema com ele, sempre com ele sendo respeitador. Verônica disse que algumas amigas chegaram a alertá-la da índole de Maurício, inclusive dizendo que tinha boatos dele usar cocaína e já ter abusado de algumas meninas. Porém, ela disse que já estava encantada, enfeitiçada e que chegou a brigar com uma amiga achando que a menina estava com inveja dela. Nesta hora, ela me olhou com lágrimas nos olhos e disse: — Doutor Bruno, você precisa entender que eu sou uma menina criada no interior e acredito na bondade das pessoas. Quero que saiba que ele era muito bom para mim e era impossível de acreditar nas histórias que ouvia. Acho que fui idiota, porque estava apaixonada por ele, mas ele só queria me usar. — Verônica, eu não estou aqui para te julgar e sim para te ajudar. Continue a me contar sem preocupar com o que estou pensando. Só estou te ouvindo. Ela deu um suspiro e continuou o relato, falando das vezes que eles conversavam, passeavam e paqueravam. Até que ela encolheu, abraçou seu corpo e disse que tudo aconteceu em um dia chuvoso, quando ela estava correndo para o ponto de ônibus e ele parou o carro ao lado dela e disse para entrar. Ela falou que o achou estranho, mas entrou porque pensou ser somente cansaço. Falou que durante o percurso, ele ficou em silêncio e ela percebeu que ele não estava indo para o caminho de sua casa. Quando perguntou para onde iam, ele respondeu que precisava buscar algo em sua casa. Ela pensou em reclamar, mas ele estava correndo tanto que preferiu ficar calada. Assim que chegaram, ele saiu do carro, abriu sua porta e puxou ela para fora, dizendo que ficar sozinha embaixo do prédio era perigoso demais. Contou que logo que entrou no elevador ele a agarrou e a beijou de forma agressiva. Disse que ela ficou assustada, mas antes mesmo de poder reclamar, chegaram ao andar dele. Verônica contava tudo como se sentisse dor. Falou que Maurício abriu a porta e a jogou dentro do apartamento, quando ela caiu no chão. Nesta hora, ela disse que gritou com ele e o mesmo deu um tapa em seu rosto. Ela olhou para mim e falou chorando:

— Desta hora em diante, eu vivi um inferno na terra. Depois de me bater me arrastou para seu quarto pelos cabelos, eu ainda tenho um machucado no couro cabeludo, me jogou em sua cama e dizia que estava cansado de brincar de namoradinho com uma garota mimadinha como eu. Ele estava com os olhos vidrados e enfurecidos. Eu chorei dizendo que ele me assustava, mas ele não se importou e arrancou minha blusa. Sabe, doutor Bruno, eu ainda tentei sair, dei chutes, socos nele e gritei, mas ele amarrou um lenço em minha boca. Deu-me outro tapa me mandando calar a boca, porque se eu continuasse gritando e esperneando seria pior para mim. Ele me mordia e me beijava de forma violenta dizendo que eu iria conhecer um homem, não os caipiras que eu conhecia. “Ele retirou minha calça e prendeu meu corpo debaixo dele, eu ainda tentei chutar seu membro, mas ele conseguiu sair e me deu um soco no rosto. Senti sangue saindo da minha boca, então ele me virou de costas prendendo meu corpo e me penetrou sem pena, eu senti muita dor, mas ele não se preocupou. Ele foi muito cruel, me machucou muito, mas quando caiu deitado ao meu lado, eu consegui pegar uma estátua de bronze que estava no criado-mudo próximo a cama dele e usei toda a minha força para bater na cabeça dele. Foi aí que ele desmaiou, eu vesti minhas roupas muito depressa, peguei minha bolsa, sandálias e saí correndo do apartamento dele. Na rua eu corria sem rumo, com o rosto todo machucado, até que vi uma viatura de polícia e me joguei na frente.” “O policial não conseguiu parar a tempo e me atropelou. Acordei no hospital, com soro no braço e com muita dor no corpo. Descobri que tinha dormido por quase um dia, meus pais estavam no quarto com uma fisionomia muito preocupada. Assim que abri os olhos, meu pai chamou o médico, que me examinou e me pediu que contasse o que tinha acontecido. Eu comecei a chorar e contei tudo, inclusive quem tinha feito aquilo comigo, mas eu nunca pensei que meu pai faria uma loucura. Este foi meu maior erro.” “Meu pai saiu do hospital sem falar com ninguém, foi à casa de Maurício e o matou com um único tiro. Logo depois, ligou para seu advogado dizendo que tinha matado uma pessoa. Doutor Bruno, eu fui culpada. Não deveria ter me aproximado dele, e devia ter ouvido as pessoas. Agora meu pai pode ser preso por minha causa.” Ela começou a chorar compulsivamente, eu levantei, a abracei até que se acalmasse, até que ela melhorou e eu disse: — Verônica, você não tem culpa de nada. Foi vítima de um louco, sádico e viciado. Seu pai infelizmente agiu no impulso e tenho certeza de que se arrependeu do ato impensado, nós nunca devemos fazer justiça com as próprias mãos, mas vamos dar um jeito nisso. Eu prometo a você.

Ela me abraçou e agradeceu. Conversamos mais um pouco e eu a levei até a mãe dela para que eu pudesse esclarecer as duas algumas etapas do processo. Alertei a elas quanto a não dar nenhum depoimento à imprensa e pedi que tomasse cuidado com o assédio dos mesmos na faculdade. Verônica me informou que havia trancado seu curso e não sabia se voltaria para a mesma faculdade. Disse que estava se sentindo envergonhada até mesmo de sair na rua e que estava na fazenda do avô no interior de Goiás. Falou que estava em acompanhamento psicológico e psiquiátrico, pois não conseguia dormir por causa dos pesadelos. A mãe dela me contou que todos da família estavam fazendo terapia, pois se sentiam culpados e revoltados com tamanha tragédia. Contou ainda que o deputado havia contratado segurança para a família, pois vinham recebendo ameaças. Pedi a elas que me colocassem a par de tudo que estava acontecendo e que qualquer situação atípica me informassem na mesma hora. Despedi-me das duas com o compromisso de fazer o meu melhor para conseguir salvar o pai da prisão.

***

Depois que Verônica saiu de minha sala, eu me senti muito mal. Não entendia como um homem podia agir assim, com tamanha crueldade e monstruosidade. Eu não conseguia compreender qual o prazer que alguns monstros tinham em machucar uma mulher, se beneficiando da força física e ludibriando algumas meninas por meio de sua inocência. O mais triste de tudo aquilo era que alguns banalizavam o crime de estupro dizendo que mulheres gostavam de apanhar. Esta fala sempre me deixou muito revoltado, porque uma coisa era uma relação consensual de um casal entre quatro paredes, outra era usar de força física e de violência para violar o corpo de uma mulher. Como não tinha mais nenhum cliente marcado pela manhã, resolvi sair um pouco. Fui para o lugar que me dava paz, no abrigo com os pequenos. Quando cheguei tinha uma turminha animada, pois iam para o primeiro dia de aula com a tia Marcela. Claro que não resisti, fui ajudar a levar as crianças na academia. Elas estavam barulhentas e fazendo a maior bagunça. As crianças iriam no utilitário da instituição, mas Carlinhos e Clebinho pediram para ir no meu “carrão”, palavras dos meninos. No caminho, eles estavam quietos demais e perguntei o que estava acontecendo até que Clebinho respondeu: — Tio Bruno, eu ouvi a diretora falando no telefone que o juiz quer separar a gente. Não

deixa, tio, nós não temos mais ninguém. Nós somos os únicos da família e não podemos ficar longe um do outro. Por favor, ajuda a gente. Não estava preparado para aquilo, engoli seco, respirei e disse: — Não vou mentir para vocês. O juiz quer mesmo fazer isto, porque ele acha que assim vocês vão ter uma família, mas o tio está fazendo de tudo para isso não acontecer. — Tio, o juiz só não entende uma coisa. Se ele separar a gente, não existe mais família. Nós somos a família. Aquilo ia me matar, então para descontrair eu falei: — Clebinho e Carlinhos, a mãe do tio Bruno ensinou que não devemos nunca nos entregar à doença do SE. Sabe qual é esta doença? — Como os dois disseram que não, então respondi: — Se acontecer isso, se acontecer aquilo. Não vamos sofrer por antecedência. Vamos cantar e depois da aula vou levar vocês dois comigo em um lugar. Combinado? — Oba, combinado, tio Bruno. Sua mamãe é mesmo inteligente, esta doença do Se não é legal mesmo. O bom de criança é que basta explicar e elas mudam de assunto e se divertem. Então coloquei no som do carro Que Vida Boa, de Victor e Léo, porque sabia que eles gostavam e fomos cantando juntos. Quando chegamos na academia, pedi que eles entrassem na frente, pois precisava fazer uma ligação, mas na verdade queria mesmo era entrar escondido, sentar na última fileira do salão e ficar vendo o ensaio sem Marcela me ver. Assim que entrei, lá estava ela no palco, toda comestível. Com uma saia muito curta preta, com um short menor ainda embaixo e um top preto. A verdadeira imagem da perfeição. Assistir a loira com as crianças era lindo, ela estava totalmente entregue, não tinha olhos para mais nada. Tudo era em torno dos seus pequenos alunos. Eles ensaiaram a música Alegria, e foi lindo ver como eles iam aprendendo rápido os passos. Depois ela ensaiou a música Aquarela, de Toquinho, e depois Depende de Nós, de Ivan Lins. Eu precisei sair, pois não estava me sentindo bem, me senti meio depressivo, acho que era a carga de emoção. Primeiro o depoimento de Verônica, depois a fala de Clebinho, estava pesado demais para meu coração. Aproveitei para fazer uma ligação para Alfredo, precisava começar logo meu plano B no caso dos meninos. No final do ensaio, as crianças saíram felizes e encantadas com a tia Marcela. Pensei que meu

pau também era encantado com ela, mas só ele, meu amigão. Avisei as meninas que precisava ir a um lugar com os meninos, combinamos de passar na instituição para que eles tomassem banho e vestissem o uniforme da escola, pois almoçariam comigo e depois eu os deixaria na escola. Levei as crianças para almoçar em um restaurante aconchegante que era no estilo faroeste, e eles adoravam filmes deste gênero. Alfredo e Luan chegaram alguns minutos depois e juntaram-se a nós. Alfredo tinha feito faculdade comigo e Luan era médico, éramos amigos há mais de dez anos e tinha esperança que pudessem me ajudar. Apresentei os meninos para eles, que foram simpáticos e carinhosos com os dois. Foi incrível ver a sintonia que fluiu entre os quatro, acho que meu plano podia dar certo. Conversamos muito e o almoço correu de forma muito agradável. No final nos despedimos, combinando de marcarmos um cinema no shopping para o outro dia à noite. Deixei os meninos na escola e voltei para o escritório. Aquela semana passava voando. Como combinado, fomos ao cinema. Assistimos Megamente e as crianças ficaram encantadas. Terminamos a noite com lanche e sorvete. Eu continuava colocando meu plano em prática, antes de falar com meus amigos no que eu estava pensado. Na quinta-feira à noite, eu estava quase enlouquecendo com uma maluquice que não saía da minha cabeça desde a minha conversa com Aline. Eu estava muito tentado a fazer uma loucura com a rebelde. Como sou impulsivo e não conseguia controlar meus instintos quando uma ideia invadia meu pensamento, não esperei mais. Peguei o telefone e liguei para a diaba. Assim que a cumprimentei, ela disse: — Bruno? Uau, você ainda está vivo? Pensei que tinha morrido, ou evaporado, mas como quem está vivo sempre aparece, como vai você? — Sempre com respostas na ponta da língua, não é, rebelde? Sim eu estou vivo e muito. Não vou fazer muitos rodeios, estou te ligando para te convidar para ir para São Paulo comigo amanhã. Topa? — São Paulo, Bruno? Fazer o quê, meu Deus? — Você quer ir ou não? Passar o final de semana. Segunda-feira de manhã você estará em casa. Não tem mais nenhuma informação. Você quer ir ou não? Simples assim. — Ai, meu Deus, você é louco, mas eu posso ser mais louca que você. Eu aceito, tourão. A que horas me busca? — Passo em sua casa às dezessete horas, as dezenove horas embarcamos. Ah, e leve uma roupa preta para irmos a um lugar especial no sábado. Até amanhã, loira.

Desta vez não dei tempo dela responder, desliguei antes. Estava aprendendo com ela. Agora a loucura estava feita, não tinha mais volta. Ia ligar para Lucas e confirmar minha presença no Hedonê. Eu ia fazer uma maluquice e queria ver se a loira conseguia me acompanhar. Agora não tinha mais volta, a loucura seria feita. E eu tinha certeza, ela ia gostar.

Capítulo 19

Viagem rumo ao desconhecido

Marcela

Quando vi no visor do meu celular o nome de Bruno, pensei em não atender, mas como nunca faço o que a consciência manda, atendi. E não acredito que aceitei viajar com ele sem nem mesmo saber para que. Como sempre, acabo agindo por impulso e me ferrando. Porém, a vontade de ver aquele maldito touro foi maior. Valentina já tinha me alertado que eu estava entrando em uma fria, mas resolvi pagar para ver no que ia dar. Então, aqui estou eu, com a mala pronta somente esperando o interfone tocar. Mamãe não gostou muito da minha viagem assim, em cima da hora, mas ela não conseguiria me impedir. Dona Laura me conhecia muito bem e sabia que eu era como uma águia, difícil de controlar e impossível de viver em uma gaiola. Estava dando últimos retoques em minha maquiagem, quando ouvi mamãe atendendo o interfone, corri para a sala, mas não consegui impedir minha mãe de mandar Bruno subir. Era tudo que não queria, minha mãe iria dar milhões de recomendações e ele podia fugir. Olhei para ela e disse: — Mamãe, pelo amor de Deus! Não pira. — Pelo amor de Deus nada, senhorita Marcela. Você não é filha de chocadeira e eu tenho o direito de ver a cara deste sujeito. — Antes que eu respondesse, a campainha tocou e mamãe pulou na porta. Que merda, eu queria um buraco para enfiar a cabeça. Mamãe toda sorridente disse:

— Boa tarde, doutor Bruno, entre, por favor. Então você é o famoso advogado primo de Pedro. — Boa tarde, Laura, é este seu nome, não é? — Mamãe confirmou já derretendo em sorrisos e ele continuou: — Sim, eu sou Bruno, primo de Pedro. Agora se sou famoso, não sei. — Claro que é, meu filho. Vivo lendo nos jornais sobre seus casos. Parabéns pelo sucesso sendo tão novo assim, mas cuidado, é preciso saber conviver com esta fama. — Verdade, às vezes a fama é complicada demais. Entrei no assunto, porque caso contrário, perderíamos o avião. Olhei para mamãe e disse: — Mamãe, não podemos conversar mais senão vamos perder o avião. — Calma, minha filha, preciso falar algo com Bruno. — Eu quis morrer nesta hora, mas mamãe olhou nos olhos dele e disse: — Meu filho, apesar da minha filha ser moderninha e para frente como é, ela é meu único bem mais precioso. Sei que vocês são adultos, livres e desimpedidos, mas peço cuidado em suas ações. Sabe, Bruno, nunca vou me esquecer do que seu pai fez por Marcela em um momento muito difícil, espero que você seja responsável como seu pai deve ter te ensinado a ser. Ai, meu Deus, queria desmaiar nesta hora. Tive vontade de matar a mamãe. Eu cheguei a abrir a boca para falar e interromper a conversa, quando Bruno me parou e disse: — Eu te entendo perfeitamente, afinal também sou filho único. Eu prometo cuidar bem dela e entregar ela inteira na segunda-feira pela manhã ainda. — Ei, vocês dois. Eu estou aqui e não preciso de nenhum dos dois cuidando de mim. Sou completamente capaz de cuidar de mim mesma. Mamãe, assim que chegar, te ligo. Vamos, Bruno. Os dois riram, se abraçaram e eu saí arrastando minha mala sem dar tempo de mais nenhuma conversa. Não gostei nem um pouco daquilo, eu iria falar com minha mãe assim que chegasse, antes que ela começasse a criar ideias erradas. Foi somente neste momento que pude ver que Bruno estava uma delícia de calça jeans e uma camisa cinza escura. No elevador, ele ficou com um sorrisinho debochado para meu lado que me irritou. Cheguei bem próximo ao rosto dele e disse entredentes: — Senhor Bruno Fernandes, se começar a me irritar logo no começo, juro que desisto desta viagem maluca que você inventou.

O infeliz deu uma gargalhada, levantou as mãos como se rendesse e disse: — Relaxa, rebelde, prometo não te irritar, aliás, prometo não te irritar se você não me provocar. Vamos fazer um pacto de paz, pelo menos até a volta. Concorda, loira? — Desde quando estamos em guerra, tourão? Não sabia que tínhamos qualquer coisa que não fosse somente amizade — falei com uma cara cínica para ele, inclusive ironizando a palavra amizade. Sem esperar, ele me virou e me imprensou na parede do elevador. Olhou-me bem nos olhos e disse: — Nós estamos em guerra, único bem da mamãe. Eu abri a boca pronta para xingar, quando ele me deu um beijo de me deixar com as pernas bambas. Assim que me soltou, a porta do elevador abriu e ele saiu carregando minha mala como se nada tivesse acontecido. Eu saí tonta andando atrás dele a caminho do táxi que nos levaria ao aeroporto. No carro, ele me deu um sorriso meio de lado, que, aliás, era seu charme e me disse: — Loira, fica fria. Nós vamos nos divertir na capital paulista. Você vai conhecer um casal de amigos meus e um lugar que vai gostar, mas ainda é surpresa. Agora quero te pedir para curtir o momento, sem neuras e caraminholas nesta linda cabecinha. Ele fez um leve carinho em meus cabelos e começou a conversar com o taxista que era seu amigo de longa data. Conversaram sobre lutas o tempo todo. Pelo que pude perceber, Bruno entendia tudo de MMA. Chegamos ao aeroporto e ainda faltavam quarenta minutos para o nosso voo. Eu não sabia muito bem o que conversar com Bruno, mas ele começou a contar do abrigo, das crianças, me agradeceu por aceitar dar aulas para eles e o assunto fluiu fácil. Era muito agradável conversar com o Bruno no modo advogado, tão envolvido em suas causas, com suas crianças e em fazer justiça sempre. Tão diferente do tourão babaca, gostoso para caramba, que me deixava louca com sua alma sombria. Apesar dele não me contar nada, eu sabia que algo tinha acontecido. Porém, ele nunca me dava sequer uma pista. Já tinha pedido a minha amiga para tentar descobrir algo com Pedro, mas ele não disse nada. Falou que não tinha o direito de interferir na história do primo e que somente o mesmo poderia contar um dia o que aconteceu. Fiquei frustrada com o namorado de Valentina. Sempre tão certinho. Nossa, os dois tinham nascido um para o outro, caretas demais para o meu gosto. Estava encantada ouvindo as histórias daquele homem lindo quando ouvimos a chamada de nosso voo. Ele segurou minha mão e saiu me arrastando pelos corredores do aeroporto. Naquele

momento estava confusa demais para raciocinar e prestar atenção no que estava acontecendo ali. Então deixei me levar, sem pensar em nada, somente curtindo o momento. Era isto que ia fazer, aproveitar.

***

Bruno

Juro que na hora que a mãe de Marcela pediu que eu subisse, queria correr. Aquilo não estava tomando um rumo muito legal, mas preferi subir e enfrentar a situação como homem, afinal, nós éramos dois adultos, que sabiam muito bem o que estávamos fazendo. A conversa aconteceu de forma tranquila. A mãe de Marcela era tão linda quanto ela, jovem e alegre. A loira era a visão do inferno. Nunca vi uma mulher provocar tanto mesmo sem perceber. Ela estava com uma calça jeans escura, uma blusa vinho que parecia um corpete, uma jaqueta preta e um salto de deixar meu pau duro, mas me controlei na frente da mãe dela. No elevador foi impagável ver sua cara de ofendida e não foi possível controlar o riso. Agora estávamos dentro do avião e ela estava linda me contando de seu espetáculo O Circo, que aconteceria dentro de dois meses. Ela contava com um brilho nos olhos sobre todos os detalhes das músicas, roupinhas que as crianças usariam e sobre a ansiedade em ver a expressão das mães quando vissem seus filhos no palco. Contou-me que todos eram vítimas de algum tipo de maustratos, que a grande maioria era filho de mulheres que estavam em processo pela lei Maria da Penha. Era interessante ver como tínhamos em comum o interesse por crianças que tinham seus direitos violados. Assim que desembarcamos encontramos com Lucas e Helena nos esperando. Íamos jantar juntos e depois eles nos deixariam no hotel. Eu ia cometer a loucura de dormir no mesmo quarto e consequentemente na mesma cama que Marcela. Eu queria provar para mim mesmo que podíamos ser amigos com benefícios. Precisava saber se ela estava disposta a ter uma relação assim comigo. Depois de muito pensar, havia chegado à conclusão que talvez fosse uma maneira de conseguir sossegar meu amigão, que vivia emitindo pensamentos de luxúria com a loira para meu cérebro. Então, se eu conseguisse pelo menos ficar com ela algumas vezes sem compromisso, somente uma amizade colorida, podia dar certo para nós dois. Porque uma coisa eu não podia negar: a loira

era gostosa pra caralho! No restaurante conversamos de tudo um pouco. O casal maravilha contou dos planos para o casamento, falaram sobre o trabalho, mas nada sobre o clube, pois eu havia alertado aos dois que ainda iria convidar a loira. Helena e Marcela se deram muito bem e os dois nos convidaram para fazermos um tour no sábado pelos pontos turísticos de São Paulo. Na hora que as mulheres pediram licença para irem ao banheiro retocar a maquiagem, coisas de meninas, Lucas ficou me olhando com cara de mistério e disse: — É, amigo, acho que a loira te domou. E você está ferrado, porque, pelo jeito, esta daí é páreo duro para você. — Está louco, cara. Eu trouxe a loira para cá, pois quero fazer uma proposta a ela de amizade com benefícios. Eu não sou de compromissos e nem ela. Somos dois espíritos livres de amarras. Ela sabe como sou e se está aqui, acho que aceita. — Bruno, Bruno! Não faz merda, cara. Meu Deus, como você é louco! Quando vai esquecer, meu amigo? — Nunca, Lucas. Não quero mais me sentir vulnerável. Quero me sentir confortável e sem me entregar a ninguém. — Meu amigo, eu te falei que precisava de um psicólogo depois daquela merda, você não me ouviu. Você continua com os pesadelos? Fui salvo pelas meninas que voltaram para a mesa naquela hora. Pedimos a conta e fomos levados para o hotel pelo meu amigo. Despedimo-nos com tudo combinado para o outro dia. Assim que chegamos à recepção, fomos atendidos como Senhor e Senhora Fernandes. Marcela deu um sorrisinho discreto e preferi não explicar nada para a recepcionista, que me olhava como se eu estivesse sem roupa. Aproveitei para entrar na encenação e assim que ela nos entregou a chave disse: — Vamos, amor. Estou louco para estar a sós com você. A loira diabólica percebeu o olhar da outra mulher e entrou na brincadeira. Beijou meus lábios e falou com a mulher: — Obrigada, querida. Vamos para o quarto, querido, vou cuidar de você. Entramos no elevador e caímos na risada. Estávamos quase sem ar, quando eu resolvi

continuar a atuação e beijei a loira com fome daquela boca rebelde. Ela correspondeu o beijo à altura, depois mordiscou meus lábios e falou no meu ouvido: — Quer dizer que eu sou seu amor, tourão? Só não acabei com sua farsa porque a recepcionista abusou em assediar um cliente que estava acompanhado da “sua esposa”. — Você está com ciúmes, loira? — Acorda, Bruno. Ciúmes? Está louco, não é? Só achei falta de respeito da recepcionista. E se eu fosse mesmo sua esposa? Ela não deveria ficar babando pelos hóspedes descaradamente. Acabamos nosso pequeno debate, pois a porta do elevador abriu. Nossas malas já estavam em nosso quarto. A suíte era linda e tinha uma banheira maravilhosa. Claro que eu não ia perder a oportunidade de estar com aquela gostosa, imerso em uma água morna e aconchegante. A noite prometia.

***

Marcela Entramos no nosso quarto e foi neste momento que a ficha caiu. O que eu estava fazendo? Bateu um pânico, aquilo era loucura. Enquanto Bruno estava todo empolgado olhando as instalações da suíte maravilhosa daquele hotel cinco estrelas, eu comecei a ficar ansiosa, com o coração acelerado e com medo da merda que tinha feito. Não deveria ter aceitado embarcar naquela maluquice. Sentei na cama, comecei a inspirar e respirar lentamente para me acalmar. Acho que ele percebeu meu estado, pois se sentou ao meu lado e perguntou: — O que foi, loira? Está sentindo alguma coisa? Eu levantei a cabeça, olhei para ele e falei: — Bruno, o que estamos fazendo? Por que estamos aqui? Ele respirou fundo, olhou sério para mim e disse: — Marcela, eu não sei explicar direito, mas vou tentar. Desde a primeira vez que ficamos juntos, venho quebrando todas as minhas regras. Não gosto disso, mas não sei o porquê de não

conseguir manter minha filosofia de vida, que é uma noite e nada mais, mas com você não foi assim. Loira, eu já te disse uma vez. Eu não me apaixono, não namoro e não gosto de romantismo. Eu gosto de ser esta porra-louca que você conhece. Sem hora para nada, sem amarras e sem romances. Porém, não posso mentir, eu gosto de estar dentro de você. — Nesta hora, eu não sabia se ria ou chorava. Eu precisava perguntar algo que me incomodava. — Bruno, me explica que idiotice é esta de uma noite e nada mais? Por quê? — Existem muitos porquês para justificar esta minha atitude, loira, mas a única que você precisa saber é que me sinto seguro assim. E não quero perder minha segurança. Não espero que me entenda, mas este sou eu. — E o que você quer de mim? — Quero ser seu amigo e mais nada. Quero poder viver livremente e se der vontade a gente poder transar, mas mais que isto não posso te oferecer. A verdade é esta, rebelde: amizade, sexo e prazer. Não tem mais nada além disto. Sinceramente, eu queria correr dali. Aquele homem só podia ser louco. Levantei da cama, olhei para ele e disse: — Bruno, preciso de um tempo. Vou descer e tomar alguma coisa no bar do hotel. Não venha atrás de mim, preciso de espaço. Antes que ele pudesse reclamar ou negar, saí do quarto. Com medo de ele vir atrás de mim, desci pelas escadas. Estávamos no quinto andar, mas aquilo não era nada para a minha adrenalina. Minha vontade era correr horas e horas até não aguentar mais. Cheguei ao bar e pedi uma tequila. Já estava liberada do meu castigo que Valentina havia me imposto de um mês sem beber, e mesmo que não houvesse acabado o tempo, eu precisava muito naquele momento. Bebi de uma vez só e pedi uma caipirinha. Eu estava sentada e relembrando tudo que aquele maluco me falou. A questão era: se eu aceitasse, iria sair inteira daquilo? Claro que não! Eu ia me ferrar, mas eu queria sexo muito quente com aquele miserável gostoso filho da puta. A bebida já estava me deixando meio maluca, estava na quarta caipirinha quando vi uma imagem do paraíso chegando próximo a mim. Definitivamente, aquele homem jogava sujo. Ele estava muito comestível, tinha tomado banho, estava com uma calça branca e uma blusa vermelha da cor do pecado e tinha o cheiro do céu. Maldito. Ele sentou ao meu lado, sério e ia me falar algo, mas eu que já estava bêbada, agarrei o pescoço dele e o beijei como se ele fosse o único oxigênio da Terra. Ele correspondeu à altura. Depois saiu me levando rumo ao quarto.

Assim que entrei no quarto, corri para o banheiro e me tranquei. Gritei para ele me esperar só um pouco. Tomei um banho libertador, eu precisava estar tão cheirosa quanto ele. Como não tinha levado roupa para o banheiro, me enxuguei e saí de lá nua, sem nenhum pudor. Queria mostrar para aquele metido a besta que eu podia jogar o mesmo jogo que ele. Quando me viu saindo banheiro me olhou como um predador. Eu com toda a coragem que o álcool podia nos dar, olhei para ele e disse: — Eu aceito. Sem romances, sem carinho, sem nada, só sexo. Já que é assim que você quer, eu aceito. Sem amarras, sem correntes, cada um na sua vida. Porém, eu exijo ser muito bem comida quando você estiver comigo. Você consegue, tourão? Ele veio até mim como um leão em sua caça, ou melhor, como um touro que vai para cima do toureiro. Jogou-me na cama e me devorou com tudo que eu tinha direito. Foi a melhor chupada da minha vida, fui ao paraíso e voltei. Depois nos pegamos entre mordidas, unhadas, amassos e delírios. Foram quatro rodadas de muito sexo selvagem. Eu também não deixei por menos, o levei ao inferno quando o fiz gozar em minha boca. Ele não gostava de perder o controle, mas eu também tinha meus segredos para dominar um homem. Ele não sabia com quem estava jogando. Não posso mentir, foi o melhor sexo da minha vida.

***

Acordamos entrelaçados um no outro. Quando ele percebeu que estávamos dormindo abraçados, ficou sem jeito, mas não deixei que ele entrasse no modo esquisito que costumava entrar pós-sexo. Levantei da cama e comecei uma guerra de travesseiros com ele. Disse que eu iria derrubá-lo com minha artilharia pesada. Ele acabou entrando na brincadeira e acabamos suados e rindo como crianças. Tomamos banho juntos e aproveitamos para mais uma rodada de sexo embaixo do chuveiro. Depois saímos para nosso dia de turista com Lucas e Helena. Bruno já tinha ido a São Paulo muitas vezes, mas eu nunca. Adorei conhecer cada canto da capital. São Paulo lembrava um pouco Belo Horizonte, só que muito maior e com muito mais movimento. Depois de uma manhã de visitas a lugares lindos e muitas fotos, paramos para almoçar. Eu estava curiosa para saber como Lucas e Bruno se conheceram e então perguntei: — Lucas, como vocês se conheceram? Percebi que um olhou para o outro de forma cúmplice, como se escondessem algo, mas então

Lucas sorriu e respondeu: — Eu conheço este infeliz desde criança. Nossos pais eram amigos e algumas vezes viajávamos um para a casa do outro. Quando resolvemos fazer o mestrado nos Estados Unidos, nossos pais ajeitaram tudo para que morássemos juntos. Então respondendo sua pergunta, nos conhecemos desde sempre e este mala me ama. — Bruno ficou rindo e jogou um guardanapo nele. Como eu queria saber mais, perguntei a Helena como eles se conheceram. Nesta hora o clima ficou esquisito na mesa de novo e percebi que Bruno fez um sinal positivo para ela, não estava entendendo nada, mas ela sorriu e me disse: — Marcela, você conhece algum clube de sexo? — Acho que minha cara respondeu, porque sorriu e continuou: — Como eu imaginava, você não conhece. Bom, é uma longa história. Digamos que eu sempre gostei de um sexo mais selvagem, mas não sabia bem o porquê. Até quando conheci Lucas no mestrado e começamos a sair. Então, um dia ele me convidou para ir com ele ao tal clube e descobri que ele gostava de dominar uma mulher. Juntamos o útil ao agradável e hoje ele é o único dominador da minha vida. E claro, eu sou sua única submissa. Foi assim que tudo começou. Todos ficaram me olhando como se eu fosse a única no mundo a não conhecer um clube destes. Então, Bruno segurou minha mão sobre a mesa e disse: — Rebelde, este era o lugar que eu queria te levar. Você aceita? Temos convite para hoje. Eu não sabia o que responder. Helena colocou as mãos no meu ombro e falou: — Marcela, eu posso te garantir que o lugar é lindo e seguro, mas você precisa deixar seus preconceitos da porta para fora do clube. As pessoas que vão até lá são adultas e buscam por prazer puro e carnal. Tudo na base da ideologia do BDSM são, seguro e consensual. Bruno e Lucas estavam muito calados. Eu estava curiosa para conhecer o tal lugar, então sorri para eles e disse: — Está bom, vamos lá conhecer este lugar do prazer.

***

Bruno

Passamos a tarde conhecendo alguns centros culturais e bibliotecas da capital paulista. Enquanto Marcela e Helena iam à frente conversando sem parar sobre tudo, Lucas e eu andávamos mais atrás. Meu amigo me contava sobre alguns processos que ele estava envolvido, mas confesso que minha cabeça andava longe. Ele percebeu, pois segurou em meu braço e disse: — Bruno, me fala o que está te incomodando, cara. Você é meu amigo e gosto de você, porra. Quero te ver feliz. — Lucas, fica frio, amigo. Não tem nada me incomodando. Estou na boa. — Você sabe que se precisar pode me falar qualquer coisa, não é? — Sei sim, amigo. Relaxa, estou bem. Ele me deu um pequeno sorriso e continuamos nossa caminhada pelo centro de São Paulo. Combinamos de nos encontrar às vinte e duas horas, eles iriam até o hotel, cada um em seu carro, pois eu ficaria com o carro de Lucas. Despedimo-nos por volta das dezoito horas e voltamos para nossa suíte. Marcela parecia estar cansada, então eu sugeri que ela descansasse um pouco enquanto eu iria à academia do hotel. Ela disse que precisava mesmo de um banho e dormir meia horinha. Troquei de roupa e saí para gastar toda a adrenalina que estava em meu corpo. A noite anterior tinha mexido com meu sossego. Acordar entrelaçado na loira foi demais para mim. E o pior era o fato de constatar que eu tinha dormido sem nenhum pesadelo.

***

Fiquei na academia umas duas horas. Quando cheguei ao quarto, a loira dormia como um anjo, que embelezava o quarto. Olhando ela dormir ninguém dizia que era uma diaba que tinha o poder de me deixar louco com sua audácia. Uma ideia maluca estava formando em minha cabeça. Eu queria ver até que ponto ela teria coragem de me seguir. Por diversas vezes eu cheguei a alertá-la sobre o meu mundo sombrio, disse que não era para ela, mas a maldita insistia em não recuar nunca. Então mesmo sabendo que não era tão legal o que estava pensando em fazer, eu não ia voltar atrás. Estava decidido.

Capítulo 20

Loucuras de um touro

Bruno

A loira tinha levado uma roupa preta com o único objetivo de queimar meus neurônios. Ela estava com um vestido muito curto colado no corpo e com uma bota preta de cano longo e salto altíssimo. Linda e perigosa. Eu tinha levado uma máscara negra estilo vitoriano para que ela usasse. Eu estava todo de preto com uma capa e capuz negros. Eu já tinha ligado para Lucas e pedido a ele que providenciasse duas submissas dispostas a estar comigo no palco. Não ia pensar muito naquilo. Assim que entramos no clube, Marcela ficou admirada com tamanha beleza. Era tudo de muito bom gosto. Ela estava nervosa, eu podia perceber pela forma como respirava. Mostrei-lhe algumas instalações do clube e fomos em direção ao bar. Eu precisava beber algo quente, pedi uma dose de conhaque e Marcela uma caipirinha. Estávamos bebendo em silêncio, quando vi Lucas e Helena chegando. Como sempre, ela estava linda. Eles iriam apresentar o número de dança de novo, acabou virando o espetáculo queridinho da casa. Conversamos um pouco, até que convidei Marcela para conhecer o famoso corredor das masmorras. Ali seria possível que ela assistisse pelo vidro o que acontecia em alguns quartos. Queria ver como ela iria reagir. Assim que entramos no corredor, paramos diante de um vidro onde era possível ver uma mulher sendo dominada por dois homens. Encostei-me à parede e puxei Marcela para meu corpo do jeito que sua bunda deliciosa ficasse encostada em meu amigo que já estava pronto para a

guerra desde a hora que a viu com aquele vestido. Era possível sentir em meu peito, seu coração batendo como louco. Enquanto ela mal piscava vendo a mulher recebendo uma penetração dupla, eu lambia seu pescoço e dava pequenas mordidas em seu ombro. Confesso que não curtia muito aquilo, dividir uma mulher com outro. Uma única vez eu e Lucas dividimos uma gostosa, mas não gostei da experiência de ver outro marmanjo de pau duro perto de mim. Porém, ter duas mulheres me adorando era a porra da melhor sensação do mundo. Estava em devaneios, quando senti a mão da loira alisando meu pau. Com ela nada era fácil, eu precisava manter minha sanidade para o que estava planejando para mais tarde. Quando a coisa começou a ficar quente demais, segurei sua mão e saí a levando pelo corredor para um próximo show de exibição. Chegamos a uma masmorra, onde assistimos um dominador cuidando de sua submissa de duramente, mas, pela expressão da mulher, ficava claro que ela estava recebendo muito prazer. Cada vez que o homem a golpeava com seu chicote, Marcela encolhia em meus braços. Aquela cena estava deixando a rebelde agitada, então eu a virei para mim e a beijei demoradamente, sem pressa e fazendo um passeio com as mãos por seu corpo. Ela estava ofegante em meus braços. Cheguei a boca em seu ouvido e sussurrei: — Loira, respire e lembre-se de aproveitar as sensações sem preconceitos. Não pense muito, não é dor, é mais que isto. É um prazer puro e libertador. Somente viva o momento. Vamos. Tenho uma surpresa para você, quero te mostrar como funciona a verdadeira entrega. Eu iria arriscar tudo, levaria a loira ao limite e veria no que ia dar.

***

Marcela Estar com Bruno naquele clube estava sendo demais para mim. Andar por aquele corredor com ele me fez sentir emoções muito diferentes, mas minha calcinha já estava muito molhada. Mesmo achando algumas coisas estranhas e fortes demais para mim, era impossível não ficar excitada. Não sei o que deu em Bruno que saiu me arrastando dizendo que iria me mostrar como era verdadeiramente a coisa. O segui com o coração na boca, porque aquele homem era muito

louco e vindo dele eu podia esperar problema. Assim que chegamos próximo ao palco, as luzes se apagaram e somente o local do microfone ficou iluminado, ora com luzes vermelhas ora douradas. Um homem com uma voz totalmente arranca calcinhas, anunciou que naquele dia o clube estava tendo a honra de receber um dos mais famosos dominadores que foram treinados por Dom Sombrio. Eu estava prestando atenção, mas sem entender muita coisa. Ele continuou sua apresentação dizendo que uma das formas de castigo das submissas era assistir seu dono dando prazer para outras mulheres. Observei que na lateral do palco havia uma cadeira parecendo um trono e que mais ao centro havia uma cruz igual a que usamos no motel e um mastro, parecendo aqueles de pole dance. Estava prestando atenção nos detalhes da cena, quando ouvi o homem anunciar no microfone Dom Dark Man e sua Nyx. Nunca imaginava que o casal em questão era eu e Bruno. Quando ele levantou da cadeira e me deu um sorriso de lado, segurou minha mão e saiu me levando, eu não sabia o que fazer. Ainda tentei parar aquele louco, mas todos começaram aplaudir e eu não consegui recuar. Subimos ao palco sendo ovacionados pelas pessoas ali presentes. O cerimonialista disse que o palco era nosso. A música que tocava era estilo medieval, tornando o ambiente assustador. Eu estava tão nervosa que conseguia quase sentir o sangue correndo por minhas veias. Olhei para o Bruno e me assustei com o que vi. Ele se transformava, parecia um guerreiro pronto para vencer muitas batalhas. O touro ou deveria dizer Dom Dark Man, veio andando em minha direção me encarando, como se quisesse me fazer render, mas ele nunca teria este prazer. O encarei de volta o desafiando com o olhar. Ele me pegou pelo pescoço e me beijou de forma quase agressiva, mas muito sensual. Eu iria entrar na brincadeira. Envolvida no beijo arrebatador daquele homem que vivia em uma escuridão profunda, eu não percebi que ele me sentou na cadeira parecendo o trono. Ele me soltou, parou de me beijar, sorriu de forma vitoriosa e cruel, que chegou a me arrepiar. Quando ameacei levantar, ele me sentou de novo e prendeu meus pulsos e tornozelos na cadeira. Eu o fuzilei com o olhar, mas o maldito chegou ao meu ouvido e disse: — Fique boazinha, rebelde, e aproveite para aprender como eu gosto que uma mulher se renda a mim. O maldito deu um sorriso sarcástico e virou as costas em direção ao centro do palco. Eu ia gritar com ele, quando vi duas mulheres lindas entrando. Não estava entendendo que merda era

aquela, percebi que o clube estava totalmente escuro e as únicas luzes eram focadas em nós quatro. As mulheres tinham uma média de vinte e cinco anos, corpos esculturais, cabelos negros, longos, usavam uma máscara negra e vestiam apenas correntes que passavam pelo corpo e botas de salto altíssimos. Eu estava me sentindo como um pássaro capturado em uma armadilha. Sentia que a qualquer momento enfartaria de tão forte que meu coração batia. Bruno andou pelas mulheres, passando a mão em seus corpos e elas caíram ajoelhadas a seus pés. Ele levantou uma mulher puxando pela corrente e a colocou na cruz. Assim que ela estava presa, ele a beijou da mesma forma que havia me beijado minutos antes. Meu sangue começou a ferver, juro que eu podia matar naquele momento. Depois ele levantou a outra mulher beijando-a também e a colocou com os braços presos para trás na tal barra que estava ao lado ao capuz, deixando-a de frente para ele. As mulheres tinham uma postura de respeito, de admiração e de total rendição. Aquilo me deixou com mais ódio ainda daquelas idiotas. O maldito olhou para mim como se fosse somente eu e ele naquele lugar. Fiz questão de dar o sorriso mais falso do mundo para ele, inclusive deixando claro em minha expressão que nunca me teria assim. Fui obrigada a assistir ele dando chicotadas nas mulheres e elas chorando, implorando por mais. Elas estavam visivelmente recebendo muito prazer com os dedos de Bruno invadindo o corpo delas, com aquela boca maldita chupando-as, mordendo e fazendo-as gozar por muito mais de uma vez. O que estava me deixando doente era o fato de meu corpo reagir àquilo. Eu não queria, mas sentia minha boceta molhada o tempo todo. Em nenhum momento ele ficou nu, tirou somente a capa, e foi a sorte dele, pois se o fizesse, eu arrastaria aquela cadeira até ele e dava umas boas porradas naquele maldito. Foram os piores sessenta minutos da minha vida. Depois do show particular daquele exibido, ele retirou as mulheres, beijou as duas, que saíram do palco ao som dos aplausos. Assim que sumiram da vista de todos, ele veio em minha direção com um olhar de triunfo. Eu não daria a ele o prazer de demonstrar minha raiva em frente à plateia. Então, quando me desamarrou, eu levantei e dei um beijo selvagem nele. Precisei engolir todo meu nojo, pois sua boca ainda tinha gosto das duas mulheres, mas eu encerraria o show. Terminei o beijo, segurei sua mão e saí o levando do palco. Não dei tempo para ele ser o grande dominador da noite. Sem olhar para trás, o arrastei em direção à saída do clube. Para mim tudo acabava ali, mas seria em grande estilo, ele não perdia por esperar.

***

Bruno

Não esperava aquela reação da rebelde. No mínimo cheguei perto dela pronto para levar um tapa no rosto, mas eu havia me esquecido de que quem estava ali era a mulher mais imprevisível do mundo. Eu estava excitado como um maratonista que ganha uma prova de longa distância. Não pensei que conseguiria continuar com meu propósito naquele palco, mas foi como eu esperava. Quando chegamos ao lado de fora do clube, a maluca continuava com um sorriso venenoso no rosto. Não consegui captar o que ela estava pensando, mas resolvi pagar para ver. Entramos no carro, olhei para ela e perguntei o que queria fazer, não ia ser louco de perguntar nada da noite. Com seu olhar sedutor, ela respondeu: — Tourão, quero tequila em um bar muito descolado e de preferência que tenha música ao vivo. — Como você foi uma garota boazinha e muito comportada, seu desejo é uma ordem, gostosa. Saímos em direção a um lugar que conheci por meio do meu amigo barman e curtia muito. Era uma choperia que tinha a melhor tequila de São Paulo, além de ter uma pequena pista de dança e um karaokê. A iluminação do local era muito show. Durante o percurso, a rebelde estava muito calada e, para ser sincero, estava começando a ficar preocupado. Cheguei a pensar que teria sido melhor ela ter esperneado e gritado feito uma louca. Minha mãe sempre me disse que quando as mulheres ficavam caladas demais, aí estava o perigo. Tentei puxar assunto, mas ela só me dava um meio sorriso. Como não estava aguentando de curiosidade, perguntei o que ela tinha achado da performance e me respondeu que foi perfeito. Depois novamente o silêncio. Como aquilo estava me incomodando demais, aumentei o volume do som do carro e a velocidade pelas ruas de São Paulo. Assim que chegamos, a maldita loira abriu a porta do carro e saiu. Não me deu a chance de ser cavalheiro e isso era uma coisa que eu fazia questão de ser. Tentei segurar a mão dela, mas ela fingiu procurar algo em sua bolsa, não me dando a oportunidade para conduzi-la. Ao entrarmos no bar, ela foi logo indo em direção ao barman, disse que não queria ficar em uma mesa, mas próximo às bebidas. Algo me dizia que aquilo não iria prestar.

***

Marcela Eu estava com ódio mortal daquele imbecil. Minha vontade era a de encher seu lindo rosto de tapas e murros, mas aprendi que as melhores vinganças eram lentas e dolorosas. Quando entrei naquele lugar e vi que o balcão do bar era enorme, cheio de luzes e tinha muito homem lindo com jeito de grandes executivos, meu plano foi sendo aprimorado. Primeiro iria tomar umas duas tequilas só para ficar quente, porque eu não precisava de nada para fazer o que queria, bastava a adrenalina que corria em meu corpo. A sedução seria minha companheira naquela noite e eu iria retribuir o show que gentilmente “meu amigo de benefícios” me presenteou. Assim que sentamos, um barman muito gato com os braços tatuados veio sorrindo e cumprimentando o tourão babaca. Ele sorriu para mim e disse: — Não apresenta a amiga, Bruno? Antes que ele pudesse pensar em falar, eu estendi minha mão e disse: — Prazer, eu sou a amiga com benefícios. E você, bonitão, quem é? Foi impagável ver a cara de Bruno, mas eu só estava começando. O amigo sorriu e disse: — Eu sou Thor, o barman, o dono deste lugar e em algumas horas o DJ. — Bem-vinda a minha caverna, “amiga”. — Obrigada. Disseram-me que aqui tem a melhor tequila de São Paulo, Thor, surpreenda-me. — Só se for agora, linda. A casa é sua. Assim que ele saiu, Bruno virou a minha cadeira para ele e falou: — O que deu em você, loira? Enlouqueceu? Que história é esta de amiga com benefícios? — Tourão, sem neuras, lindo. Afinal de contas, este é nosso status de relacionamento. Estou tranquila e, como disse você, sem minhocas na minha cabecinha linda. Agora chega de papo careta e vamos beber. A minha vontade era rir na cara dele. Era o melhor prêmio do mundo vê-lo com aquela

expressão de espanto. Comecei a beber e a sensualizar para todos que sorriam para mim. Em minha visão periférica, eu via que ele estava como uma chaleira em ebulição, mas não ia dar o braço a torcer e este seria meu trunfo. Enquanto eu bebi quatro tequilas, Bruno ainda estava na sua primeira cerveja, segundo ele não podia beber mais, pois tinha que dirigir, era um advogado, não podia ter problemas com a polícia e blá-blá-blá. Eu não estava interessada. Estava pronta para começar a executar meu plano. Primeiro, disse ao Thor que queria cantar uma música no karaokê. Subi ao pequeno palco que ficava ao lado da pista de dança. Escolhi a música Quem Acredita Sempre Alcança, da Legião Urbana, e comecei meu plano. Claro que cantei toda a música olhando para ele com cara de deboche e rebolando de forma sedutora. O idiota não piscava, eu podia ver a chama em seus olhos e aquilo alimentava minha ira. Terminei a música e fui aplaudida por todos. Voltei saltitante para o lado de Bruno e dei um beijo em seu rosto. Pedi ao meu amigo do martelo outra tequila, pois se aproximava meu número final. Bruno chegou perto do meu ouvido e disse: — Loira, já entendi. Você está com raiva. Converse comigo, mas não beba mais. Eu dei uma gargalhada alta e falei próxima a boca dele: — Raiva? Por que eu estaria com raiva, tourão? Eu estou feliz, curtindo a vida e o momento. E fica tranquilo, não estou bêbada, estou lúcida demais. Naquele exato momento começou a música na pista de dança. Não dei tempo para ele pensar. Começou a tocar Diamonds, da Rihanna, e eu não resisto a uma boa música. Levantei no impulso e fui para a pista. Fechei os olhos e dancei como amava, me entregando a música. Eu era a verdadeira deusa do sexo na pista, quando abri os olhos percebi que alguns homens babavam em mim e como o touro bravo ainda estava no bar me secando, eu me aproximei de um delicioso que dançava com o copo de uísque na mão. Sem saber dos meus planos, ele segurou minha cintura e dançou comigo. Bruno ameaçou levantar, mas eu o olhei com tamanha frieza, que ele recuou. Terminada a música dei um beijo na boca do gostoso, agradeci e voltei para o meu babaca favorito. Quando cheguei perto dele, começou a tocar Stripped, de Lord Royals, não dei tempo a ele. Gritei para Thor: — Tatuado bonitão, hoje é sua noite de sorte. E você disse que sua caverna é minha. Então eu posso dar um show no seu bar? Quero homenagear meu amigo com benefícios. Você permite? Ele sorriu e disse:

— O bar é seu, loira. Fique à vontade. — Tem certeza? Meu palco será seu bar. Ele sorriu, me deu a mão e eu subi no balcão, sem nenhuma cerimônia. Bruno me fuzilou como um cão raivoso. Eu sorri para ele, agachei, o puxei pela gola da camisa e o beijei lentamente. Depois, levantei e dancei da forma mais erótica que eu podia e sabia. Minha plateia exclusivamente masculina gritava e aplaudia, mas eu só queria chamar a atenção de certo idiota. Rebolava, usava todo meu repertório de dança sensual e quando ameacei retirar meu vestido, o tourão não aguentou. Surtou de vez. Levantou, me pegou nos ombros e saiu me levando como um saco de batata. Meus admiradores o vaiaram, que mal se importou. Quando chegamos ao lado de fora, ele me colocou no chão e gritou: — Que porra é esta? Você está louca? Eu avancei para cima dele como uma cadela raivosa e falei socando seu peito: — Louca, eu? Você é o babaca mais egoísta e filho da puta que conheço. O que foi, tourão, aliás, Dom Dark Man, não gostou do meu show? — Que show? Você parecia uma louca se exibindo. — E você estava fazendo o que naquele maldito clube, Dom Dark Man? Se exibindo, seu idiota. Não encoste mais em mim. Entendeu? Eu não quero mais nada com você. Quem te deu o direito de me usar daquela forma? Eu não queria estar ali, você pensou nisto? São, seguro e consensual. Lembra? Entretanto, você esqueceu-se do consensual, Bruno dominador de merda. — Você podia simplesmente não aceitar, Marcela, e não me lembro de você dizendo não. Assuma, você gostou. Aposto que agora mesmo sua boceta está molhada. Seja honesta, você gosta do meu mundo ou é orgulhosa demais para recuar? — Eu odeio seu mundo. Eu odeio suas maluquices e não quero mais nada com você, seu idiota! Eu parecia uma louca desvairada gritando no rosto dele. Minha raiva era muito grande, mas Bruno pensou que me faria amolecer com seus beijos molha calcinha. No auge dos meus gritos, ele me agarrou e me beijou. Não sei de onde apareceu força, mas eu o empurrei longe e disse entredentes: — Não se atreva a fazer isto. Não me subestime, Bruno. EU NÃO SOU SUA SUBMISSA. Virei as costas e saí andando no meio da rua sem direção. Claro que eu não sabia onde

estava e não conseguiria ir muito longe, mas eu precisava andar, caso contrário iria fazer algo que ia me arrepender depois. Por diversas vezes naquela noite, eu senti vontade de enfiar a mão na cara daquele imbecil, mas eu abominava qualquer tipo de violência. Vi que Bruno entrou no carro e veio devagar em minha direção. Ele parou o carro ao meu lado e disse: — Marcela, entra no carro. Vamos conversar. Aqui é perigoso, já são quase quatro horas da manhã. Entre, por favor. Só entrei porque era medrosa demais e também por não conhecer a cidade direito. Fiquei muda por todo o percurso e ele também. Estávamos em pleno duelo de gigantes, mas eu não estava disposta a facilitar.

***

Bruno

O sangue corria quente em minhas veias. Aquela mulher era uma maldita de uma porra-louca. Queria me fazer perder o equilíbrio. Beijar o cara foi o fim. Ela me desafiou no bar, sem nenhum receio e eu queria matá-la por este motivo, porém eu precisava esfriar a cabeça e conversar calmamente. Eu deveria saber que a doida não iria aceitar numa boa o que fiz no clube, mas não esperava tal revanche. Seguimos até o hotel sem falar uma única palavra. Às vezes, eu olhava para a loira e via sua bochecha vermelha como sangue. O seu peito subia e descia ferozmente, ela ainda estava pronta para o ataque. Eu ia precisar mudar a tática, senão aquilo iria terminar muito mal. Assim que entramos no elevador, eu pensei em chegar perto dela, mas ela me olhou e falou: — Não se atreva, fique longe de mim. Se encostar em mim eu grito. Não tinha alternativa a não ser me manter distante. Ela entrou no quarto e foi direto para o banheiro. Ficou trancada lá por umas duas horas, eu já estava quase derrubando a porta quando saiu linda, enrolada em uma toalha, mas com os olhos vermelhos de tanto chorar. Este foi o maior golpe que levei naquele final de semana, não queria vê-la assim. Quando ela passou por mim, eu segurei seus ombros e disse:

— Vamos conversar, loira. Desculpe-me, se eu soubesse que você ficaria tão magoada, não tinha feito isto. Eu pensei que você fosse curtir. Por favor, conversa comigo. Ela me olhou com tanta mágoa, que senti uma pontada no peito. Eu não era tão cachorro assim. Então ela falou: — Bruno, eu estou cansada demais. Não tenho condições de conversar hoje. Eu só te peço uma coisa: quando você tiver outra ideia maravilhosa como esta, me consulte antes. Agora vá tomar seu banho e vamos dormir. Foi o banho mais rápido da minha vida. Eu queria pegar a loira acordada na cama. Não conseguiria dormir se ela não me perdoasse. Ela era minha amiga e eu pisei na bola. Fui cafajeste demais. Saí do banheiro e encontrei-a sentada na cama olhando para o nada, estava vestida com uma pequena camisola vermelha e parecia um anjo selvagem. Sentei-me ao lado dela, virei seu rosto para mim e disse: — Perdoe-me, minha loira! Eu sei que fui um babaca. Não faço mais. Ela me deu um meio sorriso triste e falou: — Bruno, eu vou te perdoar, mas ainda acho que vai fazer merda. Simplesmente por ser você. Um sujeito louco, cheio de teorias e segredos escuros guardados em sua alma. Quem sou eu para não perdoar? Eu a abracei e a puxei para a cama. Não tinha condições de falar nada. Preferi manter o silêncio e ficar quietinho sentindo a respiração dela acalmar até dormir. Dormimos abraçados. Eu não tinha mais nada para falar em minha defesa. Ela tinha razão. Com certeza, eu ainda ia meter os pés pelas mãos. Por quê? Por ser eu. Este sujeito louco, que tenta acertar, mas sempre erra.

Capítulo 21

Reconciliação

Marcela

Eu estava exausta, não dava para brigar mais. Preferi ficar calada e deitar. Sentir o calor do corpo de Bruno naquela cama estava sendo torturante. Aquele homem era quente, macio, perigoso demais para uma mulher como eu. Sentia que ele ainda estava acordado, sua respiração estava ofegante e eu sentia seu membro duro encostado em minha bunda. Eu mal respirava, fiquei imóvel e quietinha até perceber que ele relaxou seu corpo e começou a ressonar. Quando eu percebi que ele pegou no sono profundo, saí dos seus braços com muito cuidado, pois não queria que ele acordasse. Eu precisava de água e sair do calor daquele homem para pensar. Peguei uma garrafinha de água no frigobar e fui para a enorme parede de vidro que tinha na sala da suíte. Era possível ver a cidade começando a dar os primeiros sinais do despertar. O sol iniciava seu belo espetáculo com seus primeiros raios iluminando o céu. Estava perdida em meus pensamentos fazendo uma retrospectiva de tudo que vivi com Bruno desde que o conheci. Impossível não lembrar que eu iniciei esta maluquice com o tal desafio das tequilas. Naquele momento, parecia um simples jogo de adultos querendo apostar quem aguentava mais álcool no organismo, mas é claro que a sedução fazia parte da minha estratégia para ganhar o desafio. Só tinha um problema naquilo tudo, eu sempre inventava as apostas, os desafios e no fim quem se dava mal era somente eu. Como minha amiga Valentina vivia me alertando, meu dedo era

podre para homem. Na verdade, o que estava me incomodando era que Bruno tinha sido sim um babaca, mas ele não estava errado quando disse que eu poderia ter negado. Não fui nem um pouco enfática na minha negativa, no fundo a curiosidade me consumia para ver o que ele ia fazer. Pensando friamente na situação, eu sabia que minha revolta era alimentada por eu ter sentido prazer em ver aquele desgraçado em atuação, ainda mais que ele fazia questão de mostrar o tempo todo que ele estava ali se exibindo para mim e para mais ninguém. Estava distraída quando o senti atrás de mim, muito próximo ao meu corpo. Respirei fundo e cruzei meus braços, acho que foi uma defesa natural do meu inconsciente. Eu tinha certeza de que não conseguiria manter distância por muito tempo e, sinceramente, não sei se adiantaria alguma coisa ficar brigando, pois ele nunca havia me enganado em nada e ainda assim eu quis arriscar. Mesmo com o aviso da minha amiga e da minha mãe, eu não quis ouvir ninguém.

***

Bruno Dormir sentindo aquela delícia encostada em mim foi difícil, mas o cansaço me abateu. Acordei quando remexi na cama e a senti vazia. Levantei para ver onde Marcela estava, pois por um segundo fiquei com medo dela ter fugido no meio da madrugada. Ela era bem louca para fugir, mas fui surpreendido por uma verdadeira obra de arte, vendo a loira em pé com o dia nascendo à sua frente. Meu amigo era muito inconveniente, ele acordou na hora. Eu não queria assustá-la, então fui andando devagar em sua direção. Parei a poucos centímetros dela, senti o aroma do seu cabelo, minha vontade era deitá-la ali no chão mesmo e fazer o sexo mais selvagem e alucinante do mundo, mas eu precisava ir devagar. Coloquei as mãos em seu ombro e senti que ela estremeceu. Cheguei próximo ao seu ouvido e disse: — Loira, por favor, fala comigo. Não me deixa nesta angústia. Ela respirou fundo e disse: — Bruno, eu não tenho nada para falar. Só quero esclarecer uma coisa: não gostei do que você fez, mas você também tem razão quando diz que eu podia ter negado e eu não recuei. Só vou te dizer uma vez e gostaria que você prestasse muita atenção: não terá segunda vez. Se você

repetir algo parecido, não vai me ver nunca mais. Entendeu? — Nunca tinha visto a loira tão séria, então não era hora para brincadeiras. — Marcela, eu sei que não foi legal, não vou mentir. Eu sabia que você ficaria brava, porém não consegui voltar atrás. Eu queria que você me visse como eu sou, sem fantasias e ilusões. Não gostei do que você fez no bar, mas sei que mereci. Vamos colocar uma pedra nisto, por favor. Percebi que ela estava avaliando o que eu havia falado, ela ainda se mantinha de costas para mim. Delicadamente eu a virei e não aguentei quando vi as lágrimas descendo em seu rosto. Mulher chorando sempre foi meu ponto fraco, então eu a abracei e pedi que ela não chorasse. Disse que não faria mais nenhuma merda e que ela era uma amiga importante para mim, que não queria feri-la. Ela ficou quietinha chorando em meus braços, enquanto eu ficava a balançando devagar como se estivesse ninando e levando a dor embora. Ali, naquele momento, eu decidi que iria recompensá-la no resto do nosso final de semana por ter sido um babaca. E começaria naquela hora. Eu a beijei docemente, com calma, tentando a minha remissão. Ainda com os lábios colados nos dela, eu a levantei em meu colo e a coloquei na cama. Ela já tinha me falado que amava Roupa Nova, então escolhi uma lista deles na internet do celular e a música Os corações não são iguais deu o clima de romance que eu precisava naquele momento. Eu idolatrei cada centímetro do seu corpo, cuidei dela com carinho, como se fosse de porcelana. Ela gemia baixinho entre lágrimas, aquilo estava fundindo os meus parafusos, mas como eu estava queimado com ela, resolvi não pensar. Decidi dar a ela prazer e me doei em total entrega, pelo menos uma vez eu me permiti sentir. Beijei Marcela do dedinho do pé até a cabeça, eu a lambia, mordia, ela me arranhava, rebolava embaixo de mim e eu segurei a fúria do meu amigão o máximo que pude, até não ter mais como segurar. Foi intenso, quente e renovador. Acho que foi o sexo mais romântico da minha vida depois daquela criminosa dos Estados Unidos. Abraçados, cansados e extasiados dormimos em paz, pelo menos até a minha próxima burrada.

***

Marcela

Bruno me deixou em casa na segunda-feira conforme combinado com minha mãe. Graças a Deus ela não estava em casa para me fazer um interrogatório. Eu precisava correr para o meu quarto e estudar para uma prova de matemática comercial bombástica que eu teria no período da tarde. O mais difícil foi conseguir me concentrar em alguma coisa. Se alguém me falasse o que eu e Bruno iríamos fazer em São Paulo, eu, com certeza, diria que esta pessoa estava louca, mas como comigo nada é normal, aconteceu mesmo. Acordamos no meio do dia, tomamos banho, saímos para curtir o nosso último dia de viagem, mas não tocamos mais no assunto. Tanto eu quanto ele estávamos desconfortáveis demais para falar sobre o que aconteceu na manhã do domingo, então preferimos optar pelo código do silêncio. Dois covardes, isto mesmo. Nós dois não fomos corajosos o bastante para encarar a realidade. Minha semana estava um caos. Eu não parava de pensar no maldito e ele sumiu, evaporou. Cometi a burrice de ligar para ele no meio da semana o convidando para jantar e ele me dispensou na maior classe dizendo que tinha um compromisso. Tratou-me como se eu fosse um cara no qual ele jogou futebol no sábado. E eu ainda tinha a coragem de continuar como uma louca atrás dos jornais para poder me conformar com migalhas para saber notícias dele. Eu estava patética. Precisava tomar uma atitude o mais rápido possível antes que fosse tarde demais. Já tinha um plano formado em minha cabeça. Sairia para dançar com as meninas da academia e ia encontrar o primeiro gostoso que aparecesse em minha frente. Sim, era disso que eu precisava. De sexo com um novo espécime. Desde aquele touro indomável que eu não tinha ficado com mais ninguém e precisava diversificar. Bastava levar muitas camisinhas. Este era outro problema que eu iria resolver. Não usei proteção com Bruno nem uma única vez. Ele jurou que usava preservativo com todas, menos comigo, mas não podia acreditar neste papo da carochinha. Aproveitei que na quinta-feira não tinha aula de manhã e fui ao serviço de saúde para fazer teste de sífilis e HIV. Nossa, que situação tensa. Estava tão nervosa, que sentia sensação de desmaio. Enquanto esperava, ficava relembrando todas as vezes que transei com Bruno sem camisinha e, para piorar, só vinha à minha cabeça o monte de mulheres que ele pegava. Quando entrei para fazer o exame, foi simples, apenas um furinho no dedo e você não via nada, porque era um dispositivo que não permitia que a pessoa visse o terror que era uma agulha te furando. A enfermeira deixou o exame reagindo e conversou comigo me mostrando todos os riscos que corri sem o uso do preservativo. Eu suava frio, estava com uma baita dor de barriga e tremendo feito uma vara verde. Graças a Deus, deu tudo negativo, sem nenhuma doença. Como eu não ia mais cair na arena daquele touro, eu usaria preservativo para sempre.

Saí de lá quase na hora do almoço e resolvi comer uma massa em um restaurante italiano que eu amava. Sempre ia aos domingos com minha mãe e conhecia todos os funcionários da casa. Estava sentada no meu cantinho de sempre conversando com o Lauro, que era um garçom gatinho do restaurante, quando vi a visão do inferno. Eu não podia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Bruno entrando com seu terno preto impecável, com uma mulher linda, muito bem-vestida, com um corpo perfeito e um sorriso apaixonado no rosto. Eu quase me enfiei embaixo da mesa, mas acho que os amigos celestiais tiveram pena de mim e eles foram para o outro lado do restaurante. De onde eu estava era possível ver os dois, mas ele sentou de costas para mim, então eu podia ver sem ser vista. E como masoquista que sou, fiquei petrificada assistindo a cena. Com certeza, eles eram íntimos um do outro. Conversavam e sorriam cúmplices. Parecia que ele contava algo para ela e eu na minha alucinação sofredora, fantasiei que ele estava contando a ela os mínimos detalhes de nosso final de semana. Principalmente, em um momento que ele se aproximou dela, disse algo em seu ouvido e ela deu uma gargalhada gostosa. Senti ânsia de vômito, pensei que fosse morrer. Chamei Lauro e pedi que me ajudasse a sair pelos fundos, pois não era possível fugir daquele lugar sem ser vista por eles. Meu amigo prontamente me ajudou. Saí na rua correndo como louca, quem visse podia imaginar que eu era uma ladra, mas precisava fugir o mais longe possível daquele lugar. No meu momento de insanidade, corri do restaurante à minha casa. Eu estava tão louca, que percorri quase dez quilômetros correndo e chorando. Quando cheguei ao meu edifício, passei voando pelo Senhor Ernesto e subi pelas escadas. Assim que entrei, liguei para Valentina aos prantos pedindo que fosse a minha casa. Ela me disse que dentro de meia hora estaria lá. Mamãe estava em sua loja. Todos os dias, à tarde, ela dava curso de confeitaria. Minha loucura era tão grande, que entrei para o banho de roupa e tudo, abri o chuveiro e sentei no chão embaixo da água. Depois de muito chorar e me xingar por ter sido tão ridícula, pois eu deveria ter ido à mesa e cumprimentado ele como se fosse um qualquer. Ouvi a campainha tocar. Abri a porta para a minha amiga com o olho vermelho e inchado. Ela me abraçou e foi me levando para o sofá. Pediu que eu contasse tudo e eu me abri. Falei tudo que havia acontecido desde a sexta-feira, sem esconder nada. Valentina era daquelas amigas que ouvia tudo em silêncio, sem julgamentos, para somente depois dar seu veredicto. Quando terminei toda minha história, ela segurou minha mão e disse: — Marcela, você sabe que quero o melhor para você. Por favor, amiga, fica longe de Bruno. Ele é louco, irresponsável e sabe que você está na mão dele. Olha, ele some por muitos dias, aparece, te chama para esta viagem maluca e depois ainda te dá um aviso, que com ele sempre

será assim. E para piorar some de novo. Amiga, sai desta, vai se machucar. — Eu sei, irmã, mas eu sinto que quando está comigo é diferente. Tem hora que percebo que ele tem medo de se apegar e aí fica distante. Quando está perto, eu não tenho forças para me manter longe, Valentina. Tão difícil entender assim? Minha amiga me conhecia desde sempre e sabia que não adiantava falar naquela hora. Eu era assim, sofria, chorava, falava e depois de elaborar minha dor, dava a volta por cima. Ela sabia do que eu precisava. Foi para a cozinha, pegou todos os ingredientes no armário e fez meu doce favorito: brigadeiro de panela. Depois fomos para a sala assistir um vídeo da nossa infância e comemos o doce. Ela me falou empolgadíssima da viagem que faria com o gostoso do seu namorado no final de semana para um congresso de Direito. O maldito touro também iria. E como eu não tinha o que fazer, ia colocar meu plano de diversificar em prática.

