Tres Vezes Voce (Irmaos Jackson)

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Copyright © 2019 F. Locks Capa: Thais Alves Revisão e Diagramação: Carla Santos Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meio eletrônico ou mecânico sem a permissão da autora.

Capa Folha de Rosto Créditos Prólogo Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15

Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 29 Capítulo 30 Capítulo 31 Capítulo 32 Capítulo 33 Capítulo 34 Capítulo 35 Capítulo 36 Capítulo 37 Capítulo 38 Capítulo 39 Capítulo 40

Capítulo 41 Capítulo 42 Epílogo Biografia Obras Notas

Meti outra vez, forte e fundo, fazendo com que a cabeceira da cama batesse na parede do quarto repetidamente. Ela rebolou embaixo de mim, esfregando seu clitóris na minha pele, prestes a gozar. Segurei seu pescoço, tocando com o polegar de um lado e os outros quatro dedos do outro como se a estivesse estrangulando e ela gritou, tendo um orgasmo, conforme eu sentia meu pau inchando de excitação, prestes a gozar também, mas o tirei antes de fazê-lo, retirando a camisinha antes de enfiá-lo em sua boca e ela engasgou, segurando a base ao mesmo tempo que chupava a cabeça, gemendo abafadamente. Olhei nosso reflexo no espelho, nos observando ajoelhados, meu pau fodendo sua boca, enquanto envolvia minhas mãos em seus cabelos, fazendo um nó firme, trazendo-a e afastando-a de mim, num ritmo rápido, enquanto espalmava a lateral do seu rosto com a outra mão e quando ela se inclinou, enfiando tudo dentro da boca, eu gozei em sua garganta, gemendo conforme sentia que estava prestes a desmoronar enquanto as batidas na porta pareciam que nunca iriam parar. E não iriam.

Deixei o quarto e me sentei no degrau empoeirado que dividia a velha casa e a oficina, o suor escorria sobre minha testa, contornando as sobrancelhas e caindo pelas laterais do rosto. Fazia quarenta graus, o suficiente para que eu sentisse que estava morrendo. Até mesmo respirar era difícil, por esse motivo, alcancei minha regata pendurada na porta e limpei o meu rosto, a graxa sujando o tecido branco que eu, sem dúvida, enrolaria ao máximo para lavar, talvez eu jogasse fora se não tivesse mais uma casa para fazê-lo. Não sabia o dia de amanhã, não fazia ideia do que me aguardaria em Massachusetts, apenas sabia que o cara que havia me achado na rua e me acolhido quando eu tinha 13 anos, estava morto agora. Minha cliente deixou o quarto, ainda ajeitando o vestido, enquanto eu assistia as duas garotas, que estavam batendo na porta, pegarem tudo o que podiam, enfiando tudo em uma sacola. E Samantha entrou no carro, que eu havia acabado de consertar, e piscou para mim, enquanto preenchia um cheque de pagamento pelos meus serviços como mecânico e então deu a ré, deixando a oficina. A única pessoa na qual eu podia contar, havia morrido há três dias e seu corpo sequer havia esfriado quando suas duas filhas de merda chegaram exigindo a casa, que era o único teto real sobre minha cabeça. Estava enfurecido, claro que estava, caralho, lá estava eu, aos meus 22 anos, sentindo como se estivesse regredindo no tempo, de novo. Um círculo vicioso que insistia em me fazer começar do zero, mas tudo bem, esse era eu me refazendo outra vez. Quem sabe na próxima eu tivesse sorte, ao menos agora tinha uma profissão, e era graças ao Steven. Enfiei o rosto entre as mãos, sentindo a onda de calor me atingir, mas não era o sol quente de julho e sim o efeito do sangue correndo como louco dentro das veias, enquanto eu via suas únicas duas filhas

contornando a casa e entrando na oficina novamente, onde eu estava. Nem um telefonema no mês, sequer um cartão de Natal para seu pai, mas lá estavam elas, sorrindo como se ele não estivesse apodrecendo sob a terra naquele exato momento, a poucos quilômetros, onde ficava o pequeno cemitério da cidade. Eu não conseguia engolir direito porque havia uma porção de palavras entaladas na minha garganta. Nenhuma delas era bonita e, sem dúvidas, também não as faria sentir remorso. — Você é um imundo. — Uma delas apontou para mim, me observando sorrir descaradamente. — Não mais que você — respondi. Coloquei uma das mochilas nas costas e as outras duas, que continha roupas e o máximo de ferramentas mecânicas que podia carregar, eu prendi na parte de trás do banco. Agora eu entendia, ele sabia que estava morrendo e queria se certificar de que ao menos eu teria algo que pudesse servir como minha liberdade e o fato dele ter deixado sua Harley, no qual ele havia investido muito dinheiro reformando nos últimos meses, também havia deixado suas filhas indignadas, mas eu enfiei o documento em suas caras e elas ficaram quietas dois segundos depois. Agora, subindo na moto, com um endereço em mãos, eu sabia exatamente para onde ir, muito embora eu não soubesse realmente o que fazer lá. Suas últimas palavras foram para mim, quando o encontrei caído no chão da oficina há três dias e elas eram apenas “Eu sinto muito” e, então, Steven tirou o maldito papel do bolso e fechou os olhos. E quando vi, estava atravessando o estado, em direção a Massachusetts e, provavelmente, gastaria o pouco que havia sobrado do funeral, então eu

realmente pedia que o que quer que me aguardasse lá, fizesse algum sentido real para mim e que Steven finalmente descansasse em paz desse mundo fodido.

Olhei meu reflexo no espelho da porta que separava o closet do quarto de TJ, contente com o meu decote profundo. As mulheres da minha família religiosa estavam sempre se esforçando para agradar seus maridos e parecerem respeitosas. “Não corte os cabelos, Lizzie, seu marido não vai gostar”, “Não use decote, Lizzie, Christopher não se agradará ao ver tanta pele exposta”. Graças a Deus, minha mãe e meu pai eram a ovelha negra da família, o que fazia de mim e minha irmã, as primas desviadas do caminho de Deus. Por isso, sempre que minhas tias questionavam minha irmã Lizzie, ela sorria e tirava o peito para amamentar seu filho Joseph na frente de seus maridos. Eu amava a minha irmã. Mas, voltando a mim, encarando meu delineador que nunca, nunca ficava um igual ao outro, eu me perguntava se deveria tirar o vestido cinza e me arrastar para debaixo dos lençóis ou calçar minha sandália de salto fino e descer as escadas para a comemoração do aniversário dos meninos. TJ e Ty, os gêmeos, provavelmente ficariam bêbados o suficiente para eu ter que arrastá-los escada acima para suas camas e eu não estava exatamente disposta naquela noite.

Optando pela segunda opção, que não me faria parecer uma louca antissocial, eu me sentei na cama para fechar as sandálias. Dois minutos depois, com um suspiro pesado, eu estava descendo as escadas, ouvindo risadas no andar de baixo, conforme descia degrau por degrau, desejando que aquela noite acabasse logo, mas não acabaria, iria até de manhã e talvez eu conseguisse escapar de TJ e dormir cedo se tivesse um pouco de sorte. Eu não era sempre tão chata, gostava de festas, mas o último semestre havia me feito mudar um pouco de ideia com relação a todo aquele caos sem fim, que sempre resultava em alguma briga, sexo desvairado e um milhão de copos pela casa. No entanto, eu não podia reclamar, havia começado a “namorar” meu amigo de infância, sabia muito bem aonde estava metendo minha bunda quando deixei que ele sorrateiramente se enfiasse dentro das minhas calças e se quisesse que meu cunhado Tyson e meu namorado Tales me aceitassem em suas casas até o fim do meu curso, eu tinha de aceitar todas as garotas peladas andando pelos corredores também. Assim que entrei na sala, avistei TJ na ponta da mesa, ele sorria largamente enquanto levava um copo até a boca após seu adversário acertar a bola de ping pong enquanto jogavam beer pong1. Ele passou o antebraço sobre os lábios, limpando o líquido que escorreu sobre o seu queixo. Tales usava uma blusa branca com a frase “Assopre minha vela” com uma flecha indicando o seu pau – não que fosse preciso, e eu revirei os olhos, sorrindo conforme e aproximava. Seus olhos encontraram os meus e então ele sorriu ainda mais, os dentes brancos ganhando destaque à sua pele extremamente bronzeada, que contornavam e destacavam sua íris verdes. Eu sabia que era ele, não

me confundia mais há muito tempo, porque muito embora Ty e TJ fossem totalmente iguais, eles se vestiam de formas muito, muito diferentes, e eu senti vontade de gargalhar ao pensar em Tyson usando aquela camisa. — Ei, você está gostosa. — TJ contornou minha cintura com seu braço direito, me puxando para um beijo. — Pensei que não fosse descer nunca. — Você não teria essa sorte. — Beijei seus lábios antes de me afastar. Todos começaram a gritar, então me afastei, procurando o motivo de tanto alarme, foi quando percebi que a menina do outro lado da mesa havia tirado seu short, ficando apenas com a parte de baixo do seu biquíni minúsculo. Senti minhas bochechas corarem, mas não era vergonha. Eu o encarei e ele deu de ombros, foi quando percebi que estava sem a sua bermuda também. Sua cueca branca era justa o suficiente para que seu pau glorioso ficasse exposto, apesar do pequeno tecido que o impedia de estar à mostra. — Okay — suspirei antes de me afastar. — Você quer jogar? — TJ perguntou, enquanto eu caminhava para longe deles. — Você quer me ver nua na frente dos seus amigos? — Cruzei os braços sobre os seios. Odiava quando TJ enchia a cara, porque ele fazia merda e agia naturalmente, como se fosse normal jogar com uma garota e pedir para que ela tirasse sua roupa, quando na verdade o jogo não funcionava daquela forma. Por que tudo tinha que envolver pessoas peladas para ele? Qual era a porra do seu problema, afinal? — Ah, qual é? Por que você está brava? É meu aniversário! — Ainda não é meia-noite. Ele revirou os olhos.

— Quando foi que você se tornou tão chata? — ele gritou para mim, conforme eu me afastava. Eu me fazia a mesma pergunta todos os dias, apesar de saber a resposta. Havia ficado mais difícil depois que acabamos juntos na mesma cama, porque TJ era complicado, ele era livre, não gostava de amarras e esteve com seu pau enfiado em mais buracos que uma bola de golfe. E, mesmo que ele sempre tivesse sido meu melhor amigo e tivesse um coração do tamanho do mundo que me fazia amá-lo, ainda assim me deixava irritada por não levar nada a sério. Assim que entrei na cozinha para fazer minha bebida, reconheci cada rosto que contornava a mesa, o que eu considerava a grande merda de ter uma mansão perto da universidade, todos tinham passe livre e apenas quando o Sr. Jackson aparecia para visitar os filhos, a casa se mantinha em silêncio e totalmente limpa. Eu adorava quando ele vinha, o problema é que quase nunca acontecia. — TJ já está com um pau enfiado na bunda? — A voz grave de Tyson sobressaiu, apesar da cozinha estar cheia. — É, ele está — respondi, o encarando sobre a borda do copo. — Talvez você não devesse se estressar com ele. — Ty caminhou até a ilha de mármore, apoiando seus antebraços tatuados sobre a superfície. Ele sorriu para mim, conforme se inclinava em busca de um copo limpo. — É difícil não se estressar quando seu namorado está apostando com uma garota na qual provavelmente está perdendo apenas para acabar nua em uma sala cheia de universitários tarados. — Você precisa relaxar, gata. — Ele deu um longo gole no líquido.

— Claro, sim, tudo o que eu preciso é relaxar e esse é o ambiente mais propício para isso — suspirei derrotada, dando outro gole na minha bebida. — Como conseguem ter vinte e três anos e continuarem agindo como se tivessem quinze? Com todo o dinheiro que tinham obviamente conseguiam, porque haviam se tornado mimados. Sua risada ecoou por toda a cozinha, me fazendo rir também. Depois de tantos anos conhecendo os dois, eu ainda me surpreendia com a forma como se pareciam. Como podia duas pessoas nascerem totalmente iguais? Como seria se eu tivesse uma irmã gêmea? Provavelmente, eu a faria entrar na sala de aula e fazer as provas por mim enquanto eu ficava em casa dormindo. — É simples, seja gostoso, tenha um pau grande e as mulheres ficarão tanto atrás de você que isso vai subir para a sua cabeça e quando ver, terá comido tantas bocetas que estará agindo como um menino punheteiro de quinze. Grunhi. Era estranho saber o quão grande era o pau do meu cunhado, uma vez que meu namorado tinha um igual. — Suma da minha frente! — pedi entredentes. — Vá se divertir, Ky, coloque um biquíni branco e pule na água — ele sugeriu. — TJ vai estar enfiado em um quarto com você antes da meianoite chegar. Eu lhe mostrei o dedo do meio conforme ele deixava a cozinha com um pequeno sorriso no rosto. Não era daquela forma que eu queria TJ, não era o subornando com sexo que o teria na linha. Ele tinha que aprender que se tinha uma namorada, não podia andar nu – ou quase, pela casa, mas era difícil, quando a única coisa que ele sabia era ser o centro das atenções e o pior de tudo é que, além dele ser um tremendo filho da puta gostoso, o nosso sexo era incrível.

Depois de dois copos cheios de uma bebida deliciosa com sabor de cereja, eu voltei para onde TJ estava, o observando completamente nu, um copo plástico vermelho tapando seu membro, enquanto vários celulares o filmavam beber o último copo do jogo. Ty me olhou, sorrindo como se eu tivesse ficado louca por aceitar ficar com seu irmão e suspirei, porque concordava com meu amigo. Amava Tyson e Tales, mas eles davam trabalho na grande maioria das vezes. Quando TJ não estava se metendo em encrenca, Ty estava se metendo em brigas. — Desculpe, gata, eu já estou vestindo minhas roupas. — Ele se virou para mim, ainda segurando o copo. — Não se acanhe por minha causa, continue, não há ninguém mais em Massachusetts que ainda não tinha visto o que você chama de pau. Ouvi todos gritarem em êxtase e eu sorri, não por gostar de chamar atenção ou precisar de aprovação de alguém e sim por saber que eu conseguia colocar Tales Jackson em uma posição onde ele não costumava estar e que não tinha nada a ver com sexo. E quando TJ abriu a boca para dizer algo, que eu sabia que não iria gostar, alguém gritou: — Meia-noite! E um segundo depois, uma universitária, ou uma stripper, eu nunca seria capaz de identificar, apareceu com um bolo enorme com duas velas acesas no centro e todos à nossa volta começaram a cantar parabéns. TJ se abaixou para juntar sua cueca e a vestiu agilmente, revelando suas partes íntimas por poucos segundos, então ele começou a bater palmas acompanhando todos nós. Ty permanecia em um canto, o copo de bebida nos lábios, escondendo o pequeno sorriso arrogante, ao mesmo passo em que seu irmão se curvava sobre o bolo, apagando a pequena chama.

A garota caminhou graciosamente até Tyson, rebolando sobre os saltos, vestindo apenas um biquíni dourado e, quando chegou até ele, ela deu dois pulinhos, ansiosa, antes dele apagar a outra vela virando-a de cabeça para baixo e enterrando-a no bolo. Ele era “durão” demais para soprá-la. A galera explodiu em gritos, mas não foi porque Tyson Jackson enfiou o dedo no glacê e passou na boca da garota e sim porque ele a beijou como se estivesse prestes a fodê-la em público e era exatamente esses shows que aconteciam com grande frequência e estava me deixando esgotada. Depois que todos parabenizaram os irmãos, eu consegui serpentear pelo meio da multidão e abraçar meu namorado, ele mantinha um sorriso presunçoso nos lábios e eu sorri por vê-lo tão feliz, apesar de tudo. Suas mãos correram pela lateral do meu corpo, enquanto sua boca tocava a pele exposta do meu pescoço. — Feliz aniversário, TJ. — Pra você também — ele desejou, mordendo meus lábios. — Eu não estou aniversariando. Ele uniu as sobrancelhas. — Feliz 4 de julho então. — Feliz Dia da Independência. — Eu acho que estou alto. — Sim, você está. Uma mão o puxou pelo pescoço e três segundos depois ele havia sumido no meio da multidão e eu sabia que vinte segundos era o máximo que eu conseguia ficar perto dele durante uma festa. Caminhei até Tyson, que me observava chegar até ele, então eu sorri para o meu amigo,

abrindo os braços para um abraço, que eu sabia que seria estranho. Ty era bom em demonstração pública de afeto, mas apenas quando envolvia uma língua no meio. — Feliz aniversário, Ty. — Valeu. — Fica de olho no seu irmão, eu estou indo dormir. Ele assentiu, conforme eu me afastava, em direção a cozinha. Abri o armário e peguei um pacote de castanha e o prendi embaixo do braço com medo de alguém arrancá-lo de mim antes que eu chegasse até meu quarto e, quando dobrei o corredor que dava acesso a escada, eu vi Tyson na porta. Com uma expressão de confusão no rosto e um suspiro cansado, eu andei até ele. Ty vestia uma camisa diferente, e eu me perguntei como diabos ele havia arrumado uma camisa tão rápido sem que fosse até seu quarto. Abri meu pacote de castanha antes de chegar até ele e enfiei uma na boca, encarando-o, confusa. Assim que seus olhos caíram sobre mim, seu olhar se arrastou por todo o meu corpo, desde minhas sandálias, até meus seios e depois, lentamente, até meu rosto e eu senti minhas bochechas esquentarem e me perguntei o que inferno estava acontecendo porque ele nunca havia olhado naquela forma para mim sem que estivesse de gozação. E ele não estava. — O que você quer? — É uma bela forma de atender uma porta — ele forçou um sotaque, que o deixou ainda mais sexy, apesar de eu não estar entendendo aonde ele queria chegar. — Por que você está parado aí como um idiota?

Ele ergueu as sobrancelhas, parecendo animado com minha pergunta, mas então esboçou um sorriso, e Cristo, não era a forma como eu costumava ver Ty sorrir, mas também não era a forma como TJ o fazia. — Vocês estão fazendo aquilo de novo? — perguntei, impaciente. — Eu não vou mais cair nessa, não tem mais graça. Eu não vou saber identificar porque um de vocês está fazendo o papel de uma terceira pessoa e aí Tyson começa a rir e dizer que podia me comer facilmente sem que eu soubesse que estava dormindo com alguém que não era o meu namorado. — Então você tem um namorado? — Quer saber, agora vocês vão se ferrar comigo, porque eu vou beijar você — anunciei, dando um passo para frente, observando-o unir as sobrancelhas confuso. — Se você for meu namorado, okay; se não for, então meu namorado vai sair do primeiro arbusto no qual está escondido. — Você é louc... Levei minha mão até sua nuca, e imediatamente ele colocou uma mão na minha cintura, me puxando com força até que meu corpo estivesse colado ao seu. Sua língua deslizou para dentro da minha boca, me fazendo soltar um gemido involuntário e sentir como se estivesse prestes a derreter. Seus braços estavam tão firmes ao meu redor, que mesmo que eu sentisse minhas pernas vacilarem, sabia que estava segura. Um sopro de ar frio atingiu minha pele quente e eu me arrepiei sob seu aperto, loucamente excitada com a sensação de ter meu corpo contra o seu. Ele deixou escapar um gemido cruel, enterrando a ponta dos seus dedos em meus cabelos conforme a palma da sua mão pousava na lateral do meu rosto.

Quando me afastei, seus olhos ainda permaneciam fechados e muito embora suas mãos não estivessem mais em mim, eu ainda podia senti-lo em cada parte do meu corpo, então dei mais dois passos para trás. Não conseguia tirar os olhos dos dele, a forma como caíram sobre minha boca, que eu sabia que estava inchada e vermelha, e suspirei, tonta, como se um imã me puxasse de volta em sua direção. Não, definitivamente não era TJ, e puta que pariu, eu sentia que estava fodida, porque não sabia como lidaria com o fato de ter beijado Ty e, principalmente, de achar que seu beijo era melhor que o dele. Por favor, seja o meu namorado, por favor, seja o meu namorado... Mas, ainda sem dizer nada e com um pequeno sorriso puxado para o lado, seu olhar caiu atrás de mim e sua expressão mudou completamente ao encarar alguém, foi quando eu vi Tyson parado nos encarando. Graças a Deus! Deixei um suspiro de alívio escapar, ao mesmo tempo que sentia vontade de enfiar as mãos em TJ e beijá-lo novamente, seja lá o que ele tivesse tomado, estava quente como o inferno e depois daquele beijo, eu precisava dele o mais rápido possível. Mas senti meu coração bater tão forte, que podia jurar que estava louca quando, atrás de Tyson, estava TJ, apenas de cueca ainda, conversando com uma garota. Seus olhos encontraram os meus e ele uniu as sobrancelhas, antes de arregalar os olhos, assustado. Olhei para a minha direita avistando Tyson e Tales, depois olhei para a minha esquerda, avistando o cara que eu tinha acabado de beijar e meu cérebro deu erro. E eu devo ter girado minha cabeça para os lados conferindo se realmente estava vendo três, tantas vezes, que me sentia tonta, então eu ouvi o sotaque dele e realmente começou a fazer sentido. — Mas que porra...

— Puta merda, que caralho é isso? — Ty murmurou, se aproximando. — Caralho! — TJ gritou, correndo até nós, apoiando uma mão no ombro do número três. — Eu não... — Balancei a cabeça, confusa. — É como se meu cérebro tivesse parado de funcionar. — É, puta merda, é... — Aquele sotaque... — TJ, sobe correndo para o quarto, eu vou subir com ele em seguida para que não andemos os três juntos, porque chamaria atenção demais e nós não quer... — Mas o que... — Ele parecia tão confuso quanto todo o resto de nós, mesmo assim, ele continuou: — Puta merda, gente! Olhem essa porra... Nós somos três! — Tales gritou o mais alto que podia e todos os rostos que nos rodeavam nos encararam e foi questão de segundos para que toda a festa estivesse sobre nós quatro. — Que ótimo — o clone número três murmurou sem emoção, ainda aturdido. Ele não parecia saber o que iria encontrar vindo até aqui. — Porra, TJ, vai se foder, cara! — Ty bateu em seu ombro e ele cambaleou para trás. — Saiam da frente, caralho! — ele gritou para a multidão, empurrando-os com as duas mãos.

Eu me inclinei, alcançando a mão do sujeito com uma mão enquanto com a outra, segurava a de TJ. Caminhei em direção às escadas, puxandoos comigo. Não queria que o desconhecido se perdesse na casa na qual não conhecia e muito menos que Tales chamasse ainda mais atenção, então eu segui atrás de Tyson, subindo os degraus, ignorando os murmúrios e comentários a nossa volta, principalmente os que diziam “Que garota sortuda!”, porque definitivamente dois deles já me davam trabalho o suficiente. Tyson abriu a porta do meu quarto, que eu basicamente usava apenas para deixar minhas coisas e estudar, uma vez que passava as noites com TJ, e assim que ele a fechou, atrás de mim, o um minuto de silêncio estrangulador que fizemos enquanto nos encarávamos foi quebrado por uma risada animada de Tales antes dele abrir a boca: — Puta merda, de onde você saiu? — Do mesmo buraco que você, pelo visto — o cara respondeu e eu fui obrigada a rir. — Sim, definitivamente do mesmo buraco — afirmei, chamando a atenção dos três. Presa no quarto com aqueles três caras igualmente gostosos, era como se eu estivesse dentro de um maldito filme pornô. — Você faz aniversário hoje também? — A pergunta idiota de TJ me fez grunhir. — O que você acha, gênio? — Ty respondeu pelo novo irmão. — Bom, feliz aniversário, então, já passou da meia-noite. — O abraço de Tales pegou o outro deles totalmente desprevenido. — Pra você também — ele disse. — Caralho... eu... — É, eu sei, essa situação me deixou sóbrio em menos de cinco minutos — TJ constatou.

Eu me joguei dramaticamente sobre o pufe redondo e fofo que ficava no canto direito do quarto, me servindo de minhas castanhas enquanto observava o desenrolar daquela história. — Qual o seu nome, afinal? — Tyson perguntou. Por favor, não seja um nome quente, por favor, não seja um... — Max. Inferno, um nome quente! — Então você não tem um nome que começa com T? — TJ perguntou, me fazendo morder a boca para segurar o riso. — Não que eu saiba, mas, pelo que eu vejo, eu não sei de porra nenhuma e muito menos vocês. — Então, a julgar sua cara igual a nossa, parece que você é mesmo nosso irmão. Max passou a mão no rosto e esfregou a pele, suspirando pesadamente. — É como se meu cérebro estivesse com defeito — TJ comentou. — É o que eu estou tentando dizer... — me intrometi. — Desde que esteve com a língua enfiada na garganta do seu cunhado? — o comentário de Ty fez meu rosto corar. — Do que diabos você está falando? — TJ perguntou entredentes. E lá vamos nós. — Eu pensei que pudesse ser o Tyson. Puta que pariu! — Oh, claro, agora eu me sinto muito melhor. — Tales passou as mãos no rosto, enquanto Tyson me olhava confuso. — Eu quis dizer que pensei que fosse um de vocês fazendo seus joguinhos comigo, e caso fosse Tyson, então recuaria se eu tentasse beijálo.

A expressão de TJ suavizou. — Eu não sabia que tinha um irmão, desculpe, eu não podia saber que além de ter um, ele ainda teria uma namorada que acabaria me beijando assim que abri a porta. — Eu não o beijei sozinha! — Enfiei uma castanha na boca. Seus olhos caíram sobre mim com atenção pela primeira vez desde que entramos no quarto e senti minhas bochechas corando gradativamente conforme eu me lembrava do calor que irradiava de sua pele quando me tocava, o que me obrigou a olhar para TJ. — Porra, Kyra. — Tales me encarava, aparentemente chateado, e eu me senti ainda pior por haver gostado. — Me desculpe, mas você não pode me culpar por isso uma vez que vocês dois vivem tentando me confundir. — Como nos achou? — Tyson perguntou a Max, ignorando minha pequena DR2 com TJ. — Eu... Um cara que eu conheço... — Ele fez uma pausa. — Conhecia... Ele me deixou o endereço dessa casa. — Quem era ele? — Ty indagou. — Alguém com quem eu morava na Pensilvânia. — E por quanto tempo você vai ficar por aqui? — TJ perguntou. O rosto de Max suavizou um pouco e ele arriscou um olhar rápido em minha direção antes de encarar seus irmãos. — Por quanto tempo permitirem que eu fique, na verdade. — Você não está hospedado em nenhum lugar? — Ty interrompeu e Max deixou escapar um sorriso sem humor. — Gastei tudo o que tinha com combustível — ele confessou.

— Você mora com os seus pais? — A pergunta de TJ o fez pensar um pouco, então ele acrescentou: — Caralho, isso quer dizer que talvez você tenha sido roubado da maternidade ou algo assim? — Porra... — Foi a vez de Tyson passar as mãos no rosto. — Nossa mãe nunca nos contou que éramos três, irmão. — TJ apertou o ombro de Ty, o que o fez desviar o olhar para os pés. — Ou talvez ela tenha se dado conta de que não tinha disposição de cuidar de três — Max informou entredentes. — Escuta aqui, seu... — Em um movimento ágil, Ty estava com as mãos enroladas no tecido da gola de Max, mas o gesto violento do irmão não foi capaz de intimidá-lo. Ele manteve sua postura ereta, conforme encarava Tyson com as mãos nele, prestes a socá-lo, como se o avisasse que se arrependeria caso o fizesse e, de repente, meu coração batia rápido demais. — Oh, Oh. — TJ colocou as mãos na cabeça. — Ei, ei, vamos com calma aí, amigos. — Eu me levantei, me colocando entre os dois. — Eu já estou bem ocupada separando Tyson e Tales quase todos os dias, não vamos me dar mais trabalho, certo? Meu comentário fez os dois recuarem. — Aonde ela está, afinal? — Max perguntou. — Morta — Ty respondeu e sua resposta fez o rosto viril de Max suavizar. — Eu sinto muito — ele disse. — É, nós também sentimos — Tales interrompeu. E eu sabia o quanto os dois ainda sofriam pela perda precoce de sua mãe. TJ ainda visitava seu túmulo sempre que podia e, apesar de Ty não o acompanhar, eu sabia que não era por amá-la menos, e sim por sofrer

demais ao entrar naquele lugar horrível e saber que sua mãe nunca mais iria voltar. — E o pai de vocês? — perguntou, ansioso. As pessoas batiam na porta o tempo inteiro e Ty estava começando a ficar ansioso. Eu sabia disso porque ele se mexia demais e seus punhos eram mantidos fechados ao lado do quadril. — Ele está em um cruzeiro a negócios. — TJ se sentou na cama, encarando Max. — Pelo jeito temos duas semanas antes de saber alguma coisa específica sobre tudo isso, mas, de qualquer forma, sinto muito que você não tenha estado aqui por todos esses anos. Max cruzou os braços sobre o peito, desviando o olhar para a janela, evitando contato físico, o que sugeria que ele gostava de falar sobre seus sentimentos tanto quanto seu irmão Tyson. Ou seja, nada. — O que foi, caralho?! — Ty enfiou a cabeça para fora da porta quando não aguentou mais ouvir as batidas. — Que lance é esse que todos estão falando? — Ouvi a voz de John perguntar a Tyson, um de seus amigos. — Mantenha todos longe dessa porta! — ele exigiu. — Certo — John assentiu, antes de fechá-la novamente. — E onde você esteve todo esse tempo? — Ele se virou para Max. — Pensilvânia. Eu morava com o cara que me abrigou. — Por favor, não me diga que você é gay? — TJ quase gritou ao fazer a pergunta. Eu olhei para Max, observando seu maxilar marcado, conforme ele apertava os dentes. — Pergunte a sua namorada, porra! — E lá vamos nós — eu interrompi. Tyson deu uma risadinha e TJ uniu as sobrancelhas para o irmão.

— Vão se foder vocês dois! — Tales apontou para Tyson e Max e um segundo depois, os três começaram a rir descontroladamente, fazendo meu coração quase parar. Puta que pariu! Eu só tinha uma coisa a dizer. Um é pouco, dois é bom, mas três é demais.

Eu ouvi quando TJ entrou no quarto às seis da manhã, mas não me movi, não queria que ele visse que eu estava acordada, porque sabia que uma coisa levaria a outra e ele estava bêbado o suficiente para vomitar em mim quanto tivesse um orgasmo. E, apesar de ter passado a noite inteira me virando de um lado para o outro, às oito da manhã eu já estava sentada do meu lado da cama com as pernas penduradas para fora e mesmo que um terremoto estivesse atingindo o solo de Boston, ele não seria capaz de se mover. O cheiro do álcool impregnado no quarto me dizia que ele havia consumido o suficiente pelo resto do ano e, se eu pegasse um fósforo, a casa pegaria fogo antes que eu pudesse acendê-lo. Não havia conseguido dormir nada, barulho e informação demais para o meu cérebro absorver. Ou pelo menos era naquilo que eu queria acreditar. Assim que pulei da cama, entrei no closet de TJ procurando pelo meu top rosa que eu sabia que havia deixado ali, depois fui até o meu quarto para pegar meu short e tênis de corrida, mas assim que entrei pela porta, meu corpo se chocou com uma parede de músculos e eu recuei, usando apenas um camisa branca de TJ que chegava pouco abaixo da minha bunda, eu praguejei mentalmente por ter saído daquela maneira.

— Oh, Deus, me desculpe, Tyson. Ele se virou para mim e o sorriso que lançou na minha direção me fez saber na mesma hora que não era Ty, então meus olhos percorreram sobre seu corpo e eu tive certeza. Tyson era coberto de tatuagens, assim como Max, mas Tyson não tinha sua barriga e costelas traçadas por desenhos escuros como ele e não era apenas qualquer tatuagem, era um desenho que sem dúvidas podia ter tirado das paredes de um museu. Um anjo resgatando do limbo uma humana completamente nua e eu me vi imediatamente curiosa para saber seu real significado. Eu teria percebido na noite passada qual dos gêmeos eram através de suas tatuagens, mas estava escuro demais e as luzes coloridas dançando sobre os cômodos faziam com que nossa visão se tornasse limitada e confusa. Eu ergui a cabeça em sua direção, atordoada com o fato de que ainda podia sentir suas mãos em mim, mesmo que tivesse acontecido há horas e por muito pouco tempo. Como ele havia me deixado transtornada com um único beijo quando, na verdade, ele era fisicamente como TJ? — Max — sussurrei. — Sim. — A simples menção ao seu nome o fez sorrir abertamente e eu relaxei um pouco. — Max tipo Maximiliano ou tipo Maximum? — Tipo Maximum — repetiu o nome de forma arrastada e o sorriso que deixou escapar foi largo o suficiente para eu entender aquilo como uma piada sobre o tamanho do seu pau. — Não se entusiasme, garoto, não há nada aí que eu não tenha visto antes.

Ele pareceu pensar por um momento, provavelmente se perguntando em qual momento entre a meia-noite e aquela manhã, eu havia conseguido enxergar entre suas pernas, mas então suas sobrancelhas arquearam e um sorriso desconhecido brincou em seus lábios. — É, sem dúvidas você já viu — ele se inclinou levemente na minha direção —, mas não é o tamanho de um pau que faz você realmente gritar quando está gozando. Senti o calor do inferno atingir meu rosto e recuei. — Eu apenas preciso usar meu quarto. Maximum sorriu satisfeito. — Desculpe por ter dormido aqui na noite passada, mas era o único quarto que não havia um casal fodendo sobre a cama e eu precisava dormir em algum momento. Assenti. — Sim, meu quarto é um limite rígido. Nada de sexo, drogas ou os dois ao mesmo tempo. — É um bom limite. Desviei o olhar, porque me sentia imoral apenas de olhar em sua direção. — Bom... eu... — Levantei as roupas em minhas mãos para que ele soubesse que eu precisava de privacidade. — Estou acima do peso e você está me fazendo falhar na minha corrida. — Precisa de companhia? — perguntou, casualmente, e senti uma leve pontada de desespero quando ele não discordou sobre meu corpo, mas, ao analisar brevemente seu abdômen quente como o inferno, eu entendi que alimentação era o seu grande negócio. Sem dúvidas, Max era o mais sarado dos três.

— Eu ia perguntar se você costuma correr, mas bem... — Caminhei até a porta do meu banheiro privado, ouvindo sua risada quase silenciosa. — Tudo bem, desço em dez minutos. — Até mais — Max se despediu, antes de se virar e sair do quarto. Lavei o rosto, sentindo a água fresca atingir minha pele de maneira deliciosa e assim que esfreguei a toalha para me secar e encarei meu reflexo no espelho, avistei uma mochila preta descansando encostada a minha cama. Não faça isso. Não. Faça. Isso. Abri o zíper, lentamente, tentando não fazer ruído. Precisava saber mais dele, e se descobrisse algo que o tornasse uma ameaça, eu contaria a Tyson e Tales. Era isso que eu dizia a mim mesma enquanto vasculhava seus pertences pessoais. Algumas roupas mal dobradas, lâminas de barbear, um par de tênis gastos, e... Puta que pariu! — Você viu a minha moc... — Ele parou na porta, a boca aberta como se não soubesse o que dizer. Seus olhos caíram para as minhas mãos, enquanto eu ainda estava em choque. — Por que você trouxe isso pra cá, Maximum? O que você faz da vida para ganhar dinheiro? — Nunca aponte uma arma carregada para uma pessoa, Kyra, não é seguro. — Oh, tudo bem, querido, você tem uma arma e não pode apontá-la nunca para uma pessoa, que grande gênio de merda! Por que você está aqui? — continuei com ela apontada para ele, segurando-a com firmeza.

— Que porra você está tentando fazer? — Acredite em mim quando eu digo que poderia acertar seu olho esquerdo com os meus fechados. — Estou aqui porque o cara que me acolheu me deu esse endereço. — Para quê? Assaltar, sequestrar um deles? — Você está sendo dramática demais. — Não, eu não estou, apenas estou tentando descobrir por que você apareceu do nada aqui e carrega uma arma na mochila! — Se você quisesse saber o que eu carrego comigo, deveria apenas ter me perguntado. Você não tem o direito de mexer nas minhas coisas, Kyra. — Você tem razão, eu não tinha o direito, mas há uma arma em sua mochila, e agora, qualquer direito que você tinha, foi pelo ralo. — Você realmente sabe usar isso? — perguntou, com um brilho diferente no olhar. — Pode apostar que eu sei. — Me mantive firme. Omitindo para ele a parte em que meu pai serviu ao exército por muitos anos e me ensinou a atirar antes mesmo de limpar minha própria bunda. — Vamos lá, garota de Boston! — Eu sou de Oklahoma, idiota! Faço um molho gravy tão bem quanto disparo uma arma. O sorriso que Max deixou escapar me fez sentir que eu queimaria no fogo eterno do inferno. — Então atire — ele se inclinou sobre mim, tocando o cano no próprio peito —, Oklahoma.

E lá estava ela, a adrenalina de ser desafiada pelo desconhecido. Eu amava isso, amava jogar com o imprevisível. E nenhuma outra palavra ou insulto de Max me intimidou mais do que quando seu olhar caiu sobre meus lábios, me desarmando completamente. Minhas bochechas esquentaram, sua respiração soprou em meu rosto, meu coração disparou, mas eu não recuei. — Esta arma era do cara que me abrigou nos últimos dez anos. Ele estava com câncer e, no último ano, se meteu em mais dívidas do que podia pagar, por isso pegou uma grana com um agiota. — Que tipo de dívidas ele faria no leito de morte, Max? Isso não parece real. — Hospitais, farmácias, tratamentos... Ele queria morrer de forma digna. O que eu podia fazer se não o apoiar? Baixei a arma e relaxei os ombros, mas Max sequer se moveu, como se não fizesse diferença para ele se eu recuasse ou apertasse o gatilho. Pressionei o botão do retém do carregador, retirando o pente, então os entreguei separadamente para ele. — Deixe essa merda sem balas. Você não pode simplesmente chegar aqui com uma arma carregada na mochila sem que ninguém saiba disso. — Escute uma coisa, Loirinha, há uma razão para eu ter sobrevivido até aqui. — Qual? — eu o desafiei. — Eu não costumo fazer o que me mandam. — Ele se aproximou de mim, inclinando sua cabeça levemente para o lado. — Isso significa que você não pode me dizer como eu devo viver minha vida. — Eu vou precisar contar a eles sobre isso — o alertei. — Eu não esperaria menos de você, Oklahoma.

Sempre fui uma pessoa intuitiva, mas meu corpo e minha mente me passavam sinais confusos naquele momento, então, assim que deixei Maximum naquele quarto, eu saí correndo para longe dele como se minha bunda estivesse pegando fogo. A forma como ele agia era diferente de Ty e TJ, por mais que eles fossem completamente iguais. Eu havia passado no máximo uma hora e meia na presença de Max, mas podia saber que, diferente dos irmãos, ele era metódico, enquanto Tyson era explosivo e Tales relaxado. Minha melhor amiga, Tracy, surtaria quando contasse a ela sobre o novo irmão, porque ela vivia repetindo em todos os nossos contatos, que ter dois deles respirando o mesmo oxigênio que nós era nada menos que desnecessário. E pensar nela, me fazia sentir a sensação de um buraco enorme estar se abrindo em meu peito, porque assim que ela foi aceita na universidade de Yale e se mudou para New Haven, nós havíamos nos limitado a dia de Ação de Graças quando ela vinha visitar sua família. Mesmo assim, ela geralmente não costumava circular muito pelas ruas apenas para não correr o risco de encontrar Tyson e acabar com suas férias de fim de ano, embora eu sempre arrumasse uma forma de mantêla por perto.

E eu a compreendia completamente, porque Ty a havia perseguido durante todo o nosso último ano do colégio, fazendo com que passasse vergonha a maior parte do tempo, até o dia em que ela o estapeou na frente de uma festa lotada de gente e, no dia seguinte, desapareceu em Connecticut. Desde então, nosso relacionamento era baseado em “falo com você mais tarde, tenho uma aula para assistir” a “o bar está mais calmo agora, temos dois minutos antes de aparecer o próximo universitário bêbado procurando uma briga”. Sim, essa era a grande merda de trabalhar em um bar universitário: brigas. Tudo era motivo para alguém quebrar uma garrafa e apontá-la como ameaça, mas eu estava acostumada, talvez até pudesse trabalhar na polícia, sendo aquela pessoa que chega no meio de um sequestro e tenta convencer o sequestrador a não atirar na vítima, porque eu sabia ser bem persuasiva quando queria. Entretanto, havia escolhido História, porque não me via fazendo nada menos do que dar aulas, como minha mãe, até que simplesmente não me via mais. De qualquer forma, eu ficaria bem, depois talvez pudesse me mudar para Geórgia e viver perto da minha família, ou quem sabe eu virasse uma surfista e fosse viver na Califórnia, o problema é que eu não sabia surfar, então provavelmente ficaria com a primeira opção. Ao pensar nela, meu celular começou a tocar no suporte fixado em meu braço, interrompendo a música eletrônica na qual Alok cantarolava com sua voz quente, eu escutava conforme meus tênis batiam violentamente no chão. Diminuí o passo, tentando retomar o ar, mas parecia impossível conseguir respirar quando eu sentia que meus pulmões estavam prestes a explodir. Eu atendi através dos fones de ouvidos e a voz estridente de Tracy quase me deixou surda.

— Por que você está correndo como se estivessem tentando enfiar um pau na sua bunda? — Ela parecia ofegante também, mas talvez fosse porque eu me sentia um pouco surda, já que era capaz de ouvir as batidas erráticas do meu coração no meu próprio ouvido. — Se estivessem tentando enfiar um pau na minha bunda, certamente eu estaria devagar. A risada da minha amiga ecoou através dos fones. — Eu sempre soube que você curtia esse tipo de coisa, apenas não imaginei que pudesse confessar tão alto em público. Um toque inesperado em minha cintura fez meu corpo pular em protesto. — Mas o quê! — Pulei no colo dela, fazendo com que nossos corpos caíssem para trás e então suas costas se chocaram com o tronco rígido da árvore que nos cercava. — Porra, você é pesada! — Eu sei, por isso a corrida. O que você está fazendo aqui! Por que não me contou que estava vindo a Boston? — Eu decidi fazer uma surpresa. Surpresa! — Ela abriu os braços assim que nos sentamos no gramado. — Minha mãe comprou as passagens em cima da hora, foi tudo muito rápido. — Você volta quando? — Acabei de chegar, já está me mandando embora? — Vai se foder! — Eu me levantei, limpando a grama da parte de trás do meu short antes de esticar o braço, para que ela segurasse minha mão para impulsionar seu corpo. — Hoje à noite. Eu sei, é loucura, mas eu estou completamente atarefada com os cursos de verão. — É, Yale, baby.

Ela deu de ombros. — Eu já tive meu tempo para enlouquecer, vou ficar bem agora. Eu assenti. — Eu sei — passei as mãos nos cabelos, amarrando-os em um coque no topo da cabeça. —, às vezes, eu só quero que tudo acabe logo para que eu possa me mudar. — Como está o TJ? — perguntou de forma divertida. — Ainda é estranho para mim saber que vocês... — Eu sei. — Dei uma gargalhada. — É estranho para mim também. — Enrolei os fones e os guardei. — Que tal umas compras na Target? — Ela arqueou as sobrancelhas, sugestivamente. — Um café primeiro e depois compras. Tenho tanta coisa para te contar que, talvez, você tenha que pegar um voo apenas no próximo final de semana.

— Parece um filme original da Netflix. — Ela deu uma gargalhada. — Um filme de terror, claro! — Nem me fala. — Levei a xícara até a boca, visivelmente arrependida por ter escolhido café para um dia tão quente. — E agora? — Tracy se inclinou sobre a mesa, erguendo as sobrancelhas perfeitas. Seus olhos eram tão bonitos, que eu não podia descrever com clareza se eram azuis ou verdes. Talvez uma mistura dos dois, realçada por seus cabelos quase negros cordados acima dos ombros. Ela era linda, magra nos lugares que eu gostaria e sua inteligência para matemática me fazia sentir como uma mula.

— O que é que tem? — Você gostou, não foi? — Sorriu maliciosamente. — Eu estou com TJ. Além disso, não é como se fossem duas pessoas. — É claro que é. — Deu um tapa no ar, dispensando meu comentário. — Todo o resto é igual, mas são pessoas diferentes, você sabe bem. Apenas pense pelo lado positivo. — Qual o lado positivo de saber que seu namorado tem outro irmão gêmeo? — Você sabe o tamanho do pau dele antes mesmo de ele estar no meio das suas pernas. — Cala a bocaaaa! — Arremessei um pedaço de bagel nela. — Bom, eu apenas continuo com o mesmo pensamento. Não acho que sejam necessários dois Jackson respirando o mesmo ar que eu, agora mesmo nunca estive tão feliz por morar em outro estado. — Eles não são tão ruins, Tray. — Nem consigo entender como foi que você acabou naquela casa. Aquilo era o inferno na Terra no último ano e a faculdade apenas fez com que se tornasse um pandemônio. — Eu odeio as festas, mas amo Ty e TJ e a forma como eles cuidam de mim. — E como você cuida deles — ela enfatizou. Dei de ombros. — Que seja... apenas funciona bem. Pago minhas contas, moro perto do campus e, em troca, arrasto os dois bêbados para seus quartos depois da festa. — E qual é a melhor parte em morar com eles? — Tray bebericou seu café. — O metrô, sem dúvida.

Minha amiga me olhou por cima dos cílios, sustentando um brilho no olhar. — Achei que a melhor parte fosse estar perto do seu namorado, Ky. Touché! — Você não trabalha no bar hoje, certo? — perguntou, assim que percebeu que eu não responderia a sua pegadinha. — Apostei com Beth que ela ganharia menos gorjetas na última sextafeira, eu ganhei a aposta, e aqui estou eu. — Encarei as centenas de bandeiras vermelhas e azuis penduradas por todos os lados tanto na rua quanto no interior do café. — Aposto que você usou o truque dos peitos. — Apenas quando ela não estava olhando — aleguei. — Isso diz muito sobre o seu caráter. — Tray arqueou as sobrancelhas. Dei de ombros. — Não é como se eu me importasse realmente. — Target? — perguntou, ansiosa, mudando de assunto. — Não tem Target em New Haven, porra? — brinquei. — Tem, mas eu não tenho minha melhor amiga lá. — Eu te amo. — Eu sei. — Quando alguém diz que ama você, você deve dizer que a ama também — brinquei. — Eu sei.

— Nem fodendo que eu vou entrar. — Ela cruzou os braços sobre os peitos.

Perguntei-me quando foi que minha melhor amiga certinha havia começado a usar tantos palavrões. — Por favor, Tray, Ty e TJ devem estar dormindo ainda, provavelmente vão acordar apenas perto do meio-dia para grelhar o hambúrguer. Provavelmente, eu acabe fazendo isso, de qualquer forma. — Não. — Ela uniu as mãos em frente ao peito, como se estivesse rezando. — Não me faça ter que lidar com Ty, por favor. Faz apenas alguns meses que eu tive que fazer isso aqui, bem nesse mesmo lugar. — Foi no dia de Ação de Graças, já tem meio ano. — Meio ano é pouco tempo. Meus ombros caíram em derrota. — Apenas entre, você pode conhecer Max, aposto que seu cérebro também vai parar de funcionar quando olhar para os três ao mesmo tempo. — Eu não preciso conhecê-lo, Ky, ele tem o mesmo rosto que os irmãos. — Foi você quem disse que não é porque eles têm o mesmo rosto que são a mesma pessoa. Seus ombros caíram em derrota e ela grunhiu. — Além disso, você parece uma criança mimada, porra, é apenas o Ty, ele é idiota de nascença, todo mundo sabe disso. — A última vez que você insistiu para que eu entrasse aqui, eu passei uma noite inteira ouvindo sobre peru. — Era dia de Ação de Graças, Tray, as piadas sobre peru faziam sentido! — Sim, mas falar que o molho branco parecia esperma foi desnecessário. Principalmente porque o Sr. Jackson estava sentado à mesa.

— Foi você quem preferiu jantar aqui porque estava de saco cheio de ouvir sua mãe reclamar. — É, mas isso não significa que eu não tenha me arrependido no mesmo segundo em que botei os pés lá dentro! — Tray apontou para a casa. Um rugido alto atravessou o interior do carro, de uma janela a outra e, por impulso, Tracy e eu olhamos para fora, onde ao meu lado, um deles estava sobre a moto. Ele usava uma calça jeans justa que talvez fosse desconfortável levando em conta o calor, se ela não tivesse tantos rasgos por onde pudesse circular o vento. Sua regata era tão cavada nas laterais, que eu era capaz de enxergar com exatidão a tatuagem do anjo segurando a humana na qual me deixava intrigada. Era Max, é claro, quem mais podia ser tão cruelmente sexy como o inferno, afinal? Sua cabeça virou em nossa direção e um pequeno sorriso surgiu em seu rosto, revelando pequenas preguinhas de um lado da boca ao mesmo tempo que uma covinha se aprofundava em sua bochecha, e eu conhecia todos aqueles detalhes como a palma da minha mão; e mesmo que estivesse vendo apenas um lado de sua face, eu sabia que no outro não haveria covinha lá, porque TJ e Ty só tinham de um lado também. Mesmo assim, era quase como se eu o estivesse vendo pela primeira vez. E ele assentiu para mim, e eu sequer soube como reagir, apenas encarei meu reflexo deplorável através das lentes de seus óculos pretos formato aviador e desejei que o chão engolisse a grande vergonha que eu era. Minha amiga limpou a garganta ao meu lado, conforme o portão eletrônico abria a nossa frente e eu o encarava acelerar à frente do carro, observando o tecido de sua regata levantar-se minimamente nas costas por causa do excesso de velocidade. — Meu...

— Deus! — completei a frase de Tray. Então, ela deu uma gargalhada tão alta que fez com que eu deixasse o carro morrer enquanto passava no meio do portão. — Abre essa porra, abre logo, Tray! — gritei vendo o portão se fechar dos dois lados enquanto eu ainda continuava com o carro parado. — Eu... Não está funcionando, liga o carro logo, liga! — ela gritou, colocando as mãos na frente dos olhos, para que não visse o estrago que eu faria no carro zero de TJ. — Merda! — Arranquei o controle de suas mãos e o apertei tantas vezes que ele enfim funcionou, então eu me afundei no banco do motorista, sentindo minhas bochechas pegarem fogo conforme o olhar de Maximum caía sobre mim. Ele meneou a cabeça, como se não pudesse acreditar no que acabara de ver, ao mesmo tempo que empurrava o descanso da moto para o chão, antes de deslizar sua perna fora dela, então baixou a cabeça novamente e caminhou em direção à porta de entrada, com um pequeno sorriso, quase que imperceptível no rosto. Senti a mão de Tray tocando meu ombro e, em seguida, ela deu duas leves apertadas, como forma de incentivo. — É, você está fodida, amiga.

Assim que descemos do carro e entramos na casa, tudo estava na mais perfeita ordem, como se há poucas horas não tivesse sido o cenário de um pandemônio, mas eu sabia que havia não apenas dedos, mas mãos inteiras de Grace e Justine, duas empregadas que apareciam de vez em quando para dar uma limpada na mansão. Eu frequentava aquele lugar desde que era pequena, quando fiz amizade com os meninos, mas eu não morava exatamente naquela rua e sim naquele bairro, em uma casa na qual meu pai havia herdado do meu avô. Portanto, aquilo era o mais perto do que eu um dia teria realmente daquele lugar, principalmente depois que eles decidiram vender tudo para ir viver na Geórgia com minha irmã, o que eu considerava ter sido uma grande coisa, afinal, eles nunca teriam dinheiro realmente para reformá-la quando chegasse o dia. Não com o salário de professora que minha mãe possuía e muito menos com a pensão que meu pai recebeu por invalidez. Tracy me seguia sem fazer ruídos, como se qualquer barulho pudesse atrair um dos irmãos para o seu inferno particular, que era ter que suportá-los, mas eu a compreendia completamente, porque ela era a maldita nerd da nossa sala desde o elementary school3, enquanto eu era

descolada porque andava com Ty e TJ, o que fazia dela a garota que eles podiam tirar sarro, mas os outros não, porque andava comigo, que andava com eles. Era confuso, eu sei, mas ser quem ela era havia a levado para Yale e isso ninguém, nem mesmo o idiota do Tyson, podia tirar dela. Nós subimos a escadaria larga, Tray rolando os olhos para a casa como se nunca estivesse estado lá e, assim que abri a porta do meu quarto, ela correu até a cama e se agarrou nela como se fosse sua tábua de salvação, enquanto eu deslizava meu top pela cabeça e ela grunhia ao ficar de frente para os meus peitos nus e, no mesmo segundo, TJ abriu a porta sem bater. — Oh, uau, começaram sem mim! — Ele sorriu maliciosamente, enquanto eu abria a gaveta em busca de um biquíni. — Olá, TJ, eu não sou a Tracy. — A Tracy que eu conhecia era mesmo menos gostosa. O que estão dando para você comer em New Haven? — Paus enormes cobertos por xarope de bordo — respondi pela minha amiga. — Vocês já estão preparando o almoço, TJ? Ele grunhiu, como sempre fazia quando alguém pedia que fizesse algo. — Você veio para o feriado? — ele perguntou a Tray, que respondeu com um som estrangulado. — Hum-hum. — Não entendo por qual razão você se dá ao trabalho de vir aos feriados se nunca passa com sua família. — É realmente muito difícil não vir aqui, TJ, sabendo que estamos no verão e que você também não costuma se dar ao trabalho de usar roupas. Você sabe. Não que eu nunca tenha visto isso aí. — Ela apontou para o short rosa de TJ, que ele visivelmente usava sem cueca por baixo.

— Você nunca se acostuma com isso, gata. — Ele apontou para o próprio pau usando os dois indicadores e suspirei. — Feliz aniversário, aliás. — Obrigado. — Os dois deram pequenos sorrisos, levantando a bandeira da paz. — O almoço, TJ. — Estou indo, estou indo. — Ele se curvou sobre o meu corpo, dando um beijo em meus lábios antes de sair batendo a porta. — Eu não sei o que é mais estranho: ver o pinto do seu namorado balançando livremente ou o seu namorado ser o TJ. — Para de falar sobre isso, eu amo o TJ. — Eu amo meus pais e amo até mesmo meu peixe, que apenas nada de um lado para o outro o dia inteiro. — E mesmo assim, aqui está você, passando o feriado comigo, sendo que fazia seis meses que não via sua família. — Tirei a calcinha e ela grunhiu novamente, antes de eu deslizar o tecido do biquíni para cima novamente. — Qual é o seu problema? — Tray jogou uma almofada na minha direção, então enterrou a cabeça em um travesseiro e fungou dramaticamente. — Deus, que perfume é esse? Ela se levantou e eu estiquei o braço em sua direção, lhe entregando um biquíni meu, sabendo que ia começar com todo o seu drama sobre ir para a piscina enquanto TJ grelhava hambúrgueres a poucos centímetros de nós. — Quer saber? Foda-se! — Passou por mim, arrancando o pequeno tecido de minhas mãos antes de entrar no banheiro e fechar a porta atrás de si.

Sentei-me à cama, espiando pela grande janela ao lado dela e lá estava TJ, preparando a churrasqueira, enquanto bebia cerveja direto do gargalo, seus músculos refletiram no sol, provavelmente pelo uso de bronzeador que fazia com que sua pele ficasse levemente brilhosa e ele acenou para mim, abrindo um enorme e contagiante sorriso ao me ver espiar e eu lhe mandei um beijo antes de me jogar para frente de novo. Levei o travesseiro até meu colo e funguei nele também, curiosa com o comentário de Tray, mas, ao fazê-lo, tudo o que consegui perceber era que aquele era o mesmo cheiro que eu havia sentido em Max enquanto sua boca devorava a minha, e foi então que eu me lembrei de que ele havia passado a noite na minha cama e, por impulso, joguei o travesseiro para longe de mim, como se estivesse contaminado.