***

Acordei animadíssima. Era um sábado lindo, eu e as meninas da academia iríamos dançar à noite. Eu estava bem melhor, tinha decidido não sofrer por Bruno. Faria como a música de Zeca Pagodinho, ia deixar a vida me levar, se ele aparecesse e eu estivesse a fim faria sexo, somente sexo frio e carnal, aliás, não tão frio porque com ele nada era assim, mas não misturaria mais sentimentos. Arrumei toda a casa ao som da minha diva, Rihanna. Trabalhava e dançava. Esta era a minha melhor terapia. Depois de tudo pronto, almocei com mamãe no shopping. Compramos algumas roupas e voltamos para casa, felizes e cansadas. Relaxei por uma hora antes de começar a me arrumar para minha grande noite. Coloquei Henrique e Juliano para tocar, adorava aqueles dois e fui para o banho. Saí do banheiro enrolada na toalha, quando começou a tocar a música Parece Piada, prestei atenção na letra da música e comecei a rir sozinha. Decididamente aquele seria o hino oficial meu e de Bruno, a música tinha sido feita para nós. Não pensei duas vezes, enviei o link para ele por mensagem, com uma foto minha enrolada na toalha com cara de safada e escrevi:

Curta sua noite, tourão, eu vou curtir a minha. Sua amiga com benefícios.

Estava me sentindo maquiavélica, enquanto me aprontava esperava a revanche. Como Bruno era Bruno, não demorou muito e ouvi meu celular vibrar. Fiz uma horinha para ver a mensagem, para não parecer que estava desesperada pela resposta. Acabei de vestir minha roupa arrasa quarteirão, fiz minha maquiagem e só aí fui ver o celular. Quase engasguei de tanto rir. Ele me mandou uma foto de sua mão arrumando seu membro duro em seu terno, a música Os Dez Mandamentos do Amor, de Eduardo Costa, e escreveu:

Rebelde, rebelde. Não brinca com aquilo que você não dá conta. E juízo, viu? Não estou aí para te livrar de encrencas e meu pai está brigado comigo, então desta vez você mofa na cadeia. Beijo nesta bunda linda, minha amiga mais gostosa.

Bruno decididamente não era deste mundo. Confesso que esta troca de mensagens me deixou mais segura para a noite. Percebi que era possível a gente ser sim amigos com benefícios, pois uma coisa era certa: a gente se dava muito bem na horizontal, na vertical, na transversal, aliás, em qualquer ângulo que fosse possível. Não respondi a mensagem, pois o objetivo era só dar um oi e mais nada. Coloquei meu celular na pequena bolsa que carregava com minha carteira e saí para a noite. Estava decidido, eu iria causar. Que todos se preparassem, Marcela estava na área, mais perigosa do que nunca.

Capítulo 22

A noite promete

Marcela

Depois da minha pequena brincadeira com Bruno, saí animadíssima para a balada. Estava me sentindo linda e poderosa. Eu e minhas amigas marcamos de nos encontrar na frente da boate. Éramos um grupo de cinco meninas que chamava certa atenção, todas nós dançávamos muito na academia e podíamos dizer que estávamos com tudo em cima. A noite na capital mineira estava agradável, nos permitindo abusar nos comprimentos das roupas. Naquela noite seria comemorado o aniversário da Melissa, que nós chamávamos carinhosamente de Mel. Ela tinha conseguido de presente do pai, a reserva de dez mesas na área VIP. Para nossa felicidade, convidados não precisavam enfrentar a extensa fila que era minha velha conhecida das noites de farra. Como Valentina só vivia em função de Pedro, eu estava saindo mais com as meninas naqueles últimos meses. O interior da boate já estava lotado, muita gente bonita, principalmente, homens lindos. Fomos para o andar superior onde Mel iria receber seus convidados. Ela receberia alguns primos, amigos da universidade e de sua rua. O ambiente já estava com quase todas as mesas ocupadas por seus convidados. Ela nos apresentou a todos eles, alguns eram gatinhos, mas eu não queria nada com ninguém conhecido. Naquela noite queria alguém desconhecido e sem nenhum vínculo com minha vida. Queria ser a mulher rebelde que Bruno tanto falava. Pedimos uma bebida e fomos em direção à pista de dança que estava fervendo. Formamos o

quinteto das poderosas, não tinha para ninguém. Éramos o retrato da alegria e a noite era uma criança. Às vezes alguns lindos vinham dançar conosco, mas a gente sorria, brincava e delicadamente dispensava os meninos, pois ainda estávamos aquecendo nossos motores. Depois de dançarmos por quase uma hora, fomos ao bar nos hidratar. Depois de tomarmos água, pedimos uma rodada de tequila para começarmos os trabalhos. Voltamos para a área das mesas e as meninas foram se ajeitando com alguns lindos que estavam com os convidados da Mel. Eu me sentia esquisita, sem saber por onde começar. Avisei as meninas que iria ao banheiro, precisava refrescar meu rosto que estava em chamas. No caminho fui conversando com meu inconsciente que estava querendo me boicotar. Qual era a dele? O banheiro como sempre estava lotado, não entendia por qual motivo algumas mulheres amavam tanto se enfiar naquele cubículo com as amigas a tiracolo. Eu e minhas amigas nunca fomos destas agarradas que não fazem nada sozinhas. Assim que consegui um espaço na pia, lavei meu rosto e retoquei meu batom. Olhei para o espelho e parecia que minha consciência falava comigo. Era como se a minha imagem dissesse: Pode parar a palhaçada, senhorita Marcela. Você saiu hoje para se divertir e não para ficar pensando no maldito tourão. Não interessa a você o que ele está fazendo agora. Interessa o que você vai fazer. Vá para aquela pista de dança, dê seu show e arrume um gostoso para aquecer sua noite. Comecei a rir da minha loucura e saí para dançar. No corredor ouvi que tocava uma música On The Floor ft. Pitbull, que eu amava, da Jennifer Lopez. Acelerei meu passo para dançar no meio da galera. Fechei meus olhos e me entreguei à música como sempre fazia. Adorava dançar assim, só a música e eu. Logo depois começou a tocar Bad Romance, de Lady Gaga, e a galera foi à loucura na pista de dança e foi neste momento que eu o vi. Um homem lindo de mais ou menos um metro e noventa, com olhos verdes como água, um corpo perfeito esculpido pelos deuses, com o cabelo negro ondulado, dançando como uma pantera pronta para o bote. Nunca tinha visto nenhum macho alfa como aquele dançando tão bem. Ele tinha uma dança sensual e perfeita. Fiquei hipnotizada quando percebi que ele fazia movimentos sincronizados com o meu. Decididamente, aquele era um homem maduro, ciente de seu poder. Dançamos mais duas músicas assim, um distante do outro, mas sem afastar os olhares e com uma conexão incrível. Na terceira música, ele veio dançando e se aproximando de mim. Senti meus cabelos da nuca arrepiar e borboletas no estômago. Quando ele chegou bem próximo de mim, me virou de costas, abraçou minha cintura e dançamos colados no mesmo compasso. Nossa! A dança

estava quente, intensa. O homem sabia o que estava fazendo. Como bailarina de dança contemporânea, eu sabia reconhecer um bom dançarino. Quando a música acabou, ele disse em meu ouvido: — Hermosa, aceita una bebida? — Meu senhor protetor das meninas rebeldes, cuida de mim. O homem não era brasileiro e falava de um jeito de molhar a calcinha. Virei para ele e disse: — Claro que aceito, lindo. — Ele segurou minha mão e saiu me puxando para o bar. Quando sentamos próximo ao balcão, ele segurou minha mão, beijou e olhou para mim com um jeito de matar. — Yo soy Alejandro e usted és? — Eu sou Marcela, muito prazer. — Estoy encantado em conocerte.

***

Bruno

Minha semana havia começado muito complicada. O final de semana no resort tinha sido perfeito. Foi um momento agradável para integração e reencontro com os amigos. As palestras foram excelentes e meu primo arrasou na abertura do congresso. Minha amiga Aline, com tão pouco tempo de promotoria, já estava arrasando. Ela estava agora com as ações criminais e quem via aquela carinha de anjo, não imaginava do que era capaz. Como sempre, nestes eventos, encontramos muita mulher bonita e solteira. No sábado à noite aconteceu uma festa para confraternização, não estava em meus planos arrumar ninguém. Porém, mesmo sem querer acabei minha noite com uma morena muito gostosa. Deixei claro para ela que podíamos curtir a noite juntos e só. Ela era uma mulher liberal, moderna e aceitou. No final valeu a pena. Como o local do evento não era muito longe da capital, voltei na segunda-feira pela manhã. Passei em casa para tomar um banho e trocar de roupa, quando minha mãe me contou que meu pai estava uma fera. Ele havia encontrado com seu amigo juiz no final de semana e estava muito

bravo por ter descoberto a história dos meninos do abrigo. Fiquei tão desanimado com aquilo, que minha vontade era de sumir. Não entendia porque meu pai não ficava orgulhoso de mim, afinal eu estava lutando em prol de um bem maior. A raiva do meu pai era uma coisa inexplicável. Cheguei à firma e fui direto para a minha sala, esperava não encontrar com doutor Augusto na manhã, para que ele não azedasse meu dia desde cedo. Minha secretária me passou a agenda do dia, trouxe os jornais, a correspondência e eu pedi a ela que marcasse uma reunião com meus amigos Alfredo e Luan para o final da tarde, não podia esperar mais. O tempo acordado com o juiz estava acabando. Assim que ela saiu da minha sala, eu comecei a olhar tudo que ela tinha deixado na minha mesa. Comecei pelo jornal Aconteceu na Capital, queria ver o que tinha acontecido na noite mineira em minha ausência. Na primeira página do jornal havia uma manchete que dizia que um famoso bailarino espanhol tinha sido visto em noite da capital e os jornalistas especulavam qual seria o real motivo dele estar no país acompanhado de seu empresário e advogado. Grande coisa! Será que o jornal não tinha nada melhor para mostrar que um marica deste no Brasil? Não sei por qual motivo eu continuava lendo aquelas coisas, mas antes de desprezar por vez o impresso, resolvi dar uma passada de olho nas páginas onde tinha as fotos das baladas. Assim que bati o olho nas imagens, não consegui acreditar no que estava vendo. Tinha uma foto em destaque do tal espanhol no meio de um monte de mulher, mas abraçado com ele, tinha uma loira que eu conhecia muito bem. E depois uma foto dos dois dançando em clima romântico. Que porra era esta? O que Marcela estava fazendo ali? Li a legenda que dizia: “Quem será a loira que roubou o coração de nosso lindo espanhol?”. O quê? Aquele era o bailarino? Porra, bastava eu deixar a rebelde sozinha e ela já se esfregava em outro? Fiquei pensando onde estava a mulher que fez aquele drama todo em São Paulo.

***

Marcela Juro que se aquele homem continuasse falando assim eu ia ter um ataque cardíaco. Bebemos e conversamos um pouco. Descobri que era espanhol, tinha chegado ao Brasil na quinta-feira à noite,

participou de uma reunião na sexta e já iria embora pela manhã no domingo. Estava com seu advogado que não quis acompanhá-lo na boate, segundo ele, a esposa era muito ciumenta. Disse que por questões contratuais não podia falar muita coisa. Na verdade, eu estava curiosa, mas não ia insistir uma vez que ele não podia falar nada. Conversamos amenidades referentes à cidade de Belo Horizonte e percebi que tinha um grande interesse sobre os espetáculos culturais da cidade. Fiquei imaginando se era algum ator ou cantor de ópera. Alejandro tinha um ar de mistério, não sei se era por não saber o que ele fazia ou por ser lindo demais. De onde estava vi minhas amigas dançando com os lindos convidados de Mel, elas fizeram coração com as mãos de longe para mim e eu acenei com outro para elas. Alejandro olhou em direção às meninas e sorriu. Uau, que sorriso. Ele me perguntou se eu queria voltar a dançar e aceitei para continuar nosso joguinho de sedução. Alejandro era a vítima perfeita para meu plano de diversificar. Assim que chegamos perto das meninas, fiz as apresentações e naquela hora apareceu o fotógrafo da boate, falou alguma coisa no ouvido de Alejandro que concordou. Sem entender nada fizemos a pose para a tal foto. Alejandro abraçado comigo e as meninas em volta. Logo depois do momento popstar, o DJ disse que iria diminuir o ritmo para acalmar a respiração da galera. Começou a tocar a música Spectrum, da minha diva Florence + The Machine. Aquela música era perfeita para meus planos. Sedutoramente comecei a dançar em volta daquele espanhol caliente, sempre mantendo meu olhar no dele. Ele também não deixava por menos, dava um espetáculo na pista. A mulherada em volta estava delirando com ele, mas seus olhos estavam em mim, como uma águia na caça. De repente, ele me pegou pela cintura, me levantou no ar, me mantendo em seu eixo e foi me descendo muito próximo ao seu corpo. Caramba, perfeito e semelhante ao que os bailarinos faziam com suas parceiras. Era muita adrenalina. Dançamos colados em movimentos totalmente eróticos, estava quente, muito quente, até que ele me beijou. Sua boca tomou posse da minha, primeiro de forma suave, macia, mas depois ele começou a me beijar de forma quase sexual. Sentia minha calcinha muito molhada e também seu membro duro em mim. Continuávamos nossa dança de quase acasalamento, suas mãos exploravam meu corpo, eu estava hiperventilando, quando ele me virou pela cintura até quase o chão, em um movimento muito sensual. Algumas pessoas estavam assistindo o espetáculo que era nossa dança. Juro que se tivéssemos ensaiado não saía assim. Ele me beijava e me conduzia ao mesmo tempo. Com certeza ele sabia o que estava fazendo. Confesso que eu tinha sim saído mal-intencionada, mas não acreditei que seria tão bom e que eu conheceria um espanhol tão caliente. No final da música, ele saiu me arrastando para o corredor escuro da boate, me colocou na parede e me beijou. A

sensação que eu tinha era que ele tinha tantas mãos quanto um polvo. Era quase um ataque nuclear. Isso mesmo, meu núcleo estava sentindo a explosão de várias bombas ao mesmo tempo. Meu vestido era curto e ajudava as investidas do homem. Estava meio atordoada pelas mãos dele em meu corpo, quando resolvi participar mais da coisa, aliás, eu não era nenhuma menininha boba inexperiente. Dois poderiam jogar aquele jogo. Comecei a arranhar as costas dele e rebolar em seu pau. Senti que o espanhol derreteu em minhas reboladas. Ele me beijava me mordia e dizia em meu ouvido: — Te quiero hermosa! — Ai Jesus se ele continuasse falando daquele jeito ia gozar ali mesmo na parede da boate. Durante aquele amasso minha infeliz consciência ainda tentou me parar, mas eu não queria dar ouvidos a ela. Precisava retirar certo babaca do meu sistema e aquele espanhol poderia ser o toureiro a derrubar o touro maldito. Ele então adentrou o espaço sagrado da minha calcinha, vi estrelas. Resolvi trancar a porta do juízo e abri a do prazer. Como eu conhecia aquela boate como a palma da minha mão, sabia que na área VIP tinha um canto oval que dava total privacidade a quem quisesse ousar mais e eu estava louca para realizar minha fantasia de transar em uma boate com um desconhecido. Decidi que aquela noite seria perfeita para fantasias mais ousadas. Segurei a mão do gostoso e o puxei rumo ao local dos prazeres. Como eu imaginava, não havia ninguém próximo aquele cantinho, pois ficava longe da badalação e das mesas. Quando o espanhol viu minhas intenções, deu um sorriso ferino e literalmente me espremeu com toda sua vitalidade na parede. Voltamos para onde paramos, no meio do amasso. Suas mãos invadiram minha calcinha, senti seus dedos brincando com meu núcleo, sabia que não ia demorar a gozar, ainda mais com aquele gostoso dizendo: — Mueve hermosa caliente. — Se não estivesse enganada, o pedido era para que eu rebolasse. Como eu era uma menina boazinha, voltei a rebolar sedutoramente. Deixando o toureiro em ponto de bala. A coisa estava pegando fogo, senti que ele abria sua calça e rasgava um envelope de preservativo. Continuei beijando sua boca com fome, rebolando, quando senti que minha calcinha foi ferozmente rasgada. Ele levantou minha perna e entrou em mim com força, duro e quente, muito quente. Não demorei muito a ver estrelas e cometas. Ele veio logo depois de mim, mordendo meu pescoço e dizendo palavras em espanhol em meu ouvido. Não entendia algumas, mas era sexy, muito sexy. Ficamos mais algum tempo nos agarrando no nosso cantinho particular. Depois ele gentilmente arrumou meu vestido e me convidou para sairmos em busca de comida. Despedi de minhas amigas,

dizendo que voltaria para casa de táxi. Alejandro estava com um carro alugado e me perguntou onde poderíamos comer um bom sanduíche naquela hora. Expliquei a ele o caminho para o melhor trailer de hambúrguer de Belo Horizonte. Comemos o maior que havia, estávamos famintos depois de tanta atividade. Perguntei a ele sobre as famosas touradas da Espanha e ele me contou tudo, com brilho nos olhos. Disse que, apesar de tantas críticas, aquele era quase um símbolo de identidade de seu país. Falou que a praça mais famosa das touradas era a de Las Ventas, em Madri, e que ele desde pequeno aprendeu com seu pai a amar e respeitar aquela tradição. A conversa com Alejandro era gostosa, ele era simpático e engraçado. Só mantinha mistério com sua profissão e eu preferi não insistir. Depois que acabamos de lanchar, o dia já estava amanhecendo. O convidei para ver o mais lindo nascente do sol na Lagoa da Pampulha, adorava aquele lugar. Fomos de carro até lá e paramos para apreciar a maravilha da natureza. Ele insistiu em tirar uma foto minha com seu celular. Acabei deixando e uma foto só, acabou virando quase um ensaio fotográfico, fizemos bocas e caretas. Tirei algumas dele com meu celular também, afinal não era todo dia que eu via um homem daqueles. Como tudo que é bom acaba, ele me levou em casa, pois seu voo de volta a terras espanholas era às dez da manhã daquele mesmo dia. Na despedida, ele ainda insistiu para que trocássemos número de telefone, mas eu achei melhor não. Aquilo era para durar somente o tempo que durou, ainda mais com ele morando do outro lado do mundo. Ele não ficou muito satisfeito, mas acabou entendendo. Eu disse a ele que se fosse para encontrarmos de novo, o destino faria seu dever de casa. Trocamos mais um beijo delicioso de despedida. E ele partiu. Meu plano tinha sido perfeito e terminava ali.

Capítulo 23

Maldito europeu!

Bruno

Estava queimando meus neurônios, com meu ego ferido, pois já havia ligado para aquela infeliz cinco vezes e ela não me atendeu, quando meu pai entrou como um furacão em minha sala. Levei um susto, não esperava logo cedo ter que enfrentar o doutor Augusto. Ele fez seu show. Disse que eu não tinha juízo de ir pedir a um juiz para reconsiderar sua decisão, que eu acabaria por destruir minha promissora carreira se ficasse preocupado em salvar todos os pobres e oprimidos do mundo e que não esperava tais condutas da minha parte. Não valia a pena retrucar ou responder meu pai, mas como não tinha sangue de barata correndo nas veias, acabei brigando. Foi muito desagradável, ainda mais porque os outros funcionários acabaram ouvindo. Antes de sair, meu pai ainda me proibiu de continuar indo à instituição. Pensei em responder, mas desisti, seria em vão. Terminei o que tinha para fazer durante a manhã e aproveitei a hora do almoço para lutar um pouco. Estava sem fome, mal-humorado e com muita raiva. Depois de uma hora de muita porrada no saco de areia, passei no meu flat, tomei um banho e voltei ao escritório. Naquela tarde, eu iria ouvir o pai de Verônica para terminarmos a defesa. O julgamento começaria dentro de duas semanas e eu precisava estar muito preparado. Não podia pensar naquela loira atrevida naquele momento. Precisava estar concentrado e focado no meu serviço. Tudo ocorreu conforme o previsto. Muito cansativo, meu estagiário me ajudou a tomar nota de

tudo. Terminamos quase no horário da minha reunião com meus amigos. Para evitar um estresse maior com meu pai, liguei para eles e marquei em uma choperia, pois o assunto era delicado e precisávamos de calma para conversar. O bar seria o lugar ideal para um bate-papo sem interrupções. Alfredo e Luan formavam um casal homoafetivo, eram pessoas do bem, idôneas, ótimos amigos e se amavam. Em virtude da homofobia e do preconceito, eles eram muito discretos e poucas pessoas sabiam que moravam juntos. Aquilo me deixava triste, pois eles viviam com medo de sofrer agressão ou discriminação no meio profissional. Eu sabia que eles eram loucos para formar uma família de verdade, com filhos. Minha ideia era que eles concordassem em adotar os meninos. Enquanto esperava, a foto do jornal não saía do meu pensamento. Maldito europeu! Eu estava tomando um uísque no balcão, quando vi meus amigos chegando sorridentes como sempre. Fui ao encontro dos dois para que pudéssemos sentar em uma mesa mais afastada da movimentação. Iniciamos a conversa colocando o papo em dia, cada um falando de seu trabalho e da correria do dia a dia. Como eu nunca consegui segurar muito a ansiedade quando tinha uma ideia, fui logo contando a eles sobre os meninos desde o início. Eles sabiam de algumas coisas, mas não da história toda. Terminei falando do meu acordo com o juiz e da dificuldade em arrumar uma família para dois meninos negros de seis e oito anos. Meus amigos ficaram sensibilizados com tudo que contei, então aproveitei a emoção dos dois e disse: — Alfredo e Luan, os meninos precisam de uma família disposta a adotá-los e a amá-los. Eu pensei muito antes de conversar com vocês, mas cada vez mais acho que a minha ideia é boa. Não vou enrolar mais. O que acham de serem os pais de Clebinho e Carlinhos? Os dois se olharam emocionados. Alfredo foi o primeiro a falar: — Bruno, você sabe que somos uma família diferente do aceitável na sociedade, mas somos completamente capazes de educar duas crianças e fazê-las felizes. Eu mesmo já tinha falado desta hipótese com Luan. A minha pergunta para você é: o juiz irá aceitar a gente como família adotante? Só quando Alfredo terminou sua fala percebi que estava prendendo a respiração. Sorri e disse a ele: — Alfredo, isto é comigo, amigo. Basta vocês falarem que concordam que eu providencio tudo necessário para que vocês se habilitem para adoção e sejam os pais perfeitos para os meninos. Estamos há quase um mês entrando em contato com pessoas habilitadas pelo Brasil afora, sempre

seguindo o cadastro nacional de adoção, mas não consigo achar nenhuma família com o perfil dos meus pequenos. Luan olhou para Alfredo, sorriu e me disse: — Nós temos vontade de adotar sim, você sempre soube. Nosso receio era se o judiciário iria permitir a adoção por um casal homoafetivo. Nós temos um documento de relação estável, moramos juntos há oito anos e não temos nada que nos desabone. Você consegue esta adoção sem mídia e este carnaval todo que gira em torno de sua vida louca, amigo? — Claro que consigo, Luan. Até parece que não me conhece. Os holofotes ficam somente a cargo da grande firma do doutor Augusto, este meu trabalho na instituição não interessa a mídia. Não tem nenhum grande figurão envolvido ou uma grande multinacional. Meu trabalho na instituição é com crianças abandonadas, com seus direitos violados e isto, amigo, infelizmente não vende. São os invisíveis da nossa sociedade e demonstram como nosso sistema é falho. Então, Luan, não se preocupe, nenhum jornalista quer saber destas crianças. — Infelizmente, não é, Bruno? Tanta criança precisando de amor e as pessoas gastam milhões com seus cachorros. Não que eu ache errado o amor aos animais, mas infelizmente os cãezinhos abandonados estão conseguindo ser adotados primeiro que as crianças de nossos abrigos. Amigo, você acabou de achar dois pais para aqueles sapecas, mas temos uma condição. Que você aceite ser o padrinho dos nossos meninos. Juro que senti uma vontade enorme de chorar, mas controlei minhas emoções. Levantei da mesa e abracei meus amigos com os olhos marejados. Eu estava feliz demais por ter conseguido. Sei que ainda iria ter que convencer o juiz a aceitar a adoção, mas já tinha pesquisado e descoberto que o judiciário já tinha realizado somente naquele ano mais de dez adoções por casais do mesmo sexo. Isto era um avanço para nosso sistema judiciário que ainda era tão arcaico em algumas situações.

***

Marcela

Eu deveria ter ido dormir cedo no domingo, mas fiquei perdida em pensamentos revivendo os

momentos da minha noite com Alejandro. Era um sentimento estranho. Aquele homem era intenso, trazia em seu ser uma grande carga emocional, mas nosso tempo era curto demais para descobertas. Eu já tinha ouvido várias vezes a música que ele ouviu comigo. Minha mãe até me perguntou qual era o problema comigo por ouvir tantas vezes uma canção tão triste. Dona Laura me conhecia e sabia que este não era meu ritmo favorito, mas naquele domingo eu não queria sair do meu casulo. Minha manhã de segunda-feira foi uma loucura, quase perdi a hora, tinha prova na faculdade no primeiro horário e depois apresentação de um seminário. Terminamos nossas atividades quase na hora do almoço, resolvi fazer somente um lanche, pois ia passar a tarde toda ensaiando com as crianças. Estávamos próximos do espetáculo de final de ano e precisávamos correr com os ensaios. Fui a uma lanchonete perto da academia, enquanto esperava meu lanche, resolvi dar uma olhada no meu celular e levei um susto. Havia cinco ligações perdidas de Bruno e umas dez da Mel, fora o monte de mensagens pedindo que eu olhasse o jornal Aconteceu na Capital. Fiquei louca de curiosidade, mas precisaria esperar, pois não tinha como acessar o jornal na íntegra pelo celular. Teria que correr em uma banca de revistas e rezar para ainda ter um exemplar para eu comprar. Mandei mensagem para Mel perguntando o que era, mas ela disse que eu precisava ver com meus próprios olhos. Nunca comi um lanche tão rápido na minha vida. Terminei e saí correndo em busca da notícia tão importante que eu precisava ver. Cheguei à banca quase sem conseguir respirar, de tanto que corri. Dei sorte de conseguir comprar o último jornal. Não ia conseguir esperar, abri o exemplar ali mesmo. Na primeira folha dizia que um bailarino espanhol tinha sido visto na noite mineira. Meu coração disparou, não podia ser. Eu não estava preparada para ver o interior do encarte, assim que passei as páginas, vi duas fotos em que eu estava com Alejandro. Precisei sentar no meio-fio, pois me senti um pouco tonta, talvez por ter corrido após o lanche, ou pelo susto mesmo das imagens. Li a matéria sem acreditar no que meus olhos viam. Alejandro era um famoso bailarino espanhol? Como eu nunca tinha visto nada sobre ele antes? Por isto ele dançava tão bem, Marcela, sua burra. Fiquei parada em estado de choque. Acima da minha foto dançando com ele de maneira romântica estava escrito: “Quem será a loira que roubou o coração de nosso lindo espanhol?”. Meu Deus, qual era o mistério daquele homem? O que ele estava fazendo em Belo Horizonte? Naquele momento quis me matar por não ter aceitado o telefone dele. Minha curiosidade ia me adoecer.

Coloquei na busca do celular o nome dele Alejandro Del Menez. Uau! Apareceu um milhão de notícias. Ele era um bailarino cheio de prêmios e participações em diversas óperas pela Europa. Claro que eu queria ver se tinha fotos dele com muitas mulheres, mas não achei quase nada. Somente uma notícia que mostrava ele e uma linda mulher mais velha em um funeral. Abri esta notícia, ávida por informações e descobri que ele tinha perdido a noiva vítima de uma leucemia há oito meses. Nossa! Que tristeza! Algumas manchetes diziam que ele era o mais novo solteiro cobiçado pelas mulheres espanholas. Que horror, as pessoas nem bem esperaram o luto do homem e já estavam feito abelhas no mel. Era muita informação para a minha cabeça. Assim que consegui me restabelecer, levantei e fui rumo ao lugar que mais me acalmava no mundo: a academia de dança. No caminho liguei para Mel que estava em estado de alegria por ter descoberto quem era Alejandro. Ela disse o que eu já sabia, que tinha milhões de fotos dele na internet e que ele tinha vários prêmios internacionais de dança. Eu não entendia como nunca tinha visto ele antes. Fui para o vestiário trocar de roupa e Valentina me ligou. Atendi ao telefone esperando o surto da minha amiga. — Marcela, para tudo. Como você consegue ser sortuda deste jeito? Que homem lindo. E ainda virou celebridade. Daria tudo para ver a cara do babaca do Bruno vendo o jornal. Ele já falou com você? Achei engraçado o prazer da minha amiga em desejar que Bruno se ferrasse. Suspirei e falei: — Ainda não, Val, mas tinha cinco ligações perdidas dele no meu celular. Não atendi nenhuma, pois estava em prova. Ainda estou sem acreditar no que vi. Ai, meu Deus, Bruno também dever ter visto. Por isto tantas ligações. — Ai meu Deus nada, Marcela. Pode parar com a palhaçada. Vocês têm somente uma relação maluca como vocês dois. E para sua informação, querida amiga, seu tourão não perdeu tempo no congresso, levou uma morena linda para seu quarto. — Meu estômago embrulhou. Que perfeito idiota, não podia ver uma mulher. Ainda bem que tinha levado meu plano até o final. Não ia deixar Valentina perceber que eu estava com ciúmes. — Que bom para ele, amiga. Nós não temos nada um com outro, só transamos quando dá vontade. É bom para os dois. Só sexo. Posso te garantir que é o melhor sexo do mundo. Minha amiga deu uma gargalhada e disse:

— Ai, ai, Marcela, se eu não te conhecesse desde a infância até acreditaria, mas você só esqueceu de uma coisa: você está falando comigo, sua melhor amiga. Vou dizer de novo, cuidado com esta maluquice sua e de Bruno, não vai prestar. — Pode deixar! Prometo me cuidar. Agora preciso ir, minhas crianças me esperam. Ai meu Deus, tudo acontecia comigo, era obrigada a concordar com minha mãe quando dizia que eu tinha o dom de atrair problemas.

Capítulo 24

Brincando com fogo

Bruno

Já estávamos quase no final da semana e aquela maldita loira não me atendia. Ela estava conseguindo me enlouquecer, me deixando possesso por seu atrevimento. Eu estava em mais uma tentativa frustrada, quando Pedro entrou em minha sala e ficou me observando. Desliguei o telefone com tanta raiva, que o joguei longe. Meu primo deu um sorrisinho cínico e disse: — Posso saber o porquê de você descontar sua raiva no pobre aparelho? Sinto informar, mas este não servirá mais. — Pedro, eu não estou bem hoje, cara. Não venha me irritar ainda mais. — Não estou te irritando, eu estou tentando te entender. Posso apostar meu salário todo que esta raiva é por Marcela não te atender. — Pensei em mandar meu primo para aquele lugar, mas precisava conversar com alguém de confiança e ele era o que eu mais confiava. — Pedro, eu sei que não tenho nada com ela. Sei que eu mesmo inventei esta história de amigos com benefício, mas acho que merecia mais consideração. Porra, ela não me atende. Por quê? — Talvez por estar muito ocupada, por não querer falar com você, pela última merda que você fez, sei lá, primo, por um monte de motivos. Cara, sou eu, seu primo, que te ama como irmão. Fala comigo. O que está acontecendo com você e Marcela?

Não sabia o que responder. Oras, não estava acontecendo nada. Ou estava? Resolvi ser sincero: — Não vou mentir para você. Eu não sei o que acontece. Ela tem o poder de me enlouquecer. É rebelde, boca dura, não se rende nunca, me desafia, é uma incógnita, Pedro. Não consigo decifrar esta mulher e isto me irrita, me deixa insano. Ao mesmo tempo, ela é divertida, linda, gostosa, carinhosa e imprevisível. Resumindo: não gosto do que ela me faz sentir. — O que ela te faz sentir, Bruno? — Ela me deixa vulnerável. Eu odeio me sentir assim. Você sabe, primo. Eu preciso me sentir seguro, não gosto do que acontece comigo quando estou com ela. — E o que acontece com você quando está com ela? — Eu fico idiota. Ela consegue me fazer recuar, ser um bunda mole. E não quero ser assim. — Meu amigo, você não acha que é hora de parar de fugir. Você precisa prosseguir, Bruno, dar uma chance a você. A vida é assim, a gente erra, tropeça, mas uma hora acertamos. Dê-se uma oportunidade. Senti um pânico subindo a minha garganta, como se eu estivesse sufocando e reagi. — Não, Pedro. Sem chances. Gosto da minha vida assim. Não vou mudar nada. Não quero oportunidade nenhuma. Está bom do jeito que está. O meu problema com Marcela é que ela insiste em me desafiar, por puro prazer, mas eu não aceito perder uma batalha, primo. Nem ela e nem ninguém me desafia. — Calma, cara, não precisa pirar. Quer saber? Desisto. Vocês são adultos, donos de si. Só vou dizer uma única vez: cuidado. Vocês estão percorrendo um caminho perigoso e que pode ser fatal. Só quero que você lembre: em qualquer situação, eu estou aqui. Basta me chamar. Levantei e dei um abraço no meu melhor amigo. Segurando seu ombro, olhei para ele e disse: — Eu sei, meu primo. Mesmo eu sendo este maluco, eu sei que posso contar com você. Obrigado.

***

Na sexta-feira à noite, recebemos a melhor notícia da semana. O juiz iria aceitar que meus amigos adotassem os meninos. E para ser melhor que eu esperava, já tinha expedido a guarda provisória. Eu estava muito feliz, com a sensação de dever cumprido. Saímos todos para comemorar. As técnicas do abrigo, os meninos e meus amigos. Fomos todos a uma pizzaria. Foi o primeiro momento oficial em família, pois depois daquela noite, Clebinho e Carlinhos já iriam para seu novo lar. Eram situações como aquela que me faziam ter certeza de que valia a pena todo o estresse com meu pai e todo o esforço que eu fazia para manter meus ideais. Enquanto todos comiam e falavam ao mesmo tempo, fiquei vendo aquelas crianças com tantos sofrimentos e que graças a minha loucura de enfrentar um juiz, hoje tinham um final feliz, e precisei segurar a emoção. O melhor de tudo foi ganhar dois afilhados lindos. Depois de muitas pizzas e sorrisos, os quatro saíram felizes, rumo à nova vida que os esperava. E eu? Bom, eu ia atrás de certa loira rebelde. Entrei no meu carro disposto a caçar aquela infeliz. Resolvi ligar para ela mais uma vez, quem sabe não estava com sorte. O telefone tocou algumas vezes e eu já ia desistir quando ela atendeu: — Oi, tourão. Quanto tempo, não? — Marcela, “minha querida amiga” acho que me deve algumas explicações, não é? — Devo? Acho que não, “meu querido amigo”. Ah, Marcela, não brinca comigo, loira. Respirei fundo e disse: — Ninguém te ensinou que é feio não atender ao telefone quando as pessoas te ligam? — Jura? Você me ligou? Não vi nenhuma ligação em meu celular. Que diaba, ia mentir na maior cara dura? Não estava acreditando. Ia mudar a tática então: — Como foi seu final de semana? Aproveitou muito? — Melhor impossível “amigo”. E o seu? Aproveitou muito o congresso? — Aquela história de amigo estava me irritando. A infeliz não ia falar nada e nem eu. Não daria este gostinho a ela. — Não como você aproveitou, linda, pois estes congressos são chatos. Mudando de assunto, eu estava pensando em dançar. Está a fim? — Para dançar sempre estou pronta, bonitão. Aliás, dançar sempre me deu sorte. — Não acredito que ouvi ela dando um risinho cínico. Que maldita loira. Eu ia me vingar, ah ia.

— Você tem meia hora para ficar pronta, loira. Está em casa? — Bruno, eu nasci pronta. Estou na choperia com as meninas próximo a sua boate favorita. Acha mesmo que eu estaria em casa em plena sexta-feira à noite, tourão? Decididamente Marcela queria me enlouquecer. Que mulher infernal. Por que ela tinha o imenso prazer em me irritar? Saí em busca da rebelde com uma única certeza: o nome que sairia de sua boca hoje na hora do orgasmo seria o meu e não o do tal espanhol maricas.

***

Marcela

Ah, tourão, a noite não ia terminar como você estava esperando. Ele podia até pensar que eu era boba de cair na lábia dele, mas não sabia com quem estava lidando. Aquela noite ficaria na história. Amigos podem sair juntos sem fazer nada, só conversar, se divertir e dançar. E era isto que eu ia fazer. Não terminaria embaixo dele como eu sabia que ele estava esperando. Fui ao banheiro da choperia e dei uma retocada em minha maquiagem. Graças a Deus eu saí pronta para o crime. Estava com uma saia preta justa, com uma blusa soltinha com um decote enorme nas costas, a cor era azul-petróleo, tinha um pouco de brilho e para terminar estava com um salto daqueles. Eu me sentia poderosa. Estava totalmente segura naquela noite. Confesso que ignorar as ligações de Bruno não foi fácil, mas eu precisava daquele tempo. O espanhol ainda circulava em meu sistema. Voltei para a mesa e continuei a conversa com as meninas. Mel falava sem parar em Alejandro, já estava me cansando. Eu já tinha contado tudo a ela um milhão de vezes, mas ela estava empolgadíssima. Estávamos rindo de alguma besteira que minha amiga disse, quando vi o maldito touro gostoso vindo em nossa direção. Puta que pariu, aquele homem era a reencarnação do pecado na terra. Lindo e perigoso demais. Ele estava todo de preto, aliás, ele gostava de uma roupa preta, mas ficava tão delicioso que não me importava. Ele chegou sorridente, cheio de gracinha com minhas amigas e nos convidou para a boate. Nós tínhamos ido para o bar no carro da Mel, para esnobar aquele convencido, disse a ele que

podia ir na frente, pois precisávamos ainda acertar a conta. Ele deu um sorrisinho de lado, aquele que eu amava, e disse que não estava com pressa. Que podíamos sair todos juntos. Claro que ele não ia fazer o que pedi, afinal, aquele era Bruno. O maldito sentou conosco e pediu um chope, ficou cheio de charme para minhas amigas. Ele pensa que não percebi que estava disposto a me irritar, mas eu estava preparada. Pedi licença a eles dizendo que precisava ir ao banheiro, mas na verdade eu precisava lavar meu rosto e me acalmar. Aquele homem exercia um poder louco sobre mim, mas não queria dar bandeira. Assim que voltei à mesa ele disse: — Minha maior curiosidade é saber por que as mulheres demoram tanto no banheiro? E neste caso, por qual motivo sempre levam uma amiga? Dei uma gargalhada e respondi: — Meu lindo amigo, este é um segredo que nós mulheres não revelamos nem se formos torturadas. As meninas ficaram rindo da cara que ele fez. Encerramos nossa conta e saímos os quatro. Bruno ainda insistiu para que fôssemos todas no mesmo carro, mas não aceitamos. Entramos as três no carro de Mel e fomos escoltadas por aquele touro controlador até a boate. Algo me dizia que a noite iria render e muito.

***

Bruno

Esta maldita mulher pensava que eu não sabia qual era a dela, mas estava redondamente enganada comigo. Marcela estava esperando uma cena de ciúmes em função do espanhol bailarino de merda, mas eu não daria este gostinho a ela. Já chega no dia que beijou o carinha e deu seu show no bar e eu a arrastei de lá. Desta vez, eu faria do meu modo Bruno de ser e queria ver se a loira ia aguentar. Chegamos à boate em carros separados, as meninas fizeram charme e não quiseram ir comigo. Eu resolvi aceitar, mas a rebelde votaria comigo ou não me chamo Bruno Fernandes.

Entramos sem filas, pois gastava uma pequena fortuna mensal para manter minha área VIP e ter este luxo de não enfrentar filas. Como sempre o lugar estava cheio de muita mulher bonita. Homem, eu não sei dizer, por não ter muita intimidade com beleza masculina. A única coisa que posso te afirmar era que eu fazia sucesso naquela boate com a mulherada. As amigas de Marcela também eram muito bonitas, eu até pensei em dar em cima de uma delas, mas era golpe baixo demais, preferi não arriscar. As meninas tinham feito um sorteio para saber quem seria o motorista da vez e a Mel tinha sido a sortuda ou azarada de não poder beber na noite. Em Belo Horizonte a lei seca funcionava direito, todo final de semana era muito mané preso dirigindo alcoolizado. Eu não era um santo, mas tentava evitar o excesso de álcool. A rainha da pista Rihanna tocava em alto e bom som. Eu sabia que iria assistir um show da rebelde, porque ela mandava muito bem no quesito dança. Marcela foi a frente, como se fosse a rainha da noite, ela sabia que dominava aquele espaço. Fomos todos para o meio da pista aproveitar a música. Ela fechou seus olhos para sentir a música e começou a sensualizar. Eu tinha certeza de que era para me enlouquecer, mas eu estava pronto para virar o jogo. As amigas sorriam, rebolavam e eu dançava com todas, menos com a loira que me esnobava. Depois de umas quatro músicas, saímos em direção ao bar. Perguntei para as meninas o que elas queriam beber, a Mel ficou no refrigerante, mas Marcela e Mary foram de tequila. Eu cheguei pertinho do ouvido dela e disse: — Saudades da tequila, loira? — Só da tequila, tourão, mais nada. Comecei a rir e chamei as meninas para voltarmos para a área VIP. Estávamos os quatro na mesa, quando dois amigos do escritório apareceram. Convidei os dois para se juntar a nós, apresentei as meninas e elas ficaram em um assanhamento só. Tudo bem, Lorenzo e Mateus eram irmãos e faziam certo sucesso com a mulherada. Os dois eram advogados e solteiros convictos. A rebelde deu um sorriso diabólico e eu sabia muito bem o que se passava na sua cabecinha. Uma pena que ela não era para eles, pois meus amigos sabiam do meu rolo com ela, graças ao bocão do meu primo que adora ficar me sacaneando na frente dos caras, dizendo que estou apaixonado. Eu e meus amigos tínhamos um código de conduta que levamos muito a sério, se a mulher fosse território de um de nós, ninguém mexia. E Marcela era meu território. Quer dizer, minha amiga com benefícios e eu não queria que ela aumentasse esta lista.

***

Marcela Assim que os amigos de Bruno chegaram à mesa, minhas amigas ficaram no maior fogo, eu logo vi a intenção delas. Porra, os homens eram lindos, tudo bem, Bruno era ainda mais, mas seus amigos não deixavam nada a desejar. O papo fluiu de forma muito agradável, os meninos eram divertidos e contavam suas aventuras nos tribunais com os juízes. Minhas amigas mal piscavam e Bruno estava tranquilo demais. Eu não sabia o que ele estava armando. Todos estavam na tequila, menos a Mel, coitada. Bruno tomava um tiro e bebia muita água, pelo jeito ele não queria se perder. Eu também estava indo devagar. Perto de Bruno era melhor me manter de olhos bem abertos. Depois de muito papo e sorrisos, voltamos a pista. Assim que comecei a dançar vi meu amigo da faculdade e uma ideia formou-se rapidamente na minha cabeça. Nicolas era muito lindo, eu já tinha dado uns beijos nele. Como Valentina sempre disse, eu tinha dedo podre para homem, pois meu amigo era o maior galinha de todos, mas servia para meus planos. As meninas estavam dançando junto com os amigos de Bruno de forma bem quente, não demoraria muito para elas sumirem para algum canto. Eu estava estranhando o tourão que estava misterioso demais, mas não ia ficar esperando para ver o que ele ia fazer. Fui me afastando dançando até chegar perto de Nicolas, que abriu o maior sorriso do mundo quando me viu. Comecei a dançar com toda a minha sensualidade junto a ele, que logo se empolgou. Eu estava de costas para aonde Bruno estava, queria deixá-lo louco, depois de duas músicas e muita sedução, resolvi olhar cinicamente para ele. E qual foi minha surpresa? O miserável tinha sumido. Que ódio! Continuei dançando, mas procurando-o em todos os lugares. Não demorou muito e vi um alvoroço feminino próximo ao bar. Pedi licença a meu amigo e fui ver qual era a atração da vez.

***

Bruno

Marcela provou não me conhecer mesmo. Ela começou a afastar indo em direção de um cara todo bombadinho, achando que eu iria ficar assistindo outra exibição dela. Tudo bem, eu não vou mentir, minha vontade era fazer o malhadinho voar para fora da boate, mas não ia cair na provocação da loira. Resolvi passar pelo bar que ficava ao lado da pista, pois eu sempre ia ao da área VIP, mas naquele momento queria diversificar. Quando cheguei ao balcão fiquei surpreso ao ver Marcelo, meu amigo barman, no meio de muitos drinques coloridos. Quando ele me viu, abriu seu sorrisão e disse: — E aí, Bruno, veio curtir a noite e ainda está sozinho? Não acredito. — Por pouco tempo, amigo, mas me diz: o que te traz aqui? Está mudando de ramo? — Não, cara, eu só passei para dar uma força ao Fernando, pois ele me pediu que ensinasse alguns segredos dos meus drinques coloridos para o pessoal dele. — Nando era nosso amigo, dono da boate. A mulherada estava alucinada vendo Marcelo e seu malabarismo com seus coquetéis, quando meu amigo olhou para mim e me convidou: — Bruno, vem para dentro, cara, e faça um dos seus drinques que aprendeu nos Estados Unidos. Vou incendiar a mulherada com uma ideia. Comecei a rir e ainda pensei um pouco se estava a fim ou não, mas não tinha nada a perder e a loira estava mesmo curtindo a noite com seu amiguinho. Então, resolvi ir para a farra. Passei para o interior do balcão, arregacei minhas mangas, lavei minhas mãos e fui preparar o único drinque colorido que sabia fazer. Marcelo me perguntou qual seria o nome que daria a bebida, eu abri um sorriso e somente para ele: Mel do Touro. Meu amigo pediu atenção das meninas que estavam como abelha em frente ao balcão e contou: — Meninas, meu amigo Bruno é um homem sofisticado e sabe fazer um drinque misterioso que eu batizei de Mel do Touro. Então é o seguinte: quem acertar o segredo de sua bebida vai ter o prazer de beber o mel do seu beijo. Quem aí está a fim? As meninas fizeram a maior farra. Eu sorri sem dizer muita coisa, mantendo o mistério e comecei a fazer minha mágica. Meu drinque era a base de tequila, cobertura de sorvete de morango, frutas, leite condensado e duas gotas de essência de anis. E para dar o charme, muito gelo seco para o efeito visual ficar perfeito. Coloquei todos os ingredientes no interior do bar, para que as meninas vissem. Depois voltei para o balcão e fiz uma pequena exibição a estilo Go Go Boys. Não preciso te contar, que o ambiente ficou quente, não é?

Assim que terminei, meu amigo colocou um pouco da bebida rosa em pequenos cálices e distribuiu para a mulherada. Marcelo organizou dez candidatas para descobrir o que tinha na bebida. Todas eram lindas, eu estava curtindo a brincadeira, mas queria que terminasse logo, para que eu voltasse a pista. As meninas começaram a dar seus palpites, até que uma morena muito gostosa acertou em cheio todos os ingredientes. Ela veio toda decidida, se aproximou de mim e disse: — Gostoso, quero meu prêmio. Aqui e agora. Eu sorri e já ia me aproximando dela, quando meu amigo, que estava louco para colocar lenha na fogueira, falou: — Calma aí, gata, precisamos chegar até a última candidata. Ainda faltam mais duas. A morena olhou para ele enfurecida e reclamou: — Não concordo, elas ouviram os ingredientes. Resolvi intervir: — Calma, meninas, tem Bruno para todas. Saí de dentro do bar e fui em direção às três lindas que me esperavam. As garotas me rodearam e começaram a dar gritinhos e passar a mão em mim. Estávamos na maior farra, quando um tsunami loiro invadiu o círculo feito uma louca e gritou: — Muito bonito, doutor Bruno Fernandes. Não posso me distrair e você já vem ciscar no meio deste monte de galinhas. Antes que eu pudesse responder, a morena voou em cima de Marcela gritando que não era nenhuma galinha, mas a loira era boa de briga. Empurrou a mulher e lhe deu um soco bem no meio do nariz. Eu estava em estado de choque, pois não era acostumado ver mulheres brigando assim. Só saí do meu estado de letargia, quando meu amigo gritou comigo para que eu retirasse a loira dali e a levasse para a gerência. Entrei no meio da confusão, ainda levei alguns chutes e arranhões, peguei a loira pela cintura e saí arrastando ela para o fundo da boate. Eu sabia que ali tinha um corredor que dava acesso a sala da gerência e mesmo com a rebelde se debatendo, eu consegui conduzi-la, pois era muito mais forte que ela. Quando cheguei a sala, Nando já estava saindo, disse que eu podia ficar à vontade e sumiu.

Assim que entramos, tranquei a porta, coloquei a chave no meu bolso, olhei enfurecido para Marcela e disse: — Você está louca? Qual seu problema? A mulher estava alucinada, gritou feito uma louca: — Qual o meu problema, Bruno? Qual é o seu problema? Seu babaca. Você me chama para sair e depois fica se esfregando naquele monte de vagabunda? O que pensa que eu sou, idiota? Quer saber, eu odeio o maldito dia que te conheci. Você é o homem mais filho da puta que apareceu em minha vida. Acabou! Não tinha mais paciência para aquele chilique. Respirei fundo e resolvi colocar os pingos nos is: — Pode ir parando por aí, Marcela. Qual é a sua sim? Quem estava em fotos de jornais com um maricas dançarino em cena apaixonada era você. Quem estava dançando com o colega bombadinho era você. E aí chega gritando e agredindo as pessoas como louca? — Ora, ora! Quem está falando, não é, doutor Bruno. Pelo que fiquei sabendo, você não ficou sozinho no congresso, doutor advogado. Levou logo uma piranha para o seu quarto. — Pelo que vejo, sua amiguinha já te deixou bem informada, não é? E daí? Ninguém me informou que eu não podia foder com quem eu quisesse. Vou te perguntar de novo, Marcela, e agora quero uma resposta. Qual é o seu problema? Ela voou para cima de mim, me socando, chorando e dizendo: — Meu problema é você, seu imbecil. Você brinca com as pessoas, as ilude, maltrata, some e reaparece. Você me deixa louca, seu babaca. Usou-me como quis em São Paulo, faz hora com a minha cara, eu te odeio. Depois de ouvir tudo levando socos no peito, eu agarrei seus braços e falei bem próximo a sua boca: — Marcela, eu nunca enganei você. Desde o início você sabia exatamente quem eu era. Sou este cara torto, maluco, mas nunca usei ninguém, jamais fiz mal a qualquer pessoa e sempre fui honesto para não iludir nenhuma mulher. Sempre joguei limpo. Agora por que este descontrole todo? Claro que eu desconfiava do motivo, mas queria ouvir da boca dela. A adrenalina do

momento era grande. Foi quando recebi um golpe do destino. A loira me olhou entre lágrimas e disse: — Não sei o motivo deste descontrole todo, Bruno. Só sei que você me deixa louca. Desculpa. Juro que aquilo foi golpe baixo. Eu perdi totalmente o controle. Fiz o que queria há muito tempo, beijei a loira, mas não pense que foi um beijo qualquer, foi O beijo. Estávamos com fome um do outro. Rapidamente evoluímos para algo mais quente e quando vimos, já estávamos nos agarrando no sofá da sala. Ela chorava, me beijava e me arranhava. No auge do meu desejo, segurei seus braços para cima, lambi e dava pequenas mordidas naquela pele branca e gostosa. Ela estava convulsionando embaixo de mim e aquela maldita me deixava insano, não ia durar muito tempo. Então, antes que eu passasse vergonha, arranquei sua calcinha e entrei nela com tudo. Era tudo para ela naquele momento. Uma coisa eu precisava assumir: a gente tinha química. Aquela loira devia ter algum tempero secreto que sempre me fazia querer tirar sua roupa, estar dentro dela. Com ela era tudo muito primitivo, era pele, cheiro, hormônios. Era como se ela me atraísse como um imã. Nós não usávamos camisinha. Tínhamos um pacto: só entre nós dois seria assim, pele com pele. Com os outros usaríamos preservativo. Depois do sexo selvagem no sofá, saímos rumo a meu flat. Nunca tinha levado uma mulher lá, mas me deu vontade de ser legal com a loira, para que ela se sentisse um pouco mais à vontade com nosso relacionamento de amigos com benefícios. Talvez eu me arrependesse depois, mas naquele momento só a queria nua na minha cama.

***

Marcela O flat era lindo, nada grande demais, nem exagerado na decoração. Era funcional para um homem como ele. A decoração era de bom gosto, com muito preto e branco. Na sala havia um sofá delicioso, enorme e muito confortável. No chão um tapete felpudo, branco e muito gostoso de pisar. A cozinha era toda planejada e compacta. Porém, o melhor lugar era o seu quarto. Uma cama enorme, com lençóis pretos de cetim e uma iluminação perfeita, dando um ar de sedução ao

ambiente. Bruno me informou que nunca tinha levado uma mulher ali, pois aquele era seu canto nos momentos de raiva ou quando queria se isolar do mundo. Quando perguntei o que o fez mudar de ideia, ele respondeu: — Marcela, você não é qualquer mulher. É uma amiga especial e que me fez quebrar algumas regras. Além disto, acho que precisava trazer você para um ambiente mais calmo, para que pudesse se acalmar. Caramba, loira, até agora não acredito que você surtou na boate daquele jeito. — Para você ver com quem está lidando, tourão. Como eu te disse desde o começo, eu sou rebelde. Não tenho medo de nada e nem de ninguém. Portanto, não brinque comigo, eu posso morder. — Loira, tudo que eu mais quero neste momento é ser mordido por você. Ele disse isto com uma expressão predadora, veio em minha direção, me jogou em sua cama, veio engatinhando em cima de mim como uma pantera negra pronta a dar o bote. Quando estava totalmente em cima de mim, se abaixou até o meu ouvido e sussurrou: — Gostosa, você está no covil do lobo, nada nem ninguém poderá te salvar de mim. Repita para mim: qual sua palavra? Só de o ouvir dizendo assim, juro que senti minhas entranhas contraírem, respondi que era Perigo, foi o tempo dele tirar minha blusa e amarrar meus pulsos acima da minha cabeça. Depois pegou um lenço do seu bolso e vendou meus olhos. Eu já estava ofegante. Ele falou bem próximo a minha boca, com uma voz rouca e muito sedutora: — Você vai conhecer uma nova forma de prazer, onde os sentidos precisam estar aguçados. Meu único objetivo esta noite é te fazer ir ao paraíso ou ao inferno. — Não quero somente promessas, touro! — Ah, loira, eu posso te garantir que este será o melhor sexo de sua vida. Nunca irá esquecer-se desta noite, gostosa. Vou fazer você gritar de tanto prazer, para aprender a deixar de ser tão rebelde. Esta será sua punição: sexo selvagem. — Tudo que eu mais desejo é perder os sentidos rendida a você, doutor Bruno Fernandes. Vou confessar que só aquele pequeno diálogo me fez ir ao espaço e voltar. Era muita

adrenalina somente pela espera do ato. Como ele havia prometido, realmente foi a melhor de todas as fodas da minha vida. É impossível descrever o que senti, ou o quanto senti. Só sei dizer que eu devo ter gozado umas mil vezes. Nossa noite de sexo selvagem foi acompanhada de muitas músicas lindas e intensas, mas uma não saía da minha cabeça. Para falar a verdade, a única que me lembro, era Warning Sign, de Coldplay, talvez porque a tradução desta música falava de um sinal de alerta, e, sinceramente, eu estava começando a ficar com medo do que estava acontecendo ali. Entretanto, o cansaço nos venceu. Dormimos quase ao amanhecer. Estávamos cansados, saciados e totalmente assustados com a intensidade da noite. Tanto ele quanto eu preferimos não falar nada e dormir, simples assim. Era difícil demais explicar o inexplicável.

***

Acordei quase dez horas, mamãe ia me matar, pois no sábado ela precisava de mim. Chamei Bruno que dormia lindamente ao meu lado. Ele levantou a mil por hora e me levou para a loja. Ele entendeu meu desespero e correu comigo para minha obrigação dos finais de semana. Entrei correndo sem olhar para mamãe, eu tinha um uniforme guardado no armário do escritório para emergências e esta era uma delas. Trabalhei como louca, parecia que todas as pessoas da capital queriam as guloseimas de dona Laura. Fechamos por volta de dezesseis horas e voltamos para a casa no carro de mamãe. Ela dirigia calada. Quando não aguentei mais a tortura do silêncio disse: — Mamãe, fala logo o que está te incomodando. Eu já pedi desculpas pelo atraso. Ela deu um suspiro que arrepiou os cabelos da minha nuca, aí vinha bomba. — Marcela, não sei o que faço com você. Esta é a verdade. Qual o seu problema? Caramba, era a segunda vez que alguém me perguntava isto em menos de vinte e quatro horas, mas preferi dar uma de boba. — Não tenho problema nenhum, dona Laura. Por que a pergunta? — Minha filha, você parece o clima desta cidade, cada momento uma estação. Vou ser direta e quero uma resposta, mocinha. O que há entre você e Bruno? — Ferrou, este era meu medo. — Não tem nada, mamãe. Somos adultos e, às vezes, nos curtimos.

— Às vezes demais, não acha, dona Marcela? Eu posso apostar minha mão que passou a noite com ele. Estou errada? — Com minha mãe era besteira mentir, ela era terrível. — Não, mamãe, não está errada, eu estava com ele, mas vou logo dizendo: não crie fantasias. Não existe nada entre nós. — Então isto que vocês fazem é o quê? — É amizade e mais nada. Quando a gente está a fim, a gente fica. Simples assim. — Minha filha, não é simples assim. Eu sou sua mãe, tento ser moderna, amiga e tudo mais, mas o que estou vendo é vocês dois em uma relação, no mínimo, estranha. — Mamãe, vamos fazer assim: eu prometo tomar cuidado, não me atraso mais, mas, por favor, não me peça respostas que nem mesmo eu tenho. Deixa para lá, está funcionando assim. Não quero me envolver, apaixonar, casar, nada disto. Quero ser livre como sou. Só te peço que me aceite assim. Eu não faço mais loucuras que me coloquem em risco, tomei juízo, porém, quero continuar como estou, entende? — Não entendo, querida, mas sou sua mãe, vou sempre estar aqui. Quero que saiba que sou sua melhor amiga, só te peço para não evitar relacionamentos por minha causa e de seu pai. Era outra história, meu amor, outra situação. Não fuja do amor, Marcela. Mesmo com todos os problemas que eu e seu pai enfrentamos, existia amor. — Será que existia, mamãe? Eu acho que ainda existe. Vejo vocês dois conversando quase que vinte e quatro horas ao telefone, na chamada de vídeo. Por que não se dão uma nova chance? — É complicado, minha filha. Eu não sei se quero isto na minha vida. — Viu? Parece que sei bem a quem puxei. Mamãe começou a rir e falou: — É, Marcela, com você não tem jeito mesmo. Tem sempre um meio de mudar o rumo da conversa a seu favor. Vamos parar por aqui, pelo jeito somos duas mulheres complicadas, não é, minha filha? — Complicadas e lindas, mamãe. Vamos viver e deixar que o resto nosso destino se encarregue. Terminamos nossa conversa ali. Aumentamos o som do carro e seguimos cantando para nossa

casa! A vida era assim, não adiantava muito querer entender, éramos reféns de nossas escolhas e naquele momento eu não tinha condições de avaliar se estava escolhendo certo ou errado. A única coisa que eu sabia era que o tourão era a minha cocaína, meu receio era que o final fosse trágico como era para os usuários desta droga maldita. Que Deus me proteja!

Capítulo 25

O julgamento

Bruno

Seis meses depois...

Já havia se passado seis meses que eu e a loira estávamos nesta relação maluca, mas eu não podia pensar em nós dois naquele dia. Era o tão esperado momento do último dia do julgamento do meu cliente mais famoso: o deputado Miguel Torres. Eu estava nervoso demais, porque minha amiga Aline era a promotora designada pelo Ministério Público para acusar o deputado do crime de assassinato. Era a primeira vez que estávamos nos enfrentando em um tribunal e neste período, não podíamos nos encontrar por questões éticas. Apesar de muito amigos, nós dois gostávamos do controle e do poder, não queríamos perder. Se meu cliente fosse condenado seria uma tragédia, pois ele teria que entregar seu mandato para o vice e a repercussão do caso seria enorme. Meu pai estava em tempo de me deixar louco, falava vinte e quatro horas que eu tinha que ganhar nos tribunais. Era muita pressão. Eu preferi me isolar nos últimos vinte dias no meu flat para ler, reler e estudar todos os depoimentos, todas as possíveis falhas do processo, pois, pela complexidade do caso, seriam uns quatro dias de julgamento. O único que autorizei ir ao meu flat foi meu estagiário e Pedro, que estava me ajudando com as peças do quebra-cabeça. Avisei minha mãe que não queria ser incomodado, só aparecia na firma, trabalhava e sumia para meu canto do sossego. Não tinha

condição de fazer mais nada, nem mesmo sexo com a minha amiga complicada de benefícios. Nestes dias de isolamento, saí somente uma noite para o pub do meu amigo e acabei pegando uma mulher mais velha, desencanada e que queria somente a mesma coisa que eu: sexo livre e selvagem para descarregar a adrenalina. Depois de quatro dias estressantes, chegamos ao grande final. Belo Horizonte amanheceu fria e com o céu nublado. Pedi a Deus que aquilo não fosse um mau presságio. Na chegada ao salão do júri, parecia mais um jogo de final da copa do mundo de tantos repórteres, jornalistas, câmeras e flashes. Eu só consegui passar por todos, graças aos dois seguranças que papai fez questão que me acompanhasse nestes casos. Entrei sem dar nenhum depoimento à imprensa, preferi esperar o final. Dentro do salão, todos já estavam nos seus lugares. Estavam autorizados a assistir ao julgamento, alguns advogados da firma, inclusive Pedro, que estava na primeira fileira, parentes dos dois lados, alguns estudantes de Direito que foram sorteados e alguns repórteres credenciados e autorizados pelo juiz, porém, não podiam levar câmeras, nem gravadores, somente seus blocos e canetas. Não era minha primeira vez, mas eu estava muito nervoso e com muita vontade de ganhar em função do trauma vivenciado por Verônica. O julgamento começou com o juiz lendo todas as informações referentes ao caso e qualificando meu cliente. Ao meu lado estava meu estagiário e o deputado, que estava bastante nervoso. Do lado oposto, Aline, linda e poderosa, e um advogado contratado pelo pai de Maurício para auxiliar a promotoria. Não sei se você já teve oportunidade de acompanhar um momento deste, mas posso te garantir que é permeado de muito estresse, além de muita inteligência e teatro das duas partes. Eu estava pronto, o palco seria meu. Tinha estudado muito e era questão de honra defender a reputação de Verônica, que estava na berlinda em função da linha de atuação da acusação. Começamos as oitivas pelas testemunhas da promotoria que acusavam meu cliente, muitas barbaridades eram ditas e meu estagiário anotava tudo. Depois passamos para as testemunhas de defesas, eu e Aline nos enfrentávamos como verdadeiros rivais, ali era o amor ao Direito que falava mais alto. Fazíamos nossas perguntas, com algumas objeções, contestações e algumas intervenções do juiz. Fizemos um intervalo depois de quatro horas de trabalho. O juiz já havia nos informado que daria o seu veredito final no mesmo dia, nem que para isto fôssemos até de manhã, porque já estávamos no quinto dia de julgamento. Na verdade, eu também queria acabar com aquilo, não aguentava mais tanta especulação.

Eu estava confiante, pois a Promotoria havia entrado em contradição algumas vezes, eu podia ver o ódio no rosto de Aline, pois ela me conhecia muito bem e sabia que eu tinha percebido. O depoimento de Verônica foi muito comovente e determinante para meu grande final. Meu objetivo maior era desqualificar o assassinato, levando o júri a entender o crime como legítima defesa da honra. Como era a regra, a promotora fez sua última acusação dirigida ao júri. A diaba era boa, apelou para as mulheres que eram juradas e falou como se o agressor fosse um menino inocente e no auge da paquera, mas eu tinha meu trunfo na manga. Chegado o meu grande momento, levantei de minha cadeira, fui à frente do júri, olhei para cada um deles antes de falar, para manter o mistério e só depois comecei: — Senhores e senhoras do júri, durante todo este julgamento uma única verdade não saía da minha cabeça. Pensava o tempo todo em todas as meninas, moças e mulheres que tiveram seus corpos violados por homens muito mais fortes. Suas vítimas são subjugadas, sofrem agressões físicas, psicológicas e ficam com cicatrizes em sua essência pelo resto da vida. E tudo isto, meus caros, somente para atender seus desejos mais obscuros, para exercer o poder sórdido e doentio existente em um ato de violência sexual. Até quando em nossa sociedade, as mulheres serão culpadas por serem violadas? Até quando uma menina será culpada por não ser ouvida em sua negativa? Meus amigos e amigas do júri, não quer dizer: não. Quando uma mulher diz que não quer, ela é clara como a água, não deixando dúvidas para o agressor. “Agora vamos para o lado do agressor, ele é muito mais forte que sua vítima e aqui falamos de uma menina de dezenove anos, que nunca tinha tido uma experiência sexual e foi atraída para a toca do lobo de maneira ardil e cruel. Porém, temos aqui um fator que o faz inocente, sua morte. Será?” “Sim! Sua morte o torna vítima aos olhos da sociedade, mas não podemos esquecer que ele adorava orgias regadas a muitas bebidas e drogas como foi dito aos senhores por tantas testemunhas, além de ter estuprado uma menina. Entretanto, meus queridos, se pensarmos no desespero de um pai que vê sua filha ferida e violada, talvez possamos entender. Lembrando ainda que meu cliente tem uma história reta e imaculada, sem nenhuma ação que o desabone. Insisto para que o júri entenda que este pai agiu em legítima defesa da honra. Durante todo este julgamento, vocês ouviram testemunhas tentando manchar a reputação da menina Verônica, mas ouviram também pessoas sérias que a conhecem desde criança e nunca viram nada que pudessem mostrar a vilã que a acusação tentou mostrar o tempo todo.”

“O que quero deixar muito claro, senhoras e senhores, é que meu cliente reconhece seu erro. Em nenhum momento ele negou ou deixou de atender a justiça. Lembrando que assim que cometeu o ato, ele mesmo se entregou. Miguel Torres, um homem de família, que em um ato de desespero tirou a vida de um homem de vinte e seis anos.” “Aproveito ainda, jurados, para lembrarem-se da importância que os pais têm em educar seus filhos da forma correta, criando homens de valores e responsáveis. Não homens mimados, irresponsáveis, que usam as pessoas como bonecos. Acostumados a comprar tudo com o dinheiro fácil que vem do pai.” “Desta forma, eu confio na lisura deste júri, nas mães e pais que aqui se encontram, lembremse de que Verônica podia ser sua filha. Termino minha fala com uma pergunta: Se sua filha chegasse à sua casa, ferida, cheia de hematomas, sangue no rosto e penetrada de forma cruel, sendo obrigada a viver cenas de brutalidade e fazer sexo vaginal, anal e oral com um homem muito mais forte que ela, quem me afirmaria com toda certeza que não faria o mesmo? Alguém consegue se imaginar nesta situação? Obrigado, senhoras e senhores!” Voltei para o meu lugar suado, com o coração na boca e muito emocionado. O silêncio no salão do júri naquele momento foi assustador. O único som era o de Verônica chorando. O juiz perguntou se a promotora queria fazer a réplica. Aline me olhou reconhecendo que tinha perdido a causa e disse ao juiz que não. Todos saíram para o intervalo enquanto os jurados se reuniam para a reposta final. Eu preferi ficar em meu lugar mesmo, estava nervoso e ansioso demais para andar ou conversar com alguém. Fiquei eu, meu pai e Pedro aguardando. O doutor Augusto veio até mim e disse: — Meu filho, eu estou orgulhoso de você. Nasceu para isto. Se sua mãe estivesse aqui estaria como eu, feliz demais por ver sua atuação. A emoção tomou conta de mim naquele momento, preferi não falar nada, somente abraçar meu pai.

***

O juiz voltou vestido com sua toga, pronto para sua sentença. Eu mal conseguia respirar. O Meritíssimo leu toda sua sentença e eu só ouvi o final quando ele disse que, apesar de ter tirado a vida de uma pessoa e ser réu confesso, o réu agiu em legítima defesa da honra, sendo assim ele

estava absolvido do crime de assassinato, tendo como pena apenas a doação de cesta básica por dois anos a uma instituição de caridade. Não sei te dizer o que senti naquele momento, aliás, sei sim. Minha vontade era de sair correndo de felicidade e abraçar todas as pessoas que estavam em meu caminho. A família de Maurício estava revoltada, reclamavam e brigavam dizendo que iriam recorrer da sentença. Em compensação a família de Verônica chorava e se abraçava. Aline veio até mim e disse: — Parabéns, doutor Bruno Fernandes, não esperava menos de você. Sorri para ela e respondi: — Foi um prazer, doutora Aline Dantas. Saímos juntos com Verônica e seus pais. Os repórteres, jornalistas, flashes, câmeras, um verdadeiro arsenal nos esperavam. Foi mais de uma hora de muitas entrevistas e fotos. Na despedida, recebi um abraço apertado de Verônica, que disse um “obrigada” comovido em meu ouvido. Eu estava feliz por conseguir provar a inocência de mais uma vítima. Assim que consegui sair daquela loucura, liguei para minha amiga loira e gostosa. Eu estava feliz demais e queria comemorar. Todos estavam ansiosos pelo término do julgamento que terminou quase a meia-noite. Ela atendeu ao primeiro toque, pela sua voz pude perceber que ela estava muito feliz, me parabenizou, pois já sabia do resultado que estava em todas as redes sociais. Pedi que ficasse ainda mais linda, pois a noite era nossa. Fui em direção à casa dela ao som de Viva la Vida, de Coldplay.

***

Confesso que fiquei feliz demais de receber a ligação de Bruno logo no final do julgamento. Estávamos aproximadamente há vinte dias sem nos ver. Trocamos algumas poucas mensagens neste tempo, ele estava focado demais, então preferir dar espaço. A felicidade dele era contagiante. Aquele gostoso podia até ser um babaca às vezes, mas o cara era fera no seu trabalho, disto ninguém podia duvidar. Resolvi que naquela noite ia curtir tudo, sem jogos ou brigas, ele merecia. Coloquei um corpete branco com um decote profundo, uma jaqueta de couro preta e uma calça muito justa preta, com uma bota de salto. A noite estava fria, mas eu tinha certeza de que ia terminar quente.

Bruno não demorou a chegar e eu despedi de mamãe dizendo que não voltaria, ela não fez uma expressão muito feliz, mas eu não ia começar a agir como uma menininha que precisava sair escondido da mãe. Assim que saí do meu prédio, vi um homem lindo, de terno preto, encostado no carro me esperando. Uau! Eu nunca ia me acostumar com a beleza daquele perigoso. Ele abriu o maior sorriso do mundo, eu como sempre agi no impulso. Voei em seus braços e dei a ele o maior de todos os beijos do mundo. Afinal, não era todo dia que ele ganhava uma causa quase impossível. Ele me levou ao pub do seu amigo, onde todos esperavam para comemorar com ele. Estavam lá os advogados da firma, Pedro e Valentina. Adorei ver minha amiga e antes que ela pudesse puxar minha orelha por estar ali toda sorridente com Bruno, a abracei e disse no seu ouvido: — Amiga, hoje não, por favor. Eu sei o que você está pensando e concordo, mas hoje ele merece comemorar. Valentina sorriu e disse: — Falar? Pensar? Não, Marcela, eu já desisti de vocês, dois loucos de pedra. Vamos lá comemorar, Bruno merece. Pedro me disse que ele deu um show no tribunal, então, hoje só alegria. Bruno me apresentou a todos como Marcela e nada mais. Eu não me importei, acho que me senti mais feliz que se ele tivesse feito questão de enfatizar o “amiga” de sempre. Conversamos, bebemos, jogamos sinuca e demos uns amassos na frente de todos, ninguém se atrevia a falar nada. No meio da madrugada saímos em direção à arena de Bruno. Sim, ele me disse que seu flat não era toca do lobo como eu tinha falado e sim Arena do Touro, coisas de Bruno.

Capítulo 26

Bebedeira

Bruno

O tempo passou voando, mal comemorei minha última vitória no tribunal e minha vida já estava uma loucura. O período de paz durou pouco. Depois de mais uma briga sem sentido com meu pai, fui para o pub do meu amigo e acabei bebendo um pouco além do aceitável. Para piorar, liguei para Marcela que não me atendeu ao telefone, aquilo estava virando mania. E me irritava feito louco. Ela devia estar com raiva, pois eu não pude sair com ela na noite de ontem, mas tive uma audiência que terminou mal demais e não tinha cabeça para ela. A loira não acreditou, achou que estava com mulher. Sinceramente, por isto que eu precisava parar com esta nossa amizade com benefícios. A coisa estava indo longe demais. Voltando a minha bebedeira, saí do pub irado e acabei abusando na velocidade. Consequência: acabei me envolvendo em um acidente de carro. Levei um susto muito grande quando o carro parou, comecei a me tocar para ver se estava inteiro, vi que estava com o rosto cheio de sangue. Abri meu cinto e saí do carro ainda tonto. Peguei meu celular e liguei para o meu primo, pois minhas condições não eram as melhores. O motorista do outro carro estava bastante alterado. Ele não machucou, mas saiu do carro gritando feito louco, eu até respondi algumas coisas, mas estava sentindo minha cabeça explodir. Graças a Deus, meu primo não demorou a chegar e conseguiu acalmar o outro motorista, sem que a polícia fosse acionada, pois meu exame do bafômetro ia me denunciar. Minha sorte foi que o homem reconheceu Pedro de um caso que ele conseguiu salvá-lo de uma multa milionária. Fui

obrigado a passar em um hospital, claro que eu não queria, mas meu primo jogou sujo e disse que contaria a meu pai que eu estava bêbado. Para evitar mais problemas, fui ao Pronto Socorro, fiz uma ressonância magnética e consegui provar que minha cabeça era dura mesmo. Levei oito pontos na testa e ganhei alguns hematomas pelo corpo. O médico me deu uma injeção para dor e me passou alguns anti-inflamatórios. Para terminar a minha semana com chave de ouro, ainda precisei enfrentar um jantar na casa dos meus pais. Estavam todos da firma presentes, a família de Valentina, alguns juízes amigos de papai e a loira rebelde. Eu a havia convidado antes de ficar puto por ela não atender ao meu telefonema. Tudo corria bem, até que um amigo de papai me parabenizou por me inscrever na prova para a promotoria. Foi a gota d’água para papai surtar e começar seu show. A coisa só não ficou pior porque Pedro interviu novamente entre papai e eu. Não tinha mais clima para ficar naquele jantar, passei a mão na loira e sumi com ela. Eu precisava acertar algumas contas com a maldita.

***

Marcela Ainda pensei muito se devia ir naquele jantar ou não, mas como ele havia me convidado e Valentina insistiu, acabei indo. Queria também ver com meus próprios olhos se aquele infeliz estava inteiro. Ele estava com um curativo na testa, um olho um pouco roxo e alguns hematomas no pescoço e braço. Mesmo assim, continuava lindo. Tudo estava indo muito bem, até seu pai surtar por nada. Coisa mais louca a relação daqueles dois. Bruno veio até mim e saiu me levando com ele sem falar nada. Eu até pensei em resistir, pois tinha prometido a Valentina não ceder mais. Porém, naquele momento ele precisava de mim. Ele estava com o carro de Pedro e saímos sem rumo. O homem estava possesso. Eu fiquei muda esperando que ele se pronunciasse. Ele dirigiu até as proximidades da Lagoa da Pampulha, parou o carro, virou de frente para mim com mágoa no olhar e falou: — Marcela, por que não me atendeu? Oi? O quê? Para tudo, esperava ouvir qualquer coisa, menos isto. Não sabia nem como

responder. Respirei fundo e menti. — Meu telefone estava no silencioso, Bruno. Só vi muito depois. Ele sorriu como se não acreditasse: — Não minta para mim, loira. Com toda a minha loucura, eu nunca menti para você. — Tem certeza, Bruno? Por que eu nunca consigo que você aceite um convite meu? Sempre tem que ser somente os seus. — Marcela, não pira. Eu estava puto da vida naquele dia. Minha audiência foi horrível, não tinha clima para sair. Foi exatamente isto que aconteceu, loira. Eu não sabia o que dizer. Então preferi ficar calada olhando para ele. Bruno respirou como se estivesse cansado e disse: — Marcela, por que tenho a sensação de que você sempre complica as coisas? Eu não consigo entender sua piração. — Bruno, deixa para lá. Esquece isto. Eu prometo que atendo da próxima vez. — Está bom. Desisto. Não é sobre atender ou não. Marcela, hoje eu não estou bem. Vou te levar para casa. Eu não acreditava no que estava ouvindo. Ele encerrou o assunto e não me deu oportunidade de falar nada. Juro que pensei ainda em insistir, mas ele estava sério demais e eu não sabia o que estava passando pela sua cabeça. Por medo, acabei me mantendo calada até em casa. Quando chegamos, ele parou o carro, me deu um beijo na testa. Abriu a porta para que eu saísse, sem falar nada. Eu já estava no portão, quando ele disse: — Boa noite, loira. Desculpe-me, eu realmente não estou bem. Entrou no carro e sumiu. Este era Bruno, o mistério em pessoa, não se abria, era difícil de adentrar o seu mundo e eu também não ajudava. Tinha meus fantasmas e o medo sempre me paralisava.

***

Bruno

Saí da casa da loira e fui direto para meu flat, ia sumir um pouco. Para falar a verdade eu estava cansado. As brigas com meu pai só iam aumentando, a relação de benefícios com Marcela estava ficando complicada, pois a loira era escorregadia. Eu não era hipócrita e sabia que nós estávamos nos envolvendo, não tinha forças para me afastar da maldita, mas toda vez que eu tentava conversar, ela fugia. Minha vontade era de sumir. Meu machucado estava doendo, meu pai não me entendia, porra, ele tinha que ter orgulho de mim e não ficar naquela guerra de foice. Tomei meus remédios e fui dormir. Era o melhor a fazer.

***

No domingo à noite resolvi convidar Aline para irmos a um bar próximo à casa dela para conversarmos um pouco. Desde o julgamento que a gente não se via. Esperamos passar um tempo da loucura, para que a imprensa esquecesse-se do fato e pudéssemos nos encontrar em paz. Cheguei ao local por volta das vinte horas, minha amiga já estava me esperando. Vestindo um jeans e uma blusa de frio, ela parecia uma menina, não tinha nada da poderosa e dominadora doutora Aline. Ela me deu um sorriso aconchegante como só os amigos têm e disse: — Aí está você, amigo. Todo remendado e sem perder seu charme. O que aconteceu agora? Quem te acertou? — Não brinca, Aline. Acredite, eu estava dirigindo bêbado e acertei o carro da frente. — Jura? Não posso acreditar que você fez uma merda desta, Bruno. Porra, amigo, dirigir bêbado é suicídio. — Eu sei. Pensa que não estou me odiando por isto? — Bruno, Bruno, o que está acontecendo, meu amigo? Fala comigo. — Aline, meu pai está me enlouquecendo. Nada que eu faço ele aprova, a não ser quando consigo ganhar uma grande causa. Ele não aceita minha decisão de tentar promotoria, fica com raiva porque estou envolvido em causas sociais, isto está mexendo comigo. Nós éramos muito amigos.

— Bruno, às vezes somos nós que somos mais novos precisamos ceder. Os pais erram pensando que estão acertando. Tente não bater de frente com seu pai, amigo. Vocês se machucam assim. — Vou tentar. Eu preciso. Ficamos conversando sobre o julgamento, Aline me contou como que o advogado de acusação a atrapalhou e ainda garantiu que se ela estivesse sozinha eu não teria ganhado tão fácil. Estávamos conversando amenidades, quando vi Marcela entrando no bar com um babaca. E, porra, ela estava com um vestido tão curto, que era quase possível ver seu útero. Aline continuava falando, enquanto eu não ouvia mais nada. Estava cego de raiva. Minha amiga percebeu que eu não estava prestando atenção nela e disse: — Você viu um fantasma, Bruno? — falou isto e olhou na direção de Marcela, em seguida virou-se rindo para mim. — Esta é a sua, como é mesmo que você diz: “amiga com benefícios”? Não respondi, levantei como um louco, ela ainda segurou meu braço e disse que se eu arrumasse confusão ela iria embora, pois não ficaria ali esperando a imprensa ou a polícia chegar. Ninguém iria me segurar mais, vendo a loira nos amassos com aquele idiota, eu passei a enxergar vermelho.

***

Marcela Estava indo para a casa, quando passei próximo a um barzinho que era o auge do momento. Naquele dia eu estava cansada e queria ir direto para casa, quando vi Bruno no interior do bar com a mulher linda da outra vez. Meu sangue ferveu. Mesmo Valentina insistindo em me dizer que ali não rolava nada, eu não acreditava. Ainda bem que naquele dia eu estava com um vestido pronto para matar, pois estava com a autoestima baixa e resolvi me produzir para melhorar o desânimo. Rapidamente uma ideia maluca surgiu em minha cabeça. Liguei para meu amigo da dança e pedi que encontrasse comigo no barzinho. Ele me devia alguns favores, então era hora de retribuir. Preciso te contar que meu amigo gostava da mesma fruta que eu, mas ele ia ter que encenar comigo. Ele estava com seu namorado graças a minha

ajuda e eu precisava dele naquele momento. Vitor adorava uma boa encrenca e me disse que em meia hora estaria lá, lindo e pronto para matar o bofe de raiva. Como prometido, ele chegou na hora marcada. Lindo como só ele era. Alto, loiro, com olhos verdes e forte, muito forte. Expliquei para ele meus planos e entramos juntos. Escolhi um lugar estratégico para que o tourão não demorasse a me ver. O maldito estava sorrindo e cheio de intimidades com a amiguinha promotora. Eu ia acabar com aquela festa já, já. Vitor adorou a ideia de sacanear Bruno, passou seus braços em volta das minhas costas e começou a me alisar. Não demorou muito e eu vi o tourão levantando. Sem pensar em nada, eu beijei meu amigo. Não deu tempo para muita coisa, só senti meu amigo voando da mesa e quando vi já acontecia uma luta corporal horrível. Nesta hora o medo me abateu, não era esta minha intenção. Só queria causar ciúmes no tourão. Para piorar muito minha situação, o dono do bar chamou a polícia que nos conduziu para a delegacia.

***

Bruno

A raiva e a adrenalina circulavam em meu sangue, eu não tinha condições de parar. Voei em cima do bastardo e saí na porrada com ele, sem pensar em nenhuma consequência. O dono do bar chamou a polícia e aí a merda do que fiz recaiu sobre mim. Quando cheguei a delegacia, disse logo que era advogado e precisava fazer uma ligação. Chamei por Pedro, pois eu suspeitava que se não conseguisse convencer o delegado, estaria muito encrencado. Meu primo chegou com cara de poucos amigos e foi direto para a sala do chefão. Não sei o que ele fez, mas conseguiu livrar nossa cara sem que fôssemos fichados. Meu primo liberou Vitor antes de nós, pois fez questão de nos dar um cansaço. Como sempre, os abutres já estavam do lado de fora esperando para seus furos de imprensa. Pedro conseguiu que saíssemos pela rua de trás da delegacia, sem que ninguém nos visse. Ele estava com o carro do meu pai e nos levou até o bar para que eu pudesse pegar o carro dele que estava comigo. No caminho, ele estava mudo, eu conseguia ver uma veia sobressaltada em seu pescoço.

Quando chegamos ao bar, Pedro desligou o carro e falou: — Sinceramente, eu não sei mais o que fazer com vocês dois. Pelo amor de Deus, vocês não vão crescer nunca. Bruno, cara, você é uma pessoa pública, acorda para a vida. E Marcela, você deveria dar exemplo para as suas crianças. Imagina que lindo os dois em uma manchete de jornal amanhã? Eu não vou estar aqui sempre. Não quero ouvir nada de vocês. Cara, me dá a chave do meu carro e fique com o carro do seu pai. Vou voltar para a minha namorada que estava comigo e vocês atrapalharam. Pedro abriu a porta do carro e saiu sem esperar nada. Eu e Marcela ficamos olhando um para o outro. Olhei para Marcela e disse: — Por que você adora me provocar? A única vez que fiquei com uma mulher na sua frente, você estava comigo. E tudo que fiz foi pensando em seu prazer, mesmo que seja da minha forma equivocada, mas naquele momento era para você. — Eu não quero te provocar, Bruno. Você que é louco. Acha que pode dominar tudo e todos. — Você não entendeu nada. Eu não domino tudo e todos. Gosto sim de algumas coisas do BDSM, mas não sou praticante. Quando tenho vontade e acho que a mulher vai curtir, eu domino. Quando está com sua submissa, um dominador só pensa no prazer dela, no bem-estar dela. É a mulher que conduz o homem, Marcela, nada acontece se não for consensual. Por acaso, alguma vez eu te obriguei a fazer algo que não queria? E, por favor, seja sincera desta vez. — Não, Bruno, não me forçou. Eu podia ter dito não, mas confesso que estava curiosa e resolvi ir até o fim. Quem era a mulher com você, Bruno? E, por favor, seja sincero também. Sinceramente, não dava mais para continuar assim. Estava difícil e me deixando louco. Ela ficou me olhando de forma desafiadora, mas eu estava cansado e sentindo dor, então preferi não entrar no embate. Além dos ferimentos do acidente, consegui mais alguns brigando e agora com a descarga de adrenalina diminuindo, eu voltava a sentir dores. Era melhor parar por ali. — Marcela, me desculpe por ter enlouquecido e avançado em cima de seu amigo. Aquela mulher é Aline, somente uma amiga e nada mais. — Amiga como eu, Bruno? Com muitos benefícios? Não dava mais, chega. — Não, Marcela! Acredite ou não, a única mulher que quebrei minha regra foi com você e,

sinceramente, já me arrependi. Vamos parar por aqui, não dá mais. Eu estou cansado disto. O que era para ser agradável está virando um inferno. Vou te deixar em casa. — Só assim, Bruno? Chega, não dá mais? — Sim, Marcela. Só assim, para que não fique pior. Hoje foi a prova que eu precisava para ter certeza de que estamos nos complicando cada vez mais. Então, antes de machucar mais alguém, eu desisto. — Verdade, melhor assim. Não temos nada um com o outro mesmo. Não precisa me deixar em casa, eu não vim com você. A infeliz abriu a porta do carro e saiu. Pensei em ir atrás dela, afinal já era tarde, mas não fui. Ela não era nenhuma criança e sabia muito bem como se virar sozinha.

Capítulo 27

Turbulências

Marcela

Eu saí daquele carro para não chorar na frente do idiota, imbecil e babaca. Que ódio de Bruno! Primeiro encontro ele no bar com a “outra amiga”, depois quando ele levanta da mesa para brigar, a bonita vira as costas e vai embora e, então, ele vem como um rolo compressor em cima do Vitor? Quem ele pensa que é para querer me dar lição de moral? Não precisava de carona para casa, eu sabia me virar muito bem. Andei alguns metros e encontrei um táxi. Cheguei a meu apartamento com vontade de quebrar tudo. Só não fiz isto, porque mamãe ia acordar e começar seu inquérito policial. Eu não estava a fim. Entrei no chuveiro e não consegui segurar mais as lágrimas. Chorei muito, de frustração, de raiva e de ódio de não conseguir ser diferente. Eu era assim, não tinha como mudar. Para minha segurança, preferia ser dona do meu nariz, abusada às vezes, mas só sabia ser deste jeito. Bruno me deixava louca, eu não entendia o que ele queria. Nunca esperava as perguntas que ele me fazia e, para piorar, nunca tinha uma resposta pronta. Ou tinha, mas não queria me comprometer. Estava decidida a não ceder mais a ele, ia estudar mais e cuidar do espetáculo de dança das crianças, que aconteceria dentro de duas semanas. Depois de muito chorar e me torturar, fiz um chá e fui dormir.

***

Bruno

Que merda, eu fui um tremendo idiota. Por que acertei o carinha? Deveria ter agido de forma mais diplomática. Podia, inclusive, ter ido até a mesa dos dois para cumprimentá-los, seria muito mais interessante do que dar aquele show. Ainda levei prejuízo, pois tive que pagar tudo que quebramos no bar. E para piorar, fiquei mais machucado que já estava. Era bem feito para que eu pudesse aprender a não mudar meu estilo de vida. Eu acabei entrando na dela. Mesmo sem perceber, nos últimos meses era quase sempre ela. Agora me diga: para quê? Eu mesmo respondo: só para me ferrar de vez. Aquela mulher sempre foi chave de cadeia, eu deveria ter ouvido meus instintos. Entrei no meu flat enfurecido. Eu só queria tomar um drinque com Aline, distrair minha cabeça, mas aconteceu exatamente o contrário. E qual era a da Aline? Que amiga da onça! Como ela simplesmente vira as costas e vai embora? Esperava mais dela, apesar de entender que tudo que não precisávamos era ter nossos rostos estampados nas páginas policiais de um jornal. Sentei no sofá da casa, coloquei Metallica para tocar. Sim eu não estava bem. Peguei uma garrafa de uísque e comecei a beber. A princípio iria beber só uma, pois precisava entregar o carro do doutor Augusto em casa cedo, antes que ele acordasse. A seguradora deixaria um carro comigo até que o meu ficasse pronto. Porém, um copo leva ao outro, que leva a mais um e por aí vai. Tomei um litro de uísque e apaguei no sofá. Acordei com meu celular tocando desesperadamente. Ainda meio sonolento atendi ao telefone e ouvi um grito: — Porra, Bruno, cadê você, cara? Já são treze horas, temos uma audiência às quatorze horas, o cliente já está aqui e meu tio viajou com vontade de te matar. — Caralho, Pedro, dormi demais, primo. Acho que bebi além da conta ontem. — Não acredito que depois daquela palhaçada no bar, você ainda bebeu? Onde estava com a cabeça, Bruno? — Não enche, cara. Bebi sozinho no meu flat. Estava sentindo dor e com raiva. — Com dor, a gente toma remédio e não uísque. A seguradora deixou seu carro aqui na firma.

Quinze minutos, Bruno. É este o tempo que tem para chegar, senão eu mesmo vou te matar. Levantei com uma dor de cabeça infernal. Tomei um banho rápido, coloquei um terno e precisei de um analgésico. Meus ferimentos estavam horríveis. Nossa, eu estava todo roxo. Como ia aparecer diante de um juiz todo quebrado daquele jeito? Sorte que o Meritíssimo daquela audiência era amigo do meu pai e sabia do acidente que sofri.

Capítulo 28

Problemas versus Prazer

Bruno

Enfim tinha chegado o dia da apresentação das crianças de Marcela. Eu recebi o convite das técnicas do abrigo. Alfredo e Luan estavam radiantes, pois os meninos também iriam participar. As coisas não estavam nada boas para o meu lado. Desde aquele maldito dia que resolvi encerrar minha relação maluca com a loira, parecia praga, mas tudo dava errado. Por causa de um vacilo meu, até Pedro tinha saído na porrada comigo. Sim acredite. Lembro que um dia após o tal jantar, meus pais viajaram para um resort. Eu pensava que teria um pouco de paz, porque o clima entre meu pai e eu só piorava. Enfrentei toda a audiência com uma dor de cabeça terrível e quanto mais dor sentia, mais raiva tinha de Marcela. Sentia que ela era culpada por tudo aquilo. Decidi passar o final de semana na cobertura a pedidos do meu primo. Como eu já estava meio queimado com ele, aceitei. O problema aconteceu tarde da noite, quando duas conhecidas me convidaram para uma festa na Savassi. Decidi que era o momento de voltar a ser o dominador da noite. Peguei o carro da locadora e saí para buscar as meninas. Quando estávamos no Contorno, o carro começou fazer uns barulhos estranhos e parou de funcionar. Liguei para o guincho, mas fui informado que demorariam por volta de uma hora. Então, liguei para o meu primo para que ele pudesse nos dar uma carona até a festa. Pedro não demorou muito e assim que chegou tentou resolver a situação do carro não tendo

sucesso. Porém, ele deixou as meninas esperarem dentro do carro dele e aí aconteceu a merda. Uma das vagabundas sacaneou e atendeu o celular dele e era nada mais, nada menos que Valentina, a pessoa mais esquentada do mundo. Já sabe, não é? O circo pegou fogo. Eu fui para a minha festa com as meninas e curti a noite, mas sem sexo. Estava sem disposição para levar duas mulheres para a cama. Ainda sentia algumas dores chatas em função do acidente e da briga. Quando cheguei à minha casa de madrugada, fui atropelado por um trator sem placa. Meu primo literalmente voou para cima de mim como um rolo compressor. Mal tive tempo de reagir. Como Pedro estava totalmente sem controle, precisei dar um soco nele com toda a minha força para conseguir fugir do ataque. Foi quando ele se desequilibrou e caiu. Corri para trás do sofá e perguntei se ele estava louco. Transtornado, ele me respondeu que tinha ódio de mim, que eu era um irresponsável e um idiota de um egoísta que não pensava em ninguém. A fúria era porque a ruiva atendeu o telefonema de Valentina e fingiu que estava com ele. Para piorar desligou o celular. E claro que ela não deixou meu primo explicar e terminou com ele. Foi horrível brigar com Pedro, principalmente quando vi que eu tinha machucado seu rosto com meu soco. Meu primo era um cara do bem e não merecia aquela merda. Aquilo mexeu comigo mais do que eu podia imaginar. Fiquei tão mal que resolvi voltar para o flat e sumir um pouco de vista. Fui afogar minhas mágoas no álcool. Beber estava sendo a melhor solução para não sentir. E era isto que eu estava fazendo, me embebedando.

***

Marcela

Graças ao espetáculo de dança, eu não tive muito tempo de pensar. Foram duas semanas de muito ensaio, de muita prova de roupa e de horas a fio de dança. Ana, minha amiga, professora, conselheira e dona da Companhia de Dança me convenceu a dançar um solo com Vitor. Meu amigo tinha ficado chateado por causa da confusão no bar, mas depois de eu chorar muito, acabou me perdoando. Íamos dançar uma peça infantil para as crianças no final do espetáculo. A bailarina e o soldadinho de chumbo. Acredite, mas ensaiamos tudo em apenas dez dias. Eu não queria pensar em um maldito touro. Eu havia enviado os convites para o abrigo, mas

não o convidei. Porém, ouvi uma das crianças dizendo que o tio Bruno iria vê-los. Meu inimigo coração me traiu e ficou batendo a mil por hora. Aquele maldito iria, mas eu não ia facilitar. Já havia combinado de sair com o pessoal da academia para não cair em tentação e sair com ele. E o grande dia tinha chegado. Eu estava muito emocionada, pois aquilo era a idealização de um sonho. Ver minhas crianças que passaram momentos difíceis com tão pouca idade, sendo estrelas da festa, era a minha maior realização. E pensar que tudo aconteceu graças ao pai do Bruno. Conseguimos ônibus para buscar as famílias e o maldito, idiota, lindo e gostoso touro, ainda tinha patrocinado um coquetel para todos, após o espetáculo. Ele fez a doação em sigilo, mas sem querer Ana me contou. O que ele tinha de babaca, tinha de bom coração.

***

Bruno Graças a Deus meu primo tinha conseguido se acertar com sua bravinha. Caramba, a mulher era brava como um general, mas o amava com todo o seu coração. E parece que o irmão dela deu uma ajuda a Pedro. Como ele não andava muito feliz comigo, resolvi dar um tempo, para que a poeira abaixasse. Ainda não tinha decidido se iria assistir ao espetáculo das crianças. Estava perdido em pensamentos no meu quarto, quando meu celular tocou. Do outro lado ouvi uma vozinha de anjo que dizia assim: — Bom dia, padrinho. Estou te ligando para te lembrar de que hoje é o nosso grande dia. Eu, meu irmão e meus pais estamos esperando por você. Tio Bruno, você vai, né? Caramba, era impossível negar um pedido daqueles. Claro que eu disse a Clebinho que ia. Assim que desliguei, lembrei-me de que minha máquina profissional poderosa estava em uma caixa no fundo do meu guarda-roupa desde aquele maldito dia que vivi nos Estados Unidos. Resolvi que iria voltar ao meu hobby favorito: fotografar. Já era tempo de recomeçar. Abri a caixa e fiz alguns testes no meu equipamento. Fiquei feliz ao perceber que tudo funcionava perfeitamente bem. Eu iria fotografar meus afilhados lindos e quem sabe uma loira também. A noite chegou rápido. Eu e meus pais seguimos para o teatro onde aconteceria o espetáculo.

Mamãe estava empolgada em ver as crianças dançando. Apesar de ainda estar de cara feia para mim, meu pai estava animado, pois tinha caído de encantos por meus afilhados. Eu confesso que antes de papai conhecê-los, eu tinha receio de como ele receberia os meninos, mas, apesar da chatice do doutor Augusto, ele não me decepcionou porque não era preconceituoso e adorava crianças. No dia que levei os meninos para passar o dia comigo e eles entraram correndo chamando meu velho de vovô Guto, foi automático, na mesma hora ele se rendeu aos meus levadinhos. A decoração do local do evento estava perfeita. O palco tinha virado um verdadeiro picadeiro de circo. Tinha muita cor, brilho e fiquei de boca aberta ao ver um globo da morte no palco. Tudo de muito bom gosto. Como havia prometido para meus meninos, eu sentei bem à frente. Rapidamente o teatro ficou lotado. Além das famílias das crianças, estavam na plateia algumas autoridades, como vereadores e juízes da vara de família. Estes últimos tinham sido importantíssimos para salvar a vida daquelas crianças. Havia também familiares e amigos do corpo de dança. Estava observando o movimento, quando as luzes se apagaram. Senti meu coração dar um salto e não gostei nada daquilo. No meio do palco, acendeu um foco de luz e lá estava Ana, a dona da academia. Ela estava com uma cartola e um terninho prateado, porém confesso que era o terno mais sexy que já vi. Ela cumprimentou a todos e falou: — Há aproximadamente cinco anos, eu recebia em minha companhia de dança, uma menina de dezoito anos, muito rebelde, que veio para cumprir uma pena alternativa como auxiliar de limpeza. Lembro-me como se fosse hoje, quando aquela loirinha mal-humorada me procurou com muita raiva por ser obrigada a fazer algo que não queria. Conversei muito com ela e disse que o melhor a fazer era tentar fazer do limão uma limonada. Não sei por qual motivo, mas senti que aquela menina raivosa tinha algo especial. E hoje tenho o orgulho de dizer que ela é a melhor bailarina do meu corpo de profissionais. Porém, o que ela tem de mais lindo é seu coração iluminado. Abraçou as crianças e as mães de nosso projeto social e hoje traz para abrilhantar nossa noite um sonho que se tornou realidade. Com vocês, nossa maravilhosa Marcela Lins e seu espetáculo O Circo. Puta que pariu, eu não estava preparado para o que vi. A loira apareceu com um vestido vermelho sangue, com as costas nuas e a saia longa como uma cauda. Porra, meu pau rugiu na hora. Ela entrou andando como uma garça, pegou o microfone e disse: — Senhoras e senhores, boa noite. Agradeço a todos que dedicaram um minuto de seu dia para vir prestigiar nossas crianças. O que posso dizer sobre tudo isto? Simplesmente agradecer a

Deus pela oportunidade que Ele me deu de conviver com estes pequenos maravilhosos. O espetáculo nasceu de uma conversa, onde meus anjos diziam não conhecer um circo de verdade. Então, surgiu a ideia de não só trazer a magia e a alegria, mas também das próprias crianças representarem o circo no palco. Não vou me delongar mais, então: respeitável público, temos o prazer de trazer até vocês para a abertura oficial do nosso espetáculo a coreografia da música Alegria. A emoção estava presente em todos naquele teatro. Os pequenos estavam iluminados e era possível ver muitas pessoas com lágrimas nos olhos. Minha mãe chorava sem disfarçar e eu confesso que tentava controlar meu coração. Orgulhosa de seus pequenos, Marcela apareceu na segunda música com uma roupa estilo Liza Minnelli no musical New York, New York, com uma cartola preta e uma bengala prateada. Da segunda apresentação em diante, ela imitava o mestre de cerimônia de um circo, linda. De Toquinho em Aquarela a Raul Seixas em Carimbador Maluco, foram dez músicas. A última apresentação me deixou sem ar. As meninas estavam vestidas de bailarinas e os meninos de soldadinhos de chumbo. Eles começaram a dançar coreografados com perfeição e depois paravam dentro de uma caixa como se fosse uma vitrine viva. Foi aí que perdi o fôlego, a loira apareceu vestida de bailarina e o babaca que eu dei uma surra estava de soldadinho. Os dois deram um show de dança e sensualidade. Confesso que me deu uma pontada de inveja, mas me controlei. O espetáculo chegou ao fim com uma chuva de aplausos que durou quase cinco minutos com todos de pé. Marcela foi ovacionada pelos familiares das crianças, uma das mães subiu ao palco e fez uma homenagem emocionada a ela. Porra, meu lado macho alfa estava meio abalado, pois minha garganta estava ardendo de emoção. Ela recebeu uma orquídea das mãos dos meus meninos, aposto que era coisa de Luan e Alfredo, eles eram muito carinhosos. Eu estava orgulhoso da mulher que ali estava. Ela não era somente linda, rebelde e gostosa, era uma pessoa de coração refinado, sensível e carinhosa com as crianças. Senti algo diferente naquele momento, foi uma emoção maior que meu corpo. Pela primeira vez vi a mulher por trás de um corpo... e que corpo. Minha vontade era correr até ela e abraçar como nunca tinha feito antes. Precisei conter minha euforia. Depois de todos os agradecimentos, nós fomos para a área externa ao teatro, pois seria servido um coquetel para as famílias e convidados. Eu e meu pai havíamos patrocinado este momento, mas com a condição de ficarmos no anonimato. O clima era de muita alegria, eu ainda

não tinha conseguido chegar perto da rebelde. Ela e as crianças eram a estrela da noite, então tinha repórteres, jornalistas e fotos, muitas fotos. Assim que acabou todo o assédio, me aproximei da loira e disse: — Parabéns, rebelde, vocês arrasaram. Ela sorriu, mas estava distante. Somente respondeu: — Obrigada, Bruno. O mérito é das crianças. Fique à vontade, eu preciso dar atenção às famílias. Antes que ela se afastasse, segurei seu braço e falei: — Marcela, quero que saiba que estou muito orgulhoso de tudo que você conseguiu. — Mais uma vez obrigada, mas o mérito não é meu e sim das crianças. — Sim, mas você as conduziu, loira. Reconheça seu mérito. — Ela me olhou emocionada e sorriu. Como ela já ia saindo, não aguentei e falei: — Que tal tomarmos um vinho depois? — Sinto muito, hoje não vai dar. Tenho compromisso com o pessoal da academia. Agora preciso mesmo ir. Mais uma vez, obrigada por ter vindo. Não acredito! Ela virou as costas e saiu de perto de mim, sem olhar para trás. Fiquei chateado, mas eu precisaria ter calma, afinal eu fui o babaca que terminei tudo. Decidi ir embora, pois estava difícil vê-la me esnobando. Perguntei a mamãe e papai se ainda iam ficar ali, mas para minha sorte eles já estavam cansados e queriam ir embora. Despedi dos meus amigos e dos meus afilhados e saí com meus pais, sem olhar para Marcela. Eu não ia ficar ali assistindo ela fingir que não me via, mas eu estava incomodado, pois ela realmente parecia não me ver. Antes que eu fizesse uma burrada, parti dali com destino a minha garrafa de vinho.

***

Marcela

Durante todo o espetáculo, eu estava ciente da presença dele, mas tinha prometido a mim mesma não render a química maldita que ele exercia sobre mim. Minha prioridade era somente as crianças e ninguém mais. A noite era delas. Eu fiquei muito emocionada de ver como elas fizeram tudo perfeito. As coreografias saíram exatamente como tínhamos ensaiado e ver a emoção nos olhos das mães era recompensador. Saber que aqueles anjos chegaram ali tão vulneráveis por presenciar tanta violência dava a sensação de dever cumprido. Cada música, cada sorriso, tudo tinha valido a pena. Um dia eu ainda ia agradecer ao doutor Augusto por ter me obrigado a cumprir a tal pena, no final quem ganhou fui eu. Minha vida era outra após a dança. No momento final, quando dancei um solo com Vitor, confesso que estava muito nervosa. A verdade era que eu sabia que o maldito touro estava acompanhando tudo, nos mínimos detalhes. E sendo sincera, eu dancei para esfregar na cara dele que ele tinha perdido, não havia mais chance para ele. No final do espetáculo foi servido um coquetel delicioso. Eu sabia que era patrocinado por Bruno e seu pai, mas Ana me fez prometer não falar nada e nem agradecer, pois eles queriam o anonimato. Eram estas coisas que me davam vontade de matar ele, às vezes. Tão babaca e tão perfeito. Quando percebi que ele se aproximava, respirei fundo, me preparei para ser educada e resistir. Não foi fácil, mas consegui. Ver a cara dele quando eu neguei seu convite foi muito bom para meu ego. Tudo bem, eu estava louca para ceder, mas tinha resolvido ter amor-próprio. Precisava vencer o meu vício dele, pois definitivamente ele era como heroína no meu sangue. Eu não conseguia nunca ter só um pouco dele, então era melhor parar de vez. Percebi que ele não ficou muito tempo após minha negativa, vi que tirou algumas fotos das crianças e saiu com seus pais, sem, inclusive, se despedir. Era melhor assim. Saímos todos da companhia de dança juntos para comemorar. Encerramos a noite em um karaokê. Foi a maior diversão. Cada um mais desafinado que o outro, mas o que valia era a farra. Ficamos por lá cantando, comendo uns petiscos e bebendo até quase o dia amanhecer. Fui assediada por um dos amigos de Vitor, mas naquela noite não queria nada com ninguém. Queria só beber e rir feito uma louca, pois certo touro não saía da minha cabeça. Na hora de ir embora, estávamos muito bêbados, por isso optamos por um táxi. Quando cheguei à minha casa, não sei o que me deu, mas resolvi infernizar certo idiota. Deitei em minha cama, peguei meu celular e mandei uma mensagem:

Bom dia, tourão. Já está dormindo ou está com alguma vagabunda?

A resposta não demorou nem um minuto, uau!

Não estou dormindo, muito menos com uma vagabunda, loira. Estou no terceiro andar da cobertura, vendo o sol nascer e tomando o vinho que você não quis tomar comigo.

Caramba, eu acho que estou muito bêbada. Só de pensar no seu vinho minha cabeça já gira.

Por que bebeu, Marcela?

Uai, porque eu quis. Sou maior de idade e vacinada, tourão. Posso beber quando quiser. Você e esta mania de mandar. Que chato!

Está bom, rebelde, desculpa, não quero brigar. O que quer comigo então?

Conversar, gostoso. Estou sem sono e quero aproveitar que estou meio doida para falar umas verdades para você. Bruno, você é um BA-BA-CA, um I-DI-O-TA, que pensa que pode fazer o que quiser com as mulheres e, inclusive, não sei se te disse, mas eu te ODEIO!

Uau! Você me manda mensagem às cinco da manhã para me xingar, loira, é isto mesmo?

Não. Só queria te falar isto, agora já falei, vamos continuar nosso papo, eu estou sem sono, bêbada e decidi que quero infernizar você. Hoje eu quem mando, tourão.

Jesus, eu estava muito doida, antes dele me responder, mandei uma bomba:

Quero saber: qual foi sua maior loucura sexual?

Marcela, eu nunca fiz nenhuma loucura sexual. Tudo que fiz foi para o prazer das minhas parceiras e para o meu. Sempre consensual, lembra?

Ai Bruno, você é chato. Quero saber então uma coisa que não gostou. Conta vai, Senhor Certinho cheio de regras.

Está bom, vou matar sua curiosidade. A única coisa que não gostei muito foi ter dividido uma mulher na cama com um amigo. A sensação de ver outro homem de pau duro perto de mim não me agradou. Agora é minha vez. Qual sua maior loucura sexual?

Perder a porra da minha virgindade em uma aposta com um babaca. Como vê, tourão, sou muito mais louca que você imagina.

Ah, linda Marcela, isto não é nada. Somente perdeu a oportunidade de ter uma primeira vez que merecesse lembrança. Agora, loira, me fale uma fantasia sexual sua. A mais profunda. Só para mim. Sem censuras e sem julgamentos.

Porra eu estava muito bêbada e não acredito que ia falar aquilo, mas como provavelmente eu não me lembraria de nada, resolvi ser corajosa e barbarizar. Falei a fantasia mais louca que tinha:

Eu te conto a minha e depois você me conta a sua. Eu tenho uma fantasia muito oculta de ser obrigada a fazer sexo com um homem e uma mulher, mas vou logo avisando, tourão. Não sou lésbica, é só curiosidade. Ai meu Deus, não acredito que falei isto. Esquece, gostoso. Agora me conte a sua.

Meu Deus, eu não podia acreditar que tinha mandado aquela mensagem, só posso estar

louca. Bruno demorou a responder e eu fiquei com medo, até que meu celular vibrou.

Loira, minha maior fantasia sexual neste momento é realizar a sua.

Tourão, acho que preciso de um banho e talvez vomitar. Adorei conversar com você.

Loira, se precisar vou aí dar banho em você, deliciosa.

Fui, Bruno! Vai dormir. Tchau!

Depois de escrever aquela merda, preferi encerrar aquela conversa estranha. Porra, minha mãe sempre disse que a bebida era perigosa por liberar nosso monstro indomável interior e ela tinha razão. Apaguei todas as mensagens para me resguardar, caso dona Laura pegasse meu celular. Estava me sentindo muito bêbada. Entrei para o chuveiro, lavei minha alma e fui dormir. O dia tinha sido intenso demais!

***

Bruno Eu tentei dormir, mas não obtive sucesso. A imagem da loira dançando não saía da minha cabeça. Resolvi sair da cama e fui para a área de churrasco da cobertura. Levei meu celular, uma taça e uma garrafa de vinho. Como eu disse, minha adrenalina estava descontrolada. Até pensei em sair e encontrar qualquer mulher para me saciar, mas não era a que eu queria. Levei o celular, pois talvez ligasse para Marcela. Eu estava incomodado, indeciso e esquisito demais. Eu desejava uma maldita que me esnobou. Porra, eu devia estar mesmo louco, pois aceitei a negativa dela fácil demais. Estava no meio da garrafa, vendo o sol começar a dar seus primeiros sinais de vida, quando

meu celular vibrou. Não acreditei no que vi no visor, era mesmo a rebelde? Resolvi entrar na dela. Primeiro começou com um papo louco, mas no final da conversa esquentou muito. Caralho, eu quase gozei. A mulher era mais doida que eu pensava. A vantagem da bebida era esta, você conseguia descobrir tudo o que ia no fundo da alma de uma pessoa. E porra! Eu fiquei obcecado com a fantasia dela. Quando terminamos nosso papo maluco, eu mal respirava e já começava a planejar tudo em minha cabeça. Existia uma pessoa que eu confiava para aquela missão e eu ia entrar em contato com ela.

***

Não vou mentir, eu era a ansiedade em pessoa. Depois de muito insistir e até mandar flores, sim acredite: eu mandei uma linda orquídea para a loira, ela aceitou sair comigo. Eu já tinha preparado tudo, a noite seria perfeita. Antes da aventura sexual que nos esperava, eu ia convencer ela a ir para Búzios para passar a virada de ano. Antes de nossa briga, estava tudo acertado dela ir comigo, mas depois nunca mais falamos sobre isto. Conforme combinado, eu a busquei às vinte horas. Ela estava lindíssima com um vestido azulclaro, parecendo um anjo. Levei a loira a um restaurante sofisticado, pois queria começar a noite ganhando muitos pontos. Ela ficou encantada com a decoração e o requinte do lugar. Assim que nos acomodamos, ela sorriu e disse: — Bruno, obrigada por me trazer em um lugar tão lindo, mas qual é seu plano por trás disto, hein? Que mulher infernal, ela não facilitava mesmo. — Marcela, você tem pouca fé em mim. Eu queria que pudéssemos ter uma noite agradável. Só isto. — Tourão, eu vou fingir que acredito. — Nossa! Assim você me deixa magoado. Um homem não pode mais trazer uma linda mulher para jantar? — Pode sim, Bruno, mas sabemos muito bem que conosco não funciona assim, não é? É sempre sexo e mais sexo. Não que eu esteja reclamando.

— Marcela, Marcela! Não brinca comigo. E não é sempre sexo e só sexo, conversamos e brigamos também. Ela ficou rindo. Falamos de diversos assuntos, sempre em clima de muita sedução. Depois de muitos argumentos e eu era bom nisto, consegui convencê-la a viajar comigo. Íamos sair no outro dia à tarde, depois que eu colocasse tudo em dia na firma. Minha intenção era curtirmos aquela cidade por uma semana. Eu estava muito tentado a assumir um relacionamento com a loira. Nossa noite de sexo a três, seria para nós dois o fechamento de um ciclo de loucuras. Encerramos a conta e fomos para um motel. Minha amiga já estava na suíte nos esperando. Meu coração parecia que sairia pela boca, mas eu não ia recuar, afinal só estava realizando a fantasia sexual dela. No caminho não conversamos muito, estávamos mergulhados na música do Metallica. Antes de entrarmos na suíte, abracei Marcela e a beijei intensamente. Depois falei em seu ouvido que aquela era uma noite para sentir e não para pensar. Ela sorriu sem entender muito, mas aceitou. Assim que entramos fui logo agarrando a loira, beijando, mordendo seu pescoço e arrancando sua roupa. Fiquei atrás dela, segurando seus braços e falei rouco que para mim o desejo dela era uma ordem. Foi nesta hora que uma amiga de São Paulo, que era uma verdadeira Dominatrix, apareceu. Percebi que ela se assustou e encolheu se encostando em mim. Para que ela não pensasse muito, comecei a passar a mão por todo seu corpo, enquanto dizia que as sensações seriam inesquecíveis, que eu estaria com ela o tempo todo e que faríamos tudo para o prazer dela, sempre dela. Marcela ainda quis recuar, mas eu já disse, sou bom com as palavras e ela acabou cedendo. Nossas fantasias existiam para ser realizadas e eu queria proporcionar este momento a ela. Para falar a verdade, eu estava obcecado para esta experiência, desde o dia que ela me contou não pensava em outra coisa. A música que tocava no quarto era The Unforgiven, do Metallica, uma das minhas favoritas. Amarrei os braços dela acima da cabeça em um suporte de um abajur, ela me olhava com medo e raiva. Confesso que me deu um frio na barriga, mas eu queria muito que ela vivesse aquela experiência. Não tinha nada a ver com gênero naquele momento, era tudo uma questão de sensação e liberdade. Segurei seu rosto em minhas mãos e a beijei de uma forma que ela pudesse sentir segurança. Eu não deixaria nada de ruim lhe acontecer. Fui beijando, mordendo e lambendo todo o lindo corpo da minha loira gostosa e dizendo para que ela deixasse sua mente livre de preconceitos, de julgamentos e censura. Ali era sexo puro, era

lascivo, uma entrega total. Eu enlouqueci de tesão ao ver minha loira levando pequenos golpes de outra mulher. Era a cena mais linda do mundo. No fundo acho que todo o homem tem a fantasia de estar com duas mulheres e assistindo-as em ação. Eu tinha colocado algumas regras, como, por exemplo, beijo estava fora de cogitação. A boca da loira era sagrada, meu território. Minha amiga era muito boa no que fazia. Ver Marcela desafiando-a com o olhar foi muito quente. Tudo aconteceu como eu havia planejado. Na hora do êxtase, ela saiu de cena e ficamos somente eu e Marcela. O seu prazer era meu. Eu não queria dividir aquela linda imagem com ninguém. Depois cuidei da minha loira com carinho. A levei para a banheira em meu colo, lavei cada pedacinho seu. Sempre beijando e sussurrando palavras de gratidão por ter me proporcionado uma das melhores noites da minha vida. Ela estava manhosa e quietinha, sem falar quase nada. Entendi que depois daquele turbilhão de sensações ela ainda estava meio atordoada. Transamos de novo, porém sozinhos, sem interferência de nada e nem ninguém. Eu a idolatrei. Entreguei-me a ela de corpo e alma. Depois daquela noite eu estava mesmo decidido. Iria enfrentar meus medos e iniciar uma vida nova com aquela doidinha que me encantava. Já tínhamos ultrapassado todas as barreiras e estávamos nesta loucura há quase um ano. Era hora de agir como o homem que eu era e assumir que sem ela não dava mais. Saímos do motel quase pela manhã. Deixei Marcela em casa, com a promessa de buscá-la no final da tarde para nossa viagem. Ela me beijou demoradamente e saiu do carro. Eu fiquei olhando-a até sumir na porta do condomínio. Confesso que estava mais ansioso ainda com a nossa aventura a Búzios. Ela não sabia ainda, mas eu iria comprar uma joia para ela. Queria deixar marcado para sempre aquele data. O dia que eu abandonaria de vez meu passado e iria de encontro a um futuro feliz com minha deusa Nyx. A mulher que roubou meu sossego numa noite em uma pizzaria.

Capítulo 29

Deixando você

Marcela

Bastou entrar no elevador do meu prédio para as lágrimas descerem como as águas de uma cachoeira. Meu pranto era de raiva, de frustração e principalmente de humilhação. Eu não conseguia acreditar que tinha permitido uma coisa horrível daquelas. Como eu fui capaz de deixar uma mulher colocar a mão em mim? E que ideia maluca era aquela de Bruno que estava realizando minhas fantasias? Meu desespero era tão grande que mal respirava. Cheguei a agachar abraçada comigo mesma, tamanha a minha dor. Cheguei à porta do meu apartamento, entrei silenciosamente para que minha mãe não acordasse. Ao passar pela sala, levei o maior susto ao vê-la acordada com seu celular na mão. Assim que viu meu estado, levantou apreensiva e me abraçou. Não consegui me controlar, minhas lágrimas viraram um lamento nos braços da mulher que eu mais amava. Mamãe ficou apavorada ao ver meu estado, me puxou para o sofá e me fez falar o que me afligia. Não podia dizer tudo, então resumi assim: — Mamãe, por que eu complico tudo? Por que eu sou tão burra? Eu não quero mais sofrer. Não quero mais viver assim. Eu preciso sumir, não deixa Bruno me ver mais mamãe, por favor. — Marcela, minha filha, você é tão nova ainda. Não sofra assim. Vamos resolver juntas. Eu estou aqui com você sempre, minha pequena. O que Bruno fez com você?

— Ele é louco. Ele não fez nada e fez tudo. Bruno me faz mal, mamãe. Ele entra em minha cabeça, como se estivesse impregnado em meu sistema. Não consigo resistir a ele e acabo me machucando. Escuta: eu preciso sumir. Aqui eu não vou conseguir. — Calma, minha filha. Acho que tenho a solução. Seu pai estava ainda agora me infernizando para ir para Portugal hoje com você, para passarmos a virada lá. Ele me disse que já fez duas reservas, mas eu não posso ir, minha filha. Tenho muitas encomendas para o dia trinta e um e seu pai precisa aprender a não planejar por conta própria a vida dos outros. Porém, se você quiser pode ir ficar com ele. O que acha? — Jura, mamãe? Será que papai me aceita com ele? — Oh, princesa, claro que sim. Seu pai é louco por você. Ele cumpriu sua promessa quando foi embora. Ele se tratou, conseguiu dar a volta por cima e hoje tem uma vinícola que está em crescimento naquele país. Vou ligar para ele agora. Espera aqui. Deitei a cabeça no colo de mamãe enquanto ela ligava para papai. Ela explicou tudo a ele e, para minha alegria, ele ficou extasiado com a notícia de minha viagem. Chegou a chorar no telefone com mamãe, tamanha emoção de poder passar um tempo comigo. Porém, ele disse que o meu voo sairia de Belo Horizonte do aeroporto de Confins, às onze horas. Mamãe desligou o telefone e começamos uma verdadeira operação de guerra. Enquanto eu tomava um banho, minha linda dona Laura começou a separar passaporte, roupa, calçado e tudo mais. Papai disse que não precisava levar muita coisa, pois me levaria às compras em Portugal. Aquela era uma palavrinha mágica capaz de me deixar um pouco mais feliz. Estava decidida, não queria saber de nada. Eu não ia levar meu celular, queria sumir do mundo. Por enquanto, Valentina não seria problema, pois ela estava em Florianópolis com Pedro para passar a virada. Minha amiga ia ficar muito chateada comigo. Ela era muito apegada a mim. Na verdade éramos quase gêmeas, mesmo ela namorando sério, a gente se falava todos os dias e sempre estávamos juntas. Ela ia me odiar. Precisava sentar e escrever uma carta para minha amiga e foi o que fiz naquele momento.

Minha irmã Valentina,

Sei que nesta hora você deve estar com muita raiva de mim. Eu entendo, porque se você tivesse feito isto comigo, eu ia até o Himalaia te dar uma surra, mas sei que você é mais doce e carinhosa que eu, então, por favor, me escuta. Minha feiticeira linda, eu precisava deste tempo para mim. Eu e Bruno enveredamos por um caminho complicado, então, antes que as coisas se complicassem mais, eu preferi dar um tempo, sumir. Como Deus estava ao meu lado, meu amado pai resolveu dar o ar da graça e convidar sua única filha para passar um tempo com ele na Europa. Você sabe do meu fascínio pelo meu pai e por aquela terra maravilhosa que ele mora. Vou aproveitar e fazer alguns cursos de dança e aproveitar também a companhia do meu velho. Valentina, me promete não derramar todo seu veneno no Bruno, ele não tem culpa. Lembre-se do que eu sempre disse: as pessoas não jogam sozinhas e eu tenho tanta culpa quanto ele, afinal este era um jogo para dois e nós aceitamos entrar nele, mesmo que não percebêssemos que ele já estava terminado para nós mesmo antes de começar. Sei que você vai culpá-lo, mas volto a afirmar: ele não tem culpa. Bruno é um homem bom, só está perdido. Bom, engraçado, que até nisto somos iguais, eu também estou perdida. Minha linda, foi preciso fazer como fiz. Se eu te ligasse ou conversasse com você, não teria coragem de partir. E se Bruno soubesse, ele também não deixaria. Por isto deixei meu telefone aí e só vou entrar em contato quando eu estiver mais forte. Mamãe tem o endereço de papai, vamos voltar ao passado e nos comunicar por carta, pelo menos por enquanto. Diz ao Pedro que ele é maravilhoso e sei que vai cuidar bem de você. Fala com ele também para não desistir de seu primo, porque Bruno precisa muito dele. Sabe, vou te contar uma coisa, ele deve estar muito bravo, porque proporcionei a ele uma noite de despedida inesquecível e marcamos de viajar no dia trinta por volta das dezesseis horas e neste horário eu já estava cruzando o oceano pelo ar. Está bom, sei que foi maldade, mas ele mereceu. Não posso te contar a noite inesquecível agora, porque tenho certeza de que seu lindo namorado está aí te consolando, então outra hora te conto. Irmã, promete que me perdoa, eu só tive coragem de fazer isto porque sei que você está em excelentes mãos e com todo respeito, que mãos! Beijo, meu amor, fica com Deus e aproveita bastante este gostoso aí ao seu lado. Te amo! Sempre. Marcela

Terminei de escrever a carta para minha amiga em lágrimas. Sei que estava fazendo mais

uma de minhas loucuras, fugindo, mas naquele momento não tinha forças para fazer diferente. Liguei para minha amiga e dona da academia. Expliquei a ela mais ou menos meu problema e pedi uma licença. Ela me disse que estariam em férias por quase quarenta dias e ainda deixou claro que eu precisava estar de volta antes do meio do ano, pois a Companhia de Dança ia começar uma nova fase. Eu estava muito curiosa por esta novidade, mas ela nunca adiantava nada, só dizia que ainda estava em negociação e não podia adiantar nada. Ainda providenciei uma procuração para que mamãe conseguisse trancar a universidade por um período. Enfim depois de uma manhã louca de muita correria, lá estávamos nós na área de embarque do aeroporto. Claro, que eu e mamãe, duas manteigas derretidas, chorávamos. Ela me dava um milhão de recomendações e me fez uma ameaça que se não conseguisse falar comigo no celular de papai, me buscaria pessoalmente. Fiquei rindo e prometi atendê-la todas às vezes. Meu voo foi anunciado e nos despedimos com um abraço apertado. Nunca tínhamos ficado separadas por mais de dois dias. Era nossa primeira vez e, claro, era tenso demais. Entrei naquele avião com uma única certeza: eu iria recomeçar. De outra forma. Aproveitaria aquele tempo junto de papai para fazer uma viagem ao meu interior e me refazer, mais forte e preparada para os obstáculos da vida. E Bruno? Ele ficaria para trás, como o ano que estava acabando. Era isto. Vida nova, pessoas novas e sonhos novos!

Capítulo 30

Atravessando um deserto

Bruno

Passei o dia no meio de muitos papéis, deixando tudo organizado para que eu pudesse ficar uma semana tranquilo em Búzios. Não almocei, não saí da firma para nada até deixar tudo pronto. Por volta de dezesseis horas, saí do trabalho e fui em busca de uma joalheria. Queria comprar uma joia para a rebelde. Depois de ver várias peças lindas, optei por um cordão com um pingente de bailarina e um anel com uma esmeralda que lembrava a cor dos olhos dela. Eu era um homem passional. Depois de tomar uma decisão, não voltava atrás. Começaria o novo ano modificado, junto à loira. Eu ia propor a ela um pacto. Proporia a Marcela começarmos de novo, sem meias palavras, sem jogos de desafio e principalmente, sem medo de viver nossos sentimentos. Estava claro para mim, não era amizade, não era só sexo. Eu gostava de estar com ela, de seu humor, de sua dança e do seu amor pelas crianças. Arrumei minha mala em estado de euforia, despedi de mamãe e saí rumo à casa da loira. Cheguei ao prédio por volta das dezoito horas. Cheguei à portaria, o senhor Ernesto me disse que Marcela havia saído com uma mala. Eu disse a ele que deveria estar enganado, pois ela viajaria comigo. Então, ele tocou o interfone e falou com a mãe da loira que pediu que eu subisse. Entrei naquele elevador com uma sensação ruim, alguma coisa estava errada. Assim que abriu a porta, encontrei-me com dona Laura na porta. Ela não estava com uma cara muito boa, mas era muito educada e pediu que eu entrasse, pois queria conversar comigo. Não gostei daquilo. Ela me

pediu que sentasse ao seu lado no sofá e disse: — Bruno não tem outro jeito de falar isto, então vou ser direta. Marcela não vai viajar com você, neste momento ela deve estar cruzando o oceano indo em direção a Portugal. Ela vai passar um tempo com o pai. Senti um tranco no meu coração, olhei para a mãe dela sem entender nada e falei: — Como assim, dona Laura? Ontem combinamos tudo. Estávamos felizes. O que aconteceu, pelo amor de Deus? — Meu filho, eu não sei o que aconteceu com vocês ontem, mas posso te garantir que feliz minha filha não estava. Ela chegou chorando compulsivamente. Não me contou o que aconteceu, só dizia que você fazia mal a ela. — Não consigo entender. Nossa noite foi ótima. Por que ela não conversou comigo? — Bruno, meu filho, vocês dois estavam indo em um caminho perigoso demais. Eu já tinha alertado minha filha sobre isto, mas vocês jovens não nos escutam. Infelizmente não tenho o que te dizer. Vou te entregar um bilhete que ela deixou para você. Não acreditava que, mais uma vez, eu receberia um maldito bilhete. Aquilo não podia estar acontecendo comigo novamente. Só podia ser um pesadelo ou uma brincadeira daquela maluca. Dona Laura voltou do quarto com um pequeno envelope nas mãos e me entregou. Despedi-me dela sem mais delongas e voltei para o meu carro. Juro, eu estava sem chão e sem coragem de abrir o bilhete que queimava em minhas mãos. Respirei fundo, meu coração estava disparado, me sentia meio trêmulo e com muito ódio. Estava totalmente sem rumo, perdido mesmo. Liguei meu carro e saí dirigindo, no instinto. Não queria ir para meu flat, tinha medo de mim mesmo. Depois de andar por várias vias, resolvi ir para a casa dos meus pais. Naquele momento, lá era o único lugar no mundo que podia me salvar da minha fúria. Estacionei o carro de qualquer forma na garagem, retirei minha bagagem do carro e o maldito envelope. Entrei em casa descontrolado. Mamãe e papai estavam na sala e se assustaram ao ver como eu estava transtornado. Dona Luiza tentou me parar, mas eu não tinha condições de falar. Deixei minha mala na sala e subi totalmente louco para o meu quarto. Sentei em minha cama e abri o bilhete. Eram poucas linhas, mas com efeito de uma verdadeira bomba atômica.

Bruno, Decidi passar um tempo com meu pai. Vamos esquecer tudo. Não estamos nos fazendo bem. Com você tudo é muito intenso, não quero mais. Vá viver sua vida. Foi bom enquanto durou. Segue sua vida, que eu sigo a minha. Sem mágoas. Adeus, tourão! Marcela

Li e reli aquele maldito pedaço de papel umas três vezes. Estava me sentindo mal, com um gosto amargo na boca. Sensações daquele dia nos Estados Unidos voltavam fortes a minha cabeça. Era como se meu corpo pudesse sentir. Respirar estava difícil, me conter estava quase impossível. Marcela foi cruel, egoísta e leviana. O que tinha acontecido? Por que ela não falou comigo? Que porra era aquela? A mãe dela disse que ela não tinha levado o celular e eu tinha certeza de que ela não facilitaria para que eu falasse com a filha. Eu ia ficar louco. Pedro estava longe, viajando com sua bravinha, eu não podia incomodar ou atrapalhar meu primo. Andava dentro do meu quarto de um lado para o outro, enjaulado, agoniado e com raiva, muita raiva. Peguei um troféu de futebol que estava em minha estante e joguei com toda a minha força na parede. Sem aguentar mais, dei um grito de ódio, de dor e de frustração. Chutei a parede como um louco. Estava anestesiado. Imediatamente meu pai chegou a meu quarto. Acho que ele não estava preparado para me ver ajoelhado no chão, com as mãos na cabeça. Eu era o verdadeiro retrato do desespero. Papai me abraçou, ficou agachado um tempo comigo. Depois de muito tempo sem chorar, desabei como o menino pequeno que se machucava e corria para os seus braços. Doutor Augusto me levantou do chão e me levou até a cama. Segurou meus ombros e disse: — Meu filho, o que houve? Fala com seu pai, Bruno. Prometo ser compreensivo e te ouvir. Confia em mim. — Fiquei olhando para ele com os olhos turvos de tantas lágrimas e com mágoa no olhar, pois ele vivia me criticando e me infernizando. Acho que ele entendeu o meu sentimento, pois respirou fundo, pensou um pouco e falou: — Bruno, eu sou seu pai, às vezes erro, mas acredite: meu objetivo é acertar. Você é o sentido da minha vida, filho, é tudo por você e para você. Meu amor por você é incondicional. Ao te ver sofrendo assim, chego a sentir uma dor profunda, preferia que fosse comigo. Sei que sou genioso, teimoso e controlador. Aliás, você é bem parecido comigo, mas sei que estou pegando pesado. Prometo tentar melhorar, por você, por sua mãe, que até já me ameaçou, por nós. Quero te ajudar. Fale comigo.

Abracei meu pai com todas as minhas forças, tentando me acalmar. Estava me sentindo dilacerado, humilhado e ferido, mais uma vez ferido. Depois de me controlar um pouco, olhei para o homem que eu mais amava no mundo e disse: — Papai, por que não consigo ser feliz? Tenho tudo que o dinheiro pode comprar, amo o que faço, sou dedicado aos meus casos, mas minha vida sentimental é totalmente bagunçada. Hoje eu resolvi recomeçar, estava decidido a tocar em frente, esquecendo o que aquela maldita me fez nos Estados Unidos, mas novamente entendi tudo errado. Chego a pensar que nasci para viver sozinho, sem ser amado por uma mulher. Marcela me destruiu. Não sei se consigo recomeçar mais. — Meu filho, você tem a vida toda pela frente. Nada parece tão ruim em um novo dia. Se não deu certo, era porque não estava na hora ainda. Tenha um pouco mais de fé, Bruno. Eu não criei um homem fraco que desiste tão fácil assim. Se você quer tanto Marcela, dê tempo a ela, meu filho. As mulheres são diferentes de nós. O que está claro em nossa cabeça, na delas não é tão claro assim. Mulheres são hormonais, são impulsivas, são passionais e, ao mesmo tempo, perfeitas. Tenha calma. Você precisa amadurecer, Bruno. Dê este tempo a você também e aproveite para refletir em seus atos. Só não se esqueça de que eu e sua mãe estaremos sempre aqui para você. Abracei meu pai novamente e o agradeci por ter me ouvido. Ele ainda me convidou para tomar um vinho com ele na área da piscina, mas eu não tinha cabeça para nada. Ele entendeu e me deixou sozinho em meu quarto com a minha dor. Tomei um banho para ver se conseguia relaxar, mas não resolveu nada. Os chutes que dei na parede começaram a incomodar, meu pé começou a doer muito. Precisei tomar um analgésico para melhorar a dor e acabei adormecendo. Acordei assustado e molhado de suor. Aquele maldito pesadelo voltou a me assombrar. Enquanto eu afundava em uma areia movediça, eu via uma mulher ao longe e tinha a certeza de que só ela podia me salvar. Porém, ela não se importava com meu desespero, pelo contrário, dava gargalhadas assustadoras e balançava um papel nas mãos. Quando eu conseguia ver o rosto ora era de Marcela, ora era da Mercedes. Aquilo iria me deixar louco. A culpa era dos malditos bilhetes. Levantei da cama e fui rumo à cozinha. Precisava colocar gelo em meu pé, que estava latejando. Ainda tentei ligar para a infeliz e, claro, caixa postal. Sentado na sala, com uma bolsa gelada queimando meu pé e me fazendo passar por uma dor do caralho, tomei uma decisão. Daquele dia em diante, eu iria me entregar ao trabalho e aos estudos para a prova da promotoria, me transformando em uma máquina que atropelaria qualquer um que entrasse em minha frente nos tribunais. Para driblar meus desejos sexuais, ia me afundar na luta e na corrida.