— Aqui, baby, muito bem passado como você gosta. — TJ se inclinou sobre mim, àquela altura, estirada na espreguiçadeira, fazendo sombra ao se enfiar na frente do sol. — Obrigada. — Fiz um gesto para que ele se sentasse ao meu lado e ele o fez, inclinando seu corpo para trás, forçando os bíceps para que pudesse ficar da direção certa do sol, antes de virar o rosto para o lado, beijando meus lábios. Olhei para o lado, observando minha amiga devorar o hambúrguer dela malpassado e fiz uma anotação mental de nunca mais fazer isso. Levantei, deixando TJ na espreguiçadeira, seguindo até próximo onde Tray estava à mesa, logo ao lado da churrasqueira. Ela enfiava um pedaço gigante de pão na boca, enquanto eu levava o gargalo da long neck até a minha.

— Você está realmente tentando manter uma dieta, Ky? — brincou, enquanto eu a fuzilava com o olhar. — Porque está fazendo isso errado, bagel com geleia de manga no café da manhã... — Depois de uma longa corrida — acrescentei. — Hambúrguer, pão e cerveja no almoço... — ela continuou. — Vai se foder, Tray, nem todo mundo tem a porra do seu metabolismo! — Não culpe a minha genética. — TJ! — gritei para o meu namorado. — Fala pra ela que eu sou gostosa. — Você é gostosa! — ele repetiu sem sequer mover outro músculo que não fosse do rosto. — Eu não estou tentando provar que não é, estou tentando fazer você parar de se preocupar com isso. — Ela apontou para o meu corpo, então prosseguiu, com a boca cheia: — Porque você não precisa. — Sim, e quando eu perceber, estarei chorando na Levi’s por não entrar em um jeans. — Não seja dramática. — Apontou para mim enquanto segurava um talo de alface. — Eu estou no 42. — Sentei-me em uma das cadeiras. — Isso porque você tem uma bela bunda! — TJ gritou da espreguiçadeira e Tray concordou com um aceno. O ronco do Porsche 911 de Tyson ecoou através de todo o quintal, era inconfundível, uma vez que se tratava de um carro antigo, ele era muito mais barulhento por ser de 89. Ele puxou o freio de mão antes mesmo de parar completamente o veículo. Olhei para minha amiga, sabendo que ela

deveria estar praguejando por dentro ao saber que Ty estava prestes a começar a atordoá-la com suas piadas, mas continuou comendo seu hambúrguer como se precisasse dele para sobreviver. Segundos depois, uma cadeira de madeira voou diante dos meus olhos, acertando a parede à minha frente, partes dela se espalharam pelo gramado, uma delas inclusive, pairando assustadoramente sobre nossa mesa. Mantive minha boca aberta, congelada quando levaria um pedaço de pão até ela. TJ já estava de pé, as mãos na cintura, encarando o outro lado do quintal, onde Tyson socava uma parede, deixando marcas de sangue nela, então ele se virou em nossa direção e suas sobrancelhas se ergueram quando seu rosto foi tomado por uma expressão confusa ao encarar Tracy sentada à mesa. Seus ombros caíram em derrota, mas ele não deixou de encará-la, apenas ficou lá, olhando em sua direção por quase um minuto, antes de se abaixar, pegar uma garrafa de uísque próxima aos seus pés e levá-la até a boca. Ty desviou o olhar para TJ quando o viu ameaçar ir até o irmão, mas antes que pudesse fazê-lo, Tyson entrou no carro e saiu em disparada, deixando a nós três de boca aberta olhando para o que havia acabado de acontecer. — Que porra foi essa? — Max atravessou o gramado, indo em nossa direção. — É a mesma merda que eu estou me perguntando. Tracy soltou um pequeno suspiro pesado, mas eu a conhecia o suficiente para saber que aquilo era ela tentando se controlar. Seus olhos encararam os irmãos, depois rolaram para mim e ela deu de ombros antes de dizer: — É apenas Ty sendo ele mesmo, gente.

TJ parecia analisar seu comentário por um segundo, até que ele assentiu, se sentando novamente. — É, provavelmente. Encarei o rosto confuso de Max e sorri para ele, tentando esquecer que estive com uma arma apontada em sua direção há poucas horas. — Vocês são todos loucos, caralho — murmurou entredentes antes de sair.

Meu cérebro estava mais lento naquela noite, por esse motivo, quando vi os três juntos na cozinha, eu congelei por um instante. Corri os olhos entre eles, revezando de um em um até que pudessem ser identificados aos poucos pelos pequenos detalhes. TJ era o mais fácil, porque, além de não possuir tatuagens, ele nunca estava vestido, então, assim que coloquei meus olhos nele e o vi apenas de cueca, eu soube. Em seguida, olhei para os outros dois e sorri ao identificar a tatuagem no pescoço de Max. Não era tão difícil assim identificá-los, porém, a chegada de um terceiro deles havia prejudicado um pouco o meu raciocínio. Forcei meus olhos para Ty, reparando que ele havia passado a máquina no cabelo, então fiz um agradecimento mental, porque era algo a mais para que eu não os confundisse. Seus olhos encontraram os meus, em pé, em frente a bancada, segurando uma long neck nas mãos, então ele se virou de costas para mim e eu sabia que era sua forma de me evitar, assim como ele sabia que eu perguntaria sobre a merda que havia feito no dia anterior porque ele me conhecia melhor do que eu podia apostar.

TJ estava sentado, os cotovelos apoiados à mesa, mexendo no celular, sem piscar e eu não precisava ser um gênio para saber que deveria estar desperdiçando seu tempo em algum aplicativo idiota, assim como eu não ficaria surpresa se o pegasse usando filtro de cachorro àquela hora de novo, então eu apenas segui em direção ao armário para pegar um copo para beber um gole de água antes de sair para o meu turno no bar. Max permanecia de costas para mim, observando o quintal através das amplas janelas, o sol se punha no horizonte, lentamente, se convertendo em um espetáculo de cores no céu de forma degrade, unindo o azul, vermelho e um laranja que, por fim, se transformava em um amarelo claro. As luzes da cozinha estavam apagadas, provavelmente não haviam se dado conta ainda que começava escurecer, exigindo que os interruptores fossem ligados, mas eu não me importava, porque já estava de saída. Os três permaneciam em um silêncio enlouquecedor, quebrado apenas pelos sons dos vídeos aleatórios que TJ assistia nas redes sociais. Os olhos de Tales encontraram os meus assim que abri a geladeira e um sorriso amplo se espalhou pelo seu rosto, aprofundando a covinha adorável em um lado da bochecha. Enchi meu copo, sorrindo para ele, antes de me aproximar e se sentar ao seu lado para matar meus dez minutos livres antes de sair. Ele enterrou seu rosto no meu pescoço, fungando de forma dramática, então gemeu, suas mãos deslizando sobre minhas costas, até chegarem à cintura. Apoiei minha cabeça na lateral do seu rosto, farejando o seu perfume, antes de dar um gole na água gelada, sentindo ela descer livremente dentro de mim, proporcionando uma sensação boa, porém

momentânea, considerando o calor infernal que fazia do lado de fora, livre de ares-condicionados. Ouvi Ty grunhir atrás de mim, antes de dizer: — Por favor, parem com essa porra nojenta. — O que foi? Está ficando excitado? — TJ rebateu. Desviei meus olhos para Max e um pequeno sorriso brincava em seu rosto. — Deus... — Ty sussurrou, fechando os olhos por um segundo. — Qual o seu problema, afinal? — perguntei. — O que te leva a pensar que existe um? — Ele se curvou para frente, cruzando os braços tatuados em frente ao peito. — Uma cadeira voando em direção à parede me levou a pensar. TJ suspirou ao meu lado, me soltando antes de voltar a usar o celular e eu sabia que estava pouco ligando para a minha pequena discussão com seu irmão, uma vez que eles faziam aquilo o tempo inteiro. — Uma cadeira voando na minha casa, porra! — Ele se aproximou de mim e me surpreendi quando Max deu um passo à frente, de forma ameaçadora. — Pega leve, Tyson, essa casa é minha também, caralho! — TJ interrompeu. — Você não pode trazer a porra de suas amigas para cá como se fosse sua — disse entredentes e senti meu rosto arder em chamas, porque Ty nunca havia falado comigo daquela forma. Abri minha boca para respondê-lo, mas não o fiz. Meus ombros caíram em derrota e odiei a sensação que senti ao ouvir aquelas palavras. Desviei os olhos para TJ, que encarava o irmão, porém, ele não disse nada para me defender; em seguida, olhei de relance para Max e seus olhos estavam presos em mim, como se estivesse pronto para dar o bote em Ty

e, apesar de sua expressão representar que ele estava tenso, havia uma suavidade em seu olhar que me fazia acreditar que ele sentia muito por mim. — Estou indo — avisei TJ e ele assentiu, com um pequeno sorriso de pesar em seu rosto. — Porra! — Ty lançou a garrafa de vidro na parede e ele se quebrou em mil partes. — Que merda é essa? — Max caiu para cima de Ty, empurrando seu ombro. — Fica na sua — ele respondeu, antes de sair esbarrando em tudo. Fiquei congelada, com as mãos em frente ao rosto, como se os cacos ainda pudessem me acertar, enquanto Tales se mantinha em pé, encarando o irmão que atravessava a cozinha, furioso. — Fica de boa — TJ começou. — Ele está bêbado. Sim, ele estava, mas não justificava o que havia acabado de dizer para mim. A forma como havia jogado na minha cara que aquele não era o meu lugar, quando ele sabia que eu odiava sentir como se estivesse sendo um fardo para alguém. E desde quando era um problema levar garotas até sua casa? Tyson nunca havia se importado com isso. Forcei minha mente, tentando buscar alguma lembrança, mas nada vinha. Forçando os passos, ainda embaraçada, eu deixei a cozinha, atravessando o gramado até o carro de TJ, na qual eu tentei dar a partida, mas não obtive sucesso. — Droga! — Girei a chave novamente, forçando o motor. Novamente tentei dar a partida, mas o carro fez um barulho estranho, como se estivesse morto e nada do que eu fizesse mudava a situação, então atirei a chave sobre o banco do carona, peguei minha bolsa no

banco de trás e pulei fora, os pés afundando no gramado. Atravessei o pátio, disposta a ir a pé até o Coyotes Bar, ligaria para Elizabeth e pediria para que ela me cobrisse até que chegasse lá e tudo estaria resolvido. Meus olhos ardiam conforme eu cortava caminho, tentando chegar o mais rápido até o bar, mas assim que me vi sozinha, era tarde, já estava arrependida por ter decidido fazer aquele trajeto, porque mesmo que ele fosse o mais rápido, também era o mais perigoso, pela falta de iluminação. Conforme acelerava os passos, ficava cada vez mais ofegante, até que chegou um momento em que eu estava quase correndo. Queria esmurrar a cara de Ty, gritar para ele que era um egoísta de merda, que deveria enfiar seus insultos no próprio rabo e que eu estava caindo fora, mas eu não podia me dar ao luxo de pagar um aluguel em Boston. Precisava ficar por mais alguns meses naquele pandemônio antes de dar o pé, mas o engraçado é que eu sequer sabia o que fazer, mesmo depois. Eu não tinha um plano a longo prazo, sequer sabia o que me aguardaria no dia seguinte e a única coisa que eu sabia era que não sabia de nada. É, eu meio que estava citando Sócrates no meio do meu surto emocional. Um ruído alto me fez enfiar a mão dentro da minha bolsa para pegar meu precioso spray de pimenta e, quando a moto parou ao meu lado, eu já estava pronta para deixá-lo cego, mas, assim que virei para o lado, avistei Max. Ele olhou para o meu braço estendido em sua direção, o dedo indicador curvado sobre o dispositivo, prestes a apertá-lo. Seu rosto foi tomado por um pequeno sorriso, os lábios curvados sutilmente para o lado direito, conforme seus olhos verdes brilhavam, divertidos. Seus braços estendidos firmemente até o guidão fazia com que os músculos ficassem mais evidentes, assim como as veias do antebraço. Sua regata cortada, cinza, agarrava seu corpo de modo com que o tecido

ficasse folgado no quadril, onde beirava uma calça jeans rasgada nos joelhos, quase igual à que ele andava no dia anterior. Baixei o braço, guardando o spray, então uni as sobrancelhas, confusa. — Por que você tem que estar sempre apontando armas para mim, Oklahoma? A forma como ele disse meu novo apelido me fez corar, porque ele, sem dúvida, estava zombando de mim. — Você é sorrateiro demais para o meu gosto. Ele sorriu. — Qual é o seu gosto, então? — Max continuou me provocando. — Um que não é você — respondi. — Disse a garota que namora um cara com o mesmo rosto que o meu. — Sim, a garota que namora o seu irmão — eu o lembrei. — Mesmo assim, essa garota esteve com a boca na minha há duas noites. — Eu não sabia que não era ele. — Você saberia se fosse minha namorada. Senti a chama do inferno alcançar minha bunda. Não era possível que ele fosse tão libertino falando comigo daquela forma quando seus irmãos lhes davam um teto para morar. — TJ sabe que você está me perseguindo, Maximum? — Eu me virei e continuei a andar. — Não, ele está ocupado compartilhando correntes no Facebook. Eu quase ri, mas continuei andando, mordendo os lábios para que ele não visse o meu divertimento. — Ninguém usa mais Facebook, você deveria saber. Ele acelerou a moto a uma velocidade que me acompanhava, a Harley zumbindo ao meu lado.

— Como vou saber se nunca usei essa merda? Freei meus passos, encarando-o por um segundo, antes de voltar a andar. — Você está me zoando? — perguntei, incrédula, observando-o negar com um aceno. — Por que eu estaria? — Porque você sente prazer fazendo isso! Ele ergueu as sobrancelhas. — Sobe na moto! — exigiu. Deixei uma risada escapar, mas ela saiu mais alta do que previ, quase como se eu estivesse desesperada. — Eu não teria subido nem se você tivesse pedido. — Anda logo! — ordenou, ríspido. — O que te faz pensar que eu faria mesmo isso? — O fato de você estar correndo perigo me faz pensar. Merda! — Posso acompanhar você até seu trabalho se quiser. Eu não tenho nada para fazer, de qualquer forma. — Você poderia começar arrumando algo para fazer. — Forcei um sorriso. — Anda logo. — Pude identificar uma pontada de divertimento em sua voz. — Eu não estou dando em cima de você nem nada. Eu o encarei novamente e ele estava rindo como um maldito filho da puta. — Só porque eu estou completamente atrasada. — Revirei os olhos, ignorando sua risadinha.

Max parou a moto, retirando o capacete, então esticou os braços para frente, para que pudesse colocá-lo em mim. Prendeu o fecho logo abaixo do meu queixo, enquanto sua boca se mantinha em um aperto rígido que ocultava um sorriso. Eu queria dizer a ele que não havia nada rolando entre nós, mas estava incomodada com o fato de ficar repetindo aquilo na minha mente o tempo inteiro. Assim que subi na carona, me agarrei ao seu corpo firmando o interior das coxas contra ele. Meu coração batia forte, mas não sabia se era por estar fazendo algo que sabia que não deveria ou por estar sobre uma moto pela primeira vez na minha vida. Fechei meus olhos, sorrindo como uma idiota, sentindo o vento ricochetear sobre o meu rosto, os fios dos cabelos, enlouquecidos, uma imensa sensação de liberdade que nunca senti na vida e conforme Max acelerava, costurando entre os carros, eu me sentia ainda mais eufórica. Max disse algo que eu não consegui ouvir, então ele tirou uma das mãos do guidão, procurando pelo meu braço atrás dele, em seguida, o puxou para frente, de modo que eu o abraçasse, firmemente. Fiz a mesma coisa com o outro braço, apoiando as palmas das mãos em seu abdômen rígido. Nossos corpos estavam colados demais e, de repente, eu me dei conta que andar de moto com alguém era quase impróprio. Eu apontava para onde ele deveria seguir e minutos depois, estávamos no nosso destino e, assim que avistei a placa do bar, eu chorei internamente por saber que precisava descer da moto e encarar uma longa jornada de tarados babando no decote que eu usava intencionalmente para que ganhasse uma boa quantia em gorjetas. Assim que meus pés tocaram o chão, eu levei as mãos até o fecho do capacete,

apesar de não fazer ideia de como abri-lo. Depois de tentar por quase um minuto inteiro, Max se inclinou sobre mim, deixando escapar um risinho, enquanto me ajudava a retirá-lo. — Obrigada pela carona. — É sério, você está realmente me agradecendo? — Ele parecia surpreso. — Você chegou, graças a Deus! — Elizabeth gritou da porta, onde fumava um cigarro no seu intervalo de quinze minutos, então sua expressão endureceu. — Olá, TJ. Ela acenou para ele de forma estranha. Talvez estivesse estranhando o fato dele estar de moto. Só que não era ele. Max sorriu diabolicamente, acenando de volta. — Oh, não. — Ela semicerrou os olhos. — Não, Tyson, nem fodendo. — Beth jogou a bituca no chão e pisou nela com a ponta dos sapatos, antes de mostrar o dedo do meio e entrar de volta no bar. — Qual é da de cabelo roxo? — ele perguntou, se divertindo com a reação dela. — É Elizabeth, uma amiga. Ele assentiu. — Não é como se Tyson fosse a pessoa mais fácil de lidar — ele comentou, colocando o capacete na cabeça. Deixei escapar um suspiro pesado. — Não é tão difícil também, na verdade, ele só... meio que tem um pau enfiado na bunda. Meu comentário fez um sorriso enorme se formar em seu rosto e quanto mais ele sorria, menos parecia que eu o conhecia.

— Até mais, Oklahoma. — Max deu a partida na moto e saiu em direção às estradas e apenas percebi que estava parada olhando-o partir, quando eu já não era mais capaz de enxergá-lo.

— Qual é a da carona com o idiota do Ty? — Beth jogou o avental na minha direção e eu o peguei no ar, fazendo um nó firme na parte de trás, sobre o bumbum. — Não era o Ty — respondi. — Como foi o feriado? — Você sabe, enchi o cu de salsicha e tudo mais. — Ela amarrou os cabelos em um coque alto e espetou um palito de metal com uma flor cheia de strass na ponta para mantê-lo firme. — Você é nojenta. — Desde quando TJ tem tantas tatuagens? — Não era TJ. Elizabeth parou de chacoalhar a coqueteleira e deu uma gargalhada. — Como assim, porra? Lavei minhas mãos na pequena pia ao lado do freezer e a sequei no avental, pensando em uma forma rápida de resumir o caos que era aquela notícia. — Bom, há outro deles. — Dei de ombros. — Uísque! — Jason, um dos nossos clientes mais antigos, se apertou em meio a duas banquetas ocupadas por dois garotos do time de futebol, que deveriam ter mais de cem quilos cada.

Servi o uísque para ele, ignorando o olhar dos dois idiotas, e quando Jason deu as costas e eu encarei minha amiga, seus olhos ainda permaneciam em mim, ansiosa por uma explicação. — Como assim há outro deles? — Outro, tipo, um terceiro. — Tipo um clone? — perguntou confusa. — Não, tipo irmão mesmo, eles são trigêmeos ao que parece. — Não, não pode ser. — Ela soltou um riso incrédulo, enquanto arregalava os olhos conforme se dava conta que a informação era verdadeira. — Pode sim. — Peguei uma cerveja e entreguei para o cara que apontava para a garrafa dele vazia. — Inclusive, ele apareceu à meianoite, no dia do aniversário deles, sem saber que tinha irmãos. Dei de ombros, pulando a parte em que eu contaria que beijei o irmão número três enganado. — E como foi que eles acabaram separados? — Ela parecia realmente transtornada, o que me fez pensar novamente no assunto. TJ e Ty tinham um ao outro, mas quem realmente Max tinha? — Eu não faço ideia, na verdade. Tudo ainda é muito novo para todos nós e o Sr. Jackson está em um cruzeiro, incomunicável. — Então ninguém faz ideia de nada? Neguei. — É louco, eu sei. Ver os três juntos ao mesmo tempo é algo que eu vou demorar para se acostumar. — Daria um ótimo livro. — Ela sorriu. Quando Beth não estava trabalhando, estava com a cara enfiada em um livro e nos últimos tempos, ela passava mais tempo escrevendo histórias do que saindo de casa e eu sabia que ela tinha potencial apenas

por ler frases aleatórias que criava para suas legendas de fotos. Eu esperava realmente que ela tivesse seu grande momento como escritora um dia. — Quem sabe? — Revirei os olhos, pensando que eu seria a protagonista mais perdida da história. — Benny vai surtar quando souber disso. Mordi a boca tentando segurar o riso. Acontece que Benny era o dono do bar e havia expulsado Ty e TJ mais vezes do que eu podia contar, e saber que havia outro deles, apenas faria com que a veia pulsante em sua testa ficasse ainda mais evidente. Mas, fazer o que, não é? Esse é o resultado de abrir um bar em um bairro universitário e, provavelmente, ele sabia onde estava metendo sua bunda. — É, ele vai — afirmei, pegando outras duas cervejas para os dois garotos a minha frente. — Tudo bem com os seus olhos? — perguntei para um deles. — Porque parece que estão perdidos nos meus peitos. Ouvi o risinho de Beth ao meu lado. — Talvez não devesse mostrar tanto, se você se sente incomodada que olhem — ele respondeu, se inclinando sobre o balcão, sua língua deslizando sobre o lábio inferior, me fazendo grunhir. — Pelo amor de Deus, saia daqui! — Apontei para o outro lado. — Não me faça ter que encarar sua cara imunda durante todo o meu turno. — Vai se foder, vadia! — Ele pegou a cerveja sobre o balcão e seguiu para os bancos dos fundos com seu amigo, que murmurava alguns palavrões. — Você está estressada. — Não estou — neguei, chacoalhando uma mistura para um cliente que estava terminando a sua e que eu sabia que pediria outra igual em dois segundos. — Por que você não foi ao aniversário do TJ?

Beth desviou o olhar, unindo as sobrancelhas, pensativa. — Você sabe o que eu acho sobre essas festas. — Ela cruzou os braços por um segundo, então um cara ergueu sua garrafa vazia. — E não é como se tivessem sentido minha falta. — Eu senti sua falta. Suas sobrancelhas perfeitas suavizaram. Ela abriu um sorriso, cabreiro, desviando o olhar novamente. A pele impecável trabalhada com iluminador nas partes certas me fazia morrer de inveja. Elizabeth era linda, de uma forma natural, limpa. Ela tinha um cabelo pintado de roxo agora, mas já havia passado por outros tons ao longo dos dois anos em que trabalhávamos juntas, mas era a única coisa extravagante nela, porque o resto era simples, era como olhar para o céu, você via pouco, mas se encantava com tudo. Entretanto, por trás de um rosto doce, havia uma personalidade tão forte quanto a minha, e por isso, nós éramos tão próximas. — Você não conta. — Teria sido divertido se você estivesse lá; em vez disso, eu tive de dormir logo após a grande chegada de Max, o clone. Nós duas rimos em uníssono. — Você não falou com TJ? — perguntei. — Não, eu acabei esquecendo de dar os parabéns para ele, eu... estive ocupada aqui e tudo mais. — Você sempre dá os parabéns para ele, não é como se pudesse esquecer — eu me referi ao feriado. — Ficou lotado ontem. — Entendi. — Passei um pano sobre a bancada molhada. — Você anda distante nos últimos meses — confessei.

Eu havia conseguido o emprego no bar depois que TJ pediu a Beth que conversasse com Benny para me contratar. Os dois se conheceram há alguns anos e ficaram muito amigos, até que, do nada, as coisas começaram a desandar e Beth se afastou. Ela não ia mais às festas na mansão, nem aparecia por lá para uma sessão de filmes ou conversa de garotas. Elizabeth e eu éramos amigas, muito amigas, embora nos últimos meses eu tenha me questionado mais do que deveria sobre isso. — É só a merda de todo dia — ela sussurrou, quase que para si mesma. Ter pais como os dela, sem dúvida, deveria ser uma merda. — Se precisar conversar, você sabe... — Apontei para o meu ombro. — Se precisar de um encosto, tenho carne de sobra aqui para deixá-la bem confortável. Ela assentiu, antes de desviar os olhos. — Nada que eu não possa lidar, mas obrigada. Segui fazendo o meu trabalho, servindo caras, limpando a bancada, lavando copos, organizando as bebidas no estoque e perturbando Beth sempre que tinha um minuto livre e, assim que deu o meu horário, eu me vi na porta do bar, ciente de que não tinha uma carona. Beth havia ido assim que o ponteiro deu a volta encerrando o último minuto e permaneci encarando o celular, enquanto a chamada que eu fazia para o meu namorado, permanecia sem resposta. — Posso deixar você em casa, Ky. — A voz de Jacob preencheu o lado de fora quando ele atravessou a porta, amarrando seu cabelo castanhoescuro no topo da cabeça. Inclinei meu queixo, tentando encarar seus olhos, mas ele tinha quase dois metros e, por mais que eu tentasse, meus 1,56m nunca me deixaria alcançar meus objetivos. Não era à toa que Benny havia o contratado

como segurança, fazendo com que ninguém arrumasse briga por lá no último ano. Bom, ninguém além dos irmãos Jackson, claro, porque eles continuavam agindo como animais sempre que tinham uma oportunidade e nem mesmo Jacob, com todos aqueles músculos, podia detê-los. — Eu vou continuar tentando, talvez ele me atenda. — Sentei-me no meio-fio, sentindo o peso de todo o dia me atingir em cheio e o pensamento de estar começando um novo semestre em breve. — Não quero te dar trabalho, você mora do outro lado da cidade. — Não é nenhum trabalho, não seja dramática. — Ele me lançou um amplo sorriso, os dentes pareciam ainda mais brancos no verão, uma vez que sua pele ficava mais bronzeada. — Vou esperar com você então. — Não precisa se preocupar, sério! — insisti, mas ele ignorou meu pedido, sentando-se ao meu lado. — É uma hora da manhã, Kyra, seu spray de pimenta é bom, mas não é letal. — É, você tem razão. — Disquei o número de Tyson, mas apaguei quando seus insultos dançaram em minha mente. Ainda estava indignada com ele, muito mais do que isso, eu havia ficado realmente magoada, o que era muito pior. Irrite uma mulher, mas nunca a magoe. Depois de apagar o número de Ty, eu digitei novamente para TJ e suspirei, cansada, quando a ligação caiu na caixa postal. — Eu levo você, Kyra — Jacob insistiu. Olhei para a rua escura à minha frente, praguejando internamente por ter excluído o aplicativo do Uber do celular uma vez que exigia atualização e não possuía mais espaço no meu aparelho velho. — Você pode chamar um Uber para mim, isso é o suficiente.

Jacob se levantou ao meu lado, antes de estender a mão para que eu impulsionasse meu corpo. — Entra na porra do carro, caralho! — Ele forçou o andar, como se tivesse tentando imitar um marginal ou algo assim. — Preciso agir como um deles para que você me deixe te levar em casa? Dei uma gargalhada alta, conforme caminhava ao seu lado. Não somente pelo fato de que aquele gingado não combinava com o seu tamanho, mas também porque ele não estava tentando imitar um marginal, e sim Ty e TJ. — Você parece ridículo fazendo isso. — Abri a porta do carona e pulei para dentro da sua caminhonete, abrindo os vidros para que o vento refrescasse o interior do veículo. — Sério, por quê? — Jacob parecia decepcionado, enquanto dava vida ao motor. — Você é alto demais para andar assim. — Continuei sorrindo. — Talvez você quem seja baixinha demais. Me afundei no banco, sentindo o vento quente acariciar meu rosto conforme o carro ganhava velocidade, o cansaço do dia me acertando em cheio. Me permiti fechar os olhos por um instante, apenas para apreciar o alívio momentâneo que era estar em silêncio, antes de chegar na mansão e desfrutar de outra festa, porque era nada menos do que sexta-feira e não havia nenhuma sexta-feira que não houvesse uma festa rolando, por menor que fosse, no mínimo dez pessoas estariam lá, o que eu rezava para que estivesse acontecendo. Apenas algo pequeno. Jacob respeitou meu silêncio, provavelmente por precisar contemplálo também, uma vez que havia passado as últimas seis horas dentro de um bar lotado onde nada era menos do que música ruim e gritaria e assim que avistei a mansão, me surpreendi ao encontrá-la vazia. Ou

quase. Apenas meia dúzia de pessoas se amontoavam no gramado e assim que TJ avistou a caminhonete, ele atravessou o espaço que o separava de nós. — Obrigada, Jacke, de verdade. — As ordens. — Ele estava com um sorriso no rosto quando seus olhos encararam algo além dos meus ombros e no mesmo instante, TJ abriu a porta. — O que porra você está fazendo com ele? — A veia pulsante em seu pescoço evidenciava seu descontentamento e revirei os olhos para todo o drama que eu sabia que viria a seguir. TJ usava nada menos do que um short de flamingos e toda a pele que não ficava sob ele, estava exposta. Ele passou uma mão em volta da minha cintura, enquanto mantinha a outra segurando a porta, ao mesmo tempo que encarava Jacob. — Eu peguei uma carona. — Assim que as palavras saíram da minha boca, eu me indignei porque não precisava explicar. — Você queria que eu fizesse o quê? Viesse a pé do bar? — Você podia ter me ligado. — Seu maxilar cerrado apenas o deixava ainda mais sexy e viril, mas ele não precisava saber que eu achava isso. — Eu liguei, você não atendeu. — Deixei um suspiro cansado escapar. — Até mais, Jacke, obrigada pela carona. — E então lá estava ele, como um maldito vira-lata esperando seu osso. Uni as sobrancelhas. Não sabia se ele estava querendo insultar Jacob ou a mim. — Sim, lá estava eu, pronto para fazer o papel que você nunca soube fazer. Até mais, baby. — Ele acelerou a caminhonete com a porta ainda aberta e ela bateu com força, escapando das mãos de TJ.

E era exatamente por esse motivo que ele odiava Jacke, porque além de ele ser bonito, descaradamente dar em cima de mim, ter quase dois metros de músculos, ele também tinha colhões. E apenas alguém que realmente honrava as bolas no meio das pernas encarava os irmãos Jackson como ele fazia. — Que caralho, Kyra! Por que você não pegou uma carona com a Beth? Eu parei para raciocinar por um momento, odiava a pressão de estar em um relacionamento. Tudo era novo demais para mim, talvez por isso eu não havia me acostumado ainda a dar explicações. Meus pais confiavam em mim, então eu não precisava esclarecer uma simples carona, porque eles não se importavam se o cara queria ou não estar dentro da minha calcinha. Talvez por esse motivo, eles eram considerados ovelhas negras da família, mas eu não me importava, porque funcionava para mim, o que era exatamente o que não estava acontecendo naquele momento. — Ela correu para casa depois do turno e obviamente está evitando você! — Ela o quê...? — Ele fez uma pausa. — Como você foi ao trabalho então? Ele não sabia? Olhei para o quintal, procurando por Max, mas não o avistei em nenhuma parte, então encarei TJ, que aguardava confuso e eu fiz a maior burrada. Eu menti. — Eu chamei um Uber. — Certo e por que você não chamou outro para voltar para casa? Por que não ligou para o Ty?

— Qual o problema de eu pegar uma carona com o Jacob, TJ? Pelo amor de Deus, pare de agir como uma maldita criança mimada que perdeu o seu brinquedo. — Passei por ele, entrando no quintal. — Eu não gosto dele. — Porque ele enfrenta você — acusei. — O quê? — Ele parecia incrédulo. — É, esse é o problema de caras como você, TJ, eles realmente só querem algo quando há uma competição. — O que quer dizer com isso? — Olhei para trás, freando o passo no gramado, encarando-o cruzar o braço sobre o peito. — Eu quero dizer que já nem sei mais o que está acontecendo aqui. — Apontei para ele, depois para mim. — Eu não sei se isso é real ou se é apenas um passatempo para você. Ele permaneceu em silêncio, enquanto as pessoas a nossa volta se concentravam em nosso pequeno show. TJ parecia pensar nas minhas palavras, talvez estivesse se dando conta de que eu realmente era apenas algo confortável, e fiquei ali parada, esperando que ele dissesse para mim, mas não obtive uma resposta, em vez disso, ele passou por mim, dando um pequeno sorriso frio, pegando uma garrafa de uísque sobre a mesa antes de entrar em casa batendo a porta. Ele não precisava realmente dizer alguma coisa, porque, lá no fundo, eu sabia. E quando eu desviei meu olhar para esquerda, encostado em sua moto, estava Max, segurando uma cerveja, os olhos presos em mim e os lábios levemente puxados em um pequeno sorriso.

Havia acabado de sair do banho, meus cabelos estavam molhados e penteados para trás, caindo até a metade das minhas costas. Depois de passar uma quantidade generosa de corretivo no rosto para tapar as olheiras, eu apliquei o rímel e um batom rosa claro, vesti um vestido e desci. Eram quase três da manhã, eu estava cansada e chateada, mas acima de tudo, irritada. E estar irritada era o suficiente para que eu não conseguisse dormir, então me poupei de ficar na cama, virando de um lado para o outro, quando eu sabia que não teria sucesso. Abri o armário em busca do sal, em seguida, retirei uma taça da cristaleira, então peguei o restante dos ingredientes e preparei uma margarita, caprichando na tequila. Eu saí da cozinha o mais rápido possível antes que alguém me pedisse para fazer um drink. O lado bom de ser uma bartender era que eu podia preparar as melhores bebidas e o lado ruim, era que as pessoas também sabiam disso e, se eu dissesse sim para uma pessoa, dez minutos depois estaria usando um avental e elas estariam gritando para que eu fosse mais rápida. Meus pés descalços tocaram o gramado antes de tocar o piso que contornava a piscina, então me sentei, afundando as pernas na água, sentindo o líquido arder a minha garganta ao mesmo tempo que o sal

diminuía o efeito. Ty estava do outro lado da piscina, segurava uma garrafa com uma mão, enquanto usava a outra livre para levar o cigarro até sua boca. Ele encarava o chão, distante, pensativo, as sobrancelhas unidas evidenciavam que se entregava a um debate interno e suspirei ao lembrar de suas palavras. Eu não era uma garota dramática, pelo contrário, odiava o drama, mas tudo o que ele havia dito me deixou realmente chateada e provavelmente era a insegurança de não estar em casa. Quando você tem para onde ir, apenas vai quando toda a merda ao redor decide explodir sobre você, mas, quando não tem, você apenas mergulha nela e espera o momento em que ela deixa de feder. Dei outro gole na minha bebida, me obrigando a ir mais devagar se não quisesse ter que levantar-me do meu pequeno momento confortável para fazer outra dose. Foi quando ouvi uma risada alta e exagerada atravessar o pátio e meus olhos capturavam a figura diante de mim, em reflexo. Uma garota de curtos cabelos castanhos ondulados, usando um vestido tão transparente, que eu era capaz de ler a marca escrita na etiqueta da sua calcinha, conversava com TJ. As mãos sobre ele o tempo inteiro, mãos no antebraço, risada, mãos no ombro, risada, mãos na cintura, risada. Nitidamente, ela gostaria de estar aquecendo a cama dele em menos de dez minutos. Ele parecia envolvido na conversa, se inclinando sobre ela mais vezes do que deveria, suas mãos nela o tempo inteiro também, um pequeno sorriso travesso nos lábios que eu conhecia muito bem. TJ também gostaria de estar em sua cama no fim daquela noite. Voltei a olhar para Ty e ele me encarava, esperando que eu fizesse algo, talvez, quem sabe, ele quisesse um show, mesmo sabendo que eu não daria. Joshua e Cami acenaram para mim, entre Ty e TJ, enquanto compartilhavam a mesma

biqueira do narguilé, introduzindo as mesmas bactérias. De frente para eles, estavam McCarter e Brad, que olharam para mim, acenando também. Lancei um sorriso para eles, agradecendo o convite e apontei para casa, avisando que já estava subindo e eles entendiam, sabia que eu gostava de estar sozinha e que, além disso, havia trabalhado demais, como sempre. Todo mundo já estava acostumado com minhas rápidas presenças nas festas e ninguém me achava tapada ou chata demais, apenas sabiam que eu era daquela forma e ponto final. Sem drama, como gostavam. Cami fez um coração para mim, usando a ponta dos oito dedos e dos dois polegares e pisquei para ela. Aproveitei que TJ não havia me visto para sair de lá. Caminhei pelo quintal, segurando minha taça, enquanto assistia meus pés molhados deixar rastro sobre o piso fosco. Eu não sabia descrever exatamente o que estava sentindo, apenas me sentia como se estivesse cansada demais, só que eu também não fazia ideia do que exatamente. Talvez fosse de me sentir cansada, ou cansada de me sentir confusa ou sei lá o quê. Eu claramente amava o TJ, nós éramos amigos desde o elementary school, mas eu também amava o Ty, e os amava quase da mesma forma, quando obviamente deveria ser diferente. Não tive outros relacionamentos sérios, nunca havia namorado antes, nunca havia me apaixonado em nenhum momento, então eu não podia comparar, apenas sabia que, provavelmente, eu deveria estar surtando ao ver TJ tão íntimo de alguém depois de termos tido uma briga. Digitei uma mensagem para minha irmã, porque ela era a única pessoa que me daria uma boa resposta sensata e verdadeira e que, ao mesmo tempo, não me julgaria por fazer aquela pergunta e, conforme eu subia as escadas, meu polegar trabalhava sozinho, digitando a pergunta:

Eu: Como você reagiria se tivesse brigado com Chris e um tempo depois, o encontrasse conversando com uma menina? Eu: *Com uma vagabunda Corrigi a mensagem. Lizzie: Eu começaria a mensagem para a minha irmã, perguntando pela saúde do meu sobrinho. Ela respondeu, me fazendo rir conforme dobrava no corredor do segundo andar. Lizzie: Depois eu o chamaria para conversar, quando ele terminasse o que quer que estivesse fazendo com a (menina) e não a julgue, porque o comprometido é ele, não ela, querida. Eu: Invejo sua maturidade, irmã. Lizzie: Não inveje, porque, enquanto eu estivesse fazendo isso, estaria torcendo para que a vagabunda me olhasse torto, apenas para ter um motivo para cair em cima dela e mostrar quem realmente ele vai foder no fim da noite. Eu: Então, você estaria furiosa? Lizzie: Furiosa? Não sei se existe uma palavra para descrever como eu estaria. Lúcifer voltaria a ser visto como um doce e adorável anjo. Talvez a Netflix até escrevesse uma série sobre mim.

Parei na porta do quarto de TJ, a mão na maçaneta, enquanto dialogava comigo mesma, pensando na forma como eu me sentia com relação a ele estar conversando tão intimamente com alguém. Eu não estava furiosa, chateada sim, mas furiosa? Não... Por quê? Encostei a testa na porta, por dois segundos, ouvindo pessoas passarem pelo corredor atrás de mim o tempo inteiro. Rostos conhecidos demais, a galera inteira da faculdade, mas eu não costumava me misturar. Estava mais chateada pelo fato de TJ não estar me respeitando na frente de todos do que o próprio fato dele não estar me respeitando. Me afastei da porta, decidindo dormir no meu quarto. Não fazia sentido que eu ficasse ali, sendo que sequer estava falando com ele, tampouco depois de presenciar a pequena cena de afeto em público. Sendo assim, lá estava eu, entrando no meu quarto, decidida a dormir sozinha e ter uma conversa com TJ na manhã seguinte, dando o último gole no meu drink quando de repente: — Mas o que... — gritei espantada, observando Maximum de pé e nada menos do que nu a minha frente. — Deus... — ele murmurou, colocando a toalha de rosto, branca, na frente do seu membro, duro. Duro. — Que inferno você está fazendo aqui? — Eu estou dormindo no seu quarto desde que cheguei. — Por quê? — perguntei, apesar de saber, apenas achava que se alongasse a conversa, podia tirar a imagem de outra coisa longa da minha cabeça.

— Porque essa casa está em festa desde que cheguei. Isso nunca acaba? — Parecia estressado e eu gostei do fato de ele também não gostar de tanto tumulto. — Nunca — suspirei, sendo capturada pelos desenhos em seu corpo, cada maldito traço parecia atraente demais e eu me perguntei por que inferno eu não via Ty daquela forma quando eles eram idênticos demais, até mesmo as tatuagens. — O que você está fazendo no seu quarto? — perguntou confuso, seus bíceps marcados pela forma na qual ele segurava a toalha. — Bom, esse é o meu quarto. — Coloquei a taça vazia sobre o criadomudo e caminhei até a cadeira da escrivaninha, pegando um pijama que eu sabia que havia deixado lá. — Sim, mas você nunca dorme nele — ele acusou, seus olhos presos nos meus movimentos, enquanto eu caminhava até a minha cama, sentando-se nela. — Como você sabe, se acabou de chegar nessa casa? — Às vezes, eu sentia como se ele estivesse na casa há anos, como se estivesse presente em todos os malditos cômodos. — Apenas sei. — Ele caminhou até o banheiro, sua bunda dura virada para mim, quanto eu sentia minhas bochechas queimarem. Eu não conseguia desviar os olhos dele, cada maldito pedaço era igual ao que eu já estava mais do que acostumada, mas, ao mesmo tempo, era como se fosse diferente, como se tudo fosse novo e estivesse sendo visto pela primeira vez. Uma de suas pernas também era tatuada, os desenhos chegando até sua coxa, espalhados por toda a parte. Max se abaixou minimamente, apenas para que pudesse vestir sua boxer preta, então rolei meus olhos para suas costas, subindo lentamente até os ombros e,

quando ouvi um pequeno risinho, eu subi mais um pouquinho e meu coração afundou no peito quando nossos olhos se encontraram através do espelho. Filho da puta! — Achei que eu não fosse do seu gosto — ele disse divertido. — Você não é — afirmei. — Então tire seus olhos de mim, porque eu não sou de ferro. — Max se aproximou, seu cheiro delicioso se espalhou pelo quarto. Senti minhas pálpebras pesarem assim que ele ficou a minha frente. Minha respiração deixou de ser automática e natural e passou a ser algo que eu tentava controlar, assim como as batidas do meu coração. O que estava acontecendo? Por que ele precisava ser um filho da puta provocador o tempo inteiro? E por que eu estava caindo nisso? Maximum se inclinou sobre mim, espalmando a cama, uma mão em cada lado do meu corpo, conforme o sopro quente de sua respiração atingia meu rosto. Eu não me movi, não só porque não queria, mas também porque não era capaz. — Parece que você está desarmada agora, Oklahoma, e eu não estou me referindo ao seu spray e nem a minha pistola. Pisquei forte, abrindo a boca levemente, mas eu não sabia o que dizer. Como se eu tivesse me tornado incapaz de sibilar uma frase coerente. Apertei minhas mãos, uma na outra, tentando controlar a vontade que estava de tocá-lo, ao mesmo tempo que praguejava e me sentia péssima por querer fazer aquilo quando estava com alguém, mas então me lembrei de que TJ estava lá em baixo, fazendo a mesma coisa com uma pessoa que não era eu.

Não era apenas a sua voz, ou sua aparência, era a forma como ele se movia e o cheiro que exalava da própria pele que o tornava diferente dos outros dois. Era a química que senti ao beijá-lo pela primeira vez e a atração que eu sabia que tínhamos. Química. Seus feromônios o tornavam quem era, a mistura do seu próprio cheiro, com a forma como ele olhava, agia, se movia e que fazia com que minhas moléculas se comportassem de maneira diferente a sua presença, como seu meu corpo tivesse vontade própria. Maximum se aproximou mais, seu nariz perfeitamente desenhado tocando o meu e eu já não era capaz de me controlar, podia ouvir meu próprio coração batendo, o que era uma puta loucura porque eu havia acabado de conhecê-lo. Como aquilo podia estar acontecendo? Sua testa empurrou a minha, eu a empurrei de volta, e nossos narizes rasparam um no outro, algumas vezes, trocando de lado, ele abriu a boca e sua respiração encontrou a minha antes dele erguer o queixo, fazendo sua boca acariciar a pele ao lado da minha, eu podia sentir meu sexo pulsar, e percebi que não parava de me mexer. E um pequeno gesto de quase beijo havia acabado de se tornar a experiência mais sexual e excitante que tive na minha vida e eu sequer havia encostado minha boca a sua, então o empurrei, meus olhos arregalados, minha boca entreaberta, enquanto respirava com dificuldade, sentindo meus olhos arderem, assim como meu pulmão, e a batida errática do meu coração fazia meu sangue correr com mais velocidade nas veias, enquanto a única coisa que eu sentia era que precisava dele dentro de mim o mais rápido possível, por esse motivo, eu me levantei e saí correndo do quarto. Aquilo só podia ser chamado de uma coisa: a maldição dos irmãos Jackson.

Dois dias haviam se passado desde o meu pequeno deslize com Max e, graças ao bom Deus, era segunda-feira, o que significava que não havia uma festa naquela noite. Por esse motivo, e por estar de folga, eu decidi cozinhar. Não era bem uma ótima ocasião, estava longe de ser boa, aliás, com tudo o que vinha acontecendo comigo e com a maldição dos irmãos Jackson. Ty ainda estava distante, TJ sequer olhava na minha direção e Max, bom, ele não parava de me encarar, mas eu estava fugindo dele como o diabo foge da cruz. Mesmo assim, depois de passar os últimos dias comendo apenas besteiras e congelados, eu decidi fazer uma comida caseira, mesmo que fosse comê-la sozinha, como também, se eu tivesse que acordar cedo para correr no dia seguinte. Acontece que comer carboidrato me fazia inchar como um baiacu, mas, mesmo sabendo, lá estava eu, preparando-o com bacon e brócolis. Foda-se também, porque eu nunca seria magra nem se realmente tentasse. Levei a travessa pesada até o forno préaquecido, aumentando a temperatura para 180º. Assim que terminei de lavar o restante da louça, evitando deixar sujeira demais para Grace e Justine que estavam programadas para limparem a casa no dia seguinte, fui passar uma água no corpo. Odiava

tomar banho depois da janta, porque apreciava a sensação de estar limpa e confortável na hora da refeição. Assim que deixei o quarto, após o banho, esbarrei em algo sólido, um abdômen definido que não era coberto de tatuagens, o que só podia significar que TJ queria algo comigo, na porta do meu quarto, enquanto me observava impaciente. Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso, uma covinha se aprofundando apenas em um lado do rosto. Observei seus olhos verdes rolarem sobre todo o meu corpo até encontrarem os meus. Ele apertou as mãos, estalando os dedos, enquanto se mexia, inquieto. — Me desculpe. — Ele se aproximou de mim em um movimento rápido, me prensando na porta do meu quarto. Pisquei rápido, tentando me manter lúcida, então abri a boca para dizer algo, mas TJ colou seus lábios nos meus antes que eu pudesse dizer alguma coisa. Suas mãos enormes seguraram as laterais dos meus quadris, me colocando para cima e eu entrelacei as pernas na sua cintura. Tinha um milhão de coisas para dizer a ele, mas obviamente não faria. O que havia de errado comigo? Eu me perguntava aquilo enquanto ele me arrastava para dentro do cômodo, batendo a porta atrás de nós, ao mesmo tempo que se inclinava sobre mim na cama pequena e estreita. — Eu preciso disso agora, Ky — ele murmurou. Por que eu, que queria xingá-lo por agir como um idiota, estava abrindo minhas pernas para ele? Provavelmente porque ele era um dos fodidos irmãos Jackson e as garotas faziam isso o tempo inteiro. Ninguém queria nada além de sexo em primeiro lugar e eu sentia que precisava tanto quanto ele aparentemente precisava de mim. Seus lábios deixaram os meus, correndo livremente sobre a curvatura do meu pescoço até meus seios, então abocanhou um, enquanto apertava o outro, usando o polegar para brincar com ele.

Seu pau imenso pulou fora de sua cueca boxer branca da Calvin Klein assim que ele se posicionou sobre mim, usando seus joelhos para me prender no meio dele. TJ se inclinou para fora da cama, alcançando uma camisinha no criado-mudo, então a rasgou com os dentes, colocando-a com tanta praticidade que eu me perguntei, por um segundo, quantas vezes ele havia feito aquilo. Centenas, com certeza, mas o pensamento não me deixava enjoada, pelo contrário, me excitava, porque isso havia dado a ele experiência. TJ podia ser egoísta e imaturo às vezes, mas sabia usar seu pau como ninguém e, para mim, isso bastava. Ele me penetrou, fazendo com que eu deixasse escapar um gemido involuntário e conforme estocava, eu me agarrava a ele com mais força, sentindo cada músculo do seu corpo trabalhar. Tales sobrepôs seu rosto ao meu, abocanhando meus lábios, conforme respirava ofegante, roubando meu fôlego e eu sorri, correndo os dedos sobre o seu rosto então, por um segundo, apenas por um, eu não apenas pensei, mas desejei que fosse Max e meu corpo travou. O que inferno eu estava pensando? — Isso não está funcionando. — Ele se afastou de mim, se sentando na beirada da cama. Amava TJ e o simples pensamento de estar com outra pessoa, enquanto fazia sexo com ele, me fez sentir como se eu não o respeitasse como pessoa, mas não era aquilo que estava rolando ali, entretanto, eu não sabia realmente o que estava acontecendo. — Kyra, eu... — Ele passou as mãos no rosto. Não sabia o que ele estava pensando, o que sentia realmente por mim, tampouco o que nosso relacionamento significava para ele. — Sinto muito, TJ — me desculpei, porque já não sabia quem era o mais errado naquela história.

— Você... Porra, Ky, você me ama? — perguntou, apoiando a cabeça entre as mãos. Parei para pensar, por um segundo, apoiando meu queixo em suas costas. A pele lisa, livre de tatuagens, era o que fisicamente o distinguia entre os irmãos. — Sim, TJ, claro que sim. Ele assentiu, mas permaneceu em silêncio. — O que está acontecendo com você? — perguntei. — Eu não sei — sussurrou, antes de se levantar e deixar meu quarto, ainda nu.

A mesa estava posta, pratos, talheres e taças estavam distribuídos sobre ela, mas eu não sabia se alguém além de mim iria comer, também não me importava. A situação havia mudado, antes TJ e Ty não falavam comigo, agora apenas Ty não falava, enquanto TJ agia de uma forma muito estranha. Mas eu decidi parar de pensar no assunto, sabia que, a partir do momento em que começasse meu último semestre na faculdade, eu teria bastante coisa para ocupar minha mente. Coloquei a travessa sobre a mesa antes de ir lavar as mãos na pia uma última vez, aproveitando para espiar os meninos através da janela. Tales estava sentado em uma espreguiçadeira, enquanto Ty mantinha suas costas apoiadas na parede, uma perna dobrada, os braços cruzados sobre o peito, observando Max trabalhar no motor do carro de TJ. Atravessei a porta dos fundos, presa na imagem à minha frente, Maximum estava debruçado sobre o carro, suas costas tatuadas livres de qualquer tecido. Sua regata branca, estava enfiada no bolso de trás e, ao

ouvir meus passos, ele se virou para mim, retirando-a do bolso e passando ela no rosto, limpando a graxa que cobria sua pele. Tales e Tyson me observaram em silêncio conforme me aproximava. — Eu acabei de preparar algo. — O que você fez? — TJ perguntou, ansioso. — Macarrão com bacon e brócolis. Os dois grunhiram em uníssono. — Por que você tem que pôr algo saudavelmente ruim no meio de algo tão bom? — Brócolis não é ruim. — É sim — Ty concordou com o irmão, fazendo com que eu o encarasse, surpresa por estar falando comigo. — Eu queria falar com você, Ky — ele confessou. Desviei meus olhos para os outros dois irmãos, TJ havia recebido uma ligação, então ele ergueu o dedo indicador, pedindo um minuto para mim, antes de se afastar. Max parecia um pouco descabreado com o pedido de Ty e eu me perguntei por um momento, como ele havia sido criado. Ele era protetor demais, havia estado pronto para atacar quando Ty gritou comigo e depois havia me seguido de moto com medo de que eu andasse a pé nas ruas escuras a caminho do bar. — Pode falar. — Cruzei os braços, ansiosa. — Será que a gente podia... — Fale logo, não é como se Max se importasse com a merda que você vai dizer, afinal. — Fiz minha melhor cara de tédio e Ty revirou os olhos. — Me desculpe. — Uau! Alguém aprendeu uma nova palavra hoje — gracejei. — Por favor, não me faça mandá-la se foder porque eu não quero me sentir um idiota de novo.

— Você é um idiota, Tyson. Ouvi uma risada abafada e encarei Max, sustentando um pequeno sorriso. — Fora, Max. — Ergui as sobrancelhas, encarando Max deixar o pátio com as duas mãos erguidas em um gesto de paz. — Eu sinto muito, de verdade, Ky, eu... — O que está acontecendo com você, Ty? — Eu não sei... — Ele passou uma mão sobre a cabeça raspada, então a deslizou até sua nuca. — Eu... Porra, eu sinto que tô me afundando cada vez mais. Seus olhos verdes brilharam, me encarando com intensidade, antes dele desviá-los para o chão. Ty levou as mãos até o bolso da bermuda, retirando sua carteira de cigarros, acendendo em seguida. Ele encheu os pulmões de fumaça, erguendo a cabeça e soltando-a em direção ao céu, enquanto nós permanecíamos em silêncio. — Você conheceu alguém. — Não... — ele respondeu. — Não é uma pergunta, Ty. É uma afirmação. Seus olhos encontraram os meus novamente. — Eu já a conhecia — confessou, desviando o olhar para o capô aberto do carro. Ergui as sobrancelhas, surpresa. Era estranho ouvir Tyson falar de uma garota. — Vocês estão juntos? Ele negou, mas havia algo naquela resposta que me fazia saber que estava arrasado. — É complicado — respondeu, jogando o cigarro no chão. — É, sempre é.

— E o que vocês estão fazendo, afinal? — Ele apontou para mim e em direção a casa e meu coração quase parou de bater com a possibilidade de ele estar citando Max, mas, quando olhei para trás, percebi que TJ estava na porta de entrada e Ty se referia a ele. — Nós estamos bem. — Claro que estão. — Seus lábios se contraíram em um pequeno sorriso. — Se sua definição de bem é ficar sozinha na maior parte do tempo enquanto seu namorado está pendurado em várias mulheres. — Você está fazendo um péssimo papel de irmão. — Você também é como uma irmã, Kyra. — Ele me deu um tapinha na cabeça, sua forma mais carinhosa de expressar seus sentimentos. — Então você está sendo um péssimo irmão para mim também. — Eu sinto muito, Kyra, eu já falei... tenho estado... — Se você precisar conversar, eu estou bem aqui, Tyson, mas a próxima vez que falar comigo daquela forma, ou se apenas pensar em jogar na minha cara que eu estou aqui de favor e tudo mais... — atropelei as palavras, ficando furiosa conforme me lembrava da nossa pequena discussão. — Eu apenas vou pegar minhas coisas e cair fora. — Eu nunca deixaria você fazer isso. — Você não tem que deixar nada. Pare de agir como um idiota e se concentre em não tentar foder as coisas com a sua garota. — Virei as costas, ignorando o fato de que ele mantinha um maldito sorriso no rosto. Passei por TJ, que ainda estava no celular, entrando na cozinha e me surpreendi com a cena à minha frente. Max estava sentado à mesa, os cotovelos sobre ela, o garfo cheio em frente à boca, enquanto o macarrão

descia como cascata até seu prato e ele tentava sugá-lo. Max me olhou sobre os cílios, seus olhos verdes brilhando de excitação e um pequeno sorriso se formou em seus lábios, o que o fez ficar ainda mais bonito. — Por que está me olhando assim? — sussurrei, entredentes. Precisava acabar com aquilo que estava acontecendo o mais rápido possível. Depois de correr de Max por dois dias, precisava estar no mesmo ambiente que ele e mostrar que sua presença não me causava ansiedade. Se conseguisse provar a Maximum que eu não sentia nenhuma atração por ele, talvez me deixasse em paz. Sentei-me à mesa, à sua frente, me servindo de uma porção generosa. — Por isso está correndo como uma maluca — disse com a boca cheia e grunhi, fazendo uma expressão exagerada para sua falta de modos. — Pelo amor de Deus, eu consigo ver o brócolis mastigado dentro da sua boca! Ele deu de ombros. — Talvez devesse pegar leve no carboidrato antes de dormir. Filho da puta! — Eu não estou pedindo a sua opinião, Max. — Okay, mas... — ele fez uma pausa, como se estivesse buscando as palavras certas — se você controlasse a quantidade de calorias e massas que ingere, talvez pudesse ter um pouco menos de gordura nas pernas e bunda. Parei com o garfo no ar, a boca ainda aberta, conforme sentia meu rosto ficar vermelho de raiva. Ele estava tentando chamar a minha atenção; já que não podia ser sexualmente, então estava me fazendo ficar com raiva dele. E olha só, estava conseguindo, porque por pouca coisa eu já estava sentindo vontade de cravar meu garfo em seu pescoço. Sorri para ele, enfiando o macarrão todo na boca, então falei, imitando-o.