Nada mais iria mudar meu foco.

Capítulo 31

Fugindo de você

Marcela

Aquele foi o maior voo da minha vida, em todos os sentidos. Nunca havia saído do país e a minha angústia fazia com que tudo parecesse maior. Quando o avião passava em cima do oceano, me bateu um arrependimento. Será que havia agido certo? Ou deveria ter conversado com ele antes? Não. Eu estava certa. Nunca perdoaria Bruno por me fazer ficar com a porra de uma mulher e, pior, ouvindo que ele estava realizando meus desejos. Que desejo, meu Deus? De onde ele havia tirado aquilo? Só podia ser da cabeça maluca dele. Não era tempo para arrependimentos. Iria começar tudo de novo. Aquele período com papai serviria para colocar a cabeça em ordem, conhecer lugares novos e aproveitar para recuperar um pouco do tempo perdido. Ele teria que me explicar tudo o que fez em sua vida e por que nos abandonou daquela forma. No fundo, eu sabia que mamãe guardava mágoas dele, por todas as dificuldades que passamos. Não chegamos a ficar pior, pois mamãe trabalhava incansavelmente para não deixar faltar nada, mas várias vezes a vi chorando pelos cantos. Eu sabia que ela amava meu pai, mas estava ferida demais para perdoar. Durante o voo, pensei, chorei, dormi, acordei, conversei com algumas pessoas, fiquei encantada com alguns homens lindos que estavam no avião até que finalmente foi anunciado o momento do desembarque. Foram quase onze horas no ar, mas, enfim, tínhamos chegado. O aeroporto era lindo, papai morava na cidade do Porto. Assim que cheguei à área de saída vi meu

pai com o maior sorriso do mundo. Meu coração quase saiu pela boca, tamanha emoção de revêlo depois de tanto tempo. Ele veio em lágrimas, com os braços abertos e me abraçou. Nossa! Como me senti segura nos seus braços. Era boa demais aquela sensação de segurança. Depois de muita emoção, saímos abraçados rumo a novas experiências. No caminho para casa, papai me explicava e mostrava tudo. A cidade era linda, muito diferente de Belo Horizonte. Tinha uma atmosfera de aconchego com suas construções antigas. Meu pai explicou que Porto era a cidade mais antiga da Europa e a segunda maior cidade daquele país. Durante quase todo trajeto era possível ver o mar, maravilhoso! O clima estava bem mais frio que em Minas, ainda bem que eu estava preparada. Como era véspera de final de ano, ainda era possível ver a decoração natalina, que era de deixar qualquer um boquiaberto. Por um momento, eu tinha esquecido de todo meu drama, tamanha beleza daquele lugar. Quando chegamos à casa de papai, fiquei encantada. Ele morava em um prédio pequeno, com uma construção linda e de frente para o mar. Fiquei emocionada demais ao ver que havia um quarto preparado para mim, com decoração feminina e com algumas fotos minhas em quadros na parede. Próximo à cama havia um pequeno móvel com uma gaveta e em cima um porta-retratos com foto minha e da mamãe. Enquanto eu admirava meu quarto, ele me olhava da porta emocionado. Assim que passou minha empolgação com a decoração, pedi que se sentasse na cama ao meu lado, pois queria perguntar a ele o que tanto me incomodava. — Papai, eu não vou fazer rodeios. Quero te fazer uma pergunta que deveria ter feito há oito anos. Por que nos abandonou? Ele respirou fundo, olhou para o nada e começou sua história: — Minha filha, tem coisas que um homem faz na vida que não traz orgulho nem mesmo de lembrar, mas eu te devo esta resposta. Eu sempre fui um cara trabalhador, perdi os pais muito cedo e me criei sozinho. Eu era triste, sem muitos amigos e trabalhava feito um burro de carga. Quando conheci sua mãe, uma menina linda como você, cheia de alegrias e sonhos, mesmo vivendo em condições tão difíceis, pois foi criada pela avó porque perdeu a mãe no parto, ela tinha luz própria e meu mundo se alegrou. Eu e sua mãe na verdade éramos dois sobreviventes. Ela criada sem os pais e eu criado sozinho por uma vizinha, pois não tinha nem avós para cuidar de mim. “Lembro como se fosse hoje, estávamos em uma fila do supermercado, quando sua mãe me perguntou as horas. Confesso que fiquei hipnotizado com a beleza dela. Os olhos verdes mais

lindos que já vi. Daquele momento em diante, eu precisava dar um jeito de não perder sua mãe de vista. Puxei um assunto bobo, mas acho que o cupido estava disposto a nos ajudar. Conversamos até chegar a hora de passar no caixa. Eu disse a ela que queria ajudá-la com as compras e para minha sorte ela aceitou.” “Começamos a namorar um mês após nosso encontro. Ela era a chama de luz em minha vida, sempre cheia de esperanças e sonhos. Você, minha filha, se parece demais com sua mãe, linda como ela, sonhadora e alegre. Bom, as coisas seguiram o curso normal da vida e nos casamos em uma cerimônia simples, mas cheia de amor. Eu estudei muito e consegui um emprego muito bom na montadora de carros. Aquele emprego me deu dignidade, pois bancava minha família sem deixar nada faltar. Seu nascimento foi a coroação de uma história linda de amor. Ficamos encantados com aquele pequeno ser tão frágil e com uma luz própria que chegava a ofuscar nossas vistas.” “Tudo ia muito bem, até que começaram as demissões em massa e eu me desesperei. Comecei a beber e a enveredar por um caminho sem volta. Daí em diante me tornei um monstro. Não sei o que aconteceu, mas um ódio foi crescendo em meu interior e eu deixei que tomasse conta de mim. Começaram então as brigas, eu precisava descarregar minha raiva em alguém e, infelizmente, esta pessoa foi a que eu mais amava, aliás, que ainda amo, sua mãe.” “Cada dia que passava, as brigas só iam piorando, Marcela, até que chegamos aquele maldito dia que eu agredi sua mãe e quase parti para cima de você. Como eu disse, todos os dias da minha vida me fazem envergonhar da minha atitude. Quando sua mãe me expulsou, resolvi pedir ajuda para me tratar. Procurei um amigo que era enfermeiro de uma clínica de recuperação. Troquei meu tratamento por horas de trabalho. Eu era um faz-tudo, consertava qualquer coisa que estragasse.” “Fui me recuperando e me tratando, quando surgiu uma oportunidade de vir para este país trabalhar na vinícola do pai do médico, dono da clínica. No começo fiquei com medo de ter uma recaída, mas minha vontade de vencer era maior. Trabalhei por quatro anos e aprendi tudo que precisava. Até que um dia, o dono da vinícola resolveu aposentar e me fez uma proposta de arrendar seu negócio. Ficaria tudo por minha conta e eu repassaria a ele uma porcentagem dos lucros. Vi naquela proposta minha chance de recuperar minha família. Encarei com toda a minha força o trabalho e hoje estou muito bem financeiramente. Nestes tempos todos, sempre mandava dinheiro para sua mãe. Ela só aceitava sua parte e me devolvia o resto. Mulher brava e honesta, viu? Nestes últimos seis anos, eu venho tentando reconquistar sua mãe, mas sei que a fiz sofrer demais. Por isto, vou com calma e tenho esperança de ainda conseguir.”

“Esta é minha história, filha. Seu pai não era o herói que você pensava. Sou um homem como outro qualquer, com seus fantasmas e suas lutas, mas estou em busca do meu sonho e tenho certeza de que vou conseguir recuperar sua mãe. É por vocês duas que consegui vencer.” Quando meu pai terminou sua narrativa, sentia meus olhos marejados. Ele continuava com o olhar perdido em lembranças, até que se virou para mim em lágrimas e falou: — Me perdoa, minha filha, por tudo que te fiz passar, por todas as vezes que você presenciou nossas brigas e por todo sofrimento que causei a você e sua mãe. Ele mal terminou de falar e eu já estava abraçada a ele em prantos. Eu sempre amei meu pai e não entendia muito bem por que ele tinha se transformado tanto. Claro que eu iria perdoá-lo. Quem era eu para julgar alguém? Eu não tinha este direito. Sou a pessoa mais complicada e louca que alguém já pode conhecer neste mundo. Depois daquele momento tão intenso, papai me convidou para jantarmos em uma pizzaria. Ele disse que ia me apresentar a melhor do mundo. Apesar de cansada, eu estava com fome e com vontade de ver tudo que podia. Então, tomamos banho, vestimos roupas quentinhas e fomos em busca da felicidade, afinal quem não concorda que comer uma pizza em Portugal é motivo de alegria?

***

Os primeiros dias foram de euforia e descobertas. Ficaríamos na cidade até passar as festas da virada, depois iriamos para a vinícola que ficava mais no interior do País. Meu pai me levou para as compras, eu fiquei apaixonada com o comércio português. Comprei roupas, duas botas e echarpes para ajudar a me proteger do frio. Eu ainda estava conseguindo me manter empolgada, claro que, às vezes, batia uma nostalgia e eu acabava revirando as redes sociais atrás de notícias daquele idiota. No dia que cheguei, tinha ligado para mamãe e implorei para que ela me contasse como foi a conversa com Bruno. Ela me contou com a condição de nunca mais lhe perguntar nada. Eu estava achando muito estranho o fato de não achar notícias novas dele na imprensa, mas não podia perguntar nada a dona Laura. O jeito era seguir minha vida e esquecer, afinal para isto tinha viajado. Passamos a noite de réveillon com os empregados de papai e seus familiares. Era um povo muito animado. A festa era regada a muito vinho e comida. Todos estavam muito alegres, mas eu

confesso que estava difícil me manter no clima. Papai me mimava o tempo todo. Ele tirava fotos e mais fotos. Liguei para minha mãe um pouco antes dos fogos, ela ficou muito feliz de falar comigo, mas no meio da conversa choramos de saudades uma da outra. Assim que desliguei o telefone, fui convidada a me juntar a todos para a contagem regressiva. Aquele foi um momento de esperança, novos sonhos e promessas de um ano melhor.

Capítulo 32

Ano Novo, vida nova. Será?

Bruno

Passei as festividades do final de ano com meus pais na cobertura. Ele havia convidado o pessoal da firma e quase todos compareceram. Eu não estava nada bem. Além de estar com raiva, não pude extravasar minha ira na luta, pois precisei usar uma contenção no meu pé por quinze dias. Pode imaginar meu humor? Não, tenho certeza de que não. Eu me sentia um touro preso naquele pequeno espaço antes de entrar na arena. Enclausurado, com ódio e com dor. Naqueles dias eu estava vivendo um verdadeiro inferno. Refletia, relembrava cada momento com aquela maluca e cheguei a uma conclusão: percorremos uma estrada sinuosa, com curvas fatais e, como sempre, ela preferiu não falar. Todos estavam falantes na área de churrasco, alegres e eu tentava acompanhar. Tinha uma mulher linda que era uma das irmãs de uma advogada da firma, que até tentou se aproximar, mas eu não estava com disposição nem mesmo para uma boa conversa. Esperei passar a meia-noite para os cumprimentos, promessas e esperanças de um ano melhor. Sinceramente, eu não entendia muito bem o poder que o último dia do ano exercia sobre as pessoas. Era como se este dia tivesse o poder de apagar tudo. Para ser sincero, eu fazia parte disto até este ano, pois para mim agora não passava de um dia e mais nada. Depois de quase meia hora de abraços, eu pedi licença a todos com a desculpa de estar sentindo muita dor. Mamãe me acompanhou até o quarto, me deu um remédio para aliviar o meu desconforto,

sentou perto de mim na cama e disse: — Meu amor, me corta o coração te ver assim. Não sei o que aconteceu desta vez, mas suspeito que seja por causa de Marcela. O que posso te dizer, filho, é que nada é tão ruim amanhã como parece hoje. As coisas se ajeitam, precisamos seguir em frente com a certeza de que nada é por acaso. Sempre há uma razão de ser. Esta é a Lei Divina, que é perfeita, Bruno. As pessoas se conhecem por algum motivo maior, basta a gente olhar com os olhos do coração. Você ainda é jovem demais para se entregar assim. Sabe, você é muito parecido com seu pai, tem o péssimo hábito de sofrer sozinho, de não dividir nada. Eu estou aqui por você, fala comigo. — Mamãe, não há o que falar. Até mesmo porque eu não saberia o que dizer. Eu sei que posso sempre contar com vocês. Na verdade, preciso de um tempo para mim. Acho que vou aproveitar esta semana que não vamos trabalhar e vou viajar. Há muito tempo que quero conhecer as montanhas do Espírito Santo, dizem que Domingos Martins é lindo. Preciso sumir um pouco. Amanhã mesmo vou ver isto. — Não vou insistir mais, meu filho. Você não é meu menino pequeno há muito tempo, cresceu lindo, responsável e inteligente. Infelizmente, me entristece ver que por trás deste homem forte, decidido e intocável há um coração solitário e machucado. Como sua mãe, te conheço melhor que ninguém neste mundo e vejo como você acaba se ferindo mais ainda com esta máscara de frieza. Este não é você. Cadê aquele Bruno alegre, confiante e apaixonado pela vida? Onde ele está? — Não sei, mamãe, não sei. — Respirei fundo e resolvi encerrar por ali. Aquela conversa estava ficando difícil para mim. Entendia mamãe, mas não sabia dar respostas a ela. Eu a abracei e falei em seu ouvido: — Mamãe, eu sei que tenho você e meu pai. Obrigado por tudo. Prometo que vou tentar me reencontrar. Agora volte para a festa, eu vou dormir. Ela me abraçou, me deu um beijo na testa e saiu do meu quarto. Deitei e fiquei olhando para o teto. O que estava errado comigo? Bom, eu ia precisar descobrir. De repente, tudo se clareou em minha mente. O que aconteceu nos Estados Unidos me deixou com raiva na época, sofri, mas agora vejo que foi mais por ter sido enganado e não por amor. Porra, era isto! Eu amava aquela infeliz. Meu Deus, como eu não percebi antes? Marcela foi chegando, se aproximando, tomando conta do meu pensamento, do meu corpo e do meu coração. Tentei contar em minha cabeça com quantas mulheres cheguei a ficar dentro de quase um ano que estava com ela e me assustei. Foram pouquíssimas perto do que eu era acostumado. Quase todas as vezes foi ela, sempre ela. A maldita rebelde. Por isto machucava tanto, eu queria aquela mulher. Para não enlouquecer, eu comecei a

planejar minha viagem. Seria um retiro, para que eu pudesse me acalmar e pensar uma estratégia. Eu iria sozinho com meu novo carro. Aliás, esta também era uma surpresa para a loira. Eu havia encomendado o carro dos sonhos dela, um SUV Lifan X60, preto, muito bonito. Íamos inaugurar na viagem a Búzios. Que ódio, tantas surpresas em vão. Porém, uma nova força tomava conta de mim, eu não desistiria assim. Eu ia esperar a loira voltar.

Capítulo 33

Desencontros

Bruno

Seis meses depois...

Viajei, trabalhei, estudei, lutei e nada daquela dor passar. Marcela havia sumido do mapa. Ainda tentei com sua mãe, algum contato, endereço, mas tudo em vão. Dona Laura estava irredutível. Foram meses difíceis. Eu bebia muito, passava dias trancado no meu flat. Não que eu ficasse bêbado ou aprontasse. Não era isto. Na verdade, eu bebia para anestesiar. O uísque era um ótimo companheiro para as noites vazias. Acredite, mas eu estava há dois meses sem ninguém, não queria mais outra mulher. Até cheguei a transar com algumas, mas era sempre o mesmo martírio. Uma noite de sexo alucinante, mas confesso, eu fantasiava a loira. Quando eu deixava as mulheres em casa, me afogava na bebida, ou, para piorar, quebrava algo do meu apartamento. Então, sexo por sexo havia perdido o sentido. Se alguém me contasse que eu ficaria tanto tempo sozinho, provavelmente eu iria rir desta pessoa e, no entanto, ali estava eu. Estava na base de alívios no chuveiro, sempre pensando na loira, meu corpo chamava por ela. Este tempo serviu para uma trégua entre mim e meu pai. Estávamos mais próximos. Não vou mentir, às vezes ainda chegávamos a pequenas discussões, mas nada como antes. O que mais incomodava meus pais era eu ficar tanto tempo sumido pelo meu flat, mas precisava daquele

tempo. Minha mãe aparecia constantemente com frutas, pães e iogurtes. Conversávamos um pouco, ela tentava me convencer a voltar, mas eu sempre justificava que estava estudando. Enfim, seis meses já havia se passado e tudo continuava na mesma. Meu primo estava enlouquecendo todo mundo com a surpresa que faria para a Valentina. O amor dos dois andava de vento em popa. Ela ainda tentou algumas vezes me fazer falar sobre o que tinha acontecido comigo e com Marcela, mas nem eu sabia. Como ia dizer alguma coisa?

***

Marcela Eu estava de volta ao Brasil. Não podia fugir mais, precisava voltar. Ana havia me ligado e me dado dez dias para retornar, caso contrário perderia meu lugar de bailarina principal do corpo de dança. Outro motivo me fez voltar. O aniversário de minha melhor amiga, minha irmã. O único contato que fiz com alguém em Minas Gerais, além da minha mãe, foi com Pedro. Liguei para ele uma única vez, o fiz prometer não falar com ninguém, mas eu precisava avisar a ele do aniversário de Valentina. Minha amiga tinha mania de se esconder neste dia, mas eu não ia deixar. Mesmo de longe eu cuidava dela. Fiquei sabendo da surpresa que Pedro iria fazer e me empolguei com a proposta dele. Os seis meses que passei com meu pai foram maravilhosos. Aproveitei cada minuto junto dele. Aprendi sobre vinho, visitei muitas Companhias de Dança, fui ao teatro, fiz algumas amizades com as famílias dos trabalhadores da vinícola e cheguei até a dar uns beijos em alguns portugueses. Não passou de pequenos amassos, não tinha cabeça para sexo. Na verdade, fiquei com três portugueses, mais por curiosidade de saber como era beijar um europeu. Os homens eram bonitos, mas muito sérios. Aliás, o povo português era bem diferente dos brasileiros. Eram mais fechados, sérios e práticos. Porém, beijavam muito bem. Tentava bravamente retirar Bruno do meu sistema, não foi muito fácil, mas acho que consegui. Por fim, quase não me lembrava mais do que tinha acontecido. Até o dia que Ana ligou no celular de papai me convocando de volta. Ela falou algo sobre um bailarino novo que passaria uma temporada conosco para trocarmos experiências. Segundo ela,

este bailarino era famoso e premiado no mundo da dança. Para falar a verdade, eu não me empolguei nem um pouco, porque estes geralmente eram estrelas demais para meu gosto. Despedir de papai depois de tanto tempo não foi fácil. Ele chorou feito uma criança, mas eu o deixei com a promessa de que o ajudaria a reconquistar dona Laura. Entrei naquele avião ansiosa, pois precisaria retomar minha vida e reencontrar Bruno seria uma prova de fogo. O pior de tudo era que eu teria somente dois dias para me preparar, pois no final de semana aconteceria o aniversário de Valentina e junto com ele a surpresa de Pedro. Era inevitável, eu o encontraria.

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Caramba, minha amiga realmente tinha ganhado um bilhete premiado. O homem além de lindo, gostoso, era romântico. A surpresa que ele preparou estava perfeita e eu estava escondida esperando meu momento de entrar de forma triunfal. Eu tinha feito uma produção cuidadosa, queria arrasar, destruir certo coração. Escolhi para aquela noite um vestido longo cor de ouro envelhecido, justo, que deixava todas minhas curvas à mostra, o corpo do vestido era todo de renda e só era fechado nos seios, o restante era vazado e mostrava toda a pele. Poder era meu sobrenome, mas por dentro? Tremia feito uma vara verde. Foi então que recebi o sinal que era minha vez de entrar. Tinha ensaiado a música Canção da América, de Milton Nascimento, não sei se minha voz iria sair, mas eu ia tentar. Comecei a cantar antes de aparecer, quando entrei pude ver no rosto da minha amiga toda sua emoção. Ela correu para os meus braços e quase me derrubou. Como estava previsto esta reação, o DJ já tinha deixado a música pronta para tocar. Valentina chorava, sorria e me batia tudo ao mesmo tempo. Nossa! Quanta saudade eu senti dela. Assim que nos acalmamos, cumprimentei Pedro, que continuava maravilhoso. A expressão de Bruno era indecifrável. Ele se manteve sério e me olhava como se fosse me atravessar. Não sei dizer direito, mas parecia que ele era outra pessoa, mais sério, concentrado e mais lindo ainda. Como era possível? Desviei o olhar antes que eu vacilasse, afinal, tinha prometido para mim mesma não me envolver mais. Fui de mesa em mesa abraçar e falar com todos. Depois os lindos amigos catarinenses de Pedro me convidaram para sentar com eles e claro que aceitei. Rafael e Thiago, além de lindos, eram muito agradáveis. Percebi que Bruno bebia sem parar. Quase não conversava. Eu estava curiosa para saber por

qual motivo ele estava tão introspectivo, não parecia em nada o Tourão de seis meses atrás. A festa continuava linda e para melhorar, o DJ começou a animar a festa com Rihanna. Eu era a rainha da pista e fui a primeira a levantar. Os bonitões me acompanharam, para o meu deleite e minha vingança. A noite estava somente começando. Como dizem: a noite é uma criança.

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Bruno Hoje aconteceu o noivado do meu primo, ele conseguiu laçar de vez a bravinha. A festa começou linda, muito cheia de corações e romance, exatamente como era meu primo, totalmente romântico. A surpresa realmente estava linda, até que começou a música Canção da América e aquela bandida apareceu. Porra, desculpa pelo palavrão, mas eu fiquei de boca aberta, ela estava muito gostosa! Um vestido que deveria ser proibida a venda, ela estava bronzeada, corada, linda. E que voz! Que merda é esta? Eu só posso estar louco. Eu não posso esquecer o que esta diaba fez comigo. Ela simplesmente sumiu. Sem dar satisfação. Eu vou matar esta mulher, ela com este sorrisinho irônico, com este corpo delicioso. Meu Deus, Bruno, foco! Ela ferrou com você, lembra? Meu olhar para ela foi assassino durante toda a noite. Eu precisava controlar meus instintos animais, em respeito ao noivado do meu primo, ele não me perdoaria se eu ferrasse a festa. Então, eu meti a cara no álcool, ele anestesiava e me fazia esquecer. Marcela, diaba loura, estava querendo queimar meus neurônios, porque ficou a festa toda sentada no meio dos amigos bombados do meu primo. Ah, vai, você deve estar pensando que eu estou morrendo de inveja dos caras, não é? Na verdade, eu não estou com inveja, eu estou com ódio destes babacas surfistas prateados que estão secando minha mulher. Eu conheço estes dois, são o Rafael e Thiago, os caras são gente boa, mas não perdem uma. Um DJ animou o final da festa, todos estavam felizes, dançando e a infeliz se requebrava e me provocava descaradamente. Ela fazia questão de esfregar aquela bunda gostosa nos caras. Eu estava em tempo de fazer uma merda, então resolvi retirar meu time de campo. Avisei mamãe que não ia ficar mais na festa, mas eu tinha bebido todas, não tinha condições de dirigir. Graças a Deus, meu pai estava cansado, então ele voltou comigo dirigindo meu carro e mamãe ficou na festa

mais um tempo. Cara, eu estava tão cansado e bêbado, que meu pai foi da festa até em casa falando em meu ouvido e eu fiquei calado, fingindo que ouvia e balançava a cabeça concordando seja lá o que ele estava falando. Quando chegamos, eu desabei na cama e dormi com a roupa que estava. A noite tinha sido uma merda. No outro dia, a festa continuou, eu tinha acordado com uma maldita dor de cabeça. Meu pai fez questão de fazer um churrasco para toda família, segundo ele para terminar a comemoração do aniversário de Valentina, pois disse que no dia de ontem foi o noivado. Na verdade, papai desmanchava todo pela bravinha, dizia que era filha dele. Ainda bem que ele se contentava com ela, porque, pelo jeito que as coisas estavam, se fosse esperar minha namorada para ter uma filha estava perdido. A desavergonhada não apareceu na minha casa. Os caras me irritaram o dia inteiro falando que a mineira loira era a mais gostosa que eles já tinham conhecido. Minha vontade era de quebrar a cara dos dois, mas sabia que se eu esboçasse qualquer reação, eu estaria perdido. Iam me infernizar dizendo que eu estava apaixonado. Na verdade, eu estava com uma baita dor de cotovelo e não tinha nada a ver com paixão, eu amava aquela diaba. Fiquei na minha o dia inteiro, mas no final da tarde fui para a academia e treinei como um louco, precisava suar e me acalmar. Tracei um plano na minha cabeça, eu ia pedir ajuda ao senhor Ernesto. Ele era o porteiro do prédio de Marcela, ele gostava de mim, eu ia pedir que me avisasse quando ela saísse, eu ficaria em frente ao prédio dela até ela voltar e ela teria que me ouvir. Pela manhã cedinho passei no prédio de Marcela e contei ao senhor Ernesto, que tinha muito tempo que eu não a via e queria fazer uma surpresa para ela. Como eu imaginava, ele comprou minha história. Deixei o número do meu telefone com ele e fui para casa. Quase na hora do almoço, meu telefone tocou. Era o porteiro me dizendo que a Marcela acabava de sair com sua mãe. Tomei um banho rápido, coloquei um jeans e uma camisa preta de malha, tênis e corri para a frente do prédio, hoje ela não me escaparia. Fiquei em frente à portaria até quase quatorze e trinta horas, quando vi o carro que meu primo tinha dado para a noiva aproximando. Valentina parou o carro, conversou ainda alguns minutos com Marcela e ela saiu. Para meu azar, a bravinha do meu primo esperou a amiga entrar no prédio. Cara, precisei pensar muito rápido, então resolvi contar com a sorte, pedi ao meu cúmplice que chamasse Marcela pelo interfone para que eu pudesse fazer uma surpresa, disse a ele para dizer que Valentina tinha pedido para ela descer. Pelo jeito, como disse Paulo Coelho no livro O alquimista, o universo estava conspirando a meu favor.

Fiquei escondido atrás do portão. Assim que ela passou pelo mesmo, eu a abracei e a arrastei para o carro. Ela não conseguiu reagir tamanho o susto. No interior do carro, quando viu que era eu, surtou de vez. Começou a me bater e gritar dizendo: — Você é louco. Quem pensa que é? Isto é sequestro, sabia, doutor advogado? Abre este carro agora! Eu quero sair. Calmamente, eu respondi: — Pode gritar, espernear, fazer o que quiser. Eu tenho tempo. E se bem me lembro, louca é você de sumir do mapa sem me dar satisfação. Pensei que merecia mais consideração de você. Então, Marcela, você só sai deste carro quando me explicar que porra foi esta de sumir. — Bruno, você não merece nenhuma consideração minha, nenhuma, entendeu? Eu odeio você com toda minha força. Esqueça que eu existo. Você é inteligente para pensar um pouco e descobrir o que o brilhante advogado Bruno Fernandes fez para que eu sumisse. Fiquei mudo por um tempo olhando para ela. A diaba me encarou enfurecida, desafiando-me sem nenhum disfarce. Eu não sei o que me deu, mas eu senti um tesão absurdo. Agi no impulso, agarrei aquela mulher e fiz o que eu queria fazer há muito tempo. Eu a beijei, aliás, eu invadi sua boca com desespero, com fome dela, mas, acredite, ela não retribuiu. Empurrou-me com toda força, deu um soco no meu pau, destravou a porta e gritou para rua toda ouvir: — Nunca mais se atreva a tocar em mim, seu babaca! Você pensa que é tão irresistível assim, Bruno? Pensa um pouco, seu idiota! Você ultrapassou todos os limites comigo. Vou refrescar sua cabeça oca. Eu te odeio por deixar aquela mulher me tocar, eu te odeio por ter me feito gozar na frente daquela mulher e, por último, eu te odeio por ter me colocado à prova como se eu fosse seu objeto. Então, doutor Bruno Fernandes, some da minha vida, vá se ferrar! Ela bateu a porta do meu carro com tanta força, que chegou a tremer a janela. Eu estava sentindo uma dor tão absurda no meu saco, que não conseguia respirar e muito menos raciocinar. Pela primeira vez, uma mulher me dispensou de uma forma eloquente. Eu não consegui reagir, ainda fiquei um tempo dentro do carro assimilando tudo que ouvi. Que porra era esta? A mulher parecia ter curtido todos os momentos, não é possível que eu tenha confundido tudo. Ou confundi? Era o desejo dela. Agora estou mais perdido que calcinha em lua de mel. Esta mulher é mais louca que eu imaginava, estou perdido.

***

Marcela Almocei com Valentina para dar explicações a minha amiga do meu sumiço. Foi muito difícil contar a ela tudo o que tinha acontecido desde aquela noite que prefiro esquecer. Minha amiga ouviu tudo com muito respeito, mas não ficou espantada. Eu não acreditava que ela não tinha ficado chocada. Segundo ela, vindo de mim e Bruno tudo era aceitável. Esta fala dela me deixou bastante pensativa. Terminamos de almoçar e ela me deixou em casa. Assim que subi, o interfone da minha casa tocou. Era o senhor Ernesto dizendo que Valentina estava me chamando. Quase morri do coração quando fui agarrada e levada para o carro de Bruno. Que ódio dele. Como ele pode ser tão cachorro? Veio me agarrando e cheio de conversa. Consegui sair do carro e passei pela portaria do prédio igual uma onça e gritei com o senhor Ernesto: — O senhor nunca mais deixe este infeliz do Bruno entrar por este portão, tocar meu interfone ou chegar nesta calçada. Entendeu, senhor Ernesto? Não quero saber que merda ele falou, estou avisando ao senhor, se ele chegar perto deste prédio de novo, juro por Deus que faço o senhor perder seu emprego. Subi como uma louca, não quis ouvir nenhuma explicação dele. Não quis pensar que fui cruel e que o conheço deste quando era criança. Amanhã pediria desculpas. Hoje eu só queria gritar, chorar e odiar aquele maldito homem lindo, que ódio. Entrei em casa como bala, gritei para mamãe que não estava para ninguém e que ela também estava proibida de falar comigo hoje. Passei pela porta do meu quarto, tranquei a porta, deitei na minha cama e chorei. Eram muitos sentimentos juntos: raiva, ódio, humilhação, saudade daquele babaca, paixão, mais raiva e mais ódio da audácia dele. Porra, ele não se deu conta do que fez. Não é possível que ele pensou que eu gostei daquilo? Quem ele pensa que é? Ele pensa que pode tudo? Não sei de onde tirou que era meu desejo. Muito mimado, arrogante, convencido, abusado, mas também muito lindo, gostoso e perigoso. Nitroglicerina pura. Eu não queria gostar uma vírgula daquele idiota. Eu me proíbo de me render tão fácil. Ele vai ter que se redimir, sofrer muito pelo que me fez! E talvez assim eu possa pensar em perdoá-lo ou não. Ainda não me decidi. Hoje ele avançou todos os limites. Quase que eu amoleci com aquele beijo, precisei de forças, mas confesso que foi só me lembrar daquele maldito dia, que a raiva voltou com força total. A única coisa boa desta noite foi ter maltratado

suas partes baixas, a cara de dor dele foi meu bálsamo. Eu vou recomeçar minha vida. Vou aceitar o convite que recebi ontem para fazer o espetáculo de dança Erotic. Vou dançar dez músicas e a última sozinha com um famoso bailarino que ainda não sabemos quem é. Acho que esta é a tal novidade. A única informação que tenho é que o nosso número vai representar o perfeito encaixe dos corpos, muito sensual. Sim, preciso deste desafio. Depois de decidir o que fazer, chorei mais lágrimas de raiva, eu decidi fazer Bruno pagar por tudo que ele me fez e quando eu queria ser má, eu era muito má! Ele vai se arrepender do dia que deixou aquela maldita louca colocar a mão em mim. Uma mulher ferida pode ser mais perigosa que uma arma letal e aquele garanhão perigoso vai descobrir isto. Ele vai ter que entender que eu não sou as submissas boazinhas dele, eu sou a senhora controle da minha vida. Tem outra, se ele quiser me ter de novo, vai ter que ser exclusivo. Eu não divido mais. Eu não aceito mais as loucuras dele e tampouco quero ouvir suas explicações sem pé nem cabeça! Como eu havia planejado, agora seria vida nova, com tudo novo.

Capítulo 34

Não acredito! Então era você?

Marcela

Amanheci ansiosa, pois iríamos conhecer o tal famoso bailarino que passaria uma temporada conosco. Vesti uma calça jeans, uma camisa branca de manga comprida, pois estava frio e finalizei com uma bota preta de salto. Eu iria à faculdade pela manhã para resolver minha vida. Precisava destrancar o meu curso e fazer matrícula. Ana havia marcado para às quatorze horas a apresentação do bonito e depois teríamos uma oficina de linguagem corporal com o novo integrante. A manhã passou voando, corri de um lado para o outro na universidade. Era tudo muito burocrático. Almocei com meus amigos no restaurante universitário, todos estavam com saudades e querendo saber tudo de Portugal. Cheguei à academia de dança um pouco antes da hora marcada. Ana estava na sala de reunião. Quando entrei vi um homem alto, com cabelos negros, com um porte de dar inveja. Ele conversava com Ana e estava de costas para mim, então não era possível ver seu rosto. Fui andando até eles e assim que ela me viu, veio sorrindo e me abraçando, afinal estávamos há seis meses sem nos ver. Quando ela me soltou e chamou o homem para me apresentar, eu quase desmaiei. Não estava preparada. Sem perceber meu estado de palidez, minha amiga me apresentou o nosso convidado de honra: — Marcela, minha linda, tenho o prazer de te apresentar um dos mais famosos bailarinos da Europa que irá passar uma temporada no Brasil conosco. Alejandro Del Menez. — Juro que queria

reagir, mas não conseguia, olhava para ele como se tivesse visto um fantasma, e que fantasma. Uau! Impaciente, Ana disse: — Marcela, não vai dar boas-vindas ao nosso mais novo contratado? Antes que eu falasse algo, ele sorriu, segurou minha mão e disse: — Marcela, es bueno verte de novo! Estoy muy feliz, hermosa. Eu mal conseguia respirar, imagina falar! Fui salva por Ana: — Como assim? Vocês se conhecem? Saí do meu transe e respondi: — Sim, Ana. Conheci Alejandro há aproximadamente oito meses quando ele veio ao Brasil. Suspeito que para iniciar as conversas com você. Foi em uma boate. Então, você é o famoso bailarino que nos deixou em suspense por tanto tempo para descobrir quem era? — Si hermosa, soy yo. Naquele momento ouvimos a algazarra das meninas e dos meninos chegando para a reunião. Todos fizeram uma festa quando me viram, foram muitos beijos e abraços. Durante todas as saudações, eu podia sentir o olhar de Alejandro em mim. Confesso que estava me sentindo envergonhada, pois no nosso encontro, ele estava dentro de mim no canto de uma boate. Se eu soubesse naquele dia que voltaria a vê-lo não teria sido tão maluca. Passado a euforia, Ana pediu atenção de todos para a apresentação de nosso mais novo membro. Algumas meninas ficaram visivelmente encantadas, Mel olhou para mim com cara de espanto, pois se lembrou da matéria do jornal. Ana informou que Alejandro passaria seis meses no Brasil, em uma temporada com nossa Companhia de Dança, onde estaríamos elaborando o espetáculo Erotic, que teria como tema a linguagem do corpo. Disse que ele era formado na escola Paris Opera Ballet School e que era especialista em expressão do corpo. Ela disse ainda, que esperava que estivéssemos totalmente envolvidos neste projeto que necessitava de muito empenho de todos nós. Pediu que reservássemos todas as tardes destes seis meses para ensaios e fortalecimento muscular. Enquanto ela falava, eu e Alejandro nos olhávamos, sem disfarce. Ele tinha um olhar intenso e carregado de dor. Algo me dizia que ele carregava em seu coração uma tristeza profunda. Quando nos conhecemos, eu senti que ele trazia algo de trágico com ele, mas naquele momento não queria me envolver, então só curti a noite com ele e mais nada. Agora ali estava ele de novo, em minha frente. Nossa, o que o destino estava reservando para mim? Estava perdida nos meus

devaneios quando Ana passou a palavra a ele. Nossa! Ver aquele homem falando era uma experiência quase cósmica. Ele falava de uma forma tão linda, que era possível quase ter um orgasmo. Ele disse que falava inglês, francês e espanhol fluente, mas que estava tendo aulas para aperfeiçoar o seu português, pois ainda tinha um pouco de dificuldade em falar corretamente algumas palavras. Mal sabia ele que não precisava se preocupar, bastava abrir a boca e nos hipnotizar. Ele começou a falar sobre a importância dos movimentos sincronizados para a dança, da forma do corpo se expressar, de passar sentimentos a quem estava assistindo e juro, eu mal conseguia prestar atenção. Depois de quase duas horas vendo aquele deus espanhol falando e mostrando alguns vídeos de apresentações dele, encerramos nossa reunião. Eu estava nervosa porque não sabia como agir, porém não tive tempo de pensar. Assim que todos levantaram, Alejandro chegou próximo a mim e me perguntou se eu podia jantar com ele. Meu Jesus, sentia meu corpo tremer. Não sabia muito bem o que responder, mas ele foi enfático e insistiu que precisava conversar comigo. Fui capaz somente de sorrir e dizer um simples “está bem, vou com você”, pois meu nervosismo era demais. Alejandro pediu um táxi e me perguntou se eu me importava de jantar no restaurante do hotel. Respondi que não tinha problemas, mas fiquei encucada pensando em qual era a razão dele para me levar ao hotel. Será que estava pensando em me levar para a cama? Se fosse isto, ia perder seu tempo. Eu não iria me envolver com ele, não queria misturar as coisas. Agora nossa relação era de trabalho e mais nada. Bom, só não sei se ia conseguir resistir a este homem. Que Deus me ajude! Chegamos ao hotel, que era um dos mais luxuosos da avenida Afonso Penna e fomos direto para o restaurante. Assim que fomos encaminhados a nossa mesa, Alejandro pediu um vinho. Quando o garçom se afastou de nossa mesa, ele me olhou e disse: — Acho que o destino nos colocou frente a frente de novo, não é? — Caramba, nunca esperei que ele fosse direto assim. E agora? O que eu ia dizer? Porém, ele continuou: — Sabe, hermosa, você foi um sopro de ar em mi vida. Quando te conocí, estava vivendo en un mundo oscuro. Su alegria me trouxe luz — ele falou com tanta intensidade, que acabei perguntando: — Alejandro, quando te conheci percebi que você tem um olhar triste. Posso te perguntar o que aconteceu? — Sí. Soy un hombre que precisou enterrar su amada. Mí noiva morreu de leucemia quinze dias antes de nosso casamento. Foi uma tragédia em mi vida. Quando estive no Brasil, havia oito

meses de sú morte. Caramba! Não esperava nada assim. O que eu ia dizer? Eu era péssima com estas notícias de morte, nunca sabia o que dizer. Acho que ele percebeu, porque deu um pequeno sorriso e disse: — No se preocupe, hermosa, estou seguindo, como Sofia gostaria. Minha noiva era mui feliz e não aceitava menos de mim. Agora vamos hablar de você. Por que também te acho triste? Naquela noche, você parecia marcada pela dor. Quer hablar? Depois do que ele me falou, me senti a vontade também para me abrir: — Alejandro, é complicado. Eu estava ou ainda estou. Eu não sei dizer ao certo. Naquela época havia uma pessoa em minha vida. Não estamos mais juntos. Ele me marcou, porém, nossa relação sempre foi como um terremoto, perigosa demais para os dois. — Relações assim, mí hermosa niña, geralmente esconde um grande amor. — Não sei, Alejandro. O grande problema é que nós dois somos marcados demais para dar uma chance ao amor. Eu sei que ele esconde uma grande marca, mas nunca quis se abrir. Nós dois somos nocivos um ao outro. Hoje não sobrou nada, nem mesmo amizade. — Quando a relação chega a este ponto, o melhor é se afastar. Esperar um pouco, para ver si lo amor és mayor. — Vamos esquecer isto. Preciso te dizer algo que está me incomodando e você verá com o tempo que eu sou meio louca, falo sem pensar. Alejandro, eu levo minha carreira muito a sério. Sei que nos conhecemos de forma meio inusitada, mas gostaria que fôssemos bons amigos, somente isto. Não sei se me entende. — Claro que sí, hermosa. Seremos amigos. O restante do jantar aconteceu de forma tranquila, conversamos sobre tudo e mais um pouco. Ele me falou de seu país, do sofrimento que enfrentou na doença da noiva, sobre sua mãe e da dança. Descobri que a ópera era outra paixão dele. Além de lindo, dançar divinamente bem, ainda fazia algumas participações como tenor quando era convidado. Como podia haver tanta perfeição em um homem só? Depois daquela noite agradável, voltei para casa em um táxi. Ele ainda queria me acompanhar, mas não deixei, não era necessário, afinal eu estava na minha cidade e ali eu me sentia protegida. Deitei em minha cama e adormeci relembrando as emoções do dia.

Capítulo 35

Fatalidades

Bruno

Entrei em um ritmo louco de trabalho. Depois daquela cena no meu carro, eu preferi me afastar da Marcela por um tempo. Eu estava um pouco perdido. Pedro estava como um louco com o final do mestrado e com o início dos preparativos do casamento. Meu primo iria mesmo se enforcar. Eu ia a academia de luta todos os dias no final do expediente, precisava gastar minha adrenalina. Alguns dias à noite eu ia ver meus afilhados. Era tão bom ver como eles estavam felizes e bem ambientados. Vê-los crescendo em um lar cheio de amor, me dava uma sensação de paz e principalmente de esperança. Um dia, eu estava de saída para uma reunião no abrigo, quando meu amigo apareceu transtornado, perguntando se eu podia almoçar com ele, pois precisava conversar comigo. Vendo seu estado, liguei cancelando a reunião e saí com Paulo. Ele era advogado de nossa firma há pouco mais de um ano. Nós nos aproximamos na época do caso de Verônica, ele me ajudou muito com a busca pelas testemunhas. Quando chegamos ao restaurante, pedimos uma mesa mais afastada, pois, pelo jeito, íamos precisar de privacidade. Assim que sentamos, Paulo começou sua história. Contou que estava apaixonado por uma menina linda, muito arisca e independente. Que ele demorou a conseguir derrubar o muro de proteção que ela mantinha em volta dela. Ele disse que sempre suspeitava de que ela havia sofrido algo, mas ela sempre fugia do assunto. Porém, ele me disse que na noite

passada, sua namorada, contou a ele qual era o seu drama. Meu amigo estava tão nervoso, que eu o interrompi, chamando o garçom e pedindo uma água. Paulo respirou fundo, bebeu sua água e falou que Joana contou a ele que sofreu um abuso sexual há um ano e que o agressor havia saído ileso, pois alegou ser assediado por ela. Ele suspeitava que o fato do monstro ser uma pessoa influente no meio empresarial, colaborou para que sua namorada fosse desacreditada. Aquele era um momento muito delicado, pois saber que um filho da puta abusou de sua mulher era motivo para deixar qualquer homem louco. Antes que eu pudesse falar algo, Paulo me disse: — Bruno, você tem que me ajudar a achar este bandido. Você tem aquele seu amigo detetive, fala com ele, cara, por favor. Este era meu receio. Eu sabia que as pessoas envolvidas com a vítima sempre queriam fazer justiça com as próprias mãos. Olhei para meu amigo e perguntei: — Achar ele para quê, Paulo? — Para eu dar uma lição nele. De homem para homem. — Meu amigo, pense bem no que está me falando. Você é um advogado brilhante e sabe que estas coisas não funcionam assim. Este tipo de pessoa não tem nada a perder, você tem. Além disto, vai correr o risco de expor sua mulher ainda mais? Você já procurou saber notícias do processo? — Sim, Bruno. E acredite: o processo foi encerrado. Ele recebeu uma pena alternativa de seis meses de cesta básica e mais nada. Cara, isto está me deixando louco, alucinado. Porra, eu quero matar este homem. — Paulo, esta é a reação mais comum a todas as pessoas que estão envolvidas com as vítimas. E eu vou falar com você o mesmo que disse a outras pessoas. O melhor a se fazer nestes casos é dar muito carinho e amor, e não ficar fazendo perguntas o tempo todo sobre o que passou. Isto é maltratar a pessoa várias vezes. Cada vez que ela conta ou relembra o fato, é um sofrimento a mais. Além disto, dar uma lição no agressor não vai retirar as cicatrizes de sua namorada. Seu amor sim. Este pode curar ou então, pelo menos, atenuar as marcas. Pense nisto, meu amigo. Sempre que precisar de um ombro amigo, eu estarei aqui. Eu conseguia sentir a dor dele. Parece fácil para quem está de fora falar coisas assim, mas para mim não era. Eu tinha ódio destes monstros capazes de marcar uma mulher desta forma para sempre. Nestes casos, os familiares, os companheiros se sentiam muitas vezes culpados de não ter

protegido seus amores, mas isto era uma fatalidade, ninguém tinha como prever quando um doente ia machucar seu ente querido. Paulo ficou um tempo em silêncio. Respeitei o tempo dele, até que ele disse: — Esta é a coisa mais difícil do mundo, amigo, mas eu sei que está certo. Eu vou tentar fazer exatamente como me disse. Minha namorada é uma flor de menina, alegre, linda e livre como um anjo selvagem. Às vezes, me dá certo trabalho por não aceitar que eu cuide dela, mas estou tentando quebrar suas barreiras. Vou confessar, cara, estou completamente rendido a esta mulher. Vou fazer de tudo para que ela seja feliz. — Isto é o melhor que você pode fazer, meu amigo. Faça esta mulher feliz. Depois daquele momento de tensão pedimos nosso almoço e ele me contou como conheceu a menina, de como foi difícil conquistá-la e de como ela era arisca. Saímos do restaurante por volta de quatorze horas e voltamos para a firma, ainda bem que consegui tirar aquela ideia maluca da cabeça do meu amigo. Quando cheguei à minha sala, havia um recado do meu pai que tínhamos uma reunião às quinze horas com um juiz da criminal. Fiquei curioso para saber o que era e fui atrás dele. Ele me disse que não sabia do que se tratava, pois o Meritíssimo que havia pedido para que nós o recebêssemos. Voltei para a minha sala para esperar o horário marcado. Na verdade, me sentia triste. Depois da história de Paulo, da forma que ele falou de sua Joana, me deu certa nostalgia. Não parava de pensar na maldita loira, eu precisava pensar em alguma coisa para que ela pudesse me ouvir. Estava olhando para o nada, quando minha secretária avisou que meu pai me esperava em sua sala.

***

A reunião com o juiz se tratava de um pedido de favor a meu pai, para que eu o ajudasse com um caso de exploração sexual a adolescentes, pois eles estavam investigando um empresário do meio fotográfico. Havia provas que o tal fotógrafo aliciava meninas e as mandavam de forma ilegal para a Espanha, para o comércio ilegal do sexo com menores. Meu pai não gostou muito da ideia, mas eu precisava preencher meu tempo. O pedido chegou na hora certa, eu iria estudar o inquérito criminal. Era o momento perfeito para mim. Depois da reunião, ainda atendi um cliente que estava entrando com uma ação contra a

seguradora de sua loja. Resolvi terminar o expediente por volta das dezessete horas, afinal o dia tinha sido pesado. Saí com o carro sem rumo, quando dei por mim, estava em frente à academia de dança. Desliguei o carro, mas antes de sair, dei um tempo para pensar no que ia fazer. A loira não queria me ver, porém eu precisava colocar a nossa história em pratos limpos. Eu ia mostrar a ela meu celular com as mensagens que ela me mandou. Eu sabia que não seria fácil, afinal como sempre agi no impulso, mas ela precisava ver que também tinha sua parcela de culpa. Antes mesmo que eu pudesse abrir a porta do carro, me deparei com uma cena que me deixou louco. Eu devia estar tendo uma alucinação, não queria acreditar no que meus olhos estavam vendo. Marcela saindo linda com um homem que eu tinha quase certeza de ser o tal do espanhol. Porra, não podia ser verdade. O que aquele dançarino maricas estava fazendo no Brasil? Fiquei observando os dois saírem e nem me notaram. Pareciam íntimos demais. Minha vontade era sair do carro e encher o cara de porrada, mas eu não podia fazer isto, não era mais uma criança que resolvia as coisas assim. Entretanto, não consegui segurar meu ódio e arranquei o carro feito um maluco, cantando pneu. Dirigi feito um louco, inicialmente iria rumo ao meu flat. Não tinha condições de ir para casa, eu precisava beber, quebrar algo, me martirizar. Ver a maldita linda, sorridente, sem um pingo de sofrimento, mexeu comigo. Estava difícil demais para mim. Infelizmente, eu não fui direto para meu destino, tive a péssima ideia de ir para a rua da loira. Fiquei no carro em frente ao seu prédio esperando que ela aparecesse, mas as horas foram passando e nada dela aparecer. Eu estava à beira de uma loucura, quando meu celular tocou. Atendi antes mesmo de olhar para o visor: — Bruno, meu querido amigo. Que saudades. Cheguei hoje de viagem e quero muito te ver. Cadê você? Já se acertou com sua loira? — Acho que alguém lá em cima gostava de mim, Aline, minha amiga, apareceu bem na hora. — Aline, caramba eu estava prestes a fazer a maior merda do mundo. Você me livrou. Onde você está? Ela me disse que estava no pub do meu amigo. Desde o final do ano que só falava com ela por telefone ou mensagens, na hora que eu mais precisava dela, estava nos Estados Unidos em um curso de segurança. Contei a ela o que aconteceu meio por alto, sem as entrelinhas. Liguei o carro e saí daquele lugar antes que eu piorasse as coisas.

***

Marcela

Os dias passavam rápidos com Alejandro ao meu lado. Além de ser lindo, ele era engraçado, sedutor e muito bom de papo. Como era um cavalheiro, não tinha tentado mais nada comigo, mas eu percebia a todo o momento o clima de sedução que rolava entre a gente. Eu estava até tentando ser uma nova Marcela, mas daquele jeito estava difícil resistir. Depois daquele maldito dia no carro de Bruno, eu não tinha mais notícia dele. Confesso que, às vezes, tentava descobrir algo com minha amiga, mas claro que ela não estava facilitando. Dizia que não sabia nada, que eu precisava de vergonha na cara e blá-blá-blá. Estava tudo muito tranquilo até aquela tarde. Na saída de mais um dia exaustivo de ensaios, estávamos eu e Alejandro saindo da academia, quando ouvi um carro saindo em disparada, cantando pneu. Só deu tempo de ver que era o carro do idiota. Tudo bem, eu não vou mentir: meu coração quase parou. Foi impossível disfarçar meu choque. Vendo meu estado, Alejandro me convidou para um suco. Na lanchonete, acabei contando tudo a ele, que ouviu sem me interromper. Quando acabei meu relato, ele segurou minha mão e disse: — Mi cara, esto parece al amor. — Alejandro, éramos nocivos um para o outro. Bruno é um homem sem limites, sempre faz tudo conforme sua vontade. — Marcela, mi hermosa, às vezes um hombre faz coisas que mal consegue explicar. Por que não conversou com ele? Deveria ter explanado seus sentimentos. — Entre a gente não existia conversa. Era sempre só sexo. — Hermosa, só sexo não mantêm uma relação por tanto tempo. Eu estava odiando aquela conversa. Não queria ouvir mais nada. Sorri para Alejandro e comecei a falar de nossos ensaios. Ele percebeu que o assunto havia sido encerrado e não insistiu. Quando terminamos de lanchar, ele me convidou para acompanhá-lo à boate naquela noite. Quase neguei, mas acabei aceitando. Precisava me distrair, dançar e aproveitar a oportunidade de desfilar com aquele homem lindo. Qual mulher não se sentiria envaidecida de sair com um espécime daqueles?

***

Chegamos à boate por volta das vinte e três horas. Não preciso dizer que ele tinha convites para área VIP, não é? Assim que entramos, senti os olhos de todas as mulheres em cima dele. Era impossível ser diferente, pois ele estava deslumbrante. Como estava frio, ele vestia uma camisa de mangas compridas preta e uma calça jeans escura. Era possível ver sua forma física perfeita e os olhos eram do azul mais lindo de todos. Alejandro tinha um ar de mistério, uma tristeza no olhar e uma altivez que demonstrava um homem com amor-próprio, maduro e digno. Bem diferente de certo touro bravo. Na mesma hora que este pensamento veio a minha cabeça, me recriminei, afinal não tinha que ter Bruno como referência para nada. Exibimos nosso show na pista de dança, apesar de que dançamos bem menos que da outra vez. Passamos grande parte do tempo conversando sobre nossos projetos de dança, sobre a temporada dele no Brasil, que acabou por se estender por mais três meses, findando por volta de maio do próximo ano. Ainda faltavam seis meses para sua partida. Ele teria vinte dias de recesso no final do ano e sempre brincava que eu deveria ir para a Espanha com ele. Eu respondia todas as vezes com um “quem sabe”. E ficava por isto mesmo. Começou a tocar a música Faded, de Alan Walker, e, de repente, instalou um silêncio assustador entre nós. Ficamos perdidos, até que ele segurou minha mão e foi me levando para dançar. Era como se fôssemos os únicos naquele espaço. Começamos uma dança sensual, sem pressa, sentindo nossos corpos. Havia uma magia naquele lugar, eu não queria pensar, somente sentir. O clima estava esquentando entre nós, quando começou Use Somebody, de Kings of Leon. Aquela música mexia comigo, então fechei meus olhos e me entreguei totalmente. No meio da música, senti os lábios de Alejandro em meu pescoço, me beijando lentamente, com pequenas mordidas e lambidas. Senti meu coração dar um salto em meu peito, mas ele continuou suas investidas. Ele me virou para ele, colocou uma mão atrás da minha nuca e com a outra me trouxe para ele. Eu não conseguia oferecer nenhuma resistência, estava mole como uma gelatina. Senti sua boca na minha, foi como estar no paraíso. Ele beijou lentamente cada centímetro dos meus lábios, até avançar sobre minha língua, com um desejo latente. Ficamos nos agarrando na pista até o final da música, quando ele saiu me levando em direção ao bar. Bebemos um drinque meio adocicado e logo depois ele me disse que acertaria a conta para sairmos para um lugar mais

calmo. Não dava mais para negar, estávamos prorrogando aquilo por muito tempo. Eu ia arriscar, mesmo sabendo que me relacionar com ele poderia prejudicar minha carreira, mas ele era homem demais para eu resistir. Alejandro era audacioso, decidido, sedutor, um verdadeiro Don Juan. Saímos da boate rumo ao seu hotel. Sem medo de arrependimentos tardios, resolvi simplesmente seguir com ele, sem pensar em nada.

Capítulo 36

A vida segue seu rumo

Bruno

Encontrar com Aline no pub de Marcelo foi bom para mim. Minha amiga estava muito bonita, com um corpo mais perfeito ainda, se é que isto era possível. Como sempre, ela chegou toda sorridente e desfilando todo seu charme. Era incrível como ela chamava atenção por onde passava. Acho que era o seu jeito despojado, autoconfiante que encantava os homens. Engraçado que as pessoas falam que não acreditam em amizade de homem e mulher, mas eu posso garantir: existe sim. Eu e Aline somos a prova disto. Acho ela linda, gostosa e tudo mais, mas entre nós há somente amizade. É muito bom ter uma amiga em quem eu possa realmente confiar. Assim que nos cumprimentamos, ela olhou para mim e disse: — Meu Deus! O que aconteceu com meu amigo? Quem é este que está aí a minha frente? — Fiquei rindo do jeito espalhafatoso dela, quando ela terminou sua pérola: — Este não é o Bruno Fernandes. Acho que ele foi abduzido, ai Jesus! Quem é você? — Aline, pare de besteira. Sou eu, seu amigo. Só um pouco destruído, mas sou eu. Você me fez falta. Não devia sumir assim. Como foi seu curso? Voltou pronta para me derrubar? Ela deu a gargalhada mais gostosa do mundo e falou: — Ah, Bruno querido, derrubar você é muito fácil. Pelo jeito certa loira te nocauteou, não é? — Porra, Aline, se eu te contar tudo que a louca fez e o pior de tudo: você tem razão, ela me

nocauteou. Contei para minha amiga tudo que aconteceu desde a apresentação dela no teatro. Aline escutou tudo sem me interromper. No final, como de praxe, deu seu veredicto: — Bruno, eu sei que é horrível o que vou dizer, mas eu te avisei, amigo. Vocês estavam indo em direção a um precipício. Vocês eram dinamite pura. Dois loucos disputando poder. Você foi se envolver com uma mulher sem um fio de cabelo submisso. Começou a relação com uma aposta e só vocês não conseguiam ver que não era só sexo. Bruno, basta você lembrar que sua regra nunca funcionou com ela. Eu te avisei, seu primo te avisou, aliás, todo mundo falou com você. Agora, meu amigo, não adianta chorar o leite derramado. Você se ferrou! — Porra, Aline! Obrigado por ser tão direta e tão dura. É tudo que preciso neste dia infeliz. Vi a mulher que eu amo se derretendo por um maricas espanhol, fiz plantão na rua dela e, para finalizar com chave de ouro, seu discurso animador. — Desculpa Bruno, mas vocês homens são tão burros às vezes, que me irrita. E só para encerrar meu discurso venenoso, cuidado com “o maricas espanhol”, porque estes homens são calientes, sonho de consumo de nós pobres mortais. — Uau! Quer saber? Vou embora, você não está me ajudando. Levantei puto da vida, mas ela me segurou antes se desculpando. Sentei de novo, cansado e desanimado até para brigar. Ela ficou me olhando, deu um suspiro e falou: — Meu querido e complicado amigo, a verdade é que agora vocês precisam dar tempo um ao outro. E se tiver que viver novas experiências, viva Bruno. É hora de crescer, de começar a ver as mulheres de outra forma e não como um pedaço de carne como você olhava. Eu já te disse uma vez e vou repetir: apesar de você curtir dominar uma mulher, você não nasceu para este mundo. Você é um homem de família, mesmo sendo selvagem como é. Aproveite para refletir, amadurecer. Para de ficar cercando a mulher. — Aline, eu preciso falar com ela que a amo. Ela precisa saber. — Bruno, ela não vai te ouvir agora. O pouco que vi de Marcela, ela tem um gênio ruim do cão. Ela é egocêntrica, mimada demais. Precisa crescer também. Não sei como foi a vida dela, mas acredito que sempre conseguiu fácil demais o que queria. E aí aparece você, que vai lá e coloca as defesas dela em risco. Ela vai fugir, meu amigo. Tenho certeza. O melhor é acreditar no velho ditado: se tiver que ser, será.

Era muito ruim admitir que, mais uma vez, ela tinha razão, mas era exatamente isto. Eu ia precisar aprender a ter paciência. Não sei se ia conseguir sem fazer nenhuma besteira, mas ia tentar. Resolvi mudar o foco da conversa. — Chega de falar de mim, vamos falar de você. Como foi? Gostou de conhecer a terra do tio Sam? — Adorei Bruno. Foram seis meses de muito aprendizado. Fiz aulas de defesa pessoal com o pessoal do FBI, fiz algumas oficinas de mediação e aproveitei para aperfeiçoar meu inglês. Tudo maravilhoso, quer dizer: quase tudo. — Por que quase tudo? — Fui obrigada a ter o desprazer de fazer um mês de aula com um lutador de Krav Maga, especialista em defesa pessoal. O homem era o cara mais arrogante e metido que conheci. Que ódio daquele idiota. Achava-se a primeira maravilha do mundo. E o seu jeito autoconfiante? Nossa! Detestei. — Uau! Pelo jeito o homem te irritou mesmo, não é? O que foi, senhora dona do controle? Não conseguiu domar o homem? Foi isto que te irritou? Ele não se rendeu aos seus encantos? — Comecei a rir dela, que ficou vermelha. Se eu não estivesse enganado, era muito mais que isto que estava rolando ali. Para deixar a mulher mais nervosa ainda, provoquei: — Estou achando que você ficou incomodada demais, doutora promotora Aline Dantas. — Vá se ferrar, Bruno. Eu nunca, mas nunca me aproximaria de um homem daquele. Cheio de marra, todo metido a sério, a “sou o poderoso, nunca errei em um golpe, sempre prenda o elemento em seu olhar, não demonstre medo”. Ah não, metido demais para o meu gosto. Fiquei rindo dela, mas preferi mudar o assunto, senão ela ia ficar chateada e eu não queria isto. Conversamos besteiras até de madrugada, ela me contou tudo, mas tudo mesmo que fez em seis meses de viagem, não sei se já falei, mas minha amiga adorava falar e eu gostava de escutála. Depois de colocar todos os assuntos em dia, nos despedimos com a promessa de nos encontrarmos na próxima semana para dançar.

***

Marcela

Eu e o espanhol não nos desgrudávamos mais. Desde aquele dia da boate quando aceitei ir para o hotel com ele, que estamos juntos. Aquela noite foi mágica, ele era o homem mais romântico que já vi. Tinha uma pegada forte, mas muito carinhoso e sedutor. Não preciso dizer que ele é irresistível, lindo, com olhos azuis mais profundos que já vi e um abdômen invejável. Nenhuma gordurinha, um corpo feito para matar qualquer uma. Estávamos em um ritmo louco de sexo, não conseguíamos nos segurar. Ainda mais com os ensaios do espetáculo Erotic. Parecia que tudo ia bem, até um dia que o maldito assombrou minha vida. Era uma tarde de domingo, eu e Alejandro tínhamos acabado de fazer o sexo mais alucinante de todos. Começamos a dançar na suíte a música Try not Love You, de Nickelback. Começamos sentindo os acordes, apenas balançando de forma sedutora, ele me olhava intensamente. Pegou minhas mãos, me virou sobre seu eixo, encostou-se à minhas costas e começou com movimentos lentos, excitantes, suas mãos exploravam os lugares mais íntimos do meu corpo. Ele mordia meu pescoço e falava palavras lindas em espanhol. Eu já estava ofegante, quando ele começou a desabotoar minha camisa, um a um dos botões, somente com as pontas dos dedos deslizando muito lentamente sobre minha pele. Depois abriu o fecho da minha calça, tão devagar que eu quase ovulei de tanto prazer. Quando eu estava somente de calcinha, ele começou a beijar minhas costas, enquanto seus dedos puxavam meus mamilos, me fazendo agonizar de tanto prazer, não era dor, era desejo puro e lascivo. Eu mal respirava, enquanto ele continuava a me maltratar. Segurou meus cabelos, puxando para trás e tomou posse da minha boca. Era a dança mais sensual da minha vida. Os movimentos dele eram sincronizados com a música, ele foi me levando para o sofá. Tirou sua roupa, eu quase desmaiei vendo todo o esplendor de seu corpo e seu membro totalmente pronto para mim. Quando eu pensei que minha agonia ia acabar e ele ia me penetrar, duro como eu queria, ele me surpreendeu. Sentou-me no sofá, se ajoelhou à minha frente, abriu minhas pernas do jeito que eu ficava exposta a ele. Senti-me envergonhada, ele percebeu, segurou meu rosto e disse: — Hermosa, mírame. Tu es perfecta para mí. Era impossível não morrer naquela hora. Fiquei olhando para ele, que foi me beijando desde minha boca, passando pelo meu pescoço, por meus seios, pela minha barriga, até chegar a minha vagina que já estava totalmente molhada, louca para tê-lo em mim.

Foi um dos melhores momentos da minha vida. Estava me sentindo no céu. Transamos a tarde toda. Eu tinha acabado de tomar o melhor banho da minha vida com Alejandro. Estávamos deitados na cama, ele cochilava e eu estava em êxtase, quando meu celular deu um sinal de mensagem. Pensei em não olhar, mas podia ser mamãe e ela ficava muito brava quando não respondia. Não estava preparada para o que era. Uma mensagem de Bruno dizendo: “Marcela, por favor, vamos conversar. Eu preciso te ver. Você não pode fazer assim comigo. Este tempo sem você foi um martírio. Se você queria me dar uma lição, saiba que conseguiu. Eu estou despindo minha alma a você. Acredite, estou totalmente rendido, apaixonado por minha rebelde. Fala comigo. Esta será a última vez que vou te procurar. Se você não me responder até amanhã, vou entender que realmente te perdi. E será uma pena. Assista ao vídeo, assim estou eu. Beijos do seu touro!” O vídeo era do Pink Floyd, com a música Coming back to life, que mostrava um homem em sua solidão, perdido e em busca de alento. Li a mensagem e vi o vídeo com o coração disparado. Quando a música terminou, já estava em prantos. Que ódio daquele homem. Por que ele sempre fazia isto comigo? Nunca ia me dar paz? A raiva foi tão grande, que quando eu percebi já havia arremessado meu celular na parede. De repente senti os braços de Alejandro me abraçando forte. Eu chorei mais ainda. Ele me balançava e dizia para eu ter calma. Contei a ele da mensagem e do vídeo. Ele ficou me olhando sério e falou: — Hermosa, por que não escuta este hombre? Acaba com este sofrimento. Será melhor para você. — De jeito nenhum. Eu o odeio. Ele tem este poder de me deixar desequilibrada. Não quero, por favor, só me abrace. Não fale mais nada. Ele me deitou como se eu fosse de vidro, tamanha delicadeza. Depois me abraçou e ficamos de conchinha, quietinhos. Senti quando ele começou a ressonar. Eu fiquei olhando para aquele rosto tão sereno e senti um desespero enorme. Por que eu não conseguia amar este homem? Ele era perfeito para mim. Não entendia o motivo do maldito não sair do meu sistema. Acabei por adormecer com este pensamento.

***

Alejandro

Eu devo ter cochilado, não queria, mas as emoções daquele dia me fizeram apagar. Quando abri meus olhos vi uma sereia linda dormindo ao meu lado. Ainda tinha o rosto marcado pelas lágrimas. Eu conhecia aquela dor, já havia passado por ela. Marcela estava sendo um sopro de ar em minha vida seca. Não posso mentir e dizer que não penso mais em Sofia, mas estar com aquela loira, estava curando minhas cicatrizes de forma especial. Depois do acontecido hoje, percebi que preciso me cuidar para não me envolver além do permitido. Eu sei que entre os dois há amor. Eles ainda são jovens e não percebem o quanto se maltratam longe um do outro. Vou me manter com ela, enquanto não for prejudicial a ninguém, mas assim que ela estiver pronta para ele, eu saio de cena. Estarei pronto para seguir meu caminho, em busca da minha história. Desde o dia que ela me contou a relação dos dois, eu sabia que era amor. Arrisquei estar com ela por ter sido forte demais a química que nos envolve, mas hoje tive a certeza de que eu não faço parte dos sonhos dela. Ainda me manterei por perto, para ajudar e também para poder usufruir um pouco mais de sua luz. Assim que terminar a temporada, vou viajar para costurar os retalhos de minha existência, esta é outra questão que preciso resolver, para depois buscar um novo recomeço para a minha vida e aí sim, quem sabe encontrar um novo amor. Que seja meu, inteiro, sem marcas de outro alguém.

Capítulo 37

Reviravoltas da vida

Bruno

Aquela semana tinha começado muito mal. Não sei o que deu em mim, mas no domingo eu acabei fazendo uma grande besteira. Depois de beber quase uma garrafa de uísque, eu não aguentei mais minha angústia e mandei uma mensagem com um vídeo para a loira. Não vou mentir e dizer que estava bêbado, uma garrafa de uísque era pouco para me deixar com amnésia alcóolica. Eu sabia exatamente o que estava fazendo. Eu estava louco, enjaulado em meu apartamento e precisava de uma última tentativa desesperada de contato. O problema foi que não obtive nenhuma resposta, então era o fim. Chega, não dava para viver a vida inteira esperando por Marcela, mas estava difícil demais fazer meu coração aceitar. Pensei em não trabalhar pela manhã, mas Aline tinha pedido que eu ajudasse uma amiga dela com um divórcio que estava dando trabalho. Segundo informações que ela me passou, o marido era um militar de alta patente e não estava facilitando as coisas. Tinha uma menina de dez anos entre os dois. Como sempre os adultos misturam as coisas, pai e mãe não tem nada a ver com marido e mulher. Casais separam, pais são para sempre. Para falar a verdade, Direito de Família não era meu forte, envolvia muitos segredos e sentimentos ocultos, mas como não conseguia negar um favor, acabei aceitando. Então em plena segunda-feira e com uma dor de cabeça do caralho, lá estava eu esperando Regina, a esposa ou

ex-esposa. Para piorar minha ira, minha secretária avisou que ela ligou perguntando se era possível remarcar para depois do almoço. Na boa, decididamente, não era meu dia. Vontade de mandar a mulher para aquele lugar, mas não tinha nada marcado naquela tarde, então era melhor resolver aquilo logo. Como a minha manhã estava mesmo perdida, saí mais cedo para correr e lutar. Precisava cansar muito, para esquecer minha dor e não ter um troço, tamanha minha agitação. Depois de suar muito, passei em meu flat e tomei um banho revigorante. Exercitar me fez bem, saí um pouco do meu mau humor ácido. Vesti meu melhor terno para ver se meu ego melhorava um pouco e voltei para a firma. Assim que entrei em minha sala e me acomodei, recebi a ligação da minha secretária dizendo que Regina havia chegado. Fui até a porta para receber minha mais nova cliente, eu sabia que era uma mulher de trinta e cinco anos, que era gerente de um banco de investimentos. Esperava ver uma mulher madura... Ah, está bom, vai, sei que pode ser um pensamento machista, mas nunca imaginava que Regina fosse aquela mulher linda. No momento que ela me viu, me deu um sorriso confiante e sereno. Novamente quebrei minha cara, pois esperava uma mulher com cara de sofrida pelo fim de um casamento. Ela me cumprimentou com um aperto de mão seguro e altivo. Gostei da atitude dela. Pedi para a minha secretária que providenciasse água, café e alguns biscoitos caseiros. Assim que sentamos ela me olhou séria e disse: — Doutor Bruno, obrigada por me receber tão em cima da hora. Desculpe-me por ter precisado adiar para agora nosso encontro, mas pela manhã tive alguns imprevistos. — Sem problemas, Regina. Aline me pediu para te atender para ver o que podíamos fazer em relação ao seu divórcio. Preciso que me conte tudo, para ver quais as próximas providências que precisaremos tomar. — Sei que teremos um longo caminho pela frente, meu ex-marido não quer facilitar. Somos casados há doze anos. Ele é capitão da polícia militar e temos uma filha de dez anos. Nosso casamente sempre foi muito conturbado, Elias é muito ciumento e possessivo. No início, como toda menina boba e romântica, eu achava lindo, mas com o tempo as coisas foram complicando. Ele não era violento, mas usava de subterfúgios que me deixava acuada, com medo e insegura. “Terminei a faculdade de Administração com muita dificuldade, pois ele sempre me

pressionava a ser somente dona de casa, coisa que nunca aceitei. Assim que terminei meus estudos fui contratada pelo banco, local que estou até hoje. Quando Camila nasceu, ele queria que eu não voltasse a trabalhar, mas não aceitei. Eu sabia que se parasse não tinha volta.” “Tudo começou a piorar quando fui promovida a gerente e comecei a ter uma vida financeira melhor que a dele, mesmo comigo sempre afirmando a ele que nossa renda era familiar e não só minha. Ele é um homem muito machista, cheio de convicções conturbadas. Para ser sincera, não sei como me apaixonei por ele. Acho que a coisa da farda, da fantasia de menina de ser protegida por um herói, sei lá, tudo isto colaborou para que eu me aproximasse.” “Bom, o ápice dos problemas aconteceu quando eu recebi um convite para ministrar um curso de férias em São Paulo. Ele não tinha conseguido férias no meio do ano, então disse que eu não poderia ir, que ele proibia. Chegou a me ameaçar, disse que caso eu aceitasse, era o fim do casamento e nossa filha não poderia ir comigo. Detalhe, doutor Bruno: eu ficaria na casa do meu irmão que mora na capital daquele estado e em momento nenhum Camila ficaria sozinha, estaria com a tia e as primas.” “Foi aí que tivemos nossa briga mais feia. Coisas horríveis foram ditas, ameaças e uma quase agressão. Neste mesmo dia eu juntei minhas coisas e as dela. Saímos de casa e estamos na casa da minha mãe provisoriamente. Ele não aceitou, vive me ameaçando, dizendo que eu posso sofrer um acidente a qualquer momento, que ele tem conhecidos que adorariam dever favores a ele e vários outros absurdos.” “Estou aqui hoje, porque ele não aceita o divórcio, vive me ameaçando e está totalmente desequilibrado. Nossa filha está com medo dele e não quer ficar com ele nem nos finais de semana. Então, estou desesperada, sem saber como agir. Preciso de sua ajuda, por favor, aceite meu caso.” — Regina, eu vou aceitar seu caso. Desde quando Aline me disse, eu já tinha aceitado. Eu não suporto ver casos como este de violência doméstica. Esta maneira de violentar o psicológico de uma mulher é a pior de todas. Primeira coisa que vou fazer, é pedir ao juiz uma medida protetiva para você e sua filha. Mesmo ele sendo pai, não está em condições de exercer plenamente a maternidade. Outra providência, vai ser marcar um horário com ele para pedir que aceite o divórcio consensual, caso não aceite, ainda estarei informando-o que poderei notificar o alto comando da polícia por estas ameaças a sua integridade física. Ele deveria saber suas responsabilidades sendo oficial da Polícia Militar. Fique tranquila, mas atenta. Não podemos brincar com situações como esta.

Conversamos mais um pouco, ela me falou da filha com um brilho no olhar. Coisas que só as mães sabem fazer. Depois me disse da angústia em estar passando por aquilo. Contou que já havia tentado se separar antes, mas acabou cedendo às chantagens emocionais dele. Porém, afirmou que agora não tinha mais volta. Que não havia restado mais nada, somente a mágoa. Despedi-me dela por volta das dezesseis horas. Combinei que deixaria ela a par de todas as decisões tomadas por mim. Depois fui a sala de Pedro para conversarmos sobre Regina, pois meu primo era especialista em violência doméstica. Conversar com ele sempre me deixava mais calmo e seguro.

***

Havia passado quase trinta dias que tinha conhecido Regina. Já tínhamos nos encontrado umas cinco vezes. Uma delas por acaso, em uma tarde que fui ao shopping comprar algumas roupas para mim e encontrei com ela e sua filha. A menina era linda, divertida e muito parecida com a mãe. Acabamos curtindo um cinema juntos. Foi um dia muito gostoso. Neste mesmo período, eu tive uma conversa nada amigável com o capitão Elias. Ele quis partir para cima de mim e, claro, eu respondi à altura. Ele esqueceu que estava lidando de igual para igual, de homem para homem. E ele não conseguiria me assustar com sua pose de mandão. Eu também sabia mandar. Confesso que meu lado alfa gostou muito de dizer a ele que bastava uma notificação do juiz ao alto comando dele, para que as coisas não ficassem boas. Nesta hora, o homem baixou a guarda e tentou sujar a imagem da ex-esposa. Deixei claro para ele que o que estava em jogo ali era a má conduta dele e não a dela. Ele não tinha o direito de ameaçar ou subjugar uma pessoa pela força e poder. Resumindo, ele foi avisado. Não pense que sou maluco, só conversei com ele após a liberação da medida protetiva dela pela justiça. O documento determinava que ele não podia chegar a quinhentos metros dela e da filha, até que o juiz desse a sentença final. Não se deve descuidar de situações assim, pois já vi muitos homens loucos matarem as ex-esposas e até os filhos. No dia que marquei de entregar e explicar o documento para Regina, acabamos marcando no final do expediente, pois ela tinha uma reunião no banco e não conseguiria sair mais cedo. Eu tinha combinado de ir no pub à noite com Aline e quando vi já estava convidando minha cliente

para ir conosco. Sei que isto não era muito ético da minha parte, mas a companhia dela era muito agradável. Eu estava em um mês estranho demais. Desde o dia que mandei a tal mensagem para a loira, não a tinha procurado mais e evitava a rua da academia. Como meu primo e sua bravinha estavam na correria com formatura, término de mestrado e casamento, a gente mal se encontrava. Era até bom, pois assim não me sentia tentado a saber notícias da infeliz.

***

À noite cheguei ao pub primeiro que as duas. Estava no balcão colocando a conversa em dia com meu amigo, quando vi Regina chegar. Porra, ela estava muito linda, eu ia precisar de forças para manter minha sanidade. A mulher vestia uma calça jeans justa, uma bota no joelho e uma blusa preta. Ela tinha um cabelão castanho, olhos verdes e um sorriso fácil. Apresentei o Marcelo a ela e depois fomos para uma mesa mais afastada da bagunça. Aquela noite era de exibições no bar com os malabarismos para fazer os coquetéis e a mulherada ficava animada. Aline me ligou contando que teve um imprevisto e não poderia comparecer. A noite foi muito agradável. Conversamos de tudo um pouco e acabei contando a ela minha história com Marcela. Ela ouviu tudo em silêncio, sem me interromper. No final deu sua opinião: — Bruno, quando a gente é jovem faz muitas besteiras e, às vezes, pagamos um alto preço por isto. Vocês se machucaram muito. E se me permite, vou ser sincera: ela errou, mas você tem mais culpa no cartório que ela. Pense comigo, você é um homem vivido, com vinte e nove anos, já teve experiência em um outro país e em clubes de sexo. Ela é uma jovem de vinte e três anos, com experiências sexuais com jovens como ela, nunca saiu do país e viveu em uma família com conflitos no casamento dos pais. Oras, Bruno, você induziu a menina de satisfazer seus desejos. E quando ela caiu na besteira de contar sua fantasia, você pirou. Porra, o que eu poderia dizer? Ela estava certa. Não tinha nem o que reclamar. Esta era a verdade. Eu nunca quis parar e pensar. Como sempre, eu e minha mania de atropelar as pessoas. Deveria ter consultado a loira antes de tudo, errei feio. Respirei fundo e falei alto, para eu mesmo ouvir: — Regina, eu sei que errei. Quando acordei e quis consertar tudo foi tarde demais. Perdi

minha chance com ela. Dói saber disto. — Bruno, eu aprendi que precisamos saber quando é hora de recuar. Dizer que acabou? Não sabemos, dê tempo ao tempo. Ele sim sabe resolver todas as questões que parecem muito ruins no presente. Fiquei olhando para ela, tão sensata. E pior, tinha razão. Para dar uma aliviada no clima, falei: — Chega de ficar aqui reclamando. Quero saber se está pronta para perder na sinuca do mestre aqui. Ela deu um lindo sorriso e respondeu: —Não sei jogar. Acredite. — Então vai aprender agora com o professor aqui. Levantei, estendi a mão para ela, que aceitou e fomos em direção às mesas. Foi um final de noite delicioso. Jogamos até de madrugada e na hora de ir embora, como ela estava com seu carro, eu a segui até em casa. Ela não queria, mas era tarde demais. Quando chegamos, eu desci do carro para me despedir. Ficou um clima meio estranho no ar, mas ela me deu um beijo no rosto e entrou. E eu voltei para casa com uma sensação de paz que há muito tempo não sentia.

Capítulo 38

Lados opostos

Marcela

Se você pensa que ensaiar um espetáculo de dança é fácil, está muito enganado. São horas e mais horas de erros e acertos. Cansativo demais. Tudo bem que o fato de ter Alejandro ao nosso lado ajudava bastante. Depois da mensagem de Bruno, precisei comprar outro celular. O antigo nunca mais funcionou depois de conhecer a parede. Nunca mais eu e o espanhol gostoso tocamos no assunto. Não valia a pena. Se você me perguntar se esqueci do maldito touro, vou te responder que não, porém preferi levar a vida como estava. Precisei discutir com minha amiga, pois ela queria que eu e Bruno fôssemos padrinhos dela. Claro que não aceitei. Então ele ficou com Duda e eu com um amigo de Floripa. Minha amiga estava louca com monografia, casamento e o noivo gostoso defendendo a tese do mestrado. Aquela sim deu sorte. Pedro era o homem que toda mulher havia pedido a Deus, mas Ele fez só um e era da minha irmã. Por causa desta correria dela, a gente mal se via. O auge do espetáculo era a minha coreografia com meu lindão de olhos azuis. Nossa, eu sentia até calor na dança, de tão sensual que era. E claro, ficava com a calcinha molhada quase sempre. Ainda mais com ele falando no meu ouvido. Ele continuava insistindo para que eu passasse as festas de final de ano com ele na Espanha, mas eu não queria. Meu pai havia prometido dar uma viagem para mim e mamãe para Nova Iorque. Eu estava bem tentada a aceitar. A vida estava, enfim, mais calma. Tudo acontecendo como previsto, eu e Alejandro não nos

separávamos, mamãe estava cada dia mais envolvida em horas de conversa com papai, a loja estava dando ótimos lucros, na faculdade tudo ia bem, na academia melhor ainda e mesmo assim, eu sentia que faltava algo. Como era estranha esta nossa sensação de vazio. Sempre ouvia minha mãe dizer que nunca existiria a felicidade plena, que nós seres humanos éramos inconstantes, sempre em busca de algo que não podíamos ter. Nos textos de Freud que eu estudei na faculdade, sempre me deparava com escritos sobre esta infelicidade ou esta busca incessante ao desconhecido. Ou ao inexplorável. No meu caso, eu sabia o nome deste vazio. Suspeitava que fosse Bruno Fernandes. Na verdade, eu me acostumei com ele sempre atrás de mim, mas depois da mensagem e da falta da minha resposta ele sumiu. Eu estava tentando me convencer que assim era melhor. Não vou mentir para você. Minha inimiga consciência sempre me incomodava me lembrando que eu tinha exagerado, mas eu ainda não estava preparada para dar o braço a torcer. Um dia, quem sabe?

***

Faltavam menos de dois meses para o espetáculo. Eu estava ficando muito ansiosa com receio de ter que me deparar com certa pessoa na plateia. Estaríamos apresentando no mês de dezembro. Seriam doze apresentações até encerrarmos a temporada deste ano. Depois íamos realizar mais alguns no início do ano e encerraríamos em maio. Com um grande musical inspirado no filme Mamma Mia. E será neste momento que precisarei definir minha vida, pois Alejandro irá embora de vez. Às vezes, ele vem sinalizando o desejo de me levar com ele, mas não sei se terei coragem de deixar minha mãe. Na verdade, estou envolvida com ele, gosto de estar com ele, do sexo maravilhoso, do homem integro que é, mas não me sinto inteira. Complicado explicar.

***

Bruno

Os dias estavam passando muito depressa. Infelizmente, o tempo de calmaria entre mim e meu pai havia acabado. Andávamos brigando de novo e tudo por que ele não queria que eu ajudasse o juiz no caso de exploração sexual. Achava arriscado demais. Eu estava inclinado a aceitar. O meu papel seria fingir junto aos empresários envolvidos que eu era um advogado acima de qualquer suspeita por minha fama, mas que eu era na verdade um corrupto criminoso que estava a fim de ganhar dinheiro no mercado ilegal de venda de meninas para outros países. Papai estava enlouquecido, chegou a pedir ajuda de Pedro para me fazer desistir, mas meu primo também queria me ajudar, pois era um crime inadmissível. Eu e Regina continuávamos nos encontrando sempre, na verdade estávamos vivendo em uma tensão sexual quase impossível de resistir. Como tinha a questão ética da coisa, eu e ela fingíamos não perceber, mas estava cada dia pior. O marido dela continuava dando trabalho, por duas vezes precisamos acionar a polícia para ele, pois tentou pegar Camila à força. A menina já estava com pavor do pai. A nossa resistência acabou, em uma noite em que eu tinha marcado de buscar as duas para ir ao teatro. Um pouco antes do horário marcado, eu recebi uma mensagem da pequena que dizia: Tio Bruno, eu estou com medo, venha para a minha casa. O papai está gritando com a mamãe. Ele está em frente à casa. Cara, quando vi aquilo saí feito um louco. Sorte que já estava pronto e elas moravam perto do meu flat. O mais interessante de tudo, foi que mamãe insistiu para eu ir para casa e eu disse que não podia naquela noite. Parecia mesmo que o destino estava me ajudando a proteger Regina. Corri feito um louco, avancei todos os sinais de trânsito e quando entrei na rua vi o covarde agredindo-a. Perdi totalmente a sanidade. Desci do carro ainda com ele ligado e voei em cima do brutamonte. Ele era grande, policial, mas eu não ficava atrás. Fui ainda agraciado pelo imprevisível, ele não esperava. Joguei-o longe, ele se recompôs e veio para cima de mim. Entramos em uma luta corporal feia. Trocávamos socos, murros, pontapés, uma verdadeira briga de gigantes. Só paramos quando ouvimos os gritos enlouquecidos de Camila que chorava e pedia ao pai para não matar o “tio Bruno”. Acho que ouvir isto da filha deixou o homem sem chão. Ele me empurrou assustado, olhou com tristeza para a filha, virou as costas e sumiu.

Eu fiquei meio atordoado com a o desfecho da briga, mas mal tive tempo de pensar, pois a menina veio correndo e me abraçou em lágrimas. Meu Deus, eu precisava de sabedoria naquele momento para acalmar aquela criança. Eu agachei para ficar da altura dela e dei meu melhor sorriso. Enxuguei suas lágrimas e disse: — Não chora, princesa, o tio é osso duro de roer. Conhece este ditado? — Ela balançou a cabeça e eu continuei: — Então, eu estou bem. Não se assuste, pessoas adultas às vezes fazem besteira. Não devia ter brigado com seu pai. Desculpe, linda. — Tio, meu pai é mau, ele brigou com a mamãe, empurrou ela e machucou você. Seu rosto está cheio de sangue. — Linda, seu pai não é mau, ele está doente. Precisa de ajuda. Eu vou tentar ajudar seu papai. Vamos entrar agora e nos acalmar. Que tal uma pipoca e um filme? Vamos deixar o teatro para outro dia. Ela aceitou. Graças a Deus era fácil falar ao coração de uma criança. Estacionei o carro corretamente e entrei na casa de Regina. Ela não estava mais morando com os pais, tinha alugado uma casa muito aconchegante e bem localizada. Eu ia convencê-la a manter um segurança por um tempo. Era o melhor a se fazer enquanto o ex-marido estava desequilibrado. Enquanto mãe e filha foram para a cozinha fazer a pipoca, eu fui ao banheiro ver o estrago. Na verdade, estava com um pequeno corte acima do olho e por isto havia tanto sangue. Lavei o ferimento com bastante água e usei a caixinha de primeiros socorros que Regina havia me dado. Ela estava muito assustada e eu disse que assim que Camila distraísse a gente iria conversar. Naquele momento a prioridade era acalmar a garota. Coloquei um curativo no corte, enrolei a manga da minha camisa que estava suja de sangue e voltei para a sala. A pequena estava com carinha de choro ainda na sala e assim que me viu, veio toda preocupada perguntar se estava doendo. Para que ela esquecesse daquilo perguntei se ela tinha meu filme mais favorito do mundo: A Bela e a Fera. Claro que este não era meu filme favorito nem de longe, mas ver o brilho no olhar dela valia qualquer coisa. Ela saiu correndo da sala e voltou com uma caixinha cheia de DVDs. Eu e a mãe dela nos acomodamos no sofá e ela colocou o filme. Pedi que ela sentasse entre a gente para fazermos sanduíche de Camila. Ouvir a risada dela acalmou nosso coração. Assistimos ao filme, entre risadas, elas me comparando com a fera e eu fazendo cosquinha nas duas. No finalzinho do filme, ela dormiu em meus braços.

Levei a criança no colo para seu quarto, que ficava no segundo pavimento da casa. Assim que ela estava acomodada, Regina segurou minha mão e me levou para o sofá. Pediu que eu esperasse um pouco e voltou com sua maleta de primeiros socorros. Disse que precisava ver direito como estavam meus ferimentos. Eu até tentei impedir, mas ela fez questão. Falou que queria certificar-se de que eu estava bem. Ela começou retirando meu curativo e me tocando com tanta delicadeza, que me deixou encantado. Olhou meu corte, passou pomada no machucado e verificou meu braço que estava sujo de sangue por baixo da camisa. Confesso que meu coração estava disparado com a proximidade daquela mulher linda e cheirosa. O fim das minhas forças aconteceu quando ela retirou minha camisa para lavar. Assim que fiquei sem a camisa, segurei seus ombros e pedi que ela parasse um pouco. Ela ficou me olhando, hipnotizada. E eu comecei acariciando seu rosto, depois tirei a camisa de suas mãos, me aproximei lentamente dela e a beijei. Eu queria fazer aquilo há muito tempo, tentei resistir, mas não dava mais. Ela começou a me beijar timidamente, mas depois foi se soltando e literalmente avançou sobre mim. Ela veio como uma gata selvagem, me deitando no sofá e abraçando com força. Nossas bocas se entregavam, ela estava ofegante, me arranhava e dava pequenos gemidos em minha boca. Nesta loucura de desejos, eu virei e fiquei em cima dela no sofá. Comecei a tirar sua roupa, enquanto ela me dava pequenas mordidas. Ainda de calcinha eu a carreguei no colo e a levei rumo ao banheiro. Não podíamos esquecer que havia um pequeno ser em casa. Tranquei a porta, sentei-a sobre a pia e fui direto para seus seios lindos. Eu queria tudo daquela mulher. Chupava seus mamilos, mordia e lambia, tudo ao mesmo tempo. Ela ficou enlouquecida quando meus dedos entraram nela. Eu fazia movimentos circulares, de vai e vem, a beijava totalmente voraz. Tanto eu quanto ela tínhamos sede um do outro. Ouvi-la gemer chamando por meu nome, pedir por mais e gozar aberta para mim foi o céu. Não esperei muito, coloquei o preservativo e fui logo entrando nela, com toda força e vontade do mundo. Foi um momento que beirou ao delírio, tamanha nossa necessidade de satisfazer um ao outro. Suados e saciados por pouco tempo, fomos para a banheira. E antes mesmo de respirar começamos de novo. Foi a transa mais alucinante daqueles últimos meses. Estávamos na mesma sintonia e passamos quase a noite toda fazendo sexo. Ainda bem que tinha muitas camisinhas no meu carro. Um homem precisa sempre andar prevenido. Depois de tanta entrega, acabamos dormindo juntos. Foi uma noite de sono tranquilo como há

muito tempo não tinha. Acordamos com um furacão pulando em cima de nós. Ficamos sem saber o que dizer, mas antes de precisar pensar em algo, a pureza de uma criança nos salvou. Camila olhou para a mãe e disse: — Mamãe, você cuidou direitinho do tio Bruno. Fez até ele dormir com você. Igual quando eu estou doente. Você sarou o dodói, tio? Preferi sorrir e puxar aquele pequeno anjo para um abraço. Não dava para explicar nada, então aquela foi a melhor saída. Regina levantou correndo, foi ao banheiro e depois desceu para a cozinha. Eu ainda brinquei um pouco com Camila, que depois correu para vestir seu vestido rosa. Ela me disse que a mãe tinha prometido levá-la para passar o dia no shopping. A pequena me deu um beijo e disse: — Tio Bruno, vamos com a gente? Tem exposição de cachorrinhos, depois vou almoçar hambúrguer e bata frita e para finalizar o dia vamos ao cinema. Eu juro que pensei em negar, mas aquele sorriso me derrubava. Acabei aceitando o convite, mas disse a ela que encontraria com elas na hora do almoço, pois precisava passar em minha casa antes. Fui ao banheiro, tomei um banho e vesti a mesma roupa do dia anterior. Quando cheguei à cozinha, as duas estavam me esperando para tomar o café da manhã. Foi um momento descontraído, cheio de alegria, pois aquele anjo falava sem parar e nos fazia rir o tempo todo. Assim que terminamos, eu combinei com as duas o horário em que as encontraria no shopping. Vi que Regina ficou feliz com o convite da filha e por eu ter aceitado. A vantagem de uma mulher madura, era a tranquilidade após uma noite daquelas. Afinal éramos dois adultos e livres, quer dizer: ela ainda não estava em processo de divórcio, mas já estava separada há quase seis meses. No fundo, eu sabia que não estava certo eu me envolver com ela. Além de ser minha cliente, ainda havia uma criança na história. A questão era: nós dois não conseguíamos mais controlar nosso desejo. Ia ser preciso muito cuidado de nossa parte, para que Camila não sofresse. Por enquanto, eu ainda não tinha com que preocupar.

Capítulo 39

Atentado

Bruno

A vida é tão engraçada, quando você menos espera as coisas acontecem. Eu e Regina estávamos cada dia mais juntos. Decidimos não deixar Camila perceber nosso envolvimento. Falamos com ela que o tio estava ajudando a mamãe com o papai. Falamos que ele estava doente e precisava de ajuda. Na verdade, estávamos tentando ajudar mesmo, pois, segundo ela, Elias sempre foi muito bom pai, mas de uns tempos para cá, parecia estar ficando desequilibrado. Porém, mesmo em suas crises de ciúmes, nunca agrediu a filha, era um pai carinhoso, mas alternava momentos de euforia, alegria e tristeza extrema. Ela me disse que por várias vezes tentou convencê-lo a procurar ajuda profissional, mas, segundo ele, não seria bom para sua carreira militar ter um afastamento por questões psicológicas. Lembro que em uma conversa com meus pais em um almoço em família, cheguei a citar a situação do casal e meu pai disse que era muito comum alguns profissionais de áreas de estresse acentuado desenvolver transtornos de ansiedade generalizado ou até mesmo bipolaridade. Nas duas audiências que presenciei com minha cliente, fiquei preocupado com a carga de ódio que o homem olhava para mim. Diante aquele olhar, fiquei com medo que ele resolvesse descontar sua ira em Regina. O juiz tinha dado a ele o prazo de trinta dias para aceitar negociar em comum acordo entre as partes, caso contrário a decisão seria judicial. O advogado dele era um conhecido meu e me alertou sobre o seu cliente. Disse que o homem estava descontrolado, não

queria abrir mão. Pediu que ficássemos atentos, pois tinha receio que ele fizesse uma besteira. Tudo aconteceu em uma noite no final de semana. Nós saímos para dançar, a pequena tinha ficado com a avó. Chegamos à boate por volta de vinte e três horas. Eu estava com uma sensação estranha de que estávamos sendo seguidos, mas já tinha tomado todas as precauções e não percebia nada estranho. Cheguei a ligar para meu primo e perguntar onde eles estavam, convidando-os para a boate. Não sabia bem, mas sentia que precisaria de Pedro naquela noite. Ele e Valentina estavam em um restaurante próximo e aceitaram meu convite. Dançamos, conversamos e bebemos pouco, pois estávamos dirigindo. Durante o tempo todo, a sensação de insegurança me rondava. Eu olhava para todos os lados, tentando ver algo. Regina chegou a perguntar se tinha algo me incomodando. Falei com ela que não queria ir embora muito tarde, pois tinha planos melhores para nós dois. Eu tinha falado com ela sobre a suíte BDSM e ela estava louca para conhecer. Como Camila ia dormir com a avó, o touro bravo entraria em ação. Estava louco para dominar aquela gostosa, linda e sacana. Pedro também tinha ideias melhores que dançar, acertamos a conta e ele me disse que iria aproveitar a noite para viajar para uma pousada no interior e só voltariam domingo. Segundo meu primo, precisavam relaxar e descansar da correria que estava sendo a vida deles. Saímos juntos e cada um foi para seu carro. Quando chegamos ao nosso carro, eu abri a porta para Regina, foi o tempo de ver uma moto acelerando em nossa direção, ainda consegui empurrá-la, depois senti três baques e tudo escureceu.

***

Marcela

A festa de aniversário de Mel estava muito boa. Os pais dela fizeram questão de festejar os vinte e cinco anos da filha em alto estilo. Minha amiga não queria festa, mas não conseguiu escapar. Estava tudo organizado com muito bom gosto. O pai dela era um dos mais famosos engenheiros da capital. A festa foi na mansão dela. Uma casa de tirar o fôlego de qualquer um.

Alejandro estava encantado com a acolhida dos mineiros. Eu não sabia o porquê de estar me sentindo tão incomodada. Era uma sensação ruim, como se algo estivesse acontecendo. Cheguei a ligar para os meus pais, para saber se estava tudo bem. Mandei mensagem para minha amiga Valentina e ela me disse que estavam dançando em uma boate. Então cheguei à conclusão que poderia ser uma maldita TPM. Ficamos na festa até por volta de quatro da manhã. No caminho de volta para casa, estávamos próximos ao apart hotel do meu espanhol gostoso, quando eu mudei de ideia. Eu não estava em um bom dia para ir dormir com ele. Expliquei da melhor forma possível que não estava bem. Ele era um cavalheiro, mostrou-se preocupado comigo, perguntou se eu precisava de algo, mas acabou aceitando. Ele me deixou em casa com a promessa de me buscar depois do almoço para irmos ao cinema. Aquele restante de noite foi agitado. Eu virava na cama de um lado para o outro. Levantei, tomei um chá, rezei, chorei e nada de dormir. Por fim resolvi ver um filme para ver se o sono aparecia. Coloquei pela milésima vez A Última Jornada, eu adorava assistir aquele peão lindo em ação. Adormeci quase no finalzinho. Acordei quase às onze horas com meu celular que insistia em tocar. Pensei em jogar o aparelho longe, mas vi que era Valentina e resolvi atender: — Fala que tem um bom motivo para me acordar, senão vou te matar. — Marcela, eu não tenho boas notícias. Melhor acordar. — Pulei da cama totalmente desperta: — Fale logo, Valentina. O que aconteceu? — Infelizmente Bruno sofreu um atentado. Neste momento está em uma sala de cirurgia retirando duas balas que ficaram alojadas em sua cavidade abdominal. Meu mundo caiu. Fiquei parada com o celular na mão, em estado de choque. Como assim, atentado? Quem atirou nele? Por quê? As lágrimas começaram a descer no meu rosto. Eu ouvi minha amiga dizendo: — Marcela você ainda está aí? Fala comigo. — Valentina, como aconteceu isto? Ele corre algum risco? Em qual hospital ele está? — Ninguém sabe ainda. Nós saímos juntos da boate, mas nosso carro estava longe do dele. Então nos despedimos e eles foram para o carro. Não vimos nada. Ainda estamos esperando o médico dizer como ele está. Parece que perdeu muito sangue, mas não corre risco de morte. Amiga, preciso te

dizer que ele está saindo com uma pessoa. Ela está aqui no hospital. — Como assim, está com uma pessoa? Quem é ela? — Eu a conheci ontem. Ela se chama Regina. É uma mulher muito bonita e eles pareciam estar se curtindo. Sinto muito, minha amiga. — Valentina, não me interessa se ele está com alguém ou não. Eu vou ao hospital, preciso ver com meus próprios olhos se ele está bem. — Eu sabia que viria. Deixa para vir mais tarde. As coisas estão complicadas aqui agora. Os pais dele estão muito nervosos. — Está bem. Vou tentar me segurar. Valentina me passou o endereço do hospital, tentou me acalmar e desligou. Eu estava com muito medo de acontecer algo com Bruno. Na verdade eu gostava daquele infeliz, mas a gente não tinha nascido um para o outro. Este pensamento me fez sentir uma dor de cabeça terrível. Fui para o banho e chorei até não ter mais forças. A verdade era que aquele homem estava impregnado em meu sistema, como droga. Eu tinha medo de uma recaída, ainda mais que agora era tarde demais. Demorei tanto a sair do quarto que minha mãe veio saber se estava bem. Encontrou-me com os olhos inchados e vermelhos. Sentou-se ao meu lado na cama, segurou minha mão e com sua doçura me disse: — Minha linda menina, qual o motivo destas lágrimas? Você estava tão feliz nestes dias com seu espanhol. — Mamãe, eu fiquei sabendo agora que Bruno sofreu um atentado. Foi baleado e está em uma sala de cirurgia. — Meu Deus, não sabia. Você conseguiu mais notícias? — Só sei que ele está sendo operado para retirar balas que ficaram alojadas em seu abdômen. Mamãe me leva ao hospital, por favor. — Claro que levo, mas antes você vai se acalmar um pouco. Vamos almoçar primeiro, descansar um pouco e mais tarde te levo. Eu abracei minha mãe e chorei mais um pouco. Ela acariciou meus cabelos, cantou para mim e como mágica materna eu me acalmei. Sequei meus cabelos, vesti uma calça jeans e uma blusa

preta de frio. Estávamos em plena frente fria. Coloquei uma bota e fui para a cozinha almoçar com mamãe. Depois do almoço, fomos para a sala assistir um pouco de televisão. Estávamos assistindo ao jornal da tarde, quando passou a matéria sobre o atentado de Bruno. O delegado da criminal dizia que estavam empenhados em prender o responsável pelos disparos, inclusive que já tinham um suspeito, mas não falariam nada para não prejudicar as investigações. Depois apareceu uma imagem dele quando estava em um julgamento, estava tão lindo. O repórter falou sobre suas vitórias nos tribunais. Quando encerrou a reportagem, eu estava novamente me lágrimas. Minha mãe me disse: — Marcela, Marcela, por que vocês dois não conversaram? Minha filha, tanta dor podia ser evitada se vocês tivessem sido honestos um com o outro. Preferi não responder. Enxuguei meu rosto e fui para o meu quarto. Estava retocando minha maquiagem quando ouvi o interfone. Caramba, tinha me esquecido que marquei com Alejandro. O que eu ia fazer agora? Quando cheguei à sala, mamãe já estava falando com ele do atentado. Ai, meu Deus, minha mãe tinha horas que falava demais. Ele me olhou curioso, viu meu estado e falou: — Eu levo você ao hospital, hermosa. Minha situação seria constrangedora, mas eu não tinha como negar a oferta dele, afinal eu estava ficando com ele. Pediria a ele que me deixasse entrar sozinha no quarto. Enquanto fui ao meu quarto, recebi uma mensagem de Valentina me dizendo que dentro de meia hora ele iria para o quarto. Sugeriu que eu fosse ao final da tarde. Vou ser honesta: o receio de perder o Bruno para sempre, mexeu comigo mais do que eu esperava. Foi então que descobri. Eu amava aquele homem e não sobreviveria se eu o perdesse para sempre. Que merda! E agora?

***

Bruno

Senti uma dor absurda. Tudo apagou e acho que caí. Ouvia sirenes, gritos, sentia algumas pessoas mexendo em mim, mas não sabia dizer o que era. Até que senti uma dor similar a uma maldita agulha em meu braço e apaguei. Não sei se te disse, mas odeio agulhas, nunca fomos amigos. Acordei em um silêncio total. Forcei as vistas e vi uma sala branca, um soro em meu braço e uma dor em minha barriga. Tentei levantar, mas doeu para caralho. Acho que fui nocauteado. Tinha uma mulher de costas, mexendo em alguns frascos e aí caiu minha ficha. Eu estava em um hospital. Então me lembrei da moto, de Regina e dos estalos. Porra, alguém atirou em mim. Lógico! Quem foi o filha da puta? Claro, só podia ser o babaca do ex-marido dela, mas eu não ia deixar barato. Ah, não ia mesmo. Estava matutando os pensamentos, quando senti alguém mexendo em meu braço, ou melhor, dizendo na agulha. Ai, meu Deus, como eu ia dizer que tenho pavor da infeliz? Abri meus olhos e dei de cara com uma enfermeira com cara de boazinha. Ela sorriu e disse: — Bem-vindo! Não precisa fazer esta cara de desespero, não vai doer. Não vai doer o cacete, não era nela, mas fui educado e falei: — Não gosto de agulhas. Pode me dizer o que houve. E preciso de água, urgente. — Vamos com calma. Primeiro esta agulha não vai entrar em você lindo, só no soro. Segundo, você acabou de sair de uma cirurgia. Parece que alguém lá em cima gosta de você, porque mais um centímetro e talvez não estivesse aqui. E ainda não pode tomar água. Vou passar um algodão molhado em sua boca. Realmente não entrou em meu braço, mas o líquido entrou rasgando em minha veia. Só não xinguei porque a moça era até boazinha. Não demorou muito e tudo sumiu. Dormi. Voltei a despertar quando senti minha cama em movimento. Abri os olhos e dei de cara com um homem enorme empurrando minha maca. Ele sorriu, disse que eu estava voltando à vida e que me levaria para o quarto, pois, segundo ele, tinham muitas pessoas apavoradas querendo me ver. Assim que a porta abriu dei de cara com uma dona Luiza apavorada em lágrimas. Dei um sorriso a ela que veio logo para ajudar o enfermeiro. Falava sem parar: — Oh, meu filho, que susto. Graças a Deus você está aqui. Foi a pior noite da vida, meu bebê.

Ainda meio sonolento respondi: — Dona Luiza, onde está vendo um neném aqui? Estou bem na medida do possível. Venha cá cuidar do seu filho. Ela deu o sorriso mais lindo do mundo. E só então percebi que também estavam no quarto meu pai de um lado e Regina do outro. Ela estava com uma expressão esquisita e o doutor Augusto também. Ai, Jesus, o que será que tinha acontecido? Quando fui colocado na cama, o enfermeiro conferiu o soro, pediu que não me cansassem muito e disse que qualquer coisa era só apertar um botão próximo a cama. Assim que ele saiu, meu pai foi logo falando: — Meu filho, como pedi a Deus que você ficasse bem. Não tenho mais idade para estes sustos. — Pai, eu sou casca dura. Estou bem, apenas com uns cortes a mais e tenho certeza de que o senhor é bem forte ainda. — Olhei para Regina que ainda estava no canto e a chamei: — Linda, venha aqui. Preciso de você perto de mim. Acho que já teve o prazer de conhecer meus pais. Ela sorriu de forma tímida e chegou ao meu lado. Deu um sorriso, passou a mão em meu rosto e falou: — Conheci sim, Bruno. Eles são muito gentis. Você está sentindo alguma dor? Precisa de algo? — Preciso sim. Prender quem fez isto comigo. Foi ele, não foi? Meu pai interferiu na mesma hora: — Ele quem, Bruno? Meu filho, o que está me escondendo? Fui salvo por minha mãe que pediu que meu pai não me pressionasse, pois eu precisava descansar. Nesta hora, o telefone do quarto tocou e era a recepção do hospital dizendo que eu tinha uma visita. Informaram que era proibida a permanência de mais de três pessoas no quarto e que caso fosse receber, alguém precisaria descer. Meu pai disse que precisava dar uns telefonemas e saiu. Fiquei eu, mamãe e Regina um olhando para o outro. Até minha mãe dizer: — Regina, me desculpe, mas ele é o seu ex-marido, não é? Antes que ela respondesse, eu disse:

— Sim, mamãe, mas não quero que vocês se envolvam nisto. Regina não tem culpa de ter se casado com um louco. Ela respirou fundo e disse: — Dona Luiza, eu sei que vocês como pais, não querem isto para o filho. Acredite, eu tentei evitar, mas não deu. Sou mãe também e sei o que sentiu. Não estava gostando do rumo da conversa e interferi: — Ele não é homem, mamãe. Se fosse, não me enfrentaria com uma arma, na calada da noite. Se ele honrasse suas calças e a farda, ficaria cara a cara comigo. Eu não vou deixar barato, pode ter certeza disto. Estava ficando nervoso e sentindo dor, quando a porta do meu quarto abriu e ela apareceu. Nunca na minha vida imaginaria vê-la naquele hospital. Vi tudo vermelho. Quem a chamou? Ela era louca? Como teve a cara de pau de aparecer? Então, ela era a visita? A maldita ainda sorriu para mim de forma meiga. Minha vontade era levantar daquela cama e empurrar ela porta afora. Antes que eu falasse alguma coisa, mamãe foi até ela e a abraçou. Foi levando Marcela até a minha cama. Regina estava encostada perto da cabeceira com a mão no meu ombro. A rebelde estava com jeito que tinha chorado, mas as lágrimas dela não iam me amolecer. Eu estava com ganas de matá-la. Ela tentou segurar minha mão, mas eu puxei. Antes que ela falasse alguma coisa, eu vociferei: — O que você faz aqui? Quem te chamou? Mamãe disse brava: — Meu filho, não faz isto. Pelo amor de Deus, o que deu em você? — Mamãe, ela sabe o que deu em mim. Marcela, eu não quero você aqui. Por favor, vá embora. Se você queria ver se não morri, já viu. Agora, some daqui. Comecei a ficar muito nervoso, o aparelho que estava ligado ao meu dedo começou a disparar e mamãe abraçou a maldita e saiu com ela do quarto. Eu fiquei totalmente descontrolado, agitado mesmo. Regina tentou me acalmar, mas não conseguiu. Então, ela chamou a enfermeira. Minha pressão foi às alturas. Fiquei totalmente louco, meu coração disparado. Que ódio, por que aquela mulher apareceu logo agora? Tudo doía em mim e para me acalmar a enfermeira me deu um remedinho daqueles sossega leão. Meu mundo apagou.

***

Marcela Eu cheguei naquele hospital com o coração na mão, não sabia como Bruno iria me receber. Portanto, eu não estava preparada. Ele simplesmente me expulsou do quarto. A mãe ainda tentou me consolar fora do quarto, mas foi impossível. O pior de tudo foi ver uma mulher no quarto. Ela era linda e tinha um ar maduro, não se alterou e ficou segura ao lado dele. A mãe dele me levou até a porta do elevador. Eu consegui segurar minhas lágrimas até chegar ao carro de Alejandro que me esperava. Quando ele me viu, abriu a porta para que eu entrasse, mas antes mesmo dele dar a partida, eu desabei. Chorei como nunca havia chorado antes, era uma sensação de perda. No fundo, eu ouvia uma maldita vozinha em minha cabeça: “O que esperava, dona Marcela? Você não deixou ele se explicar, agora aguenta”. Alejandro respeitou meu tempo. Dirigiu em silêncio até que eu me acalmasse. Percebi pelo percurso que estávamos indo para o apart hotel. Deixei me conduzir, estava devastada. Subimos para o quarto em silêncio. Eu ainda fungava e ele se mantinha sério. Quando chegamos, ele entrou sem falar nada, me levou ao seu quarto, me sentou em sua cama e agachou em minha frente. Segurou meu rosto me fazendo olhar para ele e disse: — Hermosa, suspeito que não foi como imaginava. Eu estou aqui. Sei que antes de mim, existe ele. Não estou aqui para competir com ninguém, já passei desta fase. Só vou dizer uma coisa: quando quiser que eu pare, basta me avisar. Antes que eu pudesse responder, ele levantou e foi em direção ao banheiro me deixando sozinha no quarto. Ouvi o barulho do chuveiro, eu me senti sufocada, presa. Precisava de ar. Resolvi deixar um bilhete para ele e saí.

Alejandro, Você é um sopro de ar em minha vida, mas preciso ficar sozinha por hoje. Não sou uma companhia legal neste momento. Obrigada por cuidar tão bem de mim. O que me deixa tranquila é saber que amanhã é um novo dia e eu vou estar fortalecida. Desculpe-me por presenciar uma cena

tão deplorável. Você não merece isto. Beijos de sua louca parceira de dança.

Desci o elevador com uma baita vontade de chorar. Resolvi andar pelas ruas da minha cidade. Acabei parando em frente à Praça da Liberdade. Aquele era um ligar lindo, que me dava paz. Sentei por lá e fiquei pensando em minha vida maluca. Sinceramente, não sabia o que fazer. Alejandro era o homem que toda mulher pediu a Deus, mas eu não era parâmetro de comparação com nada. Eu era um ser único e complicado demais para entender. Por outro lado, agora eu havia perdido Bruno também. Eu já tinha visto ele com mulheres antes, mas nada como vi naquele hospital. Aquela era uma pessoa centrada, adulta, sem as minhas inseguranças e saber disto estava me deixando com tanto medo. Porém, nada ia adiantar, já que ele não queria me ver. O jeito era continuar levando a minha vida. Vou aproveitar que estamos chegando ao final do ano e aceitarei o presente de Natal do meu pai. Eu iria para Nova Iorque, não seria possível acompanhar Alejandro para seu Natal em família como ele havia me convidado. Não estava pronta para um relacionamento tão sério. Posso parecer a mais maluca de todas, mas acho que minha idade permite este comportamento doido que nem eu entendo. Já era noite e eu precisava voltar à minha realidade. Eu havia desligado o celular, queria paz e tinha certeza de que Valentina me ligaria. Não queria conversar nem mesmo com minha amiga. De uma coisa eu tinha certeza: ver Bruno tão vulnerável naquela cama e com uma mulher ao seu lado mexeu demais comigo. Andei mais um pouco, tomei um táxi e voltei para casa, pedindo a Deus em uma prece silenciosa que me desse um caminho a seguir.

Capítulo 40

Corações enganados

Bruno

As coisas aconteceram de forma meio tumultuada após meu atentado. Fui obrigado a deixar a investigação sobre os casos de exploração sexual que o juiz pediu. Caso contrário, meu pai iria me matar. Ele estava muito protetor e eu já estava cansado de tanta confusão. Elias acabou sendo preso no próprio batalhão de polícia e foi obrigado a se submeter a um tratamento psiquiátrico. Depois da prisão e do início de sua terapia, acabou aceitando o divórcio. Fico pensando até que ponto ele era um homem mau, ou somente um infeliz que ficou desequilibrado frente à profissão altamente estressante. Comigo e Regina as coisas continuavam acontecendo, na verdade depois que expulsei a loira do hospital, as coisas não ficaram mais tão intensas entre mim e ela, se é que me entende. Ela era uma mulher madura, com uma filha e percebeu na cena que assistiu que eu amava a maldita mulher. Além disto, existia uma criança que não podia se envolver tanto comigo como estava acontecendo. Éramos agora como amigos com benefícios. Saíamos juntos, jogávamos sinuca, transávamos e ríamos juntos, mas nunca deixávamos Camila perceber. Aquela mulher marcada por uma relação conflituosa preferiu não se envolver além daquilo. Eu respeitava sua decisão, até mesmo porque no fundo eu ainda amava Marcela. Meus sentimentos estavam apenas adormecidos.

As festividades de final de ano foram uma loucura em minha família. Todos os nossos parentes do Sul vieram para a casa dos meus pais. Eu confesso que não estava muito em clima de festa, apesar de tudo em minha vida estar funcionando como deveria, eu andava me sentindo estranho, meio antissocial mesmo. Eu revezava entre meu flat e a cobertura. Desde a maldita apresentação de dança que eu fui obrigado a ir com Regina, pois o banco dela era o financiador do espetáculo, que minha vida havia virado ao avesso. Assistir Marcela dançando com o maricas acabou com meu juízo. Foi a apresentação mais erótica que já vi em minha vida. E o que acabou comigo foi perceber a sintonia entre os dois. Eu tentei muito disfarçar minha raiva, mas foi impossível. Então as coisas esfriaram. Devido a isto, ela acabou aceitando o convite para ir aos Estados Unidos com Camila, iriam passar as férias na casa da irmã que morava em Miami. Ela me convidou, mas eu não quis ir, tinha muitos processos em andamento. Bom, este foi o argumento que usei e estava tentando me enganar com ele também. A verdade era que eu não estava me sentindo bem, por mais que eu tentasse, não conseguia ficar bem. Para piorar, eu voltei a beber como um louco e o doutor Augusto me infernizava por isto. O assunto das festas girou em torno do casamento do meu primo e sua Valentina. Estavam todos eufóricos e animados. Eu me alegrava pelo meu primo, o cara que eu mais amava neste mundo. Depois das festividades, meus pais tiraram umas férias e foram para Florianópolis para a casa dos meus tios. Aproveitei e deixei a cobertura por conta do casal melado. Eles mereciam um pouco de privacidade, afinal o ano tinha sido pesado para os dois. Ela com o final da graduação e ele com o do mestrado. Fui para meu refúgio, meu flat. Lá eu podia extravasar, ficar jogado e beber sem ninguém para me irritar. Tinha esperanças de que o Ano Novo fosse um pouco melhor, este era meu consolo.

***

Marcela Depois daquela maldita visita ao hospital, eu ainda fui obrigada a me encontrar com Regina em um banheiro de um shopping. Aquela idiota era muito exibida e acabou não prestando. Melhor

não comentar. As coisas ficaram um pouco estranhas entre mim e Alejandro. Passamos uns dias afastados, mas depois acabamos voltando a nossas noites calientes. Ele era muito gostoso e engraçado, impossível resistir. O espetáculo de dança foi o dia mais lindo e impactante da minha vida. O meu receio concretizou. Bruno foi assistir junto com sua nova amiga com benefícios. Minha sorte foi que eu só o vi após a apresentação. O ponto alto do evento foi a apresentação final onde eu e Alejandro dançamos a música que simbolizava o encontro perfeito dos corpos nas relações sexuais. A música escolhida havia sido Til the cops come knochin, de Maxwell. Uma canção belíssima que por si só já exalava sensualidade. Meu espanhol estava lindo com uma calça e uma camisa preta que ficava perfeitamente colada ao seu corpo maravilhoso. As pessoas eram preconceituosas com homens no balé contemporâneo, mas ali estava um belo exemplar de macho alfa em sua melhor performance. No final quando as luzes da plateia se acenderam, foi que o vi. Ali estava Bruno, em uma das primeiras fileiras, lindo com seu terno preto. Meu coração falhou várias batidas, mas a excitação do sucesso não me deixou abater. Para minha sorte, ele não fez como da outra vez. Simplesmente foi embora com o restante das pessoas que estavam ali somente para prestigiar e se entreter com um espetáculo de arte. Depois daquela noite, aconteceu a festa de final de ano da academia. Fizemos amigo oculto, dançamos e nos divertimos muito. Alejandro iria viajar para Espanha e eu para os Estados Unidos. Ele não estava muito feliz com minha decisão, mas acabou aceitando. Eu não estava preparada para conhecer a família de ninguém e ele não merecia ser enganado. Conversei com ele e expliquei que só iria com ele a qualquer lugar quando estivesse inteira. Pronta para ele. Como o cavalheiro que era acabou entendendo. Despedi-me de Valentina com a promessa de voltar rápido, seriam somente vinte dias. Ela iria passar as festividades entre sua família e a de Pedro, que por sinal era a mesma de Bruno. Ela me levou ao aeroporto e somente lá me contou que a amiga velha do tourão havia viajado para passar quarenta dias em Miami. Juro, minha vontade foi não embarcar e correr atrás dele, mas minha amiga não deixou e me vigiou até a porta do avião. Ela tinha razão: o melhor mesmo era aproveitar o presente que meu pai tinha me dado e gastar uns dólares. Afinal, conhecer a terra do tio Sam era meu sonho. Foi assim que entrei naquele avião, deixando um ano complicado para trás e com a esperança renovada de que dias melhores com certeza chegariam para mim.

***

Regina Depois de presenciar aquela cena no hospital, resolvi dar uma desacelerada em meus encontros com Bruno. Na verdade, minha vida não se tratava somente de mim. Eu tinha uma filha e precisava tomar cuidado para não prejudicar a saúde mental dela. Ela já estava encantada demais com ele. Naquele dia que ele expulsou a Marcela do quarto e ficou totalmente descontrolado, vi na hora que aquilo chamava-se amor. Eu não era nenhuma menina e pude perceber o quanto ele estava envolvido. Basta dizer que ele nunca quis tocar no assunto. Meu ex-marido estava em tratamento, as poucas vezes que nos encontramos fiquei triste em ver como o homem que eu tanto amei estava perdido. Um dia que fui visitá-lo ele chorou como uma criança. Cortou meu coração. Ele me pediu perdão por tudo que tinha me feito passar. Claro que o perdoei, nós tínhamos uma história juntos e ele me deu o melhor presente que alguém podia me dar. Minha pequena, linda como um anjo. Em nossa conversa, ele me disse que o estresse da profissão tomou conta do seu ser e ele se perdeu. Contou algumas situações que enfrentou no seu cotidiano, que nunca tinha me contado antes. Fiquei assustada com tamanha violência que ele presenciava no seu dia a dia. Não comentei nada com Bruno, mas o pior momento foi o dia que encontrei com a maluca da Marcela no banheiro do shopping. Assim que ela me viu no espelho passando batom se aproximou de mim e disse: — Você é a Regina, não é? — Sim sou eu, Marcela, não é este seu nome? — Você sabe que é. Foi bom te encontrar sozinha, assim posso falar com você. — Acho que não temos nada para conversar. — Ah, temos sim. Eu não sei se você sabe, mas aquele touro tem algumas preferências peculiares e não assume compromisso com ninguém. Pode desistir, querida.

— Olha, Marcela, eu conheço os gostos peculiares de Bruno e posso te dizer que gosto muito. Quanto a compromisso, "querida", fique tranquila não é este meu objetivo. — Você está perdendo seu tempo, linda. Aquele homem me ama. Ele implorou por mim. — "Linda", não estou vendo ele com você agora. Hoje mesmo vamos sair para uma noite quente na sua suíte preferida de BDSM. Não sei se uma menininha mimada como você aguenta um homem daquele. Nesta hora a maluca voou para cima de mim e me deu um tapa no rosto. Claro que revidei na hora. A coisa só não ficou pior porque o segurança entrou na hora e nos separou. Foi muito desagradável, acabamos na administração do shopping e passei a maior vergonha da minha vida. Como entramos em acordo e não fizemos queixa ficou por aquilo mesmo. Saí daquele shopping com ódio mortal daquela maluca, mas acabei em gargalhadas insanas no meu carro. Meu Deus, a que nível fui descer. Eu nunca iria contar aquele episódio a ninguém, pois preferia morrer a assumir que briguei com uma pirralha louca em um banheiro. Depois daquela loucura, eu estava decidida. Bruno serviria apenas como um amigo para uma foda bem dada e nada mais.

Capítulo 41

Quando a vida resolve nos surpreender

Bruno

A vida estava do mesmo jeito, sem grandes mudanças. Eu trabalhava, lutava na academia e me matava de tantos socos, saía com Regina, com o pessoal do banco ou da minha firma, bebia muito e, às vezes, via a rebelde desfilando com o maricas. Sempre que eu a encontrava, era um duelo de olhares. Eu tinha ganas de matar aquela maldita. Aquilo me dava ódio. Eu estava cada dia pior, não estava me reconhecendo. Descontava minha fúria na luta, na bebida e no sexo. Sim, eu e Regina estávamos frequentando bastante a suíte de BDSM do meu motel favorito. Na verdade, nós dois descarregávamos no sexo a tensão de nossa vida tumultuada. Cada dia que assistia a relação doentia de Elias em relação à ex-esposa, eu tinha mais certeza de que casamento não era para mim. No fundo eles tinham uma coisa meio simbiótica, eu percebia que apesar de muito madura, ela, às vezes, tinha algumas recaídas e ficava depressiva. Eu até entendia, ela tinha vivido uma vida com ele e, com certeza, ele não foi sempre o lobo mau da Chapeuzinho. Sempre acreditei que em qualquer relação havia os dois lados da moeda. Nunca havia um culpado sozinho e nem uma vítima solitária, era uma relação de codependência de ambas as partes. Era muito comum em relacionamentos violentos um alimentar o leão do outro. Não sei se me entende, mas como advogado já tinha visto muitos casos onde um precisava da loucura do outro. Somente Freud para entender.

Depois que descobriu que Regina era minha cliente e o atentado foi com o ex-marido, meu pai não me deu mais paz. Jogava em minha cara o tempo todo que eu tinha errado ao me envolver com uma cliente, que fugia do nosso código de ética e blá-blá-blá. Estava difícil aguentar a chateação. O pior aconteceu em um dia que eu estava quieto em meu escritório com uma dor de cabeça daquelas que deixam qualquer um insano, quando o doutor Augusto resolveu invadir minha sala como um tornado, reclamando da linha de defesa que eu estava tomando no caso de um figurão de Campinas. Sinceramente, eu estava cansado das intromissões do meu pai, ele não entendia que eu era adulto. Tudo bem, eu confesso que nos últimos dias eu estava agindo como um adolescente. Vivia bebendo, me atrasando para alguns compromissos e o mais longe da firma possível. Sabe quando você começa a enlouquecer? Você sabe que o que está fazendo é nocivo a sua vida, mas não consegue parar. Eu estava vivendo assim. Todos os dias, quando eu deitava em minha cama, pensava: que merda eu estou fazendo comigo? Porém, era mais forte eu. Voltando a meu pai, ele já entrou em minha sala aos gritos. Como eu estava sob o efeito de uma noite de álcool gritei também. Foi a primeira vez que levantei a voz para meu pai, pois sempre discutia com ele em um tom baixo. Vi que ele se assustou, porém não parou. E foi aí que o caldo entornou. Ele me irritou tanto que juntei minhas coisas, levantei, fui até a porta da minha sala e aí fiz uma coisa que até hoje me envergonho. Olhei para ele e disse: — Sabe, pai, eu que deveria ter morrido no parto. Quem sabe meu outro irmão não seria o filho que o senhor tanto quis? Ou melhor, deveria ser pai do meu primo, ele é perfeito como o grande doutor Augusto. Um advogado poderoso, correto, sem nenhuma mancha em seu invejável currículo. Quer saber, papai? Cansei. Não vou mais para Campinas amanhã, sou um bêbado irresponsável. Pede para seu querido sobrinho ir no meu lugar. E me faz um favor: esquece que eu existo. Falei todas estas asneiras, não dei tempo de ele falar nada e sumi da sua vista. Como vê, fui cruel demais. E paguei um alto preço por minha imaturidade. A vida é assim, basta um segundo para colocar tudo a perder. E, às vezes, não tem volta.

***

Marcela

Segurar a ansiedade de Valentina estava quase impossível, minha amiga estava uma pilha de nervos com a chegada da formatura e do casamento. Para piorar a situação, o maluco do Bruno havia brigado com o pai e o Pedro precisou viajar para Campinas em seu lugar. Outra coisa que estava deixando minha amiga desesperada era a possibilidade remota de eu ir com Alejandro para a Espanha. Eu estava muito indecisa, mas ainda não tinha descartado a possibilidade. Acordei cedo no dia da formatura, pois minha amiga e sua mãe me buscariam para irmos ao salão. Depois almoçaríamos no shopping. Era um almoço de meninas e Valentina não sabia, mas iria ganhar seu sonhado anel de formanda. Nosso almoço decorreu de forma leve e emocionada. Confesso que minha amiga e suas intuições malucas estavam me deixando doida. Naqueles últimos dias, ela vivia conversando comigo à noite e falando de sonhos, de angústia, de medo do que viria pela frente e eu tentando o tempo todo acalmá-la. Tenho medo dos pressentimentos dela, pois nunca era coisa boa, só tragédia. No entanto, eu precisava mostrar a ela que tudo ficaria bem, mesmo que eu não tivesse tanta certeza assim. Depois do almoço conversamos mais um pouco, andamos pelas lojas do shopping e eu falava sem parar. Na verdade, meu objetivo era distrair Valentina que já tinha chorado ao telefone com Pedro na hora do almoço. Sinceramente, eu estava começando a ficar apreensiva também. Elas me deixaram em casa e despedi da minha amiga prometendo não me atrasar nem um segundo para a esperada colação de grau. Dei um forte abraço nela e senti como seu coração estava agitado. Entrei em casa e fiz uma pequena prece para que nada acontecesse. Deitei um pouco em meu quarto, ouvindo música. Eu amava me perder em minhas canções favoritas. Acabei cochilando um pouco e acordei com meu celular tocando como louco. Atendi meio sonolenta e quase enfartei quando ouvi a minha tia, mãe de Valentina. Em prantos, ela disse: — Marcela, aconteceu uma tragédia. Pedro sofreu um acidente de carro e neste momento Valentina saiu como uma louca sozinha em seu carro para o hospital. Pelo amor de Deus, pede a sua mãe para te levar para lá, eu estou saindo daqui agora. E, minha filha, reze, pois o policial me disse que foi grave. Desliguei o telefone no automático, peguei a primeira blusa de frio que vi pela frente,

coloquei uma bota, pois o dia estava frio e saí feito uma louca. Mamãe não estava em casa, então peguei o primeiro táxi que vi na rua. Meu Deus, eu sabia que os pressentimentos dela não iam prestar.

***

Bruno

Naquele dia havia ligado para o meu primo mais cedo. Na verdade, eu estava com uma baita dor na consciência por ter feito o que fiz com ele. Eu sabia que era a formatura de Valentina, não devia nunca ter brigado com meu pai daquele jeito. Ter feito ele ir em meu lugar foi cruel e egoísta da minha parte. O cara era tão gente boa, que liguei para me desculpar e ele estava tranquilo. Falou que eu e meu pai precisávamos nos acertar, pois a vida era uma só e não valia a pena brigar com quem amamos. Pedro falou ainda que ele me amava, mesmo com meu jeito maluco de ser. E para completar, ainda disse que tudo na vida tinha uma razão de ser, que se ele estava tendo a oportunidade de ajudar eu e meu pai, ele se sentia honrado por isto. Nossa, morri de vergonha, o homem era muito melhor do que eu pensava. Despediu dizendo que me amava como um irmão e que ainda iríamos rir disto quando ficássemos velhinhos. Não sei o que aconteceu comigo, mas desliguei o telefone com um nó na garganta, uma vontade de chorar, uma dor em meu peito. Senti uma sensação ruim e não gostava de me sentir assim. Acabei me distraindo com as audiências, até que recebi a pior ligação da minha vida. Meu primo estava entre a vida e a morte em uma sala de cirurgia. Meu mundo parou, meu coração falhou, eu precisei sentar para não cair. Como assim? Ele estava voltando para casa, eu falei com ele. Mamãe me explicou o que aconteceu e eu saí feito um maluco para o hospital. Sinceramente, eu era o culpado. Se meu primo morresse, a culpa era minha, de mais ninguém. Subi feito um louco para o andar que me indicaram, quando cheguei ao corredor do centro cirúrgico, senti minhas pernas bambearem. Precisei encostar-me à parede, para me apoiar. Foi quando vi Valentina vindo em minha direção como uma fera e só lembro de sentir um tapa em meu

rosto. Ela me olhou com ódio e disse: — A culpa é sua! Toda sua! Seu egoísta. Eu te odeio, Bruno. Você é culpado! Seu primo vive arrumando suas bagunças, agora ele está morrendo em um centro cirúrgico porque você é um merda que não cresce, que pensa que o mundo gira ao seu redor. Eu te odeio! Reza para o Pedro não morrer, porque se acontecer algo com ele, eu vou te amaldiçoar todos os dias da sua vida. Ela me batia, socava e gritava, totalmente descontrolada. E eu? Simplesmente aceitei, eu merecia tudo aquilo, a culpa era minha. Quando eu não aguentava mais de desespero, eu a abracei entre soluços, mas ela me empurrou dizendo que não se comovia com minhas lágrimas. Foi seu irmão Alexandre que a tirou de perto de mim. Fiquei devastado. Eu daria tudo para estar no lugar de Pedro. Ele não merecia isto, eu sim. Cada tapa, soco e palavra eram pouco para o perfeito babaca que eu havia me tornado. Minha vida era uma verdadeira comédia trágica. Pela primeira vez, estava sem ação, queria sumir. Tentei descobrir algo, mas nenhuma notícia era certa. Meus pais estavam no hospital e tentavam em vão ajudar acalmar a noiva do meu primo. Ela estava sofrendo tanto e ver seu estado estava me ferindo profundamente. Ela não merecia aquilo, já tinha sofrido tanto. E o pior de tudo, que Pedro sempre me dizia dos medos dela, agora estava ali, acontecendo e eu era o único culpado. Depois do médico nos dar as piores notícias possíveis, eu estava sem rumo pelo corredor, quando Marcela veio até mim e disse: — Bruno, você não é culpado. Eu te conheço. Sei que está se martirizando. Vamos embora, não há mais nada que possa fazer aqui. — Marcela, você não entende? O caso era meu, eu iria àquela viagem, não Pedro. Então, eu sou sim o culpado. Quem tinha que estar naquela UTI era eu, não ele. Ela me olhou e disse: — Não pense assim. Fatalidades acontecem o tempo todo, você sabe disto. Pedro é forte, vai sair desta. Venha comigo. Deixe-me cuidar de você, por favor. Estava me sentindo perdido e derrotado pela vida, sem forças para reagir. Ela segurou minha mão e eu simplesmente me deixei levar. Quando chegamos ao térreo do hospital, ela me perguntou onde estava meu carro e eu lhe mostrei. Ela conduziu toda situação. Pediu-me a chave e disse que me levaria para casa. Porém, quando entramos no carro, não consegui me segurar.

Chorei como criança, a dor era grande demais para eu conseguir me controlar. Ela não disse nada, apenas me abraçou forte. E ali nos braços de Marcela, sentindo seu perfume e calor, eu decidi que não havia outro lugar no mundo para mim.

***

Foram os dois piores dias da minha vida. Aquela experiência me fez tomar um novo rumo. Depois que Valentina conversou comigo e me perdoou, foi libertador. Ela abriu meus olhos e me impulsionou para uma nova vida. Fortalecemos nossos laços e eu prometi que a ajudaria enfrentar qualquer coisa ela precisasse. Já havia passado sete dias do acidente do meu primo e o maluco tinha decidido voltar para Florianópolis sem a noiva. Pedro estava totalmente transtornado por não conseguir sentir nada da cintura para baixo e, sinceramente, se fosse eu também estaria louco da vida. Entretanto, deixar a mulher da vida dele mesmo com o médico afirmando que sua paralisia não era definitiva, aí já era burrice. Cheguei a ter uma conversa complicada com ele, mas de nada adiantou. Este era um dos defeitos dos homens da família Fernandes: eram teimosos.