— Dizem que apenas os maricas se preocupam com a gordura das mulheres. TJ entrou na sala, rindo do meu comentário. — Concordo — ele começou. — Homens gostam de carne, uma bela bunda grande para bater. Seu comentário exagerado me fez grunhir, mas eu estava contente com a expressão de Max. — Vocês são nojentos. — TJ apontou para nós dois, enquanto tirava uma lasanha congelada do congelador. — O que é isso que você está pegando aí? — Ty entrou na cozinha. — Gordura trans — interferi. — Ótimo, também quero. — Ele apontou para o micro-ondas. — E eu é que sou a nojenta. Max concordou, fazendo um ruído com a garganta, enquanto comia como um morto de fome. — Seja lá que substância cancerígena tenha aqui, é muito mais gostoso do que brócolis — TJ comentou e revirei os olhos. — Isso porque Deus foi generoso com sua genéticas. Vão se foder por isso. — Mostrei o dedo do meio com a mão livre, enquanto levava outro garfo até a boca. Ao elogiar a genética do meu namorado, havia esquecido que Max continha a mesma, cada traço e o maldito metabolismo que não o deixava engordar, então praguejei internamente. Maximum se serviu de outra escumadeira cheia, ao mesmo tempo que bebia um copo de suco de laranja. — E então, TJ, nada do seu pai? — perguntei. Ele negou com um aceno.

— Ele volta em uma semana. Havia comentado sobre vir direto para cá — respondeu, retirando a lasanha do micro-ondas. Ty pegou um garfo na gaveta e se sentou ao lado do irmão. — Vai se foder, Tyson! Faça sua própria comida. — Ele puxou a lasanha para o lado na mesma hora em que Ty esticou o braço na direção dela. — Filho da puta! — Ty se levantou, indignado, abrindo o freezer para pegar sua própria lasanha. — É um inferno não saber o que realmente aconteceu — TJ comentou, enquanto Ty se mantinha de costas para o micro-ondas enquanto ele cozinhava seu jantar. — Sim — concordei. Havíamos conversado sobre aquilo em outros momentos, mas não conseguíamos pensar em nada que justificasse Max ter sido separado dos dois. A mãe deles nunca teria feito aquilo, mesmo se tivesse achado que não daria conta deles, porque quem cria um, cria dois, era o que ela sempre dizia e eu tinha certeza de que teria dito “Quem cria dois, cria três, se fosse o caso”, mas, então, como ela não saberia que havia outro irmão? Talvez, quem sabe, Helena pudesse ter sigo enganada por alguém. Quem sabe alguém tivesse mentido sobre um deles ter ido a óbito para que pudesse roubá-lo. Não tinha como saber disso enquanto o Sr. Jackson não voltava, mas todos nós havíamos pensado em um milhão de justificativas. E o mais injusto, além do fato dele ter sido afastado dos irmãos e crescido sem o contato que merecia, era saber que Helena havia morrido sem conhecê-lo. E, sempre que eu me pegava pensando naquilo, minha mente vagava para outro caminho e eu ficava curiosa para saber mais sobre Max, porque até então, não havia contado muito sobre ele. — E como foi viver em orfanatos?

A pergunta de TJ fez meu peito se apertar, porque eu não sabia que Maximum havia vivido em orfanatos. Nossos olhos se encontraram, havia algo neles que eu não era capaz de identificar. Talvez fosse vergonha. Eu quis apertar sua mão e dizer a ele que tudo ficaria bem, mas apenas desejei que interpretasse meu olhar e encontrasse nele o consolo que tentei dar. — Tão bom que eu fugi aos meus treze anos. — Você o quê? — De repente, eu não sentia mais nenhuma vontade de comer. — E você foi morar aonde? — Na rua — Max respondeu, havia tanto controle em sua voz que me perguntei se ele havia ensaiado. Ele levou outra escumadeira cheia até seu prato e eu me perguntei para onde ia tanta comida. Será que gostava tanto de comer por causa do que havia acabado de contar? Agora eu sabia de onde vinha tanta simplicidade. Ele recusava protetor solar quando estava na piscina, usava a mesma toalha de banho há seis dias e comia qualquer coisa que estivesse sendo servida, enquanto Ty e TJ viviam apenas do bom e do melhor. — O que você comia? — Talvez minhas palavras tivessem saído estranguladas, eu não sabia, mas já não enxergava Max da mesma forma. — Eu me virava. — Ele permanecia me olhando, sem expressão. — Aos treze. — Minha voz era quase um sussurro. — Sim. — Ele desviou o olhar quando percebeu que eu não o faria. — Sinto muito por isso, Max. — TJ colocou a mão em um ombro dele e seu corpo enrijeceu, porque era muito provável também que não estivesse acostumado a ter pessoas se preocupando com ele. — Tudo bem — respondeu.

Encarei Ty, comendo em pé em silêncio em frente ao micro-ondas, uma expressão séria, como se tivesse concentrado em seus próprios pensamentos. Me fazendo querer ir até ele e lhe dar um tapa para que tirasse a cabeça que estava enfiada no seu próprio rabo e prestasse atenção em seu irmão perdido. Ele comia rápido, seus olhos fixados em sua comida, então jogou o recipiente vazio sobre a bancada e deixou a cozinha, sem que ninguém, além de mim, percebesse. Sabia que algo estava errado, só não fazia ideia do quê.

Ela mal olhava em minha direção achando que isso faria com que eu acreditasse que não sentia nenhuma atração por mim, mas era exatamente por isso que eu sabia que a estava afetando. Por seus olhos incrivelmente azuis como uma maldita piscina estarem fugindo dos meus. Por ela corar todas as vezes que eu a deixava com vergonha, o que parecia ser todas as vezes em que eu abria minha boca. Mesmo que um milhão de idiotices saísse dela e depois eu praguejasse por agir como um idiota. Ainda não sabia o motivo dela agir daquela forma, quando na verdade eu era odiosamente como ele, como o seu namorado. Não era nenhum tipo de atração pela imagem em si, senão ela estaria agindo daquela forma com Ty também, até mesmo com TJ, na verdade. Suas pálpebras não se fechavam involuntariamente quando ele beijava seu pescoço. Seus pelos não se arrepiavam quando tocava sua cintura e não parecia excitada nem mesmo quando suas mãos estavam nele também. E só de pensar como ela reagiu ao nosso quase beijo, eu ficava duro como uma rocha. Porque, a cada passo em sua direção naquela noite, a fazia se mexer ansiosa sobre o colchão, fazia sua respiração perder o

ritmo, seus olhos se fecharem em um piscar de olhos lento, arrastado, como se estivesse flutuando, se perdendo em mim, sem sequer estarmos nos tocando. Por isso eu sabia, ela não amava TJ, não como deveria. Mas, por que diabos eu estava tão obcecado em uma garota? Não fazia ideia, nunca tive um relacionamento e nunca desejei estar em um. Não fazia sentido para mim que uma garota me atraísse tanto. Talvez o fato de nossas bocas terem sido feitas uma para a outra fazia com que eu a desejasse tanto. Ou quem sabe havia sido sua puta má educação atendendo a porta naquela noite. Não tinha como saber, apenas sabia que ela não era qualquer garota, além de fazer um ótimo macarrão com bacon e brócolis. De qualquer forma, eu ainda não sabia como me sentir com relação a tudo o que aconteceu nos últimos dias, desde a morte repentina de Steven – que eu sentia uma puta falta –, o beijo de recepção da Kyra e o fato de agora ter uma família. Eu ainda não podia fazer julgamentos, não sabia o que havia acontecido para que eu fosse parar em um maldito abrigo, mas meu peito apertava por saber que minha mãe estava morta. Não havia nenhum conforto em saber que eu nunca a conheceria, que eu fui o bebê que foi abandonado. Podia ter sido Tyson, Tales, mas fui eu. Eu fui a criança desgraçada, fadada a todo o sofrimento que passei, pulando de lares adotivos, sendo enganado, iludido. Eu sou a porra dos três que não sabia pegar em um garfo, segurar uma taça ou escolher uma roupa. Eu apenas era quem era. Alguém que vivia às sombras de outra pessoa, sempre. Tanto nos lares, quanto depois, com Steven e, naquele momento, com meus irmãos Ty e TJ.

Eu vivia às suas sombras, às suas custas, não sabia o que fazer, para onde ir. Sequer sabia quem eu realmente era. Parte minha queria seguir em frente, todos os dias. Pegar minha Harley e partir, sem olhar para trás, mas a outra, que me deixava atormentado, era composta por um cara que eu não conhecia e por sentimentos que não lhes eram comuns. Esse cara queria ficar, criar raízes e ter uma família. E a sensação me causava desconforto, porque eu odiava criar expectativas. As expectativas me transformaram em um cara frustrado, cada novo maldito casal indo me visitar, sorrindo para mim, me levando para passear, apenas para depois escolher alguém que ainda não tinha memórias, que podia começar no zero, alguém muito mais novo do que eu. Até o dia em que parei de desejar aquilo, já não me importava se era perseguido por outras crianças que não iam com a minha cara, por regras demais que não faziam sentido, pela falta de amor e o vazio que era dormir em um quarto cheio e mesmo assim se sentir vazio. Então fugi, e dez anos depois, lá estava eu, dentro de uma casa, que supostamente era minha, vivendo com duas pessoas que eram a minha família e mesmo assim, sendo o filho da puta que eu era, desejando a garota do cara que abriu as portas para mim, que me deu um teto e uma cama para dormir. Mas eu não conseguia, sentia culpa por querer beijá-la de novo, mas não tinha nada a ver com o fato de termos química. Um puta beijo perfeito que havia durado apenas dez segundos. Estava me confortando com meus falsos diálogos internos que diziam que eu não estava fazendo nada de mais, porque ainda não havíamos feito nada de errado, mas então minha consciência salientava o ainda e eu reavaliava a situação até me dar conta de que eu realmente era um merda. Não era nada novo para mim, afinal, mas era a primeira vez que me fazia sentir como se eu realmente estivesse agindo da forma errada.

Mesmo assim, ainda não era o suficiente para que eu parasse, então soltei um pequeno risinho quando ela passou por mim, usando um top que mal cobria seus seios fartos, um short que arrebitava ainda mais sua bunda e um tênis de corrida. Ouvi seus passos cessarem imediatamente e sorri satisfeito, sem que ela pudesse ver meu rosto. — Do que está rindo, idiota? — ela resmungou entredentes, passando a mão nos pequenos fios curtos que seu rabo de cavalo não havia sido capaz de prender. — Sempre cordial — comentei, me virando para continuar trabalhando no motor do carro de um amigo de Ty que havia quebrado. — Por que é que você tem de estar sempre enchendo a porra do meu saco? Eu não conseguia desmanchar o sorriso em meu rosto e aquele negócio de estar sempre rindo ou morrendo de raiva quando estava com ela me deixava alucinado. — Nada — respondi, fingindo não estar prestando muita atenção nela, enquanto também fingia que estava concentrado no meu trabalho. — Certo, então pare de ficar com esse maldito sorriso no rosto — ela disse após me contornar, encostando seus quadris na lateral do carro, os braços cruzados sobre os seios fartos. Ela limpou a garganta exageradamente chamando a minha atenção do que havia por trás do tecido do seu top de corrida. — Okay, tudo bem. — Apontei com uma chave de roda em direção ao caminho que ela fazia até o portão. — Pode ir para a sua corrida. Kyra grunhiu de raiva, enquanto seu rosto branco como a neve corava como o vermelho do fogo do inferno.

— Sim, é isso que eu vou fazer — afirmou, entredentes antes de se virar para sair, mas tornei a chamar sua atenção. — Você ainda está tentando se livrar de todo aquele carboidrato com brócolis? Ela parou de andar e se virou para mim, me pegando com os olhos grudados em sua bunda e um pequeno sorriso satisfeito se formou em seus lábios. — Parece tão ruim para você que eu esteja acima do peso? — Parece — respondi, mesmo sabendo que ela sabia que eu estava mentindo. — É por isso que não tira os olhos dos meus peitos e da minha bunda? Por que você acha que é resultado do excesso de carboidrato e tudo mais? O que ela não sabia é que eu não era capaz de tirar os olhos dela por completo e não somente daqueles dois lugares. Seus olhos eram adoráveis, naquele tom de azul que fazia parecer que refletia o oceano. Dos seus lábios grossos e bem desenhados, das maçãs do seu rosto que eram marcadas de modo que a fazia parecer ainda mais sexy e do seu nariz arrebitado que a deixava com um ar de briguenta, o que eu sabia que combinava muito com sua personalidade. — Sim, é exatamente por isso — respondi. — E porque você é gostosa com tudo isso que está tentando se livrar com uma única corrida por semana. — Eu não tenho tempo! — Eu não sabia se estava surpreso por ela ter ignorado meu comentário ou por estar gritando comigo. — Eu não estou dizendo que você tem.

— Como você consegue ser tão irritante? — Passou as mãos pelos cabelos novamente, mas eu não sabia se era porque realmente a estavam incomodando ou porque estava estressada comigo. Preferia a segunda opção. — Sabe... — Kyra cruzou os braços novamente. — Eu quase senti pena de você, por tudo o que passou e tal. Senti os músculos do meu rosto murcharem e o pequeno sorriso que eu sustentava havia deixado de existir. Virei-me novamente para o motor do carro, sem lembrar exatamente o que deveria fazer, apenas porque sabia que ela permanecia atrás de mim. Eu odiava o sentimento de pena. Podia dizer que quem me conhecia realmente sabia o quanto eu odiava, o problema é que ninguém me conhecia de verdade. — Pena é o pior sentimento que você pode sentir por alguém. — Joguei a chave de roda na caixa de ferramentas e o barulho que a ela fez ao se chocar com as outras, cortou nosso silêncio agonizante. — Desculpe, Max, eu... não quis dizer isso. — Sim, você quis, mas tudo bem. Apenas continue. — Apontei para o portão novamente. Por que eu estava tão puto? Por que eu me sentia tão ansioso e agitado perto de uma garota? Foda-se, em poucos dias estaria pulando fora e Kyra, aquecendo minha cama ou não, seria apenas uma na porra da minha lista. — Max, eu sinto muito. Eu sei que você realmente passou por muita coisa e... — Não — interrompi-a. — Você não sabe. Passei a minha regata branca surrada sobre o rosto, limpando a sujeira, antes de jogá-la sobre a caixa e, pela primeira vez, seus olhos não correram sobre minha pele desnuda, eles se mantiveram fixos no meu

rosto. Kyra abriu a boca para dizer algo, mas a fechou em seguida. Podia sentir seu pesar apenas olhando em sua direção por cinco segundos, mas eu odiava aquela expressão. As sobrancelhas levemente arqueadas, a linha proeminente entre elas. Os lábios apertados, o olhar de piedade. Um pacote completo de falsa compaixão. Ouvi o movimento do seu corpo, conforme ela se afastava de mim e praguejei mentalmente por ser um cara que fodia qualquer diálogo, qualquer pequena coisa boa que havia conquistado, mas o problema maior nem era aquele, era que, na verdade, não havia nenhuma conquista ali, porque ela não era uma garota livre, eu não podia flertar com ela, nem desejar fodê-la loucamente como estava fazendo, porque ela era a porra da namorada do meu irmão.

Eu estava ansiosa, nervosa e com raiva, mas não tinha nada a ver com a garota que estava pendurada em TJ, que, aliás, era a mesma do final de semana passado, mas sim porque Max estava com alguém. Eu estava com tanta raiva que era capaz de sentir meu rosto inteiro arder, pinicar, enquanto meu coração batia rápido demais por causa do meu nervosismo desenfreado e sem sentido. Era a primeira festa que ele participava e interagia realmente. Maximum estava sentado de lado em uma espreguiçadeira, as pernas para baixo, enquanto a garota permanecia sentada entre elas, no chão. Ele parecia alheio, olhando para o nada, bebericando sua cerveja, mas os movimentos despercebidos que fazia enquanto pressionava o pescoço da garota era tão quente e íntimo que me fazia aquecer por dentro. Seus dedos longos corriam pela pele desnuda dela, erguendo seu queixo de forma sexy e eu me perguntei o que ele era capaz de fazer com suas mãos quando estivesse desperto e prestando realmente atenção em seus atos. Quando o rosto da garota se virou em minha direção, eu a odiei pela primeira vez. Nunca havia tido nenhum problema com Cami, pelo contrário, gostei dela desde a primeira vez que a vi, mas, naquele momento, entre as pernas de Max, eu senti vontade de arrancá-la de lá

aos socos e pela maldita primeira vez também, a mensagem de Lizzie fez sentido para mim, o que parecia ser uma puta loucura por dois motivos: o primeiro, era que ele era meu cunhado; e segundo, é que eu o havia conhecido há apenas dez dias. Ela acenou para mim e os olhos de Max encontraram os meus, mas ele não sorriu para mim, nenhum maldito sorriso irritante, nem sequer convencido; ele apenas me encarou por três longos segundos antes de voltar a movimentar sua mão, agora correndo sobre o ombro de Cami, fazendo-a olhar para cima e dar um pequeno sorriso íntimo demais, que foi retribuído. Ele sorriu para ela, mas não foi da forma irritante que fazia para mim, foi outro tipo de sorriso, um sorriso gentil, complacente. Era humilhante saber que TJ estava tão concentrado em outra garota que não fosse eu, mas era humilhante pelos motivos errados e outra vez, eu cogitei voltar para onde saí, mas eu me vi acenando de voltar para Cami, conforme me aproximava de todos eles. McCarter se virou para trás, acompanhando o sorriso de Camille e Joshua o acompanhou, sorrindo para mim também. E mesmo que eu estivesse cansada por ter acabado de chegar do bar, e tenha feito planos que envolviam um cobertor e um ar-condicionado, eu segui caminhando até eles, sentindo o calor me atingir, conforme eu sentia o suor escorrer em minhas costas e seios. TJ se virou para mim, se afastando da garota na qual conversava, de forma abrupta, como se tivesse acabado de ser descoberto e odiei ouvir Brad soltar um risinho logo ao lado dele. O que eu realmente era para aquelas pessoas? De fato nunca havia me perguntado até aquele momento, mas estava fazendo a cada novo passo em suas direções. Havia

pulado uma grande ponte que dividia meu eu popular que todos amavam, e meu eu reservado que havia se afastado dos amigos depois do high school4 e que todos passaram a tolerar. Porém, o que eu realmente gostava mais? Ser o centro das atenções ou não ser notada por ninguém? Provavelmente a segunda opção, mas por que eu me sentia daquela forma? Como se além de estar fazendo algo errado, também não estava me encaixando naquele lugar, nem em qualquer outro. TJ caminhou em minha direção, passando seu braço pesado sobre os meus ombros, enquanto beijava minha bochecha e eu me perguntei por que diabos ele não havia me beijado na boca, como sempre fazia. O que havíamos feito com nossa amizade? Nós éramos unidos, abertos e espontâneos e agora havíamos nos tornado um casal, no mínimo, esquisito. — Ei — TJ me cumprimentou. — Essa é a Jenny, ela é prima do McCarter. — Oi, é um prazer conhecê-la. — Ela esticou a mão, as unhas compridas em um tom perfeito de vermelho. Olhei para ela, tentando avaliar se estendia minha mão e a cumprimentava e passava por idiota, ou se a ignorava e passava por idiota também. O que me faria menos idiota, afinal? Não fazia ideia, então estendi a mão em sua direção. Minhas unhas curtas, pintadas de preto, descascavam pelo uso excessivo da água no bar. — Oi. — Puxei minha mão o mais rápido que pude e limpei na lateral do meu vestido canelado sem que ninguém percebesse. — Olá. — Os outros me saudaram em uníssono, e ergui a mão no ar, tentando cumprimentar a todos de uma única vez. Maximum sequer olhou na minha direção.

— Sobre o que estão conversando? — perguntei de forma natural, mas TJ me conhecia melhor do que isso. Ele era meu melhor amigo. Sabia que eu estava prestes a ser uma filha da puta e mandar os dois se foderem – ou foderem um ao outro​ – na frente de todo mundo. — Sobre tudo. — Nada de mais. Os dois falaram ao mesmo tempo e ergui as sobrancelhas. — Decidam. — Sobre tudo e nada ao mesmo tempo — TJ se adiantou. — Legal. — Caminhei até a roda de amigos, pegando uma cerveja no cooler. — Continuem. — Sentei-me ao lado de Max e Cami, e apontei para TJ e sei lá como diabos ela se chamava. — E então, McCarter, qual é a do sorrisinho? Está se divertindo também com meu namorado egoísta ou você só é um idiota? Ouvi Max suspirar ao meu lado, mas não o encarei. Dei alguns goles na minha bebida e ela se misturou ao drink com vodca que eu havia feito antes de deixar a casa. — Não me mete nessa, Kyra. Ugh! — Você realmente está se divertindo, não é? Por que não conta ao TJ que tentou entrar nas minhas calças há dois meses? — Que porra você está falando? — TJ perguntou entredentes. — Então agora você se importa? — soltei uma risada incrédula, desejando internamente que eu parasse de fazer aquilo, mas não conseguia. — Saia da minha casa, porra! — meu namorado gritou para o seu amigo. — Não me faça esmurrar sua cara de merda!

— TJ — a garota o policiou, segurando seu ombro. — Isso, escute ela, Tales — incentivei-o, odiando-me por estar fazendo vexame. — Kyra, não faça isso — Cami sussurrou no meu ouvido e eu a ignorei. Não era capaz de encará-la, uma vez que ela parecia a pessoa mais sensata daquele círculo. — Saia. — Ty puxou McCarter pelo colarinho e eu me perguntei de qual buraco ele havia saído. Ele acertou um soco no nariz perfeito do amigo e eu pulei na direção deles. — Porra, Ty! — resmunguei. Eu realmente não queria começar uma briga. — Eu não estava realmente dando em cima dela — Gregori McCarter se defendeu. — Você está chamando a Ky de mentirosa, porra? — Deixe-o ir, Ty — pedi e ele finalmente o largou e o ato repentino fez com que seu corpo magro cambaleasse para trás. — Filhos da puta... — Gregori murmurou, enquanto caminhava em direção a saída. Ty respirou profundamente por um segundo, então me encarou. Eu o conhecia o suficiente para saber que ele estava se certificando de que eu ficaria bem e, ao encontrar um pequeno sorriso no meu rosto, ele assentiu e sorriu de volta, antes de voltar para onde diabos havia saído. Tentei controlar minha respiração, segurando a garrafa de cerveja como se minha vida dependesse dela, então me afastei deles. — Kyra? — A voz de TJ atravessou o espaço que nos separava, mesmo que o som tivesse alto. Virei-me para ele, ergui a minha garrafa e gritei em sua direção:

— Você está livre, Tales. Boa noite. Eu conhecia todas as suas expressões, quando estava furioso, cansado, estressado, feliz, zangado e enciumado. Portanto, eu não precisei estudálo por muito tempo para saber que o sentimento que o dominava naquele momento era de alívio. TJ estava se sentindo aliviado por ter rompido com ele. Então, por que eu não me sentia derrotada ao constatar isso? Deveria estar aos prantos, gritando com ele no meio da festa, mandando-o se foder ao mesmo tempo que desejava que fosse para a cama comigo. Mas não. Eu não queria TJ, apenas desejava estar debaixo dos meus lençóis e descansar para o meu turno no dia seguinte. Subi as escadas, soltando o coque apertado que havia feito no topo da minha cabeça, conforme sentia meus cabelos caírem até o meio das minhas costas, agradecendo o fato de que não precisava parecer melhor do que ninguém, melhor do que isso, de não me sentir obrigada e estar bem, pela primeira vez. Sequei a lágrima solitária que corria sobre o meu rosto. Não estava exatamente triste por Tales, e sim, por nossa amizade. A grande merda de arriscar estar em um relacionamento com um de seus melhores amigos é que se não der certo, você perde em dobro. Esfreguei o rosto, não me importando com a bagunça causada pela mistura das lágrimas com o rímel. Provavelmente eu dormiria daquela forma, uma vez que não queria perder mais nem um minuto daquela noite de merda, então era muito provável que eu não passasse um tempo com meu removedor de maquiagem. Mas, ao chegar em frente à primeira porta do corredor, onde era o quarto de Max, uma mão segurou meu antebraço e me arrastou para dentro.

Ele não parecia ter um segundo plano enquanto me prensava contra a porta fechada do seu quarto. Suas sobrancelhas se uniram em confusão e sua boca se curvou em um pequeno sorriso, uma covinha se aprofundando graciosamente na bochecha. Segurou o meu rosto com a ponta dos dedos, passando o polegar sobre minha pele, juntando uma lágrima solitária. Desviei meus olhos para baixo, em seu pescoço, tentando evitar o pacote de perfeição que era seu rosto, mas acontece que eu não estava longe de sentir atração por aquela região do seu corpo também, uma vez que ela era coberta pelo desenho de uma flor de lótus que escondiam uma pele que eu sabia que era perfeita. Vi-me totalmente perdida quando ele me surpreendeu com um abraço apertado, sua mão direita segurou minha nuca, enquanto a esquerda apertava minha cintura. Podia senti-lo por toda parte, nossas pernas entrelaçadas, os quadris, minha barriga colada a sua, meu rosto em seu peito, sua boca em meus cabelos. Meu coração batia forte demais, e o dele não estava tão diferente. Eu era capaz de ouvi-lo bater tão rápido e forte quanto o meu. Deslizei minhas mãos até a bainha da sua camiseta e enrosquei meus dedos nela.

Sentia que estava prestes a desmoronar, mas não era por ter acabado de romper meu relacionamento com TJ. — Me desculpe pelo que eu disse a você... — Tudo bem, Oklahoma. — Seus olhos verdes brilhavam de uma forma surreal. Um pequeno sorriso se formou em meus lábios ao mesmo tempo que eu lutava para me afastar dele, sentindo a sua falta iminente. — Realmente não quis agir como uma cretina. Seus olhos estavam presos aos meus e um sorriso dançava em seu rosto, fazendo-o parecer um menino. — Você já apontou uma arma e um spray de pimenta para mim, então acho que vou superar um comentário idiota. Eu ri. — Às vezes, algumas palavras ferem mais do que um ato de violência. — Apenas quando elas são ditas para realmente ferir alguém, o que eu sei que não é o seu caso. Você não é essa pessoa. — Você sequer me conhece, Max. Você chegou há tão pouco tempo e... — Às vezes, eu sinto que a conheço desde que nasci. — É como me sinto também, mas no meu caso faz mais sentido. — Por quê? — perguntou, curioso. Max se sentou na beirada da minha cama, as pernas abertas, os ombros um pouco caídos, como se estivesse confortável trancado no quarto comigo enquanto uma festa acontecia lá embaixo. — Porque cresci com Ty e TJ, então é como se também fosse você. Não sei se faz sentido. Ele desviou o olhar.

— É estranho descobrir que outras duas pessoas são idênticas a você — confessou, passando a mão na bagunça que estava seu cabelo mal cortado. — Nem consigo imaginar. Ele cruzou os braços sobre o peito, e a única coisa que eu conseguia pensar, era que os queria em volta de mim, mas o pensamento de estar com Max me deixava louca. Ele fazia meu estômago se contorcer e minha respiração desregular apenas em olhar na minha direção. Como era possível que em tão pouco tempo ele pudesse ser capaz de me fazer odiálo e adorá-lo com tanta força? Talvez eu estivesse mesmo vivendo uma maldição. — Olha só para nós, nem estamos brigando. — Ergui as sobrancelhas, sugestivamente. — Isso porque estamos conversando há três minutos. — Talvez. — E porque você nem está me fazendo fugir de você. — Meu rosto aqueceu. Eu me virei de costas para que ele não me visse corar, então caminhei até o banheiro, sentindo meu estômago se contorcer com a imagem dele nu. Deus, por que ele mexia daquela forma comigo? Acendi a luz e quase morri de vergonha ao ver meu rosto todo manchado pelo rímel. Só podia ser brincadeira que Max havia visto aquilo. Inclinei-me sobre a pia, lavando o rosto, retirando toda a maquiagem e depois o sequei na toalha jogada sobre o mármore. Tudo cheirava a ele, assim como cada metro quadrado daquele quarto. Aproveitei para passar o olho sobre cada maldito detalhe. Não era exatamente como se ele estivesse morando ali, tudo estava organizado, sua pasta de dente ao lado de um barbeador, ao lado de um xampu que não ficava dentro do

boxe. Como se a qualquer momento ele fosse enfiar tudo na mochila e sumir. Por que o pensamento de Max partindo me causava uma sensação tão ruim? Arrastei o pufe similar ao que eu tinha no meu quarto até a frente da cama e me deitei sobre ele. Ainda não estava disposta a deixar o quarto, mesmo que parecesse errado estar lá com ele. Era estranho estar sendo consolada por uma pessoa que tinha exatamente o mesmo rosto daquela que havia me magoado. Não que eu culpasse apenas TJ pelo nosso relacionamento fracassado, eu também tinha culpa, e não era por ter acabado, era porque nem deveria ter começado. — Você fica muito melhor sem todas aquelas coisas. — Sua voz cortou o silêncio que preenchia cada espaço do quarto. — Ninguém além da Blanca Suarez fica linda com rímel escorrendo em seu rosto. — Não estou falando sobre aquela coisa preta, estou falando sobre a maquiagem que usa todos os dias. Eu o encarei curiosa. — Claro, você já bebeu sua cota de álcool para não enxergar meus poros gigantes. Além disso é de noite, está escuro aqui. — Posso acender a luz e olhar você perto o suficiente e sei que não vou mudar de ideia. — Não, é melhor você ficar bem aonde está — atropelei as palavras. Não podia deixá-lo se aproximar demais, mas também não conseguia me afastar. Max soltou uma risadinha, que me fez sorrir de volta. Ele usava uma bermuda jeans rasgada na bainha e uma regata preta, cavada, que quase nunca tirava. Suas duas pernas eram cobertas por desenhos,

mas estava escuro o suficiente para que eu pudesse enxergar com exatidão o que eram. Também não queria perguntar demais, queria saber sobre ele tanto quanto sentia que não podia. Ele estava com os cotovelos sobre as coxas firmes, a cabeça inclinada para mim. Uma mecha de cabelo caía sobre a sua testa, de modo que ela era capaz de tocar a ponta do seu nariz. Tudo nele era perfeito, intacto, mesmo que fosse tão bruto. Seu maxilar era marcado, másculo, suas sobrancelhas escuras e grossas, mas sua pele era tão limpa e suave que me causava inveja. Max era igual aos seus irmãos, mas havia algo que o tornava muito diferente, como se ele pudesse ser o mais bonito dos três. — Você não pode ficar correndo seus olhos sobre mim dessa forma e depois pedir para que eu não chegue perto. — Seu sotaque era tão foda e bonito como ele. — Eu estou com a cabeça longe — menti. — Entendi. Ele não pareceria tão decepcionado se pudesse ler mentes. — Você o ama? — Sua voz cortou o silêncio que preenchia cada espaço do quarto. — TJ? — perguntei desesperada. Afinal, quem mais seria? — Sim, o TJ. — Sim. Ele assentiu enquanto parecia avaliar minha resposta. — Você o conhece desde o elementary school, certo? — Hum-hum... Isso. Então ele sorriu, revelando seus dentes perfeitos, contornados por uma boca que também era um pecado de tão perfeita. Tão grossa e bem desenhada que eu podia jurar que havia sido moldada. Deus era tão injusto.

— Você está confusa, se agarrou ao que acha que sente por ele. — Você é psicólogo agora? — Não, sou apenas a porra de um mecânico fodido e sem cliente. Eu me obriguei a rir. — Talvez você seja um péssimo mecânico. — Ou talvez eu tenha abandonado todos os meus clientes para estar aqui. Por um momento, eu havia me esquecido que Max havia mudado de estado. Deveria ser difícil para ele ter deixado sua vida para estar aqui. — Eu amo o Tales, nós tivemos um bom momento juntos, nos apaixonamos, ou sei lá o quê, mas não rolou. — Talvez você acredite que estava apaixonada, mas era apenas a imagem em si e tudo mais, você sabe, ele é muito gostoso e tal. Dei uma gargalhada tão alta que pareceu um animal sendo estrangulado. — Você só pode estar brincando. É fácil para você dizer isso já que é nada menos que seu irmão gêmeo. — Obviamente. Só estava esperando o momento em que você confirma que ele é gostoso. — Para que possa olhar para mim com um ar de arrogância por eu ter confessado que acho você gostoso. — Você acha? — insistiu, com um sorriso enorme. Nem mesmo TJ sorria tanto como ele o fazia naquele momento. — Eu acho que você é insuportável. Apenas. — Cruzei os braços sobre os seios, me afundando ainda mais no pufe. — Mas estou certo sobre TJ. — Ele deixou de sorrir. — E sobre eu ser gostoso. — Sim, você está — confessei.

Um sorriso diabólico correu sobre seu rosto. — Está certo sobre o que disse sobre meu relacionamento com TJ. Talvez eu tenha confundido tudo. Ele assentiu. — Ele era um namorado de merda, de qualquer forma. — Apenas porque não me amava da forma correta — o defendi, apesar de tudo. — Você é leal. Eu gosto disso. — Sua voz se tornou um pequeno murmúrio pesado e arrastado. — É, eu sou — reforcei. — Então por que não disse a eles sobre o que eu carrego na mochila, Oklahoma? Está aí uma boa pergunta. Eu não sabia exatamente o que me havia feito omitir aquele pequeno detalhe. Confiava suas seguranças em Max, podia sentir que ele não estava lá para ferir ninguém, por isso não vi problema em fazê-lo, mas não conseguia saber por que havia escondido aquilo deles. — Não acho que seria necessário fazer um alarme por pouca coisa. — Falou a garota que apontou a arma no meu peito e ameaçou atirar. Sorri, me lembrando da cena. Mal podia imaginar que havia feito aquilo. — Me desculpa por isso. Max puxou meus pés para seu colo e meu coração acelerou, ele começou a massageá-los fortemente e eu quis gemer, mas me contive. Não queria deixar aquilo sugestivo. Um gemido involuntário poderia ser um grande problema entre nós. — Eu já superei. — Max parecia tão concentrado nos meus pés que agradeci o fato de estar com as unhas feitas e limpas.

— E então, o que me diz sobre ter mentido sobre a carona? — Como sabe que eu menti? Ele sorriu, ainda observando suas mãos massagearem meus pés. — Tenho uma puta audição, mas você deve saber sobre isso também, uma vez que conhece cada traço meu. — Sim eu conheço. — No desespero de desconversar sobre a carona, acabei me metendo em responder uma pergunta ainda pior. Meu rosto corou. Obviamente eu levei aquela questão para o lado pessoal, pensando no belo pau que eu sabia que ele tinha. — Eu não estava falando sobre Maximum. — É estranho você apelidar seu membro com o seu nome. — Não quando faz sentido. — Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto, enquanto diminuía o aperto, até que ele parou, as mãos apoiadas nos meus pés. Eu não queria que ele parasse. — Boa noite, Max. — Eu me levantei. Era minha hora, eu sabia, estava ficando estranho demais, ou estranhamente bom demais. Mas eu não podia fazê-lo, não podia dar margem àquilo. Não fazia sentido que estivesse deixando TJ e iniciando um lance esquisito com Max, que era igual a ele. Eu estava partindo em poucos meses, afinal, então a única coisa que deveria me manter ocupada nos próximos dias era os planos que eu deveria estar fazendo para o futuro.

— Kyra? A voz de TJ penetrou meu quarto através da porta fechada e, pelo seu tom brando, ele queria conversar. Eram sete da manhã e havia apenas uns cinco minutos que todas as vozes cessaram e soube que a festa tinha acabado. Eu mal havia pregado o olho até então. Arrastei meus pés para fora da minha cama de solteiro, respirando fundo. Não sabia como ter aquela conversa com TJ, mas sabia que precisava dela. Sentia demais por ter deixado tudo aquilo chegar aonde estava, sentia por mim, por ele, por nossa amizade. — Entre! — gritei de volta. A porta se abriu, ele parecia péssimo, não pessimamente bêbado, apenas péssimo e ponto. Um pequeno sorriso cauteloso se formou em seus lábios conforme se aproximava e sua aproximação moderada me fez ter certeza de que ele havia compreendido o nosso término. Mesmo assim, ele havia esperado a festa acabar para termos nossa conversa. Eu nunca havia de fato estado em primeiros planos, não sei por qual razão ainda estava surpresa. — Eu apenas sinto que precisamos ter uma conversa — confessou, passando a mão no pescoço.

— Sim, desde a hora que nós tivemos nosso pequeno momento ou você começou a sentir quando todos partiram e se viu só? Ele uniu as sobrancelhas, parecia avaliar o que eu tinha acabado de dizer. — Eu não sabia o que dizer exatamente. — Ele se sentou no chão, bem à minha frente, as pernas cruzadas, então inclinou seu queixo para mim. — E o que mudou? Sua prostituta lá embaixo foi embora? As palavras saíram amargas da minha boca. A quem eu queria enganar? — Deus, Kyra, ela é apenas uma amiga! — Sim, nós também éramos. Ele deixou escapar um suspiro pesado. — Sim, e fodemos tudo. — Claramente. — Cruzei os braços sobre os seios, me sentindo incomodada por estar sem sutiã, mesmo que ele estivesse cansado de me ver nua. — Você está bem com isso? — perguntou e eu assenti. — Tudo bem, apenas para verificar. — Tudo bem... — Sabe, quando eu perguntei se você me amava, você disse sim, mas, apenas quando eu tive meu momento para refletir a respeito, eu percebi que nos amamos loucamente, mas não mais do que como amigos. — Eu sei — sussurrei, desviando meu olhar. — Eu sei, TJ. Eu amo você, e realmente não quero que o que tivemos estrague tudo o que éramos. Senti uma lágrima escorrer sobre minha bochecha e ele se levantou, ficando de joelhos à minha frente, pronto para secá-la. Tales segurou meu rosto com as palmas de sua mão e sorriu para mim, colando sua

testa a minha. Segurei seus punhos e deixei que o choro escapasse, em uma mistura de alívio, medo e pesar. — Eu amo você. — Eu também amo você. Puxei-o para um abraço apertado, agradecendo ao fato de nenhum de nós dois sairmos ferido daquilo. — Essa casa vai ser um inferno quando você for embora — confessou e meu coração afundou. — Minha vida vai ser um inferno sem vocês dois, TJ. Assim que as palavras deixaram minha boca, eu percebi que não era apenas dos dois que eu sentiria falta.

Eu estava na minha terceira xícara de café, prestes a ir para um longo turno de trabalho, mas não conseguia mover meus pés. Em pé, na cozinha, olhando através da janela, a única coisa que eu conseguia fazer era manter meus malditos olhos em Max, sem camisa, debruçado sobre o capô de um carro. Queria que Deus tivesse me dado metade da beleza que deu aos irmãos Jackson, mas, em vez disso, ele fez três deles. Depois de passar uma água na xícara, ainda com os olhos presos na imagem à minha frente, me obriguei a deixar a cozinha, precisava ir logo se não quisesse chegar atrasada e com Ty e TJ sabe Deus onde, eu não tinha um carro, por isso estava saindo meia hora antes. Não que eu me importasse com isso, afinal, tinha tudo o que eu precisava a minha disposição e o fato de não ter um carro não era algo que me fazia querer chorar.

Segui em direção à rua, havíamos nos visto três vezes ao longo daquele dia, mas em nenhum momento trocamos mais do que duas palavras. Não sabia explicar, mas me sentia como uma trapaceira por sentir algo por ele, como se fosse algo no qual eu pudesse evitar. Mas não era, eu gostava de Max, de quem eu era quando estava com ele. Gostava, sobretudo, de sua simplicidade. E, a cada novo passo, eu me sentia mais ansiosa, embora ele sequer tenha percebido minha presença até aquele minuto. Max ainda permanecia com o abdômen apoiado na lataria quando me encarou entre suas costelas e braço e muito embora a imagem de seu rosto estivesse limitada devido a sua posição, eu pude perceber um pequeno sorriso brincar em seu rosto. — Por que está rindo? Eu nem estou usando um tênis nem nada, não é como se eu estivesse saindo para correr. — Olá, Oklahoma. — Ele se virou para mim, apoiando a curvatura das costas no carro, os braços cruzados sobre o peito. — Você vai mesmo continuar me chamando assim? — Enfiei as mãos nos bolsos traseiros do meu short jeans. — Isso incomoda você? Não... — Sim. Seu sorriso alargou e me perguntei o que ele ganhava tirando sarro de mim. — Vai começar com nosso lance de novo? Achei que ontem à noite você tivesse erguido a bandeira da paz. — Eu gosto desse nosso lance.

Uma mecha grande caiu sobre seu rosto e ele não a retirou. Eu me perguntei se a mantinha apenas porque sabia que o deixava ainda mais sexy. — Fique aí brincando de carrinhos, porque alguém precisa trabalhar de verdade. Suas sobrancelhas se ergueram em diversão. Ele gostava quando eu entrava no jogo porque era um tremendo filho de uma puta! Que Deus tenha a senhora Jackson! — O que acha que estou fazendo aqui? — Coçou o queixo, deixando graxa onde tocou. Ergui a mão por impulso, limpando o local. Podia sentir sua pele em toda a extensão dos meus dedos, como se houvesse uma eletricidade sob a palma da minha mão, algo que acontecia sempre que nos tocávamos. Um sorriso largo se formou em seus lábios, me obrigando a dar dois tapinhas na lateral do seu rosto antes de me afastar. — Confessa, Kyra, você não consegue manter suas mãos longe de mim. — Acredite, eu estou cansada de tudo isso. — Usei meu indicador para contorná-lo. — Nada aí é mais surpresa para mim. O sorriso que Max deu era capaz de ser a pior das respostas que ele poderia me dar. — Quer uma carona para o trabalho? — ele me surpreendeu, fazendo com que eu abrisse minha boca para responder, mas a fechasse em seguida. — O que foi? — O que está tentando fazer? — Nada. — Ele realmente parecia confuso. — Apenas oferecendo uma carona. Eu parei por um segundo, pensando.

— Está tudo bem, eu posso ir andando, ainda tenho um pouco de tempo. — Eu levo você, Kyra. Sério, eu posso fazer isso. — Sei que você pode, mas... eu apenas estou bem. — Não posso obrigar você a vir comigo. — Não, não pode. Boa noite, Max. — Boa noite, Oklahoma. Continuei caminhando em direção ao portão. Uma parte minha queria subir em sua garupa e enlaçar as pernas ao seu corpo, sentir a sensação da liberdade, o vento quente tocando o meu rosto; mas a outra parte, a racional, que não sabia quem ele realmente era e o que escondia do passado, gritava para mim que ele era nada menos do que o irmão gêmeo do meu ex-namorado.

— Ei, Beth. — Oi. — Ela colocou uma mecha roxa da franja para trás da orelha. — Você está suada. — Vim andando. — Entrei no banheiro e fui até a pia, jogar uma água no rosto. — É meio longe para vir andando. — Ela se apoiou no batente da porta. — Nah... Eu gosto de caminhar. — Sim, mas usando tênis de corrida e não sandálias. Sorri, um pouco cansada devido ao calor excessivo. — TJ e Ty não estavam, eu não tinha como vir e não quis gastar dinheiro com Uber. — Dei de ombros. — De qualquer forma, eu ainda quero emagrecer — gracejei. — Certo. — Ela parecia estranha. — E então, tudo certo com todo o resto? Parei para pensar um pouco, não queria ter sua atenção sobre mim o resto da noite e ainda não me sentia pronta para falar sobre aquele assunto com ela.

— Sim, por quê? Nos falamos ontem, não é como se eu tivesse várias novidades. Ela parou de roer o canto da unha. — Claro, não é como se algo pudesse acontecer da noite para o dia. — Deu de ombros. — E então, o carinha que você está conhecendo, vocês saíram ontem? Ela revirou os olhos. — Ele é um idiota, na verdade. Me propôs um ménage no primeiro encontro. — Não! — Cobri a boca com a mão, sorrindo. Beth apagou a luz do banheiro e fechou a porta assim que eu saí. — Eu não teria feito nem se fosse nosso décimo encontro. De qualquer forma, então eu apenas saí fora desse negócio... que... bom, que eu achei que tínhamos. — Parece confuso. — Na verdade foi meu relacionamento mais simples. — Você está falando como se tivesse outro complicado. — Ela pegou seu avental e jogou o meu na minha direção. — Todo mundo tem ou terá um relacionamento complicado um dia, Kyra. Não é algo que possamos evitar. Sim, não há como evitar. — Uma cerveja da casa! — um cara gritou sobre o balcão e Beth o atendeu. — Me fale mais desse seu relacionamento complicado. Ela parou para pensar um pouco. Estava agindo tão diferente nos últimos meses, que quase não parecia a mesma pessoa; e por mais que eu perguntasse sempre, Beth acabava desconversando e dizendo que era coisa da minha cabeça.

— Não é nada de mais. — Ela passou um pano úmido sobre o balcão que já estava limpo. — Você sabe que pode confiar em mim, não sabe? — Eu a observei assentir. Alguma coisa a impedia de ser cem por cento aberta comigo. Eu a adorava, éramos amigas há bastante tempo e nunca havíamos brigado. Beth me cobria no bar quando eu precisava, já assumiu a culpa por mim mais vezes do que poderia contar e ela apenas era uma boa amiga, de verdade, mas algo... algo nunca se encaixou. Como se um pequeno detalhe fosse escondido de mim, mas eu não sabia o que era, apenas observava gaguejar e desconversar quando o assunto era namorado, estar apaixonada ou sobre o meu sexo com TJ. — Eu sei, Ky. — Ela piscou para mim e observei a linha perfeita do seu delineado gatinho se mover. — Certo, apenas para deixar bem claro. Jacob, na porta, fazendo segurança, olhou sobre os ombros. Era seu sinal para nos avisar que alguém que gostava de problemas estava prestes a entrar e dois segundos depois, três rostos iguais atravessaram o bar, indo direto até a mesa de bilhar, fazendo com que todos os ruídos e murmúrios se dissipassem, enquanto todos os observavam. Era bonito de ver, mas ao mesmo tempo Benny, o dono do bar, preservava suas cadeiras e tacos de sinuca que ele havia trocado recentemente depois que os dois se meteram em uma briga. — Deus, onde estão meus remédios de pressão? — Benny abriu a porta do seu escritório no qual observava tudo pela parede revestida de vidros, que eram apenas vistos de dentro para fora. — Minha pressão deve estar alta demais, eu estou vendo dobrado. Ou quase. Dois viraram três, ou é apenas um e eu estou vendo três.

— Oh, desculpe, a gente acabou esquecendo de contar sobre isso. — Sobre o quê? — Ele estava mesmo falando sério? — O gêmeo número três é Max, ninguém sabe ainda o que aconteceu, mas ele apareceu agora e... bom... não há outra explicação a não ser outro irmão ou clone. — Você só pode estar brincando, porra! — Ele se apoiou no balcão. — Ele é tranquilo, Benny. — Você disse que TJ também era. — Aquele dia foi um deslize — Beth o defendeu. — As pessoas tropeçam, elas deixam uma garrafa cair por um deslize, mas ninguém quebra dois tacos de uma vez nas costas de um cara por um deslize. — Foi a única briga dele aqui, Benny. O Ty é que é o problema dos três, mas ele prometeu se comportar por mim. — Eu vou lá falar com eles, de qualquer forma. — Ele pegou um dos tacos reserva que ficavam do lado de dentro do balcão e seguiu até eles. Observei Benny chegar e os três se viraram imediatamente para ele. TJ mantinha um pequeno sorriso, ao mesmo tempo que gesticulava e movia a cabeça para ambos os lados, provavelmente prometendo coisas que sabia que não podia cumprir. Ty apenas se manteve de braços cruzados, as costas encostada em uma parede, enquanto seus olhos observavam atentos tudo o que Benny dizia, sem nenhuma maldita expressão. E Max parecia confuso, com suas sobrancelhas erguidas enquanto Benny parecia estar prestes a explodir. Seus olhos encontraram os meus e seu pequeno sorriso divertido se alargou no rosto, a covinha ficando tão profunda que eu era capaz de ver mesmo com a falta de iluminação do local. Apenas um pingente central da mesa iluminava aquele canto onde estavam e as sombras que se

formavam em seu rosto fazia com que seu nariz ficasse ainda mais perfeito, tão bem desenhado que qualquer outra pessoa naquele lugar teria inveja se parasse para analisá-lo com atenção. Seu cabelo estava penteado para trás, mas algumas mechas teimavam em cair sobre o seu rosto, o deixando ainda mais bonito. — Realmente eu sinto como se fosse minha pressão também — ela sussurrou. — Hum-hum... — Uau, é apenas... bonito de ver, não é? — Cami se sentou em uma das banquetas a minha frente, batendo suas unhas longas e perfeitas sobre o balcão. Por que é que eu a adorava e agora queria matá-la com suas próprias unhas? — Sim é bonito... O que vai querer? Abri o freezer, desejando que ela saísse logo de lá antes que comentasse meu pequeno show com TJ na beira da piscina na frente de Beth. — O que Max está tomando? — perguntou com um sorriso que dizia bem onde ela gostaria de acabar naquela noite. — Ele ainda não fez nenhum pedido. — Observei Benny marchar até sua sala, fazendo um sinal de positivo para mim antes de fechar a porta. — Então me dê duas cervejas. — Então agora você paga bebidas para os caras? — Beth brincou e ela sorriu. — Ele não é qualquer cara. Senti meu estômago se contorcer e me perguntei o quanto ela tinha ido além com ele.

— Qual o lance de vocês? — perguntei, tentando mostrar desinteresse. — Nada sério, por enquanto estamos nos conhecendo. — É, eu vi vocês juntos ontem — meu comentário havia sido a maior burrice. Agora estávamos com margem aberta para falar da noite passada. Que merda! — Oh, sim, mas ele não estava se sentindo, foi deitar assim que você e TJ... bem, assim que vocês discutiram. Arrisquei olhar para Beth, mas ela se mantinha sem expressão alguma, os olhos fixados no pano que passava novamente sobre o balcão limpo. — Falando nisso, vocês se acertaram? Olhei através dos ombros de Beth, observando os meninos. Ty não tirava os olhos do celular, uma coisa que ele não fazia tanto e que agora parecia fazer o tempo inteiro. TJ olhou para mim e me lançou um pequeno sorriso amigável, desviando seus olhos para Beth rapidamente antes de voltar sua atenção para Max, que ao observar TJ me encarou novamente. Eu podia sentir o peso do seu olhar sobre mim enquanto me dirigia a Cami novamente. — Ele não para de olhar para mim — comentou, corando, esquecendo da pergunta que havia me feito há um minuto. — Sem dúvidas. — Conhecia Beth o suficiente para saber que ela estava sendo irônica. — Ele não tira os olhos de você. Senti minhas bochechas esquentarem e dei graças a Deus quando um cara ergueu sua cerveja e eu me virei, indo até o freezer pegar outra. — Até mais, Kyra. — Até.

Entreguei a bebida para o cara e sorri gentilmente para ele, antes de recolher alguns copos sobre o balcão ao seu lado, mantendo meus olhos em Max. Não conseguia evitar, precisava ver a que nível estavam. Cami ergueu uma das cervejas e jogou a cabeça para o lado, brincando com ele, sua bunda redonda e perfeita, apertada dentro de uma saia jeans que eu usaria se não estivesse acima do peso. Ele sorriu para ela, sua covinha aprofundando minimamente, mesmo assim, ainda perceptível. — O que está acontecendo entre vocês? Tudo. — Nada — respondi. Ela tocou meu ombro e desviei os olhos dos dois, apenas por um segundo, porque não era capaz de deixar de prestar atenção nos movimentos. Na forma como ele se curvou para beijar seu rosto, e em como ela virou levemente, beijando sua boca. Minhas bochechas esquentaram, meu coração bateu forte e rápido pra caralho! Puta merda! Eu o conhecia há quase duas semanas. Como podia me sentir tão desesperada daquela forma? — Parece que você está prestes a pular no pescoço da Cami. — O quê? Não... nada a ver. — Eu a dispensei com um gesto. — O que realmente está acontecendo entre você e TJ e você e Max? Eu olhei mais uma vez, fazendo uma promessa para mim mesma que seria a última. O braço de Max estava sobre o ombro de Cami, sua mão fechada, apoiada quase sobre o seio esquerdo dela, enquanto seu polegar se mantinha fora, tracejando o tecido de sua blusa apertada. Aparentemente era algo normal, que eu via o tempo inteiro de onde eu estava, mas havia algo tão quente naquele gesto que tornava o simples toque em algo extremamente sexual.

E eu sabia, sabia o que era ser beijada por Max, sabia que era capaz de ter meu corpo pegando fogo apenas por ter suas mãos sobre algum pedaço da minha pele. Sua mão na minha cintura, no meu ombro, na minha mão ou em qualquer lugar fazia com que eu me torturasse internamente. Dizendo para mim mesma que eu estava fazendo algo errado. E eu estava? — TJ e eu terminamos hoje cedo. Decidimos parar o que quer que estávamos fazendo. Estamos bem um com o outro. Ela não parecia surpresa, mas sua expressão me dizia que havia algo por trás, quase como se ela estivesse... eu não sabia descrever. — E Max? — Beth perguntou, observando-o cochichar no ouvido de Cami. — Max é meu relacionamento complicado.

Passei a noite inteira tentando não olhar para Max, havia cedido ao aperto de Beth e contado a ela sobre quando abri a porta naquela noite e o beijei pensando que era TJ, sentia falta da minha melhor amiga Tracy, porque sentia que precisava desabafar com alguém; e, mesmo que esse alguém não fosse cem por cento aberto comigo, eu também sentia que não precisava que fosse, apenas queria vomitar o que estava sentindo naquele momento, e aproveitei que ela era a pessoa que queria ouvir. — Então você o beijou pensando que pudesse ser uma brincadeira entre Ty e TJ... — Sim. — E o beijo dele foi tão bom e quente que você não soube como reagir. — Eu realmente não soube... — E vocês estão dividindo o mesmo teto. — Isso. — E você e TJ se deram conta de que se amam como amigos. — Nós somos bons na cama e... Ela levantou a mão no ar, os cinco dedos esticados para cima, em um sinal de parada exagerado.