Capítulo 42

Rumo ao Sul

Bruno

Muitas coisas aconteceram nos trinta e cinco dias antes do casamento do meu primo com sua brava. Foram muitas lágrimas e sofrimento entre os dois. Graças ao bom Deus eles se acertaram. Tudo bem que precisou de um empurrãozinho dos nossos amigos, mas no final valeu a pena. Entre mim e Marcela, não havia mudado muita coisa. Depois do dia que ela me resgatou da ira de Valentina, nos encontramos algumas vezes no hospital, mas ela estava focada em cuidar da amiga que precisava mais dela que eu. Como tudo na vida têm os dois lados, assim que meu primo sofreu o acidente, ela e o maricas romperam. Ele voltou para o lugar de onde nunca deveria ter saído. Eu estava me mantendo quieto usando de estratégia, pois no Sul eu iria reconquistar a loira para sempre. Ela ia conversar comigo nem que fosse amarrada. Já estava na hora de acertarmos os pontos. Precisava enxergar as coisas pela visão dela, pois ela era nova e eu já tinha aprontado muito na minha vida até amadurecer. Se é que eu podia dizer que já tinha amadurecido. Por isto, eu estava tentando raciocinar e entender aquela maluca. Alguém ia precisar ser o adulto da relação. Depois de tudo que passei, principalmente assistindo todo o sofrimento do meu primo, percebi que a vida era curta demais para perder tempo com bobagens e orgulhos bobos. Eu ia atrás do meu objetivo e ele tinha nome: Marcela. Entre mim e Regina, as coisas já não iam muito bem desde o final do ano e depois que ela

resolveu dar uma segunda chance ao marido, eu tirei meu time de campo. Incrível como minha experiência em casos como este não serviu de nada quando eu me envolvi com ela. Quase todos os casos de violência doméstica que nós atendíamos terminavam com o casal reatando. Pelo menos foi bom enquanto durou, ajudamos um ao outro. E, sinceramente, eu torcia para que tudo se resolvesse, por ela e pela pequena Camila. Faltavam doze dias para o casamento, quando recebi uma ligação do meu amigo de Florianópolis. Ele estava enlouquecido por ter descoberto uma tragédia bárbara que aconteceu com a irmã quando ela tinha dezesseis anos. Disse ter descoberto que quatro caras estupraram Francine, filmaram tudo e a ameaçaram. Falaram que caso alguém soubesse do fato, eles fariam um filme editado e colocariam na internet. Caio estava transtornado, precisei de muita sabedoria para acalmá-lo. Depois liguei para meu primo, que me disse estar muito preocupado com o que nosso amigo poderia fazer. Ele me pediu para viajar antes da cerimônia, pois sozinho não conseguiria evitar mais uma tragédia. Combinei com ele que em dois dias estaria em sua casa. Terminei alguns casos que eu precisava na minha firma, passei algumas orientações a minha secretária e a alguns advogados e parti rumo a Florianópolis.

***

Marcela O acidente de Pedro fez tudo mudar em minha vida. Foi um divisor de águas, pois eu não podia continuar com meu plano de passar uma temporada me aperfeiçoando em dança na Espanha. Para ser bem sincera, eu não estava nem um pouco segura quanto a minha viagem. Quando aconteceu a tragédia eu precisei ajudar minha irmã. Eu não podia deixar Valentina naquele momento. Além disto, no dia do acidente, eu fiquei tão envolvida em apoiar minha amiga e depois em cuidar de Bruno, que esqueci totalmente de Alejandro. Sim, acredite. Literalmente, esquecido no hospital. Enquanto ele foi a lanchonete buscar um café para mim, eu presenciei o estado deplorável que o tourão se encontrava e só pensei em tirá-lo de perto de Valentina. Está bom. Sei que foi um absurdo, mas infelizmente aconteceu.

Depois disto, o espanhol não era menino, era um homem. Ele me procurou, me agradeceu por tudo, disse que eu tinha sido um presente em sua vida, mas que cada um precisaria seguir seu caminho. Falou ainda, que sempre soube que não era ele e sim o brasileiro que domava meu coração. Chorei na despedida, mas aceitei. Ele não merecia uma mulher pela metade como eu. Ainda estava perdida, precisando me encontrar. Naquele dia horrível do acidente, ver Bruno tão vulnerável, abandonado e perdido mexeu comigo. Quando ele chorou em meus braços, pensei que ia ter um troço. Você pode imaginar o que é ver um homem como aquele chorando em seus braços? Nossa, confesso: a coisa mais linda e mais triste de se ver. Partiu meu coração em mil pedaços presenciar aquela cena. Quando eu o abracei forte, podia sentir seu coração em meu peito e aquilo quebrou algo dentro de mim. Era como se ali eu estivesse no meu lugar. E aquela sensação fundiu meus parafusos que já eram meio soltos. Fiquei literalmente assustada. Foram dias muito difíceis, mas conseguimos vencer. Eu e o maluco do touro nos estranhávamos às vezes, mas eu sentia algo novo nele. Um Bruno mais centrado, maduro e seguro. Para falar a verdade, eu que provocava ele sempre. Eu tinha medo do que ele me fazia sentir. Não sabia explicar muito bem. Acho que era um sentimento de vulnerabilidade, de estar totalmente nas mãos de alguém. Bom, a verdade é que estaríamos todos no Sul. Um lugar lindo, mágico e propício para um encontro. Quem sabe?

Capítulo 43

Caça aos criminosos

Bruno

A chegada à ilha foi tensa. Meu amigo estava a ponto de fazer uma besteira. Eu já havia acionado alguns detetives amigos meus, que eram especializados no mercado negro da internet. Eles tinham criado um perfil falso nas redes e estavam em busca de vídeos de estupro para comércio. Infelizmente, estas coisas nojentas eram comuns na rede. Os bandidos contratavam profissionais em proteger os equipamentos usados contra rastreamento, mas meus amigos eram os caras. Caio queria estar comigo no dia da negociação, mas eu não permiti de jeito nenhum. Aquelas pessoas eram criminosas e já tínhamos armado todo um esquema de escuta junto à polícia civil e militar. Eu estaria com o equipamento em meu corpo, protegido por um colete à prova de balas e muitos policiais estariam à paisana. O encontro seria em uma boate nada decente e segura, mas seria o ideal para os infiltrados da polícia. Tudo tinha sido muito bem feito. O dono da espelunca já havia sido informado que seu estabelecimento seria fechado caso não cooperasse. Claro que ele decidiu ajudar a polícia. O combinado com os quatro caras na internet foi um valor absurdo. Eu estava sob o disfarce de um playboy irresponsável que vendia filmes pornôs por meio de contrabando. Para que os quatro estivessem juntos, negociei pagar uma fortuna para que assinassem um termo de cessão passando os direitos para mim.

Eu cheguei primeiro que os malditos e sentei em uma mesa estrategicamente preparada. Pedi um uísque duplo, para segurar minha vontade de voar no pescoço dos caras e colocar tudo a perder. Passaram dez minutos e os quatro infelizes chegaram rindo e falando alto. Precisei respirar fundo para controlar minha ira e entrar no personagem de Tom Mayer, este seria meu nome de playboy. Assim que chegaram, nos cumprimentamos como os homens fazem quando querem impor respeito. Apertos de mãos fortes e um olhando no olho do outro. Quem falou primeiro foi o tal do Ricardo, o que enganou Francine. Ele deu um sorriso debochado e disse: — Então, você é o tal do Tom? Entrei na malandragem dele: — Em carne, osso e muito dinheiro. Trouxe minha encomenda? Vou logo dizendo que antes de comprar quero ver se a vadia é gostosa como falaram. — Primeiro o dinheiro, depois o vídeo. Resolvi blefar: — Acho que você ainda não entendeu bem, meu caro amigo. Eu tenho outros vídeos muito bons para compra. Foi bom negociar com você. Levantei e ameacei ir embora, quando ele comprou minha jogada: — Calma aí, “amigo”. Vamos conversar. Eu posso te garantir que a loirinha era uma delícia. — Você ainda não entendeu. Eu não tenho tempo para conversar. Não negocio assim. Sua última chance de mostrar a porra do vídeo com a gostosa, caso contrário estou indo para outra transação mais lucrativa que a sua. Os amigos se entreolharam e um deles disse para Ricardo parar de fazer hora e mostrar o vídeo mesmo. Juro. Eu não estava preparado para ver o filme. Ver a irmã de Caio sendo brutalmente estuprada foi doloroso demais, mas precisei engolir minha repulsa, controlar meus batimentos cardíacos, pois ainda precisava do documento assinado. Estava enxergando vermelho, mas me mantive forte e falei: — Bonitinha, magra demais. Vamos resolver isto logo, não tenho o dia inteiro pela frente. Ainda vou comprar mais dois outros. — Joguei a isca para ver o que eles falavam. — Temos mais vídeos à disposição. Muitos de virgens. Temos uma pequena linda de doze

anos. Vamos ao nosso estúdio. Somos sócios e proprietários de uma agência de modelos. Naquela hora vi a oportunidade de acabar com eles. Eu precisava dar um sinal a todos os envolvidos que eu iria com eles. Eu sabia que era arriscado, mas não ia perder aquela oportunidade. Não dei a resposta rápido, pedi uma cerveja antes e fiz um sinal imperceptível para o garçom que era um infiltrado. Bebi na própria garrafa, limpando a boca no antebraço. Precisava pensar rápido em uma forma de inserir o endereço na conversa para que a equipe se antecipasse: — Assim que terminar minha cerveja iremos. Se o seu material for mesmo bom, compro tudo. Única condição: vamos com o meu carro. Não entro em carro de estranhos. — Sem problemas. Iremos no seu carro. — Sério? Você é dono de uma agência de modelos? Bem propício. Bela sacada. — Juro eu nunca precisei de tanto autocontrole em minha vida. A vontade de socar aqueles babacas era muito grande. Olhei para ele de forma cínica. — Afinal, empresário das gostosas, sua empresa fica em qual endereço? — Fica em uma casa antiga, de construção linda na rua Das Camélias, bem no centro de Floripa. Fácil de achar. O nome é bem sugestivo: Sonhos eternizados. O imbecil falou o nome e todos deram uma gargalhada. Meu Deus! Minha adrenalina estava a ponto de colocar tudo a perder. Acho que um dos policiais que estava próximo, disfarçado de garçom, percebeu que eu estava em meu limite e se aproximou da mesa perguntando se queríamos algo mais. Fiz um sinal negativo com a cabeça sem dar atenção. Terminei a cerveja lentamente indiferente. Foi o tempo que eu sabia ser necessário para que os policiais se organizassem. Eles tinham que chegar ao endereço antes. Assim que recebi um pequeno sinal do “garçom”, pedi a conta e saímos para o meu carro. No caminho preferi me manter calado. Coloquei um rock no último volume para conseguir domar meus instintos animais. Pelo retrovisor era possível ver os carros que me seguiam a certa distância. Eu sabia que estava fazendo uma loucura em mudar os planos assim, mas pela minha experiência, eu tinha certeza de que só com o vídeo de Francine as coisas ficariam brandas para eles. Como eu queria que todos mofassem na cadeia, preferi arriscar. A ação foi muito mais rápida que eu imaginava. Chegamos à agência, que era de muito bom gosto, com estúdios e funcionários como deve ser todo negócio legal, porém ali na sombra de

empresários de respeito estavam quatro bandidos da pior espécie. Eles me mostraram toda a instalação até que me levaram para o escritório deles. Eu ia conversando o tempo todo, de modo que os policiais acompanhassem tudo por meio da escuta. Assim que entramos, ele abriu um cofre onde estava um notebook de última geração e dois dispositivos de armazenamento. Meu coração começou a bater descompassado, eu não ia conseguir, era demais para mim. Ricardo ligou o computador e o primeiro vídeo que ele abriu era uma cena aterrorizante e cruel com uma menina que mal tinha corpo ainda. Naquela hora eu perdi totalmente o juízo, avancei para cima deles como uma besta humana. Contei com o benefício do inesperado e só não ficou pior, porque os policiais invadiram o escritório naquela hora. Foi uma cena de filme. Antes de ser contido pela equipe que estava naquele cerco, eu consegui fazer alguns estragos no belo rosto do maldito Ricardo. Minha sede era nele, pois Caio me contou como tudo aconteceu, foi o falso amigo que atraiu Francine para tamanha crueldade. Depois da invasão, tudo aconteceu muito rápido, pois tínhamos uns trinta homens na operação, inclusive alguns repórteres parceiros que fariam muito bem o trabalho deles. Todos foram presos. A polícia recolheu tudo que pudesse servir de prova no inquérito policial e, inclusive, isolou a agência para que nada fosse retirado de dentro. Não preciso dizer que foi um escândalo, pois a prisão dos quatro fez com que as vítimas começassem a aparecer e denunciá-los. Fiquei feliz com o desfecho de tudo. Sei que foi arriscado, mas não conseguiria dormir se não fizesse algo. Assim que cheguei à casa dos meus tios, precisei contar e recontar mil vezes como foi a operação. Meu tio, pai de Pedro, chamou minha atenção dizendo que fui audacioso demais, mas reconheceu que, graças à minha loucura, aqueles quatro mofariam em suas celas por muitos anos. Depois de cumprir minha missão, nos concentramos em aproveitar o famoso casamento do século. O casal mais lindo e açucarado do mundo. Ainda iria ajudar meu primo no seu projeto show dos caras mais gatos do Brasil e também surpresas no altar.

Capítulo 44

Incendiando você

Bruno

As coisas andavam a mil por hora, minha tia Valquíria estava enlouquecendo a todos com os preparativos para o casamento. Eu estava em um projeto secreto com meu primo, para sua surpresa que aconteceria na igreja. Na verdade, passar uma semana com Pedro no centro de reabilitação, seria para mim uma forma de me redimir um pouco por ter causado o acidente dele. Mesmo com ele afirmando que eu não era culpado, que não conseguíamos mudar o destino, não conseguia me sentir assim. A culpa me corroía por dentro. Então, estar com ele naquele momento, era muito bom para acalmar meu coração. Eu estava contando as horas para que Marcela chegasse. Sentia uma saudade absurda daquela rebelde. Todos os dias desde o dia que ela me levou do hospital, eu pensava nela sem parar. Precisava arrumar um jeito para acabarmos com tantos conflitos. Na verdade, eu sabia que precisávamos conversar. Sabia que tinha ido longe demais com ela. Fui um verdadeiro egoísta, sempre raciocinando melhor com a cabeça de baixo. O problema era que desde o dia daquela pizzaria, ela me desafiava. No começo era puro jogo de sedução. Gostávamos de pisar em um terreno perigoso, um sempre provocando o outro. E como mamãe sempre me alertava, acabamos nos machucando. Eu esperava, sinceramente, que não fosse tarde demais para nós dois. Depois de tudo que passamos, não queria correr nenhum risco de perder a loira para sempre. Ela era importante demais para mim. Amava aquela mulher e não

iria mais desistir, até que ela me ouvisse.

***

Marcela Enfim chegamos à famosa e maravilhosa ilha de Floripa, o verdadeiro paraíso na terra. Estávamos todos muitos felizes, pois depois de tudo que passamos era impossível não festejar muito. Eu estava bem ansiosa para estar tão próxima do meu touro. Quer dizer, não era meu mais e nem sabia se um dia seria. A festa de despedida de solteira de Valentina foi perfeita. Nossa, a apresentação que os meninos fizeram foi maravilhosa. Eles estavam muito lindos. Meu Deus era uma fábrica de perfeição e o maldito touro estava selvagem. Muito gostoso todo de preto e tocando perfeito como só ele sabia. Minha amiga Valentina chorou, dançou e emocionou a todos com sua dança no colo de Pedro. Durante toda noite, Bruno me vigiava feito águia. Ele tinha algo diferente no olhar. No finalzinho ele me chamou para dançar, eu já ia dar uma má resposta, mas minha amiga interferiu e eu acabei aceitando. Nossa, dançar com ele foi um momento intenso, pois sentir seu perfume tão de perto, sua pele, seu coração batendo... Foi difícil de resistir. Dançamos a música Dois, de Paulo Ricardo. Parecia armação do destino, pois dançávamos e ele ia cantando no meu ouvido com uma voz rouca. Meu pai, eu iria enlouquecer. Assim que a música acabou, ele me convidou para irmos a um pub. Eu não aceitei, mas como Bruno era Bruno, ele insistiu e eu acabei aceitando. Queria ver até onde ele chegaria naquela noite, porém eu estava com muitas saudades dele. O problema que junto com a saudade, o desejo e o sentimento que eu não tinha coragem de falar, eu também sentia medo. Depois daquela noite louca, teria sempre receio do que ele podia inventar. Entretanto, ali estava eu, entrando no carro dele e me deixando levar.

***

Bruno Cantar na despedida de solteiro de Pedro e Valentina foi maravilhoso. Porém, o melhor mesmo foi poder ver a loira linda e gostosa para caralho. Meu Deus, eu precisava daquela mulher. Ela me completava, eu tinha certeza. Que merda, como eu fui tão burro e coloquei tudo a perder. Agora eu precisaria dar um jeito de me acertar. Foi graças à intervenção da minha prima bravinha que consegui dançar com a rebelde. A música foi muito propícia ao momento. Cantei durante o tempo todo no ouvido dela. Como era bom sentir a suavidade e a explosão daquela mulher nos meus braços. Convenci Marcela a sair dali comigo, a levaria em um pub lindo da ilha, aquela noite seria nossa. Eu precisava, a saudade era grande demais. Escolhi uma mesa no canto mais confortável e aconchegante do lugar. Eu parecia um adolescente perto dela, não sabia muito bem por onde começar. Ela estava com um olhar desafiador para o meu lado. Como sempre altiva e terrível. Comecei falando: — Quanto tempo não sentamos sozinhos, não é, rebelde? — Verdade, Bruno. Andamos por caminhos tortuosos demais, não acha? — Sim, porém caminhos simples demais são difíceis de ser encontrados e, às vezes, dificultam a visão de quem encontra. — Já que ela queria falar em códigos, eu entraria na dela. — Bruno, você sabe que não tenho freio na língua. Então vou direto ao ponto. Por que você me levou para a cama com outra mulher? Puta que pariu! Direta como uma bala. Não estava esperando aquela pergunta, mas seria a minha chance. Peguei meu celular e, porra, quis morrer naquela hora. Não. Não. Não. Ele estava descarregado. Porra! Não acreditei que aquela merda tinha me deixado na mão logo naquela hora. Respirei fundo, olhei para ela e disse uma besteira qualquer: — Marcela, eu sabia que você iria gostar. Quis te mostrar uma experiência nova, só isto. Deu vontade, simples assim. — Não adiantava falar das mensagens, ela não iria acreditar. Ela bebeu todo o seu suco, sorriu para mim de forma diabólica e disse: — Sabe, tourão, estou com saudades de você. Vamos sair daqui. Que tal irmos para um

lugar mais reservado? Até me assustei com a proposta, mas eu não ia recusar. Nunca iria. Eu estava com muita vontade de amá-la lentamente, beijando cada pedaço do seu copo e enlouquecendo aquela mulher. Pedi nossa conta ao garçom, segurei sua mão e a levei dali. No carro fui em silêncio, mas coloquei para tocar uma música que tinha ouvido nos últimos dias e me lembrava dela. A música Diz para mim, do Gustavo Lima, era muito parecida com o sentimento que eu nutria por ela.

“Desde o início você esteve tão presente E eu só te evitando Estou do outro lado, as coisas mudam com o tempo E hoje não vivo sem você”

Coloquei a música para tocar, olhei para ela e disse: — Loira, presta atenção nesta música, por favor. Ela sorriu de forma meiga e assentiu com a cabeça. Marcela era uma menina, tentando se disfarçar de mulher perigosa e fatal. Ela exercia um encantamento sobre mim. Naquela noite ela ia conhecer outro Bruno. Escolhi a suíte mais linda do motel, que era o quarto Grécia. Tinha colunas brancas lindas, uma piscina com uma decoração lembrando Helena de Tróia em seu famoso banho em águas translúcidas. Assim que entramos no quarto, eu a sentei em uma cadeira, segurei seus cabelos para trás e disse em seu ouvido: — Linda, hoje quero você sem pressa. Vou te amar como merece. Vou beijar cada canto do seu corpo, vou sentir seu gosto e me saciar de você. Senti tanta falta da sua pele, do seu toque, do som da sua risada. Você entranhou em minha essência, loira, foi difícil ficar sem você. Falei tudo isto, enquanto beijava seu pescoço, sua nuca, era maravilhoso vê-la arrepiando e tentando vencer seu desejo. Eu segurava seus ombros, mordia devagar sua pele das costas, lambia

a coluna, cheirava seus cabelos e ela gemia. Era o melhor som do mundo. Fui abrindo seu vestido nas costas e ele desceu pelo seu corpo lindo. Ela estava entregue e eu totalmente louco. Duro como ferro, precisei usar de todo controle para que durasse mais um tempo. Continuei beijando seu pescoço, enquanto minhas mãos iam segurando seus lindos seios. Falava em seu ouvido que ela tinha me feito tanta falta, eu não queria esconder nada. Eu estava ali, despido de alma para ela, precisava conversar, eu sabia, mas sentia falta demais dela. Meu corpo queimava por ela. Ela ofegava com os olhos fechados, eu percebia que lutava com aquele momento, mas eu queria que ela quebrasse todas as barreiras e se soltasse. Conduzi a linda para a cama, deitei sobre ela e a beijei. Ela correspondeu o beijo à altura. Aliás, não era um simples beijo, nos devorávamos, sedentos um do outro. Porra, como eu senti falta daquela diaba. Ela literalmente entrou em meu sistema, de uma forma avassaladora. Fui descendo minha boca em seu corpo. Beijei seu pescoço, dava pequenas mordidas, fui descendo para o seu seio e ela contorceu na cama, era maravilhoso sentir novamente seu gosto. Seu seio rosado era lindo, me deixava louco. Sua barriga era meu lugar sagrado, adorava seu gosto. Ela gemia e se movia embaixo de mim. Fui descendo até sua calcinha. E puta que pariu, era a coisa mais linda do mundo. Uma peça preta e dourada, feita para enlouquecer os homens. Eu tirei da forma mais lenta que minha ansiedade permitiu. E ali era o meu paraíso pessoal. Eu a lambi lentamente, ela sussurrava palavras insanas e eu estava louco. Eu degustei aquela especiaria como se fosse o melhor sorvete do mundo, aliás, o seu sabor era o melhor. Era bom demais sentir aquela mulher em minha boca, entregue, doce como mel. Ela se contorcia, eu segurava seu quadril e a penetrava com minha língua. Eu mal me aguentava de tanta vontade de estar dentro dela, mas queria prolongar aquilo ao máximo que conseguisse. Quando ela entrou em êxtase, eu fiquei louco. Arranquei minha roupa e entrei nela, com toda minha saudade, vontade, desejo e sentimento. Juro. Foi surreal. Eu pensei que nunca mais ficaria com ela assim. Aquela mulher era minha vida, decididamente eu não ia desistir dela, ah, mas não ia mesmo. Passamos a noite um dentro do outro. Marcela estava quietinha demais. Eu perguntei o que estava acontecendo. Ela disse que sentiu minha falta, que era só isto. Ainda tentei conversar, mas a loira começou a me agarrar e acabamos de novo um dentro do outro.

Dormimos um enlaçado no outro quase às cinco da manhã. Coloquei o celular para despertar as oito, pois seria meu primeiro dia com Pedro na reabilitação e não queria me atrasar. Assim que acordamos, ela me deu um sorriso doce. Eu mal tinha pregado o olho, olhava para ela adormecida em meus braços e sonhava em tê-la para sempre, mas algo me dizia que não seria tão simples assim. Mais uma vez não usamos nenhuma proteção. Era incrível, como eu nunca fazia sexo desprotegido com ninguém, mas com ela era tudo diferente. Sempre. Trocamos de roupa em silêncio e novamente disse que precisávamos conversar. Ela desconversou e me beijou, dizendo para irmos logo para não nos atrasarmos. Eu estava desconfiado que a loira iria aprontar algo, eu conhecia aquela peça rara. Porém, eu estava pronto. Não desistiria fácil. Quando deixei a loira em casa, perguntei se podíamos sair de novo, eu precisava esclarecer as coisas com ela, mas a maldita disse não. Eu perguntei por que tinha saído comigo então? Ela saiu do carro, parou na janela e disse: — Deu vontade de fingir ser sua submissa. Adeus tourão. Ela falou isto e saiu correndo. Eu comecei a rir sozinho no carro. Aquela era minha diabinha loira. Imprevisível, mas também terrível. Ela deu a mesma resposta que eu dei a ela um dia. Meu Deus, era uma menina, que eu ia adorar ver se transformar em uma mulher forte e destemida. Eu ia observar de longe, até o momento certo de fazer algo. E eu ia agir, estava decidido.

Capítulo 45

Emoções e reações

Marcela

Foram sete dias tensos e intensos. Os preparativos do casamento eram desgastantes para mim, imagina para os noivos. Eu encontrava sempre com Bruno e o que me irritava era seu jeito seguro e confiante. Ele estava diferente, mudado, como se tivesse mais maduro, mais sereno. Sinceramente, aquela nova versão dele mexia demais comigo e me dava mais medo ainda. Eu não sei o que eu tinha. Às vezes, à noite, me lembrava do pavor que senti no dia que ele levou os tiros. Foi horrível. E eu tinha certeza de que amava aquele maldito touro, mas não sabia como agir, como dar o primeiro passo. Na verdade, eu ia fazer uma loucura, a minha insegurança era tão grande que tive a péssima ideia de contratar um acompanhante de luxo para desfilar comigo no dia do casamento e aproveitei para passear com ele um dia antes. O homem era desenhado à mão, preparado para matar qualquer um de inveja e despeito. Eu estava com um plano fixo de fazer ciúmes em Bruno. Está bom, eu sabia que era o cúmulo da infantilidade, mas eu não tinha freios. Valentina já havia me alertado que medir forças com Bruno era perigoso demais e que ele não jogava para perder. Minha amiga insistiu em me dizer que Bruno e Pedro conversaram e ele estava disposto a mudar por mim. Claro que morri de rir. Até parece que o touro iria mudar por alguém. Depois de rir como uma louca, ouvi o maior sermão da minha vida. Val disse que as pessoas crescem,

percebem as coisas e que Bruno havia sofrido muito com o acidente e tinha mudado. Fiquei ainda mais assustada, mas preferi fugir. Eu já tinha feito meu primeiro contato com o Heitor. Ele seria o provável amigo que eu contrataria. Eu tinha marcado um encontro com ele naquela tarde. Assim que cheguei à sorveteria onde tinha marcado, quase enfartei. Puta que pariu! O cara era muito lindo. Ele se apresentou e conversamos sobre as minhas necessidades, que era basicamente desfilar com ele um dia antes e no dia do casamento. O papo fluía de forma fácil. Além de lindo, o cara tinha uma voz divina e era muito educado. Ficar encantada com ele não era difícil. Combinamos tudo e nos despedimos. Sabia que estava me metendo em uma encrenca, mas não queria recuar. Estava decidida a fazer aquilo. Na verdade, queria mesmo era testar o maduro Bruno que minha amiga tinha dito. Queria ver como ele faria vendo meu desfile com Heitor. Agora nosso jogo seria uma verdadeira partida de xadrez, quem tivesse a melhor estratégia levaria o prêmio.

***

Bruno Até tentei sair com meu primo e nossos amigos para uma despedida de solteiro que todo homem merece, mas titia atrapalhou meus planos. Sinceramente, a bravinha tinha mesmo arrebatado o coração de todos. Tia Valquíria inventou um jantar e violão para a última noite de Pedro. Não tive escolha e fui obrigado a aceitar. A noite estava muito agradável, até que eu vi uma cena de terror. Marcela chegou com um cara bombado, ostentando dinheiro e nos apresentou como amigo dela. Que porra era aquela? Que amigo? Onde conheceu o tal amigo? Ela fez questão de me provocar, apresentou o cara a todos e do mesmo jeito que chegou como uma ventania saiu. Fiquei louco de ciúmes, até pensei em tomar todas, mas eu não era mais aquele idiota. Chamei os caras para darmos uma volta pelas ruas de Floripa. Logo Valentina se alarmou e me pediu para não beber todas, pois no outro dia era o casamento. Eu garanti a ela que não faria nada e que não iria ficar bêbado. Aquela baixinha tinha conquistado um lugar no coração

de toda família. E eu não ia decepcionar. A única coisa que queria fazer era tomar um ar com meus amigos solteiros e distrair um pouco a cabeça. Pensar no que Marcela e seu “novo amigo” estavam fazendo estava mexendo comigo.

Capítulo 46

O casamento

Bruno

O casamento do meu primo foi um grande acontecimento, com todas as emoções possíveis e impossíveis. Ver que ele conseguiu realizar sua surpresa de forma primorosa mexeu muito comigo. Porra, foi necessário me concentrar para eu não chorar como um bebê desmamado. Entretanto, não deu para evitar que meus olhos ficassem marejados. Era muito amor. Eu amava aquele cara e ver que superou tudo foi a maior alegria da minha vida. A choradeira foi geral na igreja e os votos dos dois a coisa mais linda que já ouvi. Eu nunca gostei muito de cerimônias de enlace matrimonial, mas aquela foi surreal. Marcela estava deslumbrante como madrinha, eu tentava não olhar para ela, mas falhava miseravelmente. Percebi que, às vezes, ela também me olhava, porém bastava eu encará-la para não continuar segurando o olhar. Como eu queria aquela mulher. Nunca fui muito de rezar, mas naquele dia rezei, com toda a minha fé, pedindo a Jesus que me mostrasse um caminho, que me ajudasse a não cometer mais nenhuma burrada e, principalmente, que meu amor fosse suficiente para nós dois naquele momento. Eu tinha certeza de que a maluca tinha medo de reconhecer o que sentia, era como se ela tivesse pavor de reconhecer que amava alguém. Depois de todo o ritual comum aos casamentos, saímos para a melhor parte: a festa. Eu estava preocupado com o que a maluca ia fazer e se ia aparecer com o cara de comercial de

roupa. Durante todo o percurso eu ia pensando o que ela estava planejando, porque eu tinha certeza de que ela ia aprontar. O salão escolhido estava perfeito em sua decoração. Caramba, minha tia era muito boa no que fazia. Meus pais estavam muito felizes, pois amavam Pedro como filho e sofreram muito com tudo que aconteceu com ele. O irmão de Valentina fez uma homenagem linda a ela, encheu o local com fotos como em uma exposição. As flores davam um toque especial ao ambiente, dando um ar encantador. Quando os noivos chegaram, foram recebidos por bolinhas de sabão e a música Ela é demais, de Rick e Renner, encheu o ambiente e dei a maior gargalhada do mundo, porque sabia que era coisa dela, minha rebelde. Claro, que o mais novo casado da cidade, pediu a palavra. Ele disse algo assim: — Agradeço a todos vocês, nossos amigos, por estarem conosco nesta noite importante de nossas vidas. Eu cresci ouvindo mamãe dizer que a valsa dos noivos é o momento mais esperado da noite. Como eu quero que minha princesa viva tudo que ela merece, eu vou dançar com ela, mas não vai ser uma valsa como as outras, porque esta será a nossa valsa. E como hoje, graças a esta pequena guerreira, já consigo brincar com tudo que passei, vocês terão o prazer de assistir a nova modalidade de valsa da cadeira. Espero que gostem. Eu não aguentei e precisei gritar: — Este é meu primo, superou as pedras do seu caminho. Ele é o cara! Todos riram, era uma alegria só. O casal mais fofo do mundo dançou a valsa Lago dos Cisnes e deram um show mesmo com a cadeira de rodas. Depois passaram de mesa em mesa, distribuindo abraços, fotos e muitos sorrisos. Tudo estava perfeito até eu ver a visão do inferno, a maldita toda saliente com o engomadinho das passarelas. Eu precisei respirar muito fundo e virar um copo de uísque. Eu percebia que a mulherada babava no cara quando ela o apresentava. Não contente em desfilar com o babaca, a abusada começou a dar um show de dança na pista para o infeliz. Claro que não ficaria assistindo o showzinho dela, eu ia revidar. Olhei à minha volta e vi duas loiras peitudas, que, segundo os caras, eram filhas de um desembargador. “Facinho, facinho”, palavras dos amigos. Sentei com as platinadas saídas de uma revista masculina e comecei a conversar com elas, mas, sinceramente, um papo idiota, pois elas pareciam não ter cérebro. Na verdade, estava

odiando fazer aquilo, mas eu precisava, porque não podia fazer uma besteira no casamento. Quando vi os dois agarrados dançando uma música lenta, não aguentei. Decidi abalar as estruturas da rebelde, eu sabia como atingi-la. — Boa noite a todos, eu peço um minuto de sua atenção para que eu possa fazer um pequeno discurso. Eu quero dizer que este cara que casou hoje é como um irmão para mim. De todas as maluquices que já fiz em minha vida, e olha que foram muitas, não é, doutor Augusto, a que mais me doeu foi ter sido o responsável pela viagem do meu primo. Aquele acidente não teria acontecido se eu não fosse tão imaturo, mas, como uma valente menina me disse, nada na vida acontece por acaso. Eu sei que hoje sou outro homem, graças a você, Valentina, eu voltei a ser o melhor amigo do meu pai, o homem que eu mais admiro neste mundo. “Graças a você, doce bravinha, eu conheci a força de um amor. Quem dera se todos os homens deste mundo pudessem conhecer o amor desta forma, mas acredito que somente poucos são merecedores. E você, meu primo, merece tudo que tem e conquistou. Eu sempre estarei aqui, cara, para você. E você, bravinha, continue esta mulher guerreira e determinada, que chega a ser mais forte que todos os homens deste lugar juntos. Eu te amo, cara, sempre. Agora chega desta coisa meio açucarada, porque eu sou um macho alfa e estas coisas meigas não combinam comigo. Vou aproveitar a oportunidade para agradecer a minha amiga Marcela por tudo que ela me ensinou, mesmo sem perceber. Agora aproveitem a festa, pois eu peço licença a todos para me retirar, porque outra festa me aguarda. Um brinde aos noivos!” Fui até o casal que eu mais amava, beijei a testa dos dois, falei que a noite era uma criança e que eu iria aproveitar em outro lugar. Passei a mão em uma garrafa de vinho, abracei as duas malucas loiras platinadas e saí da festa. Eu não ia fazer nada, só queria descontar na rebelde. Mal passei da porta do cerimonial e já estava arrependido, mas não ia voltar atrás. Parei em um pub que eu conhecia o dono, liguei para Rafael e Thiago que ainda tinham ficado na festa e disse a eles onde estava para que pudessem me encontrar. Como eu esperava, os caras chegaram em menos de quarenta minutos e já fui jogando as meninas para eles. Disse que estava com dor de cabeça e precisava ir embora. Como um louco voltei para a festa, parei o carro do lado e liguei para o João Victor, que ainda estava lá, para saber se a loira tinha ido embora. Ele me disse que ainda estava lá com o idiota. Fiquei ao lado de fora para esperar a maldita sair e ver o que os dois iam fazer. Não demorou muito e saíram. Eles não estavam de mãos dadas nem nada. Entraram no carro dele e saíram. Porra, fala sério, o cara tinha uma Ferrari? Que merda de trabalho ele tinha? Segui os dois

enfurecidos, mas não acreditei quando ele a deixou na casa de Aninha. Sem delongas, ela saiu do carro, falou algo na janela e entrou. Naquela hora não quis agir, pois estávamos com a cabeça quente. Só de saber que ela não foi para nenhum lugar com o senhor riquinho já me deixou muito feliz. Voltei para a casa de titia e fui dormir tranquilo porque a minha loira não estava nas mãos de nenhum playboy.

***

Marcela Eu não podia acreditar no que tinha ouvido daquele touro filho da puta, que ódio daquele moleque. Fui resgatada por minha amiga que veio até mim e saiu me puxando para um camarim que era reservado para a noiva. Assim que entramos comecei a chorar desesperadamente e disse: — Que ódio, Valentina, que ódio. Eu odeio aquele infeliz convencido. Quem deu a ele o direito de falar meu nome? E que história é esta que eu ensinei a ele mesmo sem saber? E aquelas vagabundas? Saíram as duas com ele para o que, uma festinha particular? Meu Deus, eu mato este homem. Eu precisei agachar de tanta dor que sentia em meu coração, Valentina me levantou e falou: — Oh, minha amiga, por que você se machuca tanto? Você não odeia este homem, você o ama. Por que fica medindo forças com ele? Bruno é do avesso, mas tem um coração maior que este mundo, mas não aceita ser desafiado como você faz, Marcela. Você precisa se decidir, amiga. O que quer da sua vida? Se não consegue esquecer e passar por cima daquele maldito dia, então esquece este homem de vez. Quero te falar uma coisa, Marcela, e quero que você reflita. Não precisa me falar nada agora. No dia que Bruno inventou de ir para a cama com você e outra mulher, você tinha o direito de escolha, você podia ter dito não. Ele não te forçou a nada, você simplesmente escolheu ficar, seu orgulho também não permitiu que fosse honesta consigo mesma. Agora, Marcela, pensa, amiga, pensa no que quer da sua vida, porque se continuarem assim, será um caminho sem volta. Eu preciso voltar para o meu marido, se recomponha, volte lá para a festa e aproveite seu resto da noite dançando com o bonitão e, se quiser, aproveite mais que uma dança, você pode.

Minha amiga tinha aprendido comigo a falar e sair me deixando sozinha com meus pensamentos. Ainda chorando fui para a pia parei em frente a um espelho e falei alto para que eu mesma pudesse ouvir: — Marcela Lins, acorda! Você ama aquele homem, pare de ser idiota e provocar ele. Vocês precisam conversar, acertar as coisas. Você precisa ouvir o que ele queria te falar aquele dia, lembra? O dia que ele te mandou uma mensagem e um vídeo? Você precisa entender por que ele fala que estava realizando o seu desejo. Ah, minha querida, cresça. E não perca mais tempo, você quer aquele touro bravo em sua arena por muito mais que oito segundos. Juro, se alguém visse aquela cena, ia pensar que eu estava maluca, mas, na verdade, só precisava falar alto e olhando para mim. Aquele pensamento estava há muitos dias rondando meu consciente. Não tinha nenhum clima para ficar com ninguém. Iria voltar para a festa, ficar mais um pouco e dispensar os serviços de Heitor. Retoquei minha maquiagem e voltei para a mesa onde o bonitão me esperava. Assim que sentei, ele ficou me olhando sério e disse: — Marcela, trabalho há tempo demais com as pessoas e sei identificar quando um casal se ama. Posso te garantir que entre você e o rapaz do discurso há muita coisa para ser resolvida. Você é uma mulher linda, com brilho próprio e altiva, mas não seja autossuficiente demais com seu coração. Não vale a pena, loira. Acredite em mim, eu trocaria todo o dinheiro do mundo para ter um amor de volta. Infelizmente, valorizei demais o que não devia. Não cometa o mesmo erro que eu. Fiquei olhando para ele, tentando digerir tudo que tinha me falando. Acabei contando minha história toda para ele, era bom poder falar com alguém que não estava envolvido. Ele foi um excelente ouvinte e no final deu seu veredicto: — Como eu disse: vocês se amam, só precisam conversar e deixar os traumas e medos no passado. Vejo na história de vocês, que quase todos os erros foram causados por orgulho ou por falta de diálogo das duas partes. E, querida, me desculpe, mas você não foi a vítima. Tinha o poder de escolha e em nenhum momento ouvi dizer que falou não para ele. Então, nobre Marcela, somos escravos de nossas escolhas. Entende? Como diz o ditado: “plantar é opcional, mas a colheita é obrigatória”. Pare de ter pena de si mesma e vá à luta, linda. Acredite, pois eu sou o resultado fracassado de uma má escolha. Hoje pago um alto preço por isto. Vamos dançar, que é o melhor remédio para acalmar o coração.

As palavras de Heitor foram sábias e nostálgicas, tive a sensação de que ele falava para mim, mas também para ele. Acabei concordando e dançamos até cansar. Depois de todas as despedidas, pedi a ele que me deixasse em casa. Quando chegamos e fui acertar seu trabalho, ele não aceitou. Disse que aquele casamento tinha sido o melhor pagamento de sua vida, pois a superação e o amor deram a ele uma nova esperança para sua vida. Beijou minha testa, piscou para mim e eu saí do carro com a sensação de que as coisas iriam se encaixar.

Capítulo 47

Correndo atrás do tempo perdido

Bruno

Voltei para Minas Gerais no mesmo voo do casal maravilha. Claro que não quis incomodar, sentei nas primeiras fileiras e eles nas últimas. Na verdade, voltei porque precisava resolver algumas coisas no escritório e não dava mais para ficar fora. Durante a viagem, olhando para a escuridão da noite, suspirei lembrando-me de tudo que eu e a rebelde havíamos vivido. Estava com o fone, ouvi a primeira música que ela dançou para mim. O coração bateu forte e uma sensação de vazio tomou conta do meu ser. Incrível como podemos fazer tantas burradas em nossa vida, simplesmente por capricho ou por achar que todas as pessoas são iguais. Como podemos acreditar que nossa vida sempre será perfeita, com tudo em ordem e dando certo. Então, na primeira desilusão, resolvemos que não queremos mais tentar e nos protegemos com uma armadura que só faz mal para nós. Era isto que eu tinha feito comigo. Isolei-me das minhas emoções, tranquei meu coração em virtude de uma regra que eu criei como defesa e só me ferrei. Encontrei uma mulher que desde o primeiro dia quebrou minha resistência, fazendo com que meu código de conduta ficasse guardado em uma caixa. Ela derrubou todas as minhas barreiras de uma forma avassaladora, desestabilizando minha paz. Nós, seres humanos, somos complicados demais. Bastava enxergar que a rebelde era a pessoa perfeita para estar ao meu lado, mas preferi dificultar as coisas e seguir pelo caminho

errado. Agora, precisava pensar numa forma de recuperar o que perdi. Chegar à minha casa sozinho foi pior ainda. Em Belo Horizonte caía uma chuva fininha, como se os céus estivessem da mesma forma que meu pensamento. Meus pais ficaram mais alguns dias com meus tios e aquele apartamento ficava tão grande, silencioso, não me fazendo bem. Tomei um banho quente, vesti um pijama confortável, fui para a sala, coloquei uma coletânea de temas de filme e fiquei por ali pensando na vida. Acabei dormindo no sofá mesmo. Comecei a semana trabalhando como um louco, era tanta coisa para fazer, que almoçava na minha sala e saía da firma por volta das vinte horas. Chegava à minha casa e desmaiava. Estava neste ritmo, até que numa tarde recebi a ilustre visita de Pedro todo feliz, com uma expressão de paz, que iluminou minha alma. Contou-me da alegria de Valentina em ver o apartamento todo mobiliado por Caio. Ele estava feliz demais, descrevendo cada cantinho de seu novo lar. Era prazeroso de ver. Depois que ele contou tudo, olhou para mim e disse: — Bom, mas não foi para isto que vim aqui. Queria mesmo era conversar com você sobre certa loira. Bruno, poucas vezes disse minha opinião sobre tudo, mas me senti na obrigação de dizer pela última vez o que penso. — Pode falar, cara, eu vou ouvir, até porque eu acredito que vou concordar com você. — Jura? Você já vai concordar assim antes de ouvir? — Acredite, eu vou. Pode dar sua sentença. Antes, só quero dizer que amo aquela rebelde, portanto economize palavras. — Que bom, então vai ser bem mais fácil dar meu recado. Bruno, vai atrás desta mulher. Caramba, vocês dois são loucos um pelo outro, resolve esta merda logo. Mostra este maldito celular para ela e diz que sua ideia maluca partiu de uma dela. Porra, vocês parecem duas crianças. Pelo amor de Deus, não aguento mais sua loira chorando as mágoas com minha esposa. Você não está nem parecendo um Fernandes. Perdeu o jeito com as mulheres, tourão? — Vá se ferrar, Pedro, que perdi o jeito o quê. Eu vou resolver isto amanhã mesmo. Agora vamos aproveitar que já acabei tudo e me leve para conhecer seu ninho de amor com a gostosa — falei isto e levei uma muletada na perna. — Porra, primo, vai devagar com esta sua arma ambulante. — Dá próxima vez que falar que minha esposa é gostosa, vou quebrar esta sua cabeça-

dura. Saímos rindo como bobos da minha sala. Avisei minha secretária que não voltaria mais hoje. Pedro ligou para a bravinha dizendo que voltaria comigo e ela não precisava buscá-lo. Passei momentos muito gostosos com o casal fofura. Minha prima fez uma janta divina e conversamos muito, rimos e nos divertimos. O apartamento ficou lindo, realmente nosso amigo e arquiteto mandava muito bem. Voltei para a casa com a certeza de que tudo daria certo por bem ou por mal, eu não desistiria.

***

Acordei decidido a não aceitar um não como resposta. A loira iria conversar comigo, mesmo que para isto eu precisasse cometer um sequestro. Depois da minha conversa com Pedro, eu mal dormi à noite pensando em tudo. Ele estava com a razão, eu não estava honrando o sobrenome Fernandes. Eu tinha desistido fácil demais. Eu amava aquela mulher e não estava disposto a ficar sem ela. Sabia o horário que ela saía da academia, fiquei de plantão na porta, até que ela apareceu. Saí do carro sem respirar, me aproximei dela, segurei o seu braço e disse: — Marcela, por favor, venha comigo. A gente precisa conversar. — Bruno, nós não temos nada para falar um com o outro. — Loira, eu prometo que esta será a última vez que te procuro, mas não antes de você me escutar. Acho que já está na hora de termos uma conversa de adultos, para que possamos esclarecer algumas coisas. — Ela ficou me olhando, parecia que estava decidindo se aceitava ou não. Sem dar tempo a ela, implorei: — Marcela, pelo amor de Deus, me escute. Só desta vez. — Bruno, eu vou com você, mas não invente nenhuma gracinha. E aproveite, pois esta será sua última chance. Mesmo contra a vontade dela, eu segurei sua mão e a levei ao carro. Na verdade, eu precisava tocar aquela mulher. Tinha muito medo dela não me aceitar de volta. Estavam sendo tempos difíceis aqueles. Já fazia quase um ano de nossa separação, aliás, do término de nossa amizade com benefícios, pois eu não cheguei a dizer a ela que queria levar a relação para um nível maior.

Eu ia levá-la ao mirante do Parque das Mangabeiras, para mim o lugar mais lindo de Belo Horizonte. Lá seria possível conversarmos em paz em um cenário deslumbrante nos abençoando. Dentro do carro, o silêncio era ensurdecedor. Isto mesmo, aquele estado que a coisa está tão tensa, que os batimentos cardíacos podem ser ouvidos. Coloquei Scorpions para tocar, eu amava suas músicas, me acalmavam. A rebelde estava muda, não parecia em nada com a boca dura de sempre. Preferi dirigir sem conversar, era mais seguro. Quando chegamos ao mirante, saímos do carro e fomos em silêncio em direção a um banco. Assim que sentamos ela disse: — Pode começar, Bruno, estou curiosa para saber o que deseja tanto me falar. — Marcela, não vamos conversar desta forma, quero tentar me explicar e entender algumas coisas. Sabe, loira, cheguei à conclusão de que começamos tudo errado e ainda estamos errando. — Jura, Bruno? Que novidade. — Marcela, não faz assim, por favor. Uma conversa de adultos, lembra? — Bruno, desde quando um adulto sai do casamento do primo carregando duas mulheres nas costas? — Eu sei, fiz muitas burradas. Em relação às duas, foi só para te provocar, não fizemos nada. Fomos para um pub, liguei para os meninos e os deixei lá com elas. Estava com ciúmes de você com o playboy, mas não rolou nada. Marcela, eu não vou enrolar. Nós começamos como se fôssemos duas pessoas adultas dispostas a fazer sexo. Posso te garantir e hoje eu sei disto, que nunca foi só isto. Desde o dia da pizzaria você entrou no meu sistema. O que era somente um jogo de sedução virou algo mais. Aos poucos nos envolvemos. Tudo bem, eu fazia algumas merdas, mas você nunca negava. Quando vi, já estava envolvido demais. Porém, você fugiu, sem rastros. Por que, Marcela? Até hoje não sei o porquê de seu sumiço. Ela me olhou magoada e respondeu: — Jura que está me perguntando isto, Bruno? Você não sabe o motivo? — Não, Marcela, eu não sei. Desde o dia que me deixou na mão na hora da viagem vivo me martirizando. — Bruno, você deixou uma mulher encostar-se em mim. Até hoje sinto nojo de mim por isto. — Marcela, eu só queria que você experimentasse tudo. Que realizasse suas fantasias. Foi você que me disse, loira.

— Eu, Bruno? Você só pode estar louco. Esta seria a hora de mostrar a conversa que ainda estava em meu celular. Peguei o aparelho, o destravei e coloquei em nossa conversa. Estendi a mão para ela, que perguntou: — O que é isto? — Quero que veja uma conversa nossa por mensagens, loira. Ela pegou da minha mão e começou a ler. Foi ficando espantada, e quando terminou me entregou. Abaixou a cabeça, vi que ela estava tentando segurar para não chorar. Até que olhou para mim de olhos marejados e falou: — Bruno, pelo amor de Deus, eu estava bêbada. Será que você não percebeu? — Percebi, loira, mas sei que nos momentos de bebedeira é que falamos nossos desejos mais profundos. — Meu Deus, então foi por isto que fez aquilo? E dizia o tempo todo que era meu desejo? — Sim. Eu pensei que você ia curtir. — Bruno, presta atenção em uma coisa que quero te dizer. Algumas fantasias nossas devem ficar só no âmbito da fantasia. A realidade não é tão satisfatória como em nosso imaginário. Eu podia até ter curiosidade, mas daí a fazer era uma distância muito longa. Você me magoou, me expôs e me humilhou. Você não tinha este direito. — Por que você não disse não? Era só dizer não, ou sua palavra de segurança “perigo”, lembra? Foi nesta hora que as coisas complicaram, ela começou a chorar copiosamente. De soluçar mesmo. Eu ainda tentei abraçá-la, ela não aceitou. Começou a andar de um lado para o outro até parar e falar: — Porque eu não tinha controle quando se tratava de você. Ainda não tenho. Você me faz mal, eu acabo fazendo sempre o que você quer. — Marcela, eu ia te pedir em namoro. Eu descobri naquele dia que a amava. Eu sofri demais sem entender o motivo de seu desaparecimento. Depois você voltou e me odiava, aí veio aquele maldito espanhol, meu atentado, o acidente de Pedro e para finalizar o casamento. Quem era aquele idiota?

— Só um amigo. Nada mais. Você já disse tudo, vamos embora. Isto é meio sem propósito. — Não disse tudo. O que quero dizer é que te amo. Amo muito mais que imaginei amar um dia, amo mais que a mim mesmo. Eu não aguento mais ficar sem você, loira. Pelo amor de Deus, vamos começar de novo. Sei que posso ser louco, às vezes ajo no impulso, mas eu te amo demais. Estou disposto a melhorar por você. Nosso maior erro foi que nunca ouvimos um ao outro. Faltava diálogo. Quero uma chance de provar que te amo e que pode dar certo. É só o que te peço. Eu falei tudo isto de pé, segurando o rosto dela para que olhasse para mim. Ela precisava ver em meu olhar que eu realmente a amava. Quando ela respirou fundo em lágrimas, eu não resisti mais. Eu a tomei em meus braços. A beijei como nunca havia beijado antes. Ali era o beijo de um homem totalmente louco por sua mulher. Era amor demais, saudade, emoção. Era tudo. No começo ela ainda tentou resistir, mas não por muito tempo. Parecia que havia séculos que eu não a beijava. Eu a desejava tanto, que quase não me controlava. Depois de muito nos beijar, acabamos indo para o meu carro. Naquela hora, o mirante estava vazio, eu podia até baixar o assento do carro e amá-la ali mesmo. Porém, eu não queria que fosse assim, queria que fosse mágico. Liguei o carro, olhei para ela e perguntei: — Você vai comigo, Marcela? Eu preciso desta resposta. Ela inspirou o ar como se precisasse de todo o oxigênio do mundo e disse: — Sim, Bruno, eu vou com você. Aquele foi o melhor som do mundo. Saí com o carro em direção ao meu flat. Marcela ainda se mantinha muito quieta, mas eu preferi dar um tempo, acho que ver as mensagens em meu celular mexeu muito com ela. No elevador o clima era de pura tensão. Eu não resisti e a beijei com muito amor, adorando cada centímetro de sua boca. Naquela noite eu cuidaria dela, para que pudesse sentir toda honestidade e segurança em meus sentimentos. Quando entramos no apartamento, fui até o equipamento de som e coloquei Slave to love, de Bryan Ferry, eu sempre quis amar Marcela com aquela música. Ela estava sentada no sofá me olhando com uma expressão assustada ou de medo, não sabia bem o que era, mas senti necessidade de falar: — Marcela, eu preciso que você me prometa nunca mais fazer nada que não a deixe confortável, basta dizer não. Eu paro na hora. Aprendi desde cedo com minha mãe, que quando uma pessoa diz não, significa nada mais nada menos que não. Sei que é difícil para você, mas

quero mostrar que pode confiar em mim. — Bruno, eu sei que erramos muito. Não foi só você, eu também errei quando não te ouvi, quando não conversamos e, principalmente, por eu ter fugido do que sentia por medo de sofrer. Eu cresci vendo as lágrimas da minha mãe e prometi para mim que nunca deixaria um homem entrar em meu coração. Aí você apareceu, eu nunca tinha forças perto de você. Era como se fosse um imã que me atraía, as coisas foram perdendo o controle e eu me apavorei. O resto você já sabe. Ela terminou sua fala com lágrimas descendo pelo rosto e aquilo tocou em mim. Eu a puxei para meu colo e a beijei de forma terna, mas que expressava todo o sentimento que nutria por ela. Minha boca clamava pela sua, nossos corpos estavam quentes, eu tirei a blusa dela, estava tão ofegante e só de vê-la assim já me deixava pronto para ela. Ela também tirou minha camisa, foi abrindo lentamente botão por botão, olhando dentro dos meus olhos, deslizando seus dedos por minha pele. Eu queimava com seu toque. Quando acabou de tirar minha camisa, desceu para minha calça, abrindo meu zíper, eu estava entregue a ela, deixaria ela me conduzir para onde quisesse. Eu levantei para que ela tirasse toda minha calça, me deixando somente com minha boxer. Depois foi a minha hora de despi-la. Retirei sua calça deixando somente de lingerie. Era a coisa mais linda do mundo. Precisava dela na minha cama, então eu a carreguei levando para o meu quarto. Coloquei a loira com todo o cuidado do mundo sobre meu colchão e comecei beijando seu corpo desde os pés até a boca. Ela gemia, fazendo força para respirar. Não cansava de sentir sua boca na minha, na verdade eu a devorava, com todo meu desejo, paixão e amor. Era tudo junto. Precisava dela nua, tirei o pouco de pano que estava entre nós e me dediquei aos seus lindos seios. Meu Deus, era como se estivesse com ela a primeira vez, pois ali estava um homem totalmente rendido e perdido de amor por sua mulher. No êxtase de nossos corpos, entre suas unhas em minhas costas, gemidos, desejo e necessidade, eu a penetrei, duro, forte e com vontade de nunca mais sair de dentro dela. Nosso momento foi tão intenso e lascivo, ela dizia meu nome que soava como música em meu ouvido. No auge de um orgasmo avassalador, gememos juntos, extenuados, mas felizes e realizados. Ficamos na cama, abraçados e acabamos cochilando. Acordamos quase meia-noite e Marcela ficou apavorada por não ter avisado a mãe onde estava. Eu pedi a ela que ligasse para dona Laura e dissesse que dormiria comigo. Fiz questão de dizer a ela que logo pela manhã eu iria conversar com minha futura sogra.

Ela me deu o sorriso mais lindo do mundo. Depois de algumas explicações dadas a sua mãe, ela acabou aceitando. Assim que minha loira desligou o telefone, a levei para minha banheira. Precisávamos de um banho quentinho e comer alguma coisa. Namoramos muito na banheira e saímos da água, famintos. Na minha pequena cozinha, conseguimos ingredientes para uma massa ao molho. Para acompanhar, bebemos um vinho maravilhoso e depois de sobremesa comemos morango com creme. Foi um momento agradável e familiar. Pela primeira vez, depois de muitos anos, senti a necessidade de ter uma família. Só naquela pequena refeição, fantasiei a rebelde como esposa e uma casa com pequenos tourinhos loiros. Uau! Até eu me espantei com este pensamento, mas era aconchegante pensar naquela cena. Arrumamos nossa pequena bagunça e fomos para a sala. Minha deusa da noite começou a ver meus filmes e escolheu um épico que eu amava: Tristão e Isolda. Assim que o filme iniciou, ela se aconchegou em mim, como uma gatinha manhosa, foi surreal aquela experiência para mim. A pequena acabou dormindo em meus braços, linda, vestida com minha camisa. A levei para minha cama e dormimos abraçados. Foi a melhor noite da minha vida.

***

Marcela Nunca imaginei que eu tinha mandado mensagens para Bruno. Quando vi aquele celular queria morrer. Meu Deus, tudo seria tão simples se eu tivesse escutado o touro antes. Como fui burra, quanto sofrimento seria evitado. Graças a Deus, ele foi insistente e me fez abrir os olhos. Foi a declaração de amor mais linda do mundo, como eu gostava de sentir a pele dele. Tão quente, macia e me dava muita segurança. Tudo foi maravilhoso, mas o momento na cozinha foi tão aconchegante, parecíamos um casal normal. Entretanto, eu sabia que podíamos ser tudo, menos duas pessoas convencionais. Bruno e eu éramos como um vulcão, pronto para entrar em erupção, seria preciso aprender a viver de maneira menos impulsiva. Apesar que ele estava apresentando uma maturidade linda de ver e viver.

Na manhã seguinte, ele fez questão de ir até a minha casa conversar com minha mãe, eu quase não acreditei quando ele lhe pediu permissão para namorar comigo. Mamãe ficou olhando séria para nós dois, até falar: — Sinceramente, vocês dois se machucaram tanto sem necessidade, bastava os dois terem tido mais humildade e conversar. Marcela, minha filha, você precisa esquecer eu e seu pai, construa sua história. Bruno, eu não sei o que aconteceu no seu passado, mas sei que algo aconteceu. Porém, meu filho, é preciso continuar. Não estava preparada para ouvir o que meu touro tinha para contar, mas ele contou para mim e mamãe tudo o que aconteceu com ele em Nova Iorque. Não pude acreditar que aquele homem tão forte, foi derrubado por uma mulher em um golpe de boa noite, Cinderela. Ele contou demonstrando sofrimento, disse inclusive que aquele episódio foi um divisor de águas em sua vida. Fiquei impactada ao ouvi-lo dizer, que não queria justificar seus atos, mas que depois de tudo, ficou com muito de receio de se sentir tão vulnerável outra vez. Desta forma, jurou nunca mais se envolver com ninguém. E foi naquele momento que eu precisei segurar as lágrimas, pois ele olhou para mamãe e afirmou com toda segurança: — Dona Laura, minha vida era muito programada até o dia que conheci sua filha. Naquele momento tudo saiu do eixo e do controle. Eu, que era o dono dos meus atos, ficava totalmente perdido diante do poder que Marcela exercia sobre mim. Perceber isto mexeu demais comigo e daí comecei a fazer todas as besteiras possíveis e impossíveis para que sua filha não me quisesse mais, porém o destino sempre nos aproximava. Até que um dia, por loucura minha e inexperiência dela, tudo desandou. Ficar sem ela, foi horrível, foi o pior ano de minha vida. O que posso garantir para a senhora, é que amo esta loira com todo o meu coração e pretendo me casar com ela. Não sou homem de meias palavras. O silêncio que se instalou na sala da minha casa foi terrível. Eu estava em estado de choque com aquele homem à minha frente. Meu Deus, eu mal conseguia respirar tamanha emoção. Mamãe quebrou o clima e disse: — Meu filho, eu tenho a sorte de ter um genro como você. Uma pessoa digna, que errou sim, mas conseguiu perceber seu erro e corrigi-lo a tempo. Eu dou minha permissão sim e abençoo vocês dois com todo meu coração. Porém, não aceito recusa, venha jantar conosco hoje. — Claro que venho. Preciso trabalhar agora, pois tenho uma audiência complicada à tarde, mas à noite estarei aqui.

Levei meu delicioso touro até a porta do meu condomínio. O senhor Ernesto ficou feliz de nos ver juntos de novo. Eu não sabia o poder que Bruno exercia sobre o porteiro do meu condomínio. Ele era encantado com ele. Sempre me falava que o “senhor Bruno era um bom homem”. Quando cheguei no carro dele fui arrebatada por um touro quente, que me devorou em seus lábios. Quando eu mal respirava, ele disse em meu ouvido: — Namorada, você ainda me deve uma viagem e eu vou cobrar. Até à noite, gostosa. Voltei para casa leve e feliz como eu nunca estive em toda a minha vida. Assim que entrei, mamãe veio atrás de mim e falou por mais de meia hora, para que eu vivesse minha vida e construísse a minha história, esquecendo-se da dela. Eu prometi que não ia fazer nenhuma besteira daquela vez, ou pelo menos eu ia tentar.

Capítulo 48

Inseguranças

Bruno

Namorar Marcela era como viver uma aventura a cada dia, ela era a pessoa mais alegre e maluquinha que eu já tinha visto. Entretanto, eu amava aquele jeito dela. Conversávamos muito, sobre tudo e, claro, nossa atividade sexual era bem agitada. Confesso que eu não tinha fugido do sexo tradicional com a loira. Estava com um pouco de receio de voltar aos chicotes. Tinha decidido não ter uma noite selvagem até ela pedir. Meus pais tinham feito questão que eu a levasse para jantar. Ela estava uma pilha de nervos, morrendo de medo de não agradar meus velhos. Besteira dela, eles eram tranquilos, já conheciam ela e sabiam de toda nossa história, mas não consegui acalmá-la. No caminho para minha casa, a loira estava muda, eu segurei a mão dela e disse: — Calma, meu amor, você verá que o doutor Augusto e a senhora Luiza são tranquilos. Você está nervosa por quê? Já conhece os dois. — Bruno, mas antes não era sua namorada. E se eles sonharam com alguém menos louca para você? — Loira, deixa de ser boba. Meus pais conhecem o filho que têm. Você é feita sob encomenda para mim, gostosa. Fica tranquila. Para distraí-la eu pedi que colocasse uma música que gostasse e fui contando minhas

audiências da semana para ela. Quando chegamos à cobertura, pensei que ela fosse cair de tanto que tremia. Graças a Deus mamãe era ótima anfitriã e foi logo deixando a rebelde à vontade. Papai também era um piadista e resolveu contar todas as minhas traquinagens de criança. O jantar estava acontecendo da forma que eu imaginava, muito agradável. Contei do último caso de família da firma, um milionário que acusava a mulher de ter dado o golpe da barriga. Era um caso daqueles desgastantes, pois envolvia pensão e uma criança. A mulher realmente me parecia estar muito interessada no dinheiro e pouco no filho, mas como dizia o velho ditado: “quando um não quer, dois não brigam”. Meu pai resolveu dar sua opinião, dizendo que achava um absurdo uma mulher alegar que em plena modernidade engravidou sem querer, para ele era sim um golpe de caso pensado. O doutor Augusto ainda justificou sua postura como sabidamente machista, mas encerrou falando que era da moda antiga e não concordava com uma união que colocasse os carros em frente aos bois. Mamãe tentou amenizar a coisa, alegando que a responsabilidade era dos dois. Como meu velho não gostava de perder, disse que para ele a mulher tinha formas de enganar o homem jurando estar com a pílula em dia. E que era inadmissível, mulheres ainda ficarem grávidas alegando inocência. Como eu sabia que na minha casa as discussões eram sempre acaloradas demais, com cada um defendendo seu ponto de vista, preferi mudar o rumo da conversa, até porque a loira estava calada demais. Comecei a falar da genialidade de Caio na decoração do apartamento do casal fofura. Das cores perfeitas, da adaptação para as necessidades de Pedro e todos embarcaram no novo tema. O restante do jantar foi mais leve. As sobremesas estavam divinas, aliás, mamãe era a melhor na cozinha. Eu achei minha delícia um pouco calada, parecendo meio aérea, aquilo estava me preocupando. Depois do jantar, fomos para o flat. No caminho ainda tentei puxar assunto, mas não fluiu, ela estava esquisita. Preferi deixar ela quieta, até chegarmos. Assim que entramos, eu a beijei porque precisava senti-la. Nossas bocas tinham urgência, senti uma coisa ruim no meu peito e não me dei conta. Puxei a loira para meu colo no sofá e fui logo perguntando na lata, sem rodeios: — Loira, o que está acontecendo? Você está muito calada, pensativa, poderia até arriscar distante. — Não tenho nada, Bruno. É impressão sua. Deve ser cansaço.

— Marcela, você me conhece. Sabe que eu não sou criança. Precisamos confiar um no outro e falar tudo, lembra? — Lembro, claro que lembro. Não tenho nada, acho que ver seus pais, me deixou com saudades de uma família que nunca tive. Foi isto. — Você tem sua família, linda. Sua mãe é uma guerreira e nós vamos formar a nossa. Teremos uma casa cheia de crianças lindas como você. — Crianças, Bruno? Eu dei a maior gargalhada do mundo com a cara dela de espanto e respondi: — Está bem, amor, duas ou três crianças. Melhorou? — Melhorou bastante doutor advogado. Acabamos rindo como bobos, mas ela não me convenceu. Recuei por estratégia, mas iria descobrir.