— Por favor, me poupe dos detalhes. — Ela desviou o olhar para os três. Ty beijava uma garota, as mãos enterradas em seu cabelo, a mantendo em um aperto tão sexual que podia aquecer nossas bochechas apenas por ficar encarando. Beth suspirou ao meu lado e sorriu, maliciosamente. Olhei para TJ e ele desviou os olhos no mesmo segundo, estava olhando demais em nossa direção, mas eu não sabia o motivo de estar agindo tão estranhamente. Ele apoiou o queixo na ponta do taco e cutucou Max para a sua vez de jogar, fazendo com que ele tirasse seu foco de Camille. Ela não desgrudava dele, as mãos na bainha da sua camiseta naquele momento, puxando-o para ela, enquanto seu corpo forte flexionava sobre a mesa, mirando uma bola e encaçapando um segundo depois. Ela bateu palmas como uma idiota, fazendo com que ele desse um pequeno sorriso de lado, uma mecha deslizando novamente sobre seus olhos. — Desde quando você se poupa a detalhes? Ela revirou os olhos, enquanto sacudia a coqueteleira. — Desde agora. — Beth despejou a batida em um copo e eu abri a gaveta para que ela pegasse um guarda-chuva decorativo. — Okay. — Ela entregou para a cliente, que saiu satisfeita. — Voltando para o nosso resumo. — Nosso resumo superdetalhado — complementei. — Isso. E aí você pegou uma carona com ele na semana passada. — Apenas porque insistiu muito. — Então ele está insistindo muito para dar uma carona para você? Parei para pensar, unindo as sobrancelhas. — Bom, ele insistiu na semana passada, mas hoje apenas ofereceu; recusei e ele continuou trabalhando no motor do carro.

— Mecânico... Me parece a melhor versão dos três. Sorri por dentro, mas não quis demonstrar que concordava com ela. — Você está dizendo, não eu. — E tirando seu pequeno momento com ele na noite passada, depois que você e TJ terminaram, seus encontros se resumem a brigas, armas e sprays de pimenta? Assenti, observando seu sorriso radiante. — Isso daria um bom livro. — Pare de sonhar com histórias e personagens, Beth, isso não daria um bom roteiro para você. — Claro que daria, eu poderia inclusive lançá-lo, fazer uma noite de autógrafos. Quem sabe não seria meu divisor de águas entre isso aqui — ela apontou para todos os lados — e meu futuro em Paris. Dei uma gargalhada. — Preciso fazer xixi — comentei, enquanto abria o freezer e pegava uma cerveja para o cliente que se mantinha com o braço levantado como se eu não tivesse a capacidade de entender que ele queria outra. — A tintura em excesso está afetando seus neurônios, além disso. — Me referi ao seu cabelo. — Quem sabe? — respondeu, um segundo antes de seu rosto ser tomado pelo pânico. — TJ está vindo — comentou e sorri para ele. — Tudo bem, estamos bem — tranquilizei-a, mas continuou com a mesma expressão. — É sério, continuamos amigos, de verdade, Beth, foi natural para nós. Ela assentiu, mas algo em seu rosto me dizia que continuava insegura. — Oi. — Ele sorriu, apenas me encarando. — Olá, TJ. — Passei um pano no balcão antes dele apoiar seus cotovelos.

— Por que está se mexendo tanto? — Ele uniu as sobrancelhas, enquanto brincava com um sorriso. Os três poderiam ter o mesmo rosto, o mesmo corte de cabelos e ser coberto pelas mesmas tatuagens e mesmo assim eu seria capaz de identificá-los apenas por seus sorrisos. Ty se mantinha sempre com uma expressão séria no rosto, e quando sorria, era algo quase vulgar, como se estivesse vendo uma mulher nua em sua frente; sua cabeça se inclinava para um lado, enquanto seu olhar permanecia o mesmo e sua boca se contorcia em um sorriso obsceno. Já TJ sempre sorriu com os olhos, desde pequeno, como se seu sorriso pudesse contagiar em quer que estivesse perto. Todos a sua volta riam, por isso todos sempre o amaram no elementary school, depois no médio e, agora, na faculdade. Seu sorriso o fez o garoto mais popular do colégio e eu sempre amei a forma como ele sorria. Todos os dentes brancos e alinhados à mostra, as preguinhas ao lado dos lábios se curvando para cima, enquanto seus olhos verdes ficavam apertados e brilhantes. Capaz de fazer até mesmo uma discussão terminar. TJ fazia suas merdas, eu brigava com ele, então ele sorria e eu apenas sorria junto. — Por que você está se contorcendo tanto? — ele perguntou, unindo as sobrancelhas. — Eu estou apertada. — Joguei o pano na pia. — Vá logo então, eu não sou paga para limpar seu xixi do chão do bar. — Beth abriu o freezer e pegou a cerveja que TJ estava bebendo. — Um minuto — pedi, correndo até o banheiro. Sentei-me no vaso sanitário, mas só conseguia pensar no quanto eu conhecia do sorriso de Max que havia conhecido há tão pouco tempo. Seu sorriso alcançava os olhos, mas não era largo como o de TJ e sim contido como o de Ty. Quando Max sorria, apenas um lado de sua boca se

curvava, algo erótico também, mas que alcançava seus olhos. Um pouco dos dois irmãos que o tornava único. Maximum sempre virava o rosto, como se não quisesse ser percebido, como se estivesse fazendo algo errado. Como se rir pudesse ser ilegal. Surpreendi-me ao pensar nele de novo, na forma como eu gostava quando ele sorria, como eu parecia conhecê-lo tanto, sendo que não conhecia nada. Em como tentava correr dele, mas ao mesmo tempo desejava nossos pequenos encontros. Talvez eu tivesse obcecada, quem é que sabe? E mesmo que eu soubesse que era perda de tempo, havia algo em mim que me fazia desejar perguntar sobre ele. Saber mais, me aprofundar tanto até estar completamente enterrada.

— Você parece estranha — disse a Beth assim que terminamos de fechar o bar. — Cansada. — Ela apontou para o seu rosto. — Pareço disposta para você? — Talvez não devesse acordar cedo para escrever todos os dias... — Em algum momento eu devo fazê-lo, não? Algo me dizia que não era isso exatamente o que a estava deixando chateada, mas então o quê? — Foi algo que eu falei? Seus ombros caíram em derrota. Ela me encarou, com os olhos marejados, prestes a me dizer algo, mas sua boca se fechou, formando uma linha rígida e não fez. — Eu... apenas estou cansada, Ky. — Ela pegou sua bolsa. — Boa folga amanhã. — Beth me deu um pequeno sorriso antes de sair pelas portas do fundo.

Eu não sabia exatamente o momento naquela noite em que ela havia mudado, mas, de uma hora para outra, a garota radiante e empolgada com a minha vida sexual havia deixado de fazer perguntas e se limitado a apenas responder as minhas. Suspirei, enviando uma mensagem para Elizabeth dizendo que não importava o que estivesse acontecendo com ela, ela podia contar comigo para o que precisasse. Não que ela não soubesse, mas a havia visto tão deprimida que sentia que precisava deixar ainda mais claro. Deixei o bar, sentindo o vento frio atingir meu rosto. Durante o dia fazia tanto calor que eu nunca me lembrava de levar um casaco para usar no fim do expediente. Havia excluído outros aplicativos do celular e instalado o do Uber, uma vez que sabia que precisaria dele mais do que nunca agora. Era complicado ter que pagar todas as noites, mas as gorjetas sem dúvidas me ajudariam. Não era algo que me deixava de cabelo em pé, porque ainda era mais seguro do que pegar metrô àquela hora e mais econômico do que comprar um carro. Sabia que se desse uma melhorada no decote ainda ganharia umas gorjetas extras que me fariam ir para casa em segurança. Escrevi o endereço de casa e a contagem de motoristas perto de onde eu estava começou a ser feita, forçando minha internet ruim e exatamente quando eu apertaria o botão de confirmação do local de partida, uma voz que eu conhecia muito bem ecoou atrás de mim: — Oklahoma. E lá estava ele, encostado a sua Harley, uma perna cruzada sobre a outra, a calça jeans rasgada que eu amava, enquanto ele se apoiava com uma mão no banco e outra no guidão. Se ele soubesse que havia pensado em seu sorriso enquanto fazia xixi, certamente não estaria sorrindo

daquela forma naquele momento. Seu cabelo mais bagunçado do que em qualquer outro momento. Ele virou o rosto minimamente para o lado, deixando sua covinha perfeita virada para mim. — Que susto, Max. — Ele se endireitou na moto, mas ainda parecia estar se exibindo para mim. Eu poderia compará-lo a Damon Salvatore e ainda afirmar que ele era mais arrogante quando queria ser. — Onde está o seu casaco? — perguntou, retirando o dele. — Eu esqueci. Max me contornou, colocando sua jaqueta de couro sobre meus ombros, fazendo o mínimo contato aquecer todo o meu corpo e sentir que já não precisava de nenhum tecido extra sobre mim. Ele deu um aperto forte, juntando as duas pontas em frente aos meus seios, fechando bem. — Você está tremendo. — Sim, eu estava, mas já não sabia o porquê. — Obrigada, não imaginei que estivesse ventando tanto. Seus olhos verdes encontraram os meus e desviei o olhar. — Talvez se não andasse assim não passe tanto frio. — Defina assim — murmurei, sentindo minhas bochechas pegarem fogo. Quem ele pensa que é? — Você se veste como uma... — Ele semicerrou os olhos e dei um passo para trás, sentindo-me nua sob seu olhar minucioso. — Prostituta? Max ergueu as sobrancelhas, surpreso. — Não, eu ia falar stripper. — Ele sorriu como o grande filho da puta que era. — Uma que não cobra por sexo... — Vai se foder, Max, achei que tivéssemos passado dessa fase. — Liguei a tela do celular, colocando minha senha para desbloqueio.

— Nove, nove, nove, que grande senha, Einstein. — O que você quer, Maximum? Sentia que estava regredindo com ele o tempo inteiro. — Eu? — Ele parecia surpreso. — Nada, eu não quero nada. Parecia haver tanto peso naquela resposta que eu me senti ofendida por ele não querer nada. — Então o que está fazendo aqui? Onde está Camille? Você poderia estar ganhando um boquete agora se não estivesse ocupado sendo um cuzão. Meu comentário o fez abrir o maior sorriso que já vi nele, emitindo um som que achei irritante. Adoravelmente irritante. — Nunca conheci nenhuma garota como você na Pensilvânia. — Sua voz era grave, mas havia divertimento contido nela. — Provavelmente estava com sua cabeça enfiada na própria bunda. Ele arrancou o celular das minhas mãos e eu dei um passo para frente, mas Max o ergueu no alto, me impossibilitando de pegá-lo. Meu rosto ficou tão colado ao seu peito que o perfume que escapava de sua pele acertava meu olfato de uma forma que me deixava desesperada. Malditos feromônios do inferno! — Me dê meu celular, Max, eu preciso ir. — Aonde você vai? — Para casa, onde mais eu iria às duas da manhã? — Que coincidência! — Fingiu surpresa. — Estamos indo para o mesmo lugar. — Ele enfiou meu celular no bolso do jeans. — Eu te dou uma carona. — Eu não vou com você! — Afastei-me dele, mas não sabia o que fazer sem meu celular.

— Boa sorte, então! — Ele subiu na moto um segundo antes de dar a partida, o barulho da Harley ecoava pelo estacionamento vazio, me deixando ansiosa para subir novamente nela. Maximum me contornou, ficando ao meu lado conforme acelerava no mesmo ritmo em que eu andava em direção à rua. — Vamos lá, Oklahoma, não se faça de difícil. — Ele parecia realmente estar se divertindo. Claro que estava! — Onde está Cami, afinal? Por que diabos você não está com ela? — Havia realmente tanto interesse por aquela resposta que eu me obriguei a demonstrar naturalidade ao fazer a pergunta. — Por que você está tão interessada em Camille, afinal? — Eu não estou interessada nela. Não foram as minhas mãos que estiveram nela a noite inteira. Merda! Eu podia ouvir seu riso provocativo mesmo sobre o som do motor ligado. — Você está deduzindo demais. Nós somos amigos. — Amigos não se beijam, Max. Pensei no meu namoro com TJ. A quem eu queria enganar afinal? — Bom, você e TJ se beijavam. — E olha no que deu. — Você está sugerindo que eu não devo mais beijá-la? — Apenas a palavra beijar deixando seus lábios era erótico demais para mim. — Eu não estou sugerindo nada, Max. Apenas gostaria que você usasse esse acelerador com mais força, quem sabe o máximo dele... — Se eu conhecesse melhor você, poderia jurar que está com ciúme — continuou me provocando.

— O que você ganha me provocando? — Parei de andar e Max pisou no freio. — Ganho isso. — Ele ajustou seu retrovisor, virando o espelho na minha direção. — Você fica ainda mais bonita quando está brava. Eu podia ver meu rosto corar enquanto encarava meu reflexo e, como resposta ao meu rubor e para que Max parasse de me atormentar, eu enfiei meus braços dentro das mangas e subi no banco, me segurando a ele em um aperto forte. Podia sentir seu abdômen ficar rígido sob minhas mãos esticadas e agradeci por não ser a única a estar tensa. Ele se virou para trás, fazendo meus dedos escaparem, então colocou o capacete na minha cabeça, me encarando tão de perto que podia me beijar se quisesse. — Segurança em primeiro lugar, Loirinha — ele disse antes de se virar e acelerar a moto.

Os carros de Ty e TJ não estavam quando cheguei e um frio percorreu minha espinha ao saber que estaria sozinha com Max àquela hora da noite. Deslizei para fora da moto, meus músculos das pernas ainda tremiam e meu corpo inteiro vibrava, assim como eu também ainda era capaz de sentir o calor que mesmo com o ar gelado, emanava de seu corpo. Observei Max sair da moto, parte minha queria subir nela de novo, apenas para mantê-lo sob meu aperto. Eu dei um passo para trás quando ele se aproximou novamente, Maximum me surpreendeu quando esticou seus braços em direção ao meu rosto com a mesma frequência que me decepcionou ao perceber que ele apenas estava abrindo o fecho do capacete. O que estava acontecendo comigo? A música Love me like you do tocava na minha cabeça como quando Anastácia voava no helicóptero ao lado de Grey, enquanto eu experimentava o vento ricochetear meu rosto sobre a moto de Max. A luz automática da entrada acendeu, iluminando meu rosto patético enquanto eu abria a porta. Eram duas e meia da manhã, e eu não estava cansada. Poderia passar a noite inteira em claro e sequer bocejaria alguma vez. Tinha certeza de que era a adrenalina de estar com ele, algo que eu nunca havia sentido correr em minhas veias. Até ele. Há duas

semanas, eu repetia em minha mente, mas algo me dizia que eu o conhecia uma vida inteira. Sem dúvida era a relação que eu tinha com seus irmãos que me fazia acreditar que conhecia Max de verdade. Mas eu não o conhecia. — O que foi? — Max perguntou assim que chegamos à sala. Continuei andando, sentindo-o atrás de mim enquanto eu seguia em direção as escadas. — Nada — respondi, ainda usando sua jaqueta. Eu simplesmente não queria tirá-la. Havia um cheiro tão peculiar nela que me fazia acreditar que era o mesmo que emanava de sua pele. O maldito cheiro que havia ficado entranhado no meu travesseiro e lençóis, mas que a máquina de lavar havia feito um ótimo trabalho acabando com a minha tortura. — Você está agindo estranhamente. — Ele pulou uns degraus e me contornou, ficando a minha frente e muito mais alto do que eu. — Só estou cansada, Max — menti, desviando para o lado antes de continuar subindo. Entrei no meu quarto. — Então você está de volta nesse quarto? — Ele se deitou na minha cama, colocando uma almofada minha sobre a barriga, enquanto cruzava as pernas e seus pés com botas sobre meu lençol. — Ei, folgado! — Andei até ele, segurando sua perna para retirar uma bota. — Sua mãe não te deu educa... Parei no final da frase, com os olhos arregalados, enquanto segurava um dos pés de meia, naquele momento. Seu rosto se mantinha sem expressão, e eu não fazia ideia no que estava pensando. — Bom, se você falar um dia com ela, avise que foi uma mãe de merda.

— Sinto muito que você nunca vá conhecê-la, Max. Ela era uma mulher incrível. Ele assentiu. — Tudo bem... não sei o que estou perdendo, de qualquer forma. Nunca tive pais, não é como se tivessem tirado isso de mim. Tirei a jaqueta e me sentei na cama, encostando as costas na parede, enquanto puxava suas pernas para o meu colo. Desamarrei as botas de Max e ele a tirou com o pé livre. O barulho que ela fez ao tocar o chão quebrou o silêncio instalado entre nós. — Mesmo assim, não é justo que você não possa conhecê-la. — Sim, é uma merda. Mas vou sobreviver. Eu sempre sobrevivo no fim das contas. Minha mente viajou na imagem de um garotinho de olhos verdes vagando pelas ruas sem nenhuma expectativa, correndo tanto risco. Eu não conseguia falar. Minha garganta parecia estar arranhada e meu coração pesado demais para continuar batendo no mesmo ritmo. — Tá tudo bem, Kyra. — Ele se sentou, ficando tão perto que o peso foi arremessado para longe, fazendo agora ele bater tão forte a ponto de me fazer perder o ar. — Não, não está, Max. Você não precisa ser forte o tempo todo. Afinal, é humano, ninguém vai julgá-lo por surtar de vez em quando. Ele parecia prestes a me beijar quando se aproximou ainda mais, sua mão deslizando até uma mecha solta sobre o meu rosto. Eu deveria estar péssima depois de um turno no bar, fedendo a cerveja velha e suor, mas ele não parecia ligar. Minha respiração ofegante podia ser ouvida e se nos concentrássemos um pouco, muito possivelmente o meu coração também. As sobrancelhas de Max se uniram e ele se afastou um pouco, sua mente parecia estar trabalhando demais.

Sem dizer nada, ele girou seu corpo, colocando a cabeça em meu estômago e os pés com meias brancas sobre meus travesseiros. Eu me surpreendi ao ver aquele homem tão grande parecendo tão pequeno em meu colo. Ele não olhava para mim, e sim para um ponto fixo na parede branca e perfeitamente pintada. Pensativo. Meu coração ainda batia rápido demais, absorvendo Max em meu colo, tão lindo e tão perto, na sua melhor forma. Vulnerável. Me surpreendi quando minhas mãos tocaram seus cabelos, fazendo um pequeno gemido, tão mínimo que quase não podia ser ouvido, escapar de seus lábios. O verde em seus olhos se tornou mais escuro antes dele fechá-los por completo. Corri meus dedos sobre seus cabelos, acariciando-o, brincando com algumas mechas caídas sobre seu rosto. Ele parecia tão em paz que eu gostaria de congelar o tempo e mantê-lo daquela forma para sempre. Foi então que percebi o quanto eu gostava de estar com as mãos nele, perto dele, qualquer coisa que o envolvesse ele. Eu ousei correr meus dedos para trás de sua orelha, descendo o polegar na maçã do rosto enquanto os outros quatro dedos corriam sobre a pele de sua nuca. Ele gemeu baixinho novamente, mas não abriu os olhos. Parecia tão calmo que, por um segundo, eu o invejei, desejando estarmos invertidos, suas mãos correndo sobre minha pele. Um pequeno e tão sutil sorriso se curvou em seus lábios, lindo e breve o suficiente para me fazer desejar outro. — Eu conheci alguém parecida com você um dia. — Ele deixou escapar e meus dedos congelaram entre seus cabelos bagunçados. — Achei que tivesse dito que não havia garotas como eu na Pensilvânia.

— Eu me referia a minha vida adulta. — Ele fez uma pausa, ainda com os olhos fechados. — Eu a conheci na minha infância. — Ela era sua amiga? — Sim. — Ele abriu os olhos, as pupilas aumentando antes de diminuírem novamente, Maximum manteve seus olhos fixados na parede. — E como ela era? — perguntei curiosa, querendo conhecer cada detalhe do seu passado. — Bonita, engraçada, inteligente, altruísta e diferente. — Devo agradecer você por me elogiar citando uma amiga sua? Ele sorriu tão abertamente que meu coração parou de bater. — Sim, você deve — respondeu, deixando de sorrir, sua voz atingindo uma rouquidão que eu nunca havia ouvido anteriormente. — Obrigada. Por que eu me sentia com ciúmes de uma criança que Max havia conhecido na sua infância? — Ela era... ela não era como as outras meninas. — Como assim? — perguntei curiosa. — Ivy vivia com seus joelhos ralados, ela não gostava de pentear os cabelos e escalava mais alto do que ninguém. — Ele voltou a sorrir, mas era um sorriso triste demais para observar por muito tempo. — Costumávamos pular o muro do orfanato para nos aventurar pela mata ao lado. Fomos melhores amigos por muitos anos. Eu sentia que podia lidar melhor com a minha raiva quando ela estava lá comigo, até o dia em que não esteve mais. — O que aconteceu? — Tive medo da resposta.

— Ela foi adotada. — Ele fez uma pausa. — Nem sempre a tempestade antecede um dia bonito para você dar valor ao sol. Às vezes, os dias nublados e sombrios são realmente tudo o que você sempre terá. Suspirei. Havia tanto peso e poder naquelas palavras que me fazia sentir inexperiente, imatura e ingrata. Eu tinha pais ótimos, uma irmã que eu amava e uma família que, mesmo que fosse distorcida, sabia que podia contar se precisasse. Ouvir Max falando de sua vida fez com que minha consciência apontasse um dedo na minha cara me julgando por estar uma semana sem ligar para os meus pais. — Quantos anos vocês tinham? — Doze... — Ele fechou os olhos novamente e enterrei meus dedos mais fundo entre seus cabelos, empurrando os fios para trás. Até mesmo sua testa era linda. — E você nunca mais a procurou? Você sabe onde e como ela está agora? Morria de medo da resposta. Não queria ouvir que Max procurou por ela e que eles haviam se apaixonado. Não queria nenhum trauma ou romance passado. Queria apenas um caminho livre, mesmo que eu não estivesse pronta ou soubesse realmente se seguiria por ele. — Ela... o carro onde ela estava... — ele suspirou, pesadamente. — Seus pais adotivos e ela sofreram um acidente no dia em que a buscaram no orfanato. Ela morreu na hora... As lágrimas se acumularam em meus olhos imediatamente, escorrendo sobre minha bochecha. — Eu... Isso é horrível, eu sinto muito — consegui pronunciar, mas minha voz pareceu estrangulada. — A vida sabe ser difícil com quem ela escolhe foder, Oklahoma.

— Eu queria poder dizer ou fazer algo que mudasse tudo o que você viveu, Max, mas não posso. Ele abriu os olhos novamente, um pequeno sorriso de gratidão no rosto. Maximum puxou minha mão de seus cabelos e a levou até sua boca, beijando-a. Meu estômago se contorceu com o calor que emanava de sua pele. Como um contato tão contido podia ter se tornado minha maior experiência sexual? Não era possível que eu estivesse derretendo apenas por tocar em seus cabelos ou por sentir seus lábios contra minha pele. — Eu sei. — E... sobre amanhã... — arrisquei tocar no assunto do Sr. Jackson. — Como acha que vai ser? Serpenteei até seu lado, ficando frente a frente com ele. Seus olhos verdes me encaravam, mas sua mente parecia estar longe demais. Max deixou um suspiro escapar e olhei para sua boca. Tão perfeitamente desenhada, que me fazia querer beijá-la. Deus, como eu queria! Como nunca havia querido nada mais na minha vida. Maldito rosto perfeito... — Sinceramente, Ky — ele me chamou pelo meu apelido. — Uma parte minha acredita que vai dar tudo errado, mas uma parte maior deseja que, pela primeira vez, algo dê certo. Ele me puxou para mais perto, meu rosto tocando seu peito, ouvindo seu coração bater pesado. Fechei meus olhos, desejando que Max tivesse o que queria. Orando para que alguém lá em cima ouvisse suas preces ao menos uma vez. Ele beijou o topo da minha cabeça e me apertou forte em seus braços. Eu me aninhei dele, surpresa com a forma como nossos corpos se encaixavam tão bem, então disse: — Vai ficar tudo bem. — E apaguei.

Ao abrir os olhos, o primeiro pensamento que veio em minha mente foi ele. Ainda vestia a mesma roupa que estava usando a noite passada, mas um lençol que eu não havia pegado, cobria o meu corpo. Sentei-me na cama, arrastando minhas pernas para fora dela, enquanto minhas lembranças me deixavam ansiosa. Eu havia apagado, não sabia quando exatamente, mas havia adormecido enroscada nele. Minhas bochechas coraram com o pensamento. Eu não era o tipo de garota que corava por causa de homens, mas Max fazia meu corpo se aquecer em todos os lugares e sentia que estava fervendo naquela manhã. Ainda era capaz de sentir os fios de seus cabelos entre os meus dedos e o cheiro adocicado e peculiar na minha roupa de cama. Caminhei até o banheiro, liguei o chuveiro e retirei minha roupa, jogando-a no cesto onde havia muitas outras e que eu aproveitaria para lavar no meu dia de folga. A água morna caía sobre o meu rosto e eu o esfreguei, tentando me livrar do rubor que sentia ao pensar na linha que havia cruzado com Max. Pensando que ele era a única coisa que eu conseguia pensar naquela manhã. E, por mais que eu estivesse curiosa para saber sobre ele, eu também estava apavorada por querer saber ainda mais.

Desci as escadas correndo, sentindo um cheiro delicioso de café. Será que o Sr. Jackson havia chegado antes do horário? Foi o que pensei. Não estava acostumada a ter alguém passando café àquela hora da manhã e certamente Justine também não, uma vez que, quando estávamos de férias, ela esperava os meninos acordarem às onze para fazê-lo e era tão sorrateira arrumando a mansão, que nós quase não a víamos. Freei meus passos e acabei escorregando quando vi... Ty ou Max... Olhei para os cabelos grandes e para a tatuagem na costela. — Ei, Max. — Meu coração acelerou. — Bom dia, Loirinha. — Ele abriu a porta do armário aéreo e retirou uma segunda xícara, que deduzi ser para mim. Maximum colocou a xícara na mesa, à minha frente, enchendo-a de café em seguida. Deslizei a tela do celular, tentando parecer calma com sua presença depois do passo que havíamos dado na noite passada. Busquei o número da minha irmã e digitei uma mensagem para ela, depois fiz o mesmo com meus pais, que eram tão bons com tecnologias quanto eu. Minha mãe visualizou a mensagem na mesma hora e eu sorri, o pequeno contato aqueceu o meu coração. Ela me ligou no mesmo segundo. — Chega de mensagens, Bruxinha. — A voz de minha mãe atravessou os alto-falantes e Max ergueu as sobrancelhas. Ótimo, agora ele teria um novo apelido para me atormentar. — Oi, mãe. — Oi, querida! — Ela parecia tão animada. — O que está fazendo de bom? — Soprei meu café e sorri ao ouvir meu pai resmungar no fundo.

— Estou plantando algumas rosas novas — murmurou. Segurei o riso quando meu pai gritou: — Põe no viva-voz, Amélia! — Olá, papai. — Oi, minha pequena bruxinha. — Revirei os olhos, podia ouvir o riso provocativo de Max enquanto eu cobria o rosto com minha mão livre. — Mais rosas, mãe? — Estamos tentando trazer um pouco de Oklahoma a Geórgia, querida, além disso... — ela começou a sussurrar — aquele nosso vizinho... Moretti, ele deu a ré na caminhonete e passou por cima da nossa roseira. Gargalhei baixinho. — O italiano irritado? Já ouvi falar dele... — Sim, aquele filho da p... — William! — minha mãe o policiou. Eu era capaz de ver seu olhar o repreendendo mesmo através do telefone. — Italianos não deveriam gostar de flores? — Ele não é um bom motorista, filha, tenho certeza de que não foi de propósito. — Ninguém engata a ré a quinhentos metros adentro de um quintal por engano, Amélia, francamente. Bom, agora eu sabia que os dois começariam uma discussão, porque eles eram o casal que mais implicavam um com o outro. Ora, que coincidência! — E como vocês estão? — perguntei com a saudade esmagando o meu peito. — Ande, conte a ela seu novo costume.

Ergui as sobrancelhas, curiosa. Max era capaz de escutar cada palavra, principalmente depois que se sentou à mesa e curvou seu corpo para frente. — Esvaziei o escritório e fiz um quarto para mim. — Você o quê? — gritei. — Seu pai ronca demais e é muito orgulhoso para buscar um médico... Eu não conseguia mais dormir. — Você dorme tão mal que até mesmo sua tia surda em Tulsa pode ouvir seu ronco. Max deu um gargalhada que eu nunca tinha ouvido. Era o poder da minha família agindo, e nem éramos bruxos. A discussão do outro lado da linha era tão intensa que eles sequer prestaram atenção na risada dele. — Ah, querido, todo mundo sabe que aquele escritório só servia para você acessar sites pornôs enquanto fingia estar trabalhando. — Okay, informação demais, mamãe, até a próxima, beijos. Encerrei a ligação, enquanto observava Max gargalhar sem parar, suas bochechas estavam levemente avermelhadas enquanto seus olhos verdes brilhavam com lágrimas acumuladas. — Seus pais são ótimos. Sim, eles eram, mas ouvir Max falando deles fazia meu estômago se contorcer de uma forma diferente, como se o fato dele conhecê-los mudasse algo entre nós. — Sim, eles são. — Bruxinha, sério? — Max se apoiou nos cotovelos e me encarou, ansioso por uma explicação. — Você já não acha que tem apelidos demais para mim? — Não, bruxa loirinha de Oklahoma, eu não acho.

Dei uma gargalhada tão alta que sem dúvida havia acordado Ty e TJ. Por que eu estava tão entusiasmada? Como Max conseguia me deixar tão feliz? — Em um de nossos passeios à Tulsa — beberiquei meu café. —, nós visitamos a Cave House... — O que é isso? — Ele parecia realmente interessado naquela história. — Bom, Cave House é uma casa estilo caverna, ela foi projetada em 1920 para ser um restaurante de frango se eu não me engano. — Eu não comeria frangos de uma caverna, parece nojento. — Você parece o TJ falando. — Digitei no Google e centenas de fotos surgiram como resultado. — Isso é a Cave House. — Que louco! — Ele pegou o celular de minha mão e o simples toque de nossos dedos me fizeram estremecer. — Há um monte de lendas sobre o lugar, uma delas é que os clientes do restaurante se esgueiravam por túneis apertados que davam acesso a uma área restrita onde faziam o que queriam sem ter a polícia de Tulsa em seus pés. — Parece interessante. Até posso imaginar o que os clientes faziam nessa... — ele ergueu as sobrancelhas, enquanto brincava com um pequeno sorriso trapaceiro — área restrita. — Cale a boca, Max! — gritei em meio aos risos. — Claro, prossiga... — Depois que a Cave House deixou de ser um restaurante, ela passou a ser um lar de verdade. Dezenas de inquilinos passaram por lá, e há quem diga que é mal-assombrada. Hoje, ela tem uma nova dona, uma mulher muito simpática, conhecida como Dama da vara, uma vez que há várias criações usando galhos, inclusive uma cama igual a um ninho.

— A parte da Dama da vara eu posso imaginar o motivo, mas não envolve uma cama de ninho... apenas uma cama normal. — De tudo o que eu contei até agora, eu sabia que você absorveria apenas a palavra vara. — É mais forte do que eu. — Ele deu de ombros, passando as mãos nos cabelos, tirando-os dos olhos. — Continue, quero saber como tudo isso resultou em um apelido ridículo. Assenti. — Eu fui vestida de bruxa. — Terminei a história, levando a xícara até meus lados. — Meu Deus, você é péssima contando histórias, que grande decepção do caralho! — O que você queria que eu dissesse? — Dei de ombros. — Sei lá, você me contou todos os detalhes da casa mal-assombrada e da mulher que gosta de varas, eu só achei que o final seria engraçado ou mais surpreendente pelo menos. — Era apenas um passeio com meus pais, Max, e eu era uma criança. — Sorri sobre a xícara, observando-o se divertir. Seus olhos rolaram sobre a minha boca e o sorriso diminuiu em seu rosto, me fazendo aquecer. Ele uniu as sobrancelhas, pensativo, e por um segundo eu quis poder ler mentes. Gostaria de entender o que se passava dentro da cabeça de Max. — Preciso ir correr. — Eu me levantei, colocando minha xícara na pia. — Você ainda está nesse lance? Relaxa, há coisas piores do que ter uma bunda grande. — Ele ergueu as sobrancelhas, sugestivamente. — Ter um pinto pequeno? — Eu já estava de costas, mesmo assim pude ouvi-lo levantar-se. — Você sabe que está mentindo. — Sua voz era provocativa.

— Tamanho e beleza são concepções. Às vezes, o que é algo para uma pessoa, não é para outra. — Eu parei na porta, olhei para trás e disse antes de sair correndo: — Obrigada pelo café, Max.

Era um grande dia, não apenas por ele realmente parecer ser grande, devido ao calor infernal que fazia, mas também por saber que o Sr. Jackson chegaria de viagem. Ou pai, eu realmente não sabia como me referir a ele, apenas sabia que era meu doador de esperma. Mas eu ainda não podia julgá-lo, não fazia ideia do que havia acontecido comigo, conosco, então não podia simplesmente acusá-lo de ter me abandonado. Havia vivido aqueles dias contando que tudo acabaria quando ele chegasse. Ele me contaria que fui roubado na maternidade, que nunca haviam contado aos seus filhos porque queriam lhes poupar da dor de ter um irmão que sequer sabiam se estava vivo. E acima de tudo, que ele ainda me procurava, mesmo que sua esposa não estivesse ao seu lado fazendo aquilo junto a ele. Como se meu pai tivesse feito uma maldita promessa de nunca parar até me encontrar. Eu não sabia o que exatamente aconteceria, mas era mais ou menos daquela forma que eu esperava, ou acreditava que fosse. Então eu me sentei e esperei, observando pela janela do quarto que eu havia ganhado e que havia aprendido a trancar à chave se não quisesse que metade da universidade de Boston trepasse sobre minha cama. Contemplando tudo o que eu nunca tive: um quintal enorme, portões eletrônicos, um

gramado verde e bem cuidado, similar a um campo de futebol. Luminárias por todos os lados, uma piscina que deveria ter no mínimo vinte metros e, Deus do céu, uma garota como Oklahoma. Kyra era incrivelmente sexy como o inferno, tinha curvas que fazia um cara gozar nas calças apenas se olhasse para ela por muito tempo e um sorriso que puta merda... Mas não era isso que a fazia o tipo de garota que valia a pena correr atrás, como um maldito cachorrinho. Era a forma como cuidava dos meus... irmãos. Da forma como ela os amava, como me olhava, como sentia muito por mim. Kyra mal me conhecia, mas minha conexão com ela era maior do que com qualquer outra pessoa que eu havia conhecido. Ela me fazia lembrar de Ivy, da forma como nos conectávamos apenas com um maldito olhar. Eu sentia que estava ficando louco. A pressão de saber que teria meu pai comigo em pouco tempo. Como se ele colocar os pés naquela casa pudesse mudar toda uma vida de merda que eu tive. A expectativa não era apenas perigosa para um cara como eu, mas também algo inevitável. Havia dito a Kyra o que pensava, sentia e desejava, e me sentia uma merda por esse motivo. Nunca fui de falar demais, não gostava que as pessoas soubessem o que eu queria, porque não queria seus olhares de pena quando eu não conseguisse realizar meu desejo. No começo, quando criança, eu contava o quanto eu queria ser adotado por pais engraçados, queria fogueiras, marshmallow e piadas, noites em barracas, queria meias de Natal na lareira, presentes na árvore, queria minha janela sendo fechada antes de dormir, minha luz sendo apagada e minha coberta ajustada por alguém. Queria ir à escola, ter meus cadernos supervisionados, queria que chamassem minha

atenção por algo perigoso que eu fiz. Queria andar de bicicleta pelo bairro, ter amigos, queria uma mãe gritando na porta para que eu não me atrasasse para o jantar. Era angustiante como coisas pequenas se tornavam grandiosas, por isso, quando dei minha jaqueta a Kyra, eu me vi desesperado da mesma forma quando enchi sua xícara com café. Foi algo grandioso para mim e ela não fazia ideia, apenas sorriu, daquela forma que era capaz de me enlouquecer em silêncio. E, se tinha uma coisa que eu não podia evitar, era a química que nós dois tínhamos. Química pura, nossa conversa, nosso humor negro, a forma como éramos provocativos e a puta atração sexual que pairava no ar sempre que estávamos na mesma sala. Algo capaz de ser palpável, consistente e visível até mesmo para alguém cego. E eu estava viciado. Queria mais, queria estar perto dela sempre que podia, descer as escadas enquanto ela subia, queria passar cafés quando sabia que ela os tomaria, queria estar trabalhando em um carro sabendo que passaria por mim para uma maldita corrida. Queria Oklahoma enroscada em mim sobre a minha moto, sobre a minha cama, sobre a cama dela, em qualquer lugar e nada menos do que o tempo todo. Vício. Era um maldito viciado e um tremendo filho da puta. O que minhas atitudes diziam de mim? Diziam que eu era um cuzão de merda por saber que ela era a garota do meu irmão e mesmo assim estar desejando estar no meio das pernas dela. Desci as escadas, a casa estava vazia graças a Ty e TJ que não podiam parar com seus paus guardados nas calças. Não que eu fosse muito diferente, é claro, queria foder Oklahoma como nunca quis foder outra garota. Mas ela não era fácil como as outras, ela era um tremendo pau

enfiado na bunda e assim que eu a avistei mergulhar, me joguei na piscina também, com um maldito sorriso em meu rosto, como o grande maricas que eu era. Kyra emergiu, os cabelos para trás como uma maldita sereia, ela abriu levemente a boca para respirar, tirando a mão do nariz, e eu sorri silenciosamente, enquanto ela ainda permanecia com os olhos fechados. Ela passou a mão no rosto, retirando o excesso de água, e então, abriu a porra dos olhos. O azul contrastava com o mesmo tom da piscina. Seus cílios molhados e grossos piscaram para mim antes de dar um tapa na água. — Que susto, Max! Eu adorava que Kyra fosse a única pessoa que não nos confundia. Ela olhava para mim e sorria, sabendo imediatamente quem eu era. — Por favor, não me diga que você precisa segurar o nariz para mergulhar. Ela realmente pareceu envergonhada. Certamente não fazia ideia do quão adorável eu achei aquilo. — Não há praias em Oklahoma — ela justificou. — Você não teve sua infância e adolescência em Boston para compensar isso? — Não se aprende a mergulhar depois do sete, Max. Dei uma gargalhada, algo que eu estava fazendo demais ultimamente. — Não há um prazo de validade para isso, Bruxinha. Ela se virou, nadando desajeitadamente até a borda. — As pessoas nascem sabendo mergulhar, nadar e boiar. Não é algo que se aprende. — Ela parecia realmente acreditar naquilo. — Como não? Não é para isso que as pessoas vão a natação?

Ela deu de ombros. Eu realmente gostava de irritá-la, quem sabe eu a deixasse brava o suficiente para ela sair da piscina usando as escadas. Adoraria ver sua bunda rebolar naquele biquíni vermelho com pingos pretos. Até havia passado a gostar de melancia. — Não enche, Max. — Ela levantou a mão no ar e eu desejei senti-la novamente entre os meus cabelos. Talvez eu tivesse gemido apenas por lembrar da sensação de ter suas mãos em mim. Inferno, eu estava mesmo ficando louco! — Você não sabe mesmo boiar? — perguntei surpreso. Boiar era algo natural, porra, como assim? — Não. — Ela parecia envergonhada. — Pare de sorrir assim. — Apontou para o meu rosto. Eu sequer sabia que estava sorrindo. — É apenas... — Patético — ela me interrompeu. — Eu ia dizer adorável. — Kyra corou, como sempre fazia. O que estava acontecendo comigo? Eu fodia garotas, as chamava de gostosa e não... adorável. — Sim, para uma criança de cinco anos, não uma mulher de vinte e dois. Passei a mão no meu cabelo molhado que escapava para a frente do meu rosto, seus olhos correram livremente sobre o meu braço erguido e, como o puto que sou, sorri maliciosamente para ela, fazendo-a ruborizar. Eu não havia visto Kyra corar nenhuma vez para TJ, então estava contente com o resultado do meu esforço em mantê-la desconcertada. — Vem, eu te ajudo com isso. — Estiquei meu braço, mas ela não segurou minha mão, em vez disso, uniu suas sobrancelhas, pensativa. — Você vai me afogar ou algo assim? — Ela parecia com medo.

Você deveria perguntar se eu vou comer você ou algo assim. — Quantos anos você acha que eu tenho, porra? Ela deu de ombros. — A mesma idade dos seus irmãos, e eles sem dúvidas me afogariam. — Eu não sou meus irmãos, Kyra. Suas feições suavizaram e um pequeno sorriso de desculpas se formou em seu rosto quando ela esticou o braço e deixou que eu a puxasse até mim. E lá estávamos nós de novo, enlaçados um no outro. Que porra de novidade, não? Relaxei, enquanto a deitava sobre a água, uma mão em sua lombar e outra em sua nuca. Seus seios explodiam no biquíni apertado e meu pau contraiu dentro da minha bermuda. Péssima ideia, Max. — Pare de olhar para os meus peitos ou eu vou morrer afogada. — Ela passou uma mão por trás das minhas costas. — Porra, desculpa, mas você está esfregando-os na minha cara. — Estou apenas tentando boiar. Deus, ela era quente até mesmo quando não estava tentando ser! — Então você está fazendo isso errado, porque se eu largar, você afunda. — Eu sei, apenas não me larga... Comprimi os lábios, uma nova oportunidade para irritá-la. — Tem razão quanto às corridas, eu acho que é seu excesso de peso que não permite que você boie. — Ha-ha-ha, eu não vou mais cair nessa, idiota. Ah... — Preciso arrumar outra coisa então para pegar no seu pé.

— Claro, porque você não tem nada para fazer. — Ela esticou o outro braço, com seus cabelos loiros se espalhando pela água como uma maldita sereia. Meu pau furaria minha bermuda em muito pouco tempo. — Claro que não — sussurrei, sequer havia prestado atenção na sua última frase, porque estava concentrado o suficiente tentando não a beijar como um maníaco. — Aquele carro com o capô aberto na garagem não irá se consertar sozinho, Maximum. Sim, era o meu nome, e ele nunca pareceu tão bonito. Ela abriu os olhos, o azul se misturando a todo o resto. Deitada, sobre minhas mãos, enquanto fingíamos que o que estávamos fazer era tentar fazê-la boiar, ela parecia a coisa mais linda que meus olhos haviam visto em toda a minha vida. Quase intocável para um cara como eu. — Max. — TJ... não, era Ty, eu podia reconhecê-lo pelas tatuagens, me chamou da borda da piscina. Seus olhos nos estudavam com atenção, silenciosos, como sempre. Um mar de calmaria que escondia um grande tsunami. Eu me senti um merda, como se estivesse fazendo algo errado. Sim, e eu estava. Mas não tinha tempo para remoer minhas más decisões dentro da minha cabeça, porque em pé, atrás dele, havia um homem que eu nunca havia visto antes, e eu queria muito ouvi-lo se explicar.

Meu coração batia rápido demais, mas tentei me manter calma, não queria que Ty me julgasse, tampouco o Sr. Jackson, que parecia me analisar como o filho. Meu Deus, eu me sentia uma vaca imunda! Com as mãos trêmulas, eu peguei a toalha sobre a espreguiçadeira e me enrolei, me sentindo nua diante dos quatro. TJ havia acabado de estacionar na garagem e acenou para que todos nós entrássemos. — Uau! — Jimmy Jackson murmurou, encarando Max. Estiquei a toalha extra que havia trazido para os meus cabelos e ele a pegou, mas sequer arriscou olhar no meu rosto e eu me senti ainda pior. Me senti seu segredo sujo. A garota do seu irmão. Ele não queria estragar sua imagem com o pai, mostrando a ele o tremendo filho da puta que era. — Com licença. — Sorri para Jimmy e ele me deu um pequeno sorriso e um aceno enquanto eu quase corria para dentro da casa, subindo as escadas em seguida. Era um momento dos quatro e muito embora eu estivesse morta de curiosidade, também sabia que não me encaixava naquele contexto. Eu seria apenas a intrometida no meio da história e eu já havia chamado

atenção demais. A porta da frente bateu e eu sabia que eles haviam entrado na casa, então freei meus passos antes de entrar no meu quarto. Podia ouvir ao menos o começo da história... — Ainda estou em choque. — O pai deles parecia realmente em choque. Não podia ser diferente. Nós quatro também havíamos passado por aquilo. — Eu te falei, pai, é assustador. — TJ parecia animado, até que a voz de seu pai o interrompeu: — Eu preciso que sente, TJ. Eu tenho algo para contar a vocês. E, de repente, eu estava tão envolvida na história quanto os três. — Eu estou bem aqui — ele respondeu. Eu me concentrei no cômodo onde apenas as duas vozes falavam. Não podia ouvir TJ e Max e eu me sentia ansiosa para saber o motivo dos dois estarem tão quietos. — TJ, eu... Deus... eu ensaiei tantas vezes esse diálogo na minha mente... Antes que você saia por aquela porta e se vire contra mim, apenas ouça com atenção o que eu vou dizer a você... — Fale logo! — ele exigiu. — Sua mãe Helena não conseguia engravidar. — Uau, que ótimo! — pude ouvir Max murmurar, deduzindo todo o resto da história antes mesmo que o Sr. Jackson pudesse terminar. Isso era o que acontecia com pessoas como Max, pessoas que estavam acostumadas a terem o tapete puxado sob seus pés sempre que levantavam de um tombo. — Nós realmente tentamos de tudo, de verdade. Helena desejava muito uma criança, nós dois desejávamos na verdade. Nos amávamos muito e queríamos construir nossa própria família.

Se havia algo incontestável naquela história, era o amor entre Helena e Jimmy. Eles haviam construído uma família tão bonita e sólida de causar inveja em qualquer um. — Nós tínhamos um casal de amigos na época, pessoas que conheciam... — ele fez uma pausa antes de se corrigir — pessoas envolvidas com adoção. — Não, por favor, não... — Eu não precisava olhar para TJ para saber que ele estava esfregando o rosto. Queria abraçá-lo naquele momento. Queria abraçar Ty e Max também, porque eu sabia o quanto os dois poderiam estar confusos e desesperados, mas eram orgulhosos demais para dizer algo. — Eu sinto muito, Max. — Eu era capaz de ouvir a voz consistente de Jimmy se transformar em um sussurro desesperado. — Me perdoem por não contar antes. — Porra! Não contar antes? Você teve apenas vinte e três anos para fazer isso! — TJ parecia desesperado. — Tales, eu sinto muito, filho. Helena e eu queríamos contar isso quando vocês fizessem dezoito anos, mas... quando ela partiu, eu não podia fazê-lo sozinho. — Eu... — TJ não sabia como responder àquela confissão. Eu também não saberia. — Como você consegue estar tão calmo, porra?! — Tales gritou para Tyson. Sim, eu também gostaria de saber, porque seu silêncio não condizia com suas atitudes. Normalmente Ty já teria arremessado todas as cadeiras da sala e quebrado todos os vasos de flores e eu não me surpreenderia se ele saísse no soco com o pai. Não que já tivesse o feito alguma outra vez, mas faria mais sentido do que seu silêncio.

— Você sabia? — TJ perguntou. — Claro que não. — A voz do pai deles respondeu em bom som. — Você ainda mantém contato com o casal? Acha que pode descobrir quem são nossos pais biológicos? — TJ insistiu. — Eu sinto muito, eles estão mortos. — Mortos? — ele insistiu. — Eles nos compraram — Max finalmente se pronunciou. Puta que pariu! — Como você sabe? Meus pais nunca fariam isso! — TJ gritou. Ele parecia estar prestes a enlouquecer. — Ele está certo — Jimmy respondeu. — Eu sinto muito. — Quanto você pagou pelos dois? Cinquenta mil? Cem mil? Três crianças eram demais para vocês, porra?! — Ei, fica de boa, Max! — A voz de Ty era ameaçadora e meu coração quase parou de bater. — Fica de boa você, porra! — ele gritou em resposta. — É fácil falar quando se é mimado pra caralho. — Vai se foder! — Ouvi um barulho alto e passos que me fizeram acreditar que um dos dois agora estava sendo pressionado na parede. Apenas não sabia qual deles. — Você não sabe o que é precisar procurar comida no lixo, um lugar onde não vai chover sobre você e o único pensamento na sua cabeça ser que, em algum momento, seus pais biológicos te encontrarão na rua e te reconhecerão apenas pelo seu olhar. — Ele fez uma pausa. — Não, você está certo, Max, eu não sei — Ty respondeu, e eu soube que havia recuado. — Sinto muito por tudo o que passou. Tivemos pais filhos da puta que nos venderam, mas temos um ao outro agora e isso nunca vai mudar.

— Eu preciso de ar — Max respondeu segundos antes de eu ouvir o barulho da porta de entrada abrindo e o motor da sua Harley gritar na garagem. Deus, será que ele havia partido para sempre? Meu coração batia tão rápido que eu era incapaz de me controlar, então me levantei, andando de um lado para o outro. Fui até meu quarto e joguei um vestido sobre o biquíni, enquanto olhava pela janela. As coisas de Max estavam em seu quarto, mas eu sabia que ele não tinha nada de valor que o fizesse voltar. Eu sabia que ele podia simplesmente desaparecer, muito embora eu soubesse que ele não tinha para onde ir. Abri a porta do meu quarto e me surpreendi ao ver Ty subindo as escadas, ele me encarou, seus olhos estavam marejados e tentei me lembrar a última vez que o havia visto chorar e havia sido no velório de sua mãe. Ele parou por um segundo. Queria abraçá-lo, mas Tyson Jackson não gostava de ser abraçado por ninguém, então eu apenas dei a ele um pequeno sorriso que dizia que eu estava lá por ele, e Ty me surpreendeu quando respondeu: — Não se preocupe, ele vai voltar. — E, dizendo isso, ele entrou em seu quarto, batendo a porta ao passar por ela.

Desci os degraus da escada em direção a sala e meu coração se partiu com a imagem de TJ sentado no sofá, a cabeça enterrada entre as mãos, ao lado de um copo de uísque. Ele inclinou a cabeça para a mim quando me ouviu chegar e caminhei até ele, me ajoelhando em sua frente para abraçá-lo. Seus braços fortes me contornaram e eu o apertei forte, minha mão subindo e descendo em suas costas. — Eu sinto muito, TJ. — Eu me sinto tão idiota. Como se tudo o que eu tivesse vivido até aqui... fosse a porra de uma mentira. — Olha aqui. — Espalmei a mão nas laterais do seu rosto e o levantei até que seus olhos estivessem nos meus. — Você foi bem cuidado, teve uma infância linda e tudo o que viveu foi verdadeiro e se, houvesse apenas uma verdade no mundo, essa verdade seria que Helena e Jimmy Jackson amaram vocês. Uma lágrima correu sobre a bochecha de TJ e eu a segurei com o polegar. Eu amava o coração daquele garoto. — Ele disse que não sabia sobre Max. Ele jurou por minha mãe. — Eu realmente não acho que ele seria capaz de mentir sobre isso.

— Você acha? — Um misto de esperança dançou sobre seus olhos. — Você realmente acha, Kyra? Ele nos comprou! Sim, eu achava, mas ainda assim eu também não podia acreditar que Helena pudesse ter comprado os gêmeos. Eu não conseguia visualizar uma cena onde ela pegava os bebês enquanto Jimmy contava o dinheiro. Parecia horrível demais. — Não sei o que pensar sobre isso, TJ, mas eu realmente acho que eles não sabiam sobre Max. — Obrigado por isso. — Ele encostou sua testa a minha por dois segundos, antes de se afastar novamente. — Eu sinto tanto por Max, que não faço ideia de como ajudá-lo. Falar de Max com TJ era estranho para mim. — Ele foi abandonado, Ky, teve uma vida de merda. Eu... eu não consigo lidar com isso, desde que ele saiu por aquela porta, eu só pude pensar em todas as datas. Dia de Ação de Graças, Natal, nossos aniversários, no quanto tínhamos enquanto ele não tinha nada. No que comíamos enquanto ele não comia nada. — Ele fez uma pausa, alcançando o uísque, tomando tudo em um único gole. — Você estava ouvindo? — ele perguntou e assenti. — Ele comia do lixo, porra! As lágrimas de TJ começaram a cair ao falar de Max e meu coração afundou. Não fazia ideia do que se passava em sua cabeça até aquele momento. Eu sabia que ele havia recebido o irmão de braços abertos, mas não fazia ideia do quanto ele pudesse amá-lo em tão pouco tempo; e quando vi, eu estava chorando junto, fungando como uma louca. — Não culpe seu pai por querer uma família, TJ. — Nem sei o que dizer, eu apenas... Max é tudo o que eu consigo pensar.

— Eu sei, talvez seu pai tenha cometido um erro enorme ao ter comprado vocês e não ter feito da forma correta, mas, pensa bem... Talvez o que ele fez tenha sim sido a coisa certa. — Me explica como comprar duas crianças parece certo, Kyra? — Como você acha que teria sido, Tales? Acha que essa mãe de merda que vocês tinham teria criado os três juntos? Você e Tyson tiveram uma vida incrível juntos ao lado de pais que amaram vocês. — E quanto ao Max? Talvez nós três pudéssemos ter vividos juntos em orfanatos. Poderíamos ter tido uma infância, nós três. Nós somos três, porra! — Sim, vocês podiam ter sido criados juntos, quem é que sabe? Ou talvez alguém tivesse adotado cada um de vocês separadamente. Talvez você sequer teria o Ty. — Seus olhos encontraram os meus. — Quem é que sabe, afinal? Ele assentiu, pensativo. — Isso é tão fodido... eu... não sei como Tyson consegue lidar tão bem com isso. — O fato dele não ter quebrado nada não significa que ele está lidando bem, TJ. — Nem sei se Max vai voltar. — Ele se jogou para trás, tocando as costas no encosto do sofá. Eu me arrumei no chão, sentando-me com as pernas cruzadas, minhas mãos tocando sua panturrilha. — Ele nem tem uma porra de celular! — Talvez você devesse dar um a ele quando ele voltar. — Se ele voltar, Kyra. — Seu comentário me causava pânico. — De qualquer forma, ele é orgulhoso demais para aceitar.

— Apenas dê um celular usado para ele e diga que você não o usa mais e está jogando em algum canto pegando poeira. — Dei de ombros. — Se ele souber que não faz diferença para você é mais fácil para ele aceitar. Diz que é bom poder falar com ele quando precisar. — Faz sentido — murmurou, esfregando o rosto. — Que caralho! Eu apenas estava bêbado e pelado jogando beer pong e agora eu tenho pais adotivos que me compraram, pais biológicos que estão mortos e um irmão imprevisível. — Outro irmão imprevisível. — Eu o lembrei e, pela primeira vez, um sorriso lindo surgiu em seus lábios. — Pelo menos, não fodemos com o que tínhamos. Sorri, assentindo. Era verdade e aquele momento com ele era a prova de que permanecíamos como éramos antes. — Quer dizer... nós fodemos. — Ele deu um sorriso que alcançou os olhos. — Só que não fodemos com o que tínhamos. — Cala a boca, TJ! — Encostei minha cabeça em sua perna e fechei os olhos, desejando que Max voltasse para a casa.

Meu coração batia como um louco quando invadi o quarto de Maximum às duas da manhã e me deitei em sua cama, vazia. O cheiro de seu perfume deixava ainda mais presente a realidade. A realidade que me deixava acreditar que estava ficando louca. A expressão “borboletas no estômago”, que sempre achava ridícula, agora fazia sentido para mim e eu me sentia ansiosa, tanto como quando bebia três xícaras de café preto seguida da outra. Como uma amiga. Minha cabeça repetia diversas vezes. Eu esperaria por Max acordada como uma amiga. Então nós conversaríamos e, quem sabe, eu pudesse fazê-lo se sentir melhor, como havia feito com TJ mais cedo. Uma amiga. Max não tinha ninguém, afinal. O problema é que, quando a gente acredita em uma coisa, essa coisa não precisa ser repetida até que grave em nossa memória, porque quando se acredita em algo, isso vai além do cérebro, está no peito. O coração não precisa ser lembrado de algo. Ainda estava furiosa pela forma na qual Max agiu comigo na piscina, como se suas mãos tivessem tocado algo sujo ou imoral, mas eu apenas não conseguia me afastar, mesmo que isso fizesse de mim o tipo de pessoa que temia. Ele pisou na bola, mas eu permaneci, como quando

fazia com TJ ou até mesmo com Ty. Talvez isso fosse um grande defeito meu, afinal, continuar, insistir, permanecer mesmo quando você sente que pisaram sobre você. Mas eu costumava pensar que é a mesma qualidade que mais admiro em meu pai: sua consistência. Fechei meus olhos, dizendo para mim mesma que esperaria apenas mais alguns minutos e se Max não atravessasse a porta à minha frente, eu voltaria para o meu quarto e nós conversaríamos no dia seguinte. Mas eu sentia que precisava estar no seu quarto, temia que ele entrasse na casa sorrateiramente, pegasse seus pertences e sumisse no mundo. Sem um aparelho celular, sem um endereço fixo. TJ nunca o perdoaria se o fizesse. Ficar acordada por mais alguns minutos era o grande plano, mas o grande problema é que eu apaguei. Ouvi um pequeno ruído no quarto e lentamente abri meus olhos para a escuridão que me recebia. O perfume peculiar que sentia era um convite bem-vindo que eu adorava receber, mas que minha consciência gradativamente me lançava um sinal urgente. Eu me movi na cama, olhando para o pequeno facho de luz que atravessava o quarto até tocar a parede a sua frente, iluminando um quadro que não era meu. Piscando forte, tentando me encontrar na penumbra, enquanto meu cérebro voltava funcionar, a realidade me atingia como um sopro quente naquela noite de verão. Não era o meu quarto e o corpo que eu encarava sentado no chão, com a cabeça enterrada sobre as mãos, era nada menos que Max. Arrastei minhas pernas para fora da cama, passando a mão em meu rosto para que pudesse despertar e encarar alguém que eu ainda não conhecia: Max bêbado. — Você está fedendo. — Apontei para o seu corpo, como se ele precisasse saber que eu estava falando dele.

— Você tem uma forma sutil... — ele enrolava a língua — de sempre começar uma conversa, Oklahoma. — Max, quanto você bebeu? Ele parecia realmente pronto para vomitar. — Não interessa. — Você está tentando se matar? — Eu me levantei, cruzando os braços sobre os seios. Mas que merda! — Ah, talvez... — Ele deu de ombros, com a fala tão arrastada e inconsistente que me fazia acreditar que, por um pouco mais, ele estaria em coma alcóolico. — Quem é que liga, afinal? — Seus irmãos ligam, eu ligo! Um sorriso de escárnio se formou em seus lábios e meu coração doeu pela centésima vez naquela noite. — Oh, que grande coisa! Duas semanas foram o suficiente para vocês três me amarem! — Max... — Me diz, Kyra! — ele gritou, erguendo os braços no ar. — Como você é capaz de suprir vinte e três anos de convivência em duas malditas semanas? — Vocês possuem uma conexão, são trigêmeos. Ficaram juntos por nove meses antes de nascerem. Max sorriu amargamente. — Nove meses dentro da barriga de uma vagabunda viciada. — Ele jogou seu corpo para trás, sua cabeça tocando o pufe. — Que porra de mãe afinal faria o que ela fez se não fosse uma? — Você não sabe seus motivos, talvez tivesse uma doença, talvez fosse pobre, ou...

— Você teria vendido seus filhos se estivesse em uma dessas condições? — ele grunhiu quando eu não respondi. — É claro que não. — Você precisa esfriar sua cabeça. — Não preciso esfriar porra nenhuma, eu vou embora. — Embora? — de repente, eu estava gritando desesperada. — Você nem tem para onde ir! — Foda-se! — Ele bateu no peito. — Eu sou feito de recomeços. Eu me sentia prestes a desmoronar. As palavras de Max eram tão pesadas a ponto de me fazerem sentir sufocar. Eu estava em um barco e, de repente, alguém me lançava no mar, com uma grande e pesada pedra amarrada ao meu tornozelo, fazendo-me afundar cada vez mais. — Você está bêbado, não pode sair assim. — Nunca segui regras, Loirinha. — Max se sentou novamente, balançando seu corpo para frente e para trás. — Max, por favor... — No orfanato, nas ruas, com o cara que me acolheu. Em lugar algum. Apenas eu e a forma como eu escolhia viver. — Ele se levantou, cambaleando. — Então, se eu estou dizendo que vou embora, é porque eu vou. Estava tão desesperada que pensei na arma que havia dentro da sua mochila. — Você não precisa fazer isso... Você é bem-vindo aqui. — Bem-vindo, Kyra? — Ele se inclinou para frente e tudo o que eu queria fazer era abraçá-lo. — Seus irmãos o amam e TJ está péssimo porque acha que você foi embora. — Ele vai superar depois de algumas festas.

Apontei com o indicador em seu peito. Odiava a forma como havia falado do irmão. — Se você insultar TJ outra vez, eu juro que uso a máquina de choque que você ainda não viu. — O que foi, Oklahoma? Você não suporta que eu fale do seu namoradinho? Ainda quer o pau dele entre suas pernas? Eu sabia o que ele estava tentando fazer, era outra grande semelhança com Ty. Insultar e ofender pessoas para que elas se afastassem, e eles tivessem o que queriam. Isso era uma forma de sabotagem. — E daí, se eu estiver? Posso ter quem eu quiser entre minhas pernas. — Eu sorri. — Sou uma mulher livre e apenas homens que suprem a falta de um pau grande dizem o contrário. Ele sorriu, mas não era um sorriso forçado ou rancoroso, ele parecia... orgulhoso, embora tentasse esconder. — Foda-se tudo isso, Kyra... eu estou indo nessa. — Ele abriu seu armário e alcançou suas malas feitas. — Uau, você deixou suas malas prontas? — Deixei, eu só não imaginei que você estaria na porra do meu caminho! — Você mal consegue falar, Max, se quiser ir, okay, mas faça isso quando estiver sóbrio. — Coloquei-me à sua frente quando ele cambaleou tentando chegar até a porta. — Saia da minha frente! — ele rosnou para mim, seu rosto quase colado ao meu. — Eu não vou sair. Estufei meu peito, como se fosse me fazer mais ameaçadora, o problema é que eu tinha menos de um metro e sessenta e ele deveria ter no mínimo um e oitenta e cinco. Maximum sorriu, como se eu fosse

patética e aproveitei o momento para arrancar a chave da moto das suas mãos. — Eu não vou deixar você se matar, Max. — Me devolve essa porra de chave! — Ele esticou o braço, mas eu me esquivei. — Qual é o problema se eu estiver morto, afinal? Você tem outros dois iguais a mim, caralho! — Deu outro passo e o impacto de nossos corpos me lançou na porta. — Vocês não são a mesma pessoa, e eu estou fazendo isso por todos vocês. Por favor, Maximum, apenas espere até amanhã. Ele uniu as sobrancelhas. — Olha só como você é hipócrita... eu não posso ir agora porque, se eu estiver morto, vou machucar seus amiguinhos, mas posso ir amanhã porque minha partida não fará alguma diferença. — Não, claro que não! — Xeque-mate, Loirinha. Abri os braços, desesperada por não estar conseguindo fazê-lo mudar de ideia. — Não, o que eu estou fazendo, é tentando mantê-lo seguro, Max. Não posso deixar você passar essa porta e subir em uma moto do jeito que você está. Não posso! Como você não consegue ver que seu lugar é aqui? — comecei a chorar e sequer me preocupava com o fato de estar parecendo uma louca desesperada. — Estou tentando ajudar você, Max. — Como? Se exibindo para mim em seus biquínis minúsculos? Enlaçando seu corpo ao meu sobre a minha moto? Dormindo enroscada em mim? Me diz, como isso me ajuda? Senti como se um soco acertasse meu estômago. — O quê? — perguntei enfurecida. — Você... eu...

— Parece que você está tentando foder ainda mais comigo. Ou foder comigo, eu ainda não sei, você é confusa demais. Levantei meu braço, acertando um tapa em seu rosto. Max arregalou os olhos e cambaleou para trás, sua sobriedade deu um pequeno passo. — Você fica aí todo na moral falando de hipocrisia, mas não enxerga que entrou no meu quarto naquela noite, você me ofereceu carona e você... — eu toquei seu peito com o indicador — entrou naquela maldita piscina atrás de mim. É sempre você, Max! Ele fechou os olhos e apoiou um braço ao lado da minha cabeça, contra a parede. Seu corpo levemente curvado para frente. Meu coração batia forte demais conforme sentia o sopro pesado e eufórico da sua respiração. Ele uniu as sobrancelhas, parecia tão confuso, mas... tão lindo e perdido. Como eu podia estar querendo abraçá-lo e beijá-lo depois de tudo o que me disse? — Eu não posso ficar na casa que aquele filho da puta pagou! Eu não posso... — Dê a ele uma chance, Max, por favor... Quando uma fio de lágrima correu sobre sua bochecha, eu senti que uma faca estivesse me atravessando, acertando minhas entranhas e me abrindo como um peixe fresco. Não era o pesar que eu sentia por Ty e a falta de intimidade que eu tinha para lhe dar um abraço, tampouco era como o peso no peito que eu sentia por ver TJ sofrendo pelo irmão perdido. O que eu sentia por Max naquele momento era desesperador, eu queria me ajoelhar aos seus pés e agarrar suas pernas para que ele não fosse embora. — Você confia em mim? — Seus olhos se abriram e o verde repleto de lágrimas golpeou meu rosto.

— Sim! — Max rosnou a contragosto e pela primeira vez, desde que ele havia entrado no quarto, meu corpo relaxou. Ele confiava em mim. Segurei seu rosto, passando o polegar para juntar a lágrima que alcançava seu queixo. Maximum inclinou levemente a cabeça, afundando sua bochecha na palma da minha mão. Um suspiro pesado deixou seus pulmões, enquanto ele permitia se perder no nosso pequeno contato. — Então dê ao Sr. Jackson apenas uma chance. — Fiz uma pausa. — Por mim, porque eu confio nele... Ele parecia relutante, mas me surpreendi quando respondeu: — Por você, Oklahoma.

Por mim. Ele estava ficando por mim. Não por Ty, não por TJ, não por sua curiosidade, mas por mim. Eu deveria estar furiosa com as coisas que me disse, com a forma como me insultou, mas, em vez disso, eu estava feliz por ele ter apenas ficado. O que havia de errado com o meu orgulho, afinal? Bom, a verdade é que a palma da minha mão ainda ardia pelo tapa que havia dado, então, se estamos mesmo falando em orgulho, eu penso que talvez tenha manifestado o meu, de uma forma única. Da minha forma. — Você tem a porra de uma mão pesada do caralho! Ele passou a palma da mão em sua bochecha. — Seu vocabulário é ainda mais bonito quando está bêbado. Ele riu. — O seu não fica longe mesmo quando está sóbria. Eu ri. — Beijos, armas, spray de pimenta, máquinas de choque e um belo tapa. — Ele abriu um sorriso tão pervertido que eu podia ter molhado minha calcinha. — Parece que você é mesmo para se casar, Oklahoma.

— Você deveria tomar um banho frio. — Ainda estávamos na mesma posição; eu ainda permanecia colada a porta e ele ainda estava inclinado sobre mim. — Posso lidar com o calor que está acontecendo dentro das minhas calças. Ruborizei, apesar de manter minha postura. Pensar no que havia dentro de suas calças me deixava animada. — Não estou falando sobre isso o que chama de pau, estou falando sobre sua embriaguez. — Eu me sinto embriagado, Ky, mas não é de álcool. Como foi que nossa briga havia se transformado nisso? Maximum se curvou ainda mais sobre mim, eu podia sentir o sabor de uísque em seus lábios sem que estivesse tocando-os. Seu nariz roçou no meu e sua cabeça se inclinou levemente para o lado. Eu estava tão molhada que tinha certeza de que podia sentir através do algodão da calcinha. Um gemido involuntário escapou dos meus lábios e ele grunhiu. Empurrando minha cabeça com a dele, as mechas de seus cabelos sobre os meus olhos. Eu queria tanto beijar Max naquele momento que o desejo doía, meu couro cabeludo e dedos dos pés formigavam e a pressão que sentia pulsar sobre o meu sexo me enlouquecia. Eu estava pronta para ele e sequer o havia beijado ainda. Ele gemeu tão baixinho que eu podia jurar que era um canto sagrado escapando dos céus, sua mão se perdeu em minha nuca, seus dedos se enterraram dentro dos meus cabelos e gemi novamente. Como podia um quase beijo ser tão sexual a ponto de fazer com que eu pensasse que podia gozar apenas por ser tocada no rosto por Max? Sua boca tocou a minha, tão quente e sólida que eu me sentia

desmanchar, ele sugou meu lábio inferior, mordiscando-os, eu podia sentir a calmaria antes da tempestade se formar, aquele momento em que tudo fica silencioso antes do primeiro raio rasgar o céu antecedendo o som do trovão. Sua língua tocou a minha e seu quadril esmagou o meu contra a parede, sua enorme ereção tocando minha barriga. Max enfiou outra mão nos meus cabelos e me segurou com tanta força que eu senti que a terra havia parado de girar. Apenas nós dois no mundo inteiro. Max e eu, eu e Max, e sua língua explorando minha boca deixando um leve gosto de uísque que eu sabia que nunca seria capaz de esquecer. — Deus... — ele sussurrou quando se afastou apenas para que pudéssemos retomar o ar. — Pensei que não fosse um cara religioso. — Eu sorri, tão perto dele que meus lábios roçavam nos seus. — Eu não sou. Suas palavras caíram tão pesadas sobre mim que eu me sentia afundar na areia movediça. Ele não era religioso, mas estava chamando por Deus enquanto me beijava. Deveria significar alguma coisa, não? Pelo menos, eu gostaria que significasse. Gostaria que Max estivesse tão perdido, alucinado e enlouquecido quanto eu me sentia naquele momento. Ele desceu suas mãos pela lateral do meu corpo e depois as deslizou até minha bunda, apertando-a enquanto me pressionava ainda mais contra seu pau. Talvez estivesse esfregando na minha cara que era bemdotado depois de me ouvir fazer diversas piadas sobre aquilo, mesmo que soubesse que eu o estava apenas provocando. Ele cambaleou um pouco para frente, mas eu não sabia se ainda estava muito bêbado ou se eu o estava deixando tonto.

Max me puxou para o seu colo e eu entrelacei minhas pernas sobre sua cintura, enquanto meus dedos percorriam seus cabelos, puxando-os para trás enquanto mordiscava seus lábios a caminho da cama. Eu não me importava que ele tivesse bebido, que havíamos tido uma briga e tampouco que iríamos transar quando sequer havíamos nos beijado de verdade até aquele momento. — Por favor, me peça para parar, Kyra... — murmurou em meus ouvidos quando minhas costas encontraram o colchão macio. — Não... — gemi, erguendo meus quadris para que ele deslizasse meu vestido para cima. — Não pare... — Você é tão linda... Ele retirou a minha peça de roupa e a jogou no chão. Eu não me sentia acima do peso enquanto Max olhava para mim como se eu fosse algo raro. Sabia que minha satisfação com meu corpo não tinha que estar relacionado a um homem, só que, ao mesmo tempo, eu sabia que ele não era qualquer homem. Maximum correu suas mãos sobre a pele do meu pescoço, deslizando até meus seios antes dele abocanhá-lo, me fazendo quase gritar. Sua mão direita continuou descendo, até que as pontas dos seus dedos estivessem no elástico da minha calcinha. Desci minha mão alcançando a sua, levantando o tecido sob a palma dele, liberando espaço. O gemido que Max deixou escapar foi assustador, porque ele parecia instável. Sua mão desceu sobre o meu sexo e eu afundei minha cabeça no travesseiro, sentindo seu dedo médio traçar uma linha entre meu clitóris e minha abertura. Maximum fez outra vez o movimento, enterrando dois dedos em mim enquanto seu polegar pressionava meu ponto G. — Porra, como você pode estar tão molhada?

Sorri, apesar de meu pensamento estar um pouco mais abaixo naquele momento. Como eu podia estar tão molhada? Eu certamente não responderia que ele me deixava daquela forma e que estar sendo fodida pelos seus dedos era o melhor sexo que eu havia feito durante a minha vida inteira e ele sequer havia usado seu pau ainda. O nome disso? Química! Eu estava molhada daquela forma porque nós podíamos passar metade do nosso tempo brigando um com o outro, mas nós não podíamos negar a química que tínhamos juntos. — Eu preciso de você dentro de mim agora, Max... por favor. Ele pressionou toda a palma da sua mão cobrindo todo meu sexo, eu podia sentir pulsar sob seu toque. Pulsando, pulsando, pulsando. Eu precisava dele dentro de mim ou iria gozar. Max se curvou sobre meu corpo e mordeu minha orelha, enquanto deslizava para dentro de mim novamente, seu polegar fazendo círculos em meu clitóris. Eu sorria como uma idiota, agradecendo o fato dele saber exatamente o que fazer. Comecei a rebolar, me contorcer em sua mão, enquanto ele me fodia com seus dedos mágicos. Max estava apoiado em um cotovelo, sua boca tocando minha orelha quando ele ofegava, abafando qualquer ruído que eu pudesse ouvir fora daquele quarto. Sua mão livre pressionava o meu pescoço, seus quatro dedos de um lado e o polegar no meu queixo, tão sexy e dominador que eu sentia que estava chegando lá. A ereção de Max dentro de sua calça apertada tocava minha coxa, mas àquela altura eu sabia que não o teria dentro de mim. Tentei deslizar minhas mãos para dentro de suas calças, mas ele afastou seu quadril, forçando ainda mais seu polegar, me fazendo gemer, rebolar, me contorcer e enterrar minha boca na sua para que ninguém ouvisse meu gemido enlouquecido enquanto eu gozava em seus dedos. — Goze pra mim, Oklahoma...

Eu não podia me expressar com nada que não fosse um palavrão ou um nome religioso, então fiquei em silêncio para não parecer desesperada, deixando que a voz de Maximum continuasse sendo sussurrada no silêncio estrangulador, mesmo que ele não estivesse dizendo mais nada. Como um eco que se repetia na minha mente. Goze pra mim, Oklahoma. Pra mim, Oklahoma. Oklahoma. Eu finalmente havia gozado, era capaz de sentir minhas bochechas quentes, meu couro cabeludo suado, minhas pernas moles e meu corpo inteiro trêmulo enquanto Max deslizava seus dedos para fora de mim, fazendo eu sentir sua falta iminente, como se eles tivessem sido feitos para estarem lá. Eu estava ficando louca, mas saber não me fazia desejálo menos e eu estava encrencada, porque não havia nada em Max que o tornasse seguro, estável e certo para mim.

— Me conte alguma coisa sobre você — ele pediu, traçando o dedo indicador no ossinho da minha clavícula. — Você não acha que tem apelidos demais para mim? Ouvi seu riso manso, até parecia que ele quem havia acabado de gozar. — Eu acho que não... — Ele desceu seus dedos até meu braço, ainda me acariciando e eu me lembrei da forma sexual como ele posicionava o braço sobre os ombros de Cami na noite em que TJ e eu terminamos. — São cinco da manhã, Max — bocejei. — Eu acho que devo ir para o meu quarto e dormir, porque amanhã eu trabalho. — Eu sei... Ele parecia vago, mas, eu sabia o que estava fazendo. Max estava tentando anular seu confronto com Jimmy quando descesse para o café, ou para o que quer que o fizesse sair do quarto. Ele sabia que, quando acordasse, teria que pôr os pingos nos is e tomar uma decisão sobre o seu futuro, o problema é que ele não tinha opções. Eu queria poder fazer algo por ele. — Eu tive um cachorro quando era criança, o nome dele era Salem.

Não pude deixar de sorrir como uma idiota quando o rosto de Max foi tomado por um enorme sorriso. — Tipo o nome do gato de Sabrina, a bruxa? Assenti, feliz por ele conhecer. — Sim, só que era um cachorro. — Você é uma mulher surpreendente, Bruxinha. Revirei os olhos. — Não enche, Max. — Continue... — ele exigiu, enrolando uma mecha do meu cabelo loiro entre seu polegar e indicador. — Uma vez, Tray pulou a janela da minha casa enquanto meus pais estavam dormindo. — Dei uma risada mansa, me lembrando da expressão da minha melhor amiga. — Ela queria mostrar umas provas e não percebeu que ele dormia em uma almofada logo abaixo dela. Quando seus pés pisaram em seu rabo, ele a mordeu na bunda. Ela ainda tem uma pequena marca lá. — Uma bunda pela outra é justo. — Ele parecia se divertir. — Tyson passou a infância inteira rindo dela por isso. Foi um erro ter contado aos irmãos no dia seguinte na escola, mas eu juro que a intenção não era magoá-la. Só que... sempre houve uma coisa entre os dois, uma rivalidade que nunca acabou. — Talvez os dois sempre estiveram apaixonados um pelo outro. Semicerrei os olhos. Dizer que os dois eram apaixonados porque viviam brigando seria uma indireta para o nosso lance ou ele realmente acreditava naquilo? De qualquer forma, eu sorri e neguei com um aceno. — Nãooo, impossível. Ele não faz o tipo dela. — Bom, Ty é um homem muito bonito. Ele deve fazer o tipo de qualquer uma. — Ele sorriu diabolicamente.

Forcei um riso que sequer precisava ser forçado. — De qualquer forma, mesmo que ele não tivesse mordido sua bunda, Ty teria provocado ela. Afinal, quem pula uma janela no meio da noite para mostrar uma maldita nota alta? — Era um A+, pelo menos? Assenti. — Ela nunca tirava menos do que isso. Sinto falta dela. Foi naquele momento que a realidade soprou em meu rosto, fazendo meus cabelos balançarem com a verdade que ela trazia. Eu tinha Ty, TJ e Beth, mas fazia muito tempo que alguém não me ouvia de verdade. Eu estava sempre pronta para ouvir e disponível para despejar meus conselhos, mas ninguém nunca mais havia me perguntado como eu me sentia de verdade tendo minha família morando na Geórgia e minha melhor amiga em New Haven. Como eu me sentia? Como estava lidando um ano longe de meus pais, sem a casa onde morei os últimos quinze anos? Vazia. Era assim que eu estava me sentindo. Meus pais eram maravilhosos, eu sentia falta deles. Minha irmã estava sempre pronta para me ouvir e disposta a me chantagear para que eu lavasse a louça por um mês em troca dela guardar um segredo, mas eu a amava. Era tão bom conversar com alguém. — Quanto tempo você está nessa casa? — Um ano. Meus pais se mudaram para a Geórgia para a chegada do meu sobrinho, Joseph. — Irmão ou irmã? — perguntou, interessado. — Uma irmã mais velha, ela se chama Lizzie. — Legal. — Max colocou a mecha entre seus dedos para trás da minha orelha. — O que ela fazia na Geórgia afinal?

— Ela se apaixonou por um cara pela internet. — Parece arriscado demais. — Ela gosta de aventuras. — Dei de ombros. — E Chris é um cara legal, de verdade, ela engravidou poucos meses depois de ficarem juntos. — Uau! — Sim... De qualquer forma, não é fácil que meu relacionamento com meu sobrinho seja baseado em chamadas de vídeos. — Às vezes, você está rodeado de pessoas, mas nenhuma delas te enxerga de verdade. Joseph vai entender que o que importa é que ele pode contar com sua tia quando precisar. Senti minha garganta fechar. — É como eu costumo pensar... — O que vai fazer depois que se formar? Deixei escapar um suspiro pesado, havia pensado tanto naquilo sem chegar a alguma conclusão que ouvir uma frase na qual as palavras “fazer” e “formar” se relacionavam me fazia querer vomitar. — Sinceramente? Não sei. Eu sinto que fiz tudo errado, mas que, ao mesmo tempo, apenas devo continuar fazendo até que entenda o motivo. — Então seu lema é fazer errado até que chegue ao lugar certo? — Ele parecia confuso. Bom, tecnicamente eu estava cometendo outro erro estando deitada em sua cama, mas certamente, parte minha também gostaria de saber aonde aquilo iria chegar. — É mais ou menos isso. — Consigo entender então o que você faz na minha cama às cinco da manhã, Loirinha. Você gosta de cometer erros. — Parece que você lê mentes, Max.

— E você quer ir para a Geórgia depois? — Ele estava tão interessado na minha vida, que até mesmo eu comecei a me empolgar com meu futuro incerto. — Honestamente? — Sempre. — Seus olhos verdes me analisavam minuciosamente. — Eu não faço ideia. — Então você está prestes a se formar e não sabe o que vai querer ser ou aonde vai querer viver? Você parece tão perdida quanto eu. — Não vejo um futuro na Geórgia. Também não me via longe de Ty e TJ, mas minha família vinha em primeiro lugar. — Eu gosto de Boston, mas apenas não sei... É como se eu não conseguisse me encontrar em nenhum lugar por onde estive. — Talvez você devesse se casar comigo em Vegas, nós poderíamos viajar sobre minha Harley, vender nossa arte na praia para ganhar uma grana. Sorri, apesar de meu coração bater forte. — Parece tentador, talvez eu não achasse você louco se nos conhecêssemos mais do que duas semanas. — Conexões não têm nada a ver com dias, assim como ela também não tem prazo de validade. — Você parece muito sábio para um cara que passa metade do seu tempo criando apelidos para mim. — Eu gosto do seu rosto quando ele está vermelho. — Max se inclinou levemente e mordiscou minha boca. Seu cheiro estava em toda a parte. — Sua jaqueta ainda está comigo — confessei. — Agora eu tenho um pretexto para bater a sua porta amanhã à noite.

— Então você pretende ficar até amanhã à noite? Minhas palavras pareceram pesar sobre ele, assim como sua ausência pesaria sobre mim. Eu não queria que Maximum deixasse aquela casa, assim como também não queria ir para a Geórgia em alguns meses após concluir a faculdade. — Não sei o que eu quero na verdade, eu apenas sei que não gostaria de falar sobre isso agora. — Então você faz eu me abrir e é isso que eu ganho em troca? Um sorriso pervertido se curvou em seus lábios. — Tecnicamente você quem ganhou algo em troca por se abrir para mim. Que ótimo, agora estávamos falando das minhas pernas. — O que quer que eu diga, Ky? — Deu de ombros. — Eu não tenho para onde ir, não tenho uma conta bancária com economias, não tenho parentes vivos que eu conheça, sequer sei quem eram as merdas de pais que me largaram em um orfanato. — Você deveria pesquisar por eles, talvez tenha algum parente vivo. — E o quê? — Ele parecia furioso. — Me instalar em suas casas? Dormir em suas camas? Você acha que, se eles tivessem parentes, eles não saberiam sobre nós? — Desculpa, eu não havia pensado nisso. — De qualquer forma... eu não sei ainda o que sinto em relação a Ty e TJ, mas uma parte minha gostaria de descobrir. Um sorriso enorme se formou em meu rosto. — Gostaria que você desse uma chance a eles. — Eu não posso prometer o que vou fazer, eu não faço ideia de como será amanhã, e honestamente? — Sempre — imitei suas palavras.

— Estou cansado de não saber. — Eu gostaria que você não tivesse passado por tudo isso. — Meus dedos correram até sua bochecha e ele fechou os olhos. — Eu sei — Max sussurrou, e depois de um longo tempo quando achei que já tivesse pegado no sono, ele continuou. — Você sente falta das pessoas que tem, mas que não estão perto de você agora... — Concordei com um aceno, sentindo seu murmúrio se instalar em um lugar novo dentro do meu peito. — Mas, pelo menos, você tem alguém para sentir falta. Eu nunca tive ninguém.

Eu ainda não podia acreditar no quão fodido era capaz de ser. Havia arruinado com a única coisa boa que eu tinha e, por mais que eu estivesse acostumado a me sabotar, daquela vez eu sentia medo de verdade. Não fazia ideia de que iríamos acabar juntos naquela noite, mas o fato de eu desejar com todas as minhas forças que sim, deveria ter me feito fazer escolhas diferentes enquanto estive fora por um tempo, pensando no que fazer antes de voltar para a casa. O problema é que, mais uma vez, eu havia pensado com a cabeça errada e fodido tudo, e agora só precisava esperar que a merda tocasse o ventilador. Eu sabia que viria rápido, afinal, nunca era feliz por muito tempo, mas era a primeira vez que eu não podia culpar um Deus ou ao sistema e sim a mim mesmo. A hora que a pequena verdade viesse à tona, eu perderia a única coisa boa e verdadeira que tive depois que Evy morreu: Kyra. Como o louco filho da puta e egoísta que eu sou, eu a fiz gozar em meus dedos, e, como se não bastasse, havia feito com que se abrisse para mim. Informações que me torturariam quando ela se afastasse. Eu queria poder ajudá-la com suas questões, queria ver seus olhos azuis brilharem mais vezes. Eu sentia que a queria o tempo inteiro e nada mais.

Acreditava que a parte minha que viciava rápido demais em coisas que me faziam sentir melhor havia me tornado dependente dela, cigarros, álcool e Kyra. Eu havia vencido todo o resto, mas, ainda assim, sentia que nunca seria capaz de superá-la quando me deixasse. Eu era um fodido e não tínhamos nenhum futuro juntos, eu sabia, e deveria estar me afastando em vez de arrastá-la comigo para o meu drama, mas eu não conseguia, como um imã maldito que nos atraía sempre que estávamos perto demais. Eu não conseguia evitá-la. — Você deve estar com uma puta fome. — TJ apontou para o microondas. — Deixei seu almoço ali, é só aquecer. Eu me surpreendi com suas palavras. TJ era um cara legal, ele estava sempre perto demais e, na maioria das vezes, tentando me fazer sentir à vontade, enquanto Ty se mantinha em silêncio, observando demais e me avaliando. — Eu não estou com fome, obrigado. Ele apertou o botão e o micro-ondas começou a funcionar. — Foda-se, você precisa comer, brother. Senti meu estômago se contorcer, porque TJ havia acabado de me chamar de irmão. Eu sempre quis ter irmãos, uma família, mas nunca tive ninguém além de mim mesmo. Se ele soubesse que estive prestes a me enterrar em sua ex-namorada será que ainda estaria lidando comigo daquela forma? Ele não fazia ideia do filho da puta que eu era e eu desejava que Kyra não tivesse tido um passado com ele, embora eu soubesse que era o parasita naquela história. — Fico feliz que tenha ficado. — Ele colocou o prato na mesa e apontou para que eu me sentasse. — Eu ainda não decidi nada.

— Mesmo assim, aqui está você. — Não é como se eu tivesse realmente para onde ir. Eu realmente não queria agir como um filho da puta com... meu irmão, mas me sentia como se eu tivesse sido jogado aos lobos enquanto os dois haviam sido escolhidos a dedo para terem uma vida digna. Qual era o meu problema? Eu chorava demais? Era um bebê diferente dos outros? — Pode parecer egoísta, mas eu fico feliz que não tenha. — Ele cruzou os braços sobre o peito nu. Ele estava sempre praticamente nu. — Qual o seu problema com roupas, afinal? TJ deixou escapar um suspiro pesado, ele parecia aliviado. — Elas me apertam demais. — Ele sorriu largamente. Eu podia entender o motivo de todos amá-lo e de Kyra ter acabado em sua cama. Ele caminhou até a porta que dava acesso ao quintal e se apoiou, enquanto usava o celular, me dando tempo para que eu comesse. TJ parecia impaciente, não que ele fosse calmo demais, mas parecia nervoso. Assim que terminei minha refeição, eu lavei meu prato e talheres e coloquei no escorredor, que parecia mais caro do que tudo o que eu tinha ao mesmo tempo. Não que eu tivesse muita coisa, mas, ainda assim, minha Harley valia algo. — Você parece um fodido cão de guarda. — Eu não quero que você suma, Max. — Ele enfiou as mãos nos bolsos do short que era curto demais para que eu usasse um dia. — Você ser meu irmão não é o bastante para você? — Eu não sei o que é ter um irmão, TJ. Ele me encarou, suas sobrancelhas unidas. — Eu estou pedindo que se dê a chance de saber, então. Um sorriso de escárnio se formou em meu rosto.

— O que vai fazer quando eu pisar na bola? — Abri os braços. — Quando se der conta do cara fodido e egoísta que a vida formou? — Eu vou chutar sua bunda e continuar ao seu lado, porque, sobretudo, você vai continuar sendo o meu irmão. — E quando cansar de chutar minha bunda? Ele sorriu, apesar de tudo. — Você tem ideia de quantas vezes eu chutei a de Ty? E olha onde estamos. — Vocês foram criados para estarem juntos, é diferente. — Sim, você tem razão. Nós dois fomos criados para estarmos juntos, mas nós três fomos gerados para isso. Fazia sentido. — Eu não faço ideia de quem era a nossa mãe, mas agora nossas personalidades de merda fazem mais sentido. — Você não é como ela. — Talvez minha boa situação financeira me dê a chance de não acabar atrás das grades, Max, mas eu não sei como seria se o cenário fosse outro, porque, mesmo com tudo o que tenho e a forma na qual eu fui educado e criado, ainda assim eu vivo me afundando nas minhas más decisões. Se ele soubesse sobre as minhas más decisões, suas mãos não estariam em seus bolsos agora e eu teria um nariz quebrado. Ele se aproximou de mim, sua mão segurando minha nuca enquanto me encarava de perto. Eu não podia desviar meus olhos dele, admirava sua força e a forma como havia me acolhido. TJ era extraordinário. — Você é um cara legal... — comecei. Ele sorriu, seus olhos quase fechados.

— Eu sei e cale a boca, apenas me deixe falar. — Ele deu dois tapinhas em minha nuca enquanto eu assentia. — Você pode sair por aquela porta e nunca mais olhar para trás, pode esquecer do tempo em que esteve aqui e viver sua vida como sempre viveu. Você não precisa de nós, é a pessoa mais forte e corajosa que eu já conheci, Max. Caralho, eu estava mesmo querendo chorar como um maricas? — Ou você pode simplesmente ouvir o que meu pai tem a dizer e ficar, e então você terá uma família de verdade, pessoas que te amam e que apoiam você, mesmo que sua bunda seja realmente chutada algumas vezes. Nós podemos nos ajudar, nos defender, ser uma família de verdade, Max. Não é como se estivéssemos te fazendo um favor. Isso não é apenas sobre você, é sobre mim, sobre Ty, sobre nós três, caralho, você é nosso irmão, porra! — Eu não sei... — Se você quiser sair por aquela porta e sumir no mundo, porque é isso que estará te fazendo feliz, okay, eu apoio sua decisão, mesmo que queira amarrar você no porão, mas se você quiser fazê-lo, apenas por orgulho ou qualquer outra merda que seja maior do que acha que deve ter... então você é um maldito filho da puta. Você será egoísta com Ty e comigo não dando a chance de sermos três. Passei a mão no rosto, não conseguia respirar direito com tanta informação. TJ me queria por perto, ele me queria na casa, como seu irmão. E eu também queria aquilo, queria estar perto dos dois mais do que já quis algo na vida. Mas eu também queria não me sentir dependente de alguém novamente. Uma casa, dinheiro, comida. Eu havia passado tudo isso com Steven depois que ele me acolheu das ruas. — Você não quer isso? Sim, eu quero, porra.

TJ se afastou de mim com um pequeno sorriso e seus olhos caíram sobre meus ombros. Eu podia ouvir passos de mais de uma pessoa, então me virei, avistando seu pai e Ty logo atrás. Eu sabia que eles chegariam juntos, sabia que Tyson estaria de guarda para o caso de eu perder a linha, mas eu nunca o faria. Nunca levantaria um dedo para o Sr. Jackson por respeito ao que meus irmãos haviam feito por mim. — Oi, filho. — Ele não estava olhando para TJ, estava olhando para mim. Eu implorei novamente para o Deus que eu não acreditava. Por que é que eu estava fazendo aquilo de novo, afinal? Quando foi que eu me tornei um cara que recorria ao Divino? Eu sabia o que estava perdendo quando o ouvi se referir a mim como seu filho. Eu havia esperado duas semanas criando expectativas para que aquilo fosse verdade, mas não era. — Eu não sou o seu filho. — Não, não é, mas é uma pena, porque eu realmente gostaria que fosse. — Talvez você pudesse ter me comprado também. Não havia um desconto na compra de três? TJ suspirou atrás de mim. — Eu não sabia sobre você, nunca teria o deixado, Max. — São apenas palavras de um homem que mentiu para seus dois filhos por vinte e três anos. Seus ombros caíram em derrota. — E o que eu diria? Que lhes comprei de uma mãe viciada? Senti suas palavras como se elas fossem uma enorme mão me dando um tapa no rosto. Minha mãe era uma viciada. Que grande coisa, agora meus antigos vícios faziam mais sentido para mim.

— Eles tinham uma mãe carinhosa, uma vida boa e estável e eu não tinha motivos para lhes dizer que não éramos seus pais, mesmo assim, minha esposa queria que contássemos em seus aniversários de dezoito anos. — Eu já conheço essa história. — Sim, porque ela é tudo o que eu tenho. Eu faria tudo de novo, daria todo o dinheiro do mundo mesmo que isso me fizesse uma pessoa ruim, porque eu os tenho. Dois filhos que amo, que constituíram a minha felicidade e que realizaram o sonho da minha esposa de ser mãe. Ela os amava e ela o teria amado assim que pusesse seus olhos sobre você. Fechei meus olhos por três segundos. Uma parte minha sentia vontade de sair por aquela porta, mas outra parte, muito maior, acreditava nele, em suas palavras. No fundo, eu realmente não era capaz de imaginar que ele pudesse saber que eram três e mesmo assim pudesse ter deixado um para trás. — Lamento muito por não ter prestado mais atenção, talvez eu pudesse ter descoberto, mas... — ele passou as mãos pelo rosto, os olhos cheios de lágrimas — eu estava com medo. Era algo ilegal, mas que eu estava disposto a fazer por ela. Para realizar seu sonho. Você já amou alguém, Max? Evy e Oklahoma vieram à minha cabeça e meu coração bateu forte por pensar nela naquele momento. Eu só podia estar ficando louco. — Eu amei uma pessoa um dia, mas ela morreu. Senti a mão pesada de TJ apertar o meu ombro me mostrando o que era ter uma família. Ele estava sentindo muito por mim e a sensação de ter alguém com quem pudesse dividir algo era totalmente incrível. Não

era a primeira vez que ele ficava ao meu lado, mas era a primeira vez que eu podia ver com clareza o que era ter um irmão. Eu queria abraçá-lo. Eu queria ficar. — Talvez não sejamos tão diferentes então. — O que sabe sobre os meus pais biológicos? — Não muito. — Ele fez uma pausa, dando um passo para frente. Sua mão tocava meu ombro, enquanto TJ mantinha a mão apertada no outro. — Eles estão mortos e eu realmente sinto muito, Max. Isso é tudo o que eu tenho — revelou a todos. — Isso é uma merda — TJ murmurou. Observei Ty, que se mantinha em silêncio desde que havia chegado e eu me perguntei se ele realmente também era daquela forma quando ninguém sabia de mim. Talvez toda aquela postura aflita fosse apenas tudo o que ele sabia ser. Meus pais estavam mortos, Steven estava morto, Evy estava morta. Eu queria rir de como o destino gostava de me pregar peças. — Todos mortos, que ótimo. Do que ela morreu? — Sorri, mas não estava achando graça. — Ela cheirou todo o dinheiro dos bebês? — Ela teve insuficiência pulmonar — respondeu. — Seu pai teve câncer e morreu há duas semanas. — Uau, que ótimo! Nossa genética é fodida também! TJ, Ty e eu suspiramos em uníssono. Suas mãos ainda se mantinham em meus ombros e eu me sentia bem. Sentia-me seguro pela primeira vez. — Apenas fique, não pense a longo prazo, filho. Encarei o chão. — Não consigo sequer imaginar como foi ter sua vida, passar por tudo o que passou, mas você está aqui agora. De alguma forma, o caminho de vocês se uniu, colocando os três juntos de novo. Onde sempre deveriam

ter estado. Vocês são irmãos, são trigêmeos. — Jimmy secou suas lágrimas com a mão livre. — Vocês conseguem imaginar o quão grande é isso? — É, isso é fodido, mas é incrível — TJ murmurou e eu deixei escapar um sorriso, derrubando outro tijolo da parede que havia construído entre nós. — Você pode continuar ganhando seu dinheiro arrumando seus carros, e, embora não precise, você pode ajudar financeiramente se isso for fazer você se sentir melhor. Assenti, pensando no assunto. — Sei que pode ser tarde para algumas coisas, mas nunca é tarde para um recomeço, Max, e você parece saber disso melhor do que ninguém. Eu gostaria que você ficasse com seus irmãos, que pudesse me perdoar pelo que fiz, e que, mesmo que pareça tarde demais, me dê a chance de ser um pai para você. Ty assentiu para mim, me reconfortando e incentivando, sua mão agora segurava o ombro de seu pai, que segurava o meu, da mesma forma que TJ o fazia. Ligando cada um de nós por um toque, que era capaz de fazer qualquer passado de merda desaparecer em busca de um novo começo. Senti-me desesperado pela forma como suas palavras foram capazes de atravessar meu peito, como se uma espada tivesse me perfurado. Eu estava caindo, até que fiquei de joelhos e olhei para um céu nublado. Eu sabia que havia perdido aquela batalha. — Eu vou ficar — respondi, ouvindo seus suspiros de alívio iminentes. Talvez eu não tivesse perdido e sim ganhado, era tudo um ponto de vista.

— É sério, Max, eu não o uso mais. — Eu não precisava conhecer muito sobre celulares para saber que o que TJ estava balançando no ar era um iPhone. — Eu não preciso de um celular. — Não havia redes de internet e linha telefônica na Pensilvânia? — Ty se jogou no sofá e recolhi minhas pernas antes que caísse sobre elas. — Como você fazia para trepar? — TJ perguntou. — Você mete seu aparelho celular nas garotas ou o seu pau? — Eu realmente gostaria de saber. — Geralmente o meu pau, o celular apenas quando elas pedem que eu meta. — Ele deu de ombros. — Isso não é higiênico, porra! — Ty comentou me fazendo rir. — Me explica o motivo de eu precisar de um celular para conseguir relaxar um pouco. — Você precisa de todo um... — ele gesticulava enquanto buscava a palavra certa — processo de preliminares, conversas, emojis de apaixonado e tudo isso antes de conseguir algo com uma garota. — O que diabos são emojis? Os ombros de TJ caíram em derrota.

— São bonequinhos, alguns com grandes sorrisos, outros com pequenos corações no lugar dos olhos... — Parece uma coisa de maricas — interrompi. — Sim — Ty interferiu. — Você nunca teve um celular de verdade? — Ele realmente parecia surpreso. — Não, nem de brinquedo. — Uau, eu achei que estivesse fodendo com a minha cara! — Ele jogou o celular na minha direção como se fosse um pedado de pau ou qualquer outra merda e eu me atrapalhei tentando não o deixar cair no chão. — Ainda tô esperando para saber como você conseguia garotas. Eu sorri, passando a mão no rosto. — Elas iam arrumar seus carros e eu as fodia sobre o capô enquanto preenchiam os cheques de pagamento. — Dei de ombros, não estava mentindo. — Certo... — TJ abriu um sorriso tão largo, que contagiou a Ty e a mim. — Graças a Deus, um irmão no qual me orgulhar! — Ty comentou, mexendo brevemente em seu celular, enquanto eu encarava o que estava em minhas mãos. — Já está funcionando, há um chip nele, cheio de contatos antigos meus, na verdade. O número da Cami está aí, caso queira... consertar o carro dela. Mantive os olhos grudados no aparelho, pensando que a primeira coisa que faria era excluir o número dela dos contatos. Não era uma boa ideia. — O que está rolando entre vocês? — TJ perguntou, erguendo as sobrancelhas, sugestivamente.

— Nós transamos, mas já acabou. — É isso, aí, nada de amarras. — Tales tirou seu celular do bolso e o levantou no ar, virando a tela para nós. Não, eu não queria estar amarrado com alguém no qual não sentia nada além de tesão. — Vamos tirar nossa primeira foto juntos, porra! — Eu podia ver o sorriso largo dele através da tela, então mostrei o dedo do meio quando ele apertou o botão e, percebendo que Ty havia feito o mesmo, TJ protestou com um palavrão, enquanto se sentava no tapete, colocando os pés sobre a mesa de centro. — Vocês são dois fodidos! — Ele continuou mexendo no celular, então me olhou empolgado. — Você precisa criar um Instagram, você vai conseguir muito sexo lá. Quer bater uma foto para o perfil agora? Vamos lá, brother, sorria. Eu podia ver que ele estava zoando apenas olhando a tela apagada de seu celular, mesmo assim eu escondi meu rosto, sorrindo como um idiota. — Coloca uma foto sua no meu perfil — murmurei. — Nenhum idiota vai saber distinguir, afinal. — É como se minha cabeça não estivesse funcionando corretamente, eu queria que Helena pudesse ver vocês três juntos. Jimmy Jackson entrou na sala, segurando sua mala pesada em uma mão. Meu corpo contraiu por alguns segundos, até que meu cérebro me lembrou de que ele não era o inimigo, então voltei a relaxar. — Porra, eu sinto tanto a falta dela! — TJ olhou para o porta-retratos sobre a lareira, capturando a imagem da sua mãe sentada na mesma poltrona que mantinha no canto da sala, um bebê em cada joelho. — Eu também, todos os dias — respondeu.

Mantive-me em silêncio, como Ty também o fazia, me sentia mais acolhido por TJ, mas ainda assim me achava mais parecido com Tyson. Nós não ficávamos confortáveis expondo nossos sentimentos. Jimmy caminhou até os filhos e lhes deu um abraço de despedida, enquanto dizia algumas coisas a eles sobre dinheiro, próximos passos, empresa na qual trabalhava, auxiliando-os até sua próxima visita, depois ele acenou para que eu o seguisse até a rua. — Eu sei que você ainda está confuso, Max. É mais fácil para os meninos saberem que há outro irmão, do que para você saber que são mais dois. Eles já estão acostumados a terem um ao outro, você não. — Ele apertou meu ombro, e deu um pequeno sorriso. — Apenas não os magoe. Eles podem agir... Como diz a Kyra... como se estivessem com um pau enfiado na bunda. — Ele deu um pequeno sorriso. — Mas são leais, honestos e possuem o maior coração do mundo dentro de seus peitos. — Sim, senhor. Obrigado por me acolher aqui. — Apertei seu ombro como resposta. — Eu vou ajudar como puder, eu prometo. — Talvez até seja estranho para você me ouvir, Max, mas é como se eu o tivesse ao meu lado uma vida inteira. Você tem o mesmo rosto das duas pessoas que eu mais amo no mundo. — Obrigado, Sr. Jackson. — Eu me sentia realmente grato por ele. — Sei que você já é um homem formado, mas há mais futuro em sua vida do que passado, então, se você permitir, se ficar, eu posso ser o pai que achou que encontraria aqui. — Eu ficaria feliz se fosse. Ele me puxou para um abraço tão apertado, que foi como se eu houvesse acabado de encontrar tudo o que havia procurado por anos. Jimmy não era meu pai biológico, nem meu pai de criação, mas ele estava me dizendo que gostaria de ser, apesar de tudo.

— Você quer as informações sobre os seus pais? Posso pedir para que alguém lhe envie pelo correio. Uni as sobrancelhas, pensativo, mas achava que não precisava me atormentar com algo que não mudaria em nada a minha vida. Eram viciados que não puderam amar seus próprios filhos, então eu tinha a certeza de que não encontraria nada que fosse bonito lá. — Não, não acho que eu precise disso. Um sorriso de pesar curvou em sua boca. — Coloque um pouco de juízo na cabeça de Ty, porque ele parece... eu não sei, ele apenas não está em bom juízo. — Tudo bem. — E quanto a Ky... A simples menção ao seu nome fez meu coração saltar no peito. — Não há nad... — Ela é uma boa menina. O que teve com TJ, eu sempre soube que era carnal... Mas se você... como vocês dizem hoje... — ele uniu as sobrancelhas. — Se você estiver mesmo na dela, seja honesto com o seu irmão. Ele vai entender. — Tudo bem. — Até mais, filho. Sentia-me pequeno, mesmo com quase 1,90m de altura e me sentia encolhido e fraco, mesmo com meus noventa e cinco quilos. Talvez aquilo se chamasse vulnerabilidade. Eu nunca tive que respeitar ninguém que não fosse eu mesmo, pensar em outra pessoa em primeiro lugar. Eu não sabia o que era ter irmãos. Simplesmente caía fora quando o negócio começava a ficar tedioso, regrado ou pilhado demais. Nunca tive amarras, nunca gostei delas, mas, naquele momento, olhando as costas

de Jimmy Jackson enquanto ele se afastava de mim, eu me sentia amarrado a outras quatro pessoas de uma única vez, e nunca senti tanto medo na vida, quanto sentia de perdê-los.

— Então vocês... estão juntos como um casal? — Beth arqueou as sobrancelhas três vezes. Não, ele apenas usou seus dedos mágicos em mim. — Não — respondi, revirando os olhos. — Foi apenas um beijo, Beth. E que beijo... Eu ainda podia sentir sua boca sobre a minha. — Certo... e... você contou algo a TJ? — Ela me encarou de uma forma estranha. — Não... — Por quê? Você acha que ele sente algo ainda por você? — Tales e eu somos amigos que confundiram as coisas. Não acho que ele sinta algo por mim. — Passei um pano úmido no balcão. — Só que nós terminamos no sábado e Max e eu nos beijamos na madrugada de domingo. — Oh... é verdade. — Ela desviou os olhos. — Eu sei, eu me sinto uma vadia por isso. E, além disso, há todo o drama rolando entre os irmãos Jackson. — O Sr. Jackson está na cidade, certo? — Como sabe? Ela se virou de costas para usar a pia para lavar as mãos.

— Eu devo ter ouvido alguém comentar. — Oh, sim, ele está. — Apoiei meu quadril no balcão. —Eles precisam resolver algumas coisas, estão se conhecendo ainda e eu não quero ficar no meio deles. — Entendi, sim, claro, você está certa, Ky. — Foi um erro deixar que as coisas com Max esquentassem tanto. — Mas ao mesmo tempo você acha que não é capaz de evitar. — Parece que está falando sobre você. Ela deu uma risada estrangulada, se afogando com a própria saliva, seus olhos lacrimejaram. Dei dois tapinhas em suas costas. O rosto de Beth estava tão vermelho quanto a regata que eu usava e ela ergueu as duas mãos até seus olhos, limpando o rímel borrado pelas lágrimas. Seu celular apitou sobre o balcão e meus olhos correram até ele, era uma mensagem de TJ. Beth enfiou o aparelho no bolso de trás e se inclinou sobre a bancada, retirando alguns copos de lá e os colocando na pia. Ela parecia desconcertada, estranha, atrapalhada, mas eu não sabia, não entendia como do nada Elizabeth começava a agir de forma duvidosa. — Vocês estão bem de novo? — perguntei e ela me encarou. — Nós... sei lá, é apenas TJ, Kyra. — Ela deu de ombros. — Estamos bem até ele fazer a próxima merda. — O que ele mandou para você? Será que deu tudo certo com seu pai? Meu coração batia rápido demais, porque eu sentia que estava prestes a surtar com a falta de notícias. Eu sabia que havia dado tudo certo entre eles na parte da tarde quando os quatro haviam tido uma conversa, mas deixar a casa para vir trabalhar enquanto eles se mantinham lá, cheios de testosterona e uma tendência a brigas e a foderem com tudo, me fazia pensar em Max subindo em sua Harley e se mandando.

Beth pegou seu celular do bolso de trás e abriu a mensagem, então seu rosto corou gradativamente e ela o virou para mim, me mostrando uma foto dos três. TJ segurava o celular, um sorriso tão grande nos lábios que seus olhos verdes se fecharam um pouco. Atrás dele estavam Ty e Max, ambos com o dedo médio em frente aos seus rostos. Eu queria sorrir, porque era a foto mais bonita que eu havia visto, apesar de tudo. Porque eu estava muito feliz por eles. Mas uma parte minha só conseguia pensar na quantidade de mulher que esquentaria a cama de Max agora que ele havia decidido ficar e pensar nele com outra pessoa me fazia querer quebrar coisas.

Eram duas da manhã quando entrei no meu quarto e encontrei Max deitado sobre a minha cama. Suas longas e torneadas pernas estavam cruzadas, seus cotovelos tocavam o meu colchão e ele segurava um livro aberto nas mãos, seus olhos presos nas páginas à sua frente e apenas uma luz fraca do abajur sobre o criado-mudo iluminava o quarto. Sexy, quente e inteligente como o diabo. Que grande coisa! Não era de admirar que eu havia permitido seus dedos em mim na madrugada passada. Seu cheiro estava por todo o lado, eu podia sentir, mesmo que ainda estivesse na porta. Eu a fechei, encarando-o em busca de uma explicação. O que era tão urgente que não podia esperar até a manhã seguinte? Seu rosto virou em minha direção e um pequeno sorriso se curvou em seus lábios. Deus, por que ele precisava ser tão quente, afinal? — Ei, Oklahoma. — Ele se ajeitou na cama. — Vim pegar minha jaqueta. — Claro que veio. — Revirei os olhos, porque eu sabia que ele estava arrumando um pretexto.

— Ela estava embaixo do seu travesseiro. — Seu sorriso se ampliou. — Você estava cheirando-a enquanto dormia nessa manhã? — Não seja convencido, Max. — Joguei minha bolsa no pufe. — Couro não parece confortável apenas para servir de apoio. — O que você quer? — Coloquei as mãos na cintura, meus olhos correram para sua regata cinza, o buraco para colocar o braço era tão grande que eu podia ver os músculos tatuados sobre suas costelas. — Pare de me olhar assim, Bruxinha. — Ele ergueu o livro no ar. — Eu estou com as mãos ocupadas agora. Eu senti a chama do inferno alcançar minha bunda. — Eu preciso dormir, Max. — A quem eu queria enganar, afinal? Maximum fechou o livro com força o suficiente para fazer barulho ao chocar as páginas divididas, então ele o colocou no criado-mudo e grunhi internamente ao me dar conta que era o meu livro. Oh, Deus! — Não achei que curtia ménage, você é bem... safadinha. — Cala a boca, Max! — Eu queria enterrar a cabeça na minha própria bunda. — Esse negócio de preencher todos os buracos... Quando começou a curtir? — Ele jogou suas pernas para fora da cama e sorriu. — Esse livro nem é meu, Beth me emprestou tem algum tempo... — Oh, sei... Claro, a Beth... — Ele parecia se divertir. — Pegue sua jaqueta e se manda daqui. — Caminhei até a cama e me inclinei sobre ele, pegando sua jaqueta embaixo do travesseiro. Eu a empurrei em seu peito e Max segurou meu punho, mantendo minhas mãos nele. Sua cabeça inclinada, seus olhos encarando os meus. Eu só conseguia pensar no que ele era capaz de fazer comigo e na forma desesperada na qual agia na sua presença, até mesmo nossos insultos

eram excitantes para mim. Seus lábios se mantinham em um aperto firme e sua mão livre tocou minha lombar, me puxando até ele. Eu larguei sua jaqueta em seu colo. — Kyra... — Ele tocou sua testa em meus seios, mas não era de forma sexual. — Isso que estamos fazendo... — Eu sei. — Passei as mãos em seus cabelos, os puxando para trás. — Mas é tão bom. — Ele beijou minha barriga e eu o topo da sua cabeça. Era, era muito bom. — Eu sei. Ele inclinou levemente a cabeça até que nossos olhos estivessem conectados novamente. O verde iluminado pela pouca luz do abajur o deixava ainda mais bonito e fazia sombras no lado direito do seu rosto. Corri meus dedos sobre sua pele, uma mão em cada lado de seu pescoço, a ponta do meu polegar tocando sua bochecha. Max parecia ainda mais bonito em minhas mãos, sendo meu, mesmo que minimamente. Suas sobrancelhas se uniram enquanto ele parecia lutar pelo próximo passo, mas sua boca se curvou em um pequeno sorriso e seus olhos se fecharam em seguida, quando sua mão me puxou com força até que nossas bocas colassem uma a outra. Eu fedia a cerveja outra vez, mas de novo eu não me importava, porque Max parecia igualmente faminto. Sua língua tocou a minha com tanta fome que todo o diálogo interno que dizia que não deveríamos continuar fazendo aquilo, foi calado momentaneamente. Quando eu estava longe de Max, eu pensava nele o tempo inteiro, mas também sabia que, além de não haver futuro, ainda era algo no qual prejudicaria seu relacionamento com seus irmãos, mas, quando eu estava perto dele, eu só desejava ter um pouco mais por um pouco mais de tempo.