***

Marcela Meu Deus, desesperada era meu nome do meio naquele momento. Ouvir as teorias do meu sogro durante aquele jantar, acabou comigo. O que seria de mim? Ninguém ia acreditar na minha história. Não adiantava mais fugir, eu precisava resolver meu problema. Era impossível continuar fingindo que estava tudo bem. Aquela noite foi quase mágica, seria totalmente encantada se eu não estivesse tão preocupada. Bruno me levou para o quarto como se eu fosse de vidro. Em seus olhos eu podia ver a chama do desejo ardendo por mim. Meu touro estava lascivo, soberano em seus atos e quente, muito quente. No fundo eu sentia falta do homem selvagem que me arrebatou de vez, mas eu suspeitava que ele só voltaria a me dominar se eu pedisse. Posso garantir que era a coisa mais linda do mundo ver tanto amor em sua forma de me olhar. A cada dia eu ficava mais louca por aquele

homem, mas agora eu estava só desesperada. Voltando à nossa noite. O quarto estava na penumbra, ele me deitou em sua cama e foi para o equipamento de som. Colocou a trilha sonora do The Doors, acendeu algumas velas no quarto, retirou sua roupa ficando somente de cueca boxer branca e... puta que pariu, era a visão do paraíso. Veio andando em minha direção como se fosse um predador, pronto para dar o bote. Eu mal conseguia respirar. Ele veio engatinhando para cima de mim, me dando pequenas mordidas, lentamente, passando pelos meus seios, meu pescoço, até chegar ao meu ouvido e dizer: — Peça, loira. Eu sei que você quer. Minha nossa senhora das mulheres indefesas e de calcinhas molhadas. Era demais para mim. Ainda sem conseguir respirar direito, sussurrei: — Sou sua, touro. Faça o que quiser. Antes mesmo que eu pudesse raciocinar, ele me virou de bruços e rasgou meu vestido como se fosse papel. Minha pele incendiava com seu toque, ele prendeu meus braços acima da cabeça e mordeu cada centímetro do meu pescoço, das costas e, por fim, lambeu toda minha bunda. Aquilo era sexy, muito sexy. Eu sentia toda a pressão de seu membro duro sobre mim. Bruno deitou sobre mim, segurou meu cabelo e com voz rouca gemeu em meu ouvido: — Rebelde, você foi uma menina muito levada, aprontou muitas coisas erradas e agora penso que preciso dar-lhe uma lição. Eu ia entrar naquele jogo, eu estava louca para tê-lo em modo dominador. — Sim, meu senhor, eu sei que fui levada e mereço sua punição. Com aquele homem nada era previsível. Ele me virou novamente e me beijou com tanto amor, que eu não sabia nem como agir. Com um olhar turvo e negro de paixão, ele falou: — Loira, eu te amo demais. Você é a mulher da minha vida. Quero que prometa, que se não gostar fale “pare”. Não quero que faça nada para me agradar, mas porque você quer. Para quebrar o clima que ficou um pouco tenso, eu respondi: — Te agradar me deixa muito feliz, senhor. Estou à disposição para minha lição. Dei a resposta com a cara mais safada do mundo e recebi um sorriso diabólico daquele

homem. Ele levantou, pegou uma pequena caixa preta em seu closet, retirou de dentro dela uma venda preta, olhou para mim e disse: — Meninas más precisam ser vendadas para aprender a lição. Vou te castigar, até que me implore por alívio, rebelde. Sem poder ver nada, meu coração ficou descompassado. Senti que ele amarrava meus tornozelos e pulsos à cama, ficando totalmente aberta para ele. Minha calcinha teve o mesmo destino que o vestido, foi arrancada com a boca. Todos os meus sentidos estavam aguçados e minha pele totalmente arrepiada. Senti que ele derramou algo sobre mim, era frio e tinha um aroma delicioso. Ele começou a massagear meu pescoço, indo em direção aos meus seios, em uma leve tortura gostosa e sensual. Ele puxava meus mamilos, roçando seu membro em minha barriga, ainda podia sentir o tecido de sua cueca. Mantendo uma mão em meus seios, desceu a outra em direção ao meu local que latejava. Assim que seus dedos me penetraram, vi estrelas. O líquido que ele havia derramado em mim, gelava e esquentava ao mesmo tempo. Era uma sensação de mil estalos dentro do meu corpo. Eu gemia descontroladamente e ele dizia: — Quietinha. Eu não mandei você gozar ainda. Somente com minha ordem você pode gemer. Falava e me masturbava, me deixando louca. Então, diminuía o ritmo, deixando um sentimento de frustração. Eu sentia lágrimas saindo dos meus olhos, porque o prazer era intenso demais. De repente, senti sua boca me invadindo, me chupando vorazmente, sem me dar tempo de respirar. Sua língua literalmente me penetrava e eu ouvia ao longe ele falando que eu era a gostosa dele e só dele, que meu sabor era o melhor do mundo e foi neste momento, que ouvi ele dizendo: — Goza para mim, gostosa. Foi como se ligasse um comando em meu corpo. Foi surreal, vi mil estrelas e foi intenso, uma vez que eu não podia aliviar por estar com as pernas amarradas. Muito rapidamente, ele me soltou das cordas, me virou de costas, me deixando de quatro e me penetrou. Tão intenso e muito quente. No auge do sexo, senti um forte tapa em minha bunda. Antes que eu pudesse raciocinar, senti outro, daquela vez mais forte. Era como se ele sincronizasse as mãos e seu pau. Nossa, eu acho que já tinha gozado umas cinco vezes, quando senti que ele estava indo ao êxtase. Era o momento que eu me sentia a mais

poderosa do mundo. Rebolei em seu eixo desavergonhadamente e o segurei dentro de mim, como eu havia aprendido nos vídeos de pompoarismo. O homem foi à loucura, gemendo e me mordendo no pescoço com toda sua voracidade. Depois de muito prazer, caímos exaustos sobre a cama. Mal podíamos respirar. Ficamos abraçados até que nossa respiração foi se acalmando. Beijamo-nos intensamente, sua boca me devorava como se precisasse daquilo para sobreviver. Quando paramos, eu estava a ponto de chorar. O medo voltava a me consumir. Eu precisava falar com ele o que eu sentia, sentia que tinha que explicar algumas coisas. — Bruno, não duvide nunca do meu amor. Eu sei que sou louca, faço um monte de merda, que errei em algumas coisas, não te dei oportunidade de falar, mas saiba que eu amo você, com todo meu coração. O tempo que eu estive com Alejandro não significou nada para mim além de uma amizade. — Marcela, não precisamos falar sobre isto. Estamos juntos, isto que importa. — Não, eu preciso falar, porque quero que me entenda. Você chegou como um raio em minha vida. Era tudo brincadeira, mas antes que eu quisesse aceitar ficou sério demais para mim. Ver você com aquelas mulheres no clube despertou a ira em meu juízo. Depois o desastre da noite a três, mas o pior de todos os momentos foi ter medo de perder você e ainda te encontrar com uma mulher linda. Naquele dia no hospital entrei em pânico com medo de perder você. — Loira, você nunca me perdeu, foi o pior ano da minha vida. Já conversamos sobre isto. Por que voltar neste assunto agora? — Eu preciso. Por favor, me escute. — Estava tentando criar coragem para falar: — Bruno, quando eu fui para o Sul, eu quis me vingar. Na verdade, nem sabia direito de quê. A verdade era: assumir que te amava me deixava com muito medo e ainda acho que tenho medo. — Medo de que, meu amor? — De te perder, este é meu maior pavor nestes últimos meses. — Venha cá. Você não vai me perder. Nunca. Antes que eu voltasse a falar, ele me beijou de forma doce, terna, com a mão entre meus cabelos. Depois foi me acariciando com tanto amor, que quando percebi, já estávamos um dentro do outro. Daquela vez, lentamente, uma dança sexual harmoniosa e apaixonada. Chegamos ao orgasmo juntos, um olhando dentro do olho do outro. Meu Deus, eu estava totalmente ferrada. Não

consegui falar o que precisava. O que eu ia fazer?

***

Bruno Infelizmente precisei viajar na segunda-feira. Eu não queria viajar e deixar a loira sozinha. Ela ainda não tinha me convencido que nada estava acontecendo. Porém, eu não era mais aquele idiota irresponsável com meu trabalho. Eu a deixei em casa cedo, com a promessa de ligar todos os dias à noite. Além disto, podíamos conversar por mensagens durante o dia. Na despedida ela me beijou com sofreguidão, me abraçando como se eu fosse sumir. Senti seu coração disparado e não gostei muito daquilo. Tinha algo errado, só não sabia o quê. Assim que ela me soltou, olhei muito sério para ela e disse: — Marcela, tem certeza de que não tem nada acontecendo? Estou te sentindo muito estranha. Não pode mesmo viajar comigo? — Não tenho nada, só vou sentir sua falta. Não posso viajar com você, Bruno. Estou em semana de provas na universidade. Pode viajar tranquilo, estou bem. Acho que estou assim, porque desde que voltamos não nos separamos um minuto, mas pode ir tranquilo. Estou bem. — Infelizmente, minha loira, preciso mesmo ir, mas qualquer coisa me fala, que volto. Você é minha prioridade, sempre. — Eu sei disto. Agora vai, meu perigoso, senão vai se atrasar. Agarrei a minha gostosa com desejo, adentrei em sua boca sentindo o calor de seus lábios, o gosto de sua língua era para mim o melhor dos vinhos, o doce mais saboroso, enfim a iguaria mais rara. Aquela mulher havia me abatido para qualquer outra. Eu estava totalmente insano em relação a ela. Era como se ela fosse meu ar, minha vida. Totalmente rendido e nas mãos dela para fazer o que quisesse comigo. Viajei com uma sensação ruim em meu íntimo, como se algo fosse acontecer. No avião rezei pedindo a Deus que me preparasse para o que estava por vir, pois eu tinha certeza: algo aconteceria e não seria fácil. Precisava estar preparado para os desafios que o destino ainda

colocaria em meu caminho.

Capítulo 49

Desesperados

Marcela

Assim que Bruno me deixou em casa, eu fui direto ao laboratório. Precisava fazer um exame de gravidez. Este estava sendo meu desespero, eu estava atrasada uma semana e como eu sempre fui como um reloginho, o medo tomava conta de mim. Esta dúvida me incomodou por sete dias, mas confesso que depois do jantar com os pais dele, passei a ficar desesperada. Meu sogro tinha deixado muito claro sua posição. Ele nunca iria aceitar que eu não tinha feito nada planejado. Meu Deus, era meu fim. Eu já tinha ligado para o local do exame e me informado que eu podia fazer sem o pedido de um médico, bastava pagar. Resolvi ir caminhando, pois o simples fato de andar pelas ruas da capital me acalmava. Porém, meu medo era tão grande, que nada estava resolvendo. Entrei no laboratório sem respirar. Juro! Eu estava a ponto de desmaiar. Precisei sentar e respirar várias vezes para não entrar em uma crise de pânico. Enquanto eu esperava minha vez, mandei uma mensagem para Valentina, dizendo que eu precisava muito dela. Pedi que ligasse para mim com urgência. Vi minha senha sendo chamada, me dirigi ao balcão de atendimento e disse que queria fazer o teste de gravidez. A atendente me acompanhou até a sala de coleta. Eu tremia como vara verde. Quando vi meu sangue entrando no tubinho, cheguei a ficar tonta. Assim que acabou o exame, a enfermeira me deu um copo com água e pediu que eu ficasse um pouco quietinha até melhorar. Respirei,

inspirei e novamente respirei. Saí daquele lugar como se estivesse andando em algodão. Avisaramme que, a partir das treze horas, já era possível acessar o resultado no site, apenas usando o código que me entregaram. Ainda era cedo, não passava das nove horas. Precisava correr para a universidade, pois tinha uma prova às dez horas. Resolvi pegar um táxi, pois não tinha condições de entrar em um ônibus, estava com medo de desmaiar. Quando cheguei, fui direto para o banheiro, estava me sentindo enjoada. Depois de lavar o rosto e respirar muito fundo, minha náusea passou. Peguei meu celular e vi que havia uma mensagem de Bruno dizendo que tinha acabado de desembarcar em São Paulo. O texto era a cara do meu perigoso:

“Gostosa, deliciosa, acabei de chegar à terra da garoa. Porra, já estou com saudades, rebelde. Um beijo nesta boca linda.”

Eu li muitas vezes e comecei a chorar compulsivamente. Meu Deus, eu não ia conseguir. O que eu ia fazer? Minha sorte que o banheiro estava vazio. Depois de muitos soluços, lavei novamente o rosto, me acalmei e fui para minha prova.

***

Estava almoçando no restaurante universitário, quando recebi a ligação da minha amiga: — Valentina, por que demorou tanto para me ligar? — Desculpa, amiga, eu estava em uma reunião com alguns empresários de uma conta nova, mas, me conta, o que é tão urgente? — Eu preciso de você, irmã. Estou perdida, em um beco sem saída. Estou desesperada. — Jesus, Marcela, o que você aprontou desta vez? Pelo amor de Deus, não me fala que você e Bruno brigaram de novo. — Não, Val! Nós não brigamos. Olha, sei que está trabalhando, mas eu precisava muito de você às treze horas. Não posso estar sozinha. Você acha que consegue?

— Marcela, você está me assustando deste jeito. Faz assim, não tenho nenhum compromisso agora à tarde. Diz aonde está que vou te buscar. — Eu acabei de almoçar na universidade. Posso te esperar na entrada. O que acha? — Combinado, dentro de no máximo meia hora estarei aí. Assim que desliguei o telefone, precisei correr para o banheiro mais próximo e vomitei tudo que tinha comido. Odiava vomitar, ainda mais naquela situação, não preciso dizer que chorei novamente. As coisas só estavam complicando e, no fundo, eu só precisava de uma confirmação, mas tinha certeza de que estava grávida e ferrada. Quando Valentina chegou para me buscar, levou um susto quando me viu. Eu estava pálida e com a cara inchada de tanto chorar. Assim que ela arrancou com o carro, as lágrimas voltaram com força total. Minha amiga respeitou meu tempo, deixando que eu colocasse toda minha dor para fora. Assim que me acalmei, ela disse: — Marcela, nada é tão desesperador que não possamos resolver. Não sei o que te aflige tanto, mas posso garantir que para tudo temos solução. Você quer me falar agora, ou quando chegarmos à minha casa? — Amiga, eu preciso ficar um pouco quietinha. Quando chegarmos, a gente conversa. Minha amiga era anos-luz mais sensata que eu. Colocou para tocar seu cantor predileto Luis Fonsi e dirigiu em silêncio, como somente ela conseguia, respeitando meu momento.

***

Valentina me pediu que esperasse quietinha no sofá de sua linda sala, enquanto ela preparava um chá de camomila para mim. Segundo ela, eu precisava de um pouco de cor e a bebida ajudaria. O relógio já marcava treze horas e vinte minutos, naquela hora meu destino já tinha sido traçado. Minha amiga chegou com uma bandeja e um jogo lindo de xícaras, com o chá e alguns biscoitos caseiros. Quando ela se acomodou, eu olhei para ela e com meu jeito terremoto de ser, despejei: — Acho que você será, titia. Neste exato momento, preciso acessar o site do laboratório e ver o resultado do exame de gravidez.

Esperei a pior reação da minha amiga, mas ela simplesmente sorriu e disse: — Por que será que eu já suspeitava disto, dona Marcela? — Como assim, já suspeitava? — Simples linda. Esta história de sexo sem camisinha somente com ele, uma hora não ia prestar, não é? — Eu tomava remédio sagradamente. Não sei o que pode ter acontecido, Valentina. E para com este sorrisinho, eu estou desesperada. Você não entende? — Não. Eu não entendo o motivo do desespero. São dois adultos, se amam e vão ser pais. Não serão os primeiros nem últimos a fazer isto. — Não é simples assim. Sabe o que meu sogro disse no dia que jantei com eles? Que acha um absurdo o golpe da barriga. Que não aceita que em plena modernidade a mulher engravide sem querer e, pior, falou que um relacionamento começando desta forma está condenado ao fracasso. — Pelo amor de Deus, não pira antes da hora. Vamos ver este resultado. Qual é o site e qual sua senha? Vamos para o computador e pensar somente depois. Enquanto ela ligava o computador, eu roía o restante das unhas que ainda me restavam. A sensação de mal-estar e a ansiedade eram tão grandes, que eu não conseguia respirar. Lembreime da respiração cachorrinho, que sempre ouvi falar e tentei, mas foi em vão. Meu Deus, minha vida estaria acabada, eu não queria nem imaginar a tragédia que seria. O pai de Bruno nunca ia me perdoar e eu não ia aguentar viver com aquele fardo. Estava remoendo meus pensamentos, quando vi que minha amiga olhava para mim com uma expressão indecifrável. — Valentina, fale logo. Pelo amor de Deus, você já viu o resultado, não é? — Amiga, eu vou ser a titia mais feliz do mundo. Você está grávida, Marcela. Agora calma, por favor. Vamos estar juntas. Fiquei muda. Aquela informação ainda estava processando em meu cérebro, ou pior: era como se o mundo parasse de girar, o oxigênio tinha acabado e eu entrei em pleno colapso. Comecei a sentir um tremor, meus olhos encheram de lágrimas, eu tentei segurar, mas não deu. Chorei como nunca havia chorado antes.

Minha amiga sentou ao meu lado, me abraçou e ficou me balançando, como se ninasse um neném. Ela tinha aprendido fazer isto com Pedro, era bom, acalmava e dava uma sensação de aconchego e paz. Quando me acalmei, ela limpou minhas lágrimas com um carinho que só ela sabia fazer. — Irmã, não se desespere. Gravidez é saúde. Bruno vai ficar louco de felicidade. Tenho certeza. — Não. Você está proibida de falar com ele, ouviu? Por favor, não comente com seu marido também, senão ele contará para o primo. Val, promete que não vai falar. — Marcela, pelo amor de Deus, isto é loucura. Você não pode guardar segredo disto. — Prometa, por favor. Eu não sei o que vou fazer ainda. Você não tem o direito de falar. — Amiga, me diz que você não está pensando em tirar o bebê, não é? Se fizer isto, nunca vou te perdoar. — Está louca, Valentina? Claro que não vou fazer isto, mas ainda não sei o que vou fazer com Bruno. Preciso de um tempo. — Como assim? Não sabe o que fará com ele? Jesus, você é louca. Ele é o pai, criatura, tem direito de saber. — Sim, eu sei, mas não é você que contará. — Olha, não adianta. Você é louca mesmo. Desisto. Só quero que saiba que sempre estarei aqui. — Eu sei, amiga, eu sei. Levantei no automático e disse a minha amiga que ia embora. Ela ainda queria me levar, mas eu não permiti. Precisava ficar sozinha, andar um pouco, pensar e estar junto com ela não ia ser bom. Eu tinha certeza de que ela ia falar sem parar em minha cabeça e era tudo que não queria naquele momento. Andei pelas ruas da cidade como um robô, sem saber bem o que fazer. Era incrível como todas as mães do mundo passavam por mim, algumas ainda grávidas e felizes, outras empurrando os carrinhos dos seus bebês lindos e rechonchudos. Vê-las só aumentava o meu pânico, eu não conseguia acreditar que estava acontecendo comigo. Andei até uma praça, várias crianças brincavam com suas bolas e bonecas. Sentei em um

banco que ficava de frente para a área onde elas brincavam e novamente as lágrimas banharam meu rosto. Coloquei a mão em minha barriga, que ainda não existia, e conversei com meu bebê. — Desculpa a mamãe, neném. Não estou chorando por sua causa. É que o vovô é tão bravo, estou com medo, amor. Papai tem um coração maior que o mundo, mas eu tenho medo de como vai reagir. Não precisa se preocupar com nada, meu pequeno. Eu vou cuidar de você. Fiquei um tempo ainda alisando minha barriga. Não sei explicar o porquê, mas falar com meu anjinho trouxe paz para o meu coração. Voltei para casa mais serena, porém com uma ideia formada em minha cabeça. Parecia loucura, mas era o que ia fazer.

***

Bruno Minha semana fora não foi a das melhores. Mesmo com tudo correndo conforme o esperado no processo em que eu estava à frente sentia que minha loira não estava bem. Conversávamos todos os dias à noite e, às vezes, durante o dia, eu mandava mensagens o dia inteiro, mas ela parecia triste. Tentava me mostrar que estava tudo bem, mas não me convencia. Cheguei a ligar para Valentina, que me assegurou que não era nada de mais, mas até mesmo a bravinha não me convenceu. Na sexta-feira, à noite, eu voltaria para Belo Horizonte. Tentei antecipar meu voo, mas não consegui devido às ultimas chuvas que alagaram a capital paulista. Desembarquei por volta das vinte e duas horas, mandei mensagem para a Marcela, que não me respondeu. Mesmo com a hora avançada, eu não ia conseguir dormir sem vê-la. Ainda bem que tinha deixado meu carro no aeroporto. Fui direto para o condomínio da loira. Já na chegada, achei estranha a forma que o senhor Ernesto me recebeu. Parecia que havia acontecido alguma coisa. Assim que cheguei ao apartamento da loira, me deparei com minha sogra me esperando na porta com uma fisionomia triste. — Boa noite, dona Laura. Desculpe pela hora, mas eu precisava ver sua filha. Estou preocupado demais com ela.

— Meu filho, vamos entrar. Precisamos conversar um pouco. Sinceramente, não gostei nem um pouco daquilo. Na mesma hora lembrei-me da minha agonia durante todo o período que estive fora. Meu coração saltou em meu peito, dando-me um aviso que eu precisava me preparar para mais um obstáculo em minha vida. — Bruno, eu vou ser sincera com você. Não sei o que aconteceu com Marcela. Minha filha é teimosa e tem uma péssima mania de decidir as coisas sem conversar com ninguém. Ela deixou uma carta para mim e outra para você. — Como assim, dona Laura? Uma carta. — Ela viajou, querido, sem dizer para onde. Leia a sua carta, quem sabe ela diz algo. Sem acreditar no que tinha acabado de ouvir, peguei o envelope nas mãos dela e abri ali mesmo. Não dava conta de esperar.

Meu amor, Sei que você tem traumas de bilhetes e cartas, mas foi a única forma que consegui falar tudo que eu precisava, sem você pegar o primeiro avião e vir atrás de mim. Bruno, eu precisei viajar, me afastar um pouco da cidade. Não estou fugindo de você, mas neste momento preciso de um pouco de isolamento para pensar em minha vida. Talvez você não me entenda agora, mas eu posso te garantir que é necessário. Não duvide do meu amor. Amo você com todas as minhas forças, mas estou com muito medo de tudo que virá pela frente. Por favor, me perdoa. Não quero que você fique louco, eu vou aparecer na hora certa. Se me ama mesmo, me dê este tempo. Volto a dizer, eu precisei sair de cena. Não tente me encontrar, eu te prometo que volto. Amo você com todas as minhas forças. Beijos de sua rebelde.

Eu li e reli aquela carta umas dez vezes. Minha sogra ficou quietinha em minha frente esperando meu tempo. Dobrei o papel, coloquei no bolso do meu paletó. Respirei fundo, antes de me expressar. — O que aconteceu? Não consigo entender. Estávamos tão bem.

— Meu filho, sinceramente? Não sei. Minha filha me disse que necessitava se afastar por um tempo, que estava com medo de algo, mas não me disse o que era. Prometeu voltar em breve, mas desapareceu. Já liguei para Valentina, que jura não saber de nada, mas não acreditei. Então, Bruno, se posso te dar um conselho: espere, se puder. Ela vai voltar. — Meu Deus, esta menina quer me enlouquecer. Eu não sei o que pensar. Neste momento estou sem chão. Ainda me pede para não achá-la? Sem chance, eu vou achar esta maluca. — Bruno, eu sei que ama minha filha, então, por favor: encontre-a, pelo amor de Deus. — Pode deixar, eu vou tirar esta história a limpo agora. Despedi da minha sogra e saí direto para casa de Pedro. Valentina ia ter que me contar, nem que eu precisasse usar todo meu poder de persuasão para arrancar a verdade dela. Assim que cheguei a porta do apartamento deles, minha prima abriu a porta. — Eu sabia que receberia a sua ilustra visita, primo. — Que bom. Isto quer dizer que já sabe por que estou aqui, não é? — Tenho minhas suspeitas, mas vou logo avisando que estou no mesmo escuro que você. Entre. Vamos conversar. A visita só serviu para me deixar mais encucado ainda. A bravinha fez jogo duro, jurando não saber de nada. Aquela peste merecia o prêmio do Oscar de melhor mentirosa, pois eu tinha certeza de que estava me enrolando, mas atuou tão bem, que eu quase acreditei. Saí de lá por volta das duas da madrugada. No trânsito a caminho do meu flat, fui conversando sozinho dentro do carro: — Oh, meu Deus, rebelde. Por que você não conversou comigo? Eu te disse que precisávamos aprender a confiar um no outro. O que eu vou fazer com você? Ah, minha doce diabinha, eu vou te achar e você terá que ter uma boa explicação para me dar.

***

Marcela

Foi a semana mais difícil da minha vida. Bruno estava desconfiando de algo errado comigo, mas consegui despistá-lo com a justificativa de semana de provas finais. Não era de todo mentira, estava na última semana do semestre e tinha duas provas todos os dias. Eu estava a ponto de enlouquecer. Para piorar a situação, eu e Valentina tínhamos brigado feio quando contei a ela que ia viajar um tempo, sem falar meu paradeiro ao Bruno. Minha amiga ficou muito brava, mas eu pedi que respeitasse o meu desejo. Ela acabou dizendo que respeitaria, mas não concordava com minha atitude. Tudo bem. Eu sei que ia ser imaturo demais da minha parte, mas eu precisava. Era coisa demais acontecendo ao mesmo tempo. Na verdade, eu estava em verdadeiro estado de pânico em relação ao meu sogro. O fato de ele ter me salvado de uma prisão aos dezoito anos, sempre me fez ter receio da aceitação dele como nora. Ele nunca tinha tocado no assunto, mas eu era desconfiada de não ser a primeira opção de nora dele. Depois do jantar, tudo piorou, eu entrei em pânico. Viajei para uma pousada nas montanhas capixabas. Eu tinha umas economias guardadas do dinheiro que meu pai me mandava, além do dinheiro que mamãe insistia em me dar por ajudá-la. Apesar de ser maluca, nunca fui de gastar demais. Eu tinha uma vida tranquila, andava de ônibus, metrô, a pé e bicicleta. Nunca fui de muitos luxos, pois minha mãe lutava muito para me dar o que havia de melhor. Então, aprendi desde cedo viver sem excessos. Este local que eu havia escolhido era muito lindo. Tinha vários chalés e uma paisagem de retirar o fôlego de qualquer um. Eu conhecia a dona, pois minha mãe sempre mandava grandes encomendas de doce para a pousada. Assim que eu tive a ideia de sumir, lembrei-me desta cliente que sempre conversava muito comigo, desde novinha. Então liguei para ela e disse que precisava de um tempo longe de tudo. Ela rapidamente me convidou para uma temporada com ela e com um preço acessível para que eu pudesse viajar. Deixei uma carta para minha mãe e uma para Bruno. Eu iria ligar para eles depois, mas naquele momento eu não tinha condições. Valentina já tinha me ameaçado de todas as formas possíveis e impossíveis, caso eu não atendesse as suas ligações. Saí de casa na sexta-feira à tarde, por volta das quinze horas. Exatamente o dia que meu touro iria chegar. Estava com dor no coração, mas não sabia como fazer diferente.

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Valentina Eu queria matar a Marcela. Meu Deus, que mulher mais complicada minha irmã. No fundo, eu entendia o pavor dela, mas nada justificava aquela maluquice. Na verdade, as brigas dos pais e a separação mexeram demais com a sanidade dela. Era uma menina que tinha tudo, vivia cercada de amor, a verdadeira princesa do papai. De repente, seu mundo virou de cabeça para baixo com a demissão do chefe da família. As brigas começaram. Vieram as lágrimas, o sofrimento da mãe e a indiferença do pai. Tudo isto propiciaram que ela tivesse uma forma distorcida de enfrentar a realidade. Na época da adolescência, ela chamava atenção do mundo por meio de sua rebeldia e transgressões. Sempre teve um coração de ouro, não podia ver ninguém sofrer. Nunca ligou para luxo, levava a vida como uma alma livre. Demonstrava ser a pessoa mais alegre do mundo, mas só eu conhecia seu lado obscuro. Marcela tinha meu pai como referência, quando ele morreu, ela se perdeu mais ainda. Revoltou-se de uma forma avassaladora e começou a se colocar em risco sem nenhuma responsabilidade. Quando quase foi presa e se viu obrigada a fazer serviço comunitário, entrou de cabeça na dança e seu mundo virou. Quando conheceu Bruno, começou um jogo louco com ele. Adorava desafiar o homem, era como se alimentasse da adrenalina de viver em constante perigo, porém encontrou alguém tão louco quanto. A diferença é que ele amadureceu com o acidente do meu marido e enxergou o amor. Ela estava tentando crescer, mas quando estava no caminho, novamente viu a possibilidade da perda com as palavras do sogro e aí pirou de vez. Eu já não aguentava mais ver o sofrimento do meu amigo. Ele já tinha revirado o mundo atrás dela, mas não conseguia encontrar. Ele vivia dizendo que o próximo presente que daria a ela seria um celular com rastreador, pois ela tinha o hábito de sumir. Pedro estava bravo de ver a tristeza em que o primo se encontrava. Eu já tinha ameaçado de entregá-la várias vezes, mas ela sempre me pedia um tempo. A gota d’água foi descobrir que aquela maluca ainda não tinha iniciado o pré-natal.

Decididamente não ia mais participar daquilo. Liguei para Bruno e pedi que fosse até a minha casa depois do trabalho. Eu ia acabar com aquela palhaçada, não dava mais, alguém tinha que ser a adulta da relação e esta, mais uma vez, seria eu, porque minha amiga era sempre a criança. Precisava de limites e eu ia resolver aquilo. Eu e meu marido esperamos por ele com uma jarra de suco de maracujá. Segundo minha mãe, o melhor calmante natural. Para acompanhar, tinha feito alguns pastéis de queijo e uma torta de frango que eu sabia que meu amigo amava. Assim que ele chegou, servi o lanche na mesinha da sala mesmo e fui direto ao assunto: — Bruno, chega! Eu não vou mais compactuar da história louca de minha amiga. Você tinha razão desde o início. Eu sei onde ela está. — Eu sabia, Valentina. Você nunca me enganou, estou magoado com você, mas isto vai passar, porque sei que vai me contar tudo agora. Eu estou a ponto de enlouquecer. Espero ser uma história bem convincente. Pedro olhou para o primo com ar de deboche e falou: — Meu camarada, sinceramente. A história de vocês merecia um livro. Meu Jesus, vocês são muito complicados. Só te digo uma coisa, cara. Prepare-se e tome mais um copo de suco. Você vai precisar. — Porra! Vocês querem parar o suspense e me falar logo que merda está acontecendo? — Bruno, você vai ser pai. Minha Nossa Senhora Aparecida, isto era hora de vomitar o pensamento. Meu Deus, eu não aprendia. Quase matei meu amigo. Ele engasgou com o suco e precisou ser ajudado por meu lindo marido que adorou socar as costas do primo, morrendo de rir. — Como assim, vou ser pai? — Ah simples, cara! Você e Marcela viviam entrando um dentro do outro sem camisinha. Uma tensão sexual avassaladora. Demorou, parceiro. Agora será papai. — Cara, não é hora de brincar. Pelo amor de Deus, Valentina, me explica isto direito, por favor. Pedro morria de rir do susto do primo. Eu precisei chamar a atenção do meu menino. — Para com isto, amor. Não é hora para brincadeira. Bruno, eu vou te explicar tudo. As

coisas começaram a desandar quando você levou Marcela para jantar na sua casa. Quando seu pai disse que não aceitava mulher ficar grávida alegando ser sem querer. Que isto era golpe. Neste dia ela já estava desconfiada da gravidez e entrou em pânico. Na segunda pela manhã, assim que você a deixou em casa, ela foi a um laboratório e fez o teste. Na hora do almoço eu a busquei. O resultado saiu por volta das treze e trinta. Ela ficou louca, desesperada. Tentei de todas as maneiras retirar a ideia maluca da cabeça dela de sumir, mas como vê não consegui. Portanto, agora deu esta loucura, porque a saúde do meu sobrinho ou sobrinha tem que vir em primeiro lugar. E a maluca deve estar com uns três meses e ainda não começou o pré-natal. — Meu Deus! Eu me lembro que ela ficou muito esquisita depois do jantar e, à noite, a sensação que eu tive foi de que ela estava com medo de me perder. Porra! Como fui burro. Pedro estava impossível naquele dia. Não sei o que aqueles dois tinham que um adorava infernizar o outro. Acho que era amor demais. — Foi burro não. Corrigindo, cara. Você é burro. O único Fernandes inteligente sou eu. — Cara, eu ainda posso quebrar esta muleta na sua cabeça, pois, pelo que sei, você está com a coluna machucada, mas a cabeça não. — Pode parar vocês dois. Pelo amor de Deus, parecem duas crianças. Bruno, você quer saber o endereço da pousada que a maluca está ou não? — Claro. Agora mesmo estou indo atrás daquela loira rebelde, que vai me deixar com todos os cabelos brancos. — Ela está em uma pousada que fica no Espírito Santo, nas montanhas, próximo a Domingos Martins. — Valentina, eu nunca vou conseguir agradecer você por isto. Eu sou agora neste momento o homem mais louco e feliz do mundo. Vou atrás da minha mulher e do meu filho ou da minha filha. Passei o endereço e o nome correto do local. Ele me abraçou com os olhos marejados e saiu louco atrás do amor de sua vida. Eu não senti nenhum remorso de entregar minha amiga. Ele merecia saber. Ver a emoção em seus olhos quando se despediu foi minha maior recompensa. Assim que ele saiu, fui andando em direção ao meu marido gostoso, sentei em seu colo, mordi seu pescoço e sussurrei em seu ouvido: — Você foi terrível hoje, doutor Pedro Fernandes, acho que merece ser castigado por sua

linda esposa. — Só se for agora, minha deliciosa esposa. Entre beijos e amassos, fomos para nosso quarto para nos amarmos. Eu tinha certeza de que tinha feito a coisa certa e agora meu prêmio estava ali ao meu lado, todo para mim.

Capítulo 50

Indo em busca de vocês

Bruno

Antes de pegar estrada, eu iria conversar com meus pais. Precisava resolver aquilo antes de buscar Marcela. Minha loira não podia sofrer mais nenhuma decepção. Eu não era nenhuma criança e ela não fez o filho sozinho. Sempre assumi o risco quando não usava preservativo com ela. Doutor Augusto ia ter que mudar sua concepção ou guardar seus valores atravessados somente para ele. Não ia permitir que maltratassem minha mulher. Assim que cheguei à cobertura, chamei meus pais para uma conversa na sala. Antes mesmo de começar a falar meu pai se pronunciou: — Bruno, o que está acontecendo? Estou começando a achar que esta mulher não te faz bem. Depois que ela apareceu em sua vida, você vive um turbilhão de emoções. Ela é muito inconstante, meu filho. — Pai, não fale do que o senhor não entende. Vou tentar explicar tudo, mas gostaria que me ouvissem até o final. Mamãe sempre agia como a mediadora entre mim e meu velho. Nos amávamos, mas éramos muito parecidos e, para piorar, meu pai esquecia que seu pequeno menino tinha se tornado homem há tempos. — Augusto, vamos ouvir o que ele tem a nos dizer e, por favor, meu amor, sem interromper.

Contei tudo que tinha acontecido desde o dia do jantar. Meu pai ouviu em silêncio, mas assim que disse que Marcela estava grávida, dona Luiza levantou e me abraçou com lágrimas nos olhos. — Meu filho, eu não acredito que vou ser avó. É uma felicidade tamanha. — Sim, mamãe, vai ser vovó e doutor Augusto vovô. Na verdade, eu quero deixar bem claro que amo aquela mulher como nunca imaginei amar ninguém. Sei bem quem ela é, conheço seus medos e anseios, mas estou disposto a tudo por ela. Por isto, quero pedir encarecidamente que vocês a façam sentir amada. Papai, principalmente o senhor. Ela tem uma ideia de que você não aprova nosso relacionamento, desde quando se conheceram no dia que ela seria presa por estar em uma corrida de rua. Por favor, por tudo que construímos juntos, os três. Preciso que me ajudem agora com a mulher da minha vida. Meu pai ficou um tempo em silêncio me olhando, mamãe já tinha falado que amava Marcela como uma filha, que claro que ela era amada e que o bebê também. Esperar o veredicto do doutor Augusto estava me deixando ansioso, uma vez que não era tão emotivo como dona Luiza. Foi quando ele levantou e me abraçou: — Meu filho, você hoje me deixou mais uma vez orgulhoso. Não esperava menos de você. Desculpa pelo desastre da minha fala no jantar. Eu nunca poderia imaginar que minha nora estava grávida. Eu estava me referindo às caçadoras de fortuna que você conhece de nossos casos. Claro, que vou amá-la como uma filha, pode ter certeza disto. Apesar da maluquice dela, percebo que é perfeita para você. Agora está esperando o quê? Vai buscar sua mulher. Abracei meu pai, naquele momento era um filho amando e agradecendo aos céus pelo seu velho. Quando ele beijou minha testa e disse que me amava, foi demais para mim. Afundei-me novamente em seus braços e no aconchego do calor que só os genitores sabiam dar, eu chorei. Mamãe juntou-se a nós e foram lágrimas coletivas. Depois de nos acalmarmos, de me fazer comer e de me dar muitas recomendações para viajar com cuidado, eu parti em busca da minha rebelde.

***

Marcela

Aquele tinha sido um dia agitado. Passei o dia inteiro correndo para o banheiro. Eram vômitos recorrentes, eu estava começando a ficar preocupada. Nada parava em meu estômago. Acho que ligar para minha mãe e contar o que realmente tinha acontecido me deixou nervosa demais. Dona Laura brigou, reclamou, chorou e disse que me amava. Implorou para que eu voltasse para casa. Disse que Bruno estava louco me caçando, que ele não merecia isto e que eu não podia ficar sozinha naquele lugar. Que precisava procurar um médico urgente para o pré-natal. Tudo isto, depois de Valentina ter me ameaçado de todas as formas possíveis. Foi emoção demais para um dia. À noite tomei um caldo delicioso que a dona da pousada fez para mim. Estava tudo indo bem até que na hora de dormir fiz uma nova visita ao banheiro e tudo foi embora. Tomei um banho morno, vesti um pijama e deitei. Estava muito fraca. Acabei adormecendo, mas acordei com alguém batendo à porta do meu chalé. Meu coração foi para a boca. Olhei no relógio e eram cinco horas da manhã. Quem podia ser uma hora daquelas. De repente, ouvi a voz de Bruno. Meus ouvidos não quiseram acreditar naquele som. Como ele foi parar ali? Abri a porta em estado de choque. Só senti um homem imenso me abraçando, com tanta paixão, tanto amor e aflição, que foi impossível não chorar. Ele foi me levando para dentro, fechou a porta, se ajoelhou em frente a mim e beijou minha barriga dizendo: — Papai veio buscar a mamãe. Meu pequenininho, você não sabe ainda, mas ela tem mania de sumir e me deixar louco. O que ela não entendeu ainda, é que nada neste mundo vai me afastar dela. Nós vamos cuidar direitinho para que ela fique feliz. E eu vou proteger os dois do mundo, como um touro bravo. Sabe por quê? Porque ela é a mulher mais linda deste mundo, por eu amá-la com todas as minhas forças e, principalmente, por me dar o melhor presente do mundo: você, pequeno anjo. Nesta hora, eu já estava em prantos, soluçando feito uma louca. Ele ficou de pé, me conduziu até cama e me beijou. Meu Deus, como eu amava aquele homem, ele era meu céu, minha vida, meu ar, minha perdição. Sua boca era doce, seus lábios macios e selvagens. Uma combinação perfeita para me levar ao paraíso. Ele foi me despindo devagar, como se faz com um cristal envolto em um papel de seda. Beijava cada centímetro de minha pele, dizendo palavras doces de amor, fazendo com que minha pele queimasse com seu toque. Aproveitei para retirar também sua camisa, amava ver o abdômen

daquele homem, passei minha mão de cima abaixo, até chegar ao cós e sua calça. Abri seu zíper lentamente, até chegar ao meu objeto de desejo. O dia nascendo deixava o quarto com uma iluminação mágica, refletindo toda a beleza daquele corpo viril, que era só meu. Ele me olhava com tanto desejo, com tanto amor, que era possível ir ao êxtase somente com sua respiração ofegante. Senti seus lábios em meus seios, me reivindicando com propriedade, suas mãos faziam a mágica entre minhas pernas e sua boca invadia a minha com sofreguidão. Foi um dos momentos mais lindos que vivemos. Sem palavras, somente nossos corpos se falavam. Não era preciso usar a linguagem oral, o ato em si representava tudo que sentíamos um pelo outro. E saber que entre nós havia um pequeno anjo, me deixava ainda mais emocionada. Era a primeira vez que fazíamos amor sabendo que o fruto de nosso sentimento estava em meu ventre. Foi surreal, poderia passar anos, que eu nunca mais esqueceria daquela sensação de plenitude e segurança. Depois de fazermos amor, ficamos ali nos beijando e fazendo juras de amor. Bruno passava a mão em minha barriga, adorando seu pequeno tesouro. Até sentir meus ossos do quadril. — Marcela, você emagreceu muito, amor. Está abatida. Por que fez esta loucura? — Bruno, me perdoa, mas eu estava com muito medo de enfrentar a realidade. Precisava de um tempo para me acalmar. Sei que fiz merda, mas quando seu pai disse aquelas coisas no jantar, entrei em pânico. Eu não conseguiria ser rejeitada por você e por eles. — Loira, qual parte ainda não entendeu que te amo? Que nada, nem ninguém, vai separar você de mim? É real, Marcela, acredite em mim. Quando você foge, me machuca profundamente. É como se duvidasse do meu sentimento. Ver a mágoa nos olhos daquele homem, me fez refletir sobre todos os meus erros. Ele tinha razão, minhas atitudes não eram condizentes com o que eu tentava explanar. Fugindo sempre dele e das situações, era como se as palavras ficassem soltas, fora do contexto. Precisava me redimir, para que ele não se sentisse inseguro em relação ao meu amor. — Desculpe-me, Bruno, eu não tenho muito a falar em minha defesa. Só que surtei. O pavor me consumiu. Sinto muito por ter te machucado assim. Espero que não seja tarde demais para reverter todo o sofrimento que te causei. — Marcela, claro que não é tarde demais, loira. Você precisa entender que eu te amo do

jeito que é. Só preciso que confie em mim. Quando Valentina me contou que estava grávida, eu fiquei louco. Com muito medo de perder você. Agora, vou cuidar de vocês, precisamos ir ao médico. Você está pálida e magra demais. Não vou te perder de vista, nem por um minuto, minha fujona favorita. Abracei meu homem e o beijei, sentindo alívio de estar ali, em seus braços, protegida de tudo. Dormimos por umas três horas. Acordei com um Bruno sorridente, com uma bandeja com um suco de laranja, pães de queijo, um ursinho de pelúcia e uma única rosa vermelha. Linda como eu amava. Quando segurei a rosa para cheirá-la, vi que em sua base havia uma aliança amarrada ao caule. Olhei para ele com os olhos marejados e o mesmo me disse que sua futura esposa precisava de uma aliança, que aquela seria provisória, pois tinha sido a única que ele conseguiu comprar à noite no shopping antes de viajar. Colocou em meu dedo e disse que eu seria a noiva mais linda do mundo. Eu voei em seus braços e o beijei. Assim que nos separamos, ele retirou do bolso um anel como o meu e colocou em seu dedo. Comemos felizes e daquela vez não senti ânsia de vômitos. Depois do café da manhã, Bruno fez questão de entrar no banheiro comigo e tomamos um banho delicioso juntos, claro que nos amamos de novo embaixo do chuveiro. Depois saímos em busca de uma clínica que a dona da pousada havia indicado a ele. Segundo ele, não iriamos embora, antes de ver se estava tudo bem com seu anjinho. Chegamos ao local que ficava em Domingos Martins, uma cidade linda, parecendo europeia. O médico estava nos esperando. Fez os exames de praxe, passou vários pedidos de exames laboratoriais que eu faria em Belo Horizonte e pediu que a enfermeira me preparasse para fazer a ultrassom. Estávamos emocionados demais em ver pela primeira vez nosso serzinho. Assim que o médico começou o exame, Bruno segurou minha mão e ficamos de olho no monitor. O médico começou a sorrir, não entendemos nada. — Estão preparados para fortes emoções? — Bruno imediatamente respondeu: — Claro, doutor, o que houve? Fale tudo, vamos fazer o que for preciso para salvar nosso bebê. — Então sugiro que trabalhe triplicado, pois vocês serão pais de três bebês.

— Como assim, doutor, três? — Nós dois falamos juntos. — Sua gestação é de trigêmeos, Marcela, por isto tantos enjoos. Olha, vou mostrar tudo para vocês. Pelo tamanho, deve estar entrando na décima segunda semana. Escutem os coraçõezinhos. Nesta hora, tanto eu como Bruno estávamos com as lágrimas a banhar nossos rostos. Ele apertava tanto a minha mão e eu mal respirava. O médico explicou que era comum quando um dos pais era gêmeo. Depois do exame, ele nos deu todas as orientações necessárias, passou um remédio antiespasmódico, algumas vitaminas e nos parabenizou. No final ainda recebemos a fotinho dos três anjinhos. Todos tão pequenininhos mediam três centímetros cada um. Na volta para a pousada, eu ainda estava em estado de choque, calada, sem saber o que pensar. Meu noivo estava em estado de glória. Toda hora me olhava e dizia que era o homem mais feliz do mundo. Eu podia ver que ele estava com os olhos marejados. Eu era um misto de felicidade e pânico. Três? Como eu faria com trigêmeos. Minha Nossa Senhora, tinha que ser comigo. Era bênção demais para uma mãe só. Chegamos à pousada e sentamos na varanda do chalé em uma rede e ficamos como bobos olhando para aquela fotinho borrada, com nossos três bonequinhos. Ele alisava minha barriga e brincava dizendo que papai ia ficar com cabelos brancos rápido com toda a energia da casa. Ele estava tão eufórico que já dizia em vender o flat e comprar uma casa com quintal, parquinho e cinco quartos. Meu Deus, enquanto ele fazia planos da casa, eu pensava em como caberia três bebês dentro de mim.

Capítulo 51

Vida nova

Marcela

Voltamos para Belo Horizonte, logo depois do almoço. O remédio para enjoo me ajudou bastante, caso contrário não íamos conseguir chegar ao nosso destino. Meu touro lindo estava como uma criança que acabou de ganhar o presente dos sonhos. Eu confesso que estava me sentindo assustada, com meus três pequenos. Dormi a maioria da viagem, acho que a gravidez estava me dando sono, muito sono. Quando abri os olhos, já estávamos nas redondezas da região metropolitana. Observei que meu banco estava quase todo rebaixado, eu estava com um travesseiro embaixo de minha cabeça e uma pequena coberta. Ele me deu o sorriso mais lindo do mundo. — Minha linda, descansou? — Nossa, Bruno, parece que dormi por horas. — Loira, você dormiu por cinco horas. Já estamos a meia hora de casa. — Meu Deus! Por que me deixou dormir tanto? — Você precisava, gostosa. Foram muitas emoções. E você precisava descansar, pois estes três pequenos devem estar deixando a mamãe exausta. — Você não está assustado?

— Acho que esta não é a palavra certa para o que estou sentindo. A palavra seria extasiado, maravilhosamente feliz e encantado. Rebelde, não fique assim. Você me fez o homem mais feliz do mundo. Eu prometo defender e cuidar de vocês com minha vida. — Bruno, eu quero que acredite em mim. Mesmo fazendo tantas loucuras, eu amo você. Como nunca amei ninguém. Estes três anjos, uau, tinha que ser filhos seus, não é, touro? Não faz nada pequeno. Bom, voltando aos nossos três amores, eu prometo ser a melhor mãe do mundo e, claro, a melhor esposa. — Linda, eu não tenho nenhuma dúvida disto. Sabe, quando vi que você tinha sumido, a princípio me desesperei, mas minha mãe me disse uma coisa que me deu forças. Ela falou que se eu tivesse certeza do nosso amor, não precisava me desesperar, pois as coisas se resolveriam. E eu tinha certeza de que nosso sentimento era real. Isto trouxe um pouco de paz para meu coração. Caramba! Depois que fiquei grávida, parecia que tinha me tornado uma torneira aberta, de tanto que chorava. Ouvir aquele homem lindo, se entregando assim para mim me fez ir às lágrimas. Ele parou o carro no acostamento e me beijou deliciosamente, com tanta paixão, que na mesma hora perdi o medo de tudo. Nós seríamos felizes.

***

Bruno Nunca em meus mais distantes sonhos imaginei ser possível tamanha felicidade. Caralho! Desculpe pelo palavrão, mas, porra, eu ia ser pai e de trigêmeos. Uau! Era muita felicidade. Quando descobri que ela estava grávida, não me preparei para tanta emoção. Vê-la dormindo, tão entregue, uma menina-mulher, minha, somente minha, era a melhor sensação do mundo. Só de pensar que em nosso carro havia cinco corações batendo, me dava vontade de soltar muitos fogos. Era uma coisa mágica, abençoada. Enquanto ela dormia como um anjo, eu dirigia e imaginava o nosso carro com três cadeirinhas de bebê. Sorria como um bobo. Eu ia ser o pai mais babão do mundo. Disto eu tinha certeza. Fomos direto para o apartamento de Marcela. Eu queria estar junto com ela na hora de conversar com minha sogra. Ela não iria passar por nada sozinha, eu estaria junto dela em todas

as situações. Além disto, eu iria falar com dona Laura que queria levá-la para morar comigo, no meu flat. Não ia mais perder aquela maluca de vista. Assim que entramos na porta, a mãe dela já veio a abraçando e chorando. Fiquei mais atrás, dando o espaço necessário para que pudessem extravasar a emoção. Assim que se acalmaram, eu abracei dona Laura e disse que eu era naquele momento o pai mais feliz do mundo. Ela sorriu para mim e pude perceber o alívio em seu semblante. — Precisamos conversar, minha sogra. Vamos nos acalmar, para que possamos dar uma linda notícia para a senhora. — Ela concordou e sentamos todos na sala. Respirei fundo e comecei: — Prepare-se, vovó, vamos precisar de muita ajuda, pois eu e sua filha não nos contentamos com pouco. Fizemos logo de vez três netinhos para vocês não brigarem por ciúmes. Tem bebê para todo mundo. Pensei que ela fosse desmaiar, pois ficou estática olhando para nós dois. De repente, deu um grito de felicidade e pulou em nossos braços. Em lágrimas falava sem parar que seria a avó mais feliz do mundo. Depois de toda festa, era hora da conversa séria. — Dona Laura, eu quero dizer que vamos nos casar. Antes de falar que gravidez não é motivo para casamento, quero dizer que amo sua filha e quero que ela more comigo. Vou ficar mais tranquilo para cuidar dela, se estiver perto de mim. Pensei que Marcela fosse me matar, mas para meu espanto, ela sorriu olhou para mãe e disse: — Mamãe, eu vou morar com ele. Gostaria muito que a senhora me desse sua bênção. Bruno, tenho uma condição. — O que você quiser, loira. — Só vamos nos casar depois que as crianças nascerem. Não quero me casar às pressas. Vamos morar juntos, estaremos em uma união estável e depois casaremos. Esta é minha condição e não aceito negociar. Fiquei pasmo de ver como minha loira falou com tanta segurança. Quem era eu para discordar? Claro que eu iria aceitar. A postura dela demonstrou um amadurecimento que me deixou encantado. Desde o momento que saímos da clínica, a impressão que eu tive foi a de que ela havia ganhado experiência em poucas horas. Acho que foi a maternidade e constatação de que dentro dela estava nosso maior tesouro.

A mãe dela nos deu muitos conselhos, coisas de mãe mesmo. Ajudou Marcela a arrumar uma pequena mala, pois eu iria levá-la comigo naquele dia. Combinamos depois de buscar as outras coisas. Eu precisava aumentar o espaço dela no closet, pois ela já tinha uma parte dela e logo, estaríamos procurando uma casa para mudarmos. Quando estávamos ainda no Espírito Santo, eu liguei para minha mãe e ela fez questão que jantássemos com eles. Minha loira concordou, então aproveitei e levei conosco minha sogra. Agora a família estaria muito ansiosa, faltavam apenas seis meses para muita animação entre fraldas, mamadeiras e chorinho de bebê. Meus pais receberam minha loira com o maior carinho. O doutor Augusto, como sempre um homem sábio, tratou Marcela com tanta naturalidade, carinho, que ela ficou muito à vontade. Quando contamos a todos que seriam avós de trigêmeos foi uma nova festa e a maior choradeira de mamãe e minha sogra. Minha loira estava dando sinais de cansaço. Eu comecei a ficar preocupado, pois o médico havia recomendado repouso. Quando pensei em chamá-la para irmos embora, meu pai pediu para falar com ela em particular. Não gostei muito, mas confiava no meu velho.

***

Marcela Quando meu sogro me chamou para o escritório, confesso que meu coração disparou, mas eu precisava enfrentar aquele momento com sabedoria, afinal éramos uma família. Ele me convidou a sentar em seu sofá, me olhou com tanta ternura que senti uma grande paz em meu interior. — Marcela, minha filha, pedi para ter esta conversa com você a sós, porque queria esclarecer algumas coisas. Lembro como se fosse hoje o dia em que te conheci naquela noite de rebeldia. Era uma menina tão nova, mas com tanta mágoa no olhar, querendo se rebelar contra o sistema, contra tudo. Minha experiência deixava claro que ali tinha uma menina com muito potencial, mas sofrendo. Até hoje fico rindo sozinho quando me recordo de você brava com as mãos na cintura dizendo que não faria nenhuma faxina na academia. “Naquela noite, quando voltei para casa, sem entender muito bem o motivo, estranhamente eu

lembrei-me do meu filho que estava nos Estados Unidos. Pensei que seria uma bela luta de Titãs vocês dois se enfrentando. Não sabia bem o motivo, mas sua autenticidade e coragem me lembraram do maluco do meu filho.” “Hoje, minha filha, depois de tudo que passamos, tenho a convicção de que o meu pensamento era a intuição de pai. Naquele dia do jantar, não me referia a você e sim às caçadoras de fortuna que atendemos em nossa firma. Quero que saiba, Marcela, que você me fez o velho mais feliz do mundo, eu não tenho nenhuma dúvida: vocês foram feitos um para o outro.” Ouvir aquelas palavras do meu sogro, foram um verdadeiro bálsamo para minha alma. Não preciso dizer que as lágrimas desceram em meu rosto enquanto ele falava. A única coisa que consegui fazer, foi abraçá-lo e dizer em seu ouvido: — Obrigada, doutor Augusto. Por tudo. Ele sorriu, bagunçou minha franja em um gesto carinhoso e disse: — Não agradeça, pequena. E esqueça esta história de doutor. Sou seu sogro agora, vou cuidar de vocês com todo o meu amor. Agora vamos sair porque se conheço bem o meu filho, deve estar como um touro bravo preso em uma arena esperando o momento de se ver livre. Limpei minhas lágrimas sorrindo, pois ele tinha razão, Bruno deveria estar louco lá fora. Saímos abraçados do escritório. Tudo estava em sua mais perfeita ordem.

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Bruno Durante o tempo que permaneceram no escritório, fiquei bastante incomodado, mesmo com mamãe tentando me distrair. Eu odiava ficar de fora. Graças a Deus não demoraram muito e saíram do escritório, abraçados e sorrindo. Fiquei aliviado assim que presenciei a cena. Despedimos dos meus pais, com várias recomendações e promessas de mantê-los por dentro de tudo. Depois de deixar a mãe da loira em casa, partimos para nossa nova vida. A partir daquele dia, não éramos mais namorados, éramos uma família feliz. No caminho para o flat, Marcela me

contou que meu pai se desculpou pelas palavras dele no último jantar, dizendo que eu era a nora ideal para ele e que estava muito feliz de ser avô em dose tripla. Saíram do escritório rindo, pois, segundo ela, o doutor Augusto disse que iria providenciar a transformação da sala de televisão em um playground. Quando chegamos ao nosso lar, eu fiz questão de carregar minha princesa. Não podia perder aquele ritual clássico do início da vida de um casal. Ela riu tanto, que foi a cena mais gostosa de ver. Quando ainda estávamos na clínica e a enfermeira foi prepará-la para o exame, eu aproveitei para perguntar ao médico sobre relações sexuais e gravidez de trigêmeos. Ele me orientou a não fazermos sexo selvagem e disse para que observasse o que era agradável para ela. Caso houvesse algum sangramento, precisaria buscar o serviço de urgência. Porém, eu estava tão encantado com meus pequeninos, que a prioridade naquele momento era deixar minha mulher o mais confortável possível. Tomamos banho juntos imersos em uma banheira com água morna e essência de camomila. Fiz questão de sentá-la entre minhas pernas e fazer massagem em seus ombros, carinho em seus cabelos, beijos carinhosos na nuca, nas costas e lá estávamos nós, um dentro do outro. Tudo com muito amor. Saímos do banho e enquanto minha loira secava seus lindos cabelos, eu providenciei chá de erva-doce e biscoitos caseiros. Eu precisava tomar conta dela, para que não ficasse muito tempo sem comer. O médico havia orientado pequenos lanches para evitar enjoos. Quando ela viu a bandeja ficou emocionada. — Bruno, eu vou mudar. Prometo ser uma mulher perfeita para você e para nossos filhos. Eu amo vocês. Naquela hora uma música veio à minha cabeça e cantei para ela. Era uma canção interpretada por Ivete Sangalo chamada Não precisa mudar. Aquela música dizia tudo. Ver seu sorriso com os olhos marejados foi divino. Havia aprendido com meu velho, que o homem deve ser companheiro, participativo e que tudo deveria ser feito de forma colaborativa. Eu ia ser parceiro para a vida inteira, nunca iria sobrecarregar minha loira fugindo das minhas responsabilidades. Os três anjinhos eram nossos, então eu queria participar de tudo. Era o começo de uma vida nova a cinco. Nossa! Ainda estava sonhando.

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Marcela Nunca pensei ser possível tanta felicidade. Minha vida tinha dado uma reviravolta. Sempre ouvi dizer que quando nos tornamos mãe, mudamos muito, era verdade. Minha prioridade era estar bem de saúde em função de meus três tesouros. Recriminei-me bastante por não ter iniciado meu pré-natal assim que soube da gravidez. Minha médica já tinha me acalmado quanto a isto, mas mesmo assim me sentia preocupada. Bruno se mostrou o melhor companheiro do mundo, me ligava várias vezes ao dia e organizou seu tempo de forma a estar sempre mais cedo em casa. Avisou ao pai que não viajaria no período da minha gestação, meu sogro concordou prontamente. Aliás, aqueles dois ainda iriam me enlouquecer com tantos cuidados. Se eu fosse ouvir os dois, ia explodir de tanto comer. Estava me aproximando dos cinco meses e confesso que estava me sentindo muito pesada. Minha barriga já aparecia muito, em função dos três pequeninos. No dia que senti os primeiros movimentos de meus filhos foi uma das sensações mais surreais de toda minha vida. Lembro-me que parei até de respirar, eram como pequenos tremores. Era muito gostoso saber que eles estavam ali, indefesos, porém tão protegidos. Daquele dia em diante não pararam mais e tudo ficou mais real. O passatempo predileto do mais novo papai era ficar conversando com os bebês. Colocava música e todos os dias cantava para seu trio agitação se acalmar e dormir. Ele adorava dizer que os pequenos seriam elétricos, pois os pais eram ligados na tomada. Valentina estava em tempo de ficar pobre, porque quase todos os dias trazia presente para os pequenos. Em uma de suas visitas, a louca trouxe um trenzinho com três cadeirinhas em seus vagões onde cabiam as crianças. Na frente havia um suporte para que os adultos puxassem os vagões. Era a coisa mais linda do mundo. Agradeci muito a ela e Pedro pelo lindo brinquedo, mas precisei adverti-los: — Pedro, sua esposa vai te falir deste jeito. Ela já está estragando os sobrinhos antes mesmo deles nascerem. — Marcela, minha linda tem vontade própria. Você acha mesmo que consigo segurar esta mulher?

Valentina ria e alisava minha barriga com os olhos brilhando. Claro que meu lindo marido não perdeu a oportunidade de irritar o primo. — Amiga, seu marido precisa aprender comigo a fazer três de uma vez. Está muito sem habilidade. Enquanto não consegue fazer um, eu fiz três. Sempre soube que eu era o melhor Fernandes. Meu Deus, o que eu faria com este homem?! — Pare com isto, amor. Deixa de ser convencido. Meu marido ficou rindo, enquanto Pedro com a face vermelha de raiva respondeu: — Vai se ferrar, Bruno. Você gosta de quantidade, eu sou mais a qualidade, não é, meu amor? Morrendo de rir, minha amiga não ajudou nem um pouco o marido, coitado. — Nem vem, amor. Não me coloque nestas confusões de vocês. Parecem duas crianças. Marcela, vamos lá para o quarto ver as coisas dos bebês. Vamos deixar os malucos na sala discutindo quem tem o maior pau. A cara de espanto dos dois com a resposta de Valentina foi hilária, saímos abraçadas para o quarto enquanto os dois ficavam se provocando. Minha amiga ficava iluminada entre as roupinhas, brinquedos e todo o arsenal de fraldas que já tinha. Pelo jeito dela, sabia que não ia demorar muito a também providenciar um pequeno para a sua vida. A família estava toda muito ansiosa, pois estaríamos naquele dia fazendo a ultrassonografia e o médico tinha nos informado que dependendo da posição dos três, seria possível ver o sexo dos bebês. Quando voltamos para a sala, encontramos Pedro dando o troco e enlouquecendo meu touro. — Marcela, tenho certeza de que serão três meninas, pois este ex-garanhão vai pagar por todas as mulheres que pegou. — Amor, eu já disse a ele que sei atirar, tenho porte de arma e vou expulsar todos os barbados que vierem dar em cima das minhas meninas. — Nada de armas, senhor tourão. E acho melhor os dois meninos levantarem a bunda da

cadeira, pois já está quase na hora de irmos para a clínica. Pedro, eu espero vocês na casa dos meus sogros. Eu sempre precisava intervir, antes que ele conseguisse irritar meu lindo além da conta suportada por ele. Meu sogro fez questão de marcar um churrasco na cobertura para o dia da revelação. Estaríamos fazendo o exame às dezessete e trinta horas, depois iríamos direto para a comemoração que o pai de Bruno carinhosamente chamou de inauguração do cantinho encantado. Ele havia desfeito a academia para transformar em uma área de lazer para os netos e mantinha segredo a todos. Desistiu de desmontar a sala de vídeo, pois disse que seria o cinema das crianças. Saímos para a clínica, muito ansiosos, loucos para ver nossos filhotes. O momento do exame foi o mais lindo da minha vida. Nós não conseguimos segurar as lágrimas. Era lindo ver os pezinhos, perninhas e os rostinhos! Meu Deus, aquele era o maior milagre que uma pessoa podia viver. Quando o médico começou a mostrar cada detalhe, tudo em perfeita harmonia, meu coração só ia disparando e a emoção aumentando. Bruno estava segurando para não chorar como criança, quando ficamos sabendo que teríamos dois meninos e uma menina, aí não teve jeito. Abraçamo-nos entre lágrimas. Saímos da clínica, com muitas fotinhos dos nossos filhos. Meu lindo estava calado, mas por estar muito emocionado. Dei um tempo a ele para que pudesse processar tantas emoções. Ele ficou sentado dentro do carro olhando para o volante e eu ria sozinha. — Loira, você tem noção do quanto te amo? Você salvou minha vida da mesmice. Eu andava no automático, sem emoção e sem esperança. Até ser atropelado por você, meu tsunami. Só você para me dar o maior presente de todos. Recebi um beijo doce, quente e apaixonado. Meu Deus, se alguém me contasse que viveria algo assim, eu não acreditaria. A ocasião era mágica. Ficamos no carro por uns cinco minutos, entrelaçados, em um mundo só nosso. Fomos interrompidos por chutes leves em minha barriga e caímos na gargalhada. Esquecemos que não estávamos mais só. No caminho de casa, passamos no shopping, em uma loja especializada em roupas infantis e compramos dois lindos macacõezinhos azuis e um pequeno vestido branco com detalhes violeta. Claro, que acabamos exagerando um pouco, mas pedimos que colocassem as três peças embaladas em presentes com embalagens neutras. Daríamos um para o doutor Augusto, um para

dona Luiza e outro para minha mãe. Chegamos à cobertura e já estava uma animação só. Toda a família, além de alguns amigos do trabalho de Bruno. Foi a maior euforia quando aparecemos, fomos conduzidos para o centro da sala e atacados por tantas perguntas de uma vez só. — Calma, não afobem minha loira. Vamos todos sentar, com calma, pois tenho certeza de que todos querem saber notícias do trio mais famoso da família. Todos se sentaram, a alegria reinava no ambiente e Pedro estava terrível. Abraçou meu touro rindo e dizendo: — Já pediu o porte de arma, primo, para afastar os garanhões de sua porta? — Eu já tenho o porte, esqueceu? Acho que vou é treinar tiro ao alvo nesta sua arma disfarçada de muleta. — Ah, não! Pode parar vocês dois. Eu já tenho aqui em meu ventre três crianças. Bruno, entregue logo os presentes para que todos possam saber o que teremos. — Agora, Marcela. Você fala, eu obedeço, linda, mas antes quero dizer que sou o homem mais feliz do mundo. Temos aqui três presentes. Os avós irão abrir. Como gosto de suspense. Será assim: dona Luiza será a primeira a abrir. — Meu filho, você não imagina minha emoção. — Assim que abriu e viu o macacão azul, disse entre lágrimas: — Ai, meu Deus! Um pequeno Bruno para alegrar nossas vidas. Todos aplaudiram e Bruno olhou para Pedro dizendo: — Está vendo, primo, vai aprendendo com o fodão aqui. Todos explodiram de gargalhadas na sala e Pedro respondeu: — Ainda faltam dois, senhor pica das galáxias. Como meu marido era terrível, entregou para a mamãe o outro embrulho também com roupinha azul. Ela abriu, emocionada. — Meu Deus, outro Bruninho para bagunçar a casa das vovós. É muita bênção, meus filhos. Enchendo o peito como um galo, meu marido olhou para o alvo de suas implicâncias. — Preciso falar mais alguma coisa, doutor Pedro Fernandes? Ou vai assumir sua

inferioridade perante o mais poderoso da família? — Ainda não vi o último super-herói da família. Meu Deus do céu, aqueles dois eram uma atração à parte, faziam a alegria da festa. Bruno entregou então o último pacote ao pai. Eu estava louca para ver qual seria a reação do meu sogro ao ver o vestido e, claro, queria ver o que Pedro ia dizer. O doutor Augusto abriu o embrulho com lágrimas nos olhos. Quando viu o vestidinho, olhou emocionado para mim e disse: — Obrigado, minha filha, por me fazer o velho mais feliz do mundo. Abracei aquele homem que eu aprendi a amar e respeitar quando ouvi Pedro dizendo: — Eu sabia que Deus era bom demais e colocaria uma menina no caminho deste touro convencido. Aí está, meu amigo, seus cabelos vão embranquecer e eu, o titio Pedro, vou proteger minha sobrinha do pai ciumento que vai querer trancá-la em uma caixa para nenhum garanhão ver. Antes que os dois continuassem a duelar, uma Valentina em lágrimas veio me abraçar. Dali em diante foi a maior alegria. Risos, abraços e várias sugestões de nomes iam aparecendo. As roupinhas passavam de mão em mão. Ali, diante de toda aquela imensa felicidade, tive certeza de que tudo valeu a pena. O restante da noite foi de pura felicidade, fotos com as roupinhas em minha barriga, as imagens das crianças passando de mão em mão, massagens em meus pés inchados e todos cuidando de mim como se eu fosse de cristal. Não vou mentir, aquele mimo todo era muito bom. Saímos da casa dos meus sogros tarde da noite. Confesso que eu já estava muito cansada e dormi no carro. Senti o homem da minha vida me carregando para nosso apartamento. Aproveitei aqueles braços que eu amava e me aninhei em seu ombro. Estava no meu melhor lugar do mundo, no aconchego do calor do meu touro. E ali era o meu paraíso particular. Nunca conseguiria ser mais feliz em outro lugar.