Eu queria ao menos uma pequena coisa, uma mão na mão, uma mecha atrás da orelha, uma cotovelada num momento de piada, uma graxa no rosto que deveria ser removida. Qualquer coisa, sobretudo suas mãos em mim, e naquele momento eu tinha. Tinha Maximum em sua melhor forma, me beijando como o louco que parecia quando estava perto demais de mim. Suas mãos apertavam minha bunda com força o suficiente para arroxar minha pele branca, mas eu gostei. Seus lábios sugavam os meus, seus dentes eventualmente prendendo meus lábios inferiores. Montei sobre ele, uma perna em cada lado do seu corpo, o joelho afundando no colchão. O aperto forte de Max em minha bunda me arrastava sobre o volume que seu pau formava e eu me deliciei sentindo cada centímetro dele. Então ele parou de repente, usando tanta força para nos separar que meus cabelos balançaram para frente e depois para trás. Ele olhou para meus lábios vermelhos, depois para os meus olhos confusos e deixou que sua respiração escapasse pesada e barulhenta, até que finalmente se tornasse um sopro longo e silencioso contra o meu rosto. — Kyra... Apenas duas semanas, Kyra, respire. — Eu sei o que você vai dizer, Max. Sim, eu sabia, ele estava colocando seu irmão em primeiro lugar e eu respeitava sua atitude. — Eu não queria ter que fazer isso, Ky. — Suas sobrancelhas se uniram em confusão. — Não estou acostumado a pensar em ninguém em primeiro lugar, mas realmente não quero foder tudo. TJ confia em mim,

eu não quero que ele me veja de forma diferente, Kyra, eu realmente não quero que ele caia em si e veja o filho da puta que sou por chegar em sua casa e tomar sua namorada. Ele dizia como se eu fosse uma mercadoria e meu peito se rachou conforme ele continuou falando: — Eu beijei você quando cheguei, apesar de não saber sobre nada, mas continuei desejando beijar quando eu soube de tudo. — Ele passou as mãos no rosto e eu dei outros dois passos para trás. — Cada maldito segundo eu quis estar com minhas mãos em você e se isso não é ser um filho da puta egoísta, então eu não sei o que é. Ele é meu irmão, mesmo que ainda seja difícil de acreditar, mas é. — Nós somos duas pessoas que não fazem ideia do que esperar do futuro. — Dei de ombros. — Não havia como fazer funcionar de qualquer forma. — O quê? — perguntou furioso. — Por que eu não tenho a porra de dinheiro que vai garantir você? Arregalei meus olhos e afastei minhas mãos dele. — Você sabe que eu não sou essa pessoa. — Agora eu quem estava furiosa. Eu sentia como se estivéssemos em uma montanha-russa, quando estávamos seguros e plenos, nós descíamos os trilhos incertos em velocidade máxima, apenas para impulsionar uma nova subida. Subir, estabilizar e descer. Brigar, conversar, brigar. — Eu não sei o que pensar... É tudo novo pra mim, Kyra, você precisa entender. — É melhor você ir, Max. — Eu sinto muito, Oklahoma.

Dei um passo para trás e ele recolheu sua jaqueta do colo antes de se levantar, o couro rugindo entre seus dedos, o perfume alcançando meu olfato e o calor emanando da minha pele conforme ele se afastava de mim em direção a porta. Sim, eu entendia, entendia mesmo, mas não sabia se entenderia quando o visse com alguém porque eu me sentia desesperada apenas por pensar naquilo.

Há um mês eu estava evitando Maximum. Entrando em silêncio em casa depois do turno no bar, indo à cozinha em momentos que eu tinha certeza de que ele não estaria e usando o portão da frente para sair enquanto ele trabalhava em seus carros no fundo. Mesmo assim, não era o suficiente, porque eu o sentia presente em cada molécula que compunha meu corpo, em cada centímetro de parede da casa, toda vez que eu saía do meu quarto. Minha irmã Lizzie estava certa quando liguei para ela em um dia de folga e despejei toda a merda acumulada e reprimida: ela disse que nós deveríamos ter transado. Nós não o fizemos, e agora eu sentia que precisava dele dentro de mim todos os malditos dias. Talvez se nós tivéssemos terminado na cama, eu pudesse saber qual era a sensação de estar com Max e então a curiosidade, o desejo, tudo o que eu sentia por ele poderia sumir. E mesmo o evitando na maior parte do tempo, ainda assim, nós nos esbarrávamos o tempo inteiro. Quando eu abria minha porta e ele estava passando, quando eu estava preparando algum alimento e ele entrava na

cozinha, quando o maldito passava seu café e enchia a minha xícara ou quando eu chegava à sala de estar para um filme com os meninos e o único lugar vago no sofá era ao seu lado. Tudo o que eu fazia, cada passo, embora calculado, me atraía a ele e nossos pequenos momentos, nossas pequenas trocas de palavras, apenas servia como um lembrete de como eu me sentia ao seu lado. O destino esfregava na minha cara o quanto éramos compatíveis, tudo funcionava entre mim e Max, menos nós, é claro. E, embora eu sentisse muito, e eu realmente sentia, eu sabia que ele estava tentando ser honesto com seus irmãos e o respeitava ainda mais por isso. Eu o respeitava, até aquela noite. — É a primeira festa que você participa depois que ele... — Sim, eu realmente não queria estar nisso, mas apenas aconteceu e agora estou aqui, com os pés enfiados na piscina, enquanto o vejo conversar com uma garota linda. Omiti a parte em que dizia para ela que havia passado da meia-noite e que eu estava fazendo vinte e três, mas eu sabia que ela lembraria em algum momento. Ela tinha a mente de Einstein, mas se esquecia do meu aniversário todos os anos. — E como se sente a respeito? — Sinceramente, Tray? — Hum-hum... Sinceramente, Ky. — Eu nunca me senti tão mal por qualquer outra coisa. — Oh, Deus, apenas... UAU! — Eu podia ouvir o entusiasmo em sua voz. — Não é engraçado, realmente, eu nem sei o que pensar. — Você está apaixonada por ele, Kyra, é simples. — Naaah. — Uni as sobrancelhas, observando as mãos de Cami tocarem seu bíceps, o tirando da sua conversa com outra garota.

Ele não estava fazendo nada de mais, mesmo assim eu sentia que estava prestes a vomitar. — Sim, você está. Você não se importava realmente quando TJ conversava com outras garotas. Não, eu não me importava. — Por que diabos os irmãos Jackson precisam estar sempre com uma garota pendurada neles? — Houve um silêncio na linha e então eu prossegui: — Há três deles na minha frente e há seis garotas em volta, uma em cada braço de cada irmão. — Certo... — Sua voz era um sussurro. — Eu acho... que... bom, desculpe, eu preciso ir, Ky. — Não, espera! Quando você vem de novo pra cá, Tray? Ela suspirou do outro lado da linha. — Ação de Graças, talvez, eu não sei. Talvez eu não vá esse ano. Tô realmente cansada de drama. — Há algo de errado com você? — perguntei, preocupada. — Não. Eu a conhecia o suficiente para saber que ela estava mentindo. — Não? Então por que eu sinto que devo me preocupar? — Eu sinto falta de casa ao mesmo tempo que sinto que não estou em casa quando estou aí. — Por que a vida é tão complicada? Eu podia vê-la dar de ombros. — Eu também gostaria de saber. Joguei meu corpo para trás, os pés ainda na água, então encarei o céu estrelado. — Está tão quente nessa noite que o calor pode derreter as bolas de um Buda de bronze — murmurei, sacodindo os pés na água.

— Oh, meu Deus! Me desculpe, Ky, eu realmente me esqueci! Dei um sorriso. — Você sempre esquece, Tray, que bela amiga de merda. — Eu quase senti pena de você por isso. — Vinte e três é a idade da crise existencial? Ela deu uma gargalhada do outro lado da linha. — Eu aposto que é, porque me sinto tão afundada na minha merda pessoal quanto você. Feliz aniversário! — Obrigada. O corpo de TJ, Ty e Max se curvaram sobre mim, três rostos iguais, mas com diferentes expressões. — Você está estranha demais. — TJ pulou na água e emergiu entre minhas pernas, enquanto puxava meu braço para que eu me sentasse. — Com quem está falando? É seu aniversário, você não pode passar ele pendurada em uma ligação! — Dá essa porra aqui! — Ty o puxou de meus dedos e levou o aparelho até sua orelha. — Espero que seja uma amiga gostosa de Ky — disse para Tray, sem saber que se tratava dela. Ele fechou os olhos e o sorriso que brincava em seus lábios se tornou um aperto rígido. — Tracy — ele murmurou e imediatamente o olhar de Max caiu sobre mim. — Vai se foder você também. Refleti sobre aquele momento, várias cenas antigas dançando em minha mente. O feriado de quatro de julho e a cadeira que Tray arremessou na parede, lembrei-me do nosso último dia de Ação de Graças e a forma como Ty parecia perdido e estranho. A pequena conversa que nós dois tivemos no dia em que ele se desculpou por agir como um idiota ao me repreender por trazer minhas amigas para casa.

Ele nunca havia se importado com aquilo, mas ficou puto por ser justamente Tray a estar lá. Eu perguntei se ele conheceu alguém e ele respondeu que já a conhecia, o que só podia significar uma coisa... Oh, meu Deus! Max sibilou silenciosamente a frase “eu te disse” para mim, enquanto TJ me puxava para a piscina sem se importar que eu ainda estivesse de roupa. Ele me contornou com um abraço molhado e apertado o suficiente para estalar minhas costas. Eu ainda estava em choque e provavelmente estaria pelo resto da vida. Como eu pude ser tão cega? Desde quando aquilo acontecia? Ela evitava estar na cidade, evitava me visitar na casa e, principalmente, evitava Ty como o diabo evitava a cruz. O sorriso estampado no rosto de Max era vitorioso e eu me obriguei a fechar a boca ainda aberta. TJ se afastou de mim e eu encarei Ty, que apertava meu celular entre os dedos como se sua vida dependesse daquilo, seu olhar em minha direção só me dizia apenas uma coisa: ele sabia que eu sabia. Tales me encarou confuso, enquanto Max me lançava um olhar apreensivo. Pulei fora da piscina e apontei o dedo no peito de Tyson. — Kyra... — Max murmurou uma súplica que deixou TJ e Ty confusos. — Então é isso... — comecei. Ty inclinou sua cabeça e deu um passo para frente, tão ameaçador que quem não o conhecia de verdade, pensaria que estava disposto a me agredir. — O que porra está acontecendo? — TJ perguntou confuso. — Qual o seu problema? Você tem um milhão de vadias aos seus pés, por que não deixa ela em paz? Ele não respondeu, apenas continuou me encarando como o maluco que era.

— Fala alguma coisa, Tyson! — Esmurrei seu peito e ele sequer se moveu um centímetro. — Kyra... o que está acontecendo? — TJ indagou, baixinho, quase no meu ouvido. Eu o encarei antes de responder: — Tá acontecendo que eu acabei de descobrir que as pessoas vivem mentindo pra mim, isso que tá acontecendo. Você sabia, TJ? Ele parecia apavorado. — Não me envolva nisso, por favor. — Ele ergueu as duas mãos no ar. — Se não está disposto a ter algo decente com ela, então não foda com a sua mente. — É o que eu estou fazendo, Kyra. — O cheiro de álcool era forte o suficiente para eu saber que ele já havia passado do seu limite, mas sua voz era um murmúrio e a instabilidade dela me pegou desprevenida. — Você sabe tão bem quanto eu como esse negócio de se manter afastado pode se tornar fodido. — Seus olhos verdes caíram sobre Maximum e eu soltei um gemido estrangulado, enquanto Max sibilou a palavra porra. — Você é doente! — disse entredentes, voltando minha atenção para Ty. — Do que vocês estão falando, porra?! — TJ interveio, sua cabeça parecia prestes a explodir. A minha também. — Por que você não esquece um pouco de mim e não conta a TJ que esteve na cama de Max antes mesmo de vocês terminarem? As pessoas começavam a nos contornar, metade delas estavam em silêncio tentando escutar tudo o que dizíamos e a outra metade, cochichava. Eu estava perto o bastante para ouvir Camille dizer um

palavrão. Que ótimo, de alguma forma, Ty esperou para jogar sua merda sobre mim e me tornar culpada. Era o que ele sabia fazer de melhor, afinal. — Do que caralho ele tá falando? — TJ me encarou e eu me encolhi. — Você não sabe de nada, Tyson! — Eu o empurrei novamente e, dessa vez, seu corpo cambaleou para trás. — Eu tenho um bom ouvido. Acho que você se esqueceu disso, Oklahoma. — Ele me chamou pelo apelido que Max havia me dado e a voz de Ty era tão acusatória que eu me sentia imunda ao encarar TJ. — Nós precisamos conversar — disse, mas seus olhos estavam presos em Maximum. — Você fodeu com ela? — ele perguntou, seus punhos se fechando ao lado do quadril. — Fala direito... — Max deu um passo para frente. — Ela não é uma vadia, porra! Sua frase me defendendo havia respondido à pergunta e, então, o primeiro soco partiu de TJ.

O soco de TJ acertou o nariz de Max e ele cambaleou para trás, tentando se equilibrar, sua mão procurou por algo consistente, mas não encontrou, fazendo com que caísse no chão, suas costas batendo contra o piso que contornava a piscina. Ele fechou os olhos e grunhiu ao se contorcer de dor e quando os abriu, o verde pareceu negro encarando o irmão. — Por favor, TJ, não faça isso... — supliquei. — Não se envolva nisso, Kyra. Quando TJ deu outro passo em sua direção, Max nos surpreendeu ao não reagir, ele não tentou se levantar, apenas ficou lá, deitado, e eu me perguntei se ele se sentia bem ou se havia se machucado gravemente. Tales montou nele, seus joelhos tocando o chão, enquanto ele segurava o colarinho de sua regata trazendo o irmão para mais perto. As pessoas gritavam a nossa volta, Camille pedia para TJ ir em frente, eu para que parasse e Ty apenas se mantinha imóvel sem saber o que fazer, sua expressão não era de felicidade e sequer parecia saber como agir. O punho acertou exatamente o mesmo lugar e seu rosto virou para o lado, as mechas dos cabelos balançando, enquanto o sangue escorria livre. O que ele estava fazendo? Ele não estava reagindo.

— Meu Deus, TJ, pare! — Toquei as costas de TJ e seu punho se ergueu contra mim por reflexo, e pela primeira vez, Max reagiu, pegandoo no ar. — Eu dei a porra de um teto para você — TJ murmurou para Max, mas ele falava tão baixinho que me surpreendi por conseguir ouvir. — Sim você deu — respondeu, soltando os punhos do irmão quando percebeu que não era mais uma ameaça. O sangue escorria por suas bochechas e corria por trás de suas orelhas até alcançar o piso claro e se misturar às mechas de seus cabelos espalhadas por ele. As mãos de Ty me contornaram, me puxando para trás e me vi longe demais para poder ajudar em algo. Eu me debati entre seu aperto e o empurrei para trás, enquanto ouvia o som de outro soco acertar o rosto de Max. — Arrume essa merda! — gritei para ele. Havia visto Ty e TJ brigarem daquele jeito a minha vida inteira, mas eu nunca havia sido o motivo de suas brigas. Eu me sentia perdida, nervosa e a única coisa que eu queria era colocar minhas mãos em Max e ter o poder de tirá-lo daquilo, muito embora eu soubesse que ele se mantinha por livre e espontânea vontade. — Max! — gritei desesperada. — Apenas saia daí! — Podia sentir as lágrimas correndo livremente sobre o meu rosto. Ty tentou tirar TJ de cima do irmão, mas ele se desvencilhou do seu aperto. Os olhos de Max encontraram os meus apenas por um segundo, então ele se virou para TJ novamente e sussurrou algo que fez com que seu corpo enrijecesse. A mão de TJ segurou no ar um soco, que nunca chegou no rosto do irmão, e finalmente recuou, me fazendo soltar o ar preso em meus pulmões.

Tales saiu de cima do irmão, com uma expressão confusa e atormentada no rosto, ao mesmo tempo que Max ficava de pé. Ty, TJ e Max se encararam, mas nenhum deles disse nada, porque um estava concentrado em massagear os nós dos seus dedos, outro a limpar o sangue que corria de seu nariz e o último, na merda que fez. Todos a nossa volta faziam silêncio, esperando o momento em que TJ voltaria a bater no irmão, ou talvez um gatilho que fizesse Ty começar a esmurrar coisas, mas apenas a voz de McCarter rugiu em meio ao caos silencioso. — Você é um filho da puta de merda, Max. — Ele ergueu o copo no ar e lançou um sorriso bêbado. — E TJ? Você é um otário! Outros três garotos o contornavam, como se ele fosse um maldito rei, o problema era que ele estava tentando reinar no castelo errado e meu coração parou de bater quando Ty, TJ e Max se posicionaram um ao lado do outro, encarando McCarter e os outros idiotas. Todos prendiam a respiração, esperando pelo momento em que os trigêmeos começariam o grande show. A briga com Max havia se tornado apenas uma abertura. — Você cometeu um grande erro entrando aqui. — TJ deu um passo para frente, pronto para atacar McCarter, mas a mão de Ty tocou seu peito, o policiando por algum motivo. — Vamos em frente, maricas! — provocou. — Qual o seu problema, McCarter? — gritei para ele. — Vá para casa e se poupe de um vexame público. — Está ansiosa para o seu ménage à trois hoje à noite? — ele perguntou. Eu era capaz de ouvir a respiração trêmula de Max. — Seu problema é que você quer isso aqui. — Ty apontou para casa, depois para os irmãos e finalmente para mim. — Você quer ter carros e motos, uma puta casa onde tudo acontece, quer ter pessoas que estão por

você na morte e quer ficar com a garota. Mas você não tem, McCarter, porque é um merda! Eu podia ver o sangue subindo para o seu rosto. — Você nunca terá essas coisas, as pessoas não vão as suas festas porque é um cuzão. — Todos a nossa volta começaram a rir e ele deu um passo ameaçador para frente. — Vai se foder, Jackson! — ele gritou para Ty e então caiu para cima deles. Foi rápido o bastante, mas, ainda assim, eu vi o sorriso satisfeito no rosto dos três irmãos, afinal agora eles estavam se defendendo. Tudo começou, o punho de McCarter foi na direção de Ty, mas Max pulou na frente, baixando sua mão e o golpeando no rosto. Tyson encarou o irmão, com uma breve expressão de gratidão, antes de fazer o mesmo por ele quando outro garoto seguiu em sua reta. A briga ficava ainda mais feia a cada segundo, as pessoas se afastavam gradativamente por medo de serem atingidas, mas eles estavam apenas se aquecendo. Eu já não conseguia identificar quem era quem no meio de toda aquela confusão, mas havia um dos garotos de McCarter se contorcendo no chão. Eu continuava gritando que parassem, mas nenhum deles me ouvia. O nariz de Max foi atingido outra vez e senti que estava prestes a desmaiar ao ver a quantidade de sangue jorrar. TJ acertou o garoto que atingiu o irmão, seu punho batendo no rosto inúmeras vezes até que finalmente caiu. Naquele momento, havia apenas McCarter e outro na luta, mas os dois já não davam mais conta de Ty, TJ e Max. Tyson deu um soco certeiro no rapaz, que caiu como uma pena no chão, provavelmente sua mente lhe dizia que havia agido como um idiota quando entrou naquilo com os trigêmeos. Eu pedi para que parassem, os três contra apenas um era injusto, mas aparentemente eles sabiam, porque estavam se encarando

há tempo demais para eu saber que se perguntavam quem ficaria com ele, então Max deu um pequeno passo para frente, seus lábios curvados em um pequeno sorriso satisfeito. — Sou todo seu, McCarter — Maximum murmurou, mas por um bem maior seu oponente ergueu as mãos no ar. — Eu tô indo nessa — alegou entredentes. — Já? Estávamos nos divertindo tanto. — Max esfregou o maxilar. — Se colocar os pés nessa casa de novo, eu vou até a polícia! — gritei encarando suas costas. — Babaca! E então, todo mundo começou a gritar, murmurar, guardar seus celulares e dar pequenos toques de incentivo nos ombros dos garotos. Um bando de idiotas apoiando atitudes idiotas. Eu me virei e segui em direção a casa, minhas mãos tremiam tanto quanto minhas pernas. Caminhei até a cozinha e enchi um copo de água, tentando me acalmar, sabia que aquela noite ainda não havia acabado.

— Porra, foi mal, Max — Ty murmurou e eu me concentrei na conversa que começariam. — Você agiu como um idiota, Tyson! Eu nunca estive com ela quando estava com TJ. Meu coração de repente parecia prestes a explodir. — Eu sei, eu acredito, mas... — ele soltou o ar dos pulmões — eu costumo... agir como um idiota quando não sei como responder a uma pergunta. — Falar a verdade é um grande começo — Max disse, impaciente. — Se gosta tanto da verdade, por que não diz a ela como se sente? — Ele parecia desafiador. — Ela sabe como eu me sinto, Ty, e sabe como me sinto também com relação a TJ. Mesmo que ele nunca a tenha amado dessa forma, ainda assim me acho um maldito cuzão por estar com sua garota. — Eu ouvi o que disse a ele, você sempre soube, não é? — Juntei um olhar, uma mensagem, um comportamento, uma forma de agir e cheguei a uma conclusão. Ele parecia tão otário quanto eu ultimamente me sinto.

Ouvi a risada de Ty. Não sabia se ficava feliz por Max tê-lo desculpado ou brava por estarem falando de mim. — Isso acontece há anos — ele sussurrou. — Mas de uma forma que não chega a acontecer realmente... Do que estavam falando, afinal? — Não conte a ela antes dele, apenas. — Não é uma coisa minha, Ty, eu nunca o faria. Meu coração batia muito rápido, Ty e Tray terem algo já era novo demais para mim e eu sequer havia conseguido digerir aquilo e odiava a ideia de estarem debatendo sobre outro segredo. Eu odiava que escondessem as coisas de mim, quando eu sempre estive pronta para ouvi-los. Dei um passo para frente, decidida a intervir e dizer que estava bem ali e que não precisavam falar pelas minhas costas, mas a voz alarmada de TJ me fez frear. — Porra, Max... caralho! Era uma ótima frase para iniciar uma briga ou um pedido de desculpas, não tinha como saber. — Eu posso pegar minhas coisas agora e dar o fora daqui se você quiser — Max se apressou em dizer e senti minha garganta arranhar com o grito de protesto que nunca iria dar. — Então vai, porra! — ele gritou. — Sim, eu vou. — Sua voz era consistente, um lembrete escrito com letras gritantes que ele dizia a verdade. Houve um silêncio enlouquecedor por algum tempo. — Eu não sei como me sinto sobre isso ainda — afirmou entredentes. — Você não sabe, mas a sua primeira reação é foder com o meu nariz? — Ele fez uma pausa. — De onde eu vim, as pessoas conversavam antes de saírem no soco.

— De onde você veio, as pessoas também apunhalavam sua família pelas costas? — Eu não sei o que é ter uma família, porra! — gritou tão alto que eu me perguntei há quanto tempo Max queria dizer aquilo. — Foda-se, Max, eu nem consigo julgar você! — Ouvi um movimento rápido e, em seguida, algo se quebrando. Meu estômago se contorcia, eu estava prestes a vomitar. — Você não precisa fazê-lo, TJ, porque eu estou indo nessa. — Porra, não! — TJ me surpreendeu ao protestar. — Você tem que ficar. — Eu não posso fazer isso, Tales. Admiro você, mas eu não posso, eu não sei fazer isso sem foder com tudo. — E você vai ficar onde? Vai morar na rua? — Ty interrompeu os irmãos. — Já fiz uma vez e sobrevivi. — Você não tem mais treze anos, Maximum, e não está mais sozinho no mundo, porra! — Tyson estava gritando quando chegou no fim da frase. Meus batimentos cardíacos faziam com que minha respiração deixasse meus pulmões com dificuldade e eu tentei me concentrar em não deixar de respirar. — Eu fiquei puto, quem não ficaria? Que merda você teria feito? — Podia ouvir seus passos de um lado para o outro. Diferente de Ty, TJ sempre ficava eufórico depois de uma briga. — Eu teria feito mais do que foder o seu nariz — Max respondeu calmamente e Ty riu baixinho. — Me sinto melhor com essa informação — ele disse ao irmão.

— Eu... — TJ parou de falar, soltando um suspiro pesado, eu sabia que ele estava pensando em como se expressar e não arruinar tudo. — Eu não estive com ela, TJ, para o caso de estar se perguntando. E, de repente, eu me sentia um objeto que os dois jogavam um para o outro. — Nos beijamos, isso é tudo, mas não houve nada enquanto vocês estavam juntos. — Max soltou um suspiro alto. — No começo, eu sequer tentei ficar longe dela. Nunca tive de pensar em outra pessoa que não fosse eu, mas, quanto mais você se aproximava, mais eu tentava me manter afastado dela e no último mês, depois que decidi ficar... nós nos mantivemos cem por cento longe um do outro. — Eu não sei o que dizer — Tales admitiu baixinho. — Eu sempre soube que vocês não tinham nada sério, você agia como um otário com ela, de qualquer forma. — Porra, eu sei! Sexo, só sexo? — indagou, quase sussurrando. — Nós não tivemos isso... Eu tentei evitar, TJ, mas com ela nunca vai ser só isso pra mim. Oh, Deus! — Caralho, você gosta realmente dela! — Sim, porra, ele gosta — Ty murmurou. — E vocês precisavam ter essa conversa, porque eu sentia que estava enlouquecendo. Vá atrás da sua garota antes que seja tarde demais, Max. — Eu não sei se posso fazer isso, Tyson, eu estive sozinho por tempo demais. — Mas agora você não precisa mais estar. — E, Max — TJ murmurou —, eu vou contar a ela quando eu tiver uma oportunidade.

— Você deveria contar agora, porque, às vezes, a oportunidade surge num momento de merda e você acaba como eu. Com o nariz fodido e sem a garota. Tentei controlar minha respiração pelo máximo de tempo que pude. Minha visão àquela altura estava turva, minha adrenalina no pico e eu me sentia como se estivesse sendo apunhalada pelas costas. Eu precisava perguntar, precisava saber. Me sentia patética por estarem falando de mim, apesar de meu coração estar batendo apressado demais por Max declarar que sou mais do que sexo para ele. Um misto de sentimentos e emoções que me confundiam.

— O que você deveria contar, TJ? — Talvez minha voz não tenha saído tão forte e estável quanto ensaiei na minha mente. — Porra... — Ty murmurou, passando as mãos no rosto. Deslizei meus olhos em Max. Seu rosto inchado, seu nariz vermelho e o sangue espalhado por sua bochecha me fizeram sentir vontade de passar minhas mãos em volta dele e trazê-lo para mim. Seus olhos se arregalaram em confusão, antes dele baixar a cabeça e encarar seus pés descalços. — Nós já tivemos muito por hoje, Ky. — TJ deu um passo à frente e eu dois para trás. Sim, nós tivemos demais por um ano inteiro. Primeiro Tracy e Tyson, depois Max e eu, em seguida, a briga de McCarter com os três, e agora o quê? — Nós já estamos afundados na merda, TJ, fala logo o que tem a me dizer já que meu aniversário foi arruinado quando vocês três me contornaram na piscina. — Eu posso ficar a sós com você? — perguntou. — Não acho necessário, uma vez que todos vocês sabem o que você está escondendo de mim.

— Eu... conheci uma garota há muitos anos — ele começou e senti vontade de puxar uma cadeira e me sentar. Parecia uma longa história de merda. — No começo, nós vivíamos brigando, brigávamos o tempo inteiro, na verdade. — Parece familiar — Max murmurou. — Para mim também — Ty sussurrou, me fazendo pensar por um momento na relação que ele tinha com minha melhor amiga. Aquilo não chegava nem perto do que eu tinha com Maximum. — Nós brigávamos o tempo todo que passávamos juntos. Opiniões diferentes, gostos diferentes, pessoas muito diferentes. Você sabe como eu era, Kyra, vivia com minha cabeça enfiada na minha própria bunda. — Ele deu de ombros. Sim, ele vivia. TJ ainda era um idiota, mas ele fazia mais sentido agora. Seu ego no high school sendo o quarterback era o suficiente para se sentir um Deus e ter todas as garotas em meio as suas cobertas. Não que fosse diferente agora, mas ele era o tipo de cara que via todas as cabeças virarem em sua direção quando ele atravessava o corredor dos armários. Ele era o garoto mais popular da escola, assim como ainda é da faculdade. — Ela era a menina que tinha uma vida dura, pais de merda e responsabilidade demais para a sua idade e eu era o garoto mimado que tinha o mundo e estava sempre com o pau enfiado em algum buraco. — Você ainda é essa pessoa — respondi e Ty soltou um risinho. — Não, Kyra, você sabe que eu não sou — ele reafirmou, não estava brincando ou tentando ser engraçado, TJ estava falando sério e isso chamou minha atenção para algo que eu sabia que era importante. — Eu

me apaixonei por ela, nós ficamos juntos e eu fodi com tudo. Eu não queria estar em um relacionamento sério, era novo demais e tinha um mundo de possibilidades. Eu realmente fodi com tudo. — Já sou capaz de sentir pena dela. Seus olhos desviaram dos meus e eu sabia que a grande bomba ainda iria estourar. — Depois disso, eu sempre estive correndo até ela sempre que faço merda e ela continuou estando lá, como uma amiga. Eu me metia em encrencas e ela abria seus braços generosos para mim. Ela foi meu segredo por algum tempo, eu não queria que ninguém a enxergasse porque era egoísta demais para querer que fosse apenas minha. — Ele fez uma pausa, passando as mãos no rosto. — Nunca falei dela para você até que a apresentei um dia, como uma amiga, mas eu nunca falei o quanto eu amei aquela garota. — Okay... — Eu estava realmente assustada com a forma na qual TJ falava de amor. Seja ela quem for, merecia meu respeito por ter aturado suas merdas por tanto tempo. — Antes de tudo, Kyra. Eu só queria dizer que nada acontece entre nós há muito, muito tempo, e que ela sempre te respeitou, de verdade. Nós nunca fizemos nada pelas suas costas. Hoje, nós somos apenas amigos. De repente, eu estava nervosa demais com tanta informação jogada sobre mim. Eu ainda não conseguia raciocinar, não conseguia juntar as peças daquele quebra-cabeça mesmo que elas estivessem todas lá. Uma amiga? Como? Como eu pude ser tão cega a ponto de não ver TJ apaixonado por alguém? A ponto de não enxergar o que acontecia entre Ty e Tracy? Talvez eu não fosse tão esperta quanto pensei que era.

— De quem você está falando, TJ? Você só tem a Beth e eu como amigas. Seus ombros caíram em derrota como se nada mais precisasse ser dito e eu me senti uma completa idiota. Oh, meu Deus, como eu pude... — Desculpe por manter isso longe de você, Ky, eu realmente... deveria ter contado. Oh, meu Deus, meu Deus, meu Deus! Eu não sabia o que dizer ou como agir. Eu tinha meus últimos anos passando em minha mente como um filme. Todas as vezes que falei de TJ para ela, que contei sobre ele estar com uma garota, ou chateado por alguma coisa, ou até mesmo como ele era na cama, todos os segredos que confidenciei a ela, os detalhes em estar com ele. Eu passei a mão no rosto, respirando com dificuldade, pensando em como a mente dela deveria estar fodida com imagens que não pediu para ter. — Ela ama você ainda? — Eu não sabia se era uma pergunta ou uma verdade jogada sobre ele, mas minha fala o havia surpreendido. — Hã, eu... — ele gaguejou. — Eu... não sei... nós apenas paramos de falar sobre isso há muito tempo. — Merda! Eu não fazia ideia. Estava surpresa comigo mesma por não estar surtando por TJ ter agido pelas minhas costas. Mas eu não o amava, não daquela forma, eu o amava como uma amiga, e amava Beth, apesar de ela estar sempre escondendo algo de mim. Agora fazia sentido, ela não escondia algo, escondia o que sentia por TJ. Agora sim fazia sentido uma pessoa que escreve sobre sexualidade, não querer falar sobre sexo. Ela não se importava de falar sobre isso, se importava de falar sobre Tales, por quem ainda era apaixonada.

— Ela ama você — murmurei, com as imagens e conversas com Beth repassando em minha mente. — Não é algo que vá acontecer, de qualquer forma. — Deus, você é tão babaca, Tales! Deus, como você consegue ser tão idiota?! — Eu sinto muito por não ter contado, Ky. — Não estou falando sobre isso, estou falando sobre você fazer o que fez com ela. Ela ama você, como acha que ela se sente sendo amiga sua? Você deveria ter se afastado dela. — Eu não conseguia — confessou. — E por isso decidiu agir como um egoísta e compartilhar com uma garota que ama você, sobre suas transas de uma noite? Como acha que ela se sentia? — Ela sempre quis contar a você, Kyra, mas ela tinha medo de como você iria lidar com isso, tinha medo de as coisas ficarem feias no trabalho e ela ter que sair de lá. Você sabe o quanto ela precisa daquele emprego. Você não está com raiva dela? — perguntou confuso. — Não, quer dizer, é claro que eu me sinto uma idiota por não ter enxergado, mas, porra, é a Beth, TJ, eu gosto realmente dela e consigo enxergar com clareza porque você também gosta. — Obrigado. — Ele parecia aliviado. Eu queria me sentir daquela forma com relação a Tracy também, mas o problema é que eu via como TJ apoiava e estava sempre lá para Beth, como um amigo, quando na verdade Ty agia como um filho da puta sempre que estava na presença de minha melhor amiga. — Você a ama? — Eu me virei para Ty, meu coração batendo rápido demais.

Ele arregalou os olhos por um segundo, então deu as costas para mim enquanto dizia entredentes: — Eu não vou falar de amor com você, Kyra. — E depois disso, o som da porta foi alto o suficiente para que eu tivesse uma resposta. — Há mais algum segredo que eu deveria saber? — perguntei. — Nada — TJ se apressou em dizer. Meus olhos encontraram o verde confuso e Max desviou o olhar para os pés, ele parecia nervoso demais. — Há algo, Max? — perguntei, meu estômago se contorcendo com a possibilidade de haver algo a mais. — Não — ele negou, mas eu não estava cem por cento certa de sua resposta. Talvez fosse apenas trauma pela última hora infernal que vivi. — Tudo bem, então — assenti. — Eu estou indo dormir. — Eu estou indo nessa — TJ se despediu ao perceber que Max e eu nos encarávamos por tempo demais. — Resolvam suas merdas. — Ele apontou para nós dois antes de sair. — Eu gostaria de desejar um feliz aniversário, Oklahoma, mas acho que é tarde demais para usar a palavra feliz no meio de tanta merda. “Eu gostaria que você me abraçasse”, pensei. — Eu acho que a gente deveria começar limpando tudo isso. — Apontei para o seu rosto e ele assentiu. Eu só não sabia se estava preocupada com seus ferimentos ou se era uma desculpa para ter minhas mãos sobre ele depois de tanto tempo. Sentia que eram as duas coisas, mas a segunda opção gritava mais alto naquele momento.

Passei um pano úmido sobre seu rosto, a ponta dos meus dedos deslizando em sua pele. O cheiro de metal do sangue se misturava a um perfume passado há muito tempo. Seus olhos acompanhavam cada movimento meu e eu sentia que estava fazendo tudo errado, mas não estava, havia limpado os ferimentos de Ty e TJ mais vezes do que eu jamais poderia contar. Max abriu levemente a boca, uma pequena lufada de ar escapou entre seus lábios aquecendo a pele do meu rosto. Tentei me concentrar no que estava fazendo, mas meu único desejo era correr minhas mãos sobre ele e beijá-lo, Deus, eu queria tanto sentilo outra vez. Me sentia desesperada por estar com Max, por conhecê-lo melhor, e já nem me importava mais se não teríamos um futuro juntos, ou qualquer outra coisa que me fazia pensar que não daria certo. Eu apenas queria... tentar. — Como você se sente? — ele perguntou, sua voz era tão baixa que levei três segundos para compreender as palavras. — Melhor do que você, aposto. Ele curvou os lábios minimamente para cima, em um pequeno sorriso que me fez querer sorrir também. Seus cabelo caído sobre a testa me fez desejar empurrá-los para trás e eu o fiz. Meu coração batia tão rápido a

ponto de me deixar desconcertada. Eu estava apaixonada por Maximum, puta merda, eu estava, porque não queria fazer nada além de tocá-lo, beijá-lo e desejar estar com ele o tempo inteiro. — Por que você está me olhando assim, Oklahoma? Eu sempre me considerei uma garota corajosa, mas lá estava eu deixando o medo engolir palavras que certamente não teria coragem de dizer. — Nada... — Que grande idiota, Kyra! — Parece que você quer tirar um pedaço meu. Não, eu quero você inteiro, Max. — Dói? — perguntei, pressionando a curvatura do seu nariz e ele recuou com um gemido que me fez dar um passo para trás, então sorriu. — Eu estou brincando. — Sua mão posicionou na minha lombar e ele me puxou em sua direção, meus seios na altura do seu rosto, entre suas pernas, enquanto se mantinha sentado na cama do seu quarto. — Eu me assustei. De repente, parecia que as palavras estavam presas em nossas gargantas, mas apenas as erradas escapavam por ela. Nossos olhos diziam que nos queríamos, mas nossas bocas falavam coisas sem significado algum. O rosto do meu pai surgiu na minha mente, ele teria vergonha de mim se me visse reprimindo meus sentimentos, havia sido criada para gritar ao mundo o que eu realmente queria, mas me via afundada em um curso que não gostava e apaixonada por alguém que não fazia ideia sobre o que eu sentia. — Odeio meu curso de História, eu estive apaixonada por um tempo, me vi obcecada por conhecer sobre tudo, em uma época, mas agora não me vejo ensinando sobre isso. Nem sequer trabalhando na área, de nenhuma forma. Não estou feliz. — Mantive minhas mãos no pano que

continuava esfregando em seu rosto e observei sua expressão confusa. — Eu tenho medo de magoar meus pais, eles estão felizes falando sobre sua filha em Boston prestes a se formar. E eu não quero viver na Geórgia, não gosto daquela cidade, não vejo um futuro lá e me sinto uma idiota, irresponsável e desnaturada por não querer estar perto do meu sobrinho. Quer dizer, eu o amo e gostaria de estar perto dele, mas não na Geórgia. — As palavras escaparam de minha boca e eu me senti aliviada. — Eu não sei o que gosto de fazer de verdade. — Dei de ombros. — Uau — ele murmurou. — Fica quieto, eu ainda não terminei. — Eu o observei assentir, com um sorriso. — Nunca comentei com ninguém sobre essa merda, todos acham que estou feliz e prestes a me formar, nem mesmo Tray sabe. Eu não consigo enxergar um futuro para mim, não sei o que fazer ou para onde ir. — Você não deveria largar a faculdade. — Não é um conselho que eu esperaria de você. — Eu mal sei usar um celular, mas não sou um idiota. Você está quase alcançando seu diploma, apenas se certifique de que tenha uma garantia para o futuro; e depois que se formar, você pensa sobre um curso novo ou sobre qualquer outra coisa que tenha vontade de fazer, seus pais irão entender, eles são incríveis. Abri o maior sorriso que eu poderia dar. — Sim, bem, eu acho que você está certo. — É claro que estou. E sobre a Geórgia, você não precisa ir. Pode visitar sua família sempre que estiver com saudades. — Eu me sinto mal por isso.

— Então não sinta, você não pediu por isso, Ky. Seus pais se mudaram para outro estado porque sua irmã conheceu um cara e se mandou para lá. Você definitivamente não tem que ir. — Não? E eu vou morar aonde? Porque eu tenho um emprego de merda em um bar onde preciso mostrar meus peitos para ganhar um extra em gorjetas. Seria complicado pagar um aluguel. — Tenho certeza de que Ty e TJ não se importariam que você vivesse aqui. — Não, eles não se importariam, mas... eu não quero vê-los vivendo suas vidas como adultos formados em algo que realmente gostam, trabalhando em empresas grandes onde seu pai é sócio ou proprietário, ou qualquer outra coisa, enquanto eu moro de favor em sua casa e trabalho em um bar. — Você precisa se descobrir. — Como? Parece tão simples para você, Max, mas não é. Você nunca teve que tomar essa decisão. Assim que as palavras saíram da minha boca, eu praguejei por ser tão insensível e egoísta. — Eu sinto muito, não quis dizer realmente isso. — Eu não tive boas oportunidades na vida, Kyra, minha maior vitória foi ter sido encontrado na rua e acolhido por um cara aos treze anos. Meu coração de repente parecia pesado demais e congelei minhas mãos, segurando as laterais do seu rosto, sentindo o toque de uma mão na parte de trás da minha coxa. — Eu sei, eu sinto muito. — Eu não entraria em uma faculdade nem que viessem me buscar na porta todos os dias, apenas não é para mim, não por quem eu fui, por quem eu sou hoje ou por tudo o que eu nunca tive ou terei um dia, mas

apenas porque eu amo o que eu faço. Eu conserto carros, trabalho em motores e faria isso pelo resto da minha vida. — Eu gostaria de pensar assim sobre alguma coisa, mas não me vejo em nada. — Você precisa de um tempo. Precisa parar de pensar nisso. Às vezes, as coisas chegam até você quando deixa de procurar por elas. — Eu vou parar de correr ou me preocupar com meu peso desde que eu esteja saudável. Eu não quero estar sempre preocupada se vou entrar em um jeans ou não, quero apenas experimentar um número maior e ficar tranquila com isso. Suas sobrancelhas se ergueram e ele sorriu, compreendendo que eu estava me abrindo com ele acerca de tudo. Jogando minhas verdades sobre a mesa e esperando que ele as acolhesse. — Concordo com você, não acho que uma bunda grande seja um problema. Você tem um corpo que eu gostaria de foder o tempo inteiro. Prendi o ar dos pulmões, sentindo meu rosto pegar fogo com o direcionamento que aquela conversa havia tomado. Max sorriu como um filho da puta e eu quis beijá-lo novamente. — E eu nunca havia andado de moto até aquela vez que você me deu uma carona em sua Harley — soltei outra verdade e Max arregalou os olhos, o sorriso se alargando no rosto. — Fico feliz em ser seu primeiro. — Ele parecia tão dono de si quanto realmente era. — Eu amei, gostei de verdade de estar sobre ela e de sentir o vento no meu rosto e da liberdade em saber que eu poderia ir para onde eu quisesse. — Sim, talvez eu lhe compre uma jaqueta de couro no seu próximo aniversário, quem sabe no Natal?

Eu estava ansiosa por isso e o fato de Max estar fazendo planos que me envolvia em seu futuro, me deixava ainda mais. — Certo, eu realmente gostaria disso — respondi, um pouco sem jeito. Eu sentia que estava respondendo a ele sobre querer estar com ele no Natal, ou em um ano, no meu próximo aniversário. — Okay. — Ele encarou meus lábios, parecia faminto. — E eu gosto de você, Max. — Minha última confissão fez seus olhos encontrarem os meus. Meu coração batia rápido demais e considerando sua respiração pesada e desregulada, eu sabia que o dele também. — Eu sinto que não o conheço realmente, tanto quanto sinto vontade de conhecer. Quero saber tudo sobre você: o que suas tatuagens significam, conhecer seus medos e suas fraquezas, como foi sua vida; quero detalhes, dos bons e maus momentos. Quero saber seus gostos, provar suas coisas preferidas, eu realmente quero passar meu tempo com você, Maximum. — Fiz uma pausa, retomando o ar, encarando seus olhos verdes que pareciam brilhar naquele momento. — Porque no meio de tudo o que sinto que está errado, você é a única coisa que parece ser certa para mim.

— Seu macarrão com brócolis foi minha primeira refeição de verdade depois de muito tempo. Verdades. Ele estava me dando suas verdades. — Você tem um gosto tão doce que eu me senti viciado quando abriu a porta e me beijou quando cheguei aqui há um mês e meio. — Ele deixou sua boca se contorcer em um sorriso e uma covinha se aprofundou em sua bochecha. — Gosto do seu biquíni vermelho, e de encher sua xícara de café de manhã porque faz eu me sentir seguro de uma forma que não sei explicar. Prendi o ar nos pulmões. — Eu quero pegar minha Harley, criar uma rota e seguir viagem; quero não ter pressa e aproveitar cada momento. Eu realmente queria conhecer as Carolinas do Sul e do Norte, quem sabe dar um pulo na Geórgia e passar sobre a roseira do Sr. Moretti como vingança. Dei uma gargalhada alta e cobri a boca com as mãos. — Meu pensamento inicial era ir até a Flórida, mas confesso que estou tentado a seguir pelo Oeste, atravessando o Alabama, Mississippi, Arkansas... — A Oklahoma! — gritei, terminando sua frase. — Você é louco!

— Eu fiquei curioso quanto a Cave House, confesso. — Você não está perdendo nada. De qualquer forma, não acho que sua moto chegue até lá. Ele pareceu ofendido. — Você acha que minha Harley não aguenta umas trinta horas de viagem? Estou realmente ofendido por ela. — Ele uniu as sobrancelhas, pensativo. — Eu poderia cortar para o sudeste, confesso que sempre quis conhecer a vida noturna de Nova Orleans e, quem sabe, eu pudesse seguir para a Flórida depois. Sorri, satisfeita com o pensamento de Max conhecendo todos esses estados. — Nova Orleans realmente está na minha lista. — Então você tem uma lista? — Maximum parecia verdadeiramente interessado. — Nada por escrito, apenas uma lista mental que eu costumo acreditar que farei um dia, embora eu tenha certeza de que não. — Por que não? — Realidade, Max. — Se você viver apenas para a realidade, então, quando estiver velha demais, vai olhar para trás e apenas enxergar uma vida regrada e vazia. Você irá querer poder voltar para o início, apesar de saber que jamais irá conseguir. Vai estar velha e arrependida. Meu coração errou uma batida. Ele estava certo. — Você está certo. Quem sabe, eu compre uma Harley para mim e faça isso. — Ou talvez você monte a minha e vá comigo. Mais uma vez, ele estava me colocando em seu futuro. — Talvez.

Ele beijou a ponta do meu nariz. — Mais verdades? — perguntou e eu assenti, ansiosa. — Eu gosto do seu cabelo preso em um rabo de cavalo e de vê-lo se mexer com força para os lados quando você está brava por algo que eu disse e sai marchando para uma corrida, que eu sei que não quer fazer. — Seu sorriso se abriu de uma forma que eu nunca seria capaz de descrever, alcançando seus olhos. — Eu gosto que você saiba manusear uma arma, que ande com spray de pimenta e que me desafie. — Posso colocar uma maçã sobre sua cabeça e acertá-la se quiser. — Eu realmente gostaria de tentar isso. Deus, eu realmente estava apaixonada por ele! — Eu gosto como você pode ser audaciosa e mesmo assim corar por um elogio pequeno, e ainda mais de tirar você do sério. E eu realmente gosto do fato de você também gostar dos apelidos que dou para você. — Eu não gosto não — menti, aturdida com a quantidade de verdades que ele jogava sobre mim. — Senti inveja do que vocês tinham aqui, eu realmente quis não ser eu, quis ter sido um deles. Saber que por um impulso alguém os pegou no colo e não me escolheu para entregar para o Jimmy. Saber que por um único ato impensável, alguém definiu meu futuro, me deixou enlouquecido, mas quando TJ e Ty estiveram por mim, eu realmente não quis que isso acontecesse, porque não quis que um deles tivesse o meu passado. Eu não era capaz de dizer nada, apenas fiquei encarando Maximum, cheia de pesar e com muito mais vontade de beijá-lo naquele momento. — E tudo o que eu quis desde que cheguei aqui, foi estar com você, em cada maldito momento meu. Toda vez que nos esbarrávamos, meu único desejo era parar você e enfiar minhas mãos em qualquer parte do seu

corpo, apenas para sentir que eu a tinha, mesmo que por um segundo, Oklahoma. Eu também gosto de você. Eu realmente gosto muito. Eu não podia dizer quem estava sorrindo mais, porque ele se moveu tão rápido que, em menos de um segundo, seus lábios cobriam os meus. Suas mãos corriam sobre a lateral do meu corpo, até alcançarem minha bunda e ele me puxou para o seu colo. Eu me sentia desesperada e louca por ele, apenas ele. Minhas pernas contornavam sua cintura e eu as cruzei, apertando meu corpo contra o dele ao passo que sentia seu membro crescer embaixo de mim. Nunca desejei nada na vida como desejava Max naquele momento. Um mês tentando evitá-lo havia apenas trabalhado em intensificar o desejo que sentia por ele. Sua língua encontrou a minha e roubei sua lufada de ar, minhas mãos deslizavam sobre os seus cabelos, e eu me mexia ansiosa em seu colo. Tudo tão rápido e tão bom que me fazia desejar mais. Mais, eu queria muito mais. — Deus... — ele murmurou. — Oh, sim. — Kyra, apenas não me peça para parar... — Seus lábios fizeram um rastro no meu pescoço até minha orelha. — Nunca. Em um ato preciso, ele me girou, me colocando por baixo, minhas mãos alcançaram a bainha da sua regata e eu a puxei para cima, jogando em um canto no chão. Abri sua bermuda e ele afastou seu quadril para que eu pudesse empurrá-la para baixo, seus pés terminando o trabalho por mim. Ele retirou minha roupa, seus dedos percorriam sobre minha pele, causando-me arrepios.

Max apenas de cueca e eu apenas de biquíni, uma imagem que daria um belo quadro pintado à mão, que eu gostaria de ter pendurado sobre a cabeceira da minha cama. Ele segurou as laterais do meu rosto pondo tanta cautela e precisão no toque que até mesmo eu pensei que pudesse quebrar. Seus lábios brincavam com os meus de forma tão particular que me fez sentir única entre suas mãos. — Você não tem ideia do quanto eu quis isso — murmurou, parecendo tão perdido quanto eu realmente me sentia. Max esticou sem corpo até o criado-mudo, retirou um pacote metálico de lá, ele o abriu usando os dentes e se ajoelhou em minha frente, me fazendo observá-lo em sua melhor forma. Talvez aquela imagem sobre minha cama seria mais interessante, afinal. Ele posicionou o látex sobre a cabeça do seu pau e sua mão forte e grande desceu sobre a base, envolvendo toda a sua pele ao material emborrachado. Ele parecia tão quente que eu poderia passar horas olhando-o fazer, mesmo que levasse apenas alguns segundos para aquilo. Max deixou escapar um sorriso de lado, tão convencido que eu me perguntei com quantas garotas ele havia estado e o pensamento me apavorou. Me enciumou de uma forma que nunca estive. Seus olhos não deixaram os meus por nenhum segundo enquanto seu corpo grande me engolia por completo. Após posicionou seu pau no meio das minhas pernas e eu prendi a respiração, me preparando para o que eu achava que seria tê-lo me preenchendo, mas nada na vida jamais havia me preparado para aquilo e eu me vi desesperada. Nós dois congelamos, meu peito inflou e quis gritar eu te amo, mas dizem que os eu te amo ditos durante o sexo não são verdadeiros, então não fiz. — Caralho — murmurou e eu sorri, mesmo apavorada.

Nós dois soltamos o ar juntos, cautelosos em nos mexer. Ele me observou por um momento, como se estivesse registrando aquele momento em sua mente, sem pressa, me torturando. Queria perguntar a ele se havia sentido aquilo, mas não saberia reagir positivamente a um não, portanto me mantive em silêncio, apreciando a sensação de tê-lo me preenchendo completamente. Max começou a se mover lentamente, enquanto murmurava, se lamentando por não termos feito antes. Eu também gostaria de saber, parecia um mês perdido naquele momento. Seu quadril batia contra o meu e o contato de nossas peles gritava no silêncio, fazendo tornando a realidade mais presente. Contorci-me sob ele, sentindo sua mão pesada descer sobre o meu estômago até meu clitóris inchado, pressionando seu polegar com força sobre ele, fazendo com que eu me engasgasse com um gemido. — Apenas não pare — supliquei. — Nem se eu quisesse, Oklahoma. Eu me sentia fundida a ele, como se houvéssemos nos tornado uma pessoa só e eu gostava daquela sensação. Max gemia e sussurrava com a boca encostada a minha bochecha, nosso suor se misturando um ao outro de uma forma particular. Segurei os lençóis entre os dedos, arqueando o corpo em sua direção. — Caralho, você está tão molhada... A pressão que ele fazia no lugar certo era tão boa que chegava a doer e meu corpo estava prestes a desmoronar sob ele, da mesma forma que sabia que Max estava quase lá também. Ele metia tão forte que a cama se mexia em direção à parede, fazendo-me gemer ansiosa para o orgasmo que vinha. Eu estava na beira de um prédio e me jogava dele, mas não estava caindo, eu flutuava em direção ao chão, lentamente até que...

— Max! — Eu o apertei, as pernas em sua cintura, uma mão em sua nuca o puxando para mim e outra em suas costas, as unhas enterrando em sua pele. — Oh, porra, isso é... — Ele deu uma última estocada e senti seu pau se contrair dentro de mim. — Bom pra caralho. Ri, me sentindo feliz a ponto de querer gritar para o mundo que havia feito sexo com Maximum. Seu corpo desmoronou para o lado, ele me puxou para um abraço e me aninhei nele, nossos corpos se encaixando da melhor forma, como se tivessem sido moldados para estarem juntos. Ele beijou o topo da minha cabeça e passei a mão em seu abdômen, apoiando a cabeça em seu peito. — Sim, isso é... — Meus dedos traçavam suas tatuagens, enquanto a observava subir e descer em um ritmo lento conforme Max recobrava o fôlego. — É um anjo resgatando uma humana do limbo, ela significa redenção — ele começou. — Fiz aos dezoito. — O que aconteceu aos dezoito? O riso amargo que Max deixou escapar apenas me fez desejar pegá-lo no colo e nunca mais soltá-lo. — Foi quando eu parei de me importar. — Eu sinto muito — murmurei, a boca colada na pele do seu peito, sentindo as lágrimas chegarem aos meus olhos. — Eu estou bem agora. — Ele colocou meus cabelos para trás e eles caíram pelas minhas costas. — Porque eu tenho você. — Eu podia ouvir seu coração bater mais forte e sorri ao contar em segredo que estava sendo verdadeiro comigo. — Sim, você me tem.

Ele puxou meu queixo para um beijo, que inicialmente começou terno, mas cinco segundos depois estávamos novamente ofegantes. Minha perna deslizou sobre sua cintura e eu o montei. Sua ereção tocou minha bunda e eu deslizei mais para baixo, me esfregando nele com força o suficiente para que eu pudesse gozar apenas daquela forma. Max colocou as mãos na minha cintura, me empurrando para frente e para trás, mas prendi seus braços contra a cama, impossibilitando de se mover. — Agora sou eu no comando. Ele abriu um sorriso tão largo que me fez derreter. — Pode usar minha arma se isso a deixar mais excitada. — Talvez eu a use — brinquei. — Foi por isso que eu me apaixonei por você. Suas palavras me fizeram parar, eu prendi o ar, meu coração parou de bater e meu rosto congelou em uma expressão de espanto. Max estava apaixonado por mim? Eu havia escutado bem? Deus, sim, ele estava no mesmo ritmo que eu e eu sentia que estava prestes a explodir. — Continue, Oklahoma — ele brincou, se contorcendo sob meu aperto e eu acordei. Minhas mãos largaram as suas e tomei seu rosto com elas, o puxando para um beijo. — Oh, sim... — Sorri, como a louca por ele que eu era.

Dei uma última olhada em Max e saí da cama antes que ele acordasse e me arrastasse para ela novamente. Havíamos passado a noite inteira acordados e não era conversando. Meu corpo inteiro doía e eu sentia que havia feito um treino pesado na academia. Talvez eu não precisasse mais correr se Max continuasse fazendo seu belo trabalho comigo. Ainda eram oito da manhã, por esse motivo eu me surpreendi ao ver Ty no corredor, ele olhou para trás, seus olhos tinham bolsas grandes e arroxeadas ao redor dele e dei um passo em sua direção, mas ele bateu a porta do seu quarto em minha cara, me fazendo frear. Suspirei forte, desejando que tudo se resolvesse logo. Max comigo havia sido o primeiro passo, mas eu precisava ter uma conversa com TJ sobre nós, precisava falar com Beth sobre TJ, precisava falar com Tray sobre Ty e precisava falar com Ty sobre a Tray. Minha cabeça fazia um nó com o tanto de conversas que eu precisava ter. Não queria que Beth se sentisse mal por mim, então eu realmente precisava falar com ela. E, sobre minha melhor amiga, eu definitivamente gostaria de saber como ela se sentia em relação ao Ty. Eu não era

nenhum “santo casamenteiro”, mas ao menos gostaria de entender mais e poder ajudar de alguma forma, nem que fosse dando o meu ombro para ela chorar. Entrei no meu quarto e me surpreendi ao encontrar um presente sobre a minha cama. Sorrindo ao caminhar até ele, eu estiquei o braço e me curvei sobre o colchão, puxando a fita amarela bem presa. O laço se desmanchou entre meus dedos e espiei dentro do pacote, observando um tecido dobrado dentro dele. Puxando-o para fora, eu dei o maior sorriso que jamais sabia que poderia dar. Oh, meu Deus! Eu estava chorando enquanto vestia minha camisa com mangas raglan. As mangas azul-marinho gritavam em contraste para o cinza mescla da parte da frente e costas e o nome Oklahoma Thunder estampava o peito dela, o nome do time de basquete de Oklahoma City com o número oito5 nas costas. Olhei-me no espelho, secando minhas lágrimas enquanto girava para ambos os lados encarando meu reflexo e a forma como ela se encaixou perfeitamente em mim. Depois de passar uma água no meu corpo, escovar os dentes e me vestir, usando minha nova camiseta preferida no mundo e um short jeans, eu passei no quarto de Max novamente apenas para me despedir dele antes de ir até a casa de Beth conversar com ela. Ele mexia em seu celular, as sobrancelhas unidas em confusão formavam duas linhas fundas entre elas. — Eu gostava quando as pessoas se comunicavam por cartas. Até mesmo quando amarravam um recado em um pombo. Dei uma gargalhada e Max virou o rosto para mim. Um largo sorriso se formando em seu rosto. — Oh, uau! Eu gostaria de comer você usando apenas isso. — Ele me puxou pelo tecido e caí sobre ele.

— Não amasse minha camisa, Maximum. Ou eu posso apelidar você de Pensilvânia também? Ele grunhiu. — Não, por favor, apenas chame meu pau de sino da liberdade6 e estamos quites. — Obrigada pela camisa, Max, eu amei. — Beijei seus lábios e me afastei. Ele grunhiu em protesto, tentando me puxar para si novamente. — Feliz aniversário, Oklahoma! — Obrigada. — Rebolei até a porta, enquanto ele se lamentava. — Vejo você depois. E eu já estava morrendo de saudades.

Toquei a campainha, mas ela não funcionou, então bati na porta e uma menina de cabelos ondulados a atendeu. Seus olhos rolaram por todo o meu corpo, dos pés a minha cabeça, ela se curvou indiscretamente para olhar minha bunda, suas sobrancelhas arqueando para cima, então disse: — Oi, eu sou a Mackenzie e você é a Kyra, não é? — Por favor, não me diga que me reconheceu pela minha bunda. Ela sorriu, revelando duas janelas nos dentes. — Minha irmã Beth disse que você tinha uma... bela comissão de trás. — Ela deu de ombros e gargalhei. — Você tem um belo negócio aí. — Apontei para os seus dentes e ela enfiou a língua entre o buraco. — Um amigo da minha irmã os arrancou. Eu me perguntei se havia sido TJ.

— Você é a namorada do Tales. — Ela parecia cautelosa, como se estivesse fazendo algo errado. — Não mais. — Vocês romperam! — Mackenzie estava gritando, eu podia até mesmo dizer que ela parecia feliz. — Sim, nós éramos amigos e acabamos confundindo as coisas. — Oh. Certo. — Ela esfregou a ponta do seu sapato para um lado e depois para o outro, encarando seus pés. — Quem é, Kenzie? — A voz de Beth veio de algum canto da casa. — É a ex-namorada de Tales. A forma como Mackenzie citou a nova informação me fez acreditar que ela queria chamar atenção da irmã para esse fato e eu me senti ansiosa, talvez um pouco chateada com a forma como elas pareciam falar sobre mim na minha ausência. — Oh, oi. — Beth usava luvas amarelas, seus cabelos estavam presos em um coque alto e ela vestia um avental desfiado na bainha pelo tempo. — Oi. Sua expressão era de espanto, portanto soube que TJ já havia lhe informado sobre nosso show de horrores da noite passada. — Feliz aniversário, Ky — desejou-me com cautela. Elizabeth parecia estar participando de um debate interno onde se perguntava se deveria me abraçar ou não, então dei um passo para frente e ela também, me envolvendo em um abraço que eu sabia que significava muito mais do que uma simples felicitação. — Obrigada — ela murmurou. — Era para eu estar agradecendo, não você. Elizabeth sorriu sem graça.

— Vamos dar uma volta. — Ela tirou as luvas e o avental e os jogou dentro de casa. — Claro. — Enfiei as mãos no bolso do meu short. — Kenzie, fica de olho na mamãe, eu volto em cinco minutos. Os protestos de sua irmã foram abafados quando Beth fechou a porta. — Como vão as coisas em casa? — Na mesma, meu pai ainda continua se afundando na sua merda e minha mãe está em crise. Ela não gostava de falar sobre sua vida pessoal, tinha uma vida difícil e dizia que reclamar só tornava tudo ainda pior, por isso ela evitava entrar em detalhes. Um dia de cada vez. A única coisa que eu sabia era que seu pai bebia demais e batia dela, em sua mãe e irmã, até que Beth o enfrentou uma vez. Outro detalhe que ela comentou comigo, em um momento, era que sua mãe sofria de alguma doença mental, e que ela não deixava a casa por causa da irmã ainda menor de idade, além disso, sua mãe precisava de ajuda quando estava em crise. Ela estava presa onde estava. — Eu sinto muito. — Não sinta, se a vida fosse uma pessoa, ela seria alguém que nasceu com um cabo de vassoura enfiado na bunda. Eu sorri. — Parece que você está descrevendo o TJ. — Oh, sim. — Ela sorriu, envergonhada. — Eu sinto muito por ter enganado você, Ky, mas eu... apenas aconteceu. — Deus, eu sei. Eu... sinto muito por todos os detalhes que você teve que ouvir de mim. — Arranquei uma folha de Hera7 que cobria o muro no qual nós passamos em frente. — Achei que você surtaria, Kyra. Eu nunca podia esperar essa reação.

— Talvez eu tivesse surtado se tivesse ficado sabendo há um mês e meio. — Antes de Max — ela murmurou. — Sim. — Parece que vocês se acertaram. — Sim, fizemos. — Senti meu rosto corar. — TJ sabe sobre nós agora. — Ele me falou. Era estranho não sentir como se fosse mais a melhor amiga de TJ. Saber que sempre estive um passo atrás de onde eu achava que estava, saber que Beth sempre foi muito mais para ele, que sempre esteve a minha frente, sempre soube muito mais do que eu. Eu parecia ter sido enganada, mas misteriosamente compreendia. Eles certamente se amavam, e não era da forma como nós dois o fazíamos. — Certo... — Eu... — ela começou, mas certamente não sabia como dizer. — É estranho falar sobre Tales com você. — Eu sei, me desculpa, você não precisa dizer nada. Não vim atrás de detalhes, Beth. — Não? — Ela parecia confusa. — Eu só não queria um clima estranho hoje no bar. — A compreensão parece ter passado pelo seu rosto. — Nós não teríamos tempo para conversar sobre isso e eu falaria que estou de boa com tudo e você não acreditaria, então nós não deixaríamos tudo em pratos limpos e agiríamos por uma noite inteira como duas loucas desconhecidas. Ela deu uma risada alta. — Sim, parece exatamente como eu achei que seria.

— Ao menos nós podemos começar no zero então. — Ergui as mãos no ar. — Você está livre para o TJ e eu posso experimentar o que quer que seja que esteja acontecendo com Max. — Oh. Não! — Ela passou as mãos no rosto e nós contornamos uma lixeira, voltando para sua casa. — Por que não? — perguntei confusa. — Tales e eu somos amigos, Ky. Eu o amo, mas nós dois não fizemos bem ao outro quando estávamos juntos, acredite. — Bem, vocês sabem de suas merdas melhor do que ninguém. — É complicado — afirmou com um sorriso culpado. Nós paramos em frente à sua casa e sorrimos ao avistar Mackenzie espiando pela janela. — Eu não posso arrastar Tales para isso. — Ela apontou para a casa. — Que engraçado — comentei. — Porque parece que ele está afundado inteiramente nisso.

— Eu sinto muito — Tray murmurou. — Se eu ganhasse um real por todas as vezes que ouvi ou disse essa frase nas últimas vinte e quatro horas eu estava rica. — É complicado — ela se lamentou. — Beth dizia a mesma coisa sobre TJ e eu sequer sonhava com isso. Sim, eu havia atualizado minha melhor amiga e agora ela sabia cada maldito pedaço de merda que me afundava. — Quis contar pra você um milhão de vezes, mas fazê-lo só tornaria ainda mais real e eu não queria que fosse. — Estamos falando de anos, Tray. — Eu ainda nem consigo pensar muito sobre isso. É como se eu estivesse me pregando uma peça. Ela soltou um suspiro pesado do outro lada da linha. — Todas as vezes em que você o evitou, que não quis vir aqui por causa dele, no feriado de quatro de julho... O que houve? — Ele soube que eu estaria na cidade. Ty não lida bem com o fato de estarmos perto demais. — Isso parece quente.

— Parece doentio para mim — desdenhou, mas eu a conhecia o suficiente para saber que havia muito mais. — Você o ama. — Ele não faz bem para mim. — Não foi uma pergunta, Tray. Ela se manteve em silêncio e sua falta de diálogo apenas respondia ao meu comentário. — Nós tivemos um lance, e acabou, Tyson não é pra mim. Uma parte minha não gostava da forma como ela falava sobre ele; mas a outra parte também não queria minha amiga com alguém como Tyson. Era confuso, afinal os dois eram meus melhores amigos. — Não parece realmente que acabou, Tracy. — Acabou pra mim — afirmou entredentes e eu soube que havia cutucado sua ferida. — Estarei de volta a Boston em meio ano e apenas desejo não cruzar mais o seu caminho. Oh, uau, bem... parece certamente que está longe de acabar. — Porra... — Passei a mão na minha testa e empurrei meus fios presos ao meu suor para trás. — Você e Tyson, onde diabos estavam enfiados os meus olhos... — No seu próprio rabo — respondeu e eu sorri. Maldita mentirosa! — Tudo bem — suspirei. — Beth e TJ e você e Ty sabem o que é melhor para vocês, afinal. Eu não tenho nada com suas vidas, não é realmente da minha conta, mas apenas não esconda mais nada de mim se ainda me quiser por perto. — Uau, você está ameaçando não ser mais minha amiga? Quantos anos você tem? Dez? — Eu estou falando sério.

— Okay, Ky. Eu sinto... — Não desperte o inferno fora de mim outra vez. Ela deu uma risadinha, que me fez rir de volta. — Jamais, Oklahoma. — Adeus, Tray. — Desliguei antes que ela pudesse continuar pegando no meu pé. Assim que tirei meus pés da piscina, Tyson me surpreendeu ao tocar meus joelhos, empurrando minhas pernas de volta para onde estavam. Ele enfiou seus pés na água e os balançou, observando o brilho do sol refletir nela ao criar pequenas ondas. — Era ela, não era? — ele perguntou, sua voz era diferente de tudo o que eu conhecia. — Sim. Achei que faria algum comentário sobre Tray, mas ele apenas soltou um suspiro estrangulado e me surpreendeu ao dizer: — Eu sabia que éramos adotados e conheci nosso pai biológico no nosso aniversário de dezoito anos. Meus olhos se arregraram a ponto de eu acreditar que saltariam do meu rosto. Não era possível que ele estivesse falando a verdade. — Por isso eu agi como um idiota depois que Max chegou a nossa porta. Não que eu não aja como um na maior parte do tempo, de qualquer forma. — Co-mo... como? — gaguejei. — Eu não soube como dizer a TJ, eu não queria foder com a imagem que ele tinha da nossa família. — Ty passou as mãos no rosto e grunhiu, como se sua cabeça estivesse pegando fogo. — Você o conhece, Kyra. Dizer ao TJ que eles não eram nossos pais, aos seus dezoito anos... não era uma boa ideia.

Sim, TJ aos dezoito anos estava afundado em sexo e álcool e provavelmente se perderia nesse caminho. Pensando sobre esse assunto, era fácil afirmar que era muito provável que ele não seria a mesma pessoa hoje, talvez sequer teria ido a faculdade. — Eu não sei o que dizer. — Eu sinto que tô me afundando cada vez mais, porra! — ele começou a balançar seu corpo para frente e para trás. — Eu fiz para protegê-lo, mas tudo isso apenas vai acabar comigo sendo um egoísta filho da puta. — Ele contou sobre haver outro irmão? — perguntei, rezando para que não. — Não, é claro que não! Que tipo de pessoa você acha que eu sou, porra? — Ele parecia realmente ofendido com a minha pergunta. — Desculpa, Ty, eu precisava perguntar. Coloquei minha mão em sua coxa, tentando mostrar a ele que eu estava com ele nisso e Tyson me surpreendeu ao colocar sua mão sobre a minha. Seus olhos estavam fixos nela e ele a segurou em seu colo, ainda se balançando. Aquele pequeno gesto era grandioso demais, porque ele sequer deixava que eu o abraçasse, era sempre algo muito desconfortável e, de repente, ele parecia estar sem suas armaduras, deixando que eu o visse nu e cru. — Ele nos procurou e disse que era nosso pai, no começo eu não pude acreditar, mas, quando eu olhei para o meu pai, eu vi seu rosto calmo, como se ele estivesse esperando por aquele momento sua vida inteira. Então, olhei para o cara e, puta merda, nós tínhamos o mesmo tom de verde nos olhos e nossos cabelos eram da mesma cor. Até mesmo o nariz, tudo era parecido demais. — Uau... — Meu pai... o Jimmy, perguntou o que ele queria.

— E aí? — Ele respondeu que estava nos procurando há algum tempo e que gostaria muito que fôssemos viver com ele, então meu pai começou a gritar sobre o tipo de pai que vende dois bebês e o choque passou pelo seu rosto. Ele parecia não saber que envolvia dinheiro. Ele não estava junto com a... nossa mãe biológica na época. Fiquei tão chocado quanto ele, eu não fazia ideia de que, além de Jimmy não ser nosso pai, ainda havia nos comprado. — Parece tão confuso, Ty... eu... não sei o que dizer. Por que ele não falaria sobre haver outra criança? — Eu não sei, mas... realmente acreditei sobre ele achar que nós tivéssemos sido adotados legalmente. Nossa mãe era uma viciada, ele também teve sua cota de drogas, pelo que eu sei, então parece que nosso fraco pelas bebidas e todas as merdas que já usamos tem a ver com um passado de merda. — Vocês não são como eles. — Não importa com quem somos ou não parecidos. Ele veio nos procurar, eu acabei com o punho em seu nariz e ele nunca falou sobre outro filho. Talvez fosse sua forma de se vingar de nós. — E você nunca mais o procurou? Ele negou. — Ao sair da nossa casa naquele dia, meu pai pediu para que seu motorista na época o seguisse, mas foi alguns tantos quilômetros até que ele acabou na Pensilvânia, apenas para constar que morava em uma casa velha. Um cara sozinho, sem esposa, sem filhos, ou seja, não temos mais irmãos. — Eu sinto muito, Ty, que você tenha guardado isso por tanto tempo.

E eu realmente sentia, sequer conseguia imaginar o quão duro havia sido para Tyson ter que guardar aquele segredo do seu irmão. Saber que eram adotados, que haviam sido vendidos quando bebês, que o pai que amava e que o havia criado com amor, na verdade, o havia comprado. Como ele diria aquilo a TJ? Não havia forma alguma que não resultasse nele fazendo um monte de merda. Agora eu entendia o comportamento estranho de Ty no último mês, após a chegada de Max. Não tinha apenas a ver com o fato dele estar escondendo Tray de mim, tinha a ver com ele saber da história toda. Enquanto eles aguardavam seu pai por duas semanas, para que contasse a eles a história que Tyson sabia de cor, ele deveria se sentir como um grande pedaço de merda por ter mentido para o irmão, enquanto Jimmy respondia por ele que ele não sabia de nada. Deus, eu nem sequer era capaz de juntar todas aquelas peças do quebra-cabeça. — Como eu posso dizer que graças a mim nós perdemos os últimos cinco anos com Max? Imagina o quanto nós poderíamos tê-lo ajudado, Ky! Ele poderia ter feito faculdade. — Ele não estava passando fome, Ty, ele foi acolhido por alguém. O cara deu a ele um teto, comida e uma profissão. Ele está bem, e está aqui agora. E eu me apaixonei por ele. — Eu... Eu não sei como contar. — Não há motivos para contar. Meu comentário o fez arregalar os olhos e prender o ar. — Você deu um soco nele, okay, ele mereceu, porra! Ele vendeu vocês! Tanto Max ou TJ fariam a mesma coisa. E quem é que garante que ele não contou que vocês eram três apenas porque você bateu nele. Talvez ele não soubesse, ou talvez ele tivesse um motivo, quem é que sabe?

— Eu não sei... — É claro que não, e contar não fará com que saibam. Vocês estão bem agora, não estão? Ele assentiu, esfregando as mãos no rosto. Ele parecia prestes a enlouquecer. — Sim, porra, sim, nós estamos. Apertei sua perna e dei dois tapinhas nela. — Então é isso, garoto. Não há mais passado para vocês, apenas um futuro, portanto, é perda de tempo olhar para trás. — Se TJ estivesse aqui, ele diria que quem vive de passado é museu. Eu ri. — Sim, ele é um idiota, mas é um idiota sábio. Você fez isso para protegê-lo, de qualquer forma, seu pai tinha o direito de contar a ele. O que acha que teria acontecido se você tivesse contado? TJ teria duas semanas de imaginação livre e estaria condenando seu pai por ter comprado vocês. — É, faz sentido. — Claro que faz. As coisas apenas acontecem da forma que deveria ser. — Dei de ombros. — Tray discordaria. O fato dele estar falando sobre ela com tanta propriedade me fez pensar no quanto a conhecia. — Sim, ela discordaria, mas apenas porque acha que há um cálculo para tudo. O melhores conselhos vêm de pessoas de humanas. — Você sempre esteve perto o suficiente para que eu soubesse que tinha alguém, Ky — ele murmurou, eu sabia que era difícil para ele falar sobre sentimentos. — Eu sinto muito por não ter contado sobre ela. E

sinto ainda mais por contar tudo isso a você e fazê-la carregar esse segredo de merda comigo. — Nós vamos ficar bem. — Eu realmente espero que sim, porque eu tô cansado pra caralho! — Ele apoiou a mão em cada lado do seu quadril e se levantou. — Feliz aniversário, Kyra — murmurou, então se afastou sem dizer mais nenhuma palavra. Um segredo. Que belo presente de merda, Ty!

— Ei, Benny, eu só acho que deveria existir uma lei que obriga o empregador a liberar o funcionário no dia do aniversário dele. A cabeça de Benny ficou tão roxa quanto o cabelo de Beth. — Você não é paga para achar nada. — Ele entrou no escritório, batendo a porta atrás dele. — Ele fica muito agitado quando os meninos estão aqui. — Elizabeth encarou o pano em suas mãos. — Quem, em nome de Deus, não ficaria? Olha só para aquilo. — Apontei para os três, em frente ao espelho que ficava ao lado da mesa de bilhar. — Três deles, olha bem para aquilo. Eu sinto que estou dentro de um filme pornô e eu sinto muito por ter apenas três buracos. A risada de Beth foi tão alta que os três olharam sobre os ombros, fazendo sua cabeça quase explodir com o rubor. Eu sequer me importei em olhar para os outros dois irmãos, porque tudo o que eu conseguia ver era o sorriso tímido no rosto de Max. Um leve curvar de lábios envergonhado. — Ele está muito na sua. Foi a minha vez de corar. Sim, eu esperava que ele realmente estivesse.

— Você deveria dar uma chance ao TJ — comentei e ela desviou o olhar. — Eu não quero falar sobre TJ. — Algumas coisas nunca mudam, afinal. Beth deu de ombros. Era mais fácil para ela escrever sobre sentimentos do que falar sobre eles e eu me perguntei se era um lance de escritores. — Sim, também por isso — ela se referiu ao comportamento de Tales. — E sobre o seu aniversário, Oklahoma? — Ela inclinou o corpo em minha direção e ergueu as sobrancelhas duas vezes. — O que pretende fazer? — Pretendo acabar com Max arrancando meu presente de aniversário com os dentes. Encarei seu sorriso se transformar em um “O” enorme. — Certo, informação desnecessária. — Ah, vamos lá, Beth, fala sério. Eu li os textos eróticos que você escreveu. Eles são baseados no que você já teve com o TJ? Ou, quem sabe, eles eram baseados no que ela queria que tivesse com ele. Quem sabia? — Por que diabos você sempre leva o assunto até mim novamente? — É automático, me desculpa. — Encostei o quadril no balcão, observando o bar quase vazio para um sábado. Talvez houvesse rolado o boato que os três estavam juntos, afinal, ninguém queria uma briga naquela noite. Quem é que sabe? — Tudo bem... — Seu rosto se contorceu em um sorriso quando ela olhou para frente. — Eu acho que devo ir ao banheiro agora. — Ei, Oklahoma. — A voz de Max acertou exatamente nas minhas partes cobertas. — Como está sendo o seu aniversário?

— Ainda estou esperando para apagar alguma vela. Seu sorriso alargou. — Certo, ficaria feliz se apagasse a minha hoje. O meu sorriso se alargou. — Acho que gosto dessa ideia. Ele se debruçou sobre o balcão, os olhares curiosos caíram sobre todos nós e eu não me importei. Eu não me importava porque estava apaixonada por ele, porque ele parecia significar o mundo para mim e eu sequer me importava que tudo isso tivesse acontecido em menos de dois meses, porque eu havia me encontrado em Max. Seus olhos caíram sobre os meus lábios, o verde deles brilhou de desejo e ele sorriu de uma forma sensual que fez com que minhas pernas amolecessem. Max esticou sua mão sobre o balcão e segurou minha nuca, me fazendo inclinar até a metade da bancada, enquanto ele se inclinava até a outra metade, nosso rosto se encontrando na linha de chegada. — Eu quero foder você hoje tão gostoso, Oklahoma, que será o melhor aniversário da sua vida. Senti-me desmanchar sob sua mão; somente o pensamento de Max me fodendo, como prometeu, já havia tornado aquele dia mais do que especial e eu poderia, inclusive, me contentar com a minha imaginação. Ele se inclinou minimamente, sua boca pressionando a minha com tanta força que meu sexo se contraiu em desespero. Não me importava que estivéssemos dando um belo show, porque tudo o que eu queria era que meu turno terminasse para que eu pudesse finalmente ter meu presente. — Oh, uau! — A voz de Camille fez com que Max se afastasse de forma abrupta e eu cambaleei de volta para meu lugar novamente. — Que tocante.

— Camille — Max sussurrou e eu não soube exatamente se ele a estava saudando ou suplicando para ela. — Max — ela respondeu. — Kyra. — Oi. — Ei — Beth cumprimentou Camille logo atrás de mim, me fazendo sentir um pouco mais segura, embora eu ainda não soubesse explicar o porquê. — Oi, clone número três — ela disse após olhar as tatuagens e os cabelos e perceber que não era Ty. Ninguém riu de sua piada, o que apenas acentuava o drama. — Beth — ela cumprimentou, se sentando em uma banqueta ao lado de Max. — Bom, me vê algo forte o bastante para esquecer um cara aí que transou comigo e me chamou de outro nome quando estava gozando. — Oh, uau! — Beth respirou fundo. — Tenho algo para você, garota. Eu não conseguia me mexer. — Certo — Camille começou, encarando Max por um segundo. — Traga duas, Max também vai precisar de algo forte esta noite. — Eu acho que você já está bêbada o bastante, Camille. — Como você estava naquela noite? — Ela se debruçou sobre o balcão e sorriu para mim, embora eu não encontrasse humor no ato. — Qual noite? — a pergunta deixou minha boca sem que eu pudesse perceber. — Oh! — Ela fingiu espanto. — Por que não conta a ela, Max? Achei mesmo que você estivesse na minha... Mas aí, ontem... Toda aquela briga com TJ sobre você ser um otário. — Vamos conversar. — Ele segurou seu braço, disposto a levá-la até um canto privado. — Fiquem à vontade para falar na minha frente — disse entredentes.

Beth colocou as bebidas sobre a bancada e segurou a minha mão ao lado do meu quadril. Ela havia finalmente entendido que havia uma verdade não dita em algum lugar e me mostrou que estava ao meu lado. Meus olhos rolaram sobre os ombros de Ty e TJ quando senti que eles se aproximavam, então novamente encarei Camille, suas unhas vermelhas batendo no balcão. Ela deu um gole na bebida e empurrou o copo cheio na direção de Max. — Tome! — ela ordenou. — Eu não quero beber essa porra! — alegou, havia tanta raiva em sua voz que eu podia confundi-lo a Tyson no seu pior momento. — Eu acho que já deu. — Ty segurou o punho de Camille, mas ela parecia certa de que não sairia de lá. — Apenas fale o que tem para falar e saia daqui. — Eu a encarei, cruzando os braços sobre os seios. A mão de Beth tocou meu ombro e agradeci o fato de que ela estava lá por mim. — Eu não tenho nada a dizer. — Ela se inclinou ainda mais em minha direção. — Max apenas esteve entre minhas pernas e chamou o seu nome quando estava chegando lá e, então, ele montou sua Harley, bêbado como o inferno, e provavelmente se arrastou para você depois. Eu sabia que os dois estiveram juntos, mas finalmente estava começando a entender o que ela estava querendo dizer. O momento exato no qual ela se referia. O sangue parecia estar parando de circular pelo meu corpo e eu sentia que estava prestes a desmaiar. Havia apenas uma única vez que ele havia estado bêbado e eu me lembrava muito bem daquela noite. — Kyra, venha comigo. — Seu olhar parecia uma súplica, mas eu decidi ignorar.

— Porra, Camille! — TJ exclamou, contornando seu ombro com o braço, tentando tirá-la de lá, mas ela se manteve firme. — Qual a porra do seu problema, idiota? — Ty perguntou, erguendo os braços no ar. Eu me sentia afundada na maldição dos irmãos Jackson. — Você não foi rastejando para ela, Max? — Cami perguntou. — Eu tenho certeza de que sim, porque você nunca mais me procurou depois daquela noite, e bom, pelo show de ontem, e a forma como parecem estar juntos... parece que você apenas esteve me usando. Eu encarei Max, o momento exato em que Camille se referia havia estalado em minha mente. Como se ela estivesse no escuro e minha consciência houvesse apertado o interruptor, revelando toda a merda na qual eu estava afundada. Oh, que ótimo! Max esteve com seus dedos em mim, minutos depois de tê-los enfiado nela. Que grande otário! — Vá para casa, eu cubro você pelo resto da noite. — Beth sussurrou nos meus ouvidos sem que ninguém ouvisse. Olhei para os três olhos verdes iguais e, embora por trás deles houvesse três personalidades diferentes, todos se mantinham arregalados da mesma forma. Eles também pareciam estar prendendo a respiração, esperando o momento no qual eu explodiria. Ty e TJ me conheciam o suficiente para saber que eu podia jogar a bebida no rosto de Max, enquanto segurava os cabelos de Cami e levava seu rosto com força até o balcão. Então os dois se viram surpresos ao me ver imóvel, eu estava respirando apenas porque era natural, porque não conseguia me mexer. Beth tocou minha lombar e me acompanhou até a porta do estoque; e quando a porta se fechou atrás de nós, ela segurou meus ombros e me sacudiu, fazendo-me sair do transe de decepção em que estava envolvida.

— Escute aqui — ela disse confiante. — Pule a janela, pegue o meu carro e vá até a minha casa. A janela do meu quarto está aberta, então pule ela. Ninguém vai saber que você foi embora por um bom tempo. Se Kenzie ouvir você chegar, peça silêncio a ela e fique por lá até eu chegar. — Beth entregou as chaves do seu carro. — Eu pego uma carona com TJ no fim do expediente. Assenti e Elizabeth secou as lágrimas que eu não sabia que estavam escorrendo. A maçaneta girou e a voz de Max suplicou abafada do outro lado da porta que eu sequer percebi que havia sido trancada por minha amiga. — Por favor, Ky, me deixa falar com você. Fechei os olhos por um momento e respirei fundo, engolindo a vontade que tinha de deixá-lo se explicar. Uma parte minha queria ouvir que ele não havia o feito, mas a outra, oh, a outra, tinha certeza de que ele havia me feito de tola. — Obrigada, Beth — murmurei antes de subir em uma cadeira e cair fora.

Toda vez que o olhar decepcionado de Kyra vinha em minha mente, eu me perguntava como, em nome de Deus, um dia que havia começado tão bem, poderia ter acabado de forma tão drástica. Como um gráfico de uma escala que marcava no topo uma das vezes em que mais me senti feliz e que agora havia caído em queda livre para o zero, marcando o momento exato em que minha vida se tornou miserável. Eu sabia que não podia julgar um Deus que eu mal acreditava, principalmente pelas minhas más decisões. Não tinha nada a ver com Ele o fato de eu ser um filho da puta idiota, e eu sabia muito bem que Kyra era esperta o suficiente para não acreditar em minhas desculpas. O que eu podia dizer? Eu estava errado, afinal de contas. Falar com ela sobre aquela noite, só me tornaria ainda mais culpado, não? Eu não fazia ideia, porra, eu nunca havia estado em um relacionamento. — Cuzão! — Ty deu um tapa na minha nuca após nós três nos darmos conta de que ela havia pulado a janela e que Cami havia desaparecido. — Falou o cara que é apaixonado pela mesma garota desde a infância. — Você fodeu as coisas com a Kyra, seu idiota! Eu deveria estar chutando a sua bunda agora! — ele esbravejou.

— Como você conseguiu cagar tudo em tão pouco tempo, porra? — TJ interferiu. — Tá bom, Hitch conselheiro amoroso8. Sua garota está bem ali esperando você deixar de agir como um idiota. — Apontei para Beth. — Já tem alguns anos, inclusive. Tyson riu ao fundo e passei a mão no rosto. — Me dê uma merda forte. — Acenei para Elizabeth. — Um chute em seu traseiro com meu sapato bico fino preferido? — Ela me empurrou o copo que Camille havia pedido em minha direção com tanta força, que o uísque derramou sobre a bancada. — Tome o uísque que sua garota pediu para você, idiota! Eu me virei para TJ apenas para vê-lo encarar Beth como se fosse a única mulher na face da Terra. Trigêmeos apaixonados, mas nenhum deles mantinha sua garota. Será que era azar compartilhado ou uma tendência genética a fazer merda? Era uma boa pergunta, afinal de contas. — Aonde ela está? — TJ perguntou a Beth. — Não interessa, Tales! Você já não tem problemas o bastante? Deixe que Max resolva suas próprias merdas sozinho. — Você a deixa falar com você assim, TJ? — Tyson ergueu as sobrancelhas, com um sorriso perturbador. — Como eu pude perder anos disso? — Você também já não tem problemas o bastante com a melhor amiga dela, Tyson? Fiquei sabendo sobre os seus segredos também. Tyson deu um passo em direção a Beth, mas TJ se colocou entre eles. — Tô caindo fora — avisei ao colocar o copo sobre o balcão. — Não vá atrás dela, Kyra não merece você. — Ela colocou as mãos na cintura.

Ela era bem ousada para o seu pouco tamanho, eu confesso. — Ela não merece nenhum de nós, Elizabeth. — Antes que ela pudesse responder, a voz do segurança nos interrompeu: — Algum problema por aqui, Beth? — Ele parecia tão pronto para uma briga quanto Ty e TJ ficaram ao vê-lo. — Se ela estivesse com algum problema teria chamado por alguém que pudesse resolvê-lo, não você — TJ respondeu. — Por que não volta lá para frente e finge que está fazendo o seu trabalho? Quem sabe, eu poupe você da humilhação — Ty interrompeu, entredentes. Fiquei quieto, tudo o que eu menos queria era estar em outra briga com meus irmãos como na noite passada. Como eles podiam gostar tanto de uma confusão, afinal? — Nós estamos bem, Jacob, eles estão de saída. — Não, nós não estamos — TJ respondeu e eu vi o rosto de Beth se contorcer com o medo de uma nova briga. — Sim, estamos sim. — Eu toquei um ombro de cada com minhas mãos e contornei seus pescoços com os braços. — Vamos, porra, nós já temos problemas demais. Tive de usar muita força para arrastá-los comigo, mas quando seus pés tocaram o chão do estacionamento e eles respiraram o ar livre, pude ver em seus rostos que tiveram certeza de que haviam feito a coisa certa. — Porra, eu estava pronto para foder com o resto do dia. — Tyson passou a mão no rosto. — O carro da Beth não está no estacionamento. — TJ colocou as mãos na cintura, olhando em volta. — Kyra deve ter ido à casa de Beth com ele. O celular de TJ apitou e ele encarou a tela. — Ela precisa de carona, eu vou ficar por aqui.

— Eu sei aonde a Beth mora, eu posso ir até lá com você. — Tyson cruzou os braços em frente ao peito e o encarei. Sequer fazia ideia do que diabos fazer. — O pai dela é um fodido, então é melhor não irem até lá. — TJ parecia saber do que estava falando. — Ele vai chamar a polícia antes mesmo de você desligar o motor da Harley. — Eu vou para casa — avisei entredentes, indo em direção a moto. — Kyra precisa de um tempo para pensar sobre isso. — Que porra de maricas! — Ty rebateu e eu o repreendi com o olhar. — Ele está certo, Tyson. Pedir desculpas a uma mulher, quando se está errado, é como colocar lenha na fogueira. Eu teria rido se não me sentisse tão deprimido. — Porra! — Passei as mãos no rosto. Se eu rebobinasse aquela noite em minha mente, poderia reavaliar a quantidade de erros que cometi. Não deveria ter saído de casa depois da minha discussão com Jimmy, não deveria ter procurado por Camille e ter bebido com ela, tampouco acabar em sua cama; e depois de uma cota considerável de erros, não deveria ter deixado as coisas irem tão longe com Kyra. Eu ainda não havia entendido a grandiosidade que acontecia entre nós, apenas achava que o que sentia por ela era sexual, mas não, Deus, não, Oklahoma era muito mais para mim do que apenas sexo e um mês tentando evitá-la havia me dado a certeza de que eu a amava. E, desde que ficássemos juntos, eu sequer me importava que parecesse com um maldito perdedor. — Eu me sinto como um idiota. Meus irmãos me encararam com um pequeno sorriso.

— Bem-vindo ao clube, parece que ser um idiota é um requisito para participar dele. — TJ parecia orgulhoso. Deslizei minha perna sobre o couro do banco da Harley e girei a chave, o motor rugiu no estacionamento silencioso. Tyson abriu o vidro do carro e acendeu um cigarro, a ponta alaranjada brilhou na escuridão. Ele colocou seu braço para fora, ainda sorrindo como o maldito filho da puta que era. — Foda-se! — Ty ergueu as mãos no ar. — Eu já tenho merda demais pra uma pessoa. — Ele deu uma tragada no cigarro, soltando a fumaça em direção ao céu escuro. — Resolva as suas sozinho, irmão. Sim, era o que eu iria fazer, apesar de não fazer ideia de como.

— Eu sinto muito, muito mesmo, Beth. Ela dispensou meu pedido de desculpa com um gesto no ar. — Tranquilo, Ky, não se preocupa com isso. — Ela se sentou em um pufe cor-de-rosa e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. — Além do mais, eu quem ainda deveria estar me desculpando com você. Respirei fundo. Sim, ela havia mentido para mim, não exatamente mentido, mas ocultado um grande detalhe: era apaixonada pelo cara que eu “namorava” e me ouvia falar sobre nosso sexo incrível, enquanto eu sequer fazia ideia do que ela sentia por ele. No final das contas, eu acabei me sentindo egoísta, porque sabia que teria surtado com ela se não estivesse apaixonada por Max. — Está tudo bem. E estava mesmo. Eu provavelmente nunca teria perdoado Beth e TJ por estarem agindo pelas minhas costas, mas uma parte minha havia sentido certo alívio por saber que eu estaria livre para seguir em frente com outra pessoa. Agora, minha amiga, que era apaixonada pelo meu exnamorado e melhor amigo, me ouvia falar sobre o irmão dele, por quem eu estava apaixonada. Que maldita confusão eu fui me meter, afinal.

— Deus, eu sinto muito que seu aniversário tenha acabado dessa forma... — Está tudo bem — respondi, sentada em sua cama, sentindo-me totalmente perdida em um quarto desconhecido. Eu queria apenas a minha cama e que Max não tivesse mentido para mim. — Você não tem que ficar repetindo isso, Kyra. Tudo bem não estar bem. — Ela sorriu, cautelosamente. — Eu... apenas não sei o que fazer. — Apenas respire fundo até lá. Assenti, encarando as mãos sobre os joelhos, descascando o esmalte preto da minha unha. — O que você realmente quer? — ela insistiu, inclinando-se para mim. O que eu queria? Bom, eu queria tantas coisas... Não me sentir perdida onde quer que eu esteja era uma delas. — Eu não sei, Beth. Eu queria saber o que quero, mas não sei. — Você usou alguma droga enquanto estive fora? — ela sussurrou, me fazendo rir pela primeira vez. — Talvez eu tenha achado seus cogumelos mágicos. Ela tapou a boca para abafar o riso. — Bem, falando sério, Ky. Eu já passei por isso com TJ mais vezes do que jamais poderia contar, foi um círculo vicioso que nunca chegou ao fim, por isso eu não pude mais fazê-lo, mas Max não é o TJ e você não sou eu, portanto, dê a ele a chance de se explicar. Eu não sabia quando estaria pronta para falar com Max. — Não posso falar com ele, Beth, porque eu vou ceder a partir do momento em que o vir na minha frente. Eu não me sinto forte quando ele está perto de mim.

— Você se sente dependente dele. — Ela tocou meu joelho. — Sente que o mundo está desmoronando e você sequer se importaria de morrer desde que estivesse segurando a mão dele. Ela me deu um pequeno sorriso compreensivo. — Deus, Beth... você... — Sim, eu sou completamente louca pelo TJ e não há um maldito dia em que eu não acorde e não pense em como seria se o tivesse na minha cama ao meu lado. — Eu sinto muito. — Não sinta. Foi a minha decisão, eu me escolhi em primeiro lugar depois de ter minha cota de desilusão amorosa com ele. Mas isso não significa que você terá de fazer as mesmas escolhas, Kyra. Você pode ouvi-lo, tudo entre vocês ainda é recente. — Sim, eu sei, mas não é apenas Max e eu, é todo o resto. Eu não sinto que estou fazendo algo útil da minha vida. Ela deu uma risada amarga. — Kyra, você está falando com uma pessoa que cuida de uma mãe doente, um pai alcoólatra, sustenta uma casa, cria uma criança, trabalha em um maldito bar e que é apaixonada pelo seu melhor amigo. — Ela ergueu as mãos no ar. — O que você acha que eu estou fazendo da minha vida? — Eu acho que a gente deveria pegar Kenzie e dar o fora de Boston. Toquei seu joelho, o peso de sua vida me afundava na vergonha que havia se tornado a minha. — Eu não posso deixar minha mãe com ele. Eu não tenho como ir a lugar algum, estou amarrada no inferno que é a minha vida. — Deus, eu só espero que um dia a gente olhe pra tudo isso e ria. — Sim, e eu realmente gostaria de rir disso em Paris.

Eu me sentia mais leve depois de rir com Beth, mas havia um peso no meu coração que eu não sabia o que significava. — O que foi exatamente que aconteceu? — Ela amarrou os cabelos no topo da cabeça e cruzou suas pernas. — Ah... no dia em que ele conversou com Jimmy pela primeira vez... Ela forçou os olhos, buscando em sua mente, algumas informações que eu havia lhe dito. — Aquela vez que você pediu para que ele ficasse? Quando ele chegou bêbado? Um ponto para Elizabeth, porque ela realmente prestava atenção nas nossas conversas. — Sim. — Assenti, aquela noite ainda estava tão viva em minha memória. — E o quê? Qual o problema? Você já tinha falado comigo sobre esse dia. — Ela parecia confusa. — Ele estava com Cami e então beijou você quando chegou? Teria ficado igualmente enfurecida se nós apenas tivéssemos beijado naquela noite? Porque ainda assim, deveria ter significado a mesma coisa para mim. — Nós não apenas nos beijamos. — Oh, sua vadia! Você mentiu para mim. — Suas bochechas coraram. — Eu não menti, apenas omiti essa parte. — Ergui as sobrancelhas e seu rosto foi tomado por um vermelho escarlate. Ela deveria ter se lembrado dos últimos dois anos no qual passou omitindo detalhes apenas grandiosos para mim. — Não foi sexo, não exatamente. Ele... usou seus dedos em mim. — Oh, meu Deus!

— Amém. — Passei a mão no rosto. — Porque provavelmente ele tinha acabado de tirá-los de Camille e agora eu me sinto uma merda. Ty, TJ, Max e eu estávamos envoltos a um emaranhado de mentiras. Eu não era hipócrita, havia transado com TJ e desejado estar com Max, mas Tales sequer havia ido até o fim naquela noite, nas últimas vezes em que estivemos juntos em uma cama, e provavelmente, ele estava pensando em Beth, que trabalhava comigo, era minha amiga, mas omitia que o amava. Enquanto isso, naquele mesmo dia, Tyson confessava para mim que havia uma garota, mas escondia a parte em que era a minha melhor amiga, e depois, enquanto jantávamos como uma família feliz e Max contava sobre sua vida maldita, Ty jantava em um canto na cozinha e não se envolvia na conversa, apenas porque ele já sabia da adoção, sabia que haviam sido comprados. Mentiras. E quase uma semana depois, após eu estar oficialmente livre de Tales, eu estava disponível para Max, que ocupava minha mente cada maldito segundo do dia, mas ele estava saindo com Cami, que até aí tudo bem para mim, porque eu estava com TJ, de qualquer forma. Mas então ele a procurou, naquela noite, quando ele já significava demais para mim, para que eu não sentisse por ele estar com outra pessoa. Foi rápido demais e eu sabia, mas apenas não conseguia controlar o que sentia por ele, era natural como respirar. Eu teria aceitado o fato dele ter procurado ela naquela noite se Max não tivesse enfiado seus dedos em mim minutos depois, era recente demais e nós não estávamos juntos de qualquer forma, mas ele havia pensado apenas em si mesmo quando foi até o fim comigo. Ele não tinha me respeitado. Ninguém naquela casa parecia fazê-lo, afinal. Nem eu. Éramos todos errados para começo de história.

Acordei no meio da noite, Beth e eu dividíamos um travesseiro, seus cabelos roxos cobriam o meu rosto, suas pernas se espalhavam por toda a cama e seus braços forçavam o meu estômago. Deus, como uma pessoa tão pequena podia ocupar tanto espaço na cama, afinal? Por um segundo, eu imaginei o corpo espaçoso de TJ e Beth dormindo na mesma cama, talvez por esse motivo os dois nunca tenham acabado juntos. Não havia como dar certo. Minha cabeça latejava com o lembrete da minha noite de merda, eu precisava me mandar antes que amanhecesse, então, com muito trabalho, eu levantei seu braço e retirei minhas pernas debaixo das dela, saindo da cama. Minha bolsa estava em seu cabide de bolsas que parecia ser usado por uma adolescente de quinze anos, considerando o tanto de penduricalhos e coisas cor-de-rosa nele e eu fiz um tremendo barulho ao tirá-la de lá. — TJ? — perguntou e eu quase caí dura com o susto. O que diabos TJ estaria fazendo em sua casa no meio da noite? — Sou eu — sussurrei. — Estou indo nessa. Ela se sentou na cama e passou as mãos no rosto. — Que horas são agora?

— Quase quatro. — Você quer o meu carro? — perguntou. — Não quero acordar o seu pai, vou chamar um Uber. — Você pode ir com o meu carro, Ky, não é seguro entrar no carro de um desconhecido no meio da noite. — Eu não quero dar mais trabalho para você. — Apoiei a bolsa no ombro e amarrei os meus cabelos. — Cale a boca! — ela esbravejou e senti as chaves acertarem os meus peitos. — Apenas se mande logo depois que ligar o carro, porque ele anda bêbado o suficiente para pensar que é um ladrão e tem uma arma. — Jesus Cristo, eu estou indo nessa! — Abri a janela. — Vocês são loucos! Assim que as palavras saíram da minha boca, eu me lembrei do problema de sua mãe e o rubor tomou o meu rosto quando eu disse: — Oh, Deus, me desculpe! — Apenas vá logo — murmurou, mas eu sabia que estávamos bem.

Apertei o botão do controle e o portão se abriu. A casa estava escura, todas as luzes estavam apagadas, não havia nenhuma festa acontecendo lá e agradeci a Deus por isso. Não precisava de uma plateia enquanto fazia minha marcha da derrota até o meu quarto. Tampouco achava que necessitava de uma conversa dramática com Ty e TJ bêbados. Oh, não! Eu não precisava daquilo. Após constar que a porta da frente estava fechada, eu caminhei até os fundos em direção à porta que eu possuía uma cópia da chave, mas me surpreendi ao avistar um deles sentado em uma das espreguiçadeiras

que contornava a piscina. Todas as luzes estavam apagadas, não havia como identificar qual deles era sem que eu me aproximasse mais e não queria fazê-lo. Não me importava em ignorar quem quer que fosse, havia tido minha cota de merdas ultrapassando a linha que marcava perigo e sabia que estava prestes a explodir. Tentei fazer silêncio ao caminhar até a porta, mas ele colocou seus pés para baixo da espreguiçadeira e a garrafa de bebida em suas mãos tilintou contra o piso quando a colocou no chão. — Não é seguro dirigir a essa hora. Oh, que ótimo, Max! Tudo o que eu precisava era que ele visse o quão miserável eu parecia àquela altura. Abri minha bolsa, procurando pelas minhas chaves, com minhas mãos trêmulas e suadas em meio a um milhão de coisas que eu carregava nela, mas que nunca usava, praguejando minha falta de organização e a confiança que eu não tinha quando estava perto dele. Por favor, não continue falando comigo... — Kyra... — Sua voz parecia tão deprimida como eu me sentia, mas não podia ouvi-lo. — Ky... — Ele tocou no meu braço e senti minhas pernas amolecerem. Deus, como eu podia sentir que estava desmoronando apenas por ter suas mãos em mim? Sentia meu peito se rasgar, como um maldito peixe tendo suas entranhas puxadas para fora. Eu sabia a sensação agora, porque Max estava fazendo aquilo comigo naquele momento, sua palma quente tocava apenas o meu antebraço, mas eu sentia que ele tinha meu coração em suas mãos. — Ouça, Kyra, eu não estou te pedindo nada além de me ouvir. Ele estava tão perto que suas palavras fizeram cócegas em minha nuca. O cheiro do álcool era um lembrete de que talvez eu não devesse acreditar no que sairia de seus lábios a partir daquele momento, mas não

conseguia me mover. Então fechei os olhos, ainda de costas para ele, segurando a chave com tanta força entre os meus dedos que elas marcavam a minha pele. — Seja rápido! — pedi entredentes e o suspiro de alívio que deixou escapar me surpreendeu. — Eu tinha um endereço em mãos, nenhum dinheiro na carteira e minha gasolina estava acabando. Quando eu cheguei nessa casa, não fazia ideia do que me aguardava, apenas sabia que, por algum motivo, eu deveria estar aqui. — Já conheço sua história, Max. Ela não é bonita, no entanto, eu não vejo você fazer nada para mudar isso. — Kyra... — ele fez uma pausa, seus dedos deslizando do meu antebraço a palma da minha mão. — Ainda me pergunto como diabos o cara com quem eu vivia tinha esse endereço, como em nome de Deus ele podia saber sobre isso aqui, mas minha cabeça está prestes a explodir e eu sequer consigo chegar a uma conclusão. — Ele parou para respirar fundo. — Eu não fazia ideia de que alguém como você abriria aquela porta, tão explosiva e determinada que segurou minhas bolas entre os dedos e a manteve lá, onde está até agora. — Não, você nem faz ideia do que eu gostaria de fazer com as suas bolas agora, Maximum. Seus ombros caíram em derrota. — Não há mais como culpar minha história de vida de merda pelas más decisões que tomei. Você conhece meu discurso de cor, está casada de saber o quão fodido eu sou. — Ele deu de ombros. — Então não vou criar justificativas. TJ e Ty tiveram uma vida que eu não tive e mesmo assim agem como se suas cabeças estivessem enfiadas no próprio rabo.

— É esse seu discurso, então? Dizer que não se arrepende porque esse é você? — Eu ri, apesar de não haver humor. — Eu não disse que não estou arrependido. Puxei minha mão e cruzei meus braços sobre o peito. Minha pele ainda formigava no lugar onde ele havia tocado. — Eu estou bem, Max, nós estamos bem. — Não, você não está. Você foi enganada por Tray, por Tyson, por Tales, por Beth e por mim e está bem com todos nós? Você consegue se ouvir? — O que quer que eu diga? Quer que eu pegue minhas coisas e dê o fora? Você quer me ver surtar com todos vocês por agirem como idiotas? — Não! Eu quero que você faça o que tem vontade de fazer e não o que acha que seria certo. Eu ainda não sabia aonde ele queria chegar. — Certo, eu quero atirar nas suas bolas e depois me sentar e assistir você. — Oh, uau, eu não... — Ele uniu as sobrancelhas, pensativo. — Você quer realmente isso? — Max parecia estar falando sério, então respirei fundo e tentei me virar novamente, mas ele me puxou de volta. — Aonde você quer chegar? — Não sei o que me trouxe aqui, mas que estou feliz de ter vindo. Não sabia quem eu era no mundo, agora tenho uma família, tenho você e eu posso passar o resto da minha vida me redimindo por ter agido como um idiota. — Eu posso te poupar desse trabalho. Você não precisa tentar se redimir, Maximum, eu estou bem. Não é como se eu fosse morrer se não fosse ficar com você.

Que grande mentirosa que eu era, porque era exatamente como eu me sentia, como se estivesse morrendo, enquanto desejava apenas estar com ele novamente. Parecia doentio, e contra todos os meus princípios. — Eu saía com ela porque precisava de uma pessoa que pudesse me dar o que eu queria. — Sexo — murmurei. — Sim, como você e Tales faziam. Senti minhas bochechas corarem. — Era conveniente, ela estava disponível quando eu precisava e eu apenas ia. Funcionou por uns dias, embora eu só conseguisse pensar em você, Ky. — Você é nojento! — Eu sou realista! — Ele passou as mãos no pescoço e esfregou o local, fazendo meus olhos rolarem em sua pele. — Você não pensava em mim quando estava com ele? — Suas palavras eram sussurradas, mesmo assim eu sentia que estavam sendo anunciadas em um megafone. — Eu... eu preciso entrar, Max. — Kyra, por favor... apenas me deixe acabar... Respirei fundo, sentia a necessidade de correr para o meu quarto, mas meus pés estavam pregados no chão. — Eu estive com ela poucas vezes, e naquela noite... Deus, todas as minhas expectativas e esperanças foram arrancadas de mim. Eu havia perdido tudo o que achava que tinha: um lar; pais de verdade, que não sabiam sobre mim. Eu realmente não esperava que Jimmy fosse chegar aqui e dizer o que disse, então apenas caí fora e procurei algo que iria me fazer sentir melhor. — Sexo. — Álcool — ele me corrigiu. — Só que ele me levou ao sexo.

— Então agora suas desculpas não são mais o passado de merda e sim o álcool? Certo, qual será a próxima coisa que você irá culpar quando foder com tudo outra vez? — Eu não estou pedindo você em namoro nem nada, Ky, apenas est... — Oh. — Suas palavras foram como um belo tapa no meu rosto. — Você não está tentando consertar as coisas, está apenas fazendo eu perder o meu tempo? — Deus, não! — Max passou as mãos no rosto. — Tudo o que eu queria era que você sorrisse pra mim e dissesse que me entende e que, mesmo sabendo que sou idiota, sabe que eu nunca faria isso novamente se estivéssemos juntos, então eu poderia enfiar minhas mãos em você e dormir em paz. — Max... — Mas sei que você é mais do que isso, Oklahoma, e foi por isso que eu me apaixonei por você em tão pouco tempo. — Você estava apaixonado por mim quando enterrou seu pau em Camille? — perguntei entredentes. — Sim, eu estava — ele respondeu com sinceridade, seus olhos presos nos meus. — E eu sinto muito. — Estou cansada demais, Max, eu preciso ir. — Me desculpe por ser um idiota — sussurrou, uma súplica que fez meu coração errar uma batida. Com um gesto rápido, ele me puxou para um abraço que não tive tempo de evitar. Seus braços me prendiam com tanta força que eu jamais poderia me desvencilhar, e, mesmo que uma parte minha gritasse para eu correr para longe, eu senti conforto em seu toque. Um toque que esfregava em minha cara o que eu estava perdendo.