Capítulo 52

Desejos insanos de uma grávida

Bruno Minha loira não era uma grávida muito difícil, daquelas que tem desejos malucos de madrugada. A única coisa que ela fazia sem parar e me arrepiava de ver era chupar limão. Chupava dúzias da fruta, como se fosse o mais gostoso dos chocolates. Naqueles momentos, eu acreditava em vontades de gestantes. O que estava muito boa era nossa vida sexual. Caramba, a mulher transpirava sexualidade. Com cinco meses de gravidez, estava ainda mais linda. Estava iluminada, gostosa pra caralho e só pensava em sexo. Meu amigão estava em estado pleno de graça. Tudo corria na mais perfeita harmonia sexual, até um dia, no início da noite, quando ela começou com uma história furada para o meu lado: — Amor, você seria capaz de qualquer coisa por mim? — Claro que sim, Marcela. Você sabe que se quiser um pedacinho do céu, eu busco para te satisfazer. Esta é minha missão, gostosa, realizar seus desejos. — Tem certeza disto, tourão. Qualquer coisa que uma grávida de três pequenos anjos quiser você consegue? Aquela conversa estava começando a me dar medo, pois vindo da rebelde tudo era possível, mas eu não ia manchar meu lado macho alfa. Se ela quisesse uma nuvem, eu daria um jeito de reproduzir uma.

— Pode pedir, linda. Você me conhece. Sabe que sou invencível quando quero algo. E para minha esposa maravilhosamente grávida não nego nada. Aquele foi meu maior erro, mas o que estava dito estava feito. E eu? Bom, você vai ver como me ferrei. — Bom, marido, já que você faz tudo que eu quiser, eu estou com um desejo louco de dominar você. Quero que você seja meu submisso por uma noite. Juro por Deus, eu quase desmaiei. Cheguei a engasgar. Ela só podia estar brincando comigo. — Você está de brincadeira, não é, loira? Fala sério. O que você quer comer? Com a maior cara de safada do mundo, ela deu um sorrisinho sacana e respondeu: — Nunca falei tão sério em toda minha vida. Quero você algemado, vendado e ao meu belprazer. —Nunca nenhuma mulher tinha feito uma merda desta comigo! Me algemar? Vendar? Sem chance. Era impossível para mim: — Bruno, você prometeu, amor. Disse que faria tudo por mim. Quero dominar você. Vai negar o desejo de sua esposa grávida de trigêmeos? Que mulher ordinária. A filha da puta me pegou com aquela carinha de cachorra abandonada. Que ódio! O que eu ia fazer?

***

Marcela Preciso dizer que nunca em minha vida fiz tanta força para não rir do desespero do meu marido. Era impagável ver a cara de pavor dele, mas eu sabia jogar sujo e tinha certeza de que ele ia acabar se rendendo. Afinal, eu era a esposa grávida frágil, mas confesso que vivia subindo pelas paredes querendo sexo. E há alguns dias aquela ideia não saía da minha cabeça. Valentina e eu tínhamos arquitetado tudo. Fomos a um sex shopping, compramos todos os apetrechos necessários para minha grande noite. Foi difícil achar uma roupa sexy de dominadora para grávida, mas achei um vestido preto de suplex lindo, que cabia em minha barriga. Comprei também uma máscara preta, uma bota de cano longo, um chicote pequeno e um anel peniano.

Estava tudo muito bem planejado em minha cabeça insana. Só faltava a oportunidade de fazer meu homem cair em minha armadilha e no dia que ele veio cheio de amor me agradecendo por ser uma grávida boazinha em seus desejos foi a hora certa de dar o bote. Como foi fácil fazer ele prometer o que eu quisesse. Caiu direitinho em meu plano perfeito e estava naquele momento vivendo a maior encruzilhada da sua vida. E eu, cruel, fazia a cara do gato do Shrek, doida para rir do desespero dele. Claro que eu não ia fazer nada que traumatizasse o meu dominador favorito, mas eu iria proporcionar a ele o gostinho de ser controlado por uma mulher. — Marcela, você jogou sujo, loira. Você sabe, não é? — Claro que não, meu amor. Estou mesmo com um desejo louco de dominar você. — Olha, loira, sei que vou me arrepender, mas antes de aceitar vamos fazer alguns acertos no que eu aceito ou não. É assim ou nada feito. Eu estava adorando aquilo. Aproveitei para incorporar uma reunião de negócios, bem ao estilo Anastasia Steele, no filme Cinquenta Tons de Cinza. Sentamos à mesa do escritório de Bruno, que muito sério começou: — Não aceito nada na minha entrada dos fundos e isto, senhora Marcela, é limite rígido. Fazendo muita força para não rir respondi: — Anotado, senhor Bruno Fernandes. — Não aceito ser vendado. — Recusado senhor, este item não está nas negociações. Ele me olhou enfurecido e eu o desafiei com meu olhar de dominadora. Ele bufou e continuou: — Sem velas derretidas. — Aceito, senhor. — Nada de outro homem no quarto, limite rígido com risco do submisso cometer um crime. — Anotado, sem ninguém além de nós dois no quarto. — Não aceito tapas em meu amigão aqui embaixo.

— Vamos negociar. — Não, senhora, sem negociação. Este é um limite rígido para mim, loira. — Anotado, senhor. Mais alguma coisa que eu precise saber? — Quero deixar registrado que a senhora me enganou e isto sairá caro após o nascimento de nossos filhos. — Senhor, é tudo que eu mais espero e vou cobrar. Dei uma piscadinha para ele e entrei no modo dominadora. — Vá para o quarto, tome banho, coloque uma cueca boxer branca, que está na sua gaveta, e me espere em nossa cama. — Ele me olhou desafiador. — Não ouvi sua resposta ainda. Ai, ai, ai, eu posso te castigar, submisso. Ele me olhou furioso e respondeu entredentes: — Sim senhora, minha ama. Saiu enfurecido para o quarto e eu quase tive um ataque de riso sozinha no escritório. Como Bruno era bobinho. Eu faria ele ter a noite mais inesquecível de sua vida. Fui para o quarto das crianças, onde tinha deixado minha roupa de dominadora e me aprontei no banheiro social. Depois de pronta, com uma calcinha com zíper na frente, meu microvestido sexy, a máscara e meu chicote fui em direção à minha noite de lazer.

***

Bruno Estava tomando banho e não conseguia acreditar ainda que eu, Bruno Fernandes, ia me sujeitar a ser dominado por uma mulher. Tudo bem que era a minha mulher, a mãe dos meus filhos, o grande amor da minha vida, mas mesmo assim ainda estava indignado. Não vou negar que a adrenalina corria solta no meu sistema, me deixando louco de tesão e ansiedade. Porém, meu lado dominador estava me matando.

Saí do banheiro, do jeito que a diaba me pediu, aliás, mandou e sentei na cama esperando por ela. O quarto estava imerso por uma fragrância de orquídeas, a luz estava fraca e músicas medievais tomavam conta do ambiente. Tudo aquilo deixava meu coração mais agitado, minha pressão arterial devia estar nas alturas. Aquela loira ia me pagar. Estava como um mar revolto, perdido em pensamentos turbulentos, quando uma visão do paraíso ou do inferno apareceu. Ela estava deslumbrante, o pecado em pessoa. Totalmente gostosa e eu só não a arrastei para a cama e a amarrei, pois seu estado não permitia. Caso contrário eu faria ela implorar por orgasmos, para aprender a deixar de ser tão rebelde. Ela andou soberana pelo quarto, como um algoz cobiça sua vítima. Parou em minha frente, dando sua primeira ordem: — Ajoelhe-se, submisso. Implore por mim. — Eu a desafiei com meu pior olhar de fera dominante, mas a diaba foi certeira, me deu uma chicotada na coxa esquerda e disse: — Não brinque comigo, eu mando aqui. Agora só mais uma vez: ajoelhe-se e implore por mim. Com uma raiva mortal, fiz o que ela mandou. — Por favor, senhora, estou à sua disposição para o que quiser — falei entredentes. — Bom menino. Gosto assim, mansinho e obediente. Se você for bonzinho, prometo ser uma dona generosa. Ela me levantou pelo queixo e me beijou sedenta, quando ameacei abraçá-la deu um tapa em minha mão. — Eu controlo você. Nada de tomar a iniciativa aqui, meu escravo. Respirei fundo e resolvi tentar entrar na brincadeira nada engraçada que ela inventou. Ela me beijou novamente, devagar, e eu fiquei imóvel. Ela foi me beijando e mordendo até chegar ao meu amigo que já estava como uma rocha. Deu leves mordidas nele por cima da cueca que eu ainda vestia. Depois ela me empurrou até a cama e disse: — Sente-se encostado à cabeceira e admire. Continue obedecendo, pois a noite só está começando, tourão. A infeliz colocou a música do filme Flashdance que ouvimos no começo de nossa loucura, quando estávamos na academia e eu a obriguei a implorar por mim. Colocou uma cadeira à minha

frente no quarto e começou uma dança muito erótica, como só ela sabia. Ela passava a mão por seu corpo, apertava seus seios descaradamente, rebolava, gemia. Quando eu ameacei levantar, ela parou e disse: — Fique quieto aí e não se atreva a se tocar. Caso contrário posso ser mau, muito mau. Voltei para minha posição e fiquei petrificado olhando o que ela começou a fazer. Com a maior cara de santa, ela pegou um vibrador, abriu o zíper de sua pequena calcinha, sentou de pernas abertas em minha frente e fez todo o trabalho sozinha. Eu quase enfartei diante daquela cena, meu pau parecia que ia explodir. Ela gemeu, se contorceu e deu-se prazer, até entrar em êxtase. Nunca imaginei ter que assistir aquilo sem poder participar. Era a cena mais linda da minha vida. Depois de saciada, a infeliz chupou o vibrador devagar, com cara de devassa. — Você quer me lamber, tourão? Eu sei que quer, mas não pode. Sabe por quê? Simplesmente pelo fato de que hoje eu mando. Eu sou sua dona e será somente quando eu quiser. Agora deite, vamos começar a festa. Ofegante, pedindo a Deus para me dar forças, obedeci a minha loira fatal. Ela retirou uma caixa debaixo da cama e, em seguida, quatro algemas. Ela queria me matar, definitivamente. Algemou meus pulsos e tornozelos nas laterais da cama, fiquei todo aberto para ela. Veio com um sorriso diabólico com uma tesoura na mão e eu quase engasguei: —Loira, pelo amor de Deus cuidado com isto. — Silêncio, escravo. Não te deixei falar. Você vai ser castigado por este atrevimento. Não sou sua loira, sou sua senhora, entendeu? Ela me deu um golpe de chicote no peito que ardeu o inferno. Quase sem respirar respondi: — Desculpe, minha senhora. Ela sorriu e com a tesoura cortou minha cueca dos dois lados, me deixando nu. Saiu rebolando até o som, colocou a música Ameno e com um sorriso diabólico disse: — Lembra desta música, tourão. Agora será a minha vez de dominar você até implorar por mim. Minhas pupilas já estavam dilatadas, meu coração quase saindo do peito e meu pau pronto para a guerra. Porém, ela queria mesmo me matar. Lentamente tirou toda a sua roupa, passando o

chicote lentamente pelo seu corpo e depois chupando como se fosse meu membro. Juro, não estava preparado para aquilo. Quando estava deslumbrado com o show da minha esposa, a maldita pegou uma venda preta e tudo virou escuridão para mim. — Agora, meu submisso, aguce seus sentidos. Você está em minhas mãos. Não sabia se ia aguentar aquela pressão. Era demais para mim. Senti que ela chegou próxima à cama e deve ter ajoelhado nela, pois a mesma afundou um pouco. Logo em seguida, minha pele do peito ardeu com a primeira chicotada, mas após ela passou a língua gelada sobre a pele quente. Foram quase vinte açoites sobre meu corpo. Porra, ardia o diabo, mas logo depois sua língua deliciosa amenizava a coisa. Eu podia perceber em sua fala, que ela delirava sentindo o poder. Lembrei-me de que nos meus momentos de dominação, a melhor sensação do mundo era ter o controle sobre o corpo e o prazer do outro. A loira estava descobrindo este prazer e eu estava ferrado. Logo depois daquela pequena tortura prazerosa, senti que ela colocou algo em volta do meu pau, como se fosse um anel peniano. Porém, de repente senti o troço dar pequenos choques alternados com vibrações. Puta que pariu, eu ia morrer. Estava começando a delirar e a infeliz ainda ameaçou me amordaçar se eu continuasse gemendo. O golpe fatal foi quando a pequena maldita mulher, colocou algo em meus mamilos como se fosse um grampo. Porra, aquilo doía, mas era uma dor que depois ia ficando prazerosa. Ela estava sendo malvada. Eu suava, reprimia os gemidos, tentava controlar meu corpo, mas estava quase impossível, ainda mais quando ela chupou meus mamilos sobre o grampo com algo parecendo gelo na boca. Cheguei a urrar de dor, tesão, prazer, adrenalina, tudo junto. No auge do meu desespero, senti ela sentando sobre meu membro e rebolando feito uma louca. Porra, eu estava em tempo de quebrar a cama com aquelas algemas, mas ela foi cruel. Fez todo o trabalho sozinha, subiu, desceu, devagar, depressa, com força, gemendo e me chamando de gostoso. No auge da alucinação prazerosa, eu cheguei a implorar para ela me soltar. Como louco gritei o nome dela quando explodi de prazer. Foi demais para mim. Uma experiência surreal. Assim que ela se acalmou, tirou a venda dos meus olhos, me beijando docemente. Depois com

beijos e carícias leves, liberou meus mamilos daquele troço e porra, doeu, mas ela me lambeu e beijou, o que amenizou a dor. Quando minha loira retirou as algemas dos meus pulsos e dos tornozelos e viu que estava machucado, ficou louca. — Bruno meu amor. Eu te machuquei. Ai, meu Deus, eu sou um desastre, me desculpe. — Calma, linda, não foi nada de mais. Uau, foi a experiência mais louca da minha vida. Confesso que queria te dar uma boa surra, mas até que não foi tão ruim como pensava. — Que bom que gostou, lindo, podemos repetir. O que acha? — Sem chance, rebelde. Foi uma experiência única. Pode desistir de colocar ideias nesta cabecinha maluca. Minha esposa deu uma gargalhada gostosa, me beijou e depois disse muita séria: — Bruno, obrigada por ter me proporcionado este momento, meu amor, me senti a mulher mais amada do mundo. — Você é a mulher mais amada do mundo, gostosa, mas não pense que eu vou esquecer da minha promessa. Agora, espero que tenha aproveitado muito, pois, como eu disse, não acontecerá mais, sua rebelde. — Quem sabe, não é, tourão. Eu posso ficar grávida de novo. Caímos na gargalhada e eu beijei aquela loira da maneira mais faminta do mundo. Deitei ela e comecei a beijá-la por todos os cantos e naquela fome louca, nos amamos mais uma vez. Depois dormimos exaustos, um nos braços do outro.

Capítulo 53

Desafio do destino

Bruno Estávamos chegando a um momento complicado da gestação. Marcela não tinha mais tanta disposição. Estava muito cansada, inchada e as visitas quase semanais ao hospital, cansava. A médica já tinha nos alertado que os bebês deveriam nascer por volta da trigésima quarta semana, o que deixava minha loira apavorada. Ela não queria ter os bebês tão prematuramente, mas no caso de três era quase sempre isto. A obstetra disse que no máximo chegaríamos a trigésima quinta semana, mais que isto poderia colocar os bebês em risco. Eu tentava me manter calmo na presença da minha rebelde, mas estava uma pilha de nervos. Já estávamos em nossa casa nova. Conseguimos comprar uma casa na Pampulha, com quatro quartos e um escritório. Tinha um belo jardim e uma área de lazer muito gostosa para nossos bebês. Tudo já estava pronto. Os quartos devidamente decorados, as malas para o hospital prontas, todos os telefones da equipe médica colado na geladeira e eu sempre vigiando minha linda, para que ela fizesse o mínimo esforço possível. Em nossa última visita a médica, marcamos a cesariana. Ela nos explicou todos os procedimentos, sobre a UTI neonatal que era necessária para a segurança de nossos filhos. Ela afirmou que dependendo do peso dos pequenos, eles iriam para casa dentro de quinze dias. Nas últimas semanas, minha gostosa tinha tomado remédios para acelerar a maturação dos órgãos das crianças, para que nascessem com mais segurança. Marcela conseguiu segurar de

forma guerreira toda gravidez, só no finalzinho começou a se sentir mais nervosa, chorava por tudo e por nada. Dizia o tempo todo que estava com medo, que não sabia o motivo, mas estava receosa que algo desse errado. Eu dava todo o carinho possível, tentava distraí-la e vivia contando minhas histórias malucas para os bebês e para ela. Com minhas encenações e mudanças de voz narrando os contos, ela acabava rindo. E assim passávamos nossos dias e noites. Eu estava trabalhando em casa, não podia me afastar dela. Fazia massagens em seus pés, nas costas. Dormia sentado, eu colocava muitas almofadas para ela ficar confortável e puxava ela para meus braços e dormíamos assim. Quase no dia marcado para irmos ao hospital, eu fui convocado para uma reunião com um juiz para tratarmos de um caso complicado da firma. Marcela disse que estava bem, que eu podia ir tranquilo, mas não dava para sair calmo naquela situação. — Meu amor, eu não vou conseguir me concentrar. Deixe eu chamar a mamãe para ficar com você. — Bruno, não vá incomodar sua mãe. Ela me disse que hoje levaria seu pai para se consultar, pois seu pai, teimoso como você, há tempos não faz um check up. — Então, vou chamar Valentina. — Bruno, para com isto. Pelo amor de Deus, eu estou bem. Não posso ficar atrapalhando minha amiga. Ela trabalha, lembra? — Marcela, me promete. Qualquer coisa, me liga. Não vai querer dar uma de forte agora, pelo amor de Deus! — Prometo, amor. Vai para sua reunião. Vamos ficar quietinhos aqui te esperando. Mal consegui concentrar na tal reunião. Avisei ao Meritíssimo que não poderia demorar porque minha esposa estava sozinha em casa e poderia precisar de mim a qualquer hora. Na verdade, todos sabiam da nossa gravidez tripla. Quando cheguei em casa encontrei minha loira deitada, com uma fisionomia de dor. — Amor, você está bem? — Bruno, deitei um pouquinho porque estou me sentindo cansada e com um pouco de dor. — Vamos para o hospital agora, Marcela.

— Não precisa, é só um cansaço. Daqui a pouco passa. — De jeito nenhum, linda, vamos agora. Ela levantou com cara de brava, mas eu não me importei. Teimosia era uma característica comum a nós dois. Assim que ela levantou, uma quantidade enorme de água desceu por suas pernas. Quando vi que a bolsa tinha rompido e ela com uma expressão de dor, entrei em pânico. Sem pensar muito, enrolei a minha esposa em um lençol, a levantei em meu colo e saí como um louco para o hospital. No carro, ela dizia: —Bruno, você não pegou minha bolsa, nem das crianças. Calma! Ela parou de falar e respirou fundo como se sentisse dor. Liguei para a médica e disse que estávamos indo para o hospital. — Marcela, assim que der ligo para a Valentina buscar. Ela está com uma chave de nossa casa, lembra, amor? Correndo como um louco chegamos em nosso destino rapidamente. Graças ao bom Deus quase não enfrentamos trânsito, o que era uma dádiva se tratando de Belo Horizonte. Assim que paramos o carro, já tinha uma equipe nos esperando. Dali para a frente foi uma loucura. Enquanto a equipe médica preparava a mulher da minha vida para trazer ao mundo nosso maior tesouro, eu liguei para Valentina explicando tudo. Depois corri para fazer todo o procedimento para acompanhar a cesariana. Tudo já estava pronto para o grande momento, eu fiquei sentado próximo ao rosto da minha loira, que sorria entre lágrimas. Foi tudo muito rápido, ouvimos o primeiro chorinho, logo o segundo e, em seguida, o terceiro. Nossa! Era o maior milagre de nossa vida. As enfermeiras nos mostraram rapidamente aqueles rostinhos vermelhinhos dos nossos anjos. Foi o tempo de darmos um cheiro em cada um e a equipe neonatal os levou para as incubadoras. Era um procedimento normal naqueles casos. Choramos entre beijos e pequenos carinhos. Os meninos nasceram maiores que nossa pequena. Eles nasceram com quase dois quilos e a pequenina Isadora nasceu com um quilo e meio. A previsão era de que ficariam na UTI neonatal por quinze dias, caso tudo corresse como o previsto. Os meninos Lorenzo e Matheus talvez pudessem até sair antes, pois faltava menos de cem gramas para atingir dois quilos. Encerrado todos os cuidados com a loira no centro obstétrico, a conduziram para o pós-

operatório. A médica me informou que dentro de no máximo duas horas ela estaria sendo levada para o quarto. Eu a beijei com todo meu amor, agradecendo por me fazer o homem mais feliz do mundo. Naquele setor eu não poderia ficar com ela, mas ela aceitou, estava muito feliz. Quando cheguei à sala de espera, foi uma festa só. Todos já estavam lá. Minha amiga tinha comunicado a família. Muitos abraços, cumprimentos e Valentina quase me enlouquecendo para contar tudo nos mínimos detalhes. Eu tinha filmado tudo, então todos sentaram para ver na pequena tela da câmera a chegada dos meus anjos. Mamãe e minha sogra choraram como crianças, papai era durão, mas seus olhos ficaram marejados. Meu primo era pura emoção e me abraçou apertado. — Bruno, eu sou eternamente grato a você por tudo que fez por mim e, principalmente, por me proporcionar este momento tão abençoado. — Cara, eu que te agradeço. Você é meu irmão, Pedro, eu amo você, porra. A médica apareceu, nos parabenizou e pediu que assim que todos vissem minha mulher, que deixasse somente duas pessoas no quarto, para não cansar muito a paciente. E assim aconteceu, minha loira chegou ao quarto, todos a cumprimentaram, deram beijos, ela e a amiga choraram abraçadas. Logo depois, ficaram no quarto, eu, a sogra e mamãe. Todos se despediram, prometendo voltar depois. Enquanto minha loira estava dormindo, eu fazia carinho em seus lindos cabelos e refletia em como a vida podia nos surpreender de várias formas. Percebi que não sabemos entender os desígnios de Deus e nos revoltamos, porém somos nós mesmos os mais prejudicados. As escolhas determinam o tempo de nosso sofrimento. Como eu aprendi tanto com a vida. Todas as burradas que fiz me fizeram enxergar o verdadeiro sentido da entrega total. E naquele momento, só podia agradecer, por tudo. Estava perdido em devaneios, em lembranças, quando ouvi uma vozinha fraca: — Bruno, chame a enfermeira, tem algo errado. Estou sentindo uma coisa muito ruim, não sei explicar. Parece que estou perdendo os sentidos. Minha mulher acabou de falar e desmaiou. Apertei a campainha desesperado, enquanto pude perceber que havia sangue em seu lençol. Já ia sair feito um louco pelo corredor do hospital, quando uma enfermeira entrou correndo. Foi logo avaliando os sinais vitais, e apertou uma luz de emergência. O médico plantonista chegou rapidamente e foi ouvindo as informações da enfermeira que dizia: “Pressão sanguínea e pulsação baixa, febre e desmaio, doutor. Hipótese diagnóstica de

hemorragia pós-parto”. Em menos de minutos, o quarto virou um ambiente de resgate, chegaram vários enfermeiros, uma maca, um aparelho parecendo respirador. Eu estava em estado de choque, tentava falar, perguntar, mas ninguém me ouvia. A mãe de Marcela chorava copiosamente em um canto do quarto, enquanto minha mãe me mantinha afastado do aglomerado em volta de Marcela. — Mãe, por favor me solta. Eu preciso ir junto com minha mulher. — Meu filho, calma. Eles precisam cuidar dela, você vai atrapalhar. — Eu não estou calmo. Estou louco, mamãe. Apavorado, vi que eles saíram com ela do quarto às pressas e uma das enfermeiras nos avisou que ela estaria indo para a Unidade Intensiva de Tratamento e que logo que estabilizasse, um médico viria conversar conosco. Ainda tentei segui-los, mas fui impedido por um enfermeiro. Ele me pediu calma, alegando que eu não poderia ajudar em nada e sim atrapalhar. Mamãe me fez ficar, mesmo contra minha vontade. Nunca senti tanto pânico em toda minha vida, um medo que me paralisava. Comecei a socar a parede e mamãe me fez olhar para ela. — Bruno Fernandes, olhe para mim. Você é forte, meu filho. Não pode se desesperar assim. Pelo amor de Deus, meu filho, precisamos manter a serenidade neste momento. Eu estou com você. — Mamãe, eu não consigo. Estou apavorado. Não consigo viver sem ela. Eu tenho medo. Tinha muito sangue. Meu Deus, não faz isto comigo. — Filho, você não vai ficar sem ela. Marcela é forte. Não vamos pensar no pior. Abracei minha mãe e chorei como uma criança quando se machuca e a dor é grande demais para suportar. Depois de perder as forças em função de tantas lágrimas, comecei a andar de um lado para o outro dentro do quarto, até não aguentar mais e sair desesperado em busca de informações. Mamãe saiu louca atrás de mim, mas eu não parei. Por ser advogado, eu sabia argumentar muito bem, mas parecia que ninguém me ouvia. Estava prestes a brigar com uma enfermeira, quando Pedro chegou e me afastou da recepção da UTI. Minha mãe veio em meu socorro, agradeceu a Pedro e me afastou daquele lugar. Ela sentou comigo perto de Valentina em um sofá. Minha amiga percebeu que meu desespero era tanto, que

me abraçou, e eu chorei novamente, sentindo uma dor dilacerante. — Bravinha, reza com toda sua fé. Acho que você tem conexão direta com o andar de cima. Peça ajuda, por favor, eu não vou sobreviver sem Marcela. — Calma, você não pode desesperar e perder a fé. Minha amiga é forte, vai sair desta. Você agora é pai de três, precisa se manter forte. Vamos comigo até a capela, faremos uma prece e você vai ver que tudo se resolverá. Eu ainda relutei em sair de perto da UTI, mas mamãe pediu que eu fosse com Valentina, disse que ficaria de plantão e qualquer novidade me chamaria. Ainda resisti, mas aquela pequena fortaleza me arrastou com ela. Quando chegamos em frente ao altar, ela segurou minha mão e fez a mais bela prece que já ouvi. — Querido Deus, precisamos de sua misericórdia neste momento tão difícil para nossa família. O Senhor nos presenteou com três lindos anjos. Sabemos que todos os Seus caminhos têm um propósito, não estamos aqui para nos revoltar, mas para pedir humildemente pela Sua Benevolência em restaurar a saúde de nossa amada Marcela. Pai, ela realizou o grande sonho de ser mãe, o Senhor sabe todas as coisas, permita a eles a dádiva de criar os filhos. Meu Deus, nos dê forças para enfrentar o que está destinado a nós. Acalenta nossos corações e nos dê sabedoria para enfrentar o que ainda não podemos entender. Agradecemos por tudo e pedimos em nome da Virgem Maria que concebeu seu único Filho. Amém! Ouvindo minha prima, eu só sabia chorar, meu coração estava em pedaços, mas aquelas palavras entraram em minha alma, trazendo um pouco de alento à minha dor. Voltamos para o andar onde deixamos Pedro para obter informações. Ele nos colocou a par de tudo. Não podia receber notícias piores. Tentaram parar a hemorragia com medicação intravenosa, mas não foi possível. Por isto, retornaram com ela para o centro cirúrgico onde tentariam uma massagem mecânica de fundo de útero. Aquilo só podia ser um pesadelo, não estava acontecendo comigo. Eu não sabia o que fazer. Tentaram me dar algo para tomar, mas não aceitei. Andava sem rumo de um lado para o outro, todos tentavam me acalmar, mas a situação só piorava. Minha mãe me vigiava de perto, tentando me fazer raciocinar. Naquele momento de desespero vi meu pai chegando. Fui desesperado em direção a ele. — Papai, me ajuda, por favor. O senhor é minha fortaleza. Fala que vai dar tudo certo. Eu estou desesperado.

— Meu filho, seu velho está aqui para te auxiliar. Se pudesse arrancava sua dor, mas infelizmente não posso. Vou estar aqui ao seu lado e vamos passar por tudo, juntos. O desespero foi tomando conta de mim, precisei me apoiar à parede, eu havia perdido as forças. Fui agachando e chorei. Meu pai ajoelhou à minha frente, me abraçou e ficou me balançando dizendo: — Shhh... Papai está aqui, filho. Tudo vai dar certo. Vamos manter a fé. Aquele aconchego me trouxe um pouco de paz. Enquanto estava no chão vivendo meu drama, Pedro ficava de pé impedindo que os outros se aproximassem. Ele me conhecia bem e sabia que era melhor menos gente falando em minha cabeça. A sensação de inutilidade acabava comigo. Foram horas extensas de solidão e dor, até que um médico apareceu. — Doutor Bruno, infelizmente eu não tenho boas notícias. Precisamos realizar uma histerectomia para que pudéssemos interromper a hemorragia. No momento sua esposa está na UTI, com a cirurgia aberta, pois estamos usando compressão mecânica. Ainda não conseguimos parar totalmente a hemorragia. Ela está sedada por medicamentos, mas precisamos iniciar urgente uma campanha para doação de sangue tipo O+, pois precisaremos de muitas doações para recuperar o perdido. No momento, o que vocês podem fazer para ajudar é pedir para todos que doem sangue e vamos rezar. Posso te garantir, estaremos fazendo o possível e impossível para salvar sua esposa. Depois de detonar esta bomba em minha vida, ele virou as costas e sumiu para dentro da UTI. Fiquei paralisado por um tempo, sem reação, até que Pedro me sacudiu. — Presta atenção, cara! Nós somos Fernandes, não vamos desistir. Acredite em mim. Vai dar certo. O que estamos esperando? Vamos arregaçar as mangas e iniciar agora a campanha para doação de sangue. Nós vamos juntos salvar nossa maluquinha. Você não é um molenga que desiste na primeira batalha. Porra, meus sobrinhos precisam de vocês. Estamos juntos, lembra? Sempre juntos! Aquela sacudida do meu primo quebrou o pânico dentro de mim. Saí do meu estado de letargia e começamos a luta. Usamos todas as redes sociais para pedir ajuda a amigos, aos meios de comunicação e a sociedade em geral. Meu pai pediu ajuda aos magistrados que prontamente convocaram os servidores do judiciário para a doação. Graças ao bom Deus, os brasileiros sempre foram unidos na hora da dor. O hospital recebeu um número alto de doações de sangue.

As notícias do estado de saúde da minha boneca, não eram nada animadoras. A maldita hemorragia não passava e os médicos estavam com muito receio da temida Síndrome de Hellp, que não deixava o sangue coagular. Porém, quando o desânimo começava a abater, minha família era como os soldados que nunca deixavam a guerra. A mãe de Marcela talvez fosse a que estava mais apavorada, eu buscava forças onde não tinha para acalentar minha sogra. Já havia se passado dois dias e minha loira ainda estava na UTI, se mantinha estável, sem melhoras, mas também sem agravamento do quadro. Foi neste momento difícil que conheci meu sogro, que veio imediatamente de Portugal assim que soube do acontecido. Dona Laura chegou com ele perto de mim para me apresentar aquele que era o pai da mulher da minha vida. — Bruno, este é seu sogro querido. Sei que não é um bom momento para se conhecerem, mas tenho certeza de que vou poder fazer um delicioso jantar para todos nós em breve. Ele me cumprimentou com um forte abraço e disse: — Tenho certeza de que tudo dará certo, meu jovem. Marcela é forte como a mãe, uma verdadeira guerreira. — Muito bom conhecer o senhor. Tenho certeza de que ela está lutando por nós. Agora que está aqui, cuide da minha sogra. Ela está precisando. Eu estava cansado, por isto falei pouco, mas dei um sorriso com um leve aceno de cabeça. Não estava muito bom para conversar. Com a chegada dele, pude deixar minha sogra aos seus cuidados. Ele não a deixou nem um minuto, por nada, cuidava dela com tanto cuidado, que era possível ver que entre aqueles dois existia viva a chama do amor. Minha linda parecia muito com o pai, era incrível ver a semelhança dos dois. Os médicos tinham permitido que eu entrasse para vê-la por duas vezes. A primeira vez que entrei, precisei ter muita força. Vê-la tão vulnerável, entubada, com tantos fios e máquinas em cima dela e bolsas ligadas em seus braços, inclusive a bolsa de sangue, me deixaram bem abalado. Respirei fundo, pois o médico pediu que eu conversasse com ela. — Amor, tenha forças. Estamos aqui junto de você. Precisa ver como nossos pequenos são lindos, choram a plenos pulmões e eu desconfio que estejam sentindo falta da mamãe deles. Minha linda, lute por mim, por eles, você é rebelde, lembra? Agora é hora de se rebelar contra a doença e voltar. Eu te amo, preciso de você. Loira, a Isadora é um doce. Dengosa, segura meu dedo com sua mãozinha e fica fazendo barulhinhos como uma gatinha. O Lorenzo, acho que é teimoso como o pai, fica muito bravo quando a enfermeira mexe com ele. Já o Matheus... Ah, este é como a mãe,

rebelde. Chuta tudo dentro da incubadora, não deixa nada perto dele. Gostosa, eles são a coisa mais linda do mundo. Em dois dias já ganharam peso e têm uma fome louca. Reaja, meu amor, por favor! Naquela hora precisei parar de falar, pois minha emoção não permitia mais. Eu sabia que ela estava sedada e talvez não me ouvisse, mas Pedro fez questão de me lembrar de que ele ouvia tudo quando sofreu o acidente. Então eu não podia deixá-la perceber meu sofrimento, ela já estava sofrendo demais. Foram quase seis dias de agonia, até que ela começou a reagir e a hemorragia foi cessando. Os médicos começaram a diminuir a medicação e no sexto dia, quando eu estava no quarto segurando a mão dela e falando, ouvi: — Bruno, como estão nossos filhos meu amor? Eu prendi a respiração e olhei para ela assustado. A mesma ainda estava com os olhos fechados, pensei ter tido uma alucinação. Abaixei bem próximo ao rosto dela e falei baixinho: — Amor, você está me ouvindo, minha linda? — Estou sim, meu amor. Só estou com dificuldades de abrir meus olhos ainda. — Marcela, você voltou pra mim, rebelde. Meu Deus, obrigado. Não consegui falar mais nada. As lágrimas começaram a descer e eu a abracei com muito cuidado. Ela fez uma carícia em meu cabelo. Com uma vozinha um pouco fraca disse: — Você pensa que eu ia ser louca de deixar você solto por aí, senhor Bruno Fernandes? A felicidade me consumiu naquele momento. Além de ter acordado, ela ainda estava brincando comigo. Era bom demais para ser verdade. Saí do meu estado de glória e apertei o dispositivo que avisava a enfermeira que algo estava acontecendo. Em menos de um minuto ela chegou ao quarto e ficou muito animada por ver minha loira tentando abrir os olhos e falando. Na verdade, acho que toda a equipe do hospital estava sofrendo conosco. Sorrindo, a enfermeira disse que chamaria o médico. O plantonista chegou e foi logo realizando os procedimentos necessários. Marcela passou mais dois dias em observação na UTI e no oitavo dia, recebemos a melhor notícia do mundo. Ela voltaria para o quarto. Enfeitamos tudo com balões em forma de coração, fotos dos pequenos em vários momentos na incubadora e ursos de pelúcia. Evitamos flores, pois o médico pediu que evitássemos em função dos aromas, pediu até que

não usássemos perfume para evitar que ela precisasse espirrar. Eu havia pedido a todos que nos deixasse a sós naquele momento, pois precisávamos de privacidade. Quando a enfermeira chegou com ela no quarto, foi o momento de maior alívio da minha vida. Eu sabia que ela ainda inspirava muitos cuidados, mas já era nossa primeira vitória. Nunca pensei que seria tão difícil controlar minha emoção, principalmente quando ela me olhou nos olhos e disse: — Eu te escutei, amor. Estou aqui por vocês. Cuidarei de vocês quatro com todo o meu amor, para sempre. Naquela hora, eu a abracei com todo o cuidado do mundo e em seus braços permiti chorar toda minha angústia e dor dos últimos dias. Ficamos abraçados por muito tempo até que meu coração se acalmou. — Marcela, foram os piores oito dias da minha vida, mas eu pedi a Deus que me desse uma chance, que não me abandonasse. Ele meu ouviu. E hoje sou o homem mais completo e agradecido deste mundo. Nunca vou decepcionar vocês. — Eu tenho certeza disto, meu amor. Para sempre, você foi feito para mim, exatamente como é. Estávamos no maior clima de amor, quando os pais dela chegaram ao quarto. Eu juro, eu nunca tinha visto um homem chorar tanto como aconteceu com meu sogro. Ele soluçava, pedia perdão, dizia que amava, abraçava tudo ao mesmo tempo. Minha loira ria entre lágrimas, tamanha felicidade. Ver os dois era bonito. Pai e filha, cópia fiel um do outro. Dona Laura se manteve mais afastada, com olhos marejados assistindo a cena. Foi naquele momento que eu tive certeza de que Marcela estava bem melhor. — Papai, não precisa me pedir perdão de nada, mas para mamãe sim, precisa. E eu, sinceramente, espero que vocês dois deixem o orgulho de lado e de ser cabeças-duras e se agarrem logo. Todos nós começamos a rir do jeito cauteloso da rebelde de falar e ali eu percebi que tudo ficaria bem. Os dias foram passando e minha mulher foi melhorando rapidamente. Eu sempre agradecia a Deus por ela. No décimo primeiro dia de hospital, ela foi liberada para ir ver nossos pequenos. Eu e a enfermeira a conduzimos para a UTI neonatal, na cadeira de rodas. Ela teria uma surpresa.

Matheus e Lorenzo já estavam liberados e iriam para o quarto conosco. A pequena Isadora ainda ficaria mais quatro dias até sua liberação. Assim que chegamos, minha linda começou a chorar, não sabia por onde começava. Dizia o tempo todo que queria ter mais de dois braços. Passou a mão na cabecinha de cada um. A coisa mais linda do mundo foi ver Matheus silenciar o choro bravo assim que ouviu a voz da mãe. Todos se emocionaram naquele lugar. Quando a enfermeira os retirou da incubadora e disse a minha mulher que eles estavam liberados, foi emocionante demais. Caralho, eu estava virando um verdadeiro maricas, vivia chorando. Deixar a princesa sozinha não foi muito fácil, mas a pediatra garantiu que dentro de quatro dias ela estaria conosco. Informamos a médica que só sairíamos do hospital com os três juntos. Marcela não estava liberada, pois ainda inspirava cuidados. Porém, recebemos a ótima notícia da equipe médica, que caso continuasse correndo tudo dentro do esperado, em cinco dias todos nós receberíamos alta. Ficamos felizes demais. Voltamos para o nosso quarto, com dois pacotinhos em nossos braços. A mamãe foi levando o pequeno Matheus e eu fui com Lorenzo. A enfermeira foi empurrando a cadeira de rodas. Aqueles dias foram de muita agitação em nossas vidas. Os pequenos eram esfomeados. A mamãe coruja ficou brava, pois precisou complementar a amamentação com fórmula infantil, mas não tinha outro jeito, eram boquinhas famintas demais para uma mamãe só. A médica garantiu a Marcela que não seria prejudicial aos bebês, uma vez que ela estava somente complementando o aleitamento materno. Enfim, chegamos ao grande dia: a volta para casa. Minha linda passou por uma bateria de exames e, graças a Deus, tudo estava em ordem. O médico recomendou que ela não fizesse esforço e se mantivesse de repouso por mais trinta dias. Quer dizer, entendi bem o que era isto. Significava nada de sexo neste tempo. Apesar de que nossa rotina estava tão louca com os três anjos, que chegávamos ao final do dia, quebrados. Estava tudo pronto em nossa casa, uma verdadeira estratégia de guerra para tantas fraldas, banhos, mamadeiras, amamentação e colos. As vovós e a titia estavam em prontidão para ajudar. Mesmo com muita resistência da minha loira, contratei uma babá pra ajudá-la, além de nossa ajudante em casa. Não foram preciso nem mesmo dois dias se passar, para ela concordar comigo que precisaria de ajuda.

A grande novidade da vez foi descobrirmos que nossos filhos em breve teriam priminho ou priminha. Minha fiel amiga passou mal em minha casa um dia, chegando a desfalecer por alguns minutos. Um Pedro desesperado saiu correndo com ela para o hospital e o diagnóstico veio a confirmar: a família Fernandes iria aumentar novamente. Como nossa família estava fértil. No final tudo acabou dando certo. Passamos tanta aflição com Marcela, que não nos queixamos por ela ter perdido o útero, afinal ela estava viva. Realizamos nosso sonho de ter três filhos, tudo bem que de uma vez só, mas já era trabalho para uma vida cuidar e educar aquele trio lindo. Eu era o homem mais realizado do mundo. Enfim, tudo valeu a pena!

Capítulo 54

Operação fraldas

Bruno

Você tem noção o que são os primeiros dias em casa, pais de primeira viagem com três bebês? Posso te garantir que é uma verdadeira loucura. Um operação de guerra. Algumas vezes eu precisei ser o sensato da família, pois além das três crianças chorando, minha loira também chorava as vezes. Entrava em um estado de pânico por não saber o que fazer com tantas cólicas dos bebês. Chegamos a levar os pequenos ao pediatra dez vezes dentro de um mês. Isto mesmo, não estou brincando. Viviamos com os bebês no médico e sempre ouvíamos o mesmo diagnóstico: cólicas naturais nesta fase. Confesso que as vezes dava vontade de fugir, mas respirava fundo e tentava acalmar a agitação da casa. Se alguém me contasse que eu, Bruno Fernandes, seria o agente de pacificação daquela bagunça toda, eu com certeza iria rir do sujeito. Porém, como na vida dançamos conforme a música, eu precisava manter a sabedoria e serenidade naqueles momentos turbulentos. As vovós ajudavam muito, mas as vezes falavam tanto que deixava minha loira mais nervosa. Elas tinham tantas receitas para cólica, que quase nos deixava loucos. Acredite, mas eu precisei em algumas vezes muito sutilmente solicitar que elas dessem um tempinho para minha esposa tentar agir sozinha. Conversava com muitos amigos que já eram pais e todos diziam que esta fase louca passava.

Pensar em sexo naquela situação, era quase impossível. No final do dia, quando os pequenos resolviam dormir um pouco, caímos mortos na cama e mal começávamos a descansar, já ouvíamos a sinfonia do primeiro chorinho, que rapidamente era acompanhando pelos irmãos. Não pense você que viver esta verdadeira operação fraldas e cólicas tirava a magia e o encantamento com nossos pequenos. Tínhamos momentos deliciosos, os três já começavam ensaiar pequenos sorrisos e era incrível como tinham personalidades próprias, mesmo tão pequenos. Isadora era uma pequena lady. Eu brincava que seu chorinho era uma música aos meus ouvidos, perto dos gritos desesperados dos irmãos, que aliás, eram esfomeados. A princesa, era mais calma, dormia melhor e também era menos gulosa. Ela adorava segurar meu dedo. E eu confesso, ela me deixava babando feito um bebê. Era a coisa mais linda do mundo. Meu coração já era dela. Matheus era como a mãe, rebelde. O berço dele não podia ter nada, senão ele se enrolava ou se sufocava. Batia perninhas, era esperto que só ele. Seguia tudo com olhos vivos e chorava bravo quando ficava para depois. Acalmava-se muito rápido no colo de Marcela. Adorava ficar com suas mãozinhas nos cabelos da mamãe. Era lindo de ver. Ele era como o pai, deslumbrado pela beleza da loira. Lorenzo era bravo, muito bravo. Na hora do banho era uma luta, ele chorava a plenos pulmões. Detestava vestir roupa. As vezes começava a chorar enfurecido e nos deixava sem saber o que fazer. Até o dia que ele gritava toda sua fúria e eu brinquei com ele: — Está bravo campeão. Vamos ver se tem algo aí nesta roupa te incomodando. Fui retirando todas as peças, até a fralda. O deixei peladinho e qual foi minha surpresa? Parou de chorar e ficou brincando com os pezinhos. Ali estava seu drama, ele gostava de ficar a vontade. Daquele dia em diante, aprendi que bastava deixa-lo só com a fraldinha e ele já acalmava. Meus filhos e suas manias, uma verdadeira graça. O primeiro mês não foi muito fácil para minha gostosa em função dos medicamentos e de algumas dores que ainda sentia na cirurgia. Eu pedi licença de dois meses da firma para dar assistência em casa. Eu não era a favor desta história de que o marido ajudava a esposa. Não era ajuda, afinal eu também era o pai. Tínhamos as mesmas obrigações e eu participava de tudo. Aliás, tomei a frente mesmo das crianças, dava mamadeira, trocava fraldas, dava banho e muitas noites fiquei com os bebês para ela descansar. Em relação a nós dois, foram quase dois meses somente com beijos e alguns amassos quentes.

Eu estava subindo pelas paredes, as vezes tomávamos banho juntos e eu me aliviava nas mãos agéis ou na boca deliciosa da minha esposa, mas sem penetração. O médico havia nos pedido dois meses de total jejum. Conseguimos bravamente seguir até o quinquagésimo oitavo dia sem nos amar. Porém, em uma noite, quando as crianças estavam dormindo e eu estava na cama lendo um processo, vi minha loira entrando no quarto com uma camisola branca transparente. Porra, preciso dizer que depois dos bebês ela estava com curvas lindas. Uma delícia. — Venha aqui maravilhosa. Quero sentir seu cheiro. — Maravilhosa? Com esta cicatriz gigante e gorda? — Marcela, você está deliciosa, nada de gorda. E esta cicatriz para mim é linda. Um sinal de nossa vitória e do nosso amor. Agora venha aqui, quero você. Ela me deu o sorriso mais lindo do mundo. Um misto de desejo e timidez. Era como se fosse nossa primeira vez. Ver aquela deusa vindo em minha direção, despertou o desejo em mim. Eu precisava amar aquela mulher, não aguentava mais esperar dois dias. Assim que ela chegou a cama, deixei o processo de lado, a trouxe para o meu colo e comecei a cheira-la. Aquele era o melhor aroma do mundo. Somente com este pequeno ato de passar o nariz por ela, percebi o quanto ela me desejava. A loira começou a hiperventilar e dar pequenos gemidos. Queria ama-la lentamente, como ela merecia, mas minha necessidade era urgente. Não aguentaria prolongar tanto as emoções como queria. — Marcela, eu te amo. Não sei se já te falei isto hoje. — Hoje ainda não touro. — Você me fez o homem mais feliz do mundo. Tem certeza que está bem? Podemos continuar sem riscos? — Meu amor, nunca estive tão bem como hoje. Quero você dentro de mim. Eu preciso de você. Bastou este sinal, para que eu a beijasse como um homem perdido no deserto em busca de seu oásis. Ela era minha redenção, meu pecado original, minha deusa da noite. Com aquela delícia em meu colo, as pernas em volta de minha cintura e nua embaixo da camisola, comecei uma dança sensual. Meu membro já estava dentro dela, como eu disse, não dava para esperar.

Foi sublime. Um ato de entrega total. Duas almas apaixonadas que se encontraram. Era muito amor. Depois de todo o frisson e da saudade louca que estávamos de estar um dentro do outro, começamos a nos tocar, naquele momento com mais calma e dispostos a nos amar novamente. Bom, nós até tentamos, mas em pleno auge, ouvimos um chorinho vindo do quarto e começamos a rir de nossa deliciosa realidade. Saímos felizes em direção ao lugar onde estava nosso maior tesouro.

Capítulo 55

O jantar

Marcela Nossa vida estava começando entrar em uma rotina mais tranquila. Nossos pequenos já estavam com seis meses e graças a Deus não tinham mais cólicas. Não gosto nem de lembrar como foi difícil ver meus anjinhos sofrendo, mas enfim passou. Víviamos a fase mais deliciosa de todas, eles riam de tudo, faziam gracinhas e davam gritinhos lindos. A pediatra já tinha me falado que cada fase era uma novidade diferente, mas que também uma preocupação nova. Neste momento estávamos vivendo o drama dos primeiros dentinhos, que deixavam as crianças nervosas e as vezes febril. Nossos filhos eram crianças lindas, por onde passávamos com eles eram a maior atração. Bruno me surpreendeu. Nunca imaginei que meu touro tivesse tanto jeito com criança. Ele era paizão e os filhos ficavam doidos quando ele chegava. Isadora era dengosa e queria o pai somente para ela, mas ele sabia conciliar bem e dava atenção igual a todos. Víviamos um conto de fadas, quer dizer, com um pouco de agitação, mas era nosso mundo particular. Eu e Bruno aprendemos a criar oportunidades para estarmos juntos em todos os momentos possíveis, porque as coisas eram bem animadas em nossa casa. Mateus era uma criança precoce, já estava ensaiando engatinhar. Sentia que ele ia ser como eu, terrível. Lorenzo, já tinha ficado mais calmo, mas era bem genioso. Ele também estava arriscando firmar as perninhas e ficar em pé no berço. Isadora, era esperta, não dispensava o colo do pai. Não fazia nenhuma força para engatinhar ou ficar de pé, gostava mesmo era de

estar nos braços de Bruno. Mamãe tinha nos convidado para um jantar em sua casa, mas fez questão de frisar que deveríamos chegar no horário marcado. Cheia dos mistérios, não quis me falar o motivo do convite cheio de regras. Preparamos todo nosso arsenal e saímos rumo a casa de mamãe. Claro que os pequenos dormiram no carro, bastava dar a partida para os três fecharem os olhos. Dentro do carro, com os anjos sonhando eu e Bruno especulamos a causa do suspense: — Bruno, você tem alguma ideia de que dona Laura está aprontando? — Posso até estar enganado, amor, mas acho que tem a ver com seu pai. — Com meu pai? Por quê? — Não sei, mas algo me diz que teremos novidades entre os dois. — Será? Ai meu Deus detesto segredos. — Calma rebelde. Como você é ansiosa. Estamos quase chegando e você já vai descobrir o que é. Bruno ficou rindo da minha cara. Ouvi um pequeno gemido atrás e virei para ver meus pimpolhos. Todos dormiam, era só Isadora sonhando. Ela tinha estas coisas de sonhar sorrindo, resmungando, as vezes até chorava. Chegamos a casa de mamãe e assim que Bruno desligou o carro, Matheus abriu seus olhinhos e sorriu para mim. Nossa, como eu amava aqueles pequenos. Isadora e Lorenzo continuaram dormindo. Eu carreguei Matheus e Bruno pegou o suporte das duas cadeirinhas e subiu com eles adormecidos. Já estávamos tirando de letra estas saídas. Fomos recebidos na porta por uma dona Laura muito sorridente. Fez a maior festa com o pequeno acordado e ajudou Bruno com os dorminhocos. Assim que cheguei na sala, levei o maior susto ao ver papai todo sorridente no sofá. —Uau, não sabia que estava no Brasil senhor Marcelo Lins. — Cheguei hoje de manhã querida. Eu e sua mãe queríamos fazer uma surpresa para você. — O quê vocês dois andam aprontando? — Nada demais minha filha, seu pai chegou hoje e nós marcamos este jantar, para contar a vocês que nós vamos tentar de novo?

— O quê? E a senhora me conta assim? Com esta maior naturalidade? Bruno tinha acabado de voltar do meu antigo quarto que hoje era um verdadeiro berçário com três berços. Ele chegou a ouvir mamãe e foi logo saindo em defesa da sogra. — Ah Marcela, deixa de ser careta meu amor. Isto não combina com minha rebelde. Dona Laura, quero que saiba que estou torcendo por vocês. — Obrigada meu genro querido. E você minha filha, aceita? — Mamãe, claro que aceito. Só quero saber como foi isto.Vocês decidiram assim? De uma hora para outra? — Minha filha não foi de uma hora para outra. Desde o nascimento dos meus netos e aqueles dias que nem gosto de lembrar que eu e seu pai estamos amadurecendo a ideia. Ele precisou voltar para Portugal para resolver algumas coisas, mas não passou um só dia sem que a gente se visse pela internet. Meu pai sorriu para minha mãe com amor e continuou: — Sabe minha querida, consegui convencer sua mãe de que na vida não podemos deixar o tempo passar. Já esperamos demais, sofremos por meus erros e agora é hora de consertar as coisas. Levantei emocionada e abracei papai. Até tentei segurar as lágrimas, mas não foi possível. Sempre sonhei com em ver os dois juntos de novo. Era felicidade demais para mim. O jantar aconteceu em clima de felicidade. As crianças acordaram e faziam a maior farra em suas cadeirinhas a mesa conosco. Como eles eram alegres. Não tinha como ser diferente, nossos pequenos eram muito amados e isto refletia em seus rostinhos. Depois de uma noite muito agradável em família, voltamos para casa com uma sensação de que as coisas estavam todas em seus lugares.

Capítulo 56

O casamento

Bruno

Um ano depois...

Se você me contasse há três anos que eu estaria casando com a mulher da minha vida, não acreditaria em você. Provavelmente eu ia rir da sua cara e falar alguma gracinha do estilo Bruno de ser. Porém, aqui estou eu, totalmente apaixonado e nervoso. Sim, nervoso, pois estou no altar esperando a mulher da minha vida entrar. Desde o nascimento dos meus filhos, foram dezoito meses de muita loucura, alegrias, preocupações, visitas de madrugada ao pediatra, mas enfim chegamos aqui. Nossos pequenos são a atração da família. Três anjos, quer dizer são bem levadinhos, mas nada anormal para crianças saudáveis. Matheus é loirinho de olho verde como a mãe, Lorenzo é moreno como eu e Isadora uma branquinha linda de olhão azul, que vai me matar de ciúmes quando começar a desabrochar. Lorenzo é o teimoso, brinco que ele tem todo o sangue dos Fernandes. Matheus é o mais perigoso, pois é rebelde como a mãe e adora inventar coisas arriscadas. A minha princesa Isadora é um encanto. Calminha e doce, todos brincam que trocamos de filha, pois ela é como Pedro toda centrada e meiga. Já eles tiveram uma menina, que está com nove meses, parece com a Branca de Neve, linda, mas agitada como eu. Nada calma como o pai.

Nosso casamento vai acontecer durante a tarde, para que as crianças aguentem participar. Contratamos toda uma estrutura ao ar livre com tendas e uma decoração cheia de flores do campo e rosas brancas. Eu estava muito ansioso no altar quando ouvi a música dos padrinhos. Todos entraram sorridentes e alegres. Logo depois foi o momento doçura, ninguém segurou as lágrimas, pois minha princesa entrou com cestinhas nas mãozinhas jogando pétalas brancas por onde a mamãe iria passar. A música escolhida foi Aos Olhos do Pai, de Ana Paula Valadão. Ela estava vestida como uma camponesa, seu vestido era lindo, todo branquinho com pequenos apliques verdes. Seus cabelos cheios de cachos estavam com pequenas florzinhas. Foi impossível para mim segurar as lágrimas. E para finalizar com a pureza de uma criança, quando ela me viu à frente saiu correndo para mim chamando papai. Quebrando todos os protocolos, fui até ela e a carreguei. Logo depois, foi a vez dos meus príncipes entrarem em seus terninhos, com a música Era uma vez, de Sandy e Júnior com Toquinho. Cada um trazia em suas mãozinhas uma rosa vermelha, que dariam para a mãe. Ciumentos que eram quando viram a irmãzinha no meu colo saíram correndo para meus braços também. Novamente arrancaram muitos risos e suspiros. Eu precisei da retaguarda dos avós para me salvar. Meu coração estava para sair, pois eu sabia que agora ela viria, a mulher que conquistou meu coração. Ela tinha me avisado que entraria com uma música que me diria o que eu para ela. Eu estava ofegante, faltava mesmo o ar, tamanha emoção. De repente, a música Ar, de Diogo Garcia, encheu o ambiente.

Só os dois Sem mais ninguém Só nós O tempo parou quando te vi Algo que eu nunca senti És como o ar pra mim Não sei como antes eu vivi...

Ela estava linda, radiante. Seu corpo depois da gestação era a minha mais louca perdição. Ela tinha uma malícia madura no olhar, uma segurança e tanto amor, que senti o calor das lágrimas em meu rosto. Ela se dirigia a mim, junto ao seu pai, com um lindo brilho no olhar. Ela era a noiva mais linda que já vi. Era como se não tivesse ninguém mais ali, tamanha nossa conexão. Era só eu, ela e nosso amor. Em suas mãos havia uma única rosa vermelha. Aquele era um símbolo de amor em nossa família. Significava que ela era única para mim, rara e perfeita. Fui de encontro a ela, abracei e agradei meu sogro, dei um singelo beijo em sua testa e disse baixinho o quanto a amava. O momento mais esperado por mim foi os votos. Comecei cantando Meu eu em você, de Victor e Leo, que era uma canção especial em nossa vida:

Eu sou o brilho dos teus olhos ao me olhar Sou o teu sorriso ao ganhar um beijo meu Eu sou teu corpo inteiro a se arrepiar Quando em meus braços você se acolheu...

Foi difícil conseguir cantar tudo vendo as lágrimas descendo no rosto dela, meus dois pequeninos entrando um de cada lado e a irmã ao meio com as alianças presas em uma rosa, mas consegui ir até o final. — Loira você chegou a minha vida como uma tempestade, abalando meu mundo e minhas certezas tão inverossímeis. Teu sorriso que ilumina minha vida foi, aos poucos, derrubando a resistência. Estava perdido em minhas teorias e regras. Com sua genialidade, teimosia e rebeldia, você me arrebatou. Como uma águia em busca de liberdade, você me aprisionou. Sem você vivi em um deserto de dor. Quando voltou para mim, renasci para o amor. Hoje sou completo, todas as amarras foram desfeitas por você e estou pleno, realizado, o homem mais feliz deste mundo. Nunca imaginei que o amor fosse assim: imensurável, inimaginável, porém tão palpável. Amo você, ontem, hoje e para sempre. Ela sorria entre lágrimas, respirou fundo para se acalmar. Segurou minhas mãos, quando pude perceber o quanto as suas estavam trêmulas. — Bruno, quando um poeta coloca em suas palavras e rimas todo o amor de sua alma, ele é

capaz de expressar a essência difícil de explicar este sublime sentimento. Posso te dizer que hoje sei exatamente decifrar a beleza do verbo amar quando olho para meus filhos e vejo você em cada um deles. Meu mundo era sombrio e sem esperanças até que o encontrei, desafiando todas as minhas convicções e rebeldias. Passamos por caminhos tortuosos, mas cada barreira que atravessávamos nos fazia entender que pertencíamos um ao outro. Amei ontem, te amo hoje e te amarei cada dia mais. Agradeço a Deus ter colocado em minha vida um homem como você. Responsável, amigo, terno, carinhoso, companheiro e amoroso. Hoje, meu touro, sou a mulher mais completa deste mundo e você é a minha maior razão de viver. Colocamos a aliança no dedo um do outro em um clima mágico, perdidos em nossos olhares, era quase possível palpar nosso amor. Depois, autorizados pelo padre, nos beijamos em um mundo só nosso. Como em nossa vida tudo era diferente, nós saímos com nossos filhos nos braços. Eu carreguei Lorenzo e Isadora e Marcela carregou Matheus que não desgrudava da mãe para nada. Nossa festa foi no mesmo lugar da cerimônia. Tudo aconteceu em um ritmo de alegria, amor e cumplicidade. Foram muitas fotos com convidados, com nossos filhos e com a família que estava toda no casamento. O momento de maior algazarra, foi quando eu dancei com minha esposa linda e gostosa a música When a man loves a woman, de Michael Bolton. O DJ acionou a máquina que fazia bolinhas de sabão, dando um toque mágico ao ambiente. No meio da música, meus lábios buscaram pelos dela. Reivindiquei seus gemidos, minha língua brincou com a dela e dei pequenas mordidas em sua linda boca. Aplausos chegaram longe aos nossos ouvidos. Era a melhor sensação do mundo. Depois eu dancei a música Wonderful Tonight, de Eric Clapton, com a minha pequena princesa em meus braços. Era incrível sentir aquelas mãozinhas em meu rosto enquanto eu dançava com aquele pedacinho de gente em meu colo. Linda, concentrada no papai, ouvindo a música, às vezes encostava seu rostinho ao meu. Isadora era a meiguice em pessoa, um mistério para nós, pais tão loucos e agitados. Próximo a nós meus sogros estavam dançando no maior clima de amor, eles estavam firmes no amor. tentando recuperar o tempo perdido. Dona Laura viajaria para Portugal, pois segundo ela era uma segunda chance para os dois renovarem os laços desfeitos há anos. Eu torcia muito para eles, dava para ver como se amavam. Olhei para o lado e vi Marcela dançando com os dois pequenos, um em cada braço. Ela cantava baixinho para eles e Lorenzo já estava cochilando deitado com a cabecinha em seu

ombro. Porra, eu era o homem mais feliz do mundo. Aquela família era meu paraíso particular. Aproximamo-nos, passei o braço em volta da minha mulher e agradecemos juntos a Deus por nosso maior tesouro: nossos filhos. Tudo valeu a pena, cada lágrima, cada sorriso, cada tropeço e cada acerto. Aprendi que o amor era capaz de desafiar o destino, ultrapassando todos os obstáculos muitas vezes causados por nossas escolhas erradas. A felicidade é um estado de espírito, nunca a encontraremos em lugares distantes ou inatingíveis. Ela está dentro de cada um de nós, basta olharmos em volta e vivê-la intensamente.

FIM

Mensagem de Bruno Fernandes aos leitores

Oi, obrigado por seguir até aqui conosco. Quero deixar uma mensagem a você que chegou nesta página. Quero te dizer que em nossa caminhada, tudo valeu a pena. Eu sou o homem mais feliz do mundo. Sei que o casamento se constrói a cada dia, com cada pequeno gesto e ação. Muito se fala em rotina, que é a maior inimiga de todos os casamentos, mas posso garantir que estou focado em nunca deixar esta intrusa atrapalhar minha vida com Marcela. Amo esta mulher com todas as minhas forças. Por cada loucura que vivemos, hoje vejo que construímos uma relação à prova de balas. Isto mesmo, passamos por muitos obstáculos juntos. Quantas vezes vocês nos odiaram? Pode contar, eu sei disto. Sei que a autora sofreu para contar nossa história, mas ela foi fiel a tudo, não deixou de mostrar nada. Sabemos que em relação ao casal fofura, meu primo Pedro e sua Valentina, eu e Marcela somos loucos de pedra. Nitroglicerina pura! Não temos nada de clichê em nossa caminhada. Eu era um maluco, porra louca mesmo, que me achava o fodão. O pica das galáxias e pegava todas as mulheres possíveis. Nem sempre fui assim, você lembra? Eu era o romântico apaixonado, que acreditava nas pessoas até que aquela bandida, que não merece ser nomeada, apareceu para me sacanear. Depois daquilo sei que virei o maior filho da puta do mundo, até ser devastado completamente por ela. O tsunami Marcela. A mulher que literalmente desequilibrou meu mundo planejado. Desde o dia daquela pizzaria, minha esposa gostosa me deixou maluco. Não queria admitir, mas você já conhece toda minha vida, então besteira mentir para você. Sim, naquele dia mesmo fui nocauteado. Totalmente! Acho que reagi tão mal, porque minha vida era toda planejada em cima de uma noite e nada mais. E na primeira vez que saio sozinho com a mulher, não só dormi com ela, como repeti o sexo de manhã. Nada fácil, não é? Dali em diante, fiz uma merda atrás da outra. Ok. Vocês venceram! Eu assumo, fiz muita merda. A pior de todas, levar outra mulher para a cama comigo e com ela. Juro! Se pudesse voltar atrás não repetia a dose.

Foram longos dias de calvário, até conseguir minha loira de volta. Porra, vê-la com o espanhol maricas acabava comigo. E o pânico de perdê-la para sempre? Minhas babaquices e infantilidades foram tantas, que ainda precisei enfrentar o acidente do meu primo. Caralho, (desculpe o palavrão), mas não gosto de me lembrar daqueles dias. Enfim, graças a Deus tudo acabou se resolvendo. Hoje estou aqui, totalmente rendido pelo amor da minha esposa e dos meus quatro pequenos anjos. Somos eu, Lorenzo e Matheus o time masculino da casa e Marcela e Isadora, as flores do nosso jardim. Diga-me se tem como ser menos feliz? Quero agradecer e deixar um grande beijo a todas vocês, leitoras maravilhosas, que viveram conosco esta experiência. Eu sei que choraram comigo, riram das nossas trapalhadas, xingaram as autoras, quiseram matar eu e Marcela, mas sabemos que no fundo tudo isto era puro amor. Quero deixar aqui uma mensagem minha, do touro bravo, a todas minhas Brunetes, que me amaram do começo ao fim: “Sejam felizes, não tenham medo de ousar. Não nascemos para viver de mentiras ou faz de conta. Somos resultado de nossas escolhas, mas posso afirmar que nunca é tarde para mudar a rota do GPS da vida e recomeçar. Não aceite menos que um amor verdadeiro, que as façam sentir o gosto pela vida, borboletas no estômago. Vivemos uma única vez e não podemos aceitar viver de migalhas em função de convenções sociais. Somos livres e merecedores da felicidade. Portanto, meus amores, sejam audaciosas, busque a felicidade onde quer que ela esteja e se deu errado, comece de novo e de novo. A vida foi feita para ser vivida intensamente e não pela metade.” Um grande beijo no coração de cada uma, que vocês possam amar as histórias criadas pelas autoras queridas, aproveitando para se inspirar e acreditar no amor. Este sim é o único combustível de nossa alma. Vou aproveitar que a loira está dando banho nos nossos filhos para deixar um beijo selvagem para vocês seu eterno touro bravo. Vocês estão rindo? Porque não sabem como a minha linda é ciumenta. Fui. Bruno Fernandes.

Obras

VENCENDO A DOR Série Sonhos – Livro 1

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Até onde você iria por amor? Você seria capaz de enfrentar qualquer obstáculo para salvar o homem de sua vida? Valentina é uma menina marcada pela dor da perda e desde sua adolescência precisou encarar momentos difíceis para ajudar sua família. Desconfiada por natureza e com um sexto sentido apuradíssimo, ela tentará de todas as formas fugir do amor, mas não conseguirá resistir aos

encantos de um renomado advogado. Pedro Fernandes é um jovem que adora surfar, curtir a vida nos barzinhos com os amigos. Homem centrado, responsável, lindo e também dedicado à sua família e aos valores morais que aprendeu com seus pais. Se rende aos encantos da bela morena séria e arisca. Juntos, vivem um grande amor, inabalável, até que uma fatalidade destrói as estruturas deste relacionamento, colocando o à prova. Será que uma tragédia é capaz de acabar com um grande amor?

Biografia

VALENTINA FERNANDES é o pseudônimo da mineira Cláudia Castro, que é casada e mãe de dois meninos. Assistente social formada pela UFES, especialista em Gênero. Trabalha há 13 anos com vítimas de violência, onde aprendeu a respeitar o tempo e a dor do outro. Sonhadora, romântica e apaixonada pela vida, odeia qualquer tipo de injustiça e abomina a arrogância. Escritora desde criança, tudo se transformava em versos, rimas ou histórias. Escrever para ela é dar voz aos seus ideais. Atualmente reside em Ipatinga, interior de Minas Gerais.

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SANDRA SILVA é apaixonada por livros e pela vida, reside em São Paulo com o marido e filhos. Gosta das coisas simples da vida e para ela sorrir é sempre o melhor remédio. Vê na escrita a forma fantástica de tudo ser possível, deixando de lado por um momento as incertezas da vida.

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Sonhos 2 - Desafio do Destino - Valentina Fernandes

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