Não podia deixá-lo ir, mas também não podia deixá-lo ficar. Entendi naquele momento, que não havia como me achar em um relacionamento quando na verdade eu não havia me achado na vida, então eu precisava fazer uma coisa que eu sabia que seria doído demais, entretanto, seria o certo a fazer. — Eu amo você, Max, eu me apaixonei por você tão rápido que me vi desesperada quando me dei conta do quanto dependia de você. — Parei para retomar o ar, ainda sob seu aperto, então ele deu um passo para trás, seus olhos suplicavam para que eu não dissesse o que ele sabia que eu iria falar. — Eu me vi dependente até mesmo sobre pequenas coisas: um olhar, um toque, um sorriso. Você é viciante pra mim. — Não faça isso... — Ele encostou sua testa na minha e eu quis beijálo, mas não podia fazê-lo, eu precisava ter um tempo só meu. — Eu não posso me meter em um relacionamento agora, mesmo que eu sinta que não posso respirar se não o tiver por perto. Você cometeu um erro... — suspirei, tentando buscar as palavras certas. — E eu sou famosa por perdoar rápido. Preciso aprender que essas pequenas coisas fazem mal para mim. Preciso descobrir o que quero fazer, aonde eu quero ir, do que eu quero viver... — Sim, porra... — Ele espalmou meu rosto, roçando seu nariz no meu. — Você precisa. — Eu sinto muito, queria que pudéssemos ter feito as coisas do jeito certo, mas nós começamos da forma errada, nós pulamos todas as etapas. — Sim, fizemos. — Ele riu, seu hálito tocando o meu rosto, eu fechei os olhos e desejei que tudo fosse diferente. — Você cometeu um erro, mas, entre todos, você foi a única pessoa que me enxergou de verdade, você... me ouviu, Max, e eu estou certa de que estaria afundada em algo que não gostava pelo resto da minha vida

se não tivesse conhecido você. Ainda estava usando a camisa que ele me deu e aquilo fazia eu me sentir ainda pior, porque ela lembrava de como eu pensei que acabaria aquela noite e não era comigo terminando o que sequer havia começado com Max. — Pode parecer loucura, porque um mês e meio é pouco tempo para se amar alguém, mas eu sinto com tudo o que eu tenho, por tudo o que eu sou, que sou completamente louco por você, Ky. — Eu sei. — Deslizei as mãos sobre sua cintura e enrosquei meus dedos no tecido de sua camisa. — Realmente espero que você se encontre e que seja feliz. — Ele parecia verdadeiro, embora parecesse desesperado dizendo aquilo. Eu queria ser feliz com Maximum, mas precisava encontrar minha felicidade em primeiro lugar, depois poderia compartilhá-la com alguém, poderia compartilhar com ele, se o destino permitisse. Eu queria que ficássemos juntos, porque eu também era louca por ele. Mas nós dois precisávamos desse tempo; eu sabia que ele também precisava. Max tinha um passado de merda para superar, anos de convivência perdida com os irmãos que precisava recuperar e um futuro para construir. — Também espero que você tenha tudo o que nunca teve. Eu vou estar sempre por perto caso você precise de um ombro amigo, mas apenas estou fazendo algo que uma amiga me ensinou essa noite. — Eu o abracei pela última vez, com meu peito em chamas, enquanto reprimia toda a vontade que tinha de beijá-lo e apagar tudo o que havia dito. — Eu estou me colocando em primeiro lugar, Max.

Depois da noite em que conheci meus irmãos, aquela foi a segunda noite mais louca da minha vida. Foi quando tudo mudou entre nós. Forcei minha vista, tentando enxergar através dos vidros embaçados, o carro que Ty não guardou e que agora estava atolado na neve. Santo idiota, provavelmente sobraria para mim o trabalho de retirá-lo de lá, porque o fato de eu saber lidar com motores havia me transformado em um manobrista e lavador de carros também. Não que uma coisa tivesse a ver com a outra. Eu estava tão nervoso, que me sentia ridículo, segurando uma xícara fumegante de café e olhando a neve cair através das amplas janelas da sala de estar. Fazia dois meses que havia visto Oklahoma pela última vez e o fato dela estar na cozinha, a poucos metros de mim, fazia meu coração bater ansioso, porque uma coisa era trocar mensagens, como fazíamos nos últimos meses; mas outra, muito diferente, era estar no mesmo lugar que ela. Era bom, mas deprimente que Kyra soubesse como eu me sentia. Havíamos concordado em nos afastar para que pudéssemos nos encontrar, mas não conseguimos fazê-lo cem por cento, por isso nos concentramos em mensagens, embora nunca nos víssemos

pessoalmente. Eu achava que, depois de um tempo, o que eu sentia por ela iria se dissipar até que deixasse de existir, mas acontece que eu pensava nela todos os malditos dias. Oklahoma deixou a casa, alugou um apartamento com a ajuda dos pais no primeiro mês e, a partir do segundo, estava tirando de letra a vida em liberdade. Ela havia se afastado de Ty e TJ também, quase nunca aparecia e, embora eu também estivesse sofrendo, era engraçado vê-los se afundando sem ela. Eles se sentiam perdidos, como dois malditos cachorros trilhando pela casa quando seus donos saíam de viagem. Ambos suplicaram algumas vezes para que ela voltasse, mas Kyra se manteve firme em sua decisão, sobre sua busca por ela mesma. Ela perguntava sobre mim, mas não falava sobre ela, e eu não fazia ideia de como se sentia com relação a sua nova vida, embora não fosse por falta de pergunta. Eu estava feliz ao vê-la indo bem, mas minhas bolas latejavam por estar a mais de cem dias sem sexo, não que eu não tivesse usado as mãos algumas dezenas de vezes, mas depois de senti-la de verdade, eu sabia o que diabos estava perdendo. — Você parece um maricas, ela nunca vai querer você de volta se continuar assim. — TJ despejou o uísque do seu copo dentro da minha xícara fumegante de café e suspirei. — Eu estou tentando não me jogar aos pés dela e suplicar — confessei. Era outra novidade sobre mim, afinal. Eu falava agora. Falava sobre o que sentia, como me sentia, reclamava, tinha minhas próprias opiniões, tomava minhas decisões e me manifestava sempre que queria. Havia aprendido a falar de verdade e TJ havia sido crucial para que isso

acontecesse, porque ele insistia e me cutucava até que eu despejasse minhas merdas sobre ele. Foi estressante e cauteloso no começo, mas depois falar ficava cada vez mais fácil. — Acredite, suplicar não vai adiantar. — Ele provavelmente se referia a Beth. — É claro que não, além disso, eu não quero que alguém esteja comigo porque eu tive que suplicar por isso. — Foda-se! — Ele tocou o fundo da minha xícara, a empurrando até meu rosto. — Se Beth ficasse comigo apenas por pena, eu já estaria feliz. — Por isso você é o mais idiota de nós. — Bebi a mistura de líquidos e gostei do sabor. — Eu fazia isso quando meu pai estava em casa e queria ficar doidão no café da manhã. — Ele deu um sorriso que revelava todos os seus dentes. — Por que ele está olhando tanto pra você, afinal? Eu não precisava encarar Jimmy para saber que seus olhos estavam sobre mim, porque podia sentir. Acontece que ele estava insistindo para que eu deixasse a oficina na qual estava trabalhando para abrir minha própria. Ele havia preenchido um cheque com mais dinheiro do que eu podia gastar e deixado sobre minha cama, como se fosse apenas um maldito pedaço de papel. No entanto, eu o havia recusado. Não havia sido por esse motivo que decidi ficar. Eu não queria seu dinheiro. — Ele ainda está insistindo para eu aceitar o cheque. — O quê? — Ele arregalou os olhos, dramaticamente. — Você ainda não aceitou? É só dinheiro, Max. Só dinheiro... — Só dinheiro? — eu ri, não havia mais o que dizer. — Ele quer ajudar você, irmão. — Deu um gole em sua bebida. — Pensei que tivesse mudado de ideia depois de conversarmos.

— Eu não estou aqui por isso. — Todos nós sabemos, porra! — Você já está bêbado e o peru ainda nem está pronto. Ele riu. — Eu não estou bêbado, seu idiota! Eu... apenas, porra, aceita essa grana e seja feliz. — Ele contornou meu ombro com o braço. Eu havia pensado muito sobre aquilo, e confesso que parte minha ainda pensava, mas não conseguia fazê-lo. Era mais fácil para mim recusar e continuar como eu estava – o que não era ruim –, a aceitar e me sentir mal por tê-lo feito. Eu estava bem vivendo com eles e trabalhando na oficina, de qualquer forma. — Por que as gazelas estão se abraçando a uma hora dessas? — Ty se aproximou, olhando através da janela seu carro coberto pela neve. — Ninguém sequer está bêbado o suficiente para demonstrar afeto em público, afinal. E, porra, meu carro está afundado na neve, Max. — Foda-se, minha Harley está na garagem! TJ se virou de frente para nós dois, sentando-se em um pequeno banco de madeira. — Eu pensei que você fosse buscar a Kyra com ele, por isso deixei lá. — Ela ligou avisando que não era mais preciso, Tyson, você teve tempo de sobra para guardá-lo. — Foda-se também. Ninguém vai a porra de lugar algum com a tempestade que está se aproximando. — Ele se sentou em uma das poltronas, apoiando seus pés com coturnos no peitoril baixo da janela. O fato dele citar a tempestade me fez pensar em Kyra dormindo na casa naquela noite e, de repente, eu comecei a suar frio com a possibilidade de passar mais tempo com ela. — Você deveria aceitar o dinheiro — Ty comentou.

— Você estava ouvindo a nossa conversa? — perguntei, ignorando o sorriso travesso em seu rosto. — Sim, a parte sobre se rastejar também. E achei vergonhoso. — E todas as vezes em que sumia, Ty — TJ o provocou. — Às vezes que passou noites fora. Aposto que estava em New Haven se rastejando para alguém. O rosto de Tyson se contorceu em desgosto e ele afundou na poltrona, puxando o capuz do seu moletom para cima. Eu sorri, observando a forma como ele agia quando, de repente, virava o centro das atenções. Ty não foi o mais receptivo dos dois quando cheguei, mas eu sentia que ele estava nessa tanto quanto TJ. Nós apenas tínhamos três personalidades diferentes e estávamos tentando lidar com elas. — Será que ela vai aparecer hoje por aqui? — ele continuou. — Fiquei sabendo que está na cidade. O problema é que Tyson era uma bomba relógio quando Tray estava por perto. — Foda-se, eu já caí fora dessa! — Ele enfiou as mãos no bolso do jeans e retirou uma carteira de cigarros e um isqueiro de lá. — Eu vivo repetindo isso também — TJ gracejou. — E você deveria parar de fumar. Tyson ignorou o irmão, com sua atenção inteiramente em mim. — Max. — Ele se levantou, ficando cara a cara comigo. — Todo mundo aqui sabe que você não quer o dinheiro, estamos juntos nessa. Esse dinheiro é seu também, apesar de tudo. — Colocou a mão no meu pescoço e deu um aperto firme. — Nós somos uma família, você é nossa família — disse antes de sair e eu apenas soube encarar o chão. — Filho — Jimmy nos contornou, chamando minha atenção.

A forma como ele sempre me chamou de filho fazia com que eu soubesse ainda mais o que estava perdendo, entretanto, também fazia me sentir acolhido por ele. Jimmy nos visitava constantemente, algumas vezes apenas ligava para mim, para saber como eu estava, ele vivia repetindo sobre eu ser o mais sensato e a forma como lidava comigo, como havia me recebido de braços abertos, fazia com que eu realmente me sentisse em casa. — Ei, pai, aceita um café? — TJ brincou com ele, fazendo um sorriso se formar em seu rosto. — Todo mundo sabe o que tem em seus cafés, Tales. — Por que você não vai ver se Kyra precisa de uma ajuda na cozinha? — Ele ergueu as sobrancelhas, esperançoso. — Ela está fazendo tudo sozinha. Sim, ela estava. O fato de ser a única mulher na casa havia dado a ela algum trabalho, embora houvesse mais machismo nesse pensamento do que eu poderia contar. Segurei minha xícara com força, observando os nós dos meus dedos ficarem brancos. Eu sequer sabia como agir em sua presença. Dois meses, Max, você não a vê há dois meses. Meu estômago se contorceu, eu estava ansioso por aquele momento. — Você parece prestes a desmaiar. — TJ começou a rir. Eu teria rido também se não fosse eu. — Sim, ele está — Jimmy respondeu. — Merda, foda-se! — murmurei entredentes, enquanto deixava a sala de estar.

Parei na porta da cozinha e a avistei. Kyra estava de costas para mim, seus cabelos loiros caíam em ondas sobre o tecido vermelho do vestido que usava. Sua pele não era mais tão bronzeada como no verão, mas a falta de cor dela me fez lembrar um anjo. Sua testa estava apoiada na janela e ela olhava a neve cair lentamente, enquanto segurava uma taça de vinho quase no final. Não me importava se não conversássemos ou qualquer outra coisa, porque eu estaria feliz se apenas pudesse ficar olhando para ela daquela forma. Tão linda e doce e, ao mesmo tempo, tão forte e determinada. Kyra mudou o peso do seu corpo para outra perna e meus olhos caíram sobre seus sapatos de salto. Eu poderia fodê-la facilmente usando apenas eles. — Você pode dizer alguma coisa se quiser — ela murmurou, ainda de costas. Bem, eu poderia começar dizendo que gostaria de beijar você. — Eu... não sei o que dizer — confessei, como o maricas que havia me tornado. Seu riso manso atravessou o cômodo e chegou aos meus ouvidos como música clássica.

— Pode começar dizendo oi. — Kyra se virou. Sua boca perfeita se transformou em um sorriso e então ela deu de ombros, seus olhos correndo sobre todo o meu corpo. Como ela podia ser como era? Tão... perfeita? Deus, eu a amava como um louco ainda! — Olá, Oklahoma. — Tentei controlar minha respiração, para que eu não parecesse um idiota. — Olá, Max. — Deu um pequeno sorriso tímido e eu quis abraçá-la. Eu precisava de mais do que uma porra de “olá”. — Como você está? — Bem. — Ela desviou o olhar. — Você está linda. — E não era nenhuma surpresa, mas porra... ela parecia tão confiante. — Você também não está nada mal. — Kyra se concentrou em tirar pelinhos que não existiam em seu vestido. — Como está a faculdade? Largou sua taça sobre a bancada de mármore e cruzou os braços sobre os seios, pensando em uma resposta. Ela havia decidido terminar a faculdade e ter seu diploma, para só então, pensar em algo que pudesse fazer, talvez um novo curso que realmente gostasse. Ky não queria perder anos de faculdade e a chance de uma garantia. Ela estava certa e eu a admirava muito por isso. Seus pais também haviam aceitado bem sua decisão, ambos queriam apenas que ela estivesse feliz. — Caminhando para o fim. — Já pensou no que fazer depois? — perguntei ansioso. O pensamento de Kyra vivendo na Geórgia me matava lentamente. Eu não estava pronto para vê-la partir. — Eu vou para a Geórgia. Não. Não. Não.

Tentei buscar as palavras certas, mas elas não existiam. Não havia nada que eu pudesse falar e, de repente, o lance sobre suplicar começou a passar pela minha cabeça. Ela me encarava, sem desviar o olhar, estava tão perto de mim que eu me perguntei quem de nós havia dado os passos que diminuíram a distância entre nós, porque me sentia imóvel. Estarrecido, como um maldito covarde. Vamos lá, Max, diga a ela que você ainda a ama... Eu teria dito, talvez, mas ela me surpreendeu ao abrir um sorriso do tamanho do mundo. — Você fica lindo quando está pensativo. — Ela inclinou a cabeça para o lado. — Eu não podia deixar essa passar. Porra, seu idiota! — Você é uma sacana, Bruxinha! Dei um passo para frente e a puxei para um abraço. Ela tropeçou nos saltos, mas se endireitou quando nossos corpos estavam colados um ao outro, então Kyra finalmente relaxou em meus braços, suas mãos deslizando sobre minhas costas. Enterrei minha cabeça na curvatura do seu pescoço e funguei como um louco viciado. Ela ainda tinha o mesmo maldito cheiro. Deus, como ela parecia perfeita ali, sob o meu aperto. — Eu senti sua falta, Max — sussurrou, e eu apenas desejei beijá-la mais uma vez. Só que um abraço e uma confissão não significavam que ela queria estar comigo. Ela sentia a minha falta, mas, provavelmente, ela sentia a falta de Ty e TJ também, então eu não podia criar muitas expectativas. Nós permanecemos por um bom tempo daquela forma. Dois fodidos meses desejando estar com as mãos nelas e eu não podia fazer nada além de abraçá-la. — Porra, eu senti a sua também.

Quando ela soltou a barra do meu moletom, eu me afastei, correndo as mãos até sua nuca, meus polegares erguendo seu queixo, enquanto eu a encarava como um doente. Seus olhos não deixaram os meus e suas bochechas vermelhas me mostravam que eu ainda surtia o mesmo efeito nela. Mas ela parecia tão bem que eu senti o pânico de ser a pessoa que iria mudar isso. Pressionei minha boca em sua testa e a beijei. — Como você realmente está, Kyra? — insisti. — Eu... Não é fácil desapegar de vocês, droga! — Sua voz era chorosa, mas eu não pude deixar de sorrir. — Os meninos... eles me sugavam a vida, mas eu amava o que tínhamos. — Eles agem como cães que se perderam dos donos. Ela sorriu, secando uma lágrima que escapou. — Fui eu quem esteve perto demais quando Helena partiu e, desde então, nunca fiquei longe. — E como se sente? — Coloquei uma mecha para trás da sua orelha, porque eu apenas queria ficar tocando nela o tempo inteiro. — Eu estou bem, é libertador viver minha própria vida — confessou. — Eu me formo em breve, quem sabe eu trabalhe na área, em algo que realmente me encontre, enquanto começo outro curso, eu não sei, eu nem faço ideia, e sabe... — Diga — perguntei ansioso, quando ela parou de falar. — Eu nem me importo. — Kyra deu de ombros. — Não me importo de levar uns dois anos tentando me encontrar. Eu não tenho pressa. Eu sorri. — A vida é curta demais para desperdiçá-la com algo que não a deixa feliz. — Ela se afastou um pouco, pegando sua taça e dando um longo gole no vinho tinto. — Eu estou orgulhoso, de você, Oklahoma.

— Você mudou a minha vida, Max. — As palavras deixaram sua boca com imensa certeza. — Você me fez enxergar tudo de outra forma. Eu achava que estava progredindo apenas por estar prestes a me formar em algo, mas me sentia estagnada. — Só porque uma pessoa está fazendo coisas certas, não significa que elas são certas para aquela pessoa. — Sim, eu sei disso agora. — Ela passou a língua sobre os lábios e meus olhos se perderam neles por um momento. — Como seus pais estão com o fato de você passar outro feriado de Ação de Graças longe deles? Ela sorriu. — Eles ficarão bem, porque sabem que vocês precisam de mim aqui. Sim, eu preciso de você. — Além disso, eu estou indo para o Natal. Eu me sentia ansioso apenas por saber que ela estaria em outro estado em poucas semanas. — Eles estão lidando bem com tudo isso, são boas pessoas... Mandaram um “oi” para você, aliás. Senti a chama do inferno em meu estômago apenas por saber que seus pais sabiam sobre mim. — Você está branco demais, o que foi? — indagou, se divertindo. — Minha mãe sabe sobre nossa aventura noturna, mas meu pai ficou com os outros detalhes, entretanto. Graças a Deus! Sua mãe... O quê... — Deus, eu nem quero saber o que ela pensa de mim por isso. — Ela não pode julgá-lo e, quem sabe, eu possa trabalhar com você em sua nova oficina. — Kyra ergueu as sobrancelhas, brincando. — Quem é que sabe? Talvez o que eu ame realmente seja trabalhar em

motores como você. — Eu não aceitei o dinheiro. Talvez, se ela tivesse levado um tapa, teria reagido de forma menos dramática. — Porra, Max! — Suas mãos agora estavam em sua cintura e seus seios empinados para mim. E era por esse motivo que eu adorava irritá-la, porque ela era muito mais gostosa quando estava brava. Meu corpo foi tomado pelo calor de estar perto demais dela, minha respiração já não era mais a mesma e eu me perguntava quanto tempo aguentaria sem beijá-la. Tirei meu moletom e o joguei sobre uma banqueta. — Eu não preciso de dinheiro. — É claro que você precisa. Deus, por que você tem que ser tão orgulhoso? — Ela parecia enfurecida. — Eu não sou orgulhoso, Kyra! — Claro que você é! Aceite o dinheiro, abra seu próprio negócio. Eu estou aqui para ajudá-lo com o que precisar. — Você me ajudaria com o quê? — O pensamento de estar com ela no futuro me deixava animado. — Nome para uma oficina, os móveis, a decoração, a primeira compra de peças. — Ela deu de ombros. — Com o que você precisar. Eu sorri, como um maldito. — Eu não sei... — Pare de pensar e comece a agir. — Quando as palavras deixaram sua boca, ela se deu conta do que elas realmente poderiam significar naquele contexto. — Eu estou tentando não ser um idiota. — Usei uma frase que se encaixava em qualquer uma das duas situações.

Sim, porra, eu estava tentando. — Nós... precisamos conversar, eu acho que realmente chegou a hora... — Ela realmente parecia nervosa. — Eu estive pensando muito na gente. — Deus, sim, eu... eu também acho que precisamos. Ela enroscou seus braços em mim novamente e eu desejei que ficássemos bem.

Ele nunca pareceu tão bem, seus cabelos haviam sido cortados, as laterais mais baixas, de modo que o topo fosse contornado por fios longos; fios que tocavam seu nariz, quando ele abaixava a cabeça, e eu adorava como ele parecia quente com os cabelos longos. Sua pele estava mais clara por causa do inverno e seus olhos verdes pareciam mais doces por isso. Max vestia roupas quentes, um moletom grosso, jeans e botas pesadas, o que o fez parecer muito com Ty, apesar de ele parecer único para mim. Ele parecia tão à vontade na casa que meu peito se encheu de orgulho por perceber que havia se encontrado com os irmãos. Eu sabia que estava tomando a decisão certa quando parti. Os três não queriam, Max inclusive pegou suas coisas e disse que estava saindo, que eu podia ficar, mas insisti, porque não era por ele que eu estava indo, era por mim. Eu precisava saber como era a vida sem meus pais, sem os irmãos, sem outra garantia que não fosse eu mesma. Precisava saber que conseguia sozinha, que podia alugar um espaço e viver do meu salário no bar e eu estava indo muito bem. Gostava do sossego e, principalmente, do fato de não haver festas todos os finais de semana, entretanto, eu confesso que, às vezes, sentia que estava prestes a enlouquecer.

Algumas vezes, eu era capaz de ouvir a voz de TJ caçoando de mim ou Ty mandando alguém se foder, às vezes também podia sentir a presença de Max, como se ele estivesse me observando, mas eu sabia que era apenas a maldição dos irmãos Jackson e que eu ficaria bem. Por esse motivo, eu ignorei os dois por algum tempo, precisava que eles entendessem que eu não estava brava com Maximum apesar de tudo, que eu só queria poder estar por conta própria, até que chegou a hora que finalmente entenderam. Foi mais fácil depois disso, apesar de eu sentir suas faltas até em meus ossos. No entanto, eu ocupei meu tempo mantendo mais contato com minha família nos últimos meses, ligando para a minha mãe sempre que possível e acompanhando meu sobrinho por chamadas de vídeos, que agora eu podia fazer por causa do silêncio a minha volta. Lizzie e mamãe sabiam sobre Max, cada detalhe – que não envolvia sexo, e elas entendiam a minha decisão, apesar de acharem que eu havia deixado passar tempo demais. Eu havia me afastado um pouco de Tray também, havia aceitado fácil demais seu segredo sobre Ty e, quando finalmente caí na realidade, eu percebi o quão longe aquela história ia, o quanto de coisas que ela deveria ter escondido de mim, sua melhor amiga, por isso eu decidi dar um tempo; precisava esvaziar minha mente, pensar no que eu sentia de verdade e não apenas no que achava que sentia, porque eu perdoava rápido demais e precisava saber se aquilo era uma característica da minha personalidade ou se eu apenas estava acostumada àquilo. E tudo isso, todo o tempo que tirei para mim, para pensar, para viver a minha própria vida, estava relacionado a Max e a forma como ele havia mudado minha vida em tão pouco tempo. Sim, eu o amava, era louca por

ele; e, mesmo que, às vezes, eu sentisse que estava morrendo, eu sabia que ficaria bem, porque minha felicidade não dependia de homem nenhum. Minha felicidade não dependia de ninguém além de mim. E lá estava ele, tão lindo quanto há dois meses, na última vez que o vi, encarando-me como se eu fosse a última mulher na face da Terra enquanto eu apenas desejava no meu íntimo, que ele ainda sentisse alguma coisa por mim. Meus olhos rolaram sobre seu rosto, cada maldito detalhe dele era lindo de uma forma única, desde o pequeno sorriso torto que tentava esconder as pequenas gracinhas que fazia mesmo ainda um pouco retraído ao fazê-las. Seus olhos encontraram os meus e ele sorriu, como se tivesse me pegado roubando algo. — O que acha, Ty? — Jimmy perguntou e percebi que sequer fazia ideia do que estavam falando. — Ele não pode falar agora, pai. Está com o peru na boca. Cuspi o vinho de volta na taça e todo mundo me olhou. — Desculpe. A piada no peru sempre acontecia no dia de Ação de Graças, eu deveria estar acostumada, afinal. — Isso é molho branco sobre a cabeça do peru? — ele continuou e Jimmy grunhiu. — Desde quando a cabeça do peru é assada junto, porra? — TJ reclamou. Seu pai sorriu por trás do copo de uísque. Ele geralmente escondia o fato de achar graça daquele tipo de linguajar, embora em alguns momentos eu tenha ouvido as palavras “pau”, “enfiado” e “bunda” na mesma frase. — Controlem suas bocas sujas, há uma dama na mesa.

Até mesmo eu caí na gargalhada ao ouvir Jimmy pedindo para que não falassem palavrão por minha causa; Deus, eu xingava mais do que maldito marinheiro. Observei os irmãos, a cabeça de TJ parecia prestes a explodir, enquanto Ty secava uma lágrima dos olhos, rindo baixinho e Max... parecia estar se divertindo tanto quanto os irmãos e, provavelmente, ele deveria estar se lembrando da vez em que apontei uma arma para ele. Nossa, que bela dama! — Do que porra estão rindo, caralho? — brinquei, levando minha taça até a boca. — O peru está uma delícia, com cabeça ou sem. Eles continuaram rindo e eu senti o peso da saudade de momentos como aquele, quando estávamos todos reunidos falando bobagens e sendo quem éramos de verdade. Tolos que funcionavam bem juntos, apesar de todos os segredos e brigas. Os olhos de Max encontravam os meus sempre que eu o olhava, como imãs. Eu sabia o que sentia por ele, mas estar naquele jantar havia dissipado qualquer resto de dúvidas. Nós precisávamos de fato conversar. — Me passa a salada, Oklahoma? Max estendeu o braço sobre a mesa e eu lhe entreguei a travessa, foi então que o mundo desabou aos meus pés. Eu não era capaz de parar de olhar aquele pequeno pedaço de pele tatuada. — Puta merda! — murmurei, sentindo meu rosto arder. Sentia que não era capaz de respirar. — Está tudo bem? — Jimmy perguntou e eu assenti. — Apenas preciso ir ao banheiro. — Vá falar com ela — ouvi TJ sussurrar. Acelerei meus passos, sentia falta de ar, como se todo aquele oxigênio não me fosse suficiente. Minhas mãos suavam quando eu toquei a maçaneta e, ao girá-la e empurrá-la, senti o corpo de Max me arrastar

para dentro do banheiro. Eu o encarei, como se ele fosse um maldito louco, enquanto puxava seu antebraço para mim, encarando os traços tatuados no pouco espaço livre que ele ainda tinha de pele, mas que agora estava preenchido. — Oh, meu Deus! Isso é... — O estado de Oklahoma. — Sua voz era tão suave que eu me obriguei a olhar para os seus lábios. — Deus... eu... — Eu estava prestes a chorar. — Eu ainda amo você — ele murmurou, enquanto eu ainda encarava sua boca, por isso tive tanta certeza de suas palavras. — Max... eu... Deus, isso é permanente? Ele me surpreendeu ao dar uma gargalhada. — Eu disse que amo você e é apenas isso que tem a me dizer? — Ele correu seus dedos até meu pescoço, tocando meu queixo com o polegar. — O que mais seria se não fosse permanente, Ky? — Deus, eu nem sei o que dizer. — Diga que gostou. — Ele deu de ombros, encarando a tatuagem em seu braço. — E que me ama também. O estado desenhado com traços delicados e o nome OKLAHOMA dentro dele. Tão perfeito não apenas por ser bem feito, mas pelo significado que carregava. Eu estava gravada em sua pele. — Você... Eu pensei que... — Eu não estive com mais ninguém — confessou e eu senti como se tivesse levado um soco no estômago. — Você não precisava fazer isso, Max. Claro que precisava. Sim, claro que sim! — Eu... apenas não queria mais ninguém além de você, não fazia sentido.

Minhas pálpebras de repente pareciam tão pesadas enquanto o encarava. Eu estava cansada de lutar contra aquilo, de tentar me manter longe. — Deus, Max, eu ainda amo tanto você... — sussurrei. Maximum deixou escapar um suspiro estrangulado. Sua testa tocou a minha e mesmo que ele parecesse cauteloso ao me tocar, eu sabia que estava se controlando, porque sua respiração nada sutil me mostrava o quanto também se sentia desesperado por mais. — Então é realmente hora de conversarmos sobre isso, Oklahoma, porque porra... eu ainda amo muito você. Sorri, ouvindo aquelas palavras como se elas fossem músicas tocadas apenas para mim. Eu não tinha uma tatuagem sobre ele, mas sentia que Max estava gravado em cada pedaço meu. — Finalmente eu sei quem sou, Max, agora eu gostaria de saber quem sou quando estou com você. O que aconteceu em seguida foi tão rápido que eu nunca seria capaz de descrever. Sua boca tocou a minha, faminta, enquanto suas mãos corriam livremente pelo meu corpo, apertando minha bunda com força e me colocando sobre o mármore da pia. Ele me devorou como um louco e gemi de prazer ao sentir nossos corpos trabalhando no mesmo ritmo. Nós éramos perfeitos juntos, tínhamos química; funcionávamos e nos encaixávamos perfeitamente quando estávamos juntos. — Deus, Kyra, você não sabe o quanto eu desejei isso — murmurou com seus lábios colados aos meus, enquanto roubava minha respiração. Max me segurava entre suas mãos, como se eu pudesse quebrar se ele me largasse; e eu amava como me sentia segura em seus braços. Amava como eu me encontrava nele, como sentia que estava realmente completa, muito embora agora eu soubesse que não precisava de

ninguém além de mim mesma para ser feliz. Como se ele fosse um bônus extra de felicidade. Eu era feliz sozinha, mas conseguia ser ainda mais com Max. — O que você acha de um novo começo? — Eu me contorci, sentindo seus lábios tocarem a pele do meu pescoço, fazendo um caminho quente até meus seios. — Eu acho que começamos muito bem com aquele beijo. Sim, se eu não o tivesse beijado naquela noite, nunca saberia o que estava realmente perdendo. — É, bem... — um gemido involuntário escapou de mim. — Mas talvez nós precisamos começar da forma certa. Ele se afastou com um sorriso pervertido se curvando nos lábios. — Prazer, eu me chamo Maximum. Cristo, como ele era lindo e perfeito... — O prazer é meu, Maximum. Eu me chamo Kyra. Ele contornou minha pele, subindo outra vez até meu pescoço, deixando outro rastro de beijos até minha orelha, então sussurrou: — Eu gostaria de comer você agora, Kyra. Desejei estar em sua cama, ou na minha, tanto faz, mas em um lugar onde eu podia me entregar para ele de uma forma que eu nunca havia feito antes. Eu queria estar com ele, muito, Deus, como eu podia desejar tanto alguém como o desejava? Parecia desesperador, mais de três meses de desejo reprimido e eu sentia que estava prestes a explodir. — Eu gostaria que você me comesse agora — sussurrei de volta. — Max? — TJ bateu na porta e eu me afastei, assustada. — Porra, TJ, o que você quer? — Você apenas precisa vir aqui — ele respondeu cauteloso. — Agora.

— O que porra vocês estão fazendo aqui? — Max perguntou a duas garotas na porta. Elas deveriam ter entre dezoito e vinte e dois anos, talvez. Elas eram tão lindas que eu me sentia ofendida apenas em olhar em suas direções. Os olhos em um tom impecável de verde e os cabelos loiros eram tão claros quanto os meus, mas pareciam muito mais bonitos nelas. O rosto de uma delas estava vermelho, como se tivesse chorado por horas, enquanto a outra parecia relutante. Eu ainda não sabia como me sentia, não fazia ideia de quem eram, o que queriam, mas não conseguia imaginar Max com uma delas, não depois de ver meu apelido tatuado em sua pele. — Max... — A mais velha deu um passo para frente e o abraçou. Observei Maximum confuso, as mãos para baixo, sem saber o que fazer. Enquanto a mais nova, encarava os três, aturdida, os olhos arregalados, com uma expressão de quem parecia prestes a ficar louca. — O que diabos... Por que caralho você está me abraçando, Maeve? Você está louca, porra? — perguntou, dando um passo para trás. Ela secou as lágrimas, encarando os outros irmãos e Jimmy, que parecia tão confuso com tudo quanto todos nós.

— Deus, eu... — ela continuava chorando. — Max... eu nem sei por onde começar. — Comece pelo começo, filha. — Jimmy apontou para a sala. — Parece uma longa história, então eu acho melhor todos nós nos sentarmos. Maeve secou as lágrimas e seguiu até a sala, com a mão do Sr. Jackson em seu ombro. Ela parecia prestes a desmoronar e seu toque a lembrava que ele estava lá para o caso daquilo acontecer. Eu o amava por isso. Ela se sentou no braço da poltrona, enquanto eu segurei a mão de Max, TJ e Jimmy se sentaram no sofá a sua frente e Ty e a menina mais nova escolheram um canto mais escondido para ouvir a história. — Bom, eu vou começar do início então... — Ela encarou Jimmy, ao mesmo passo em que secava as lágrimas do seu rosto. — Minha mãe é reverenda em uma cidade onde moramos na Pensilvânia. A religião é meio que uma... coisa da nossa família. É passada a cada nova geração e todos nós “fomos” — ela fez aspar no ar — criados para seguir o caminho de Deus. Eu já sentia pena dela apenas pela forma como dizia aquelas palavras como se fossem um fardo. — Minha mãe conheceu meu pai há alguns anos, ele estava perdido e buscou a igreja para... tentar se encontrar no caminho Divino. Ty murmurou algum palavrão no canto de onde estava e eu o repreendi com o olhar. Ele era ainda menos religioso que Max. — Funcionou no início, eles se apaixonaram. Ela era tudo o que ele nunca teve: centrada, determinada, vinha de uma família religiosa e andava no caminho certo. Ela lutou por ele, lutou contra a família até que eles o aceitaram. — Por que você veio até aqui falar do seu pai? Você sequer o conhecia e agora ele está morto. Você não acha que é tarde demais?

— Max, me desculpe ter tratado você como eu tratei, eu... — Ela soltou o ar com força. — Apenas me escute... Max se inclinou no meu ouvido e sussurrou que seu pai era o cara que o havia encontrado na rua e eu apertei sua mão, lhe mostrando que eu estava bem ali e não iria a lugar algum. — Todos entenderam que ele estava mudando e lhe deram uma nova chance. Ela engravidou de mim em seguida, eles estavam apenas se conhecendo, mas ela estava feliz. Ele realmente parecia estar mudando, afinal, todo o passado, as drogas, o álcool, tudo estava sendo abandonado. — Ela secou uma lágrima solitária e cruzou os braços. Parecia realmente nervosa. — Quando eu nasci, ele começou a parecer mais... agressivo. Não exatamente agressivo, eu não sei, minha mãe diz que ele era muito... impaciente. — Bom, sim, ele era meio estranho as vezes — Max sussurrou para que apenas eu ouvisse. — Mas eu não sei em que porra ela quer chegar. — Dois anos depois, veio Glenda. — Ela apontou para irmã, encolhida ao lado de Ty. — Dali para frente ele apenas se afundou, retornando aos seus pecados, o álcool era o pior deles. — Eu vou queimar no inferno então — TJ comentou, se inclinando para frente para prestar mais atenção na conversa no qual estava tão envolvido. — Bom, você teve uma criação, eu tive outra, embora eu ache tudo muito radical. Eu não sigo... todas as regras, mas também não... extravaso. Respeito minha família, mesmo que as vezes a minha vontade seja simplesmente desaparecer. — Continue com o que quer que seja isso, Maeve — Max murmurou.

— Sim, claro... Bom, depois de Glenda, ele se afundou em autodepreciação, sua tendência era se afundar cada vez mais, e isso aconteceu até meu décimo aniversário, quando uma mulher bateu a nossa porta. Ela se chamava Carrie, era uma mulher bonita, apesar das marcas roxas que contornavam seus olhos. Parecia cansada, parecia que estava quase morrendo, e estava. — Deus! — Jimmy comentou. — Oh, meu Deus! — Ele passou a mão no rosto e todos nós o encaramos. Ele parecia ter juntado as peças antes de todos. — Ela tinha insuficiência pulmonar. Oh, Deus, eu havia ouvido um deles comentar que a mãe havia morrido da mesma coisa, e eu tentei juntar um mais um, mas a soma final não dava certo. — Espera... — TJ parecia confuso. — Nossa mãe morreu da mesma coisa. — Sim. — Ela deu um pequeno sorriso amoroso. — Eu sei. — Então... ela era... A nossa mãe bateu em sua porta? — ele perguntou. — Sim. E nos contou sobre sua gestação de trigêmeos, e contou o que fez com eles. Com... vocês. Max deu um passo para trás, Ty murmurou um porra e TJ enfiou o rosto entre as mãos. — Quando eu penso que tudo está indo bem... — ele murmurou. Eu só não queria que aquilo acabasse com outra briga. Eu me aproximei de Max e segurei seu antebraço com as duas mãos, encostando meu queixo em seu ombro e ele enterrou seu rosto em meus cabelos por um segundo.

— Ela vendeu dois deles e o outro... — ela encarou Max com pesar. — Ela deixou em um orfanato porque o outro comprador deu para trás. — Oh, meu Deus! — Eu estava chorando. Eu nunca conseguia controlar minhas emoções quando tocavam naquele assunto. Eu desejava com todas as minhas forças, que os três pudessem ter tido uma infância juntos, como se o fato de eu desejar, fosse capaz de mudar tudo. Era uma novidade: Max ter sido entregue a um orfanato vinha do fato de um segundo comprador ter dado para trás. — Por que ela procurou vocês, o que ela queria? Consertar as coisas com Deus? — Ty me surpreendeu ao perguntar. — Não. Ela não parecia muito arrependida na verdade. Eu sinto muito... como você se chama? — Tyson — respondeu a contragosto. — Ela era viciada em álcool e drogas ainda. — Porra! — TJ passou as mãos no rosto novamente. — O que ela queria? — Max perguntou, ansioso. Suas palavras haviam sido ditas em um tom que me fazia acreditar que as peças estavam sendo montadas por ele também. — Ela queria falar com meu pai. — O que Steven tem a ver com a nossa mãe, porra? — Max estava quase gritando. — Ela queria contar a ele a verdade sobre seus três filhos. Eu encarei TJ, que ainda estava confuso, então olhei para Jimmy, que encarava Ty, que tinha uma expressão atordoada. Eu li seus lábios quando ele sussurrou para o pai a frase “como ele sabe de Steven” e ele negou, como se não soubesse. Tudo era muito confuso, mas quando o choque da realidade me acertou, foi como se eu tivesse a peça final do quebra-cabeças.

Se Steven era o pai delas e o cara que encontrou Max nas ruas, então ele era o pai dos três. Pai dos cinco. Elas eram suas irmãs. Max havia sido criado desde os treze anos pelo próprio pai sem que ele realmente soubesse daquilo. Eu me sentia confusa, e a cada novo segundo, informações antigas faziam sentido. E Ty? Ele havia conhecido seu pai há alguns anos e havia acertado um soco nele, mas sequer fazia ideia de que naquela época, Max estava com ele. Por que então ele não contou a Ty e ao Jimmy sobre o seu outro filho que vivia com ele? Por que ele não havia dado a chance deles se conhecerem aos dezoito anos? Encarei Tyson com um olhar acusatório, me perguntando se ele sabia que Steven, o cara que ele conheceu como seu pai, era o mesmo cara com quem Max havia passado os últimos dez anos e, como se pudesse ler minha mente, ele fez um gesto que não. Eu não me lembrava de Maximum ter mencionado o nome Steven alguma vez antes, e se o tivesse feito, eu dificilmente lembraria. Max havia se livrado do meu toque e naquele momento, caminhava de um lado para o outro, como se estivesse prestes a enlouquecer. Maeve permanecia em silêncio, havia dado a eles um momento para se concentrarem em seus pensamentos e juntassem as peças por si só. — Eu sinto muito, Max, eu não fazia ideia... — Jimmy comentou. — Quando Steven me procurou no aniversário de dezoito anos dos meninos, ele não o mencionou. Apenas falou sobre os dois, mas não sobre você. — Ele parecia não entender o porquê daquilo. — Isso não faz sentido — Ty murmurou. — Se ele estava procurando por nós, por que não contaria sobre Max? Por que ele não daria a chance de nos conhecermos?

— Porque tinha medo, ele foi até você... — Maeve olhou para Jimmy. — Para contar sobre Max e se aproximar dos dois, mas... ele viu que vocês estavam sendo bem-criados, que tinham uma vida boa, um pai ótimo e que nunca seria melhor do que isso, e se ele contasse sobre Max, talvez ele deixasse a Pensilvânia para conhecer os irmãos e ele acabaria sozinho. — Faz sentido agora. — TJ se encostou no sofá. — Espera... Porra! Vocês são... Deus. Eu tenho duas irmãs? Maeve sorriu, com o rosto tomado por lágrimas. — Sim, somos suas meia-irmãs, filhas de Steven, que é o pai de vocês e o cara com quem Max viveu os últimos dez anos. — Ela encarou Max e ele tentou controlar sua respiração, caminhando de um lado para o outro. — Eu agia como uma idiota com você porque não entendia como nosso pai havia nos deixado de lado para criar outra criança que havia encontrado na rua. Não fazia sentido para nós. — Como foi que ele me achou? — ele perguntou. — O orfanato achou um contato dele, eu acho que sua mãe procurou por você e deu o contato de Steven quando soube que estava morrendo. Ele te procurou pelas ruas depois disso, até que o encontrou. — E no meio de tudo isso, quando foi que ele abandonou a família que havia construído? — Jimmy perguntou. — Eu mandei que o seguissem depois que veio aqui, mas apenas constatamos que ele vivia em uma simples casa e cuidava de uma pequena oficina. Ela deu de ombros. — Talvez essa pessoa apenas não teve a sorte de esbarrar com Max por lá... E sobre o relacionamento de nosso pai com a minha mãe, bom, ela nunca o perdoou quando soube do que ele fez. Ela sabia que ele não

fazia ideia sobre a venda, ela soube por nosso pai e pela mãe de vocês, que ele apenas achava que os três estavam indo para adoção, mesmo assim ela nunca o perdoou por abandonar três filhos. Glenda, que ainda não havia se manifestado, disse: — Ele foi embora depois disso, e nunca mais voltou. Max foi encontrado algum tempo depois, e ele nunca olhou para trás. Nós nunca tivemos o seu amor, afinal. Ele era... eu não sei... apenas era quem era. Um belo pai de merda! — Glenda! — Maeve repreendeu a irmã. Olhando-a bem, eu podia ver que ela tinha a personalidade mais próxima a Tyson. — Vocês têm uma parte de tudo o que ele deixou. Não é muita coisa, mas há uma casa, uma oficina e dois terrenos que ele comprou quando esteve casado com a nossa mãe. — Eu não quero nada daquilo, Glenda. Vocês podem ficar com tudo. — Não estamos aqui por dinheiro, de qualquer forma. — Maeve se levantou. — Eu acabei de descobrir que tenho três irmãos. — Ela sorriu, um sorriso tão grande que me fez lembrar do sorriso de TJ. — Eu vim porque quero conhecer vocês. — Eu nem consigo acreditar nisso... — Tales murmurou se levantando. — Mas porra! — Ele abriu os braços para Maeve. — Me dê um abraço, irmã. Ela deu dois passos em sua direção e se afundou em seus braços, como uma boneca Barbie sendo engolida por um urso de pelúcia. TJ estava emocionado, Jimmy secava seus olhos, orgulhoso pelo filho, e Ty, surpreendentemente, contornava os ombros da irmã mais nova com um

braço, apenas mostrando a ela que ele estava lá. Max encarava Jimmy, que lhe deu um pequeno aceno para que seguisse em frente e fosse forte por elas, e ele acenou de volta. — Eu sinto muito pela forma como eu tratei você, Max — Maeve disse, arrependida. — Você me despejou daquela casa, mesmo sabendo que eu não tinha para onde ir — ele respondeu entredentes. — Estava cansada de ter minha mãe nos meus ouvidos falando sobre o filho perfeito que ele tinha enquanto eu sequer recebia um maldito cartão. Eu não sabia que ele estava doente, nossa mãe nunca nos contou. — Você poderia tê-lo procurado. — Ele apontou. — Eu o fiz, mas ele estava ocupado demais para nos atender. Ele foi um pai apenas para você, Max. Para nós, ele era apenas um estranho, até mesmo quando morávamos juntos. Ele não era a mesma pessoa, apenas isso. Eu sinto muito — ela se desculpou novamente e ele assentiu. TJ caminhou até a irmã mais nova e a envolveu em seus braços, dando um pequeno beijo no topo da sua cabeça. — Dezoito anos? — ele perguntou e ela assentiu. — Porra, eu sinto que vou explodir minha cabeça tentando manter as mãos dos caras longe de você. Ela gargalhou baixinho antes de dizer: — Eu espero que você me deixe em paz, porque eu fui aceita na universidade de Boston e vou ficar por perto por algum tempo. — Porra! — ele disse animado. — Isso é legal pra caralho! — Sim, isso é. — Ela sorriu de volta para ele, os olhos brilhando como um anjo, que parecia. — E como você ficou sabendo sobre tudo isso? — Ty perguntou, agora ao lado do pai, com sua mão posicionada em seu ombro.

— Eu achei isso esvaziando o sótão. — Ela esticou o braço em direção ao Max. — Acho que isso é seu, irmão. — Maeve lhe entregou uma carta. — Tudo o que eu disse aqui está aí. Eu... só queria que você entendesse o porquê de eu ter agido dessa forma... E... só quero poder... tê-los por perto. — E você terá. — Ele a surpreendeu quando a puxou para um abraço e meu coração se encheu de orgulho. Sorri como uma idiota, sentindo as lágrimas correrem livremente sobre o meu rosto. Ele esteve sozinho no mundo por muito tempo e agora tinha a TJ, Ty, Jimmy, Glenda, Maeve e a mim. Uma puta família enorme, afinal, e eu sentia que o que quer que viesse dali para frente, poderia ser resolvido facilmente, porque tínhamos um ao outro e mais, estávamos todos felizes sendo quem realmente éramos. Max se afastou da irmã e me encarou, com um sorriso no rosto, antes de me puxar para os braços e murmurar em meus ouvidos que me amava. Fechei os olhos, me afundando em seu peito. E, apesar de ainda carregar o segredo de Tyson sobre ele ter conhecido seu pai e saber da adoção, eu me sentia leve, porque tudo havia sido esclarecido e nós todos ficaríamos bem. Eu havia me apaixonado por quem Max era, mas agora eu amava quem ele havia se tornado. — Eu te amo, Max, e teria escolhido três vezes você.

Dois anos e meio depois... — Oklahoma? — Max murmurou deslizando embaixo de um carro onde ele havia acabado de sujar a blusa na qual usaria na viagem. Eu me inclinei sobre o balcão. — Oi. — Respirei fundo e tentei não me importar com a graxa no tecido branco que eu sabia que teria que deixar de molho. — Você fez aquele pedido de pneus? Nós precisamos repor o estoque antes de sairmos de viagem. Eu assenti. — Sim, Max, eu fiz na semana passada. Você já perguntou outras três vezes. Max havia aceitado o cheque de Jimmy no dia seguinte a Ação de Graças e agora tinha sua própria oficina na qual eu também trabalhava. Depois de me formar, havia deixado de lado a ideia de procurar por algo na minha área para ajudar Maximum por um tempo e acabei apaixonada pelo que fazíamos. Nós não só consertávamos carros como também customizávamos eles, e essa era a minha parte favorita. Fabricávamos

peças para carros customizados e vendíamos nossa própria marca. Estávamos crescendo a cada dia e nosso nome já havia sido citado por grandes colecionadores ou corredores. — Eu não vejo a hora de você se mandar! — Glenda, sua irmã mais nova, gritou de costas para ele enquanto olhava no relógio de pulso. Depois que sua irmã Glenda ingressou na universidade de Boston, onde eu me formei, ela teve seu quarto na casa dos irmãos Jackson, embora a maior parte do seu tempo ela revezasse entre a oficina e a faculdade. Sua outra irmã, no entanto, ainda vivia na pequena cidade da Pensilvânia, onde sua mãe a tentava convencer a trilhar o caminho de Deus, muito embora todos nós esperávamos o momento no qual ela mandaria sua família se foder e viria embora para Boston. — Não se esqueça de que há câmeras por todas as partes. — Ele suspirou dramaticamente. — Eu não quero ter nenhuma surpresa ao acessá-la pelo meu celular durante a viagem. Glenda piscou para mim, com um pequeno sorriso selvagem no rosto. — Eu não prometo nada, maninho. Ele grunhiu, me fazendo sorrir. Glenda dava aos irmãos a maior dor de cabeça que eles já haviam ganhado. O fato dela ter vinte anos não significava nada para eles, o que fazia com que nenhum garoto com o qual ela estivesse fosse bom o bastante. Ty era o menos paciente, ele acabava saindo no soco com todos eles, mas não era algo que deixava todos nós surpresos, afinal, era de Tyson Jackson que estávamos falando. — Um mês. — Ela suspirou. — Parece um sonho. — Vai ser um pesadelo quando eu chegar — ele murmurou, entredentes. — Estamos dando férias para os funcionários, mas vocês terão serviço extra quando voltarem. Não fiquem animados.

Um dos garotos que estava trabalhando na customização de um Porsche abriu um largo sorriso, caminhando até a porta e acendendo um cigarro. Glenda abanou a mão na frente no nariz e revirou os olhos, o rosto corando quando ele piscou para ela. Dimitry era um tremendo filho da puta, talvez por isso ele se dava tão bem com os trigêmeos, afinal, o problema é que ele tirava ela do sério tão facilmente quanto Max fazia comigo, o que eu sabia o que significava, no entanto, eu ainda era a única. — Eu não me importo, será compensado — continuou provocando-o. — Vão logo. Há outros mecânicos que podem fazer isso quando você sair, maninho, você não é tão especial. — Eu só preciso passar em nosso apartamento. — Ele caminhou até mim. — Para trocar de blusa. No início, Max e eu passávamos mais tempo arrumando nossas mochilas para estarmos ou na casa dos irmãos, ou no apartamento no qual eu vivia, até que nos vimos cansados demais de ficar nos locomovendo quando, na verdade, passávamos todo o nosso tempo livre juntos. Unimos o útil ao agradável e conseguimos muito sexo extra quando decidimos comprar um apartamento junto onde morávamos agora. Estávamos felizes daquela forma, ele mantinha suas mãos na graxa durante o dia e em mim durante a noite e todo mundo acabava feliz. — Use a do Dimitry, ela está limpa. Não temos tempo para passar em casa. — Use a minha. — Dimmy tirou a blusa pela cabeça, sem hesitar, e eu pude ouvir a respiração de Glenda tremer ao avistar o pacote de oito gomos.

— Valeu, cara! — Ele vestiu a camisa de seu funcionário, que agarrou seus músculos nas partes certas. — Estamos indo nessa! — Ele beijou a testa da irmã, que enlaçou os braços em suas costas. — Boa viagem, fiquem bem. — Nós vamos ficar — tranquilizei-a. — Estamos levando o chapéu de bruxa para a Oklahoma tirar a foto na Cave House. Grunhi. Todo mundo sabia aquela história agora. — Apenas cuide para não cair. — Ela piscou para mim antes de eu abraçá-la. — Use a chave extra no nosso apartamento se TJ e Ty estiverem agindo como se estivessem com um pau em suas bundas. — Sim, obrigada. — Ela me abraçou e então se afastou. — Dirija com cuidado. — Max e Dimitry deram um toque de cumprimento enquanto eu vestia minha jaqueta de couro que havia ganhado de Maximum no meu último aniversário. A viagem na qual Maximum sempre teve vontade de fazer de fato estava se tornando realidade, nós passaríamos na Geórgia para visitar meus pais, minha irmã e matar a saudade que estava do meu sobrinho, e, quem sabe, destruir a roseira do Sr. Moretti. Depois, seguiríamos o plano de ir para o oeste, gostaríamos de conhecer o Alabama, Mississippi e Arkansas, em seguida iríamos a Oklahoma apenas para visitar a Cave House e dormiríamos na casa de uma tia minha por uma noite para descansarmos antes de voltar a nossa rota, em direção a Nova Orleans. Nós éramos loucos, sabíamos disso, mas estávamos muito animados e mais do que merecíamos aquela viagem. — Me liguem se precisar de algo.

Max contornou o banco da sua Harley e eu o apreciei por um segundo antes de me juntar a ele, envolvendo minhas pernas em torno de seu quadril e minhas mãos em sua cintura. Ele puxou uma mão minha até seus lábios e a beijou, antes de colocar seu capacete. Eu amava tanto aqueles pequenos gestos que, às vezes, me sentia uma adolescente apaixonada quando olhava para ele. Acenei para Glenda e Dimitry e o motor cantou dentro da oficina trazendo música aos nossos ouvidos. — Pronta, Oklahoma? — Ele colocou a mão sobre o meu joelho e virou a cabeça para o lado para ouvir minha resposta. — Pronta, Max — respondi, e um segundo depois estávamos em movimento, rumo a nossa liberdade.

CONTINUA EM: TRÊS VEZES ELE

Formada em Letras com habilitação em espanhol, F. Locks mora em Florianópolis com o marido e a filha, a quem se dedica integralmente. Apaixonada por séries, filmes e livros, ela tenta conciliar as mamadeiras e um milhão de fraldas sujas com sua escrita, redigindo algumas páginas cada vez que sua filha dorme por alguns minutos. Entre um capítulo e outro, ela realiza seu maior sonho, que é dar vida aos seus personagens.

1) Beer pong: Também conhecido como Beirut, é um jogo de mesa em que os jogadores jogam uma bola de ping pong numa mesa com a intenção de enfiar a bola num copo com cerveja ou outro líquido na outra extremidade do móvel. O jogo consiste tipicamente em equipes de duplas ou individual. Não há regras oficiais e as regras podem variar amplamente, embora geralmente há seis (individuais) ou dez (duplas) copos de plástico dispostos em um triângulo de cada lado. ↵

2) DR – Abreviação para “Discutindo Relacionamento”. ↵

3) Ensino fundamental nos Estados Unidos. ↵

4) Ensino médio nos Estados Unidos ↵

5) Ano de fundação do time. ↵

6) Referência a história da Pensilvânia. ↵

7) Planta usada para revestir fachadas de casas e muros. ↵

8) Filme de comédia romântica americano de 2005, dirigido por Andy Tennant. Estrelado por Will Smith e Eva Mendes ↵
Tres Vezes Voce (Irmaos Jackson)

